POLÍTICA JP ■ 8 ■ Terça-feira, 7 de outubro de 2008 ELEIÇÃO A anatomia de uma grande vitória > JOSÉ RICARDO GASPAR DO NASCIMENTO O médico Sérgio Ghignatti assume no próximo dia 1º de janeiro como prefeito municipal de Cachoeira do Sul. Terá muitas promessas para cumprir, algumas correndo TRANSIÇÃO contra o relógio desde já, como a que garante o fim das filas do SUS, das filas dos postinhos de saúde e da fila das cirurgias eletivas. O principal passo inicial, entretanto, será entender por que venceu o pleito deste domingo. O médico venceu essencialmente por ser a verdadeira oposição no pleito. Tanto Pipa Germanos, prefeito entre 1997 e 2004, quanto Marlon Santos, prefeito de 2005 até o próximo dia 31 de dezembro, possuíam cartéis próprios de realizações para mostrar na TV e decantar nos bairros, mas ambos também carregavam o ônus da função. Ghignatti, é verdade, fora vice-prefeito entre 1989 e 1992, mas neste período exerceu a função de prefeito apenas 11 dias no verão de 1990 e por dois meses no verão de 1992. Esta característica de oposição casou muito bem com um diagnóstico feito pelo Jornal do Povo meses antes do pleito. Em editorial e reportagem na mesma edição, o JP afirmava que Pipa deu a infra-estrutura aos bairros, com asfaltamento e iluminação, e que Marlon trouxera as gigantes Granol e Grandiesel para multiplicar o orçamento municipal a partir de uma grande arrecadação. Todavia, o próximo prefeito teria GHIGNATTI de cuidar da felicidade das pessoas, com melhor atendimento principalmente na área da saúde. Em alguns dos encontros de Ghignatti com a redação, ele afirmou que levaria este diagnóstico a sério. Com efeito, nos discursos posteriores era claro que o PMDB também chegara à mesma conclusão: o atendimento dos serviços públicos teria de ser melhorado, resolvido e ampliado. GG não perdeu tempo: prometeu acabar com as filas da Saúde, ampliar os PSFs, abrir um plantão e uma subprefeitura na zona norte, equipar as subprefeituras para resolver a malha viária do interior e evitar feiras itinerantes - o maior fantasma dos pequenos empresários da cidade. SAÚDE - Acertou em cheio o médico ao escolher a saúde como mote principal. Não apenas por ser médico, mas por concordar com todos os que diziam ser este o calcanhar-de-Aquiles do governo Marlon Santos. Para ajudar, a Câmara Municipal implantou uma CPI contra o SUS gerenciado por Marlon, encontrando irregularidades e até encorajando a oposição a tentar seu impeachment. Na medida em que Marlon se complicava com a Saúde, Ghignatti mantinha o foco de seus programas do horário eleitoral gratuito de TV no atendimento. Até entrevista nas filas das USs Ghignatti fez. Bateu com o nariz nas portas fechadas das USs que trabalhavam em turno único e prometeu a volta dos dois turnos na Prefeitura. Prometeu mais exames e abrir tantos PSFs quanto fosse possível. Queria cuidar da felicidade das pessoas. Ganhou o voto e a eleição dos que entram nas filas do SUS e agora terá quatro anos para cumprir a promessa antes de enfrentar a dolorosa aventura da tentativa de reeleição, em 2012. FOTOS VINÍCIUS SEVERO Por que Sérgio Ghignatti venceu a disputa eleitoral contra Marlon Santos e Pipa Germanos Festa do prefeito eleito Sérgio Ghignatti na noite de domingo, na curva da Júlio PARA SABER MAIS A chegada de Ghignatti A vitória de Ghignatti foi bem costurada pelo fator SUS, mas outros detalhes garantiram a chegada com vantagem nos últimos dias. >> PT Talvez a melhor decisão de Ghignatti no pré-eleitoral tenha sido optar pelo PT ao invés do PSDB. Com uma coligação mais barata (sem garantia de cargos), Ghignatti teve tranquilidade para levar adiante a promessa de redução de secretarias. Melhor ainda: qualificou e muito o seu discurso de pleitos passados. A entrada dos petistas trouxe mais ciência para o discurso de Ghignatti, muito dispersivo em 2004. Perdeu o folclore, mas ganhou emoção na dose certa. O PT ajudou a levar GG para o Governo. Neiron Viegas: vereador eleito mais votado foi decisivo na união de PT e PMDB >> GODOI A entrada de Luís Fernando Godoi na campanha somou muito para Ghignatti, não pelo possível potencial eleitoral do vereador, mas pelo know-how de campanha. Sabendo onde atacar nos bairros, seguiu as pegadas dos adversários, invertendo a marcação homem a homem imposta por Marlon e Pipa sobre Ghignatti. Ao invés do “passa GG-passa Marlon (ou Pipa)”, o “passa GG-passa Marlon (ou Pipa)-passa Godoi". >> LOMBO LISO O famoso Dossiê Ghignatti, que dizia que o doutor nunca participava de nenhuma mobilização comunitária, inclusive dizendo onde ele se encontrava a cada movimento perdido, nunca foi usado por Pipa Germanos ou Marlon Santos. O episódio, apelidado de Lombo Liso - por causa da falta de argumentos para agredir GG - foi definitivo para que o PMDB fosse o escolhido para a migração de votos que veio de Pipa Germanos. MUL TIMÍDIA MULTIMÍDIA Festa da vitória fechou a Rua Júlio de Castilhos no domingo, misturando PMDB, PT e PCdoB Acesse o site do JP e veja um vídeo e mais fotos da festa da vitória de Ghignatti. >> GUERRA PIPA X MARLON Um dos grandes motivos da vitória de GG foi o seu não envolvimento com o jogo de ataques entre Pipa Germanos e Marlon Santos nos bastidores e em alguns programas de TV. Longe da guerra, GG angariou os votos dos eleitores enojados com a baixaria. Todavia, Ghignatti não foi Godoi (e) no domingo: inventor do “tostão contra o milhão” e know-how assim tão santo. Através do jogo jurídico, o PMDB tumultuou o que pôde a campanha, com representações a todo momento contra jornais, pesquisas e candidatos. >> TOSTÃO CONTRA O MILHÃO Embora sem ter como comprovar, Ghignatti conseguiu fazer com que todos acreditassem que sua campanha era a do "tostão contra o milhão". Vendendo esta imagem de humildade, o PMDB conseguiu a simpatia do eleitorado que não admite comércio de votos. Havia uma outra piada que funcionava bem como exemplo desta realidade: dizia-se que Pipa possuía 700 carros plotados e Marlon outros 1.000 carros. Os carros que sobravam sem plotter de Pipa ou Marlon era porque estava com Ghignatti. Em meio às gargalhadas, a campanha corria.