RELAÇÃO DAS FRACTURAS DOS MÁRMORES ALENTEJANOS COM OUTRAS ESTRUTURAS por FERNANDO L. LADEIRA (*) RESUMO Neste trabalho apresenta-se o estudo das familias de fracturas medidas em mais de 200 pedreiras e a relação com as falhas e as dobras do anticlinório de Estremoz. Para cada falDllia de fracturas apresenta-se a interpretação da génese e idade relativa entre as fracturas e as dobras do anticlinório. Para explicar as fracturas conjugadas de cisalhamento, com ângulo diedro inferior a 45°, é proposto o critério híbrido de rotura baseado na teoria de A. Griffith. ABSTRACT ln this paper one presents the jointing sets in the marbles of Estremoz and their relationship to the faults and the folds which form the anticlinorium. The hybrid criterion based on the Griffith theory of failure is put forward to explain conjugate shear joints of small dihedral angle. An interpretation of the jointing genesis and their age relationship is also presented. INTRODUÇÃO Neste trabalho visa-se dar a conhecer os sistemas de diaclasamento das rochas cristalinas carbonatadas do maciço de Estremoz - Borba - Vila Viçosa sem a preocupação de destacar as grandes falhas, algumas das quais já evidenciadas por F. GONÇALVES (1972). Tenta-se mostrar a relação delas com o tectonismo que afectou a região. Estas rochas alentejanas (calcários e dolomitos cristalinos) foram motivo de vários estudos, visto que a região possui muito interesse do ponto de vista geológico-estrutural e económico. A cartografia geológica foi primeiramente esboçada por J. SILVA & M. CAMARINHAS (1975) e pormenorizadamente mapeada por F. GONÇALVES (1972), na escala de 1/25000, onde foram assinaladas estruturas até então desconhecidas. O mapa deste autor apresenta separação dos mármores com interesse comercial e constitui excelente base para quaisquer estudos geo~ lógico-geotécnicos a realizar na área. Do ponto de vista estratigráfico, as rochas carbonatadas do anticlinório foram atribuídas ao Câmbrico (TEIXEIRA, 1966) pela sua semelhança com outras rochas carbonatadas espanholas e por o maciço português estar no alinhamento do Câmbrico de Zafra (Espanha). F. GONÇALVES (1970, 1971) reafirma aquela idade após estudos minuciosos destas formações. D. CARVALHO et ai. (1971), após compa- ração com as rochas carbonatadas da região de Elvas, atribui-as ao Câmbrico inferior (Georgiano). A série câmbrica é apresentada por F. GONÇALVES (1972) pela seguinte sucessão: 1 - conglomerado de base, poligénico, em geral silicificado, sobreposto às vezes por arcoses. 2 - calcários cristalinos de grão fino, xistificados, passando lateralmente e para a parte superior a dolomitos, também de grão fino (vulgo «pedra cascalva»). O conjunto contém intercalações de rochas vulcânicas. 3 - calcários cristalinos pouco xistificados, em geral de grão médio. É no termo 3 que se situa a maioria das explorações de mármore. Silicificação importante separa os níveis de rochas carbonatadas (GONÇALVES, 1978). Na figura 1 apresenta-se um mapa simplificado do maciço calcário de Estremoz e áreas circunvizinhas em que se destacam as principais unidades que constituem o anticlinório de Estremoz-Vila Viçosa (GONÇALVES, 1972). As formações definem anticlinório assimétrico de orientação aproximadamente NW-SE, com 40 km de extensão segundo o eixo * Professor da Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, Brasil. 227 maior e 5 km segundo o eixo menor. Pela orientação do dobramento este é considerado hercínico, de idade posterior ao Devónico médio e/ou superior (CARVALHO et aI., 1971). As dobras apresentam planos axiais variáveis, com mergulhos para NE (região noroeste) e SW (região sudeste). Num ou noutro ponto da região noroeste as dobras mergulham também para SW. A clivagem formada é de plano axial em qualquer caso. Os mármores patenteiam dolomitização secundária (GONÇALVES, 1972) ou, em alguns casos, a dolomitização como que forma bolsadas no seio do calcário cristalino. A dolomitização que, pelo seu aspecto é denominada localmente por «olho de mocho», parece ter resultado da pressão por dissolução. Evidências desta «pressure solution» existem em várias pedreiras estudadas por F. LADEIRA (1978a) em que veios calcíticos no seio dos mármores apresentam interrupções como que evidenciando microfalhamentos. O metamorfismo dos calcários cristalinos é, em geral, baixo; contudo, em alguns pontos do maciço, é bem mais elevado devido à intrusão de rochas eruptivas e à extrusão de rochas vulcânicas. A existência em toda a região alentejana de rochas intrusivas e extrusivas com os mais variados tipos petrográficos e com mineralizações diversas é atribuível, segundo D. CARVALHO (1972), à existência de extensa zona de Benioff, na parte sudoeste da Península Ibérica. A subsequente subida desta rocha na crosta deu origem a metamofismo mais elevado no maciço calcário cristalino nos locais onde estas rochas se encontram próximas e/ou à superfície. Desligamentos sinistrógiros e dextrógiros de orientações aproximadamente NE-SW e E-W, respectivamente, preenchidos por filões de composição dolerítica, são observáveis em muitos locais do maciço calcário de Estremoz. Falhas normais também existem mostrando extensão no sentido perpendicular ao eixo B das dobras do anticlinório. Falhas de descompressão paralelas ao eixo B das dobras foram assinaladas em vários locais e igualmente preenchidas por intrusões filonianas (Fig. 1). Apesar do mapa apresentado por F. GONÇALVES (1972) ser óptimo elemento de consulta para quem pretende aprofundar qualquer estudo, torna-se necessário assinalar todas as falhas existentes, quer pela observação directa no campo quer por métodos indirectos, para assim se ter ideia exacta da compartimentação do maciço passando~se assim a melhor metodologia na optimização de zonas de exploração com potencial económico e definição de zonas hidrogeológicas com caudais capazes de abastecer indústrias ou agregados urbanos. No mapeamento dessas falhas terão que ser utilizados processos indirectos de observação dado que muitas das falhas estão encobertas pela espessa camada de terra rossa. INVESTIGAÇÕES DE CAMPO As fracturas estudadas não são mais do que diaclases, pois, não foram observadas pelo autor quaisquer indicações de movimento relativo. Mais de 200 pedreiras foram examinadas, mas para efeitos de simplicidade de apresentação, os dados colhidos em pedreiras adjacentes foram agrupados e plotados conjuntamente em diagrama 7t na rede Lambert-Schmidt, 228 constituindo - se assim 10 estações para todo o anticlinório (Fig. 1). O trabalho de campo demorou 3 meses; mais de 3 000 fracturas foram medidas, bem como os planos de estratificação, xistosidade, planos axiais das dobras e algumas falhas. Os elementos são apresentados em estereogramas em que a plotagem e o contorno dos pólos, na rede de igual área, foram feitos automaticamente. O programa de computador feito por Chris Spiers do Imperial College de Londres, utilizou o hemisfério inferior. Somente os pólos com percentagem superior a 0,7 foram considerados. Os pólos com densidades inferiores aquela percentagem foram desprezados, o que não muda nada a interpretação apresentada neste trabalho. Como se observa na Fig. 1, quatro famílias de fracturas figuram nos estereogramas, assinaladas com as letras A, B, C e D. Análise cinemática das fracturas Embora aqui se utilize o termo genérico fracturas, apenas as denominadas diaclases (fracturas sem movimento relativo aparente) serão aqui analisadas. As fracturas do anticlinório de Estremoz são, sem excepção, consideradas como sendo formadas quando as rochas apresentavam comportamento frágil como é geralmente aceite universalmente (PRICE, 1966). As diaclases com superfícies rugosas e irregulares ou com estruturas plumosas são geralmente interpretadas como fracturas de extensão (MUEHLBERGER, 1961, p. 215 ou ROBERTS, 1961, p. 468). Em contraste, todas as diaclases cujos planos são lisos e planares e contenham estriações são provavelmente fracturas de cisalhamento. Análise dinâmica das fracturas a) Fracturas de cisalhamento (famílias A e B) O ângulo diedro formado por estas duas famílias varia entre 20° e 60°. Estas fracturas devido à posição geométrica em relação ao eixo das dobras, por apresentarem superfícies lisas, planares, nalguns casos, estriações, permitem considerá-las como sendo de cisalhamento. Note-se que são paralelas às falhas preenchidas por filões básicos, a maioria das quais apresenta estriações e espelhos de falhas, onde é possível conhecer o movimento relativo. Estas famílias estão presentes em todas as estações embora em algumas, só uma das famílias apareça devido ao facto que a outra família apresentava baixa percentagem e por isso foi eliminada do estereograma. b) Fracturas de extensão (família C) Este conjunto de fracturas contem planos que são, na quase totalidade, rugosos e irregulares, alguns dos quais com estruturas plumosas. Não formam nenhum sistema conjugado com qualquer outra família. Na base de que as fracturas de cisalhamento formam ângulos relativamente baixos com a máxima tensão (0'1) principal (à volta de 30°), estas fracturas parecem ter sido formadas paralelamente à mínima tensão principal (0'3) regional, pois são paralelas ao plano axial das dobras que constituem o anticlinório. A família C, além de ser paralela aos planos axiais das dobras, bissecta o ângulo obtuso das famílias A e B. ~ tv N \ B í"l. O ,, ,, -, " .... .~-' v; ,-., f .. O ~ Morinela .... ............ ~ JI , aB ,, ,, I B~ ,,' O , -.----------------. . . _- -- -...- ""'1-_ -----"-- :';;::~ \ ,, a~rocas ~. I 4 KM GONÇALVES, ~B {oLj . , ,, ,, ~ B ,,\~ , ,, , 'YO ...... !lo . '. ... .. ;- .... \ \ / \ \ ~ , E2i9 '. CJ B.I ~ .... . .... .. " ..... .",,'" ) \\Ia \ \ \ f-- ---j ~--- - .V'J (: - -1 Barro Branco ~ , , - Borba ~o - - -- - - - " -------- B9 S. Morcos ROCHAS INTRUSIVAS TECTONIZADAS PRÉ - CÂMBRICO (xistos) SILÚRICO (rOChas extrusivas) metamorflsadas . CÂMBRICO (mármores) SILÚRICO (xistos) DEVÓNICO (xistos) Vila Viçosa o. o, 1972) com os estereogramas das fracturas em diferentes pontos do anticIinório. S. Lourenço OO (9 I 2 -- -::~==::=:=~::-=:: -=.::,;:;:-::p,..::-_-C--:-:~:-"?-:-:- ---""" Freiras ~ SIB Fig. 1- Mapa simplificado do anticlinório de Estremoz-Vila Viçosa (após Estremoz €i ~ ,, S. Bartolomeu D~ A· P o C c) Fracturas 4e,de~.compressão (familia D) ..... .~ ," - .--...... Este tipo êle fracturas é ~ribhorizontal, subparaleIo, portanto, à superfície topográfica. O ângulo máximo que forma com a horizon,tal é de cerca de 30°. O espaçamento entre estas fracturas é', no· geral, menor junto à superfície e aumenta para a profundidade. d) «Fracture Cleavage» Este tipo de {racturação hidráulica (LADEIRA, 1978 a, b) apenas aparece nas camadas finas de xistos, interestratificadas nos calcários cristalinos. A orientação, embora constante em cada lugar onde é visivel, varia ao longo do anticlinório, devido, provavelmente a mudanças locais do sistema de tensões que lhes deu origem. Estas fracturas de pequeno espaçamento são aproximadamente verticais e perpendiculares aos planos axiais das dobras do anticlinório. Dada a sua constância em orientação não aparecem nos este~ reogramas. INTERPRETAÇÃO Fracturas cisalhantes conjugadas fissuras) explica de modo s~tisfatQrió a existência dessas fracturas conjugadas com 'ângulo diedro 2 inferior a 45°. Como é sabido, par~:que haja fracturaçãohidráulica torna-se necessá'rÍo que a condição 0"5~P =T seja satisfeita (T é resistência à tracção da rocha); para haver cisalhamento a condição é que a tensão diferencial (0"1-0"5) exceda o valor de 4T (PRICE, 1977). Se o valor de 0"1-0"5 for menor do que 4T, a rotura será por tracção e não por cisalhamento (PRICE, 1966). Para o critério de rotura hibrido é assumida a envolvente de rotura de Griffith na zona tractiva exactamente nos pontos 'em que- os ângulos 26, entre as fracturas de cisalhamento conjugadas, são inferiores a 45° como é indicado na fig. 2. O. MOHR (1914) e A .. GRIFFITH (1924) observaram que desenhando a normál à tangente, no ponto em que o circulo das tensões toca a envolvente, aquela fazia ângulo 26 com o eixo da tensão normal (sendo 26 o ângulo previsto para os planos de cisalhamento conjugados, quando ocorre rotura frágil). . Pela construção do circulo de Mohr, o raio do circulo que é tangente à envoltória é dado por 1/2 (0"1-0"5) e o centro do circulo por 1/2 (O", +0"5)' Por meio de construção gráfica (Fig. 2) podem ser determinadas as tensões principais que levam o material à rotura e o ângulo que o plano derotuni faz com a tensão máxima principal. Na Fig. 2, o raio calculado é de 2,4 T e' o centro do circulo é 1,48 T. Então 0"1 será 3,88T e 0"5 será - 0,92 T e consequentemente O"CO"b =4,8 T. A precisão da construção gráfica pode ser verificada pela relação de Griffith: a As famílias de fracturas A e B além de serem consideradas de cisalhamento, como é justificado atrás, são também consideradas conjugadas. A bissectriz do ângulo agudo é coincidente com a tensão máxima para a maioria das falhas observadas. O ângulo que (0"1 - 0"5) estas duas famílias formam varia de 20° a 60°. cos 2 6 = 1/2,(-,--) 0"1 + 0"5 Para ângulos superiores a 45°, a teoria de rotura de rochas explica convenientemente a sua formação. Deve notar-se na Fig. 2 que para ângulos 2 6< O ângulo (6) que a tensão máxima compressiva 45° a tensão mini ma nos planos de cisalhamento (0"1) faz com o plano de rotura, é dado por: 6=45° será negativa, de tal modo que se alguma água estiver - (1)/2 em que (1) é o ângulo de atrito. interno da presente no maciço rochoso, a pressão será suficiente rocha. para manter separadas as paredes de plano de cisaPor analogia com experiências laboratoriais, lhamento. 0"1 e 0"5 no tempo de formação deste sistema de fracUsando construção gráfica, como a indicada turas conjugado, é paralelo às bissectrizes do ângulo agudo e 0"5 é paralelo à bissectriz do ângulo obtuso na Fig. 2, pode-se chegar à relação do ângulo e a tensão intermédia (0"2) é normal às linhas de in- de cisalhainento entre os 2 planos de rotura e a tensão diferencial (Fig. 3). Os valores da ,tensão tersecção das famílias A e B. Autores como E. HOEK & Z. BIENIAWSKI (1965) diferencial para os ângulos 26 compreendidos entre e E. HOEK (1968) demonstraram que mantendo um 0° e 45° são: sistema de tensões tridimensionais compressivas, é 5,4 T> (0"1 - 0-5) > 4T possivel obter a propagação de fracturas quase perpendiculares à máxima tensão principal sem que Para as fracturas de cisalhamento conjugadas entre em consideração a pressão de fluidos. no sis- quando 26=60°, a tensão diferencial será igual a tema. Entretanto é possível afirmar que esses casos 8 T (Fig. 4). . nem sempre são Os maisconiuns, porque as rochas De modo análogo se determinaram as relações possuidoras de microfissuras, poros ou fendas, conentre 26 e as tensões mini mas efectivas (0"5 ef), têm fluidos no seu int~rior e originam fracturas pacujos valores para 0°<26<45 varialJl da seguinte ralelas à máxima tensão- principal (LADEIRA, 1978 forma (Fig. 3): .' a e b). . .. Do ponto de vista prático, não é fácil ou mesmo - 1,0 T <0"5 ef <'- 0,85 T se torna impossivel realizar experiências laboratoriais em que a tensão minima (0"5) diminuida Fracturas de extensão da pressão dos fluidos (p) no interior da rocha seja tractiva. Há~ contudo; inúmeros elementos de' cámpo Afamflia C é constituida por fracturas de extenque permitem concluir este facto e que os conceitos são devidas a estruturas plumosas observáveis em propostos por O. MOHR (1914) e A. GRIFFITH (1924), ,alguns planos e por esses planos serem rugosos e são igualmente corr~ctos quando C!'5-P é tractiva. im::gulares (ROBERTS, 1961; PRICE, 1966); -, .... O critério, de r9tura hidrü:a' (rOtura por cisalhaAs famílias A e B" e. possivelmenteá «fracture mento associada-à fractl!raçãô hidráulica, provocada cleavage» foram formadas logo após o dobramento pela pessão interna dos fluidos existentes nas micro- ou concomitantemente com ele, embora a «fracture 0 \ 230 " 60 50 40 29 3 o 20 1O 0 45 , p=O.82T tensõo normal o l,48T .H Fig. 2 - Construção gráfica usada para determinar a relação entre 2<1>, al' as e p na rotura. 6 O 29 o 6T sT 1 oT tensão diferencial Fig. 4 - Relação entre 2 <1> e a tensão diferencial (PRICE, 1977). 5 O Sendo T a resistência à tracção dos xistos, tida como negativa; GI e G5 são as tensões máxima e minima respectivamente e «p» a pressão dos fluídos no interior dos xistos. Estas fracturas, visto que apenas afectaram os xistos, têm só significado estrutural. 3 O Fracturas de descompressão .' 20 10 o l ..~~~~--~~~~-=----~-+oT o,sT o,6T o.4T o,2T o tensão minimo efectivo Fig. 3 -: R e I a çã o entre 2 <1> e a tensão mínima efectiva (aa eC.). cleavage» possa ser muito posterior, mas com o mesmo sistema de tensões, isto é, coin a tensão ináxima(GI) paralela à estratificação das camadas e G5 aproximadamente paralela ao eixo B das dobras do anticlinório. Para a família C, o sistema de tensões mudou, isto quer dizer, que GI, passou a ser perpendicular à estratificação e G5 seria perpendicular à superfície dos planos de rotura, isto é, aproximadamente perpendicular ao plano axial das dobras. <<Fracture Cleavage» IDADE RELATIVA DAS FRACTURAS A orientação do sistema de tensões no tempo de formação da familia D era aparentemente diferente da do tempo de formação das familias A, B e C e «fracture clevage», por isso os sistemas de fracturas do antic1inório são divisíveis em três grupos de idades: 1) Este tipo de fracturas de espaçamento centimétrico, normais à estratificação e apenas existentes nas camadas dos xistos interestratificados nos calcários cristalinos, foram motivo de discussão noutr apublicação (LADEIRA, 1978 b). A sua formação está provavelmente relacionada com o metamorfismo, por conseguinte, com a libertação de moléculas de água no interior das camadas interestratificadas de xistos no seio dos mármores; para que pudesse ter ocorrido duas condições devem ter sido satisfeitas.: G5 Este é o tipo de fracturas que aparece em quase todos os maciços de rochas que sofreram erosão e consequentemente subida na crosta (PRICE, 1966). É o caso da família D. São fracturas subparalelas à superfície topográfica, cujo espaçamento aumenta para a profundidade. São o resultado do anulamento da tensão vertical (G5) e consequência da acção compressiva das duas tensões principais (Gl e (2) que actuam mais ou menos horizontalmente (PRICE, 1966). Alguns autores denominam-nas de fracturas de exfoliação (HILLS, 1963), mas este termo parece ser mais apropriado para as fracturas que aparecem em maciços de rochas plutónicas. -p = T e G l - G5<:4T 2) 3) «fracture c1evage» e famílias A e B, formadas quando a máxima tensão principal (Gd era aproximadamente paralela à estratificação; família C, quando se formou, GI era aproximadamente normal à estratificação; família D, conjunto de fracturas que se formaram muito posteriormente quando da subida das rochas calcárias cristalinas na crosta por erosão das rochas sobrejacentes. São formadas quando a tensão vertical se vai anulando e as outras duas componentes compressivas obrigam a flexão do material rochoso, por conseguinte, a dissipação de energia por fracturação paralela às duas componentes horizontais ou sub-horizontais. 231 CONCLUSÕES Das relaçõesapresentada1. entre fracturas e outras estruturas conclui-se que as fracturas estudadas são posteriores ao dobramento que afectou o maciço calcário de Estremoz. A familia C é algo posterior ao evento ,tectónico de fractura. As famílias A, B e C estão intimamente ligadas às tensões orogénicas que deram origem às dobras do anticlinório de Estremoz. As famílias A e B são perpendiculares à estratificação e a bissectriz do ângulo agudo que essas famílias formam no plano horizontal é paralela à orientação da tensão máxima que deu origem às dobras. A família C é exactamente coincidente com a bissectriz do ângulo obtuso que as famílias A e B formam no plano e por conseguinte esta família C é mais ou menos paralela ao plano axial das dobras que formam o anticlinório, portanto, coincidente com a direcção da tensão mínima que deu origem ao dobramento. A família D é ainda mais recente que todas as outras. AG RADECIMENTOS o autor deseja expressar profundo agradecimento ao Prof. NeviIle J. Price pelos ensinamentos e discussões durante o tempo que frequentou o Imperial College de Londres e ao Prof. Carlos Teixeira profunda gratidão pelo constante apoio moral durante todo o tempo de pós-graduação. Ao INIC deseja também expressar os seus agradecimentos pelo apoio financeiro. Ao S. F. M. nas pessoas dos Engs. Rabaçal Martins e M. Camarinhas por terem posto à sua disposição meio de transporte sem o que o trabalho de campo seria quase impossível. Ao Doutor Francisco Gonçalves por ter cedido um dos seus auxiliares técnicos (João José Jardim) que tanto ajudou na colheita de elementos. Agradecimentos vão também para Mayara F. Rosa pelos excelentes desenhos apresentados. BIBLIOGRAFIA CARVALHO, D. et ai. (1971) - Observação sobre a geologia do Sul de Portugal e consequências metalogenéticas, Est., Not. Trab., Porto, vol. XX, pp. 153-199. 232 - (1972) - The metallogenetic consequences of plate tectonics and the upper paleozoic evolution of Southern Portugal. Est., Not. Trab., Porto, vol. XX, p. 297-315. GONÇALVES, F. (1970) - Contribuição para o conhecimento geológico dos mármores de Estremoz (Alto Alentejo). XXIX Congresso Luso-Espanhol para ti Progresso das Ciências, Lisboa 1970, Colóquio 1, Geologia Económica, tomo n, pp. 5-7. Est., Not. Trab., Porto, vol. 20, pp. 201-207. - (1971) - Mármores de Estremoz (Alto Alentejo). Nota preliminar. 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