ALIMENTO
NATURAL
Indústria de água mineral cresce
com novos hábitos do consumidor
A
crescente preocupação
com o bem-estar e uma
vida saudável, assim como
a manutenção do preço fez aumentar, nos últimos anos, o consumo
de água mineral no País. Antes vista como símbolo de status e hábito de poucas pessoas mais endinheiradas, atualmente a água mineral se tornou uma necessidade
e tem presença constante nas moradias, fazendo parte dos gastos
do orçamento doméstico de boa
parte das famílias brasileiras.
Em 1995, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares
(POF) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), os
brasileiros ingeriram somente 1,5
bilhão de litros de água mineral. Em
2003, o volume consumido subiu
para 5,1 bilhões de litros, o que representou acréscimo de 240% em
dez anos. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam) apontam total de 5,3
bilhões de litros em 2004, período
em que o consumo per capita atingiu 30,5 litros/ano, contra 29 litros
anuais no ano anterior.
Para o presidente da Abinam,
Carlos Alberto Lancia, o mercado
das águas envasadas tem se manti-
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ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO
do em ascensão em todo o mundo
por força da demanda do consumidor pelo produto natural, puro
e saudável, e que acrescenta benefícios ao organismo por meio dos
sais minerais. Ele aponta, além da
busca do bem-estar, a preocupação
com a obesidade, fator que deverá
ser a grande alavanca desse mercado nos próximos anos. O setor
movimenta anualmente cerca de
R$ 500 milhões no Brasil e US$ 50
bilhões em todo o mundo, segundo o Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM).
Lancia pondera que a indústria
brasileira de águas ainda não alcançou níveis mais elevados de desempenho devido a alguns fatores, entre eles, a pesada tributação (em
torno de 40%), já que a água é considerada alimento, mas tributada
como bebida. Outro fator está relacionado à falta de uma legislação
que determine normas para a produção de embalagens de 20 litros,
o que evitaria a ação predatória de
fontes e revendedores irresponsáveis. Ele aponta ainda a falta de
maiores investimentos do setor em
inovação de produtos, design de
embalagens, serviços, atividades de
marketing e de propaganda.
OUTUBRO/DEZEMBRO 2005
Foto: Cleomar Nascimento
Segmento
em expansão
Parque industrial
da água mineral
Nativa, em
Hidrolândia.
Crescimento
motivado pelas
novas demandas
dos consumidores
No Estado
Em Goiás, foi criada no último
mês de agosto a Associação Goiana das Indústrias de Água Mineral
(Aginam), que conta inicialmente
com oito empresas associadas. Segundo o presidente da entidade,
Ronaldo Miranda, Machado, da
Água Nativa, com sede em Hidrolândia, sua missão é representar as
indústrias perante o governo e a
sociedade, visando fortalecer o setor e gerar o crescimento do mercado, de forma saudável, eficaz e
eficiente. Atualmente operam no
Estado 18 indústrias de água mineral: Nativa, Cristalina, Goiás Flora,
Indaiá, Ipê, Acqua Lia, Água Nina,
Água Abraham, Salute, Bela Vista,
Água Pura, Cristalmina, Goyá, Iza,
Sara, Conesuque e Schincariol.
O setor gera cerca de 600 empregos diretos e 2,4 mil indiretos.
Estão instaladas no Distrito Federal, mas também vendem para
Goiás as indústrias que produzem
as marcas Água Planalto, Pura &
Leve, Hidrate, Seiva e Bom Jour.
Além dessas fontes, estão em andamento vários pedidos de pesquisa de lavra de água mineral.
As indústrias de água mineral
goianas atendem os mercados de
Goiás, Distrito Federal, Tocantins,
OUTUBRO/DEZEMBRO 2005
Sul e Leste do Pará, Leste de Mato
Grosso e Triângulo Mineiro. Conforme Ronaldo Miranda, um dos
maiores problemas do setor é a
alta carga tributária, que responde por cerca de 40% do custo final da água mineral.
Em Goiás, a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da água mineral é de 17%, entretanto os industriais do setor estão reivindicando junto à Secretaria da Fazenda que esse porcentual seja reduzido, pelo menos no imposto que
é cobrado do garrafão de 20 litros,
cuja presença é cada vez maior nos
lares goianos. Ele pondera que em
países desenvolvidos da Europa já
existem projetos de colocar a água
mineral como alimento da cesta
básica, portanto essencial para o
consumo. Enquanto isso, no Brasil,
o produto é taxado como bebida.
Outros problemas existentes é
a oferta acima da demanda, o que
provoca preços muito baixos e considerados irreais. Isso se deve ao
crescimento acelerado do número
de envasadoras em Goiás nos últimos anos, acima da demanda do
mercado. Até 1993 eram apenas
três indústrias de água mineral instaladas no Estado, atualmente esse
número chega a 18. A Aginam pretende trabalhar em parceria com a
Vigilância Sanitária visando a melhoria das instalações das envasadoras e a qualidade do produto.
Ronaldo Miranda aponta ainda
o custo do frete superior ao custo
dos produtos industrializados, o
amadorismo das novas indústrias
que se instalam sem o conhecimento do potencial de mercado, o pouco retorno sobre o investimento e
a desunião entre os empresários
do setor, este último problema
deve ser minimizado com a criação da entidade.
Evolução da produção
brasileira - 1995/2005
Ano
Litros
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005 (estimativa)
(bilhões)
1.553
1.800
2.114
2.497
3.005
3.520
4.320
4.700
5.100
5.355
6.000
Fonte: Abinam
ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO
21
Aumenta demanda por produto saudável
O dono da Água Cristalina, de
Anápolis, uma das mais tradicionais envasadoras do Estado com
quase 40 anos no mercado, Luiz
César Duarte Albuquerque, confirma que a demanda por água mineral tem sido crescente, diante da
mudança de hábito do consumidor. A água pública, apesar de cuidadosamente tratada, leva produtos químicos para se tornar potável, observa. Já a água mineral não
pode conter nenhuma mistura e
nos últimos anos teve reforçada
sua imagem de produto saudável,
compatível com a cultura de bemestar cada dia mais presente na
vida das pessoas.
Outro motivo para o crescimento da demanda, na avaliação de
Luiz César, é o fato que, desde 1994,
na mudança da URV para o real,
com a implementação do plano de
estabilização econômica do governo, o garrafão de 20 litros de água
mineral permanece cotado para o
consumidor em praticamente o
mesmo valor, em torno de R$ 4,50.
A manutenção do preço por tão
longo tempo contribuiu para popularizar o produto e torná-lo presença obrigatória nos lares de boa
parte das famílias.
Segundo levantamento da Abinam, em 2004, a produção e o consumo de água envasada no País,
somando todas as categorias
(água mineral, potável de mesa e
purificada) e formas de utilização
(envasadas, consumidas nas fontes e empregadas na indústria de
bebidas) foi de 5,35 bilhões de li-
Local de produção e destinação da água mineral goiana
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ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO
OUTUBRO/DEZEMBRO 2005
Pioneira
A Água Cristalina, envasadora de
água mineral instalada em Anápolis, comercializa seu produto para
Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal, Pará, Bahia e Tocantins. Em 1959,
o dentista anapolino Crystalino B.
Costa começou a explorar comercialmente a fonte Olhos D’ Água,
localizada em uma área de 161 hectares de reserva ambiental, de onde
brota água classificada como mineral fluoretada. Foi a primeira indústria de água mineral da região.
Atualmente a empresa está na terceira geração da família fundadora
e conta com 55 funcionários.
Outra indústria do setor, a Água
Mineral Goyá, no município de
OUTUBRO/DEZEMBRO 2005
Foto: Divulgação
tros, o que representou crescimento de 5% sobre o volume de
2003, de 5,1 bilhão de litros. Consideradas apenas as águas minerais, o volume foi de 5,09 bilhões,
conforme o Sumário Mineral do
DNPM referente a 2004.
De acordo com o estudo do
DNPM, a Região Sudeste produziu
53,4% do volume nacional, com
destaque para os Estados de São
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em seguida vem o Nordeste
(22,5%) e o Sul (12,3%). O CentroOeste participa com 5,8% da produção do País. Em Goiás, conforme dados do Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM) de 31 de dezembro de
2004, existem 105 alvarás de pesquisa e foram concedidas 44 concessões de lavra autorizadas a explorar água mineral no Estado.
Os principais municípios goianos que produzem água mineral,
segundo relatório do DNPM relativo a 2004, são Goiânia, Rio Verde, Bom Jesus de Goiás, Hidrolândia, Anápolis, Formosa, Aparecida
de Goiânia, Bela Vista e Silvânia.
Juntos, eles produziram no ano
passado 60,29 milhões de litros.
Modernização
Parque industrial da Água Mineral Goyá, em Bom Jesus: aposta no crescimento
Bom Jesus de Goiás, foi adquirida
recentemente pelo Grupo Asteca
Comércio e Produções Artísticas
Ltda (uma empresa da dupla Zezé
Di Camargo & Luciano). A produção, conforme o diretor Gilvan
Lima Ascenso, é de cerca de 300
mil litros mensais, em copos e garrafas. O produto é comercializado
para parte de Goiás, Tocantins,
Distrito Federal, Minas Gerais,
Mato Grosso do Sul e Bahia. O diretor adianta que existem planos
de expansão da empresa e de lançamento de novas linhas de água
saborizada e aromatizada. A primeira a ser colocada no mercado
terá sabor de limão.
Na primeira etapa, os investimentos previstos são de cerca de
R$ 150 mil e devem ser aplicados
até meados de 2006. A nova linha
Engarrafadoras financiadas pelo FunMineral
Empresa
Valor (R$)
Município
Tempus Alimentos e Lazer Ltda.
Carmo Mineração Ind. e Com. Ltda.
Com. e Engarraf. de Água Mineral Sara Ltda.
Chrystalino Minerais e Refrigerantes Ltda.
Conesuque Águas Minerais Ltda.
Celestial Ind. Brasileira de Água Mineral
200.000,00
380.677,31
198.720,00
200.000,00
200.000,00
394.328,00
Aparecida de Goiânia
Goiânia
Goiás
Anápolis
Montes Claros de Goiás
Cachoeira Alta
Empregos
gerados
30
41
27
9
16
19
Fonte: Secretaria da Indústria e Comércio
ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO
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Foto: Cleomar Nascimento
Carlos Alberto Lancia, da Abinam
Crescimento do mercado de água mineral é tendência que ocorre no mundo todo
amento destinado exclusivamente
a micro, pequenas e médias empresas mineradoras e ao artesanato
mineral, é gerido pela Secretaria
de Indústria e Comércio (SIC) e
operacionalizado pela Agência de
Fomento (GoiásFomento).
Desde que foi criado, em
2003, o FunMineral já financiou
seis projetos para envasadoras
de água mineral instaladas nos
municípios de Goiânia, Aparecida de Goiânia, Goiás, Anápolis,
Montes Claros de Goiás e Cachoeira Alta (veja quadro). Os empréstimos somam R$ 1,573 milhão e têm previsão de gerar 142
empregos diretos.
Foto: Cleomar Nascimento
faz parte da estratégia de agregar
valor ao produto. “A água mineral
apresenta um problema crônico, representado pelo baixo valor”, diz
Gilvan Lima. Conforme ele, o líquido mesmo representa apenas 8% na
composição dos custos de produção, enquanto a embalagem (garrafa, rótulo e tampa) responde por
cerca de 60%. O restante fica com
o frete e carga tributária.
Em janeiro de 2003 foi inaugurada em Alexânia, na Região do Entorno do Distrito Federal, a quinta
unidade do Grupo Schincariol.
Além de cerveja e refrigerante, a
fábrica produz mensalmente 200
mil pacotes de água mineral, dos
tipos com e sem gás. O produto é
vendido em Goiás, Distrito Federal,
Minas Gerais, Mato Grosso, Rondônia, Acre, Tocantins, Bahia e Amazonas. A unidade gera 350 empregos
diretos e 2,5 mil indiretos.
O segmento da indústria da
água mineral conta em Goiás com
as linhas de crédito do Fundo de
Mineração (FunMineral) para iniciar ou expandir as atividades, assim como para aumentar o capital de giro. O FunMineral, financi-
Nichos
de mercado
O envasamento
em galões de
20 litros teve
impulso
significativo
nos últimos anos,
por causa da
mudança de
hábito dos
consumidores
que optaram por
ter produto
diferenciado
em casa
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