CRÔNICA MARIA SANZ MARTINS [email protected] Do famoso balde de água fria Era uma vez uma menina linda, bem criada e muito querida, que sem querer se apaixonou por um rapaz lindo, bem criado e queridíssimo. Frequentavam a mesma turma de pós-graduação e, naturalmente, desde o primeiro dia ficaram amigos. Depois da aula, saíam para tomar vinho e comer pizza. Iam ao cinema, passeavam, se curtiam. Ele, sempre muito gentil, fazia elogios e gentilezas mil. Ela, por sua vez, ficava cada dia mais encantada com a possibilidade de se tornar sua namorada. Num certo final de semana, ele a convidou para um passeio na casa de praia da tia. E lá foram os dois, fumando, ouvindo rádio e cantando alto pela estrada. Chegando na tal casa, a menina se deu conta de que estavam sozinhos e pressentiu que a hora havia chegado. Ele apresentou o quarto ondeelapoderiaseacomodaresaiu.Animadíssima, ela vestiu o biquíni, passou perfume, escovou os dentes, penteou o cabelo e foi até a varanda, onde ele estava sentado, bebericando uma cerveja ao som do mar. Diante do cenário perfeito, seguindo seus instintos femininos e cedendo ao próprio desejo, a menina não teve dúvidas: sentou no colo dele e partiu para um beijo. O rapaz respirou fundo e olhando ela nos olhos disparou: “Também sinto vontade de te dar um beijo, masnãoposso,minhalinda.Hátemposestoupara te dizer: sou comprometido”. Elaselevantousemeira,nembeira,nemnorte “Como??” E continuou: “Faz mais de um mês que estamos saindo juntos e você nunca me disse nada sobre isso”. E ele, ainda sentado, olhando para baixo, explicou: “Não sei bem como te dizer... Eu gosto de você, mas tenho um relacionamento sério com um homem. Um homem a quem amo e respeito. Não sei se você me entende... Eu adoro ficar com você, sair e te curtir. Sinceramente, vez ou outra, até rola uma vontade, mas a verdade é que eu gosto de meninos.” Pensa a situação! Àquela altura, a pobre já estava perdidamente apaixonada, pisando alto nos andaimes de um castelo em construção. Pudera! O cabra era tudo de bom. Aliás, se acaso ela tivesse bem pensado, bom demais para ser verdade! Além de lindo e educado, o rapaz era moralmente evoluído. Sabia tudo sobre arte e cinema independente, não era muito de balada, nem se ligava em futebol, recitava Camões e Manoel de Barros, e falava com grande propriedade sobre vinhos e monarquias. (Estava na cara, só ela não enxergava?) Não sabia o que fazer. Juntou as forças, gaguejou, pediu licença e foi para o quarto. Sentia von- ETIQUETA PERGUNTA TEREZA Minha melhor amiga está estranha comigo desde o dia em que resolvi me inscrever no mesmo concurso que ela. Estou decepcionada. Ela comentou com um amigo que não gostou da minha atitude. Não considero ter cometido deslealdade alguma. Será que eu devo conversar abertamente com ela e tentar resolver a questão? caro leitor: Mande sua pergunta: [email protected] 30 REVISTAAG 27 DE SETEMBRO DE 2015 tade de chorar, de gritar e de acusá-lo de impostor para baixo. Mas, revendo os fatos, a verdade é que ele nunca havia prometido ou sugerido nada além de amizade. Sentiu-se imediatamente ridícula. Uma palhaça. Pior, sentiu-se o último pneu furado do caminhão quebrado. Lavou o rosto, depois gastou alguns minutos se olhando no espelho. Não tinha dúvidas: ora, era uma menina interessante, engraçada, bonita... Era, enfim, tudo que aquele homem não queria. Havia apenas duas alternativas: pegar a mochila e pedir para ir embora, numa confissão de coração partido; ou ficar e tentar curtir a praia na companhia de um bom amigo. – O que fazer? Novamente, não sabia. E assim, ainda com as mãos apoiadas sobre a pia, foi subitamente atravessada pela muito insuspeitada e surpreendentemente tentadora possibilidade de converter aquele corpo e aquela alma perdida. Apareceria nua na sala e provaria na marra o que aquele homem estava perdendo. Depois iria embora, vingada e vitoriosa! Mas que nada! Não há tragédia maior que aquela que o próprio desejo encerra. *Nota: eles continuam amigos e ontem mesmo foram juntos comprar um vestido de festa para ela. LUCIANA ALMEIDA [email protected] Concurso X amizade Seja nos cursos de formação e graduação, seja nas empresas ou até nos concursos, a competitividade aumenta a cada dia É impressionante o poder, implacável, da competitividade que aumenta, a cada dia, e sobrepõe-se às relações humanas. É um fenômeno observado ainda nos cursos de formação e graduação, no momento em que surge uma vaga de estágio em uma conceituada empresa, e, agora, entre candidatos para um mesmo concurso. O que ocorre é que a rivalidade se instala, enfraquecendo – às vezes para sempre – a amizade. No seu caso, sugiro que avalie o comportamento de sua amiga. Em minha opinião, trata-se de uma clara demonstração de egoísmo e infantili- dade. Essa seria uma excelente oportunidade para vocês se apoiarem, estudando juntas e motivando uma a outra. Para ilustrar essa resposta, em um concurso ocorrido recentemente, para 1.875 vagas inscreveram-se 916.210 mil candidatos. Ou seja, não será muito melhor a sua amiga assistir a uma conquista sua do que a de um desconhecido lá de Florianópolis, Maringá, Gramado, São Jose do Rio Preto...? Se você a considera sua melhor amiga, fale com ela sobre a situação e sobre o seu desapontamento. Por fim, diante do seu questionamento, lembrei-me de um ditado popular: “nunca foi um bom amigo quem por pouco quebrou a amizade”. Sucesso!