A Barreira do Som Na discussão que se segue, vamos considerar um referencial fixo no solo e, nesse referencial, a atmosfera imóvel. Um objeto que se movimenta, na atmosfera, com uma velocidade de módulo v, gera pulsos esféricos de pressão. Esses pulsos se propagam com velocidade de módulo vS, igual ao módulo da velocidade das ondas sonoras. Os pulsos ficam tanto mais próximos uns dos outros, à frente do objeto, e tanto mais afastados uns dos outros, atrás dele, quanto maior o módulo da velocidade do objeto (Fig.33(a)). Quando v ≈ vS, os pulsos à frente do objeto se sobrepõem, formando um pulso único, de amplitude bem maior do que a amplitude de qualquer um dos pulsos originais (Fig.33(b)). Desse modo, à frente do objeto, a pressão atmosférica fica bem maior do que o seu valor normal. Quando v = vS, esse pulso único fica com uma amplitude muito grande e recebe o nome (impróprio) de onda de choque. Se o objeto que se movimenta na atmosfera é um avião, cada ponto de sua superfície externa se comporta como uma fonte de pulsos de pressão. Além disso, quando o módulo da velocidade do avião se aproxima do módulo da velocidade das ondas sonoras, começam a se formar ondas de choque sobre as asas e perto do nariz. Isto representa um grande obstáculo ao vôo porque aparecem problemas estruturais e de pilotagem, além de uma grande resistência ao avanço do avião, devido à grande pressão da atmosfera à sua frente. Todas estas dificuldades constituem o que costumamos chamar de barreira do som. Ao nível do mar e em temperatura ambiente de 15 oC, o módulo da velocidade das ondas sonoras na atmosfera é: vS ≈ 344 m/s ≈ 1238 km/h Definimos o número de Mach, simbolizado por M, como a razão entre o módulo da velocidade de um objeto na atmosfera e o módulo da velocidade das ondas sonoras: M= v vS Velocidades para as quais M < 1 são chamadas de velocidades subsônicas e velocidades para as quais M > 1 são chamadas de velocidades supersônicas. As dificuldades ao vôo, apontadas acima, ficam bastante reduzidas para velocidades supersônicas com M > 1,2 porque, nessas velocidades, as ondas de choque aparecem destacadas do avião, um pouco à sua frente. Grupo de Ensino de Física da Universidade Federal de Santa Maria Cone de Mach Vamos pensar num corpo pequeno, como o nariz de um avião, que se move, no referencial considerado, na horizontal, em linha reta, com velocidade v supersônica, isto é, com v > vS (Fig.34). No instante t, o corpo está no ponto C. Ao passar pelo ponto A, no instante anterior t1, o corpo produziu um pulso esférico que vem se propagando com a velocidade do som. Esse pulso esférico, no instante t, tem raio RA. Ao passar pelo ponto B, no instante também anterior t2, o corpo produziu um pulso esférico que também vem se propagando com a velocidade do som. Esse outro pulso esférico, no instante t, tem um raio RB. Estritamente falando, ao passar por qualquer ponto, o corpo produz pulsos esféricos. No instante t considerado, a superfície envolvente desses pulsos, ou seja, a onda de choque, é uma superfície cônica, chamada de cone de Mach. O eixo do cone de Mach é a trajetória do corpo e o vértice é o ponto C, onde o corpo se encontra no instante t. O ângulo de abertura do cone de Mach, θM = 2α, pode ser calculado usando a seguinte relação, tirada do triângulo retângulo BCD: sen α = v S (t − t 2 ) v S = v (t − t 2 ) v Desse modo, quanto maior for o módulo da velocidade supersônica do objeto, menor será o ângulo de abertura do cone de Mach. Todas as seções dos pulsos junto à superfície cônica têm a mesma forma e se superpõem, reforçando-se mutuamente. A onda de choque é uma estrutura cônica delgada, em que o ar se encontra a uma pressão muito maior do que a pressão atmosférica normal. Esta estrutura cônica se arrasta por trás do objeto de modo análogo à onda de proa em forma de V, que segue uma lancha ou um barco na água. Quando a onda de choque de um avião supersônico passa por um observador, ele escuta um único e forte estrondo. No instante de tempo t considerado, as partículas do meio que estão dentro do cone de Mach já foram perturbadas pelo objeto em movimento e as partículas que Grupo de Ensino de Física da Universidade Federal de Santa Maria estão fora, ainda não foram perturbadas. Podemos representar o resultado do movimento do corpo que se desloca, na atmosfera, com uma velocidade supersônica, como um processo contínuo de produção de pulsos sonoros esféricos que se propagam no interior do cone de Mach. A formação desses pulsos sonoros acontece às custas da energia do corpo. Em outras palavras, o corpo fica sob o efeito de uma força de resistência ao seu movimento. Os pulsos sonoros são amortecidos com o tempo, espalhando-se por uma região do espaço cada vez maior, devido ao atrito interno (viscosidade) da própria atmosfera. Ao fim e ao cabo, a extremidade posterior do cone se dispersa no espaço. Grupo de Ensino de Física da Universidade Federal de Santa Maria