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ARS VETERINARIA, 15(1):46-53, 1999.
IRRIGAÇÃO DO NÓ SINOATRIAL EM
BOVINOS DA RAÇA CANCHIM
( IRRIGATION OF SINUS NODE IN
BOVINES OF THE CANCHIM BREED )
R. S. SEVERINO1, F. O. C. SILVA1, S. S. DRUMMOND2, P. P. BOMBONATO3,
F. P. ALVES4, J. W. SANTOS5
RESUMO
Estudou-se, em 30 (trinta) corações de bovinos da raça Canchim, adultos e de ambos os sexos, a irrigação do nó
sinoatrial, visando conhecer a origem, trajeto e distribuição dos vasos responsáveis pela nutrição deste tecido, e anastomoses
que pudessem ocorrer entre estes colaterais. Os corações tiveram seus sistemas coronarianos injetados com uma solução
corada de Neoprene látex “450”, fixados em solução aquosa de formol e dissecados os ramos atriais das artérias coronárias
esquerda e direita. Constatou-se que em 19 (63,33%) corações o tecido nodal é irrigado por colateriais provenientes de
ambas as Aa. coronárias esquerda e direita, precisamente, pelo ramo atrial proximal esquerdo, associado: ao ramo atrial
proximal direito em 10 (33,33%) corações, aos ramos atriais proximal e intermédio direitos em 3 (10,00%), ao ramo atrial
intermédio direito em 2 (6,66%), ao ramo atrial distal direito em 2 (6,66%), e aos ramos atriais proximal e distal direitos em
2 (6,66%). Em 10 (33,33%) órgãos o nó sinoatrial é vascularizado exclusivamente por colaterais provenientes da A.
coronária esquerda, por meio do ramo atrial proximal esquerdo e em apenas 1 (3,33%) coração esta estrutura é irrigada
exclusivamente por colateral da A. coronária direita. Evidenciou-se, anastomoses travadas entre os vasos que participam
desta irrigação.
PALAVRAS-CHAVE: bovinos Canchim, coração, nó sinoatrial, irrigação
SUMMARY
The arterial blood supply of the sinus node has been studied in 30 hearts, 2 males and 28 females, of Canchim
cattle breed. The hearts had, after it had been detached and adequately cleaned, their coronary arteries injected with colored
Neoprene Latex “450” solution, for after to be fixed later in formalin solution at 10% for consecutive dissection. In 19
(63,33%) hearts the sinus node is nourished by collateral branches of the left coronary artery, more exactly, of the left
proximal atrial branch coadjuvated by the right intermedio atrial branch in 10 (33,33%) hearts, by the rights proximal and
intermedio atrials branches in 3 (10,00%), by the right proximal atrial branch in 2 (6,66%), by the right distal atrial branch
in 2 (6,66%) and by the rights proximal and distal branches in 2 (6,66%) organs. In other 10 (33,33%) organs the sinus node
is supplied by branches arising from exclusively of left coronary artery, always by the left proximal atrial branch and in just
1 (3,33%) heart the nutrition of the sinus node concerne to a collateral branch of the right coronary artery. Arterial anastomosis
1 Professor DoutorTitular do Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Uberlândia.
2 Professor Doutor Adjunto do Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Uberlândia.
3 Professor Doutor Associado da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.
4 Bolsista de Iniciação Científica do PIBIC CNPq/UFU, Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal de
Uberlândia.
5 Professor Mestre Assistente do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.
ARS VETERINARIA, 15(1):46-53, 1999.
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involving branches related to the nourishment of the sinus node, are observed.
KEY-WORDS: Canchim bovines, heart, sinus node, irrigation
INTRODUÇÃO
O nó sinoatrial é a estrutura anatômica cardíaca
responsável pela produção dos impulsos elétricos que
induzem as fibras miocárdicas à contração e relaxamento,
conferindo o caráter automacista do funcionamento
cardíaco.
Como qualquer outro tecido orgânico, este
componente do sistema de condução cardíaco necessita
de nutrientes para que possa manter-se íntegro e
funcionalmente ativo. Dado que esta demanda é atendida,
em primeiro plano, pelo afluxo de sangue arterial, podemos
então inferir que o conhecimento do padrão morfológico
de distribuição dos ramos arteriais coronarianos a
convergirem para esta estrutura é de substancial relevância
para a manutenção de uma condição metabólica tecidual,
condizente com o perfeito cumprimento do papel
fisiológico deste tecido.
Informes relativos às artérias responsáveis pela
nutrição do nó sinoatrial em bovinos, encontramos em
algumas publicações especiais, nem sempre com o enfoque
por nós adotado na objetivação desta investigação
científica.
CRAINICIANU (1922), anlisando corações de
humanos e de bovinos, relata que o nó de Keith e Flack é
irrigado por colaterais oriundos da A. coronária direita
(68%), da A. coronária esquerda (25%), ou, simultaneamente, por vasos procedentes de ambas (7%). Informa
ainda, ser a segunda disposição, a mais frequente nos
bovinos.
VISCHIA (1926), examinando o sistema arterial
coronariano do Homo sapiens, Bos taurus, Sus scrofa e
Canis familiaris, chega à conclusão de que há, no homem,
predomínio de irrigação da A. coronária esquerda em
relação à direita, condição esta, também observada nos
Bos taurus e Canis familiaris, concluindo que o suprimento
sanguíneo arterial do sistema condutor de estímulos é
variável.
ERHART (1936), ao estudar a irrigação do
sistema de condução sinoatrial, em alguns mamíferos
domésticos, examina 10 corações de bovinos (Bos indicus
x Bos taurus), classificando os mesmos em 4 grupos, de
acordo com a origem das artérias responsáveis pela
irrigação do nó sinoatrial. O primeiro conjunto de animais
é composto por 6 indivíduos nos quais a irrigação do
sistema sinoatrial está sob a dependência exclusiva da A.
auricular anterior esquerda, ramo colateral do ramo
circunflexo da A. coronária esquerda. Um segundo grupo
é formado apenas por um animal em que o sistema
sinoatrial recebe sua irrigação principal da A. auricular
anterior esquerda, no entanto, a porção ventral do sulco
terminal, recebe sangue proveniente da A. auricular
posterior direita. O terceiro agrupamento é composto por
um espécime em que as Aa. coronárias esquerda e direita
concorrem para a irrigação do sistema sinoatrial, cada uma
mediante um ramo auricular anterior direito e esquerdo,
respectivamente. Finalmente o último conjunto é
constituído por dois animais de modo que o suprimento
sanguíneo da região ocupada pelo sistema de condução
sinoatrial, está na dependência única, da A. coronária
direita, sendo em 1 deles, às custas de ramo colateral da
A. auricular anterior direita, e no outro, através deste e da
A. auricular lateral. Anastomoses de calibres exíguos foram
evidenciadas em ambas as peças, entre colaterais das Aa.
auriculares anteriores direita e esquerda.
BRUNI & ZIMMERL (1947), informam
genericamente que o nó sinoatrial encontra-se nutrido pela
artéria nodal, oriunda da artéria coronária direita,
observada ao longo do sulco terminal.
BARONE & COLIN (1951), verificando a
anatomia do sistema arterial cardíaco dos ruminantes
domésticos, em 20 corações de bovinos, 7 de carneiros e
7 de cabras, informam ser sua vasculotopia executada partir
de ramos coronarianos atriais como a A. auricular anterior
direita, A. auricular posterior direita e A. auricular anterior
esquerda.
HEGAZI (1958), estudando 22 corações de
bovinos, 15 de carneiros e 13 de cabras, refere-se às artérias
responsáveis pela irrigação do território ocupado pelo nó
sinoatrial, embora não particularmente interessado na
nutrição do tecido nodal. Assim, o autor descreve o ramus
atrialis sinister proximalis, ramus ventricularis dexter,
ramus atrialis dexter proximalis, ramus atrialis dexter
intermedius, ramus atrialis dexter distalis, como
coadjuvantes desta função.
JAMES (1965), examinando a vascularização do
nó do seio em 8 corações de bovinos, informa ser o tecido
nodal irrigado pelo mais importante vaso atrial, oriundo,
em todos os casos, do ramo circunflexo da artéria coronária
esquerda.
MARTINI (1965), verificando a irrigação do
coração de alguns mamíferos domésticos, dentre eles 15
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bovinos (Bos taurus), afirma que a artéria circunflexa
esquerda, emite como primeiro vaso atrial, a artéria
auricular anterior esquerda, que caminha pela parede
côncava dos átrios, até atingir o sulco terminal. A nutrição
do nó de Keith e Flack, se faz exclusivamente por este
vaso, sem a participação de qualquer ramo proveniente da
direita.
CHIODI & BORTOLAMI (1967) realizando
estudos morfológicos em corações de bovinos, citam que
o nó sinoatrial é irrigado exclusivamente pela artéria
auricular anterior esquerda, a qual, na região do sulco
terminal, divide-se em três ramos que se distribuem até o
trato anterior esquerdo da parede da veia cava cranial.
Assinalam ainda, que a artéria nodal se posiciona na
periferia do referido nó e divide-se em diversos ramos que
penetram neste tecido, frequentemente acompanhados por
troncos nervosos.
BORELLI (1969), pesquisando a irrigação do
território ocupado pelo nó sinu-atrial em 100 corações de
bovinos azebuados, 87 machos e 13 fêmeas, chega à
conclusão de que a irrigação do nó sinu-atrial depende,
em 75 (75,0% ± 4,3) peças, de colaterais originários da A.
coronaria dextra e da A. coronaria sinistra. Com menor
frequência, o nó sinu-atrial recebe apenas colaterais
fornecidos pela A. coronaria dextra, isto é, 2 (19,0% ±
3,9). Nos órgãos restantes, 6 (6% ± 2,3), a área onde se
localiza o nó sinu-atrial mostra-se servida de vasos
oriundos somente da A. coronaria sinistra. Anastomoses
arteriais em que participam vasos responsáveis pela
irrigacão do território do nó sinu-atrial foram observadas.
PINTO E SILVA & BORELLI (1969), estudando
a irrigação do nó sinoatrial em 50 corações de bovinos,
machos, da raça Holandesa Preta e Branca, concluem que
a mesma é dependente em 40 (80,0% ± 5,6) corações de
colaterais da A. coronaria sinistra e da A. coronaria dextra.
Menos frequente, a massa nodal é nutrida por colaterais
da A. coronaria sinistra (16,0% ± 5,2) e nos casos restantes
(4,0% ± 2,8), a área ocupada pelo tecido nodal recebe vasos
oriundos da A. coronaria dextra,. Anastomoses arteriais
foram observadas entre os vasos descritos como
responsáveis pela irrigação do nó sinoatrial destes animais.
SEVERINO (1986), por meio da dissecação de
30 corações de bovinos (Bos indicus) da raça Indubrasil,
machos, informa ser a irrigação do nó sinoatrial nestes
animais exercida mais frequentemente, 21 (80,0% ± 7,3)
vezes por colaterais oriundos das Aa. coronaria sinistra e
A. coronaria dextra. Com menor frequência, 6 (20,0% ±
7,3) vezes a área tomada pelo nó sinoatrial fica na
dependência exclusiva de colaterais procedentes da A.
coronaria dextra e em poucas preparações, 3 vezes (10,0%
± 5,5), da A. coronaria sinistra. Anastomoses arteriais em
que participam colaterais de vasos responsáveis pela
nutrição do nó sinoatrial foram encontradas.
ARS VETERINARIA, 15(1):46-53, 1999.
TEIXEIRA FILHO (1988), analisando a
irrigação do nó sinoatrial em 50 corações de bovinos da
raça Hereford 25 machos e 25 fêmeas, nos informa que o
território ocupado pelo nó sinoatrial recebe suprimento
arterial, mais frequentemente, 49 (98,0% ± 2,0) vezes
exclusivamente por ramos derivados da A. coronaria
sinistra. Somente 1 (2,0% ± 2,0) vez a nutrição do citado
nó é realizada exclusivamente pelo ramus proximalis atrii
dextri, originado da A. coronaria dextra. Anastomoses
arteriais efetuadas por vasos colaterais destinados a
irrigação do tecido nodal, foram assinaladas em todos os
corações.
CAETANO et al (1995), certificando da nutrição
do nó sinoatrial em 50 corações de bovinos da raça Gir,
fêmeas, definem que a irrigação do território ocupado pelo
nó sinoatrial depende, mais comumente, em 36 (72,0% ±
6,3) vezes, de colaterais procedentes da A. coronaria
sinistra. Com menor frequência, 14 (28,0% ± 6,3) vezes,
por colaterais fornecidos pela A. coronaria dextra.
Anastomoses arteriais de que participam vasos
responsáveis pela irrigação do território ocupado pelo nó
sinoatrial, foram registradas.
Fundamentalmente, objetivamos com esta
investigação científica, conhecer os aspectos morfológicos
relativos à origem, distribuição territorial e anastomoses
entre os vasos a se incumbirem da irrigação do nó sinoatrial
em bovinos da raça Canchim, focalizando a participação
dos ramos atriais das artérias coronárias direita e esquerda
na irrigação sanguínea deste tecido nestes espécimes,
submetendo esta participação à avaliações sistemáticas,
tais como número, origem, trajeto e freqüência dos ramos
que convergem para o tecido nodal, assim como a
freqüência e natureza das anastomoses que por ventura
ocorram entre seus colaterais.
MATERIAL E MÉTODOS
Fizemos uso nesta pesquisa de 30 (trinta) corações
de bovinos da raça Canchim, retirados de animais de ambos
os sexos, procedentes das diferentes regiões que detêm
núcleos criatórios destes espécimes, e abatidos em
frigoríficos credenciados pelo Serviço de Inspeção Federal,
com prévia comunicação do Serviço de Registro
Genealógico da Associação Brasileira de Criadores de
Canchim (ABCCAN).
Após o sacrifício, removemos dos mesmos, ainda
na sala de abate do estabelecimento industrial, os blocos
de vísceras torácicas. Destes foram cuidadosamente
isolados os corações, preservando ao máximo a integridade
das fibras miocárdicas, bem como os segmentos iniciais
dos vasos de suas bases.
Posteriormente, as cavidades cardíacas foram
ARS VETERINARIA, 15(1):46-53, 1999.
submetidas à lavagem em água corrente, a fim de serem
removidos possíveis fragmentos de coágulos sanguíneos
aí existentes.
Em seguida, canulamos os tratos iniciais das
artérias coronárias esquerda e direita e os injetamos
inicialmente com uma solução fisiológica para
desobstruirmos toda a luz do sistema vascular coronariano,
para, num processo sequencial, o preenchermos
definitivamente com uma solução de Neoprene Látex 450* ,
corada com pigmento específico* *, numa quantidade
suficiente até a obtenção de uma pressão satisfatória na
luz dos referidos vasos.
Após este procedimento, acondicionamos as
peças em recipientes adequados e as fixamos por meio de
uma solução aquosa de formol a 10% (dez por cento). Esta
manobra obedeceu a um período mínimo de 48 (quarenta
e oito) horas, onde as cavidades cardíacas e os segmentos
iniciais dos vasos da base foram preliminarmente
preenchidas com fragmentos de algodão embebidos com
a mesma solução para que obtivessemos modelos
topograficamente mais adequados a este estudo.
A seguir, dissecamos os ramos atriais das artérias
coronárias esquerda e direita por meio de instrumentos
cirúrgicos adequados e, quando necessário, utilizamos o
campo visual de uma lupa monocular Wild (10X)* **.
Confeccionamos desenhos esquemáticos de todas
as preparações para melhor ordenação dos resultados, os
mesmos foram sequencialmente submetidos à uma análise
comparativa com àqueles obtidos por outros autores para
as demais raças bovinas que tiveram, como primícia,
objetivos semelhantes. Utilizamos como tratamento
estatístico, o teste do X2, a nível de significância de 5%,
segundo BEIGUELMAN (1996).
Na nominação dos ramos atriais das artérias
coronárias esquerda e direita, nos pautamos nas
informações de HEGAZI (1958), com os devidos reparos
de HABERMEHL (1959), de onde aproveitamos para
traduzir os termos latinos para o nosso vernáculo, já que a
Nomina Anatomica Veterinaria (1994) nos faculta esta
condição.
RESULTADOS
Nos 30 (100%) corações de bovinos da raça
Canchim submetidos a este estudo, a irrigação da área
ocupada pelo nó sinoatrial depende parcialmente (63,33%
± 8,79) ou exclusivamente (33,33% ± 8,60) da artéria
coronária esquerda por meio do ramo atrial proximal
esquerdo (Figura 1), que se origina do ramo circunflexo
esquerdo ou exclusivamente (3,33% ± 3,27) da artéria
coronária direita por meio do ramo atrial proximal direito.
Logo após sua origem, o ramo atrial proximal
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esquerdo ganha a face auricular do átrio esquerdo,
passando a contornar a parede côncava dos átrios, ora em
plena espessura dos feixes musculares, ora na região
subepicárdica. Após ultrapassar o território do septo
interatrial, este vaso dirige-se para a face auricular, próximo
a desembocadura da veia cava cranial por meio de seu
próprio tronco, ou de ramo resultante de sua bifurcação
ou de um de seus colaterais. Nesta região transita aplicado
à parede do átrio direito, e sua respectiva aurícula ou à
parede da própria veia cava cranial, alcançando a junção
desta com o átrio direito ou ângulo diedro cavo-atrial e o
sulco terminal. Nesta trajetória, o ramo atrial proximal
esquerdo cede, ainda, colaterais às faces auricular e atrial
do átrio esquerdo e respectiva aurícula, às seções terminais
das veias pulmonares, bem como às faces auricular e atrial
do átrio direito.
O ramo atrial proximal direito tem sua origem
junto à A. coronária direita, percorre inicialmente a face
auricular do átrio direito passando à sua face dorsal, por
meio da qual atinge o sulco terminal;
Dentre os corações nos quais o fornecimento de
sangue ao território do nó sinoatrial depende parcialmente
do ramo atrial proximal esquerdo (63,33% ± 8,79),
identificamos uma ou duas artérias partilhando tal função,
a saber:
a) ao ramo atrial proximal direito em 10 (33,33% ± 8,60)
preparações;
b) ao ramo atrial proximal direito juntamente com o ramo
atrial intermédio direito em 3 (10,00% ± 5,47) corações.
O ramo atrial intermédio direito origina-se do ramo
circunflexo da artéria coronária direita, percorre a face
atrial do átrio direito em sentido ascendente e alcança o
terço ventral do sulco terminal;
c) ao ramo atrial intermédio direito em 2 (6,66% ± 4,55)
peças;
d) ao ramo atrial distal direito em 2 (6,66% ± 4,55)
modelos. Este vaso parte do ramo circunflexo da artéria
coronária direita, passa a caminhar pela face atrial do
átrio direito, com trajeto ascendente, rumo à
desembocadura da veia cava cranial, para diretamente,
alcançar o terço ventral do sulco terminal;
e) ao ramo atrial proximal direito juntamente com o ramo
atrial distal direito em 2 (6,66% ± 4,55) preparações.
Anastomoses arteriais em que participam vasos
responsáveis pela irrigação do território do nó sinoatrial,
observamo-las em todos os 30 (100%) corações, mais
exatamente:
a) 29 (96,66% ± 2,27) vezes entre colaterais do ramo atrial
proximal esquerdo e ramo atrial intermédio esquerdo;
b) 28 (93,33% ± 4,55) vezes entre colaterais do ramo atrial
proximal esquerdo e ramo atrial proximal direito;
c) 14 (46,66% ± 9,10) vezes entre colaterais do ramo atrial
proximal esquerdo e ramo atrial distal direito;
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ARS VETERINARIA, 15(1):46-53, 1999.
d) 11 (36,66% ±8,79) vezes entre colaterais do ramo atrial
proximal esquerdo e ramo atrial intermédio direito;
e) 8 (26,66% ± 8,07) vezes entre colaterais do ramo atrial
proximal esquerdo e ramo atrial distal esquerdo;
f) 7 (23,33% ± 7,72) vezes entre colaterais do ramo atrial
proximal direito e ramo atrial intermédio direito;
g) 6 (20,00% ± 7,30) vezes entre colaterais do ramo atrial
proximal direito e ramo atrial distal direito;
h) 4 (13,33% ± 6,55) vezes entre colaterais do ramo atrial
intermédio direito e ramo atrial distal direito.
O tratamento estatístico utilizado, pelo qual
confrontamos nossos resultados com os achados de outros
autores dos quais esta comparação foi possível, nos permite
inferir que, ao nível de α = 0,05, as amostras de bovinos
das raças Canchim, Indubrasil, Hereford, Gir, Holandês
Preto e Branco e Azebuados, diferem entre si quanto à
proporção de indivíduos que apresentam o nó sinoatrial
irrigado apenas por colaterais da A. coronária direita,
apenas por colaterais da A. coronária esquerda ou por
colaterais provenientes de ambas Aa. coronárias.
DISCUSSÃO
O reconhecimento da irrigação do nó sinoatrial
em bovinos da raça Canchim deve ter como requisito
básico a determinação prévia da topografia do tecido nodal
nos corações destes espécimes. Conforme ALVES et al
(1998), esta estrutura anatômica cardíaca situa-se junto
ao ângulo diedro cavo-auricular e terço dorsal do sulco
terminal.
A partir desta definição é que procedemos à
elucidação dos arranjos arteriais destinados à este alvo.
Por meio destes estabelecemos então uma análise
comparativa entre os nossos achados e àqueles obtidos
para bovinos de outras raças.
Desta forma, queremos salientar que existem
configurações vasculares incomuns entre os bovinos da
raça Canchim, frente a outras raças bovinas, no que se
refere à participação de colaterais das Aa. coronárias
esquerda e direita na nutrição do tecido nodal. Quando
analisamos os informes para bovinos Azebuados
(BORELLI, 1969), pudemos verificar que estes animais
revelam três modalidades de arranjos arteriais na irrigação
do nó sinoatrial que não foram por nós assinaladas para os
bovinos Canchim, quais sejam: participação conjunta dos
ramos atriais proximal, intermédio e distal direitos; ramo
atrial proximal esquerdo associado ao ramo atrial proximal
direito e ramo ventricular direito e, finalmente, ramo atrial
proximal esquerdo associado ao ramo atrial intermédio
direito e ramo ventricular direito. Os bovinos da raça
Holandês Preto e Branco (PINTO E SILVA & BORELLI,
1969) também dispõem de associações do ramo atrial
proximal esquerdo com ramo ventricular direito e do ramo
atrial intermédio esquerdo com ramo atrial intermédio
direito que também não são verificadas nos animais por
nós estudados. Ainda neste sentido, devemos destacar que
a associação dos ramos atriais proximal e distal direitos
que podem ser vistas nos animais Azebuados e Holandês
Preto e Branco, assim como a associação dos ramos atriais
proximal direito e intermédio direito assinaladas para os
bovinos da raças Indubrasil (SEVERINO, 1986),
Azebuados (BORELLI, 1969), Gir (CAETANO et al,
1995) e Holandês Preto e Branco (PINTO E SILVA &
BORELLI, 1969) não são comuns aos padrões de irrigação
do tecido nodal dos bovinos da raça Canchim.
Por outro lado, a associação do ramo atrial
proximal esquerdo com os ramos atriais proximal e distal
direitos diz respeito a um arranjo arterial para a irrigação
do nó sinoatrial inerente aos bovinos Canchim e que não
havia sido registrado para quaisquer outras raças bovinas
das quais se conheça a irrigação do tecido nodal.
ERHART (1936) assinala que nos bovinos (Bos
indicus X Bos taurus) a A. auricular anterior esquerda
(ramo atrial proximal esquerdo) aparece com maior
frequência sendo a única a nutrir o nó sinoatrial, fato que
ocorre apenas 10 vezes (33,33% ± 8,60) nos animais da
raça Canchim. Este autor observa também a participação
exclusiva da A. auricular anterior direita (ramo atrial
proximal direito) na nutrição do mencionado nó, o que
coincide com o perfil vascular constatado para os bovinos
da raça Canchim.
Podemos ainda inferir que os resultados agora
obtidos para o Canchim não coincidem com as informações
genéricas de VISCHIA (1926), que registra para os bovinos
predomínio da A. coronária esquerda na irrigação do nó
sinoatrial, nem com a descrição de CRAINICIANU (1922),
que relata estar este nó na dependência de vasos oriundos
mais frequentemente da A. coronária direita (68%),
seguido da A. coronária esquerda (25%) e suas associações
(7%). Também não encontramos compatibilidade entre
nossos resultados e os registros de JAMES (1965),
MARTINI (1965) e CHIODI & BORTOLAMI (1967) que
atribuem apenas a colateral da A. coronária esquerda o
desempenho desta função e nem tão pouco com as
informações dos tratadistas BRUNI & ZIMMERL (1947)
que consideram o nó sinoatrial nutrido apenas pela artéria
nodal, originária da A. coronária direita.
No que se refere às colocações de BARONE &
COLIN (1951) e HEGAZI(1958), embora os primeiros
referem-se a artéria auricular anterior direita (ramo atrial
proximal direito) e a artéria auricular anterior esquerda
(ramo atrial proximal esquerdo) como vasos destinados à
seção final da veia cava cranial e o segundo destaca que
os ramos atrial proximal esquerdo, atrial intermédio direito
e atrial distal direito também irrigam a parede desta veia,
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Figura 1: Vista da base de coração de bovino da raça Canchim, onde o ramo atrial proximal
esquerdo (a) emite colaterais à região do sulco terminal (b)
Tabela 1 - Origem e frequência dos vasos responsáveis pela irrigação do nó sinoatrial em bovinos das raças Holandês Preto
e Branco, Hereford, Gir, Azebuados, Indubrasil e Canchim, Uberlândia,1998.
ORIGEM
HO LANDÊS P.B. HEREFO RD
GIR
AZEBUADOS
INDUBRASIL
CANCHIM
DOS VASOS
A. coronária
direita
A. coronária
esquerda
Aa. coronárias
esquerda e direita
TOTAL
2
1
14
19
6
1
8
49
21
6
3
10
40
0
15
75
21
19
50
50
50
100
30
30
fica difícil confrontar estes dados com os por nós obtidos,
pois, embora tivessemos deparado com as citadas artérias
como responsáveis também pela nutrição do nó sinoatrial,
os referidos autores não analisaram o comportamento
destes vasos em relação ao sulco terminal e ângulo diedro
cavo-atrial.
Tendo em vista a origem e frequência dos vasos
responsáveis pela irrigação do nó sinoatrial, quando
comparamos nossos resultados com os achados de outros
autores entre os quais esta comparação foi possível,
conforme a Tabela 1, estabelecemos o tratamento
estatístico de acordo com o proposto na metodologia de
execução deste estudo. Em assim sendo podemos inferir
que, ao nível de α = 0,05, as amostras de bovinos das
raças Canchim, Indubrasil Hereford, Gir, Holandês Preto
e Branco e Azebuados, diferem entre si quanto à proporção
de indivíduos que apresentam o nó sinoatrial irrigado
apenas por colaterais da A. coronária direita, apenas por
colaterais da A. coronária esquerda ou por colaterais
provenientes de ambas Aa. coronárias.
Sobre a ocorrência de anastomoses entre vasos
implicados na irrigação do nó sinoatrial, em diferentes
bovinos, cabe destacar que a participação do ramo atrial
proximal esquerdo, que nestes animais mostra ser o vaso
mais prevalente nesta interação, nos permitindo considerálo para os bovinos, independente da raça, como a artéria
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ARS VETERINARIA, 15(1):46-53, 1999.
de maior importância na nutrição do tecido nodal.
CONCLUSÕES
Com base nos resultados ora apresentados para
os bovinos da raça Canchim, julgamos poder concluir que:
1) a irrigação do território ocupado pelo nó sinoatrial,
nestes animais, se faz exclusivamente em 10 (33,33% ±
8,60) corações por colaterais oriundos da artéria coronária
esquerda, em 19 (63,00% ± 8,79) pela associação de ramos
provenientes de ambas artérias coronárias esquerda e
direita ou exclusivamente pela artéria coronária direita em
1 (3,33% ± 3,27) coração;
2) do consórcio estabelecido pelas artérias coronárias
esquerda e direita na nutrição do tecido nodal, verificamos
o ramo atrial proximal esquerdo, associado: 10 (33,33%
± 8,60) vezes ao ramo atrial proximal direito; 3 (10,00%
± 5,47) vezes aos ramos atriais proximal e intermédio
direitos; 2 (6,66% ± 4,55) vezes ao ramo atrial intermédio
direito; 2 (6,66% ± 4,55) vezes ao ramo atrial distal direito;
e 2 (6,66% ± 4,55) vezes ao ramos atriais proximal e distal
direitos;
3) com menor frequência, 6 (40,00% ± 12,64) vezes, a
área tomada pelo nó sinoatrial fica na dependência
exclusiva de colaterais procedentes da artéria coronária
esquerda, mais exatamente do ramo atrial proximal
esquerdo;
4) anastomoses arteriais, em que participam colaterais de
vasos responsáveis pela vascularização do nó sinoatrial,
encontramos: 29 (96,66% ± 2,27) vezes entre colaterais
do ramo atrial proximal esquerdo e ramo atrial intermédio
esquerdo; 28 (93,33% ± 4,55) vezes entre colaterais do
ramo atrial proximal esquerdo e ramo atrial proximal
direito; 14 (46,66% ± 9,10) vezes entre colaterais ramo
atrial proximal esquerdo e ramo atrial distal direito; 11
(36,66% ± 8,79) vezes entre colaterais do ramo atrial
proximal esquerdo e ramo atrial intermédio direito; 8
(26,66% ± 8,07) vezes entre colaterais do ramo atrial
proximal esquerdo e ramo atrial distal esquerdo; 7 (23,33%
± 7,72) vezes entre colaterais do ramo atrial proximal
direito e ramo atrial intermédio direito; 6 (20,00% ± 7,72)
vezes entre colaterais do ramo atrial proximal direito e
ramo atrial distal direito e 4 (13,33% ± 6,55) vezes entre
colaterais do ramo atrial intermédio direito e ramo atrial
distal direito.
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