Fuga de lixiviados no Aterro da
Valorsul alarma Vila Franca de Xira
JORGE TALIXA
02/05/2014 - 10:13
Câmara reclama imediata suspensão da recepção de resíduos no aterro
do Mato da Cruz e adiamento da paragem para manutenção da central
incineradora.
(http://imagens6.publico.pt/imagens.aspx/837756?tp=UH&db=IMAGENS)
Valorsul reclama que detectou fuga na área do aterro no início de Abril JOÃO HENRIQUES
Uma fuga de lixiviados detectada em Abril, no Aterro
do Mato da Cruz, está a gerar preocupação entre os
eleitos da Câmara de Vila Franca de Xira, que
reclamam a imediata suspensão da actividade deste
aterro da Valorsul, situado na freguesia rural da
Calhandriz, próximo de Alverca.
A Valorsul explica que está a averiguar as causas
desta ocorrência, mas considera “prematuro” dizer
que houve um problema de ruptura das membranas
que fazem a separação entre os resíduos depositados
e o solo. A Valorsul não conseguiu detectar a origem
do problema e teve que recorrer a técnicos do LNEC
(Laboratório Nacional de Engenharia Civil), que
estiveram nos últimos dias no local.
Os lixiviados – líquido com grande carga poluente
proveniente da biodegradação dos resíduos
depositados – são, normalmente, recolhidos em
determinados pontos das células de deposição e
bombeados para uma estação de tratamento. A sua
fuga para o subsolo pode gerar problemas ambientais
graves, até porque o aterro do Mato da Cruz se situa
num morro rodeado por várias linhas de água e zonas
habitadas do Alto de Arcena, onde há furos de
captação de água. Na década passada registaram-se
vários problemas de alegada contaminação de águas,
mas nos últimos anos não tem havido notícia da
repetição destes casos.
O presidente da Câmara de Vila Franca de Xira
reconhece a “gravidade” da situação e lamenta que o
município, accionista da empresa, não tenha sido
informado logo que o problema se levantou. “Estamos
muito preocupados com esta situação, também
porque um accionista que tem no seu território um
aterro não foi informado logo desde início desta
questão e veio a saber por outra via”, critica Alberto
Mesquita (PS), frisando que a Câmara de Vila Franca
já reclamou a suspensão do funcionamento do aterro e
vai reafirmar essa exigência na reunião de 5 de Maio
do conselho de administração da Valorsul e na
assembleia-geral de accionistas marcada para 7 de
Maio.
A Valorsul tem uma versão diferente e informa que
detectou “uma fuga de lixiviados na área do aterro”
no início de Abril, que “imediatamente comunicou às
autoridades e à Câmara de Vila Franca de Xira,
conforme procedimento definido”. Em resposta ao
PÚBLICO, a empresa explica que desde então tem
procurado fazer o diagnóstico do problema de forma
“muito activa” e confirma que recorreu ao LNEC, para
tentar esclarecer a origem da fuga. Os técnicos do
LNEC “estão no terreno a averiguar as causas desta
ocorrência” e o gabinete de comunicação da Valorsul
diz que “é prematuro dizer que houve ruptura de
membranas ou qualquer outra situação, uma vez que
o diagnóstico não está concluído”. Também por isso, a
empresa considera que informações sobre “eventuais
consequências ambientais” são “ainda mais
prematuras”.
LNEC chamado de “emergência”?
Os eleitos da Câmara de Vila Franca é que não têm a
mesma opinião. Os vereadores da Coligação Novo
Rumo (PSD/PPM/MPT) afirmam que os serviços do
LNEC foram, na semana passada, “chamados de
emergência pela Valorsul” devido ao aparecimento de
“uma quantidade de lixiviados anormal, indiciando
uma ruptura das membranas de fundo do aterro”.
Vítor Silva quis saber se o executivo PS tem
conhecimento das medidas tomadas pela Valorsul
para “mitigar as consequências” deste acidente e que
medidas já foram tomadas para “monitorizar a
contaminação por lixiviados dos lençóis freáticos e dos
solos afectados”. Questiona mesmo se a situação não
justificará um aviso à população da zona envolvente
para que “evite o uso de poços e furos”.
Alberto Mesquita diz que, quando soube do problema,
enviou de imediato um ofício à Valorsul dizendo que o
aterro “deve ser encerrado, enquanto não estiver
esclarecida e resolvida a situação”. Mas o presidente
da Câmara de Vila Franca recebeu, na terça-feira, um
e-mail da Valorsul comunicando que a central
incineradora de São João da Talha vai estar, em
breve, parada durante mês e meio para trabalhos de
manutenção. O edil não aceita esta situação, que
levará a um aumento muito significativo dos resíduos
depositados em aterro e reclama o adiamento desta
paragem para manutenção.
“Isto é tudo muito curioso. Numa situação de
privatização, com a preocupação de mostrarem
resultados, a manutenção que devia ter sido feita em
2012 e 2013 não foi feita. E, agora, vai ser preciso
fazer uma grande reparação da central. O que quer
dizer que os aterros do Mato da Cruz e do Cadaval
vão ficar sobrecarregados. Para nós a central tem que
continuar a funcionar, não é possível ter a central
parada e um problema de fuga de lixiviados por
resolver no Aterro do Mato da Cruz”, sustenta
Alberto Mesquita, frisando que não se sabe a
dimensão do problema, mas que “não será,
certamente, simples, porque a Valorsul só por si não
conseguiu resolvê-lo e teve que pedir a ajuda do
LNEC”.
O Aterro do Mato da Cruz ocupa uma área de 42
hectares na fronteira entre as freguesias de Alverca e
da Calhandriz e neste espaço, desde o final da década
de 1990, já foram depositados mais de 6 milhões de
toneladas de resíduos.
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