CULTIVO DE CAMARÃO MARINHO
Litopenaeus vannamei (Boone, 1931), EM ÁGUA
DOCE: ESTRATÉGIAS DE CALAGEM NA FASE
DE ENGORDA
Diego de Souza Lial1*, Alexandre Duarte Rodrigues da Silva2, Tiago Vandevelde Torres3, Paulo de Paula Mendes4

Introdução
Material e métodos
A produção mundial do camarão marinho
Litopenaeus vannamei cultivado cresceu 13,95% no
período de 1998 a 2004. A produção dessa espécie,
referente à pesca extrativa, caiu 19,5% para o mesmo
período segundo dados da Food and Agriculture
Organization (FAO, 2006).
Litopenaeus vannamei é, tradicionalmente, cultivado
em águas litorâneas ou estuarinas, porém a demanda
crescente de mercado internacional por camarão
cultivado, o adensamento das fazendas nos estuários e a
adaptação dessa espécie as águas com baixa salinidade,
tem contribuído para o desenvolvimento da
carcinicultura em águas interiores de países como
Estados Unidos (Arizona, Texas, Alabama e Flórida)
Equador, Panamá e Brasil (FIGUEIREDO et al., 2006).
Antes de cultivar qualquer espécie, é necessário
avaliar a qualidade da água. A calagem é considerada
um procedimento de manipulação de ecossistemas
aquáticos (BOYD, 1990) e uma das práticas mais
comumente empregadas na aquicultura (ARANA,
2004), para melhorar a qualidade da água dos viveiros
e dos efluentes (BOYD e QUEIROZ, 2004) devido às
mudanças da alcalinidade e da concentração de cálcio
(ROJAS et al., 2004).
Desta forma as relações entre alcalinidade e dureza
têm grande importância, pois através da utilização de
concentrações adequadas de produtos carbonatos, é que
são feitas as correções do pH e a melhoria do sistema
tampão (ROJAS e ROCHA, 2004).
Objetivou-se com esse experimento avaliar a
influência da adição de calcário dolomítico, nas
proporções de 4, 0, 8, 0, 12,0 e 16,0 toneladas ha-1
ciclo-1, na maximização da sobrevivência e peso final
dos camarões.
Cultivo do Litopenaeus vannamei foi realizado na
Estação de Aquicultura Continental Professor Johei Koike,
localizada na Universidade Federal Rural de Pernambuco,
no período de 20 de Outubro a 20 de dezembro de 2008.
Foram utilizados viveiros experimentais com área total
de 60 m2. As pós larvas com 10 a 12 dias (PL10-12) foram
inicialmente aclimatadas a água doce, com dureza e
alcalinidade de aproximadamente 50 mg L-1 de CaCO3.
Após o período de aclimatação os juvenis foram
cultivados a densidade de 17 PL m-1. O cultivo teve
duração de 60 dias. Inicialmente, a dieta utilizada foi a base
de ração para camarão com 40% de proteína bruta (PB), a
qual foi ofertada a lanço. Após 30 dias essa ração foi
substituída por uma dieta com 32% de proteína bruta e foi
administrada em comedouros duas vezes (08:00 e 17:00h)
ao dia. Variáveis como o pH, oxigênio dissolvido da água,
de cada viveiro experimental, foram monitoradas
diariamente. Análises de alcalinidade total e dureza total da
água foram realizadas semanalmente.
Os camarões foram dispostos em quatro tratamentos,
inteiramente casualizados, com três repetições para cada
tratamento.
Resultados e Discussão
Durante o período de aclimatação a sobrevivência das
pós larvas foi de 61,2% (12.240 PL), tendo sido, portanto,
considerada média, para os resultados anteriormente
obtidos, para essa fase.
Decorridos 60 dias de cultivo do camarão marinho
Litopenaeus vannamei, em tanques experimentais, em água
doce, com baixa alcalinidade e dureza, pode-se verificar
que dentre os parâmetros zootécnicos, evidenciou-se um
peso compatível com unidades comerciais conforme a
tabela 01.
Com relação à sobrevivência os camarões do tratamento
4,0t foi o que apresentou melhor resultado com uma
sobrevivência média de 36,1 %, enquanto o tratamento
16,0t foi o que apresentou os piores resultados com uma
________________
1. Primeiro autor é bolsista PIBIC/CNPq/UFRPE e estudante de graduação em Engenharia de Pesca, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R.
Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171900. E-mail: [email protected]
2. Segundo autor é Mestrando em Recursos Pesqueiros e Aquicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. Dom Manoel de Medeiros, s/n,
Recife, PE, CEP 52171900.
3. Terceiro autor é Estudante de graduação em Engenharia de Pesca, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. Dom Manoel de Medeiros, s/n,
Recife, PE, CEP 52171900
4. Quarto autor é professor adjunto do Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900.
sobrevivência média de 22,2 %. Castro et. al (2000)
analisando cultivos do camarão marinho L. vannamei
observaram uma sobrevivência final média de 56%,
sendo essa bem superior às encontradas nesse estudo
(30,35 %). Noriega et al. (1998) citam que em três
ciclos de cultivo do L. vannamei no México, foram
obtidos 31, 26 e 48% de sobrevivência nos anos de
1995, 1996 e 1997, respectivamente. Sendo que a
sobrevivência média do ano de 1995 se aproximou da
sobrevivência média do tratamento 8,0t e do tratamento
12,0t.
Ao relacionar a sobrevivência dos camarões em
função da quantidade de calcário, e aplicando aos
resultados obtidos um modelo matemático linear podese observar com relação à sobrevivência de cada
tratamento uma maior dispersão nos valores (Figura 1),
quando comparado aos valores de sobrevivência
médios obtidos para cada tratamento (Figura 2).
Com relação a peso final os camarões do tratamento
4,0t foram os que apresentaram os melhores resultados
com um peso final médio de 3,93 g, enquanto no
tratamento 8,0t foi o que propiciou os piores resultados
com um peso final médio de 2,99 g. Carneiro et. al.
(1999) ao cultivarem L. vannamei em água doce por
um período de 90 dias, relatam que o peso médio final
foi de 5,67g, sem considerar o tempo de cultivo,
verifica-se que este resultado é ligeiramente superior
aos camarões do tratamento 4,0t.
Ao relacionar o peso final dos camarões em função
da quantidade de calcário, e aplicando aos resultados
obtidos um modelo matemático linear pode-se observar
com relação à peso final de cada tratamento uma maior
dispersão nos valores (Figura 3), quando comparado
aos valores de peso final médio obtidos para cada
tratamento (Figura 4).
De uma forma geral, a exceção da alcalinidade e
dureza que se encontram abaixo da faixa recomendada
(> 100 mg CaCO3 ml-1), os valores do pH e do
oxigênio dissolvido permaneceram na faixa ideal
preconizada, pelos carcinicultores. Evidencia-se que o
menor valor médio para o pH foi do tratamento 16,0t,
com um pH médio de 7,34 enquanto o maior foi o do
tratamento 16,0t com um valor de 7,44. Em relação a
tendência média de oxigênio dissolvido, evidenciou-se
que o tratamento 16,0t apresentou o menor valor 6,9 g
L1, enquanto o máximo foi o do tratamento 4,0t com
um valor de 7,4 g. L-1 (Tabela 2).
Cheng (1992) recomenda que, para valores de pH
inferiores a 7, 5, a calagem deve ser realizada a uma
taxa de 50 a 100 kg há-1 quinzenalmente. Isto se faz
com o objetivo de aumentar o pH e diminuir a
proporção do ácido sulfídrico (H2S) que se encontra
sob a forma não ionizada.
Wetzel (1975), indicou o termo “dureza” para
caracterizar a qualidade de um determinado tipo de
água. A dureza da água esta determinada pelo conteúdo
de sais de cálcio e de magnésio estreitamente ligados
com íons carbonato (CO3-2) e bicarbonato (HCO3-)
(dureza
temporal),
e
com íons sulfatos, cloretos e outros ânions de acidez
mineral (dureza permanente). Com relação a alcalinidade
total e dureza total, evidencio-se que o tratamento 4,0t
apresentou menor valor médio para alcalinidade total com
40 mg.CaCO3/ml enquanto o tratamento 16,0t apresentou o
maior valor médio com 50 mg CaCO3 ml-1. Já com relação
a dureza total, o tratamento que apresentou menor valor
médio foi o tratamento 4,0t com 53 mg CaCO3 ml-1,
enquanto o tratamento 16,0t apresentou o maior valor
médio com 67 mg CaCO3 ml-1.
Segundo Boyde (1992), as evidencias sugerem que a água
dos tanques de cultivo deveria conter alcalinidade e dureza
total de 50 a 75 mg L-1, respectivamente, para assim poder
garantir um bom crescimento dos organismos cultivados.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e a
RECARCINE/FINEP, pelos apoios financeiros, para
desenvolvimento da referida pesquisa.
Referências
[1] FAO AQUACULT-PC Fishery information, data end statistics (FIDI),
time series of production from aquaculture (quantities and values) and
capture fisheries (quantities)- Programa computacional, 2006..
[2] FIGUEIREDO, Maria Cléa Brito de et al . Environmental impacts of
the inland shrimp farming. Eng. Sanit. Ambient., Rio de Janeiro, v. 11,
n. 3, 2006.
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Birmingham Publishing Co. 482p.
[4] ARANA, L.A.V. 2004 Princípios químicos de qualidade da água em
aqüicultura: Uma revisão para peixes e camarões. 2.ed. Florianópolis:
UFSC. 231p.
[5] BOYD, C.E. e QUEIROZ, J.F. 2004 Manejo das condições de
sedimento do fundo e da qualidade da água e dos efluentes dos viveiros.
In: CYRINO, J.E.P.; URBINATI, E.C.; FRACALOSSI, D.M.;
CASTAGNOLLI, N. (Ed) Tópicos especiais em Piscicultura de Água
Doce Tropical Intensiva. São Paulo: TecArt. 533p
[6] ROJAS, et al., O. Influência de diferentes níveis de alcalinidade da
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B. Inst. Pesca, São Paulo30(2): 99- 108, 2004.
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o crescimento de larvas de Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus
Linnaeus,1758 Perciformes,Cichlidae). Acta Scientiarum. Biological
Science, Maringá,v 26,no 2. p. 163-167,2004 CHENG, J.,LIN,Ch. Effects
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Comp. Biochem. Physiol. 101 C (3), 1992. p449,452.
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de estocagem sobre o desempenho do camarão Litopenaeus vannamei
cultivados em sistema semi-intensivo. In: XI Simpósio Brasileiro de
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[9] NORIEGA, E.A.A.; MURUETA, J.H.C.; ADAME, C.R.A.;
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de camarón blanco Penaeus vannamei em uma granja comercial de
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La sociedade Mundial de Acuicultura, Latin American Chapter, v.3, n.2,
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camarão marinho L. vannamei , Bonne, 1931, em tanques retangulares.
In. Congresso brasileiro de Engenharia de Pesca, 11.,1999. Anais. Recife:
AEP-BR, 1999. p.662-668
[11] CHENG, J.,LIN,Ch. Effects off ammonia on growth and molting off
Penaeus monodon juveniles. Comp. Biochem. Physiol. 101 C (3), 1992.
p449,452.
[12] WETZEL , R. Limnology. W.B. Saunders Company. Philadelphia,
1975.743p.
Camarões
estocados
1.020
1.020
1.020
1.020
1.020
1.020
1.020
1.020
1.020
1.020
1.020
1.020
CaCO3
(t)
16
08
04
12
12
16
08
04
04
12
16
08
Sobrevivência
(%)
45,29
65,39
36,96
62,05
29,31
20,39
30,39
33,33
38,14
1,00
1,00
1,00
Total despescado
Peso final (g)
462
667
377
633
298
208
310
340
389
10
10
10
4,046
4,466
4,075
4,832
4,494
6,873
4,065
3,564
4,147
0,549
0,426
0,439
Tabela 01. Parâmetros zootécnicos obtidos no cultivo.
pH
CaCO3
(t)
16
08
04
12
12
16
08
04
04
12
16
08
Oxigênio dissolvido
(g L-1)
6,8/7,91
7,2/8,3
7,1/7,8
6,4/7,1
5,0/7,3
6,6/7,1
6,8/7,3
7,3/7,9
6,4/7,7
7,8/8,1
5,4/7,7
4,7/7,0
7,03/8,411
6,31/7,85
6,61/7,83
6,71/7,97
6,22/8,23
6,01/8,26
6,73/8,43
6,56/8,12
6,65/7,83
6,81/7,96
6,44/7,86
6,71/7,93
Alcalinidade
(mg CaCO3/ml)
24/521
48/56
36/44
32/40
52/56
44/60
40/52
32/52
32/36
56/60
52/62
28/40
Dureza
(mg CaCO3/ml)
58/601
60/72
40/60
48/64
56/64
64/76
60/64
32/60
56/80
48/56
48/76
54/60
Tabela 02. Parâmetros físicos e químicos da qualidade da água ( 1.Valores mínimos e máximos).
Sobrevivência (%)
Sobrevivência (%)
70
60
50
40
30
Sob = -1,0806Qc + 41,16
20
10
2
R = 0,0533
0
0
5
10
15
40
35
30
25
20
15
10
5
0
20
Sob = -1,0806Qc + 41,16
2
R = 0,9035
0
5
Quantidade de calcário (t)
15
20
Figura 02. Sobrevivência média nos tratamentos.
5
Peso final (g)
Peso final (g)
Figura 01. Sobrevivência de cada tratamento.
8
7
6
5
4
3
2
1
0
10
Quantidade de calcário (t)
Pf = -0,0035Qc + 3,5328
2
4
3
Pf = -0,0035Qc + 3,5328
2
2
R = 0,0017
1
R = 7E-05
0
0
5
10
15
20
0
5
Quantidade de calcário (t)
Figura 03. Peso final de cada tratamento.
10
15
20
Quantidade de calcário (t)
Figura
04.
Peso
final
médio
nos
tratamentos.
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