Para onde vai o nosso lixo?
Serve para fazer novas embalagens de plástico, cartão ou vidro, se for colocado no ecoponto;
para produzir energia eléctrica, no caso do lixo indiferenciado, e para compostagem, no caso
do lixo orgânico dos grandes produtores, Desde que sai da nossa casa para o destino, nos
camiões das câmaras, o lixo - que o Governo prevê privatizar este ano -, ganha nova vida. O
SOL visitou as unidades da Valorsul e viu para onde vai o nosso desperdício.
Sai de nossas casas para o caixote - indiferenciado, amarelo, verde ou azul e é levado pelos
camiões da câmara para vários destinos, consoante o tipo. Os processos são diferentes
consoante se trate de lixo indiferenciado, onde se incluí os restos de comida do consumo
doméstico, ou de recicláveis como o vidro, embalagens de plástico ou papel.
O lixo indiferenciado da zona da grande Lisboa, também chamado de lixo comum, tem como
destino a Central de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos da Valorsul, na Estação de
Mercadorias da Bobadela (S. João da Talha).
O processo começa com a pesagem dos camiões, à entrada da central, e com a descarga dos
resíduos na fossa. Cerca de duas mil toneladas de lixo indiferenciado chegam à Bobadela
todos os dias, perfazendo um total de perto de 600 mil por ano. O destino será a queima a mais
de 900 graus Celsius, para produção de energia elétrica. Três grandes caldeiras funcionam em
simultâneo e separadamente, e produzem perto de 50MW, por hora, o suficiente para
abastecer uma cidade como a Amadora durante idêntico período.
Tudo é controlado na sala de comando do edifício, inclusive os gases que são emitidos para a
atmosfera, após tratamento adequado, e cujos limites de poluentes são monitorizados em
tempo real.
As embalagens são prensadas e separadas
O Ministério do Ambiente monitoriza à distância estes níveis - e caso ultrapassem os limites
permitidos por lei, a Valorsul está sujeita a uma coima. Mas até isso acontecer, vários passos
são dados para reduzir os gases, incluindo a injeção de leite de cal e carvão ativado, em
equipamentos adequados ao seu tratamento, explica Vítor Morais, técnico de sistemas de
exploração, um dos sete que controlam a operação. "Tudo passa por nós". E tudo funciona 24h
sobre 24h.
Através deste processo, desde que o lixo é deitado na fossa de 90 metros de comprimento, até
ao final, o lixo é reduzido a 20% - apenas as escórias ficam. No caso dos materiais ferrosos,
também são recuperados a 100%. Apenas o alumínio é uma excepção: consegue reduzir-se a
70%.
Duas grandes garras colocam os resíduos que estão na fossa, nas três tremonhas que
alimentam os três fornos, onde se dá a queima. "As linhas de queima são independentes, pelo
que, se uma das linhas tiver que parar, por questões técnicas ou de avaria, as outras
continuam a funcionar", diz João Paulino, que guia a visita do SOL pelas instalações da
Valorsul. Do total de resíduos rececionados na Central Incineradora, os que predominam são
os orgânicos (38%), papel (16%) e plástico (10%).
Uma hora e meia depois, o lixo está reduzido a cinzas. Das 600 mil toneladas que aqui chegam
anualmente de concelhos como Amadora, Odivelas, Vila Franca de Xira, Loures, num total de
19 municípioas, a maioria vem de Lisboa: 38%.
Após a queima, segue-se a extracção das escórias, que terão como destino a Instalação de
Tratamento e Valorização de Escórias, situada no perímetro do aterro sanitário de Mato da
Cruz, em Vila Franca de Xira.
Biogás: a “menina bonita”
Em Mato da Cruz, os 42 hectares de aterro assemelham-se a uma superfície lunar, de tão
escura a terra'. Mas, surpreendenternente, não há qualquer cheiro desagradável.
Equipado com dois motogeradores, o aterro faz o aproveitamento do biogás -resultante das
200 toneladas que aqui chegam por dia – e transforma-o em eletricidade, suficiente para
abastecimento próprio e para venda da energia à Rede Eléctrica Nacional.
"As escórias podem ser aplicadas na pavimentação de ruas e estradas, para além de cobrirem
os resíduos depositados no aterro", conta Arlindo Teixeira, que trabalha na área há 43 anos.
Mas, sem dúvida, "o biogás é a menina dos olhos bonitos da administração", garante com um
sorriso o homem que viu nascer o aterro há 15 anos, quando ainda servia apenas Vila Franca
de Xira. Com dois motores, este aterro, que chega a trabalhar a 94% da sua capacidade,
produz 834 kW/ hora, que dão à Valorsul um milhão de euros de faturação anual. Aqui as
escórias são separadas em metais ferrosos, não ferrosos e inertes.
No que diz respeito aos metais, cabe à Sociedade Ponto Verde (SPV) nomear a entidade,
através de concurso público, que virá buscá-los ao aterro.
Os poços de biogás funcionam em rede, para captar o biogás que irá ser utilizado como
combustível nos motogeradores para produzir energia elétrica. Os lixiviados são tratados na
ETAR do aterro, antes de entrarem no sistema de águas residuais de Alverca.
Tudo se aproveita
Mas o nosso lixo não é composto apenas por resíduos orgânicos. grande parte é vidro, plástico
e papel que correspondem aos três fluxos do Centro de Triagem do Lumiar, para onde vai o
produto da reciclagem feita nas casas da área metropolitana do Norte de Lisboa.
E a triagem, aqui, cinge-se apenas às embalagens. O papel, cartão e vidro saem do Lumiar
como chegam. No caso das embalagens, o processo está dividido em três partes: a prétriagem, a triagem e a sobre triagem. O processo combina processos manuais e mecânicos,
que separam os vários tipos de materiais que colocamos no ecoponto amarelo. Os plásticos
são separadores óticos, que separam pacotes de bebida e os plásticos, o íman que separa os
metais, e uma corrente de Foucault que separa o alumínio.
O lixo transforma-se em composto orgânico
Na prensa dos “plásticos” são processados os pacotes de bebidas, o filme (sacos de plástico),
o PET, o PEAD (material plástico).Até que as empresas contratualizadas pela SPV os venham
buscar, enfardados ao metro cúbico.
Os processos por que passa o nosso lixo não ficam por aqui. Uma parte sobretudo vinda de
grandes produtores como hotéis, mercados ou cantinas, por exemplo é encaminhada para a
Estação de Tratamento e Valorização Orgânica de São Brás, na Amadora.
Ali, são tratadas cerca de 40 mil toneladas de lixo ao ano uma gota no oceano da Valorsul.
Servirão para produzir energia eléctrica, como no caso do aterro, e também para
compostagem.
Tudo começa na zona de pré-tratamento, onde os resíduos são separados em duas linhas: os
secos e os húmidos - que têm melhor qualidade e provêm sobretudo dos mercados. No caso
dos secos, o tratamento é mais exaustivo.
No caso dos secos, os RO (resíduos orgânicos) passam nos equipamentos de triagem –
magnético e crivo rotativo, antes de serem encaminhados para o pulper, onde são misturados
com água, formando uma pasta orgânica.
No caso dos húmidos, basta aos moinhos triturá-los. As duas massas juntam-se então no
tanque de hidrólise, seguindo depois para os digestores, nos quais habitam as bactérias
responsáveis pelo ‘milagre’ da decomposição orgânica e da produção do biogás, num processo
de digestão anaeróbia ou seja, consumindo o carbono dos resíduos na ausência de oxigénio e
convertendo-os em produtos gasosos.
A água excedente, que não é reaproveitada para o processo é tratada numa ETAR própria, e o
material resultante da digestão anaeróbia (as lamas) é encaminhado para os túneis de
compostagem, onde fica cerca de duas semanas. Seguem para o Parque de Maturação, onde
permanecem, em pilha, cerca de dez semanas. O composto final é oferecido a câmaras e
escolas para jardinagem. "Todo o processo leva cerca de quatro meses", conclui João Paulino.
E durante todo este tempo, há pela central espalhados biofiltros, um fechado em contentor e
um aberto, constituídos respetivamente por aparas de madeira e fibras de coco, para reter os
maus odores. O produto da compostagem é geralmente oferecido a câmaras municipais e a
escolas, ou vendido a particulares.
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