C a d e r n o s L i n k Casos de sucesso OTLIS Calypso: um passe para toda a Europa num projecto premiado no âmbito da Sociedade da Informação do futuro bilidades de utilização não se ficarão por aqui — este passe também poderá ser um cartão de fidelidade, um receptor portátil de informações ou um emissor de chamadas de emergência. Experiência transnacional D Reis Simões Administrador-delegado do consórcio OTLIS epois de esbatidas as fronteiras monetárias, alfandegárias e outras que isolavam os países europeus, vem aí o salvo-conduto para facilitar a mobilidade dos habitantes do Velho Continente — o passe único de cidadão europeu. Isto é conseguido através de um suporte telemático e sem contacto, destinado à criação de um cartão de cidadão de acesso aos serviços urbanos, transportes e operações financeiras. «Este sistema realiza uma verdadeira harmonização entre o mundo bancário e o dos operadores de transportes e de outros serviços», refere Reis Simões, administrador-delegado do consórcio OTLIS (Operadores de Transportes da Região de Lisboa), a entidade responsável pelo projecto Calypso em Portugal. O consórcio é constituído pela Carris, Metropolitano, Rodoviária de Lisboa, Rodoviária da Estremadura, Transportes do Sul do Tejo, Transtejo e Caminhos de Ferro Portugueses. O projecto visa realizar a junção de dois desenvolvimentos informáticos, utilizando um cartão inteligente que consegue colocar no mesmo suporte uma aplicação de transportes — o passe sem contacto — e uma aplicação da banca — o portamoedas electrónico (PMB). Futuramente, o passe de cidadão funcionará simultaneamente como meio de pagamento de bens e serviços e título de transporte. Com efeito, no quadro de uma utilização multi-serviços, este sistema permite de igual modo efectuar reservas e controlo de acessos a museus, a eventos culturais e desportivos, obter informações sobre serviços urbanos e aceder aos serviços administrativos, por exemplo, para bilhetes de identidade. Mas as possi34 N1 - Novembro de 1999 Dada a natureza complexa do projecto, foram escolhidas quatro cidades europeias com realidades completamente distintas na área dos transportes: Lisboa, por ser uma capital de média dimensão com uma rede de transportes urbanos muito diversa e por estar associada ao mais antigo PMB da Europa, o da SIBS; Paris, uma capital de grande dimensão, que lança o seu porta-moedas electrónico regional em conjunto com uma mudança integral da bilhética de transportes na região de Ille de France; Veneza, centro urbano de pequena dimensão mas com uma grande actividade turística — cerca de 14 milhões de visitantes anuais — que requer uma rigorosa gestão do fluxo de turistas; finalmente, Constança, entre a Alemanha e a Áustria, que é uma zona de cariz rural, onde já se associa uma rede de transportes regional ao porta-moedas electrónico ZKA, em utilização pela maioria dos portadores de cartões alemães. «Desta forma, será possível implementar um sistema de informação genérico que seja comum, mas que, ao mesmo tempo, responda às especificidades locais de cada região», explica Reis Simões. Quanto ao equipamento, o passe de utente para Lisboa é constituído por uma carteira e um cartão inteligente. No que diz respeito ao funcionamento, o utilizador insere o cartão dentro da carteira, para permitir a sua validação sem contacto, tanto por proximidade como por mãos livres. Assim, quando o utilizador acede ao autocarro ou à plataforma, apresenta a sua carteira ao validador — esta é a validação por proximidade. «Aquele dispositivo verifica se o título carregado no cartão é válido para aquele transporte e para a viagem a efectuar e, por outro lado, armazena toda a informação relativa a essa utilização», explica o nosso interlocutor. «Se, pelo contrário, a validação for feita à distância, o controlo de acessos é realizado mediante antenas que detectam o cartão do utilizador onde quer que ele se encontre, seja no bolso ou na mala», acrescenta este responsável. C a d e r n o s L i n k Casos de sucesso Do lado do operador, o sistema revela-se bem mais complexo. Além do equipamento já descrito, existem ainda os concentradores locais ou de bordo, o concentrador de operador e, a um nível superior, e multioperador, um centro de compensação de receitas. O concentrador local ou de bordo, situado em cada ponto de acesso aos transportes, guarda toda a informação recolhida pelos validadores, a qual, por sua vez, é remetida ao concentrador do operador. Este reúne todos os dados recolhidos de todos os validadores. Por fim, o centro de compensação de receitas recolhe os dados provenientes de todos os concentradores de todos os operadores. «É na captação de toda esta informação, por parte do centro de compensação, que residem as vantagens do Calypso. Com esses dados temos indicadores de gestão fiáveis e em tempo útil. Desta maneira, os operadores vão poder não só adequar a sua oferta à procura como também introduzir políticas de mercado orientadas de acordo com os seus utilizadores, ajustando os produtos e serviços oferecidos às verdadeiras necessidades de cada segmento específico de mercado», advoga o administrador-delegado do consórcio OTLIS. Finalmente será alcançado um dos grandes objectivos dos operadores — a correcta repartição de receitas baseada na real utilização dos transportes de cada operador. Isto é levado a cabo pelo centro de compensação de receitas, o qual comporta duas funções: uma de gestão e outra de análise. «No entanto, quanto mais justo este sistema se torna para o cliente, mais complexas se tornam a sua gestão e a sua funcionalidade, tanto para os operadores como para os utilizadores. Esta experiência irá então definir o ponto de equilíbrio entre as duas partes», conclui Reis Simões. Para o efeito, entre este e o próximo ano, a demonstração incluirá cerca de 50 viaturas, quiosques Multibanco, postos de personalização e perto de 5500 cartões, com e sem carteira.¶ Sensibilidade humana é fundamental O desenvolvimento da área de transportes resulta do trabalho elaborado no âmbito do projecto europeu ICARE, decorrido entre 1996 e 1997. Este projecto assentou essencialmente numa perspectiva tecnológica, Alberto Cunha ou seja, no desenvolvimento de todo o Responsável na Link pelo projecto suporte físico, lógico e de comunicações do sistema, além da integração dos vários meios de transporte dos diferentes operadores e respectivos sistemas tarifários, pelo que o projecto Calypso constitui a natural evolução do ICARE. Em Portugal, os parceiros deste projecto são o INESC, a OTLIS e a SIBS. O parceiro tecnológico, o INESC, através da Link, introduziu o selector, um dispositivo complementar ao validador que possibilita ao utilizador a selecção prévia da tarifa a pagar consoante o destino, no caso dos operadores que praticam tarifas diferentes em função do percurso. O carregamento dos títulos de transporte nos cartões será efectuado através das ATM (vulgo «caixas Multibanco»), processo em desenvolvimento pela SIBS. A carteira dispõe ainda de um visor que mostra toda a informação inserida no cartão, desde os títulos de transporte carregados à respectiva validade, saldo do PMB, hora, etc. Contemplada está também a hipótese de, no futuro, o visor poder fornecer determinadas informações úteis para o utilizador, como seja o tempo de espera pelo transporte ou a sua exacta localização. A função de chamada de emergência poderá também vir a ser uma das potencialidades destes dispositivos. É de salientar que o projecto português foi galardoado no ano passado com o prémio «Projecto com maior impacto na Sociedade da Informação», no âmbito do concurso da European Survey on Information Society, promovido pelo Information Society Project Office da Comissão Europeia. «Nós temos tido a preocupação de compreender as necessidades funcionais dos operadores e dos utilizadores. Embora sejamos o parceiro tecnológico, levamos em consideração o factor humano e colectivo. Se formos pela abordagem exclusivamente tecnológica, o sistema não funciona», refere Alberto Cunha, responsável pelo projecto na Link. «É indispensável ter sensibilidade organizacional, para que a tecnologia aterre bem naquele meio», sublinha o especialista a concluir. Os cartões inteligentes vão ser claramente um dos múltiplos sistemas terminais dos sistemas de informação. A integração vai permitir ter um cartão com a memória e a capacidade de processamento necessárias para o tornar um terminal inteligente. Na Link acreditamos que a área de aplicações que actualmente se restringe às operações financeiras vai crescer significativamente. O desenvolvimento de competências nesta área é uma vertente fundamental na Link. O equipamento de validação na Gare do Oriente, em Lisboa N1 - Novembro de 1999 35