COLÓQUIO INTERNACIONAL “A MULHER EM DEBATE: PASSADO E PRESENTE” INTERNATIONAL COLLOQUIUM: “DEBATING WOMEN: PAST AND PRESENT” LIVRO DE RESUMOS BOOK OF ABSTRACTS 1 COMISSÃO DE HONRA Representante da República para a Região Autónoma da Madeira, Dr. Irineu Cabral Barreto Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, Dr. José Miguel Jardim d´Olival de Mendonça Presidente do Governo Regional da Madeira, Dr. João Alberto Cardoso Gonçalves Jardim Bispo do Funchal, D. António Carrilho Presidente do Conselho Geral da Universidade da Madeira, Dr. Francisco Manuel de Oliveira Costa Reitor da Universidade da Madeira, Prof. Dr. José Manuel Nunes Castanheira da Costa Secretário Regional da Educação e Cultura, Dr. Francisco José Vieira Fernandes Presidente da Câmara Municipal do Funchal, Dr. Miguel Filipe Machado de Albuquerque Presidente do Centro de Competências de Artes e Humanidades da Universidade da Madeira, Prof. Dr. José Sílvio de Moreira Fernandes COMISSÃO CIENTÍFICA Anne Martina Emonts Arnaldo Espírito Santo Carlinda Pate Nuñez Cristina Pimentel Cristina Pinheiro Glória Franco Isabel Capeloa Gil José Ribeiro Ferreira Maria João Beja Maria Zina Gonçalves de Abreu Sílvia Portugal Correia Steve Fleetwood COMISSÃO ORGANIZADORA Anne Martina Emonts Cristina Pinheiro Glória Franco Inês Tadeu Gonçalves Maria João Beja COORDENADORA Maria Zina Gonçalves de Abreu 2 ADRIANO JOAQUIM DO VALE SALGUEIRO ANDREIA CRISTINA PEIXOTO SIMÕES DUARTE Universidade do Minho Universidade do Porto Portugal [email protected] [email protected] Uma Análise Crítica da Lei da Paridade e da sua Implementação em Portugal Nas últimas décadas, a sociedade portuguesa transformou-se profundamente nas relações sociais de género. A democracia rompera institucional, política e culturalmente com o legado patriarcal do Estado Novo, tendo-se juridicamente reconhecido a igualdade de género e instituído o sufrágio universal. Não obstante, têm persistido problemas estruturais e culturais, continuando a discrepância entre igualdade de direito e igualdade efectiva a manifestar-se na desigualdade de oportunidades e recompensas. A Lei da Paridade, aprovada em 2006, constitui um mecanismo de discriminação positiva destinado a combater a desigualdade no acesso a funções públicas de poder que tem resultado numa sub-representação política feminina. O ano de 2009 foi marcado por três actos eleitorais de grande relevância com a realização das eleições europeias, legislativas e autárquicas, o que constituiu o primeiro teste à legislação criada. Desta feita, pretende-se esboçar uma análise crítica da Lei da Paridade e da sua implementação. Importando verificar a sua eficácia e avaliar o seu alcance, note-se que os seus efeitos foram positivos, tendo a representação feminina aumentado, significativamente, nos vários níveis eleitorais. Avaliando também o alcance dos sistemas de quotas de género pode considerar-se que se por um lado geram efeitos imediatos no aumento da representação feminina, por outro não são garantia de sucesso na realização da igualdade de género. Distinguindo democracia formal de democracia material, pode também considerar-se que paridade não implica igualdade. Neste sentido, a igualdade de género não se esgota nas políticas paritárias. A sua eficácia depende de condições propícias relacionadas com os sistemas eleitorais (preferencialmente de representação proporcional em círculos plurinominais), o modelo de Estado-Providência e as respectivas políticas sociais facilitadoras de conciliação trabalho/família. Simultaneamente, o alcance das medidas estruturais depende de uma viragem cultural mais alargada, que gradualmente capacite as mulheres para uma verdadeira prática cívica, associativa e partidária. Palavras-chave: Igualdade de Género, Política, Lei da Paridade, Democracia 3 AIDA RECHENA Museu Francisco Tavares Proença Júnior Castelo Branco Portugal [email protected] Contributo para a Visibilidade das Mulheres em Exposições Museológicas O ponto de partida desta comunicação é a constatação da exclusão ou secundarização das mulheres na abordagem museológica e no trabalho desenvolvido pelos museus, entendidos estes como espaços de representação e comunicação, lugares de memória e de relação das pessoas com o património. Quando a mulher é representada num museu, que nas colecções quer nas exposições, surge com frequência duma forma residual, esteriotipada, despersonalizada e através do olhar dos homens. Torna-se necessário que a museologia pense as relações de género e explicite as consequências negativas para as mulheres da histórica dominância masculina, visível na constituição dos acervos museológicos, que perpetua a invisibilidade das mulheres na construção da sociedade. Assumimos ser possível utilizar os bens patrimoniais preservados em contexto dos museus para entendermos as relações de género e as relações de poder entre mulheres e homens, utilizando os acervos museológicos existentes. Defendemos que as exposições museológicas podem ser utilizadas como uma ferramenta para a obtenção da igualdade entre homens e mulheres. Concretizando esta possibilidade: as imagens das mulheres transmitidas pelos bens patrimoniais e expostas em museus podem ser utilizadas pelos/as profissionais da museologia para contribuir para a eliminação dos estereótipos desfavoráveis que colocam as mulheres em situação de desvalorização relativamente aos homens. Fazemos uma abordagem aos estereótipos femininos mais frequentemente difundidos nas exposições museológicas decorrentes da utilização dos bens patrimoniais destituídos de uma visão integrada de género. 4 ALCINA SOUSA Centro de Competências de Artes e Humanidades Universidade da Madeira Portugal [email protected] Stereotyping and Ideology in Portuguese and English Media Business Discourse 5 ALESSANDRA MARTINS DE FARIA Universidade do Minho Portugal [email protected] Chefia Feminina em Familias Monoparentais Empobrecidas: Sinónimo de Vulnerabilidade ou de Protagonismo da Mulher? Nossa reflexão tem por objetivo discutir, no âmbito das (re)configurações de gênero no espaço público e privado, as conquistas femininas e as permanências de desigualdades de gênero em âmbito familiar e comunitário vivenciadas por mulheres chefes de famílias monoparentais residentes em comunidades empobrecidas da cidade de Ribeirão Preto, no Brasil. No estudo realizado através de entrevistas de história de vida, observou-se, entre outros aspectos, que, se por um lado as mulheres em questão têm expressivos ganhos sobretudo do ponto de vista da conquista de autonomia pessoal ao tornarem-se chefes de famílias monoparentais, por outro lado a persistência de tradicionais valores de gênero, sobretudo acerca da parentalidade, ainda deixam suas famílias, como a si mesmas, em situação de vulnerabilidade social. Apresentaremos os resultados dessa discussão como celebração das conquistas de muitas dessas mulheres que vencem no dia-a-dia os desafios impostos pelo cruzamento do gênero com a raça, a classe social, o trabalho e como denúncia de aspectos da sua realidade que merecem um olhar mais ampliado de modo a permitir que protagonizem plenamente na própria vida e na vida da sociedade. Palavras-chave: Gênero, Monoparentalidade Feminina 6 ALEXANDRA ISABEL BUGIO BONITO BATISTA CHEIRA Faculdade de Letras de Lisboa ULICES (University of Lisbon Centre for English Studies) Portugal [email protected] From the Angel in the House to the Babe in Total Control of Herself: a Critique of the Cultural Constructions of Female Power(lessness) But let the Power take a female form/ And „tis the Power is punished/ (...) The feline Sphinx roamed free as air and smiled/ In the dry desert as those foolish men/ Who saw not that her crafted Riddler‟s clue/ Was merely Man, bare Man, no mystery. / But when they found it out they spilt her blood/ For her presumption and her Monstrous shape./ Man named Himself and thus assumed the Power/ Over his questioner, till then his Fate - / After, his Slave and victim. A.S.Byatt, Possession I'm a bitch, I'm a lover/ I'm a child, I'm a mother/ I'm a sinner, I'm a saint / I do not feel ashamed / I'm your health, I'm your dream/ I'm nothing in between/ You know you wouldn't want it any other way/ (...) I'm a bitch, I'm a tease/ I'm a goddess on my knees/ when you hurt, when you suffer/ I'm your angel undercover / I've been numbed, I'm revived/ can't say I'm not alive/ You know I wouldn't want it any other way Meredith Brooks, “Bitch” (1997) In this paper I discuss the cultural constructions of female power(lessness) by analysing the way femininity has traditionally been construed through binary oppositions of either/ or. A first polar opposition - angel in the house vs fallen woman - will be read taking into account the 19th century (male) categorisation of women into fixedly rigid standards of expected behaviour and social roles which valued what was construed as the positive side (the angel). A second - Snow White vs Wicked Queen - will be read from Gilbert and Gubar‟s famous 1979 revision and subversion of the former concepts (The Madwoman in the Attic: The Woman Writer and the Nineteenth-Century Literary Imagination): by borrowing a wonder tale trope, they question expected social roles and value what before had been perceived as the negative side by investing Wicked Queens with positive attributes. A last opposition - doormat vs bitch – will be read taking into account Sherry Argov‟s 2004 formulation (Why Men Love Bitches: From Doormate to Dreamgirl), which sharpens Gilbert and Gubar‟s division by telling women what to do if they do not want to be a doormat (a woman who submits to men and tries to please them at the expense of herself) and want to be a bitch instead (short for Babe In Total Control of Herself, as stated in a reader‟s review). I argue these constructions of femininity are normative, as women are told throughout (by both men and other women) they must fit into one of the poles, they must conform 7 to a stereotype which will either confer them power or render them powerless. I defend an integrated vision of femininity that escapes the (patriarchal) need for polarity: women are both good and bad because they are human beings. More than that, they are human beings in the making: identity is not a fixed given, but a fluid work in progress. Empowerment, rather than the opposition power/ powerlessness, comes from this realisation as power ceases to be something that can be given to or taken back from women according to whether they are good or bad (whatever the positive side is). 8 ALINE BAZENGA LUÍSA MARINHO ANTUNES Universidade da Madeira Portugal [email protected] [email protected] Onomástica Feminina: Dimensões Histórica e Cultural de Maria Considerando que o nome adquire pelo uso uma conotação ou significado próprio, articulando identidade pessoal e social, este estudo assenta em dois aspectos: (i) a observação desta forma antroponímica no contexto português e, de modo mais específico, na ilha da Madeira; (ii) a análise da evolução dos usos de Maria, em articulação com factores histórico-culturais que se prendem com as representações da mulher na sociedade insular/portuguesa. Palavras-chave: Onomástica Feminina Portuguesa; Maria; Padrões de Nomeação; Representação da Mulher, Sociedade e Cultura 9 ALICE MENDONÇA Universidade da Madeira [email protected] Rapazes e raparigas: ensino igual ou diferenciado? (Comentário crítico às recomendações governamentais britânicas) 1. A Escola e o Género A igualização das oportunidades escolares em ambos os sexos, possibilitou a escolarização feminina e o progressivo ingresso das raparigas em itinerários escolares outrora quase exclusivamente masculinos. Deste modo, nos últimos anos, a participação das raparigas tornou-se particularmente visível no crescimento escolar em vários países. Assim, este contingente feminino tornou-se sensivelmente maioritário e apresentando uma dupla vantagem: mais numeroso e melhor sucedido nas suas realizações escolares. O facto de os rapazes estarem a ser ultrapassados nas suas prestações escolares, tem despertado o interesse de estudiosos e de governantes. Recentemente no Reino Unido foram implementadas medidas de reforço escolar destinadas aos rapazes de modo a equipará-los às raparigas nos resultados académicos. Aplaudidas por uns e contestadas por outros, o seu impacto positivo não deixa de se notório. Neste trabalho equacionamos esta problemática e explanamos a nossa opinião crítica relativamente a esta opção política. Palavras chave: escola, género, resultados académicos, escolarização feminina 10 ANA FILIPA ISIDORO DA SILVA Centro de Estudos Clássicos Faculdade de Letras Universidade de Lisboa Portugal [email protected] Tranquillitas animi: a Formação da Mulher nas Consolationes de Séneca Na perspectiva da mundividência e particularmente de doutrina estóica, o luto é próprio das mulheres, é um meio pelo qual elas manifestam o seu dolor pela perda de alguém querido: contudo, não devem exceder nem no tempo nem em desmesura a manifestação desse luto. De facto, quando é tomado como uma chaga que não mais desejam abandonar, o luto pode conduzi-las inevitavelmente aos affectus. Se vive uma mulher permanentemente numa profunda tristeza, acarreta consigo uma atmosfera perturbante que a contagia, num desejo mórbido de permanecer na sua agonia. Nesse sentido, ela pode precipitar-se num remoinho de emoções passionais, acabando por arrastar consigo os que lhe estão próximos. Márcia permanece há já três anos em luto pela morte prematura de um filho. Séneca dedica-lhe uma consolatio onde lhe recorda a força de espírito que ela teve para suportar a morte do pai, Cremúcio Cordo, abonando o seu discurso com exempla de mulheres ilustres que, tal como Márcia ou em situações ainda mais dolorosas, recuperaram dos seus desgostos. Séneca faz uma meditatio mortis, mostrando-lhe que a morte faz parte da vida, ninguém pode combatê-la porque comunga da ordem do cosmos. No caso de Hélvia, mãe de Séneca, ela sofre com a ausência do filho, exilado na Córsega. Séneca procura consolá-la, ao mesmo tempo, consolar-se, com a revelação de que o exílio não representa um mal, mas uma mudança de lugar que é, afinal, uma lei cósmica a que os indivíduos têm de se submeter. Nesse sentido, exorta Hélvia a dedicar-se à leitura de obras de teor filosófico e aos outros filhos e netos que estão junto dela. Tendo por base estes dois textos, pretendemos demonstrar, à luz da doutrina estóica, de que forma Séneca procurou formar estas mulheres para dominar os seus affectus de modo a atingir o ideal da tranquillitas animi. 11 ANA ISABEL MONIZ ANA MARGARIDA FALCÃO Centro de Competências de Artes e Humanidades Universidade da Madeira Portugal [email protected] [email protected] Maria Lamas: alguns dos seus escritos Inéditos Resumo/Tópicos principais : a) História da amizade de Maria Lamas com três famílias madeirenses e sua relação com estadias na Madeira, Lisboa e Paris; b) Elenco e descrição de alguns documentos deixados por Maria Lamas a uma dessas famílias; c) Investigação do contexto sociopolítico e cultural no qual Maria Lamas escreveu esses documentos. Palavras-chave: Maria Lamas, inéditos 12 ANA MARGARIDA DOS REIS JORGE MANUEL CARLOS SILVA Centro de Investigação em Ciências Sociais (CICS) Universidade do Minho Portugal [email protected] [email protected] Divórcio e Responsabilidades Parentais: Padrões de Género na Mobilização Parental e Decisões Judiciais Portugal vem conhecendo nas últimas décadas, nomeadamente após a Revolução de Abril de 1974, importantes avanços em matéria de igualdade de género, materializadas entre outros domínios, ao nível legal. Porém, diversos estudos têm vindo a demonstrar a permanência de importantes assimetrias, às quais não é alheio o contexto judicial (Beleza 1991, Sottomayor, 2002, Silva 2005, Machado 2005). Efectivamente, tem-se evidenciado que os estereótipos assentes no binómio masculino-feminino tendem a ser reforçados ao nível da lei e, particularmente, da administração da justiça. Não obstante as recentes mudanças na legislação, jurisprudência e doutrina na área da família, estatísticas oficiais demonstram que na maior parte dos casos de divórcio, as responsabilidades parentais, mormente a residência das crianças, são confiadas às mães. Se em alguns casos as decisões judiciais são ilustrativas do desfasamento entre uma lei aparentemente neutra e um desigual tratamento na prática, na maior parte das situações tal remete para uma mera reprodução dos padrões patriarcais ao nível da família e, em particular, no cuidado das crianças durante o casamento. Tal assume ainda maior relevância se atendermos ao facto de que, na maioria dos casos, o exercício das responsabilidades parentais é definido por mútuo acordo. A comunicação que aqui se apresenta remete para a análise de estatísticas oficiais, de processos de regulação das responsabilidades parentais na sequência de situações de divórcio bem como de entrevistas conduzidas com magistrados judiciais. Pretende-se aqui discutir as motivações e o grau/ formas de mobilização de homens-pais e mulheres mães no sentido da consecução da residência e definição dos contactos com as crianças após a separação. Por outro lado, intenta-se analisar as experiências, representações e percepções dos magistrados atendendo à dimensão do género e a forma como aquelas se podem traduzir nas decisões tomadas a este nível. Assume-se que uma aparente situação de “vantagem legal” para as mulheres não tende a traduzir-se nem em vantagens de índole económica nem num efectivo empoderamento nas vivências quotidianas. Palavras-chave: Género, Justiça, Responsabilidades parentais. 13 ANA RAQUEL MATOS SUSANA COSTA Centro de Estudos Sociais Portugal [email protected] [email protected] “Para nascer não é preciso ciência nenhuma!”: Análise da Relação entre Conhecimento Perito e Leigo e da Participação Feminina na Formulação de Políticas de Saúde Materna O avanço das sociedades, sob a égide do progresso ou desenvolvimento comporta vantagens tecnológicas indiscutíveis. O próprio avanço da ciência é portador de melhorias significativas em muitos aspectos da vida quotidiana das sociedades modernas, entre elas, o nascimento do ser humano que tem, ao longo das últimas décadas, beneficiado do auxílio da ciência e da tecnologia (C&T). Neste tipo de análise tem emergido o conceito de “medicalização do parto”, sobretudo no âmbito da discussão das políticas de saúde materna, conceito que se pretende aqui discutir a partir de alguns eixos centrais: a) análise histórica e implicações na prática médica da actualidade; b) controvérsias suscitadas; c) relação entre diferentes saberes (perito e leigo) na definição de políticas públicas de saúde materna; d) participação. Pretende-se discutir duas questões centrais: a humanização do parto e a respectiva participação da mulher nos processos públicos de decisão sobre políticas de saúde materna. Importa, assim, perceber a quem compete decidir sobre o uso da C&T no acto de dar à luz e que consequências essa “intromissão” num acto quase tão velho quanto o mundo pode ocasionar. Por outro lado, numa época em que leigos e peritos discutem onde e como deve a mulher dar à luz -se de forma medicalizada ou desmedicalizada -importa perceber se o Governo actua a par da exclusiva influência do conhecimento perito e qual o papel das mulheres neste debate tão do seu interesse. Por fim, perceber de que forma é que associações, profissionais de saúde e cidadãos interessados e mobilizados em torno do processo medicalização/desmedicalização do parto intervêm no processo de decisão. Com esta análise, as autoras esperam esclarecer sobre a actualidade e relevância deste debate, sobre quem tem legitimidade para decidir sobre estas matérias, podendo com isto contribuir para o reposicionamento da mulher neste processo. Palavras-chave: medicalização, desmedicalização, parto humanizado, políticas de saúde materna, participação feminina. 14 ANA PEREIRA ANTUNES PAULO Q. INGLÊS Centro de Competências de Artes e Humanidades Universidade da Madeira Centro de Estudos Africanos - Iscte/IUL Portugal [email protected] [email protected] Resiliência feminina em contextos de conflitos armados e recomposição pósconflito: Um estudo de caso de mulheres angolanas Os conflitos armados são mais conhecidos por produzirem vítimas, em geral mulheres e crianças, e muito raramente são apresentados numa perspectiva de casos de resistência, adaptação e de “continuar a vida...”. As pessoas submetidas a longos períodos de conflitos armados (40 anos, no caso de Angola) podem criar mecanismos de resistência e de incorporação da violência no seu dia-a-dia e, apesar do conflito, viver uma vida que pode ser considerada "normal", porque pautada por comportamentos, no quotidiano, como o trabalhar, o enviar os filhos à escola, o cuidar da casa e a realização de actividades lúdicas. O objectivo do presente estudo é, por um lado, questionar e reflectir sobre o papel de “eternas vítimas”, por via do conhecimento e aprofundamento das formas de resiliência adoptadas, através da análise de entrevistas realizadas a um grupo de mulheres numa aldeia na província de Huambo, em Angola. Por outro lado, partindo do discurso destas mulheres, pretendemos lançar pistas sobre o modo como se está a processar a recomposição pós-conflito, ou seja, como são reorganizados mecanismos internos e externos, procurando a adaptação a uma nova realidade. 15 ANA PEREIRA ANTUNES LEANDRO SILVA ALMEIDA Centro de Competências de Artes e Humanidades Universidade da Madeira Universidade do Minho Portugal [email protected] Jovens Sobredotadas, Mulheres Realizadas? Um Desafio na Educação Para a Carreira Os alunos sobredotados e talentosos constituem um grupo que tem suscitado atenção crescente por parte da comunidade científica e educativa a nível mundial. Genericamente, o grupo de alunos com altas habilidades é formado por uma grande heterogeneidade de estudantes, dificultando a sistematização da sua caracterização pelo que nem sempre existe o seu reconhecimento nem as suas necessidades são atendidas na escola regular. Neste trabalho, de revisão teórica, pretendemos reflectir sobre a problemática de um grupo específico de alunos sobredotados , considerado de risco, ou seja, o grupo das jovens sobredotadas, e contribuir para a consciencialização da sua existência e das suas necessidades educativas específicas, analisando como algumas das suas características e circunstâncias (por exemplo, os estereótipos sociais associando o desempenho de papéis ao género, a falta de interesse pela matemática e pela tecnologia, ou o dilema em como conciliar a vida social e familiar com o alto rendimento e a carreira profissional) podem condicionar as opções escolares e profissionais, impedindo a realização do seu potencial. Discutimos, ainda, algumas propostas de intervenção que poderão apoiar e facilitar o processo de tomada de decisões mais idiossincráticas e integradoras, necessárias ao planeamento e desenvolvimento progressivo das suas carreiras, promovendo a sua realização integral. 16 ANA RAQUEL MATOS Centro de Estudos Sociais Universidade de Coimbra Portugal [email protected] “Afinal, em questões de mulheres, o tamanho importa!”: Avaliação da Participação do Cidadão no Processo de Reestruturação das Salas de Parto em Portugal À luz dos modelos de boas práticas sobre participação cidadã e democratização em contextos de decisão defendidos, por exemplo, pela União Europeia, este trabalho propõe discutir o tipo de participação que prevalece ao nível dos processos de decisão sobre políticas públicas de saúde em Portugal, através da descrição e análise da implementação da medida de requalificação das salas de parto e que levou ao encerramento de várias dessas unidades públicas de saúde. A medida geradora de controvérsia foi decidida e executada entre Março de 2006 e Dezembro de 2007 e, apesar da segurança e qualidade de que se revestiu o seu princípio orientador, o contexto de implementação, não informado e não participado, desencadeou fortes movimentos de contestação, entendidos, aqui, enquanto estratégia para participar nas decisões. Sendo o acto de fazer nascer (também conhecido como partejar ou dar à luz) uma questão exclusiva do sexo feminino, procura-se avaliar a medida, baseada numa política fundamentada em critérios quantitativos (nº de partos assistidos), com capacidade para alterar as condições em que se nasce em Portugal. Para aferir sobre a participação da mulher portuguesa num processo de decisão que evoca questões tão íntimas como a reorganização dos cuidados a prestar à mulher e à criança na altura do parto, este trabalho envereda pela análise e avaliação, essencialmente de base empírica, da forma como a medida foi planeada, conduzida e implementada. Para além da análise de entrevistas em profundidade realizadas no âmbito desta investigação, são analisadas todas as notícias sobre a controvérsia do encerramento de blocos de partos, entre 2004 e 2010, veiculadas na versão online dos jornais diários “Jornal de Notícias”, “Diário de Notícias” e “Público” tentando, a partir desse acervo, elencar os actores centrais que participaram no processo de decisão e o papel assumido pela mulher portuguesa neste contexto de reestruturação política. Palavras-chave: mulheres e participação; políticas de saúde materno-infantil; acções de protesto; encerramento de blocos de parto. 17 ANA SOFIA ANTUNES DAS NEVES Instituto Superior da Maia Portugal [email protected] Mulheres Brasileiras Imigrantes em Portugal: Processos de Subjectificação e Discriminação Interseccional A partir dos resultados de uma investigação qualitativa (ainda em curso) discute-se nesta apresentação os processos através dos quais as subjectividades de um grupo de mulheres brasileiras imigrantes em Portugal são construídas e reconstruídas. Assume-se neste trabalho que os processos de construção e de reconstrução das subjectividades são condicionadas pelas múltiplas pertenças sociais das mulheres imigrantes, especialmente em termos de género, etnicidade, nacionalidade, classe social, sexualidade e idade. Nesta óptica, os processos de subjectificação são entendidos como o resultado de um vasto e amplo conjunto de interpelações sociais e culturais (McDowell, 2008). Procurando analisar o modo como essas interpelações operam, a teoria da interseccionalidade (Crenshaw, 1991) permite uma análise compreensiva acerca do desenvolvimento desses processos de subjectificação (Knudsen, 2006). Recorrendo à análise de entrevistas, pretende-se compreender como os processos de subjectificação das mulheres imigrantes são constrangidos por eventuais experiências de discriminação interseccional. Palavras-chave: Subjectificação, imigração, interseccionalidade 18 ANA SOFIA ANTUNES DAS NEVES TÂNIA SANTOS Instiuto Superior da Maia Portugal [email protected] Rompendo o Mito: Relações de Poder e de Violência entre Mães e Filhas de Nacionalidade Brasileira Esta apresentação visa problematizar, a partir de uma perspectiva interseccional (Crenshaw, 1991), os resultados de uma investigação qualitativa cujo objectivo central foi o de caracterizar as relações de poder e de violência que se estabelecem entre um grupo de mães e filhas de nacionalidade brasileira. A partir dos discursos das participantes, auscultados através da realização de entrevistas semi-estruturadas, procurou-se igualmente analisar a relação entre a transgeracionalidade da violência e as assimetrias de poder entre mães e filhas. Para a análise das entrevistas utilizou-se o método de análise de conteúdo. Tendo sido realizada no Brasil esta investigação reflecte os padrões culturalmente específicos da realidade brasileira onde os dados foram recolhidos. Os resultados alcançados sugerem a existência de padrões de violência que se repetem de geração em geração, de mães para filhas, os quais parecem ser estabelecidos como garante da manutenção da ordem familiar e da conservação de práticas de género tradicionais. As conclusões apontam para o facto da transgeracionalidade da violência estar relacionada com a diferenciação de poder entre mães e filhas, sendo esta usada para legitimar o recurso à violência física. A violência física assume-se pois como uma estratégia de educação, espelhando relações marcadas por um acentuado desequilíbrio de poder. Palavras-chave: Género, violência, relações de poder 19 ANGEL NARRO SÁNCHEZ Universitat de València Espanha [email protected] A Woman Revolution in Early Christianity? The Acts of Paul and Thecla and the Acts of Xantippe, Polyxena and Rebecca are two apocryphal acts dealing with women and virginity. The foundational text of this tradition is that in which Thecla, a virgin of Iconium betrothed to a man named Thamyris, by listening to the discourse of virginity and prayer pronounced by the apostle Paul, decides to leave her family and her fiancé to follow Paul in his evangelistic pilgrimage around the Eastern Mediterranean area, remaining virgin until the end of her own life. The text of the Acts of Xantippe, Polyxena and Rebecca is a Gnostic text, probably dating from the third century, in which some elements are common to the Acts of Paul and Thecla (Presence of some apostles, women fighting to preserve their virginity). Both texts contains many elements of the Greek romance and, on the other hand, some scholars have interpreted these texts as an evidence of a woman revolution in the first centuries of Christianity which deal with chastity as autonomy for Christian women. We disagree, however, with this theory. In our opinion, the born and the success of this kind of texts can be explained in a different way. This paper aims to show the way these texts do not represent an evidence of a Woman Revolution, but only the need to attract women to the Christian faith and, accordingly, the existence of a Christian literature addressed to women. *** „Mulier cum sola cogitat, male cogitat‟ O modelo educativo de Luis Vives. O humanista valenciano Luis Vives escreve, no início do século XVI, o De institutione feminae christianae (1523), um tratado sobre a correcta educação da mulher cristã, para educar Maria Tudor, filha de Catarina de Aragão e de Henrique VIII de Inglaterra. Nesta obra, uma das principais deste moralista de origem judaica, encontramos esta sentença do escritor latino Públio Siro (Publil. A. 376) em que Vives se baseia para a redacção do tratado. O modelo educativo proposto por Vives fundamenta-se em torno dos princípios da castidade, modéstia, honestidade, bondade e amor pelo marido e filhos. O tratado apresenta, assim, um carácter paternalista absoluto, já que a mulher deverá obedecer sempre aos homens: ao pai quando é uma rapariga, ao marido quando casada e a toda a sociedade quando viúva. Nesta comunicação, analisaremos os aspectos mais significativos do modelo educativo de Vives (a recomendação de trabalhar a lã ou de ler os textos sagrados do cristianismo e alguns autores do mundo clássico, guardar silêncio enquanto está em 20 público, obedecer sempre à figura masculina da qual depende) e falaremos dos maiores perigos que o escritor valenciano considera para a correcta formação da mulher cristã: a solidão e a ociosidade. Identificaremos também os testos nos quais o autor se inspira para escrever esta obra (os Textos Bíblicos, os de São Jerónimo, ou mesmo as obras de alguns autores da tradição clássica como Plutarco, Valério Máximo, Aristóteles ou Ovídio). Trataremos, por último, a relação dos exempla e os textos citados por Vives com obras de temática similar como o De mulieribus claris de Boccaccio (1361), o Llibre de les dones de Francesc Eiximenis (1396) ou o Jardín de nobles donzellas de Fray Martín Alonso de Córdoba (1468). 21 ANGÉLICA LIMA CRUZ MARIA JOSÉ MAGALHÃES CESC/ Universidade do Minho CIIE - FPCE/Universidade do Porto [email protected] [email protected] SUSANNA and the ELDERS: a Recurrent Theme in Art and Life In this paper, it will be analysed the ways the biblical theme “Susanna and the Elders” has been representing in painting and how this story and its representations have been opportunity of voyeurism and women objectification. It is intended to discuss how images have participating in gender identity construction and also how this representation of women has been made mainly by men and for their desire (the male gaze). Further, this theme is also analysed as common ideas to reproduce the myths around violence against women. The relevance of these socio-anthropological critique appears clear to teach profession and to the knowledge for social sciences. Key words: Art, women, power, symbolic violence 22 ANLAM FILIZ Koc University Instanbul, Turkey [email protected] Conceptualizations of Gender Equality as a Component of Middle Class Identity in Turkey This paper examines the conceptualizations of gender equality as a component of middle class identity in Turkey. The paper presents the findings of interviews conducted with university graduate, working middle class women in Istanbul. The main argument of the paper is that certain constructions of gender equality function as a way of differentiating these actors from lower classes. This process of drawing class boundaries is analyzed in relation to the nation-building process in Turkey as the meaning of gender equality in Turkey is at the center of the nation-building process and the Turkish modernization project. The idea of women‟s rights and the political actions taken towards achieving it developed in relation to the founding of the new Turkish republic in 1923 and the project of building ideal citizens. Therefore, as in other Middle Eastern countries, women's emancipation was seen as a corner stone in the path towards becoming a modern nation-state. This led to the emergence of state feminism, that was internalized especially by secular middle and upper classes, which gave Turkish women some freedom but it also preserved the patriarchal structure and gender roles. Moreover, the literature on class distinction in Turkey mostly concentrates on how consumption and urban segregation plays a role in this process. However, this paper contributes to the literature analyzing how the gender talk plays a role in class consolidation. 23 BARBARA VRACHNAS University of Edinburgh Scotland, UK [email protected] Marginalized Women in Fiction and in Fact: Female Characters in the Victorian Era In 2000, literary critic Talia Schaffer published Forgotten Female Aesthetes: Literary Culture in Late Victorian England, where she examines certain female writers who were disregarded, due to their sex, in the late nineteenth century. The previous century however, has seen an increasing interest in neglected female authors and many of their works are again in print. Critics such as Schaffer, Nicola Diane Thompson and Ellen Moers, through their groundbreaking criticism, endeavour to revise the literary canon by depicting the biased masculine environment these women endured. This paper will concentrate on some of the impediments these women faced in the Victorian period; a period in which the 1857 Matrimonial Causes Act was passed and the word 'feminist' appeared for the first time; an era in which female writers felt the need to use male or gender-neutral pseudonyms and were criticized when introducing inappropriate storylines. In order to depict these gender issues, there will be a focus on a particular writer, Ouida, a pseudonym for Maria Louise Ramé. Ouida will simply serve as an example of the marginalisation of Victorian authoresses. It will be shown that amongst many, such as George Eliot and Vernon Lee, Ouida, in order to be invisible as a woman and visible as an authour, concealed her real name. She is considered the first female writer who depicted divorce and a divorcée who happily remarries her beloved in Moths, a novel that will be closely examined. The purpose of this paper is to delineate the uproar engendered by writers like Ouida, since, according to her patriarchal society, they deformed the image of the late Victorian woman by depicting her as either submissive and oppressed, or manipulative and avaricious. It will become clear that this was indeed a realistic view, which cost women writers their reputation in literature, and brought about their obscurity in history. 24 BELKIS OLIVEIRA ASI – Associação de Solidariedade Internacional Portugal [email protected] O Papel da Mulher Imigrante na Actualidade: Considerações ao Nivel do Mercado de Trabalho e Políticas de Formação. No estudo PEI realizado pela ASI em 2007, verifica-se que o papel da mulher imigrante tem vindo a mudar nos últimos anos: já não imigram apenas para reagrupar-se com a sua família, mas também tomam a iniciativa de imigrar com o objectivo de trabalhar. Exemplo desta nova tendência migratória são as migrantes Brasileiras e, embora em menor medida, Guineenses que apresentam uma elevada percentagem de solteiras ou separadas/divorciadas (60,2% e 45,5%, respectivamente). Adicionalmente, apenas 41,5% das Brasileiras e 51,4% das Guineenses afirmam ter filhos, contrapondo com 74,5% das Ucranianas que já vimos seguirem um projecto migratório mais familiar. O caso das migrantes Brasileiras é paradigmático desta nova tendência, na medida em que se assume como uma migração mais independente revelando, comparativamente aos grupos Ucraniano e Guineense, uma maior igualdade entre homens e mulheres. Ao nível da empregabilidade, a mais notória discrepância verificada entre homens e mulheres migrantes regista-se ao nível das remunerações. O mercado de trabalho encontra-se claramente segmentado mediante o género. A procura de emprego feminino é, por excelência, o trabalho doméstico, mal remunerado, acessível a uma alta proporção de mulheres independentemente da sua preparação ou capacidade (Garcia, 2001). No nível inferior de salários (de 300 a 600 euros mensais) aparecem muitas mais mulheres, acontecendo a situação inversa nos níveis superiores de salário devendo-se esta diferença ao facto da força de trabalho masculina ser procurada na construção, na agricultura e nos ofícios de “colarinho azul”, nos quais os homens têm maior experiência laboral e as remunerações são bastante superiores às que as mulheres podem obter nas áreas laborais que as procuram, que são sobretudo o serviço doméstico e a hotelaria/restauração (Aparicio, 2003). 25 CARLA CERQUEIRA ROSA CABECINHAS CECS da Universidade do Minho Portugal [email protected] [email protected] Mudanças, Persistências e Reconfigurações: os Discursos sobre o Dia Internacional da Mulher na Imprensa Portuguesa Os dispositivos mediáticos, enquanto sistema legitimado na esfera pública e local de debate de várias temáticas, são uma importante fonte de representações simbólicas de género. Portanto, os discursos veiculados pelos meios de comunicação social incorporam sempre enquadramentos, na medida em que a linguagem não é um elemento neutro e objectivo de apreender a(s) realidade(s), mas sim um produto elaborado que reflecte o complexo sistema de crenças, ideias, atitudes, concepções e elaborações da sociedade e que permitem dar sentido ao que vemos. Assim, consideramos fundamental incorporar uma análise feminista dos media, a qual significa questionar as estruturas de poder hegemónicas, que (re)produzem e sedimentam representações assimétricas e que têm repercussões na vida de todos os indivíduos. Assumindo o poder que os meios de comunicação possuem na actualidade, com esta comunicação pretendemos trazer para a discussão as mudanças, persistências e reconfigurações que perpassaram o cruzamento entre media e género nas ultimas três décadas no contexto português. Para tal, focamo-nos nas conclusões preliminares de um projecto de investigação que visa analisar o discurso jornalístico sobre o Dia Internacional da Mulher desde 1975 até 2007. Os meios em análise são o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias, meios impressos generalistas com grande expressão a nível nacional e com posicionamentos editoriais diferentes, o que nos permite comparar os discursos veiculados. A metodologia utilizada passa pelo cruzamento da análise de conteúdo com a análise crítica de discurso. Palavras-chave: discursos, género, jornais 26 CARLA SUSANA APARÍCIO DIAS Faculdade de Belas-Artes Universidade de Lisboa Portugal [email protected] Questões de género em Educação Artística: A(s) narrativas narrativa(s) de Vida como Contributos para os Estudos sobre Mulheres Maria Almira Medina – as várias „faces‟ de uma artista e educadora As narrativas de vida como metodologia própria, têm sido um meio privilegiado de reconstituir os „estudos sobre mulheres‟. Neste trabalho indagamos a existência (ou não) de campos artísticos predominantemente „femininos‟ ou „masculinos‟ para atentarmos sobre a variabilidade de conceitos como os de: „género‟, „sexo‟ e „feminismo‟. Considerando estas indagações como „questões teóricas‟ que reflectem uma necessidade de consciencialização e aprofundamento do individual e do colectivo, procurámos a „resposta‟ de autoras(es) dos mais diversos campos científicos colocando várias das denominadas „questões de género‟. A partir destes estudos (gerais) do „feminino‟ e do „feminismo‟ concentrámo-nos em perspectivas concretas da educação artística encontrando nomeadamente nas perspectivas de Georgia Collins e Renee Sandell a „diferença sexual binária‟ como possibilidade de „complementaridade‟ dos aspectos “transcendentes” (ligados ao masculino) e “imanentes” (ligados ao feminino) como partes constitutivas de todos os indivíduos. Nesta perspectiva explora-se a possibilidade de potenciar práticas em educação artística mais efectivas do ponto de vista da „valorização‟ de cada indivíduo como „género‟ diferenciado dos demais, explorando os vários tipos de ensino em que esta assumpção pode ser aplicada. Depois de „escutar‟ também os „ecos portugueses‟, estas „questões‟ são por fim contextualizadas através do „percurso de vida‟ de uma artista e educadora (Maria Almira Medina) que, tendo experienciado várias realidades pessoais, sociais e políticas, pôde espelhar e acrescentar novos dados aos „estudos sobre mulheres‟ em Portugal. Palavras-Chave: género, sexo, feminismo, educação artística, narrativas de vida 27 CARLINDA PATE NUÑEZ Universidade Estadual do Rio de Janeiro Brasil ORADOR COVIDADO / KEYNOTE SPEAKER Mulher e Intelectualidade na Antiguidade: A Retórica e o Silêncio das Musas A Antiguidade clássica fornece duas representações das mulheres. De um lado, as mulheres trágicas, entes sociais sem voz e que já têm em si algo de personagem, entram em cena como protagonistas para escandalizar e receber, em muitos casos, o troféu de uma morte violenta, narrada, ainda que em longos excursos (Loraux: 1988). No teatro trágico, a mulher sai do limbo doméstico para o mais alto grau de exposição, mas continua sob o controle do discurso masculino, agindo pelo corpo de atores homens e sofrendo uma dor que apenas indiretamente lhes pertence. De outro lado, as musas, figuras míticas cuja invocação necessariamente antecede qualquer atividade intelectual, monopólio de homens, no quadro da Antiguidade. No contexto mais amplo da produção de conhecimento, a criatividade masculina precisa do referendum musal; são as musas que conferem autoridade ao intelectual antigo. Ao contrário da mulher trágica, a musa só existe enquanto voz, sonoridade, dispositivo para a irrupção do discurso do outro. Interessa-nos focalizar duas musas, uma grega, outra romana, que se peculiarizam, nesse contexto exclusivo de proeminência feminina. A grega é Polimnia, a musa pensativa, da qual procede o influxo filosófico, envolta num amplo manto e apoiada numa coluna rochosa, com o olhar perdido num horizonte distante. A outra, romana, é Tácita: também silenciosa, mas, em vez de sustentar a voz masculina, a emudece. Das musas falantes sabe-se praticamente tudo. De Polimnia e Tácita, quase nada. Ao silêncio de Tácita corresponde, todavia, um detalhado relato sobre o ritual que lhe era dedicado, no dia dos mortos. A circunspecta Polimnia mereceu expressivas representações escultórias, que falam por ela e de sua melancolia. Pretendemos demonstrar como o discurso de Ovídio sobre Tácita (nos "Fastorum libri") e uma estátua escolhida de Polimnia revelam o que as duas musas calam sobre si e o que o silêncio de ambas denuncia sobre os outros. 28 CHIOMA L. ENWEREM Imo State University Nigeria [email protected] Violence Against Women in Selected Nigerian Video Films and Novels One of the primary concerns of the Millennium Development Goals is to “promote gender equality and empower women”. The paper examines how certain forms of violence against women are portrayed in selected Nigerian video films and novels. Women and girls in Nigeria are still subjected to various culturally based forms of abuse, exploitation and discrimination, the most common of which include wife battering, rape and other forms of sexual violence during wars and conflict situations, female genital mutilation, trafficking in women, and inhuman widowhood practices. The paper discusses how Nigerian dramatists and novelists present or misrepresent gender related violence in their works. It relate the discussion to the local socio-cultural contexts in which these writings and films are set, and to the wider global debates about gender justice and the cultural specificity of human rights. The paper focuses on a representative selection of video films and novels which portray the Nigerian woman burdened in various ways with patriarchal prejudices and at times very obnoxious native laws and customs that flagrantly violate her human rights and dignity. It concludes with some comments on the adverse social consequences of violence against women, and the relevant international conventions, local legislation and other social responses that seek to redress these gender related anomalies in Nigeria. It also considers how home videos which are now widely used to dramatize these social ills can more creatively be used to promote the campaign to eliminate all forms of discrimination, abuse and violence against women. 29 CHRISTINE ESCALLIER Centro de Competências de Estudos Sociais Universidade da Madeira Portugal [email protected] Olympe de Gouges: uma humanista sob o Terror Humanista sob o Terror, feminista no século das Luzes, Olympe de Gouges procura iluminar aqueles que permanecem nas trevas: as mulheres, os indigentes, os escravos, as crianças sem nome, as raparigas sem dote… Abrindo caminho para novas ideias, precipita-se, a favor dos factos e das perturbações vividas pela sociedade francesa, na brecha dos acontecimentos e mudanças que se operam. Ela traça um caminho que se abre sobre novos horizontes para as mulheres contestatárias da sua época. A Revolução Francesa apresenta-se com um quadro de reivindicações feministas sem precedentes. Beneficiando do contexto, com a necessidade de redigir uma Constituição, de criar um novo sistema político e de redefinir toda a hierarquia social, as mulheres reclamam o seu direito ao reconhecimento. A Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã de Olympe de Gouges, redigida em 1791, inscreve a mulher até então esquecida, demonstrando que a nação é efectivamente bissexuada e que a diferença sexual não pode ser um postulado em política, nem na prática da cidadania. Mas, vítima das suas tomadas de posição contra as derivas da Revolução, Olympe de Gouges é guilhotinada a 3 de Novembro de 1793. No dia seguinte, a necrologia publicada no jornal Le Moniteur aplaude a sua execução: Lembrem-se da impudente Olympe de Gouges, que primeiro instituiu as sociedades de mulheres e abandonou os cuidados do lar para se intrometer na República, sob quem a cabeça caiu sob o ferro vingador das leis. Contudo, esta diatribe jornalística mergulha a mulher polémica e reivindicadora num período duradouro de amnésia colectiva da historiografia francesa até ao final do século XX. A querela sobre a igualdade dos sexos, atestada quase por toda a parte, no tempo e no espaço, é uma questão que as mulheres levantam em cada época, em cada geração. Em consonância com os actuais combates pela igualdade, parece essencial fazer reviver uma figura central da luta pelos direitos humanos. Sempre actual, inspiradora como o foi no passado para as sufragistas anglo-saxónicas ou as feministas francesa de Maio 68, a Declaração de Olympe de Gouges tornou uma obra intemporal e universal. 30 CONCEIÇÃO NOGUEIRA JOANA BESSA TOPA ANA SOFIA ANTUNES NEVES Universidade do Minho ISMAI Portugal [email protected] [email protected] [email protected] Mulheres Imigrantes no acesso aos Cuidados de Saúde em Portugal: quais os avanços, quais os recuos? Actualmente é reconhecida a crescente desigualdade social e a crescente assimetria entre diferentes grupos de pessoas em quase todos os países e em diferentes domínios sociais, não sendo a saúde nenhuma excepção. As questões de género, associadas a outros factores, como o tipo de migração, as condições a que o/a migrante é sujeito/a nos países de acolhimento, as políticas desses países, o tipo de contacto mantido com o país de origem, a possibilidade de retorno e reintegração e a sua situação de legalidade e/ou ilegalidade (IOM, 2004 cit in Dias, Rocha & Horta, 2009) podem constituir em si factores de risco levando a uma maior vulnerabilidade em relação a problemas de saúde em geral (UNFPA, 2006) e a problemas de saúde mental em particular (Pusseti, Ferreira, Lechner & Santinho, 2009). Apesar de todos os cuidados de saúde terem como objectivos principais optimizar a saúde das populações, a realidade é que existe uma notória falta de conhecimento do acesso efectivo dos/as imigrantes aos cuidados de saúde (Fonseca, Silva, Esteves & McGarrigle, 2009) sendo este mais acentuado no que concerne às mulheres imigrantes. Deste modo, perante o notório crescimento da componente feminina no total de imigrantes residentes em Portugal (209.711) (SEF, 2008) e sendo o estado de saúde um indicador da Integração dos/as imigrantes verificamos que é imprescindível conhecer os percursos e os significados destas mulheres (Morse, 1994) que nos possibilitem ter mais conhecimento/informação acerca do seu estado de saúde, vulnerabilidades, acessibilidades, etc. Esta apresentação pretende reflectir sobre a situação do acesso das mulheres imigrantes aos cuidados de saúde em Portugal ressalvando a necessidade de investigação e intervenção neste domínio. Pretende-se igualmente discutir a necessidade da revisão das políticas sociais de saúde, tendo este estatuto específico, o das mulheres imigrantes. Palavras-chave: Imigração, Género, Saúde 31 CONCEIÇÃO NOGUEIRA ESTEFÂNIA GONÇALVES DA SILVA ANA SOFIA ANTUNES DAS NEVES Escola de Psicologia Universidade do Minho ISMAI [email protected] [email protected] [email protected] Mulheres Migrantes e Estratégias de Conciliação Trabalho/Família em Portugal O fenómeno social da imigração tem vindo a assumir, nos últimos anos, uma importância crescente na vida política, económico-social e cultural dos países industrializados, motivando milhares de mulheres a migrar. Em Portugal, as trajectórias femininas da migração laboral tornaram-se mais diversificadas, tendo o contexto económico global facilitado a inclusão das mulheres em certas áreas de emprego predominantemente desqualificadas (Wall et al., 2008). As actividades laborais das mulheres migrantes continuam a estar fortemente vinculadas a domínios tradicionais (Brumer, 2009), sendo socialmente desvalorizadas e geralmente mal pagas, inibindo a função emancipadora que o trabalho pode constituir (Padilla, 2007). A conciliação entre a vida familiar e profissional de mulheres e homens assume hoje uma nova configuração estreitamente relacionada com as mudanças sociais, em particular com a integração das mulheres no mercado de trabalho e a sua progressiva autonomização (CIG, 2010). Ao contrário do que acontece noutros países europeus, em Portugal as elevadas taxas de actividade laboral feminina, de mulheres autóctones e migrantes, decorrem em tempo integral . Essas elevadas taxas de actividade parecem não corresponder contudo a uma efectiva conciliação familiar e profissional entre mulheres e homens, promotora da igualdade de género (Wall & Amâncio, 2007) . Pois, embora tenham entrado massivamente no domínio laboral público, as mulheres continuam a ser as principais responsáveis pela execução de tarefas domésticas (Guerreiro e Perista, 1999). Considerando que o nosso país se encontra numa fase de adaptação a novas significações culturais, esta comunicação, enquadrada numa dissertação de doutoramento em Psicologia Social, pretende promover a reflexão para a actual situação das mulheres imigrantes e problematizar a necessidade do desenvolvimento de políticas e práticas de conciliação para uma integração efectiva e igualitária da população migrante em Portugal. 32 CONNIE GUBERMAN University of Toronto Canada [email protected] Beyond the Numbers: The Tensions of Advancing Women‟s Issues in the Academy in the 21st Century The University of Toronto is one of North America‟s largest research-intensive publicly funded Universities, located in one of the most multi-cultural cities in the world. The University itself is a community of almost 80,000 students, staff and faculty across three campuses. There is wide belief that women have reached equality in the academy: women now comprise almost 60% of the undergraduate and graduate student population, the number of women in the professoriate has increased to 34% ( this number is expected to increase as the pool of female graduate students increase), and the number of women administrative managers has increased to almost 50% . While the numbers demonstrate an increase in women‟s presence, they do not tell the full story of women‟s experiences and nuanced challenges in the multicultural academy in the 21st century. This paper will discuss the importance of going beyond the numbers to understand and define the current „status of women” in all our diverse dimensions and identities in the academy. It will explore the tensions and challenges in defining women‟s issues as they intersect with our multiple identities including race, culture, sexuality and ability and It will explore the gap between policies which support the advancement of women and the barriers to their implementation. I will draw on my experience as the University‟s Status of Women Officer for the past nine years -- an Office whose mandate is to be „a catalyst for change‟ in working toward full gender equity for women students, staff and faculty. I will also draw on my experience as a faculty member for the past 20 years. 33 CRISTINA PIMENTEL Centro de Estudos Clássicos Universidade de Lisboa ORADOR CONVIDADO / KEYNOTE SPEAKER Aliquando sexum egressa (Tácito, Annales 16, 10): quando a mulher transcende a fraqueza do seu sexo 34 CRISTINA PINHEIRO Universidade da Madeira Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa [email protected] Os Gynaikeia de Sorano de Éfeso e a Reflexão sobre a Condição Feminina na Medicina Antiga In this paper we consider the way Soranos analyses the previous theories about women‟s condition and nature. Soranos scrutinizes the medical ideas of the past and lends a new light on ancient questions such as the benefits or prejudices of sex and pregnancy or the legitimacy of contraception and abortion. Being a Greek writing in 2nd century Rome, Soranos has a whole new context: he benefits from the development of Hellenistic anatomy but is nevertheless, as we shall see, incapable of separate himself from the medical tradition that considers women‟s lives and health as bound to her reproductive functions. Nesta pesquisa investigamos a análise que Sorano faz das teorias anteriores sobre a condição e a natureza das mulheres. Avalia as ideias dos textos médicos do passado e traz uma nova luz a questões antigas como a do carácter benéfico ou nocivo do sexo e da gravidez ou a legitimidade da prática da contracepção e do aborto voluntário. De origem grega, mas escrevendo a sua obra em Roma no século II d. C., Sorano vive num contexto distinto: beneficia do desenvolvimento da anatomia helenística mas, como veremos, é ainda assim incapaz de se separar da tradição da medicina antiga que considera que a vida e a saúde das mulheres estão intrinsecamente ligadas à sua função reprodutora. 35 CRISTINA VIEIRA Universidade Aberta Portugal [email protected] Vadias e Heróis… Modelos e lógicas de relacionamento. Discursos de jovens rapazes e raparigas, Porto/ Portugal – um estudo exploratório. As expressões “vadias” e “heróis”surgem explicadas por modelos de relacionamentos que deixam perceber uma categorização diferenciada de comprometimento e de lógicas de relacionamento. Neste sentido, surgem inscritos modelos comportamentais, assentes nas expectativas culturais associadas a cada um dos géneros. Reproduzindo ordens e qualidades diferenciadas, os/as jovens têm interiorizada uma visão de duplo-padrão na lógica relacional, diferenciada quer na compreensão dos comportamentos, quer nos objectivos de concretização - com as raparigas a projectarem, na sua trajectória biográfica, o modelo de relação séria e os rapazes a delinearem dois momentos faseados: o período de “experimentação/recriação” e o período de relação séria. O sentido atribuído à experimentação da sexualidade e à sexualidade como relação é vivenciado de forma desigual entre elas e eles. Para as raparigas a experimentação, contextualizada na relação séria, não tem como objectivo a recreação. Ela surge vinculada a uma progressiva cumplicidade e intimidade relacional com propósitos conjugais – desejos que exprime continuidade de modelos tradicionais e contribui, de forma marcante, para a identidade feminina na actualidade. A trajectória relacional dos rapazes deixa perceber dois momentos temporais: um primeiro período, que corresponde à experimentação, com propósitos recreativos, claramente exposto em contexto público; e um segundo momento, designado por relacionamento sério. A lógica discursiva das raparigas sobre o sentido desigual da trajectória de experimentação denuncia na prática o significado de risco. O medo de uma possível gravidez é manifestamente declarado pelas raparigas - sentido claramente assumido pela explícita responsabilização de protecção inerente à tomada da pílula. Os rapazes, apesar de o principal medo manifestado se centrar igualmente na gravidez, colocam-se, de forma mais ou menos declarada, numa posição exterior à maternidade/paternidade. 36 DÁLIA COSTA Iscsp Portugal [email protected] A construção de novos discursos sobre a Violência Doméstica pelos futuros profissionais de Serviço Social As influências internacionais sobre a política e a intervenção dirigida à violência doméstica em Portugal colocam-nos em linha com as tendências globais – definidas pelos organismos internacionais e recomendadas pelos órgãos políticos dos quais Portugal faz parte como Estado-membro. Entendida no presente como um tema criminal, a violência conjugal contra as mulheres permanece um problema social caracterizado pelo facto de ser transversal à sociedade, mas também pela sua invisibilidade, sugerindo que se mantém praticamente inalterada a concepção de que faz parte do domínio privado das relações familiares e que se caracteriza por um conjunto de „ofensas menores‟ que exigem intervenção pública apenas nos casos em que a gravidade dos actos e a severidade das suas consequências são assinaláveis. Perante estes pressupostos, pretendemos apresentar os resultados de uma pesquisa sobre as perspectivas de futuros profissionais de Serviço Social acerca da violência doméstica (em especifico, a violência conjugal contra as mulheres) alguns dos quais com experiência profissional (N=100). Os objectivos específicos do estudo consistem em: (1) avaliar o conhecimento dos sujeitos em relação à evolução na forma de interpretar e lidar com a violência doméstica em contexto nacional; em relação aos mecanismos existentes para lidar com os agressores e com as vítimas desta forma de violência; e em relação às principais fontes de informação, aferindo em especifico o papel dos pares, do sistema de ensino e da comunicação social; (2) compreender as suas perspectivas de interpretação do fenómeno social, atendendo ao facto de virem a ser futuros profissionais de serviço social. Este estudo permite reflectir sobre as perspectivas de mudança na sociedade portuguesa em relação à violência doméstica (numa lógica cronológica) e permite a comparação dos resultados específicos com os resultados de estudos similares desenvolvidos noutros contextos culturais (numa lógica de política social comparada). 37 ELISA MARIA MAIA DA SILVA LESSA Universidade do Minho Portugal [email protected] Contributos para o Conhecimento da História Musical Portuguesa no Feminino: Marcas de Cultura e Identidade das Monjas Músicas dos Séculos XVII e XVIII Os séculos XVII e XVIII constituem uma época privilegiada de expressão de religiosidade monástica. Os mosteiros foram nesta época palco de importantes manifestações artísticas tendo, no caso dos mosteiros femininos, as Senhoras Músicas como (principais) protagonistas. As admoestações e ordens emanadas pela hierarquia da Igreja, que ao longo dos tempos controlou o modus vivendi feminino conventual, não foram impeditivas de uma ampla prática musical intra-muros, onde havia lugar para uma expressão pessoal, necessária ao equilíbrio psicológico de quem vivia debaixo de uma austera observância monástica. Esta comunicação, através de um saber histórico fundamentado num conjunto de fontes diversificado, destaca o papel das monjas artistas e da sua praxis musical que ao longo dos tempos desempenharam os ofícios de Mestres Capelas, Cantoras e Instrumentistas com gosto e competência. Palavras-chave: Monjas músicas – séculos XVII e XVIII ; Praxis musical conventual ; Cultura Identidade 38 EMÍLIA RODRIGUES ARAÚJO JOANA DOMINGUES SÍLVIA SILVA Universidade do Minho Portugal [email protected] Estrangeiras e Extemporâneas na Cultura Global: as Mulheres Investigadoras em Mobilidade Na densidade espácio-temporal das dinâmicas migratórias, e sem essencializar, são vários os possíveis eixos de análise das identidades femininas e seriam múltiplos os quadros teóricos explicativos, visto que as características dos contextos socioculturais são extremamente importantes no trabalho sobre a disposição à mobilidade, sobre o modo operandis de ser móvel e aceitar-se móvel. Tem-se reconhecido a relevância das mulheres nos processos migratórios, tanto no estatuto de migrante, como no estatuto de familiar-de-emigrante. Por norma, este reconhecimento inclui assumir que as mulheres, atendendo às suas características socialmente construídas, auto-reconhecidas e esperadas, têm um papel bastante activo e, por vezes decisivo, nas dinâmicas migratórias (antes, durante e depois), estruturalmente problematizadas a partir da família, como célula base da determinação das “saídas”. Estes padrões têm vindo a alterar-se, pois as mulheres assumem-se cada vez mais como protagonistas isoladas da migração e da mobilidade. Todavia, e particularmente neste contexto, elas continuam a ver a sua identidade sedimentada a uma experiência profunda de ser Outro, assim como a vivenciar–se fora dos ordenamentos temporais para si naturalizados, em concreto quando em situação de contraste cultural. Assim, esta comunicação versa sobre as trajectórias das mulheres migrantes, a realizar doutoramento ou pós-doutoramento e considera, em particular, a relevância dos modelos culturais nacionais na experiencia da migração e da mobilidade, assim como o peso das relações sociais de género na definição dos percursos móveis. A comunicação tem em conta a evolução histórica dos estudos acerca da migração e mobilidade feminina “qualificada”, assim como as abordagens teóricas da importância do género no espaço académico e de investigação e providencia uma problemática especifica para o entendimento dos modos de inserção de integração dessas mulheres, sobretudo quando, nos seus percursos, constam responsabilidades familiares, incluindo filhos, que deixam nos países de onde saiem. Além da revisão bibliográfica e crítica sobre o assunto, a comunicação apresenta duas histórias biográficas de mulheres, através das quais se explanam as principais dimensões de análise dos processos de recomposição e reformulação identitária normalmente associados a uma experiência migrante ou de mobilidade, em que se destacam a fenomenologia do tempo e do espaço, assim como os dispositivos simbólico-representacionais como constituintes do efectivo valor individual e colectivo (para a sociedade de origem e para a sociedade receptora) da mobilidade no feminino. 39 ERIC CHINASA OPARAOHA Department of Sociology Faculty of Social Sciences Lagos State University Nigeria [email protected] Social-Cultural factors and Perception of Spousal Violence among Women in Lagos Nigeria In spite of the global efforts aimed at curbing violence on women and series of studies mainly focusing on consequences, forms, causes and prevalence of domestic violence from one area or society to another, significant reduction in the rate of violence against women generally, is yet to be achieved. One major obstacle to this reduction is poor understanding of the problem and the inadequacy of information on the differences in perception of the problem among women from one society to another. Intended to reinforce gender hierarchies and perpetuate gender inequalities, domestic violence against women is worse and most common in most developing countries where primordial culture of patriarchal ideology holds sway. Among the married women in several such societies, traditional attitudes regarding their total subordination to men tend to exacerbate their vulnerability and a tendency towards internalization of violence as intrinsic in marital relationship. Unfortunately, efforts so far aimed at eliminating domestic violence especially against married women by their spouses have not adequately taken into cognizance their perception which has largely hampered the effectiveness of such campaigns. This study therefore examines the incidence of spousal violence amongst married in Nigeria, using Lagos as our focus with a view to determine to what extent metropolitan city-life has affected the attitude of an average African married woman towards this form of violence. 40 EWA MACHUT-MENDECKA Warsaw University Poland [email protected] Urfi Customary Marriage as an Expression of Women‟s Rebellion In Arab culture, besides polygynous relationships there exist, especially in Egypt, customary marriages called urfi. Urfi is understood as a marriage based on the partners‟ agreement without any official contract. These marriages are kept secret from the family and part of the society. Urfi constitutes a rebellion against traditional moral codes, sexual restrictions, and especially women‟s dependence on their relatives. On the one hand, young people enter into customary marriages, which are a substitute for girlfriend – boyfriend relationships, non-existent in Arab culture. These marriages are generally short-lived (e.g. in a popular Egyptian soap opera Ja hadarat al-muttahim abi [My accused honourable father], directed by Husayn Rabban, TV Egypt 2006), such a marriage ends drastically. On the other hand, older married men enter into urfi marriages with younger women, who marry them for love or for money. Urfi relationship is one of the most popular subjects in Egyptian soap operas, which show typical phenomena against the background of an exaggerated reality. In twenty out of over fifty Egyptian soap operas broadcast on Arab television channels in the years 2002-2010 and analysed – urfi marriage was one of the main problems. Women perceive a customary marriage as an opportunity to satisfy their personal and sexual needs, although it entails their conflict with society. 41 FÁBIA SOUSA MARIA JOÃO BEJA Universidade da Madeira [email protected] [email protected] A mulher no ensino superior: aspectos do desenvolvimento intelectual Apesar de ser uma área de estudo relativamente recente, sobretudo no contexto português, as investigações têm evidenciado que o desenvolvimento do pensamento não termina na adolescência, continuando a se desenvolver durante a idade adulta – pensamento pós-formal (Arlin, 1975; Case, 1992; Commons, Richards, & Armon, 1984; Commons, Sinnott, Richards, & Armon, 1989; Kramer, 1983, 1990; Sternberg, 1984), sendo que as instituições de ensino superior assumem-se como contextos fundamentais para o desenvolvimento intelectual. Tendo em conta que, e contrariamente há várias décadas atrás, na actualidade o ensino superior é frequentado, maioritariamente, pelas mulheres, na presente comunicação apresentam-se os resultados de um estudo sobre o desenvolvimento intelectual da mulher no ensino superior. Participaram 295 estudantes da Universidade da Madeira, de ambos os géneros, do 1º e 2º ciclo, distribuídos por diferentes áreas de formação académica. Os resultados foram avaliados através de um questionário sócio-académico, construído para o efeito, e do Inventário de Desenvolvimento Cognitivo de Parker, traduzido por Ferreira e Bastos (1995). Através da análise dos resultados e, contrariamente à bibliografia pesquisada e aos estudos realizados neste domínio, não se verificou uma progressão desenvolvimental em termos de pensamento entre os participantes. Verificou-se um predomínio do pensamento absolutista e constataram-se diferenças de género no que concerne ao desenvolvimento intelectual. Palavras-chave: Mulher; Ensino Superior; Desenvolvimento Intelectual 42 FÉLIX NETO MARIA DA CONCEIÇÃO PANINHO PINTO Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação Universidade do Porto Portugal [email protected] [email protected] Estereótipos dos papéis de género na publicidade televisiva Já existem estudos em Portugal que avaliam a evolução dos estereótipos dos papéis de género na publicidade difundida pela televisão. Desde 1996 cada sete anos tem sido estudada esta temática (Neto e Pinto, 1998; Neto e Silva, 2009). Na corrente investigação examinaram-se os estereótipos dos papéis de género numa amostra de anúncios em três canais generalistas de televisão em Portugal (RTP1, SIC e TVI) recolhidos em 2010. O objectivo principal foi actualizar a investigação portuguesa neste domínio. Fez-se a análise de conteúdo de duzentos e cinquenta e três anúncios, examinados por duas pessoas avaliadoras, uma feminina e outra masculina, para um confronto da fidelidade. Os atributos de cada uma das figuras centrais foram classificados em 11 categorias: género, modo de apresentação, credibilidade, papel, lugar, idade, argumento, tipo de recompensa, tipo de produto, meio e comentário final. Os dados evidenciam diferenças significativas de género em todas as categorias, excepto no comentário final. Os resultados continuam a mostrar uma forte evidência de diferenças na apresentação de características masculinas e femininas. Estas imagens estereotipadas das mulheres têm sido observadas em anúncios televisivos em muitos países. A publicidade televisiva continua a perpetuar estereótipos tradicionais das mulheres e dos homens. *** 43 FERNANDO AUGUSTO MACHADO Departamento de Filosofia Universidade do Minho Portugal [email protected] Garrett e as Mulheres: Deleites e Delitos Ninguém amou com mais paixão as mulheres do que Garrett! Ninguém cantou com tanto primor, suavidade, deleite e ousadia as mulheres como Garrett! Eis, entre outras coisas, o que torna tão incompreensíveis alguns pecados conceptuais sobre a mulher! Na verdade, o sensual amante aberto aos olhos femininos de todas as cores e às mulheres belas de todas as condições, o naturalista que se revelou contra as mesquinhas e bárbaras leis de arcaicas moralidades, o liberal Alceu da liberdade e do progresso dos indivíduos e das nações abriu flancos de tradicionalismo inesperado nas concepções de natureza e em direitos sociais e educacionais que há muito constituíam campo de luta e de algumas vitórias na história do pensamento e do real da libertação das mulheres. 44 GLÓRIA FRANCO MARIA JOÃO RODRIGUES, ALEXANDRA FREITAS, LUÍSA SANTOS, CARMO GOUVEIA, DALILA HENRIQUES Universidade da Madeira [email protected] A Violência no Feminino: Quando o homem é a vítima Muito se tem falado e feito em relação à violência doméstica, mas na maior parte dos casos a enfase é colocado na mulher vítima de maus tratos e abusos. No entanto, as queixas de homens vítimas de violência doméstica têm aumentado. Em 2004, 15 % das queixas apresentadas à GNR e PSP foram de homens e em 2009 houve um aumento significativo ficando perto dos 25%. Já a Associação Portuguesa de Apoio à Violência (APAV) registou em 2009, 10% de queixas de homens que soferam de maus tratos e violência. Pensa-se que estes números podem ser mais elevados, mas a vergonha e o medo da estigmatização pode levar muitos homens a não apresentarem queixa. A percentagem de vítimas é igual quer em meio urbano, quer em meio rural, o que pode ser revelador de uma forte mudança de mentalidades. Nesta comunicação irá caratecrizar-se o tipo de violência sofrido pelos homens e ao mitos a ela associados ereflectir sobre o ciclo da violências e as consequências nos personagens nela envolvidos. Reflectiremos igualmente sobre a prevenção deste tipo de violência, que exige a promoção de valores de igualdade e de cidadania que diminuam a intolerância social e a aceitação de uma cultura de violência. Eliminar estereótipos e mitos, alterar as representações de género e os valores que têm perpetuado a existência de relações desiguais no meio familiar, escolar e social.. As acções de sensibilização e a mobilização da sociedade civil surgem como uma estratégia fulcral, dirigidas às escolas e às comunidades, no sentido de alterar práticas e comportamentos. 45 HENRIQUE MIGUEL SILVA DE MELO CARVALHO Centro de Estudos Clássicos Universidade de Lisboa Portugal [email protected] O Papel Civilizador da Mulher na Épica Homérica É possível perspectivar a épica homérica na óptica da experiência da guerra. A Ilíada e a Odisseia contariam a história do que acontece quando homens partem para a guerra, quando matam e morrem em combate, e quando regressam a casa. Os homens não passam incólumes por essa experiência, sendo por ela profundamente transformados. As mulheres não estão porém ausentes dessa história, nem se mantêm alheias a essa transformação. O conflito bélico que serve de cenário à epopeia tem origem na disputa por uma mulher, Helena de Tróia. A Ilíada começa com a chegada de um pai que pretende recuperar a sua filha, Briseida, sob a qual irá assentar a querela entre Aquiles e Agamémnon. Quando Heitor parte para morrer às mãos de Aquiles, é de Andrómaca, a sua esposa, que mais lhe custa a despedida. Quando é revelado a Aquiles o seu destino, é da sua mãe que recebe a notícia. E a Odisseia termina com Ulisses reencontrando a sua esposa, Penélope. É por isso possível perspectivar a épica homérica numa outra óptica, complementar e paralela à da guerra: a da relação que, nesse contexto, os homens mantêm com as suas esposas, filhas e mães. Mas essa relação não é fixa ou estável, sofrendo consideráveis mutações ao longo da narrativa. A nossa proposta de comunicação consiste em mostrar como a guerra é apresentada em Homero como uma experiência, não apenas bélica, mas civilizadora, sendo que é na relação que os guerreiros mantêm com as mulheres que precisamente esse elemento melhor transparece. 46 IJAZ AHMAD M. IQBAL BASIT Department of Social Work University of Sargodha Pakistan [email protected] Arrogance Crime of Honour Killing in Pakistan This article is about the study of honor killing of women in Pakistan. This study will elaborate the injustice, gender discrimination and domestic violence against women. The purpose of the study is to identify the reasons of deprivation and social conditions of women in Pakistan‟s tribal areas. The estimated population of Pakistan in 2010 is over 170 millions. It ranks world‟s 6th most populous country. Women are more than half of the total population of the country but men have domination in all ways of their lives and they pass a miserable life in tribal areas of Pakistan. They are locally controlled by feudal sardars, tribal lords, Taliban and religious extremists. Traditionally the women are considered as self property of men. The strong tribal system does not allow them even to talk with a man who does not belong to the same tribe, caste or family. They have no right of going out of their homes. They have no rights of opposing the male dominant society and can‟t argue against the actions of their husband, brother or even father. They can‟t select their life partners according to their own wishes. Even after such sanctions and deprivations, they are being killed in the name of honor killing. The rate of so called „honor killing‟ of women is increasing every year. Honor" in Pakistan is defined by men. Women who defy those standards are often murdered by male family members. Women's bodies are considered the repositories of family honor and women are viewed as responsible for upholding a family's "honor." If a woman or girl is accused or suspected of engaging in behavior that could taint male and/or family status, she may face brutal retaliation from her relatives that often results in violent death. In 2008, there were 475 registered cases of honor killing of women and in 2009 it raised up to 604. It is important that these figures are only 15% to 20% of the total incidents because rest of the cases doesn‟t come in knowledge due to the no access in such tribal areas and influence of tribal lords. 47 ILIYANA IVANOVA CHALAKOVA Universidade de Sófia “St. Kliment Ohridski” / Universidade Nova de Lisboa Portugal [email protected] Pentesileia: Deconstrução de um Mito que remete para um Estado Vidente de Diferença O presente trabalho prende-se com o objectivo do curso de criar e/ou desenvolver competências de observação, reflexão e análise da problemática do género nas artes, num sentido mais amplo, e propõe-se a problematizar uma concreta imagem da mulher num campo de trabalho inter-artes, num plano mais estrito. Dentro das linhas do debate sobre a arte e a condição feminina, e à par da problemática da identidade da personagem feminina, a exposição questiona a construção mítica da imagem da mulher guerreira, a amazona, demonstrando um lado, de sensibilidade feminina, pouco esperado nela, que invariavelmente a opõe à leitura tradicional da narrativa mitológica que a interpreta como uma forma de mulher masculinizada. Relembra-se deste modo um mito grego com relativamente pouca reescrita e difusão – o da morte de Pentesileia por Aquiles, – sublinha-se a esquecida existência de camadas emocionais, tradicionalmente atribuídas ao feminino, na identidade amazónica, e defende-se a tese da elaboração de uma imagem de mulher que só superfluamente parece ser a visão de um ser novo, andrógino e harmónico, mas que profundamente considerado remete para o estado vigente de afirmação do feminino por oposição diferencial do masculino. Para chegar a estas conclusões a pesquisa debruça-se sobre uma comparação inter-artes do texto literário Tene-me de Hélia Correia e uma selecção prévia de objectos de arte antiga e obras artísticas dedicados à matéria mitológica anteriormente anunciada. O texto pretende ser um trabalho original, de pesquisa inteiramente individual, que lança e debate uma tese a partir de um aproveitamento de testemunhos de valor artístico, tentando fugir ao trabalho meramente ensaístico a que muitas vezes se limitam documentos destes. Palavras-chave: mito, figura feminina, amazonas, Pentesileia, diferenças de género. 48 ISABEL CAPELOA GIL Faculdade de Ciências Humanas Universidade Católica Portuguesa Portugal ORADOR CONVIDADO / KEYNOTE SPEAKER O Silêncio da Alcmena 49 ISABEL MARIA DA CRUZ LOUSADA CESNOVA- FCSH-UNL Portugal [email protected] Mulheres como nós? Da visibilidade ao mito – estratégias eficazes De tempos a tempos houve mulheres notáveis que, com maior ou menor grau de intencionalidade, quiseram trazer ao nosso conhecimento vidas de outras, que as haviam antecedido, não menos excepcionais. O que terá levado a que esse repetido fenómeno não tenha sido episódico? Identificar quem foram algumas dessas figuras femininas, trazendo à luz os feitos de que haviam sido protagonistas, capazes de as tornarem, também em Portugal, senão ícones, mulheres de referência, eis alguns dos aspectos mais em foco na análise proposta. Estratégias eficazes de visibilidade, a que título (s)? 50 ISABEL VENTURA Universidade do Minho, CICS Universidade Aberta CEMRI Portugal [email protected] O Crime de Violação: Subsídios para uma História Penal A violação está envolta em mitos que se encontram enraizados, de forma mais ou menos subtil, nas sociedades e suas instituições (Brownmiller, 1975; Mackinnon, 1987; Coulouris, 2002). As perspectivas biologizantes das relações de género foram sendo questionadas pelas teorias feministas que colocam a tónica na desigualdade e assimetrias sociais entre géneros (Brownmiller, 1975; Mackinnon, 1987). As feministas analisaram a legislação, os procedimentos legais e os seus actores numa perspectiva de género, concluindo que os tribunais e o direito são instrumentos de dominação masculina, dos quais emanam normas que tendem a perpetuar os papéis sociais que determinam uma subalternização feminina (Dahl, 1987; Kennedy, 1992; McIntosh, 1977; Lees, 1996; Kingdom, 1981). Nos últimos trinta anos, a legislação portuguesa sofreu diversas revisões. Depois do Código Penal de 1982, registaram-se alterações em 1995, 1998 e 2007, que incluíram: eliminação da possibilidade de o comportamento da vítima contribuir para a pena ser „especialmente atenuada‟, aumento da pena máxima (de oito para dez anos), neutralização do sexo da vítima (a redacção mudou de „mulher‟ para „pessoa‟) e o alargamento conceptual dos actos que constituem uma „violação‟ (da „cópula com penetração vaginal‟ passou a incluir-se a penetração anal e oral, bem como a introdução de partes do corpo e/ou de objectos‟). Como evoluiu crime de violação visto pelos legisladores ao longo do tempo? Esta comunicação resulta de um trabalho que visa traçar uma breve história penal deste crime. Palavras-Chave: Violação; Legislação; Lei; Mulheres; Sociologia/História do Direito. 51 JENNIFER LEE Victoria University Melbourne, Australia [email protected] Fat Acceptance and Health at Every Size Activism through Women‟s Art, Performance and Creative Writing in Australia: An Ethnographic Exploration A major form of discriminatory institutional practice that still affects women in the Western world is an unhealthy focus on weight loss. This focus is sanctioned by a large dieting industry, medical associations, the media, and at times, government initiatives. This focus on weight loss reinforces the fashion industry‟s obsession with thin women and promotes fat hatred in women. This paper will discuss the emergence of the socalled „Obesity Epidemic‟ and „Fat Bomb‟ in Australia in the last three years, the Australian Medical Association‟s planned shock tactic advertisements to coerce people to lose weight, and the stereotypes that thin equals healthy and fat equals unhealthy, when it is in fact possible to be „fat and fit‟. There will be reference to the reason for reclaiming the word „fat‟, which is theoretically linked to the reclamation of words like „queer‟. This paper will argue that „Health at every size‟ is a more effective principle, involving fat acceptance and striving for health living, without a focus on weight loss. This discussion will contextualise an autoethnographic exploration of how fat acceptance and „Health at every size‟ can be encouraged through fat activism and fat political art in Australia. There will be a discussion of what has been developing in the two largest cities in Australia: Sydney and Melbourne. In Sydney this includes the 2010 Fat Studies conference, the formation of the Fat Femme Front and „Aquaporko‟ – the fat femme synchronised swim team, as well as „Bodies Abound‟, the sold-out fat art exhibition and performance event. In Melbourne this includes a Fat book club and „Dangerous Curves Ahead‟, a sold-out queer fat performance event. Samples of the art, performance and creative writing being produced by fat artists will be presented as part of this paper. 52 JESSICA MURRAY St Augustine College Johannesburg, South Africa [email protected] „Africa has erred in its memory‟: Exploring Continuities and Discontinuities in Texts by Petina Gappah and Yvonne Vera In the short story collection Why Don’t You Carve Other Animals? (1992) the Zimbabwean author Yvonne Vera initiates her construction of alternative historical narratives, particularly ones that are able to voice women‟s experiences. Her project of fostering an alternative engagement with Zimbabwean history locates her in a group of writers that have moved away from simple adherence to historical narratives. In the preface to Opening Spaces, Vera expresses the hope that the collection will prove „that women from Africa have not been swallowed by history, that they too know how to swallow history‟ (2). She is specifically concerned to „reveal how desperately Africa has erred in its memory‟ where women are concerned. Her most explicit and sustained challenge to traditional history is her first novel Nehanda, which was published in 1993. The importance of addressing the elision of women from history becomes all the more apparent when one considers that the silencing of their voices and the imposition of identity has been twofold: identity was conferred on them by both the imperial discourse of the coloniser and by the patriarchal discourse of men. The need to create texts that will mirror the experiences of the female subject is thus an important feminist and post-colonial project. This paper focuses on Vera‟s work and Petina Gappah‟s short story collection An Elegy for Easterly (2009) to explore the continuities and discontinuities in the concerns that these two Zimbabwean authors address in their fiction. When reading these two authors‟ texts together, it emerges that, although some burning new issues have emerged over the course of the intervening seventeen years, a great deal has stayed the same. Key Words: Gender; memory; history; Zimbabwean literature; Yvonne Vera; Petina Gappah 53 JOANNA FIGUEIREDO PARAÍZO GARCIA Universidade Católica Portuguesa Portugal [email protected] A Imprensa Feminina Oitocentista: A Mulher de Papel de Ontem no Brasil e em Portugal O tema a ser abordado será a imprensa feminina oitocentista através da análise comparativa de dois periódicos da mesma época (anos 20), mas de países distintos. As revistas femininas sempre atuaram como poderosos elementos na construção da identidade da mulher, que precisou transgredir as normas pré estabelecidas para conquistar visibilidade e ganhar um papel importante na sociedade. A perspectiva a ser abordada leva em consideração a análise da revista brasileira “Espelho Diamantino” (1827) e da portuguesa “Periódico das Damas” (1823). Isso significa que a pretensão desta abordagem é estimular a reflexão do peso da imprensa feminina em 1800 ao simbolizar a representação desta «mulher de papel». Pretende-se assim o enriquecimento da discussão do crescimento do papel feminino de outrora. A análise comparativa dos dois periódicos também permite visualizar uma contextualização da época em dois países, Brasil e Portugal, que em determinada altura mantinham uma relação de colônia e metrópole. 54 JOANNE COLLINS-GONSALVES Department of History Faculty of Humanities and Education University of West Indies St. Augustine, Trinidad and Tobago [email protected] The Entrepreneurship of Portuguese Women in Business; British Guianna 1840-1940 This research paper will examine both the visibility and invisibility of Portuguese women as entrepreneurs, partners in business and their economic pursuits, in Georgetown, British Guiana during the period 1840 - 1940. This is done in an effort to engender the history of Portuguese immigrants in businesses in British Guiana and offer significant contributions in the fields of both gender studies and economic history. Currently, there is scarcely any research done on women in Guyana (formerly British Guiana), from a historical point of view and this paucity continues when the subject of Portuguese women is examined. While the research continues on the historical aspects of minorities in other Caribbean territories, no new material has been written to date on the Portuguese women and business. The Portuguese immigrants first arrived in British Guiana from Madeira in 1835 and from as early as 1841 Portuguese women were involved in and classified as shopkeepers. Many more assisted in the management of stores, though their husbands were often the licensed and recognised owners of the business establishments, making these women essentially - business partners. Early ventures such as these into business, was an incredible feat. By the 1870s many more women ventured into the entrepreneurial arena, owning several stores. Their role, influence and contribution to the economic hierarchy of the Portuguese in British Guiana and more specifically at the merchant level of the entrepreneurial scale will be examined. This presentation therefore is a significant contribution to the body of literature on the entrepreneurship of the Portuguese in British Guiana, and seeks to fill the void of research on this merchant community. 55 JOANNE MADIN VIEIRA PAISANA Universidade do Minho Portugal [email protected] Agnes Slack and the Temperance Movement This paper will focus on the pioneering work of Agnes E. Slack (1857-1946), one of a small group of upper class/aristocratic women who was active in the Temperance Movement in late Victorian / Edwardian Britain. Honorary Secretary of the British Women's Temperance Association (BWTA) and the World's Woman's Christian Temperance Union from 1895, the last President of the National British Women's Temperance Association (1925-6), and the first President of the National British Women's Total Abstinence Union (1926-8), she aimed to organize women to encourage temperance by education and other means, and to agitate for the restriction of sales of alcohol. She was a tireless organizer and effective public speaker not only on behalf of temperance but also for the Liberal Party and for prison and social reform, anchoring her work in strongly held Christian beliefs. She also wrote frequently for many women's temperance newspapers and published books on her campaigning travels abroad. It will be shown that her activities in the public sphere both at home and abroad helped the cause of women's emancipation by demonstrating that women can be effective campaigners without threatening the stability of society. She also improved the lot of women by persuading many to abstain from alcoholic drink, thereby facilitating their release from poverty through self help. She helped to shatter the Victorian ideals of sheltered womanhood and by so doing deserves to be remembered. 56 JOÃO CARLOS PEREIRA MIRA LEITÃO Instituto Politécnico da Guarda Portugal [email protected] O Trabalho das Mulheres na Indústria Têxtil da Covilhã O objectivo principal deste estudo é investigar as diversas relações entre o género e a organização do trabalho, analisando a acção dos diversos actores sociais, neste secor industrial que é o têxtil, os trabalhadores, os empresários, os sindicalistas e outros agentes em torno do têxtil. Sendo este um estudo exploratório, foi desenvolvido a partir de um questionário realizado a 206 trabalhadores do Grupo Paulo Oliveira, composto por 1300 trabalhadores, trabalhando em três turnos, na Covilhã, sendo esta uma das maiores empresas têxteis na Europa, foram ainda realizadas várias entrevistas a diversos actores sociais em torno desta indústria como seja empresários e sindicalistas. Procurava-se com este estudo, compreender as condições sociais em que as mulheres realizam o seu trabalho, com especial enfoque na divisão profissional do trabalho, entre homens e mulheres. As mulheres estão impedidads de realizar as tarefas de tecelagem, que é realizada apenas por homens. Foi também possível verificar que a organização em ofício muito enraízada nesta indústria dificulta o acesso das mulheres a trabalhos melhor remunerados. Pode-se dizer que as mulheres nesta indústria são segregadas, têm os piores empregos e os salários mais baixos, mesmo quando recebem formação profissional para desempenhar tarefas de tecelãs, estão impedidas de as realizarem. Este é um trabalho de pesquisa, que tem na sua matriz a Sociologia da Indústria das Organizações e do Trabalho, entrecruzando-se com a Sociologia do Género mais em concreto as relações de género, no meio laboral do Têxtil e dos Lanifícios. Longe estaria de pensar que o caminho que trilhei no processo de investigação, pudesse conduzir a algo muito mais amplo, como seja uma proposta de organização da actividade produtiva baseada na qualificação dos recursos humanos, na requalificação dos postos de trabalho e não discriminatória em função do género. Palavras Chave: Género, trabalho, segregação, têxtil 57 JOÃO CARLOS SEQUEIRA DA COSTA APEL Funchal, Portugal [email protected] O Último Cais de Helena Marques: Imagens da Mulher Madeirense do século XIX Num ambiente ilhéu profundamente marcado pela claustrofobia e pelo isolamento do resto do mundo, Helena Marques, no seu aclamado romance O Último Cais (1992), apresenta uma variada galeria de figuras femininas. A autora realça as mulheres determinadas e corajosas, até irreverentes, que ousaram enfrentar uma sociedade conservadora e apologista da hegemonia masculina, abrindo caminhos inovadores no último quartel do século XIX, de modo a projectar o século seguinte. É por isso que personagens como Raquel, que concretizou o seu desejo de viajar e sair da Ilha, além de ter verdadeiramente descoberto o prazer no acto amoroso, Catarina Isabel, idealizada à imagem da primeira médica madeirense, e Luciana, símbolo do vanguardismo e da mulher precursora do século XX, assumem protagonismo no romance. Por outro lado, é criticada a “porcaria de gente”, denominação atribuída às mulheres passivas e resignadas, fiéis transmissoras da supremacia masculina na sociedade madeirense e que não devem fazer parte da História. A partir deste leque de personagens, procede-se a uma reflexão sobre temas centrados no feminino, como o amor, a sexualidade, o casamento, a maternidade, a tradição, a família, o universo profissional, as relações com o sexo oposto, a luta pela igualdade de direitos, entre muitos outros exemplos. Helena Marques não pretende, através das perspectivas desenvolvidas na obra, exercer o papel de feminista, mas apenas revelar uma outra visão sobre as mulheres, diferente daquela que a História e o registo escrito masculino muitas vezes deturparam ou simplesmente ignoraram. Pretende ainda demonstrar como o tempo e o espaço podem ter uma influência determinante sobre as mulheres neles inseridas, pelo que questiona três aspectos ontológicos inerentes à essência humana numa óptica feminina: o que as mulheres foram, o que são e o que poderão vir a ser. 58 JOAQUIM PINHEIRO Centro de Competência s de Artes e Humanidades Universidade da Madeira [email protected] A Mulher e a Educação na Grécia Antiga 59 J. FILIPE RESSURREIÇÃO RICARDO NOBRE FLUL – Centro de Estudos Clássicos Portugal [email protected] [email protected] E já Eva Corrompeu Adão: Representação da Mulher no Discurso Doutrinário da Novela Camiliana No século XIX, o papel que cabe à mulher altera-se, à medida que aumentam os hábitos de leitura e a frequência de ambientes mundanos. Na participação activa das mulheres na sociedade pode verificar-se a emancipação em face do homem; no entanto, não raro, foi-lhe associada a corrupção dos costumes da sociedade. Não é difícil encontrar eco dessa mutação na literatura oitocentista, que plasmou figurativamente personagens tipificadas em mulher-fatal ou mulher-demónio (por oposição à mulher-anjo), estas já estudadas pela crítica. Apesar disso, encontra-se por investigar uma outra vertente, ancilarmente relacionada com o fenómeno literário: a construção da imagem da mulher a partir do discurso doutrinário de um narrador romanesco. Nesta comunicação, pretende-se dar a conhecer de que modo Camilo Castelo Branco, nas suas novelas, desenvolveu uma conceptualização do feminino. Com efeito, se na obra O Santo da Montanha (1866) se afirma que a mulher é a “costela inútil” do homem, e que, por isso, este “funciona perfeitamente sem ela”, em contrapartida, também se imputa às mulheres a faculdade (sublime) do sentimento, enquanto o homem constitui o emblema da racionalidade (cf. O que fazem mulheres, 1858), definição a enquadrar na específica axiologia romântica das faculdades humanas. Importa também ter em conta que o narratário das novelas camilianas é, por excelência, do sexo feminino, de onde decorre a preocupação de fundamento didáctico do narrador em fomentar a morigeração dos costumes (e.g. O Esqueleto, 1865). Partindo sobretudo de abundantes considerações sentenciosas formuladas na primeira pessoa pelo narrador/autor textual, enquadrando-as no seu contexto e atendendo à sua função na economia da narrativa, serão analisadas obras de um corpus cuja amplitude cronológica reúne obras publicadas desde o início da carreira literária de Camilo (1851) até ao final da vida do autor (1890). Em suma, pretende-se apurar, fundamentalmente, qual a visão do narrador camiliano sobre a (de)formação da mulher no século XIX. 60 JOSÉ CARLOS VASCONCELOS E SÁ IPS ESE Santarém UAL [email protected] Tirésias e o Terceiro Corpo Pretende-se com este trabalho explorar o tema do género nas sociedades contemporâneas a partir do mito grego de Tirésias. Centrando-se sobre a problemática do corpo e do «terceiro sexo», o texto analisa a argumentação desenvolvida pelas principais teses feministas sobre a dualidade masculino/feminino, relacionando-as com as perspectivas tecnológicas da desconstrução do corpo dos movimentos pós humanistas. A investigação enquadrará historicamente esta problemática na Antiguidade grega, que viu nascer o mito de Tiresias - o adivinho que, tomou o corpo de mulher - inscrevendoa, depois, no antropocentrismo humanista da modernidade e, finalmente, nas sociedades contemporâneas pós-modernas, onde, a par do discurso normalizador sobre o sexo e o prazer, se afirmam, também, em confronto, as teses feministas e as lógicas «ciber» pós humanistas, que apontam para a experiência do hibridismo. Palavras chave: género; corpo; Tiresias; pós humanismo; hibridismo. 61 JOSÉ RIBEIRO FERREIRA Universidade de Coimbra ORADOR CONVIDADO / KEYNOTE SPEAKER A Figura de Antígona na Poesia Contemporânea: Alguns Exemplos A comunicação procura analisar a receção da figura de Antígona na poesia portuguesa contemporânea, através de alguns exemplos paradigmáticos, como Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Andresen, Fernando Guimarães, Fiama Hasse Paes Brandão, Nuno Júdice, José Tolentino de Mendonça. Talvez para concluir, no final, que a sua presença não será tão significativa, quanto o faria esperar a importância que essa jovem corajosa teve na cultura greco-romana. É que a produção poética contemporânea parece não lhe dar assíduo acolhimento. Haverá uma explicação plausível para isso? 62 JUDITE ZAMITH CRUZ Centro de Investigação em Educação do Instituto de Educação da Universidade do Minho, Portugal [email protected] Análise de Discurso de Conceitos de Sexo e Categorias Sociais de Estereótipo de Género de Pré-adolescentes do Norte de Portugal O esquema de género (Bem, 1981, 1987; Liben & Signorella, 1987; Martin & Halverson, 1987) integra a imagética e o pensamento (ou representação cognitiva) para características polarizadas de «rapaz» ou «rapariga», enquanto o roteiro ou guião de género (script) se liga à representação cognitiva de uma rotina ou actividade familiar, por ocupações, geralmente associadas a um género. Desde muito pequenas agarramos fantasia e conhecimento real, mas (não) abstracto (prototípico) de nomes de tarefas domésticas, coisas que «chocam» e acontecimentos familiares inusitados. Muitos conceitos são pois organizados no cérebro, de acordo com o seu uso na linguagem comum, ao invés da clássica perspectiva de organização de protótipos (por especificidade) e por esquemas (por especificidade, mas também opcionais) interrelacionados, dito que um estereótipo é um processo psíquico comummente associado ao lugar-comum. Sem que eventos sejam factos discretos, portanto, as categorias linguísticas com que etiquetamos factos e ficções são difusas e contingentes (Cuenca & Hilferty, 1999, p. 37), chamemos-lhes «esquemas mentais» ou scripts (Schank e Abelson, 1977). Operam como códigos inscritos na sociedade e sub-cultura na forma de guiões de cinema para enredos dramáticos, nos roteiros diários, dando conta de consequências por repetição do agir. Não interpretando factos isolados e descontextualizados, na Análise de Discurso efectuada, apresentar-se-ão desenhos e extractos de «entrevistas-conversações» (Iñiguez, 2007) com raparigas sobre modelos de vida circundante para os conceitos «opostos» de sexo e categorias sociais de estereótipo de género. Para mundos com regras e a recategorizar «nós» e «eles», pretende-se mostrar como adquirimos práticas/conhecimento, além da forma em que o cérebro o compreende, quando tire fotografias de múltiplas realidades. No processo a que se conforma, o cérebro transfere em forma de acção contínua o processo sóciofamiliar vivido. 63 JULIA LEWANDOWSKA University of Warsaw Poland [email protected] Discussing with the dogma- How to enter the exclusive sphere of male domination being a nun: example of Sor Juana Inés de la Cruz and “Athenagoric letter” Presented theme is a part of my wider study which is an attempt to the contextualized and comprehensive interpretation of the texts of the most famous court and religious Baroque female poet: Sor Juana Inés de la Cruz. The question I would like to propose for this conference refers to” Athenagoric letter” written by this nun which not only aroused huge controversy among her contemporaries and permitted Sor Juana to enter the sphere of the official ecclesiastic dialogue but also continued provoking passionate debates among contemporary literary critics and historians. In my paper I turn to the interdisciplinary approach, aiming to show the triple conditioning of this person: as a writer, as a nun and as a woman within the social, historical and political context in the particular reality of the colonial society of the Viceroyalty of New Spain. Thorough analysis of these rhetoric structures we will be able to interpret the message of this writing and see how this woman could subvert the rules of the official order and play the active role in the ecclesiastic dialogue of her times. Key words: religious woman writer, catholic dogma, theological debate, rhetorical structures, Baroque art, epistle 64 KATHERINE COOKLIN Slippery Rock University Department of Philosophy Pennsylvania, USA [email protected] Consent and the Epistemology of Ignorance: Inequality and the Construction of the Female Body The intersection of female bodies and inequality is evidenced by social constructions of female bodies as suitable objects for exploitation, physical violence, and the denial of material goods and rights. The intersection of female bodies and inequality is also evidenced by the physical alterations of bodies motivated by ideas of what is befitting of those whose bodies are female. For example, social constructions of the female body fund the cutting of women‟s bodies to meet normative imperatives, a practice that is both abhorred by many when it is cast as female genital mutilation, and embraced by many when cast as vaginal enhancement surgery or labioplasty. This paper seeks to address the epistemic conditions that allow certain knowledge claims and constructions of female bodies, while disallowing others. Drawing on Charles‟ Mills view of the epistemology of ignorance, and on Nancy Tuana‟s taxonomy of ignorance, I will argue that strategic ignorance complicates consent, both in terms of women‟s participation in actions that evidence their constructed inequality, and also of those whose actions toward women can only be justified by viewing women‟s bodies as a site of inequality. Identifiying and analyzing these epistemic conditions are the first steps to transforming this ignorance. 65 KURT MILLNER Universidade da Madeira Portugal [email protected] A mulher sob o Prisma da Ensaística Filosófica de Peter Sloterdijk e Richard David Precht O intuito desta contribuição é desenhar o perfil «da mulher» na obra de dois ensaistas filosóficos com ambição antropológica que contam entre os mais falados, lidos, debatidos, no mundo de expressão alemã actual. 66 LAURA GEORGESCU-PAUN Bolyai University Romania [email protected] Femininst Discourse from the InterWar Romania: a Study of Two Publications from Transylvani and Muntenia The paper analyses the discourses and practices of women‟s organizations in interwar Romania in the context of the suffrage movement. The purpose of this endeavour is to offer an explanation of the particular features of the movement as well as its (in)visibility in the given historical context. In the same time it aims at revealing the commonalities as well as the differences between the two historical Romanian provinces, concerning the discourse towards women‟s political emancipation. The research is based on a content analysis of two interwar magazines as well as on women‟s writings included in volumes and anthologies of the movement. The analysis focuses upon the structure and content of the magazines with the purpose of capturing the way in which they reflect the struggle for women‟s suffrage. Moreover, by investigating the two interwar feminist publications the paper challenges the current view from the literature about the regional differences in the feminist discourse, suggesting that one has to look closely into the moderate/radical model in order to obtain a more nuanced understanding of the movement‟s profile throughout Romania. The article goes on reveals that issues of class and ethnicity should be made visible for a more complex understanding of the movement than simply explaining differences in discourses and positioning by regional differences. A more clear focus on the differences in the feminist discourse within each region can better illuminate these aspects than an exclusive focus on interregional differences. The thesis of the interregional differences in the feminist discourse can be revised if one looks more closely into the developments present in the women‟s movement within each region as well as at the meeting points of different discourses. 67 LEONOR MARTINS COELHO Universidade da Madeira Portugal [email protected] Para uma Renovada (Con)formação da MulherAfricana: da Utopia à Desilusão? – Modelos Femininos na Obra de Aké Loba Ligado à primeira geração de escritores afro-francófonos, mas optando por uma postura mais reservada do que os seus congéneres Bernard Dadié ou Ahmadou Kourouma, Gérard Aké Loba, autor de Kocoumbo, l’étudiant noir (1960), Les Fils de Kouretacha (1970), Les Dépossédés (1973) e Les Sas des Parvenus (1990) apresenta-se como um observador privilegiado da sociedade costa-marfinense. Desta sua observação, ele parece apontar o papel subalterno da Mulher como uma das causas do atraso africano. Ao entrelaçarmos a ficção com a História, procuraremos focar no universo ficcional deste autor uma temática e uma ideologia que parece sustentar um projecto de Nação moderna contando, pois, com o contributo da mulher para fazer entrar o país na era do Progresso e, assim, da Modernidade. Se considerarmos que a Literatura, enquanto sistema semiótico de produção e recepção de textos, está vinculada a uma visão do mundo, propomo-nos ver como na obra de Aké Loba se manifestam as múltiplas imagens da mulher africana, ora as que são criticadas pela voz do texto, ora as que os narradores, na figuração problemática do autor, desejam ver ancoradas numa (re)nova(da) realidade marfinense. Ao sublinhar a emergência de uma nova era, alicerçada na formação das novas gerações, no diferente relacionamento inter-geracional e na reformada (con)formação da mulher africana, a obra de Aké Loba deseja contrariar o desajuste entre o Homem e a Mulher e promover uma dinâmica civilizacional onde esta alcance a igualdade para participar activamente no rumo de uma nova Nação. Porém, as tendências emancipatórias da mulher africana propostas pelo olhar akelobiano parecem votadas ao insucesso. De qualquer forma, expressando a vontade de acabar com os desequilíbrios sociais e de género, a escrita de Aké Loba possibilita o questionamento e sugere, por conseguinte, que uma sociedade deve estar em readaptação contínua. Palavras-Chave: utopia, distopia 1840-, identidades femininas, conformação, desilusão 68 LILIANA RODRIGUES Universidade da Madeira [email protected] A Deusa Héstia e a Democracia Machista Este trabalho pretende ser uma reflexão sobre o papel da mulher na antiguidade, particularmente em duas Cidades-Estado: Esparta e Atenas. Se é verdade que com Atenas nasce a primeira democracia do mundo por oposição à tirania espartana, não menos verdade será a influência educativa e social da mulher que estes dois modelos de Estado tiveram no ocidente. Assim, ocorre-me a pergunta: que sinais ficaram destes dois modelos políticos no que diz respeito ao lugar que a mulher ocupa na sociedade? Teremos, passados mais de dois mil anos sobre o nascimento da democracia, uma sociedade que promove a igualdade de género? Ou Héstia é ainda uma sombra que se esconde na democracia construída? 69 LINDA GALVANE Osaka University Osaka, Japan [email protected] The Representation of Japanese Woman in Contemporary Russian Literature – Viktor Pelevin and Olga Lazoreva The exotic sexuality of Oriental women has long been a subject of Western literary works, allowing the West to project the desires and fantasies of the Self on the Other, and Russia has not been an exception objectifying and representing Japanese women in such a way since the end of the 19th century. If we examine the writings of Viktor Pelevin and Olga Lazoreva, however, it is obvious that both writers have employed the myth of exotic and submissive Japanese woman in a rather peculiar manner. Viktor Pelevin in his short story Akiko (2003) exploits the typical image of eroticized Japanese female. By adding a contemporary twist - a cyber media setting, – the writer not only extends the objectification of a female by a male to the extreme, but eventually subverts the typical relationship of submissive Oriental woman and Western man, clearly parodying the image of Japanese women as insensitive money seekers à la Pierre Loti`s Madame Chrysanthemum (1887) as well. Olga Lazoreva in her trilogy Russian Geisha (2006-2007) by incorporating such themes as female trafficking, sex slavery among others, addresses the important issues of sexuality, violence, power and gender relationship. The writer, curiously, uses the image of geisha – seen as an epitome of a female submissiveness in the Western culture, – to create an independent, strong female figure. While interested in the exoticism of Japanese sexuality initially, by using the hybrid Russian geisha protagonist of mixed Japanese and Russian origins, Lazoreva tries to construct a new image of both Japanese and Russian female. The aim of this paper is, firstly, to examine the meaning of the new, hybrid image of Japanese woman in contemporary Russian literature; and secondly, to situate it in the larger tradition of the construction of female and female sexuality in Russian cultural discourse. 70 LISA KIELY Department of Politics and Public Administration University of Limerick Ireland [email protected] Sex in the Free State: Moral laxity and the Threat of the “Loose” Irish Woman 1922-32 Throughout the 1920s prominent members of the Cumann na nGaedheal government and the Catholic Church believed Ireland to be in the midst of a “moral crisis”. In the years following independence incidence of prostitution, sex crimes, venereal disease and illegitimacy reached record highs. Prior to the establishment of the Irish Free State, social issues such as these were attributed to the presence of British troops; after 1922 this explanation was no longer applicable. For many the moral laxity exercised by some members of Irish society was an embarrassing let down and major cause for concern. The economic, social and political infrastructure of the Irish Free State had been established on the notion of Catholic respectability. As a result the moral crisis Ireland experienced throughout the 1920s represented a real threat to the stability of the nascent state. Women‟s morality was a particular cause for concern throughout the 1920s. The birth of an illegitimate child or rumours of sexual indiscretion would bring shame on a family and ruin a woman‟s reputation. In order to prevent female indiscretion and safeguard the morality of Irish women an ideal of Irish womanhood was constructed through the discourse of both the Catholic Church and the Government. This paper examines the rationale behind the construction of the ideal Irish woman and also the impact that this ideal had on the lives of Irish women. 71 LUISA DE NAZARÉ FERREIRA Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos Universidade de Coimbra Portugal [email protected] Traços de um Ideal de Beleza Feminina nos Primórdios da Cultura Grega O estudo que propomos pode ser integrado nas áreas temáticas “(De)Formação da Imagem da Mulher na Literatura” e “(De)Formação da Imagem da Mulher na Cultura”, e centra-se na obra inauguradora da poesia europeia: a Ilíada. Se a guerra e o código de honra do herói surgem como matérias principais do célebre e influente poema homérico, a beleza feminina impõe-se subtilmente como temática transversal,em especial através da figura de Helena de Esparta, a todo o momento acusada de ser culpada do conflito que opõe Aqueus e Troianos (e.g. Ilíada 2. 160-162, 3. 156-160, 19. 325, 24. 765-775). No entanto, são parcas as palavras do poeta sobre a sua beleza, limitando-se a notar, pela voz dos anciãos sentados nas Portas Ceias, que causava assombro a sua semelhança com as deusas (3.158). Não é nosso objectivo retomar a controversa questão da caracterização desta personagem. Muitas outras figuras femininas compõem o quadro divino e humano da Ilíada, pelo que pretendemos analisar as comentários que se inscrevem no domínio da caracterização física das personagens femininas, com vista à identificação, se é que pode ser traçado, do ideal de beleza feminina predominante na Ilíada. Dada a forte influência que o poema teve em toda a cultura grega, designadamente na Época Arcaica, será interessante confrontar esse quadro de referências com outras obras, em especial com os fragmentos de Safo de Lesbos (séc. VII-VI a.C.). 72 LUISA MARINHO ANTUNES Centro de Competências de Artes e Humanidades Universidade da Madeira Portugal [email protected] De Nápoles a Jerusalém (Diário de Viagem) – Maria Celina de Sauvayare da Câmera: dos Diálogos com a Avó à descoberta do Mundo 73 MARIA DA CONCEIÇÃO PANINHO PINTO FÉLIX NETO Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação Universidade do Porto Portugal [email protected] [email protected] Atitudes face ao Amor em Diferentes Gerações Poucos investigadores têm explorado as diferenças e semelhanças nas atitudes em relação ao amor ao longo do ciclo vital. Este estudo investigou as atitudes das pessoas em relação ao amor desde os dezoito aos noventa anos. Foram avaliadas medidas em relação aos dados demográficos e aos estilos de amor. Os resultados indicaram que o grau de preferência em relação aos tipos de amor é estável ao longo do ciclo vital: Eros, Ágape e Storge revelaram níveis mais elevados, enquanto Ludus, Pragma e Mania apresentaram níveis mais baixos de suporte. Em média, os homens eram mais lúdicos e ágapes do que as mulheres. Os resultados indicaram que a idade está relacionada com a atitude em relação ao amor nos estilos de amor Eros, Ludus, Pragma, Mania e Ágape. Palavras-chave: Atitudes em relação ao amor; Idade, Intimidade, Género, 74 MARIA DA CONCEIÇÃO TOMÉ GLÓRIA BASTOS CEMRI Universidade Aberta Portugal [email protected] [email protected] Mulheres Entre Espelhos: Corpo e Sexualidade Feminina na Literatura Juvenil Portuguesa Nas últimas décadas, a preocupação estética com o corpo tem vindo a exacerbar-se o que, inevitavelmente, contribuiu para a assunção e culto (narcísico) do corpo. As alterações nos padrões sociais de beleza feminina impuseram, de alguma forma, um novo e mais agressivo espartilho às mulheres e, de forma particular, às adolescentes. O novo modelo corporal é veiculado pelos meios de comunicação social e, de forma particular, pela publicidade, como passaporte para a felicidade pessoal, saúde e sensualidade, tendo despoletado o crescimento da indústria da beleza e a evolução das técnicas médicas de (re)modelagem do corpo. Esta nova forma social e cultural de ver e desejar o corpo tem repercussões particularmente importantes na actual adolescência feminina, traduzindo-se na dificuldade de aceitação e de construção da nova imagem corporal e, em casos mais graves, em distúrbios alimentares. Um tópico importante das produções literárias de potencial recepção juvenil contemporânea está, pois, relacionado com esta problemática da percepção (e aceitação) do corpo feminino. Percorrendo um conjunto de personagens femininas de diferentes livros, pretende-se, neste artigo, analisar a forma como as produções literárias de potencial recepção juvenil representam o corpo feminino e de que modo essas representações estão ao serviço da divulgação dos cânones estéticos de beleza da pósmodernidade. Visa-se ainda compreender as implicações deste culto do corpo na vida das jovens mulheres - na aceitação do seu corpo, na (re)construção da sua imagem corporal e na vivência da sexualidade. Por outro lado, tendo em conta os destinatários destas produções literárias, reflecte-se sobre o contributo dessas representações para o desenvolvimento físico e emocional das leitoras adolescentes. 75 MARIA JOSÉ MAGALHÃES CIIE FPCE – UNIVERSIDADE DO PORTO ANA ISABEL FORTE CIIE FPCE - UNIVERSIDADE DO PORTO YOLANDA RODRIGUEZ CASTRO DEPARTAMENTO CIENCIAS DE LA EDUCACIÓN UNIVERSIDADE DE VIGO ILDA AFONSO - CIIE FPCE UNIVERSIDADE DO PORTO [email protected] [email protected] [email protected] The social constraints of Portuguese shelters and service centres for gender violence victims In this paper it will be presented some of the final results of the research project “Love, Fear and Power- pathways to a non-violent life” regarding the social constrains reported by the staff team members working with gender violence victims. This study uses a qualitative research method combining semi-structured interviews and content analysis of 48 professionals such as directors, psychologists, social workers, social educators, lawyers, judges and other juridical professionals. The major constrains are related with the victims inadequate referrals, time permanence in shelters, victims‟ housing problems, elderly victims aid, lack of equipment for small children, insufficient human resources and geographic isolation of shelters. Despite the national law, professionals working with gender violence victims come across many social constrains which are delaying the process of helping these women to search for new pathways to a non-violent life. Key words: Gender violence, shelters, social policies 76 MARIA TERESA NASCIMENTO Centro de Competências de Artes e Humanidades Universidade da Madeira [email protected] Portugal Feminino : um retrato da mulher portuguesa Entre 1930 e 1937, publica-se em Portugal a revista Portugal Feminino dirigida por Maria Amélia Teixeira. O nosso estudo incidirá sobre o modo como nesta revista se encontra reflectida a mulher portuguesa dos anos 30 do Séc. XX, seja através da colaboração literária de autoras como Florbela Espanca ou Ana de Castro Osório seja através de manifestações de índole reivindicativa de um dos mais elementares direitos de cidadania, como o do voto feminino. 77 MÁRCIA MARIA DE OLIVEIRA Universidade de Huelva Espanha [email protected] Amazônia e Espanha: Dois Extremos de um Mesmo Problema Atualmente, segundo a OIT, mais da metade das vítimas do tráfico humano no mundo é constituída de mulheres vítimas da exploração sexual comercial. O Brasil é um dos países com maior número de vítimas deste crime de ordem transnacional e a Amazônia figura como a região com o maior número de rotas deste tráfico. Estudos recentes (Pestraf, 2002) indicam que a maioria das mulheres traficadas nessa região são trazidas para a Espanha, especialmente para as cidades de Madrid e Barcelona. Na Amazônia a prática do tráfico de mulheres tem raízes históricas e encontra-se “naturalizada” nas relações sociais e culturais fazendo com que as vítimas, diretas e indiretas, não tomem consciência da gravidade do problema, o que facilita a ação dos aliciadores e traficantes. Em quase todas as etnias pré-coloniais, há resquícios da prática do tráfico de mulheres e meninas com o objetivo de “evitar as relações incestuosas”, como afirmam inúmeros estudos antropológicos da região. Na grande maioria dos escritos, o adjetivo usado pelos antropólogos é a “troca” ou a “dádiva”. Apenas em alguns raros estudos antropológicos mais críticos como o caso de Rubin (1986), o adjetivo “tráfico” aparece nos escritos para indicar que as mulheres eram as maiores vítimas das tais “práticas culturais”, criadas e mantidas pelos homens (RUBIN, 1986, pp.112-113). Esta representação cultural necessita ser “desconstruída” a partir de novas abordagens sociológicas e com o suporte dos Estudos de Gênero, a fim de fornecer elementos para um debate permanente sobre a temática subsidiando mecanismos sociais, culturais e institucionais de enfrentamento do problema na Amazônia. Também é preciso criar mecanismos de enfrentamento nas duas principais cidades de destino das vítimas do tráfico de mulheres para fins de exploração sexual comercial: Madri e Barcelona, onde estão centrados os estudos de caso. 78 MARIA AURORA VIDEIRA MOCHO Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Portugal [email protected] A imagem da Augusta: Representações de Esposas Imperiais em Fontes Numismáticas Romanas A partir da análise de fontes numismáticas romanas dos séculos I e II d.C., procura-se sistematizar algumas representações das figuras das esposas imperiais desse período. Pretende-se identificar paradigmas desejados, observar as suas linhas evolutivas ou a sua alteração permanente, compreender os instrumentos iconográficos utilizados na prossecução desses objectivos e as repercussões sociais, ideológicas e políticas dessas representações. O presente estudo enfoca-se na área da numismática imperial romana e pretende descortinar o caminho da construção deliberada de personae políticas de diversas tipologias e quadrantes, uma das quais pode ser a das figuras femininas imperiais, e especificamente as esposas, pelo papel desempenhado nas políticas de alianças e da simbologia religiosa enquanto extensões do poder masculino e das divindades femininas da família. Partindo da esposa imperial enquanto ícone, esperamos ser possível uma melhor compreensão da imagem pública da esposa imperial, da sua importância a vários níveis (e sobretudo político) e da projecção que dela foi feita ao longo dos séculos. 79 MARIA DE LURDES GODINHO Instituto Politécnico de Leiria Instituto de Literatura Comparada da FLUP Portugal [email protected] Vida em Movimento: palavras e imagens em viagem pela Ásia e Europa de Annemarie Schwarzenbach durante o Nacional-Socialismo Oriunda de um país onde imperava uma certa atonia, a escritora e fotojornalista suíça Annemarie Schwarzenbach (1908-1942) rebela-se contra a sua família conservadora e o papel que deverá representar na sociedade patriarcal de onde provém; ao longo da sua breve vida, protagonizará fugas várias para fora desse espaço – tanto familiar como nacional – confinado e limitador. A sua vida aventureira, desassossegada, conduz a escritora, lésbica assumida, politicamente empenhada, a empreender várias viagens ao Médio Oriente, aos Estados Unidos, à África, para sempre retornar à “sua casa” – não a Europa do Nacional-Socialismo, mas a uma outra Europa, liberta dos terrores da II Guerra. No seu nomadismo errante, profuso em álcool e drogas, a autora transpõe não apenas fronteiras geográficas, mas também psíquicas, numa ânsia de no Outro se (re)encontrar; ainda fronteiras culturais, ao levar a cabo fotoreportagens, sozinha ou na companhia de amigas fotógrafas, tanto pelo Médio Oriente como pelos EUA e pela Europa – viagens invulgares segundo uma constelação unicamente feminina. Partindo da comparação entre o romance póstumo Morte na Pérsia (1995) e O Vale Feliz (1935), ambos tematizando o amor a uma mulher, centrar-me-ei nas motivações que levaram Annemarie a alterar a focalização do “Eu” protagonista feminino, no primeiro caso, para um “Eu”protagonista sexualmente ambíguo, no segundo romance. Indubitavelmente desafiadora das convenções sociais, a autora assume-se como opositora declarada à barbárie nazi que grassava pela Europa. Essa inequívoca feição antifascista manifesta-se, nomeadamente, no artigo que escreve para a revista de exílio Die Sammlung (A Colecção), em 1933, dirigida por Erika e Klaus Mann (filhos de Thomas Mann), bem como nas foto-reportagens relativas aos EUA e à Europa. Tendo em conta o supramencionado percurso, os relatos de viagem dedicados a Portugal (Lisboa e Madeira) poderão afigurar-se paradoxais, no inegável enaltecimento de um Portugal salazarista. Mas Portugal vivia em paz, e tanto a ilha da Madeira, meiaeuropeia, meia-tropical, como a capital lusa, lhe surgem como o almejado paraíso perdido, como o hipotético lugar de uma futura história melhor, a „sua“ Europa. 80 MARIA ELISA ROSA DE ALBERGARIA SEIXAS Escola Secundária Jaime Moniz Portugal [email protected] Habitar o Feminino – Uma Perspectiva Feminista Pretende-se, com esta comunicação, problematizar a suposta impossibilidade que algumas correntes feministas colocam relativamente ao conceito de Feminino. A partir das teorias consideradas como pós-feministas (Macedo e Amaral, 2005) mas que são muito próximas à Desconstrução, nomeadamente ao trabalho desenvolvido por Jacques Derrida - procurar-se-á abordar a possibilidade de relação entre feminismo e feminino, na senda do trabalho desenvolvido por Hélène Cixous e Luce Irigaray relacionando-o com a escrita de Clarice Lispector. Pretende-se fundamentar que um feminismo que não tem medo do feminino (e um feminino que não tem medo do feminismo) funda-se a partir da necessidade absoluta da linguagem enquanto idioma relacional. Uma linguagem arqui-originária que coloque lado a lado, os subjectivismos feminino e masculino - não num registo solipsista, mas num registo simétrico de diálogo fundado na diferença. Palavras-chave: Feminismo, Feminino, Desconstrução, Linguagem, Diferença 81 MARIA GLÓRIA PARRA SANTOS SOLÉ Universidade do Minho [email protected] A Fecundidade no Antigo Regime (1593-1850) numa Paróquia Rural do Alto Minho A substituição das gerações, o equilíbrio que se procura, é algo que preocupa os homens, quer dos tempos idos, quer dos nossos dias. O estudo da evolução demográfica de uma população passa pela análise da capacidade reprodutiva dos seres humanos. A fecundidade é uma variável importante na explicação do ritmo de crescimento da população, regulada pela conjugação de uma série de mecanismos, variando consideravelmente segundo as populações e as épocas. Procurámos nesta comunicação analisar a evolução da capacidade reprodutiva numa paróquia rural do Alto Minho, de 1593 a 1850, recorrendo a indicadores que nos permitiram analisar os seus ritmos, as rupturas, as descontinuidades e as permanências. Questionamo-nos em que medida a variabilidade da fecundidade na paróquia da Meadela, foi condicionada por uma série de mecanismos, conscientes ou não, dos comportamentos individuais ou colectivos, assim como por variáveis como a nupcialidade, a mortalidade e mesmo a mobilidade (emigração), regulando a capacidade reprodutiva das mulheres da Meadela ao longo de três séculos. Relativamente à fecundidade nesta paróquia, constatámos que ao longo da observação, nasceram mais rapazes que raparigas, tendência que se inverteu na primeira metade do século XIX. A elevada idade média ao casamento das mulheres não afecta, contudo a descendência esperada numa época de fecundidade não controlada, confirmada pela elevada descendência teórica, que ronda os 9 filhos. Encontrámos por isso, uma alta taxa de fecundidade, concentrando-se nos grupos etários dos 20 aos 34 anos. Esta paróquia, destaca-se em relação às outras paróquias do Alto-Minho, por apresentar uma elevada taxa de fecundidade, claramente evidenciada pelo número médio de filhos nascidos por famílias de 4,5 e de 4,6 de média para as famílias fecundas. A infecundidade não foi um problema detectado nesta paróquia. O mesmo não se pode dizer sobre a ilegitimidade que se apresentou significativa particularmente para o século XVIII. 82 MARIA TERESA COIMBRA FERREIRA MONTEIRO Universidade de Coimbra Portugal [email protected] O Sexo e a Cor – do Vermelho Sangue ao Patriótico This study tests male and female university students‟ ability to recognise and name colours. Based on the Greene and Gynther Behavioral Self-report of Femininity Test, and the Rich table, students were first asked to name as many colours they could in a determined time. They were then asked to give names to colours shown in a pallete. Finally, they were given a list of colour names to be associated to its familiarity degree. Women were expected to be able to obtain better results than men; a significant positive correlation between the naming of colours and the familiarity tests was also expected to occur. The data indicated that the colour-related differences in the production of words related to colour by male and female individuals were bigger than expected from an analysis of the English-speaking linguistic literature on this subject area. Female individuals not only recognised more colour vocabulary but they were also able to generate more words related to colours. Although this study doesn‟t supply data related to the development of the difference between sexes and to the ways in which this difference is discursevely constructed, results unveil some degree of difference between sexes, in terms of colour naming and the necessity to consider other factors such as job and age, when refering to this ability. 83 MARIA ZINA GONÇALVES DE ABREU Universidade da Madeira Portugal [email protected] ORADOR CONVIDADO / KEYNOTE SPEAKER O Sagrado Feminino: Da Pré-História à Idade Média” O presente estudo centra-se na análise da evolução do perfil sócio-religioso da Mulher europeia, desde os primórdios das civilizações pré-Cristãs até ao final da Idade Média. Começaremos por perscrutar a história numa tentativa de encontrar elos de ligação entre as experiências religiosas femininas nas sociedades pré-Cristãs e os arquétipos misóginos manifestos na Bíblia bem como nas obras da Patrística e de autores da Antiguidade Clássica. Seguidamente analisaremos a evolução do estatuto religioso da Mulher durante a Idade Média, nomeadamente a sua ação como agente ativo e passivo no movimento cristão primitivo e na fundação e consolidação da Igreja Católica. 84 MARLENE DA CONCEIÇÃO VASQUES LOUREIRO Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Portugal [email protected] O Género e as Diferenças Comunicativas entre Homens e Mulheres A sociedade acredita, atualmente, na igualdade entre Homem e Mulher. Não obstante, o que se constata no dia-a-dia são diferenças. Apesar de se afirmar que ambos têm as mesmas competências, atitudes, sentimentos e aptidões, em vários contextos e de várias formas se nota que o homem e a mulher são diferentes, nomeadamente no que diz respeito à interação comunicacional e discursiva, uma vez que nem sempre interpretam a linguagem/mensagem do mesmo modo. As razões dessas diferenças de género na comunicação são de ordem biológica, psicológica e, principalmente, de ordem sociocultural. De facto, as origens das diferenças de género dos estilos discursivos em interação remontam aos papéis tradicionais que relegam a mulher para o reino doméstico e o homem para os negócios e o mundo exterior. Embora estes papéis estejam a mudar na nossa sociedade, a verdade é que as normas sociais e as normas de interação que lhe estavam associadas ainda se mantêm e impedem a mudança. Por outro lado, o facto de a mulher entrar cada vez mais em áreas comummente masculinas não vem mudar esta dinâmica, mas torná-la ainda mais complexa. Neste contexto, luta-se por uma linguagem mais inclusiva, que elimine o sexismo presente na linguagem. Assim, a presente comunicação visa mostrar a prevalência dessas diferenças linguísticas e comunicacionais entre homens e mulheres, apesar do esforço para a eliminação das diferenças. 85 MARYAM BARZEGARI BAGH BIDI English and Foreign Languages University Hyderabad, Andhra Pradesh, India [email protected] Gender Discrimination – A Case Study of Iran “Whatever they may be in public life, whatever their relations with men, in their relations with women, all men are rapists and that's all they are. They rape us with their eyes, their laws, their codes.” - Marilyn French, The Women's Room (1977) Marilyn French‟s quote is true when we think of the woman condition as a whole and across the globe. The oppression of women is a matter of international concern and attempts have been made to go deep into the nature of the oppression from a theoretical and practical position by western feminist scholars while in countries such as Iran there is still a certain backwardness both at the level of state policy and the attitudes of civil society. In The Second Sex (1949) Simon De Beauvior states her well-known argument: “One is not born a women; one becomes one.” Her main contention was women and their relationship to men and women‟s subjectivity are not innate but constructed within a patriarchal society. My object is to assess the prevalence of human rights abuses since 1979 in Iran, along with attitudes related to women's values and human rights and women's rights and roles in society based on the argument that their inferiority was culturally imposed rather than naturally derived. This essay is about growth of feminism in one country called Iran customarily classified as “third world.” Male dominance over women is deeply ingrained within the many facets of Iranian culture and law, contrary to the experience of women in the western world where women‟s struggle for equal political and legal rights were conducted against the background of largely successful intervention within political, economic, social and military systems. It was inevitable that the ambivalences, conflicts and changes introduced into economic and social life in Iran through Islamic culture had its impact on the character of women‟s movement in Iran. 86 MAVIS YILDIRIM Uludag University Turkey [email protected] Ethnic Discrimination Experiences of Turkish Roma Women and it is the impact on their Self-esteem. According to European Records there are 10 to12 million Roma people living in the EU and in candidate countries. It is widely accepted that Roma community are the most discriminated minority group within the European Union zone. A significant number of Roma people live in very poor social-economic conditions and suffer high levels of unemployment, poverty, negative stereotyping, prejudice, discrimination, bad housing, poor health and general exclusion from the societies in which they live. The author suggests that Roma Women suffer from a multiple discrimination due to their ethnic background and gender both in their communities as well as in the world of work. Turkish Roma people have been subject to very few studies yet. The author has centred this survey upon the city of Bursa, which is the fourth largest city in Turkey with a population of two million, this including approximately 150 thousand Roma people. This study aimed to examine how perceived ethnic discrimination has an impact on selfesteem level among the Turkish Roma Woman. The level of discrimination examined using the “Perceived Ethnic Discrimination Scale-Community Version” and the “SelfEsteem Scale” for the purpose of demonstrating the relation between ethnicity and selfesteem. Key Words: Women, Ethnic Discrimination, Gender, Labour Market, Self Esteem 87 MICHELLE A. MAYEFSKE University of Limerick Ireland [email protected] The Twenty-First Century Whore: the Patriarchal Representation of Women in Hardcore Pornographic Film This paper aims to illustrate how traditional patriarchal norms are currently flooding our society through sexual imagery. Using psychoanalytic theory, this paper interprets the portrayal of the female body as featured in American hardcore pornographic film. The films analyzed for this paper are within a specific fetish subgenre in which phallic objects are employed to penetrate the bodies of women. Within these films, the bodies of women are reduced to their “holes”: vagina, anus and mouth. Women‟s lack of a male penis is emphasized throughout the films as they are being reduced to their orifices. The patriarchal image depicted of the female body is of a lack which must be “fixed” or filled to maximum capacity. The pornographic films analyzed for this paper guarantee the patriarchal image of female lack and inadequacy takes center stage by using three main methods. Firstly, a phallocentric discourse is used to depict the bodies of women as nothing more than their holes. This male-dominated language emphasizes the primacy of the penis while limiting the female body to an absence. This discourse occurs in both captions presented within the films and is spoken by male and female performers onscreen. Secondly, the films provide a depiction of the female body which emphasizes its lack and emptiness. Viewers are frequently reminded of the hollowness of women‟s bodies. A third way in which women are reduced to their orifices is when the films highlight the passivity of the female body. Women are often depicted as actively seeking sexual gratification to satisfy their desires, but these desires are all portrayed as having the passive aim of being penetrated. Through phallocentric discourse and limiting the image of women to lack and passivity, the films succeed in depicting the female body as disadvantaged and envious of the male organ. 88 PAULO ESTEIREIRO Gabinete Coordenador de Educação Artística Funchal, Portugal [email protected] Educação, Emancipação e Criatividade Feminina através da Música na Madeira (1820-1930)" No primeiro quartel do século XIX, uma nova tecnologia começou a ser difundida de forma massiva na Europa, a qual viria a ter grandes consequências no papel da mulher ao nível social: o piano. Devido à restrição da mulher ao espaço doméstico, a prática musical ao piano foi aceite desde o início como uma actividade benéfica e começou progressivamente a fazer parte integrante da educação feminina. Apesar de hoje em dia ridicularizar-se uma educação feminina centrada na prática do piano e na aprendizagem do francês, no século XIX estas práticas permitiram um aumento das funções sociais da mulher. O facto da mulher poder cantar árias musicais acompanhando-se ao piano ou mesmo tocar uma dança, veio reforçar primeiramente o papel da mulher como responsável pelo entretenimento familiar e, posteriormente, como cidadã activa fora do espaço doméstico em causas de caridade, através da organização de serões de beneficência. A prática musical e a organização deste tipo de récitas tornaram a mulher motivo de notícia na comunicação social, visto que os serões domésticos e públicos eram divulgados nos jornais da época. Na comunicação social, divulgava-se também o feito de algumas mulheres que estudavam música fora da Madeira e até no estrangeiro, o que demonstra também a importância da prática musical como factor de emancipação da mulher. Além de permitir a realização de estudos em contexto escolar, a música foi também uma profissão social aceite para as mulheres. Por exemplo, a nova profissão de Professor de Piano, inicialmente restrita aos homens, foi progressivamente sendo ocupada pelas mulheres, principalmente na segunda metade do século XIX, tornando-se assim um dos primeiros espaços conquistados pela mulher no domínio do ensino. Um outro aspecto curioso é o facto de através do piano terem começado a aparecer mulheres a criar músicas originais. Existem várias mulheres madeirenses que nos deixaram, na segunda metade do século XIX, composições originais, demonstrando assim que o piano contribuiu também para a emergência da mulher como individualidade criativa. 89 PAULO MIGUEL RODRIGUES Centro de Competências de Artes e Humanidades Universidade da Madeira Portugal [email protected] Representações da Mulher Madeirense na Literatura de Viagens NorteAmericana (1838-1900): Contributo para o Estudo da Madeirensidade É reconhecida a importância da Ilha da Madeira durante o século XIX, enquanto entreposto atlântico - de gentes, géneros, bens e ideias - tirando partido da sua posição geoestratégica, directamente ligada às rotas navais entre os Hemisférios Norte e Sul, junto à entrada no Mediterrâneo e a cerca de 325 milhas náuticas da costa africana. Graças a esta posição no Atlântico, a Ilha cativou o olhar de políticos, cientistas, escritores, exploradores e até de simples viajantes ou aventureiros, que por motivos diversos, a ela aportaram, para passarem algumas horas ou permanecerem mais tempo, durante semanas ou meses. Os registos dessas experiências ficaram, na maior parte das vezes, em capítulos de obras que relatam viagens para outros destinos (os relatos de passagem, nos quais a Ilha surge apenas como uma etapa de um percurso muito mais vasto, no espaço e no tempo) ou em textos de maior extensão e profundidade sobre o espaço insular madeirense (o memorialismo da Madeira, onde a Ilha é objecto de análise, inserida num percurso mais limitado, que no extremo se alarga apenas a outras realidades atlânticas, da costa ocidental africana e/ou às Caraíbas). Neste quadro geral, se é certo que os britânicos cedo assumiram um forte predomínio entre as inúmeras narrativas de viagem publicadas ao longo do século XIX que tiveram a Madeira como objecto discursivo, também é verdade que a partir da década de 1850 se tornou evidente a concorrência de autores germânicos, franceses e estado-unidenses. É exactamente sobre a(s) representação(ões) da mulher madeirense expressa(s) em alguns relatos destes últimos, tantas vezes esquecidos ou mesmo ignorados - senão mesmo confundidos com os britânicos - que incidirá a nossa comunicação. O nosso corpus - constituído por cinco textos, publicados entre meados dos anos 40 e o final do século XIX - alicerçou-se numa hipótese descurada na historiografia madeirense e em estudos afins, no âmbito das Artes e Humanidades e das Ciências Sociais e Humanas: até que ponto, para além do seu intrínseco valor literário e cultural, estas narrativas de viagem são igualmente relevantes do ponto de vista historiográfico, por contribuírem, através da representação da mulher madeirense, para a construção do que consideramos ser a Madeirensidade, noção que, estranhamente, até por comparação com outras realidades insulares lusófonas e atlânticas, continua ainda hoje ausente do discurso académico sobre a identidade madeirense. 90 PETER YANG National Chiayi University Taiwan [email protected] Gender Differences of Undergraduate Students‟ Support Networks: A Social Network Analysis Gender is important for the understanding of the individual‟s networking behaviour. As men and women may establish support networks quite differently, it should be one of educational practitioners‟ main concerns. In this paper, multiple aspects of male and female network structures were examined. Methodologically, we used two same-gender samples from a college in Taiwan to explore the different characteristics of male and female students‟ support networks. The participants were undergraduate students, and they were asked about the experiences of receiving psychosocial and instrumental support from their peers in the past three months. Complete network data were collected. Dyadic data, drawn from the interaction between two network members, revealed the fundamental characteristics of mutual support occurring in the samples. Social network analysis was employed as a practical methodology to study the structural characteristics. The key elements constituting network characteristics include: dispersion, homogeneity, intensity and reciprocity. The results indicate that men and women used quite different networking strategies for the attainment of social support. Male and female students‟ different use of networking strategies (i.e. bonding and bridging social capital) may relate to the varying structure of the two networks. As this study employed an exploratory approach, gender was only examined in terms of its link with network structure. Complicated explanations concerning how gender effects influence the process linking network structure and learning outcomes were not sufficiently addressed. For the reason, we suggest that a further examination based on solid theoretical perspectives is needed. Implications for theoretical advancement and educational practices are discussed. Keywords: Gender Education, Networking, Social Capital, School Counselling Short Description: Using social network analysis, this paper discusses multiple aspects of male and female network structures. Gender differences of networking were examined. 91 RALUCA BIBIRI Center of Excellence in the Study of Image University of Bucharest Romania [email protected] Conflicted Self: (Re)fashioning the Woman in Communist Romania The paternalistic Romanian communist regime heavily propagandized the "emancipation" of women. As we all know by now, it was all fake. In contrast to most Western societies however, the Romanian communist regime created a social setting that tried to discourage gender difference. Traditional feminine values were neither praised nor encouraged in either official ideology or culture; while at the same time in the West, Hollywood was setting the agenda for the 'ideal' feminine woman. In Romania, the traditional male-female gender distinction became associated with the prewar society characterized as the enemy of the regime. Communism in Romania was less of a Marxist experiment in turning private property public than an on-going process of identifying and eliminating all private manifestations considered to be bourgeois. It therefore presented a radical opportunity for women to explore new identities. Looking back however, one notices that women did develop some common practices in fashioning their womanhood in reaction to the new social settings. Be it from inside the system or in opposition to it, their literary testimony depicts a narrative of a conflicted self, split between private and public. Neither writer conceived of such personal issues in terms of 'gender', but their struggle was nevertheless visibly woman-specific. My research into literary texts and rich visual material from television archives, focuses on documenting such self-fashioning. My presentation will stage both relevant textual and visual spaces, in order to provide better insight into the "dialectic" of womanhood in a communist setting- the public vs. private; a dialectic within the dynamic of the self that marxist-propaganda failed to include on its agenda. 92 RAMONA VIJEYARASA University of New South Wales Sydney, Australia [email protected] Roadblocks to Counter-Trafficking: a Comparative Analysis of Vietnam, Ghana and Ukraine The exploitation of migrant women abroad through trafficking and trafficking-like conditions remains a global phenomenon. The purpose of this paper is to highlight the global similarities and differences in the major barriers to countering the traffic of women through a comparative study of Vietnam, Ghana and Ukraine. This paper is based on fieldwork carried out in all three countries from July 2009 to November 2010, including 52 interviews with key informants and first-hand data collected from 109 returned victims of trafficking. This research identifies various political, legal, sociocultural and economic road-blocks that continue to hinder efforts to counter trafficking in all three research countries. In relation to the role of governments, barriers span challenges in the reliability of government data and the impact of criminalisation of sex work and stigmatising attitudes towards trafficked victims, particularly in Ghana and Vietnam. In Ukraine, the lack of strong involvement in prevention or even direct service provision by government to support the reintegration of its country‟s victims undermines the sustainability of counter-trafficking efforts. Further challenges remain stereotypes concerning who constitutes a victim of trafficking, with Vietnam particularly focused on trafficking of women and children, with adult victims largely neglected from Ghanaian discourse altogether. Sexual stereotypes continue to shape the view that trafficking is an issue largely impacting women. Cultural attitudes concerning economic betterment abroad also drive migrant movement in the first place, particularly in Ukraine and Ghana where the image of the successful migrant worker living abroad plays a significant role in circulating migrant myths and undermining awareness-raising regarding risks of exploitative labour abroad. Overall, the findings of this fieldwork provide the basis for recommendations for political reform, legal amendments and socio-cultural change in order to see more effective countertrafficking efforts in the future. 93 RAPHAELLA CORREA CRISTÓFANO Instituo Superior de Contabilidade e Administração do Porto – ISCAP Portugal [email protected] Angelina Jolie e a Formação da Imagem da Mulher na Cultura: O Diário de Minhas Viagens. O termo Deodontologia foi utilizado pela primeira vez pelo filósofo inglês Jeremy Bentham (1834), quando disse que a deontologia seria a ciência do que é justo e também conveniente que o homem faça, dos valores que decorrem do dever ou norma que dirige o comportamento do ser humano. Portanto, Deontologia é a ciência ou tratado dos deveres de um ponto de vista empírico, que designa, o conjunto de regras e princípios que ordenam a conduta do homem, cidadão ou profissional. Com frequência ela é utilizada para designar ética profissional ou a moral do exercício de uma profissão, resultado da reflexão dos profissionais sobre sua prática. Nesse sentido, destacamos que, “Ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. É uma ciência, pois tem objecto próprio, leis próprias e método próprio. O objecto da Ética é a moral” (VÁZQUES: 1995, p. 12). A crise da Humanidade é uma crise moral, pois os descaminhos do ser humano, reflectidos na violência, no egoísmo e na indiferença, resultam da fragilidade dos valores morais. Sendo assim, cabe à Ética recompor o referencial de valores básicos de orientação do comportamento, viabilizando um futuro mais promissor para a Humanidade. Partindo disto, pretende-se com esta comunicação analisar o trabalho humanitário desenvolvido pela actriz Angelina Jolie, por meio de seus relatos em sua obra, O Diário de Minhas Viagens, de demonstrar um exemplo de ética para o mundo, através dos seus actos de solidariedade, representando assim, uma forte influência feminina fora de seu contexto social ao contribuir e interagir com outras culturas. 94 RICARDO DUARTE Centro de Estudos Clássicos Universidade de Lisboa Portugal [email protected] O Horror da vingança na Medeia de Séneca O mito de Medeia é talvez um dos mais célebres da Antiguidade Clássica. A feiticeira neta do Sol, sobrinha de Circe e que ousa matar os próprios filhos é uma das personagens mais terrivelmente fascinantes da mitologia greco-latina, por despertar sentimentos contraditórios e profundamente cruéis, que inspiraram incontáveis artistas. Do tratamento que esse mito recebeu na tradição latina, avulta a Medeia de Séneca, advogado, escritor, mas sobretudo filósofo, estóico. Tendo composto uma vastíssima obra de conteúdo moral, Séneca terá visto no género trágico um meio mais acessível para expressar a sua preocupação com o bem moral. São propósitos da nossa comunicação dar conta do retrato que, à luz da doutrina estóica, Séneca faz de Medeia, de modo a, partindo dele, mostrarmos como esse retrato é negativo, porque a distancia das outras mulheres e das atitudes que de uma mulher então se esperavam; acompanhar a evolução do comportamento de Medeia ao longo da peça, a fim de ressaltar o que ele traduz de dúvida e contradição num espírito em evidente desvario; prestar particular atenção ao final da peça, em que, levando a cabo o inconcebível, Medeia se transmuta de mãe em monstro, legando para a posteridade a atrocidade a que sempre estará associada. 95 RODRIGO FURTADO Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Portugal [email protected] Quando os Santos se Zangam: Melânia-a-Antiga, cuius nomen nigredinis testatur perfidiae tenebras (Jer. ep. 133.3). As cartas de Jerónimo revelam-no particularmente próximo de uma elite cristã particularmente „feminina‟. De facto, o famoso tradutor da Bíblia torna-se conhecido, entre tantos outros factores porventura mais relevantes, pela importância do seu „séquito feminino‟, de onde se destacam nomes como Albina, Marcela, Asela, as duas Paulas, Blesila ou Eustóquio e, num primeiro tempo, Melânia-a-Antiga. A opinião de Jerónimo acerca desta última, no entanto, não durou: já em Belém falará daquela, cuius nomen nigredinis testatur perfidiae tenebras. A etimologia de Melânia (cf. μελανία=nigredo) apontava, de facto, para a escuridão. Contudo, Melânia era, bem pelo contrário, uma mulher clarissima, casada com um clarissimus, mãe de outro clarissimus, aparentada com os mais influentes homens (e mulheres) da Urbe – Paulino de Nola era seu familiar e Evágrio Pôntico e Agostinho de Hipona mostram-se seus amigos próximos e admiradores; conseguirá casar o seu filho único com a irmã do influentíssimo Volusiano (praef. Urb. 417-418), da família dos Cejónios. Em bom rigor, a rede de influências de Melânia parece maior do que a de qualquer uma das amigas de Jerónimo. Contudo, não deve ter sido isso que distinguiu verdadeiramente Melânia das fiéis amigas de Jerónimo: Melânia era também uma mulher interessada em teologia – si feminam dici licet tam uiriliter Christianam (!), como admite o próprio Paulino. E isto foi fatal para uma amizade entre santos. Será objectivo desta comunicação esclarecer os principais traços desta relação. 96 RUI CARLOS FONSECA Centro de Estudos Clássicos Universidade de Lisboa Portugal [email protected] Crissorroe: de Donzela indefesa a mulher astuciosa A mulher é representada na poesia homérica ora como causa de infortúnios desmedidos, ora como obstáculo à, guia para ou meta a alcançar na viagem; possui uma beleza extraordinária, estando, por norma, circunscrita à área doméstica, ocupada com o tear, o canto e o governo da casa. Tais aspectos são, em menor ou maior grau, acentuados ou abandonados no romance grego antigo. Crisorroe é a protagonista de um romance grego da época bizantina, de autoria incerta, Os amores de Calímaco e Crisorroe. Devido à sua formosura semelhante à da própria Afrodite, esta donzela é, por duas vezes, vítima de rapto e, de ambas as vezes, salva por um herói, que mais se destaca pela insegurança e pelo comprazimento na dor perante a adversidade do que pela execução de feitos gloriosos. A tibieza característica da figura masculina contrasta com a audácia resoluta da heroína romanesca, não votada, neste cenário, a um papel passivo. Frágil e delicada apenas na aparência, a mulher, neste romance grego, alheia aos trabalhos domésticos, está muito mais próxima da figura do herói homérico, no que respeita à rápida tomada de decisão e à capacidade de engendrar ardis para ultrapassar os perigos que sobre ela recaem. Nesta comunicação, pretendo tratar da configuração épica e romanesca do retrato de Crisorroe, não só mediante o contraste com o par masculino, mas também através da comparação com o modelo homérico. Prestar-se-á especial atenção às analogias temáticas entre Crisorroe e Penélope: ambas concebem os planos que permitem aos respectivos amantes ultrapassarem com sucesso as situações de perigo. Assim como a identidade heróica de Ulisses na Odisseia é definida por Penélope (Nagy, The Best of the Achaeans, p.35), assim também o estatuto heróico de Calímaco só se entende na dependência de Crisorroe. 97 SANDRA ÁLVAREZ RAMÍREZ Editorial Cubaliteraria Cuba [email protected] Las Mujeres Negras Cubanas: Identidad, Estereotipos Raciales y Representación en los Medios. En la presente ponencia se examinan aspectos psicosociológicos de la identidad racial de las mujeres negras cubanas partiendo de los puntos de encuentros entre la identidad nacional y la racial, a partir de la valoración del racismo y discriminación racial en la nacimiento de la nacionalidad cubana. Se debate acerca de la terminología propuesta para designar la negritud en Cuba, particularmente a las mujeres negras. Luego se aborda el mito de la hipersexualidad de la mujer negra, aun presente en el imaginario social cubano, y como en consecuencia ellas son representadas en los medios de comunicación: audiovisuales, videos clips, etc. Por último se comentan resultados de investigaciones realizadas en la isla que revelan las consideraciones que sobre las mujeres negras cubanas, (actitudes, habilidades, belleza, etc) tienen las mujeres blancas y los hombres blancos y negros. 98 SARA MAGALHÃES CARLA CERQUEIRA CONCEIÇÃO NOGUEIRA ROSA CABECINHAS Escola de Psicologia da Universidade do Minho CECS da Universidade do Minho Portugal [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] Aceitar, Rejeitar ou Questionar: uma Análise Crítica sobre as Percepções das/os Receptoras/es dos Produtos Mediáticos Ao longo das últimas décadas tem existido no campo dos estudos feministas dos media a preocupação de olhar para as/os receptoras/es dos conteúdos enquanto elementos activas/os na produção dos significados veiculados. Neste sentido, não é possível dissociar produtoras/es e receptoras/es mediáticos, uma vez que as/os primeiras/os devem ter bem presentes dimensões cognitivas, emocionais e culturais, fundamentais para perceber de que forma é que os conteúdos a que dão origem são percebidos, compreendidos, aceites ou rejeitados pela sociedade. A este respeito, podemos mencionar a existente tensão entre os discursos hegemónicos (re)produzidos pelos media e as narrativas contra-hegemónicas das audiências. Aliás, diversos estudos revelam uma assimetria nas representações de género transmitidas pelos media, a qual tem contribuído para a persistência de estereótipos e desigualdades sociais entre homens e mulheres. No sentido de melhor compreender esta relação entre produtoras/es e receptoras/es mediáticos, seleccionámos para análise as duas revistas semanais de informação generalista mais lidas em Portugal (Visão e Sábado). Nesta comunicação pretendemos apresentar um estudo exploratório centrado na recepção, o qual faz parte de um projecto de investigação mais amplo que estamos a desenvolver. Assim, optou-se por questionar jovens adultos, homens e mulheres (entre os 18 e os 30 anos), pelo entendimento de que constituem um grupo que, embora não seja homogéneo, tende a evidenciar uma matriz de expectativas, valores e comportamentos semelhantes, pautados nas sociedades contemporâneas. Além disso, estes caracterizam-se pela busca constante de informação, sendo por isso alvos privilegiados dos discursos mediáticos. Portanto, com esta apresentação, e através de uma reflexão crítica que coloque o cerne na relação da tríade produção/recepção/intervenção, pretendemos contribuir este debate contemporâneo. Palavras-chave: género, media, estudos recepçã 99 SEILLE CRISTINE GARCIA-SANTOS Pontifícia Universidade Católica Do Rio Grande do Sul / Brasil [email protected] ANA P. ANTUNES Universidade da Madeira / Portugal [email protected] Mulheres Gerentes Empresariais: Um Estudo sobre suas Características de Personalidade Um dos fatores determinantes do sucesso no trabalho é a personalidade daquele(a) que é referência em sua área de atuação, sendo que algumas características de personalidade são ditas como preditoras do alto desempenho no trabalho gerencial. Algumas discussões tem creditado o sucesso gerencial das mulheres a algumas características de personalidade consideradas correspondentes do gênero feminino, destacam-se: o cuidado com os outros, a capacidade de executar várias tarefas ao mesmo tempo e a integração a grupos.O reconhecimento dessas características ocupa posição central para estudiosos do tema, assim como a detecção de ferramentas adequadas para essa apreensão. Participaram deste estudo 18 gerentes do sexo feminino, de nível tático, de empresas de grande porte brasileiras, entre 33 e 53 anos, sendo que todas receberam notas elevadas em sua avaliação de desempenho e são reconhecidas por seus superiores imediatos e pares como referência de excelência em sua atuação. Utilizou-se um método projetivo para avaliação da personalidade - Rorschach, Sistema Compreensivo – objetivando a isenção das respostas dirigidas pela desejabilidade social. Os resultados permitem dizer que essas gerentes apresentam médias compatíveis para todas variáveis na comparação com os índices normativos brasileiros (Nascimento, 2007), destacandose níveis positivos mais elevados quanto à capacidade de tomar iniciativa de forma ativa e cooperativa, envolvendo as pessoas da equipe em suas decisões; capacidade de analisar as situações e problemas indo do amplo para o objetivo e prático, sem perder-se nos detalhes, o que também possibilita adequado manejo do planejamento sendo que 44% delas é do tipo extratensivo e 39% do tipo introversivo. 100 SHEILA CORRÊA CRISTÓFANO Universidade do Minho [email protected] Democratização das Sociedades Modernas: The Suffragettes e o seu Contributo para o Voto Feminino As iniquidades de género evidenciam a existência de estruturas de dominação que alteram significativamente um dos princípios fundamentais de sociedades democráticas, a igualdade de oportunidades entre os distintos grupos sociais (MARSHALL, 1950; TOCQUEVILLE, 1994). A permanência da desigualdade de género (ENLOE, 1989; FLAX, 1987; PETERSON e RUNYAN, 1999), aponta para a limitada democratização da sociedade, ao indicar que a democracia procedimental (SCHUMPETER, 1976) em vigor na arena política formal inexiste em outras esferas (BOBBIO, 1986), seja no ambiente doméstico, no mercado de trabalho ou no plano das relações sociais entre indivíduos. Quando isso ocorre, o mais democrata dos homens na res pública (ARISTÓTELES, 1998) mantém-se na condição de déspota privado (ARAÚJO e SCALON, 2006; BURNS, SCHLOZMAN e VERBA, 2001); desigualdades entre homens e mulheres, no seu acesso às profissões modernas, no padrão de recrutamento e promoção perduram no mercado de trabalho (ENLOI, 2001; FRIEDAN, 1963; LOPES, 2006; MONROE, OZYURT, WRIGLEY e ALEXANDER, 2008); e valores sociais tradicionais obstaculizam a liberdade de ação da mulher (HTUN, 2003; JOHNSON, 2002; VARGAS, 2002; WAYLEN, 2003; WILLMOTT, 2002). Partindo desse ponto, esta comunicação pretende verificar mediante a fundação Millicent Fawcett, a União Nacional do Sufrágio das Mulheres, em que medida esse movimento mudou o futuro em relação às mulheres, não somente no que diz respeito ao voto, mas também ao que se referente à muitas conquistas importantes alcançadas posteriormente. Há ainda na sociedade, a hostilidade em relação ao princípio da igualdade de género acompanhada por valores, atitudes e comportamentos no plano social e/ou moral indicativos de intolerância em relação à diversidade social e de baixo apoio ao regime democrático no plano político? Em algumas sociedades, há um contínuo entre valores tradicionais no que se refere aos papéis atribuídos aos géneros e atitudes indicativas de conservadorismo moral e social e de autoritarismo na esfera política? 101 SILVIA MARISA DOS SANTOS ALMEIDA CUNHA Universidade de Aveiro [email protected] Guiomar Torrezão e a inscrição ficcional do diário: uma arte discreta da transgressão O romance-diário é um subgénero literário que emerge em concomitância com a crescente popularidade do género autobiográfico, mas também em virtude da sua componente estético-ficcional, proporcionando ao leitor uma visão privilegiada do protagonista pelo acesso irrestrito à sua interioridade. Nesta perspectiva, reproduz, por vezes, vozes polémicas e disruptivas. Devido a múltiplos factores, a mulher autora tem sido uma presença assídua na trajectória evolutiva do género, tendo sabido aproveitar as especificidades deste género para dar voz às suas ânsias, desejos e angústias. No final do século XIX, numa sociedade ainda fundamentalmente patriarcal, em que a mulher era um adereço sem expressão nas suas poucas aparições sociais, Guiomar Torrezão introduziu o género entre nós e usou este formato ficcional, ainda que de forma tímida, para veicular uma visão polémica acerca da instituição do casamento, da subjugação da mulher e da educação. Assim, nesta comunicação, salienta-se a importância de Guiomar Torrezão na delineação de uma nova imagem da mulher. Por um lado, ela própria se assume como mulher-escritora, numa época em que só o homem escrevia por profissão, e, por outro, inscreve no espaço da sua escrita uma interrogação sobre o papel social imposto à mulher, tendo para o efeito mobilizado uma modalidade de expressão inédita, compaginável com os seus propósitos didáctico-reformistas – o romance-diário. 102 SÍLVIA PORTUGAL Universidade De Coimbra Portugal ORADOR CONVIDADO / KEYNOTE SPEAKER A situação das mulheres no Portugal contemporâneo: Mudanças e continuidades 103 SIMONE FREITAS DE ARAÚJO FERNANDES Universidade do Minho Portugal [email protected] A Bela e a Fera. Os estereótipos femininos e os 50 anos de publicidade televisiva no Brasil e Portugal Este artigo analisa e compara a presença de estereótipos femininos no campo publicitário televisivo brasileiro e português, tendo como objectivo principal investigar o uso da imagem feminina na publicidade actual. Através do método quantitativo de Análise de Conteúdo, foi elaborado um estudo comparativo entre spots televisivos, veiculados no Brasil e em Portugal em dois períodos específicos: anos 50/60 no Brasil, anos 57/67 em Portugal e 2000/2010 em ambos os países. Ao todo, 85 anúncios foram analisados através de uma grelha de análise, que teve como base a verificação da presença de estereótipos, de elementos que compõem a estratégia criativa publicitária e itens como tipo de anúncio, categoria do produto, voz off, entre outros. Diante dos resultados obtidos, diversos aspectos semelhantes entre os países foram encontrados, apesar de certas particularidades também não passarem despercebidas. Palavras-chave: Estereótipos de género, publicidade, estratégia criativa, análise de conteúdo. 104 SIRLENE CRISTÓFANO Faculdade de Letras da Universidade do Porto Portugal [email protected] A Formação da Imagem da Mulher em Lygia Bojunga Nunes Se o escritor, de acordo com Bathes, é o que fala no lugar do outro, ao considerarmos a crescente produção literária visando o público infantil e juvenil, caberia nos perguntarmos quem fala no lugar da criança? Podemos dizer que a infância não se fala e o discurso dos outros é que a define. A Literatura portanto, um desses tantos discursos, é uma das vozes responsáveis pelas imagens de infância que se constroem. E uma voz poderosa, posto que mergulha no imaginário colectivo e (re)define o modo como esse ser é visto e tratado. E, quando se trata das questões de género? Como a literatura, particularmente a infanto-juvenil, apresenta a infância feminina? Como se dá a problematização do tornar-se mulher em textos de autoria feminina destinados ao público infantil e juvenil, como é o caso de Lygia Bojunga? Partindo desse ponto, esta comunicação pretende discutir a representação da personagem feminina infantil na obra de Lygia Bojunga, em A Bolsa Amarela (1976), à luz da discussão sobre a crise de identidade na pós-modernidade, contemplada por Stuart Hall (2006), bem como as implicações da fragmentação da identidade no terreno literário, especialmente na construção das personagens. A autora reserva tratamento especial à personagem criança, desmistificando noções históricas e culturais que temos a respeito da mulher, de modo que se revela pertinente um olhar mais cuidadoso para a obra dessa autora à luz dos estudos culturais e da construção da alteridade. 105 SOFIA MARTA PESTANA SÁ VIEIRA Escola Básica e Secundária D. Lucinda Andrade Portugal [email protected] Do Silêncio À Voz: A Personagem Feminina em A Vocation And A Voice De Kate Chopin What is usually told about Kate Chopin is that she was a much acclaimed, much-loved author of charming Louisiana local colour stories, until the day she published The Awakening (1899) and received very harsh criticism that was responsible for the lack of critical consideration her literary output received since then. Nevertheless, the facts have proved that this was not true. Recently, modern critical theorists have directed researches in order to look for absences and silences and to deconstruct them in order to understand Chopin‟s life and work. This paper shall endeavour to meet this new awareness. A Vocation and A Voice (1991) broke new ground. It was altogether different from her previous collections of short stories, set in rural Louisiana, with a light bright atmosphere, humour, small and courageous deeds and few signs of true evil; in fact, most of them end happily, illustrating romantic self-sacrifices. In A Vocation and A Voice, characters contravene convention by choosing flesh instead of the values of the Church, reading private mail, having sex outside marriage, smoking hallucinogenic cigarettes, rejoicing at a husband‟s death, condoning murder, and deceiving wellmeaning nuns. These stories strike readers as odd, eccentric, often too alike, and exasperatingly vague. They usually end in disillusionment or death. The romances go wrong: there is no happily ever after. There is a significant development in Chopin‟s meditation on the female role. Focusing on these conflicts between one‟s ideals and the facts of human life, Chopin explored the uneasy resolutions the characters had to face. Through the confrontation between the inward existence, that Chopin saw as directly related to sexuality, and the outward existence that represses the first, Chopin illustrated the liberation of the self. The fight between these dual existences lingers as the central feature of her work. Even if some women have remained silent, others eventually gained a voice. 106 STEVE FLEETWOOD University of the West of England United Kingdom [email protected] ORADOR CONVIDADO / KEYNOTE SPEAKER Gendered Inequality at Work and in the Labour Market Even in today´s allegedly `post-feminist´ world, gendered inequality remains a problem for many women. It also takes many forms. This paper focuses specifically upon one specific form, namely gendered inequality at work and in the labour market. It identifies several commonly adopted policies designed to ameliorate or eliminate gendered inequality at work and in the labour market, and then questions whether these policies have been designed with the most fundamental and powerful causes of gendered inequality in mind. It also speculates on the likely effects of recent economic policies designed to deal with the alleged economic `crisis´ on gendered inequality at work and in the labour market. The paper adopts a trans-disciplinary approach, making use of concepts, themes and observations commonly found in economics, sociology, politics, organization and management studies, cultural studies, and related disciplines. 107 TAKAYUKI YOKOTA-MURAKAMI Graduate School of Language and Culture Osaka University Japan [email protected] Plastic Surgery and Its Representations in Cultural Texts: Challenging the Modern Masculine Dichotomies The recent development of the technology of plastic surgery has had contradictory implications for gender politics: it has both re-established the beauty cult, which women have been compelled to pursue, and demonstrated the contingency of physical beauty, deconstructing the masculine system of valorization. On one hand it has perpetuated the belief in “truth,” “spirit,” and “nature,” as opposed to artificial, external beauty. On the other it has made such “modern” distinctions ambiguous, obscuring the boundary between the core of personality and its ramifications, represented by hair-dying, cosmetics, tattoos, fashion, etc. This paper attempts to analyze the representations of plastic surgery in various cultural texts (film, fiction, comics, animation, etc.) and to explore the new images of “operated” personae and their significance for feminist politics. Some of the texts to be discussed are Okazaki Kyoko‟s graphic novel Helter Skelter, Kazuo Ishiguro‟s story from the collection Nocturn, and the film Faceless, all of which re-define in some ways the notion of beauty itself, both natural and artificial, and suggest new formulation of subjectivity. For instance, in Helter Skelter the heroine “Tiger Lily” is a top-model whose status depends on perpetual in-depth plastic surgery. The effect of the operation can be maintained only through excessive medication, which demonstrates the uncontrollability of contemporary technology and commercialism, to which women have fallen victim. Sadistic sexuality of this “Tiger” woman is probably a reversed metaphor for her victimization. After the collapse of her “artificial” beauty, however, she revives as a charismatic show-girl in Mexico. The ending, I would argue, instances transference of the feminist problematic to the racial, achieving post-colonial retaliation of the oppressed. By thus closely reading related texts and recognizing the cultural significances in their literary tropes and semiotic functions, I will seek to discover the emancipatory force of such cultural representations for women. 108 TALITA LEITE TAVARES (UFPB) LEONCIO CAMINO (UFPB) ANA RAQUEL ROSAS TORRES (UFPB) ALINE OLIVEIRA MACHADO (FAVIP) ANA ROGÉLIA D. NASCIMENTO (UFPB) KARLA SANTOS MATEUS (UFPB) [email protected] Compreendendo a Sexualidade em um Contexto Heteronormativo: Mulheres A sociedade atual é regulada pelo modelo da heteronormatividade que visa regular a pluralidade de expressões e suprimir as capacidades dos gêneros, construindo identidades sexuais coerentes com o eixo feminino/masculino. Tendo em vista o contexto sócio-histórico de construção das identidades sexuais e/ou de gênero das mulheres, observa-se que as mesmas ainda são alvo das consequências históricas, afetando suas individualidades, como a sexualidade. Assim, percebe-se que paradigmas importantes tem se desenvolvido ao longo do tempo para ambos os sexos (gênero, sexualidade, desejo, identidade). Eles se embasam em correlações fixas entre sexo/gênero/desejo, determinando processos de subjetivação nos quais o gênero seria determinado pelo sexo e ambos apontariam o objeto adequado ao desejo. Logo, o presente estudo teve como objetivo verificar como a heteronormatividade se apresenta às mulheres e como estas têm vivenciado seus desejos e sexualidades dentro de um contexto discriminatório. Participaram da pesquisa 177 mulheres estudantes universitárias, com idade entre 17 e 55 anos (M=24; DP=6), que já haviam iniciado a vida sexual. Para a coleta de dados, foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturado com questões relacionadas ao tema. A análise dos dados foi realizada com base na Análise de Conteúdo de Bardin e no Software ALCESTE. Os resultados demonstraram que, apesar dessas mulheres afirmarem a vivência do desejo, a liberdade sexual para está condicionada a um parceiro, sobretudo, em situação de união regulamentada socialmente, o casamento, evidenciando a vinculação da prática do desejo à afetividade. Algumas relatam viver uma sexualidade plena, contudo, não deixam de ressaltar a existência do preconceito que as contorna e um modelo que favorece o masculino. Muitas acreditam em uma diferença inata entre os sexos quanto à prática do desejo sexual; outras acreditam em uma diferença construída sóciohistoricamente, a partir de leis morais e valores, demonstrando uma naturalização das convenções sociais. Palavras-chave: Heteronormatividade; Mulheres; Identidades Sexuais; Gênero. 109 THIERRY PROENÇA DOS SANTOS Centro de Competências de Artes e Humanidades Universidade da Madeira CTPP – FLUL [email protected] Mulher e Morte: Leitura de Anúncios Necrológicos na Imprensa Madeirense Estabelecendo um paralelismo com o género epitáfio, procurar-se-á observar o topos da mulher nas mensagens pessoais patentes na necrologia da imprensa madeirense, através de signos da esfera semiótica e da tradição discursiva que forneçam subsídios para recortar os modelos femininos que a actual construção da memória celebra. Para tanto, fazer-se-á a análise de um corpus constituído por anúncios necrológicos colectados ao longo de 2010 e 2011 na referida imprensa. A pesquisa sobre esse “género fúnebre” terá como suporte teórico, principalmente, ferramentas conceptuais da Análise do Discurso. Palavras-chave: Anúncios necrológicos. Epitáfios. Análise do Discurso. Imprensa regional madeirense. Construção da memória. 110 THOMAS DELLINGER Universidade da Madeira [email protected] The Biological Dimension of Sex and Gender. Women between Sexual Selection, Parental Investment and Simple Survival. A Review and Outlook 111 VALERIJA VENDRAMIN Educational Research Institute Ljubljana, Slovenia [email protected] Epistemic Subjects and Situated Knowledges: Women, Feminists and Others I take as a starting point broadly defined feminist theory, which I perceive as a struggle for common or general knowledge and more narrowly defined feminist epistemology and its concept of situated knowledges. This concept includes a critical stance toward “universal” truths and a reflection on the situatedness of the researcher in the research project (as developed mainly by D. Haraway). I first present some fundamental postulates highlighting the socially embedded knowing subject and problems related to the notion of objectivity, and critically evaluate them. Then I inquire into the recognition that legitimation of knowledge claims is tied to the domination and exclusion. This line of thought finally brings me to “definitions” of epistemic subjects and to the relevant theories that reflect the problem of epistemic subject in general on the one side and the gender-related categories that need to be carefully rethought in order not to repeat the rigid traditional and/or canonized feminist concepts (internal critique is a necessity here) and I arrive to the last questions: how is the epistemic subject of feminism gendered and what are its epistemic limitations? I hereby participate in developing an up-to-dated theory of gender, which connects to feminist epistemology. 112 VERA MÓNICA DA SILVA DUARTE Universidade do Minho e ISMAI Portugal [email protected] Do outro Lado do Espelho: Vitimação e Agência na Infracção Juvenil Feminina A comunicação que se propõe resulta de uma pesquisa que está a ser desenvolvida no âmbito do meu doutoramento em Sociologia, sobre delinquência juvenil feminina, e pretende fazer cruzar dois grandes propósitos: Por um lado, pôr em relevo alguns dados preliminares deste estudo que tem procurado compreender os sentidos e os significados que jovens raparigas, em cumprimento de medidas tutelares educativas, constroem e atribuem à prática transgressiva nos seus percursos de vida, bem como descortinar, a partir das suas experiências e olhares, os contextos interactivos onde se desenvolvem essas práticas. Objectivos que têm sustentado as escolhas metodológicas da exploração de relatos biográficos e da construção de histórias de vida. Por outro lado, discutir as principais teorias que, ao longo do tempo, se têm construído em torno da relação entre a figura feminina e a transgressão. Objecto de invisibilidades, este tem sido um fenómeno remetido para "nota de rodapé", o que tem tido consequências quer no campo conceptual, quer na dimensão das práticas e da intervenção. Além disso, as breves referências que são feitas têm evidenciado a influência protectora dos papéis que a sociedade atribui à figura feminina e que têm vindo a explicar, mais a sua conformidade do que a propensão para a delinquência. Uma gender blindness que tem mantido a figura feminina invisível nos cenários e nas cenas da delinquência. 113 YASMÍN SILVIA PORTALES MACHADO Grupo Editorial Nuevo Milenio Cuba [email protected] Voces Femeninas en la Blogosfera Cubana: Cambió Algo Más que el Soporte ? Mientras el control de los medios de comunicación se basó casi exclusivamente en el control sobre imprentas y estaciones de radioemisión, fue relativamente fácil para la cultura hegemónica mantener excluidas a la mayoría de las voces femeninas antipatriarcales, o eliminar a las voceras “autorizadas” que evolucionaran hacia cualquier tipo de cuestionamiento sobre la relación entre los géneros. Con la llegada de internet, las voces antisistémicas pueden establecer redes libres de intercambio de ideas y recursos. En Cuba, la blogosfera se ha convertido en espacio para la polémica sobre temas no abordados por la prensa tradicional. La presencia de mujeres allí es significativa, pero la mayoría de estas voces no expresan un discurso de género coherente, ni la defensa de una agenda femenina específica. El estudio de los temas y enfoques de las blogueras cubanas sugiere que el acceso a las plataformas digitales no cambió la correlación entre la cantidad de mujeres, feministas o patriarcales, que exponen sus puntos de vista a través de la palabra escrita, de modo que las primeras siguen siendo minoría. El cambio se da en el ámbito de la visibilidad: Al pasar del papel a los blogs, las feministas cubanas acceden por primera vez en igualdad de condiciones a un espacio de intercambio y debate sobre el devenir social de la nación. En el limitado espacio de la blogosfera nacional su impacto se multiplica porque se refieren a los problemas específicos de las mujeres cubanas. El nuevo soporte, entonces, permitió que aumentase exponencialmente la visibilidad del conocimiento acumulado por el movimiento de mujeres en Cuba desde principios del siglo XX. 114 ZÉLIA CAÇADOR ANASTÁCIO Universidade do Minho Instituto de Educação Portugal [email protected] Ciclos Mentais e o «Paradoxo Plástico: Porque ficamos a Mudar sem Mudar as Relações de Género» As convicções humanas mudam pouco comparadas com primatas sociais estudados (Romo et al., 2009). Crenças enquistadas em memórias afundam-nos, por contraste com motivos públicos publicitados e evidências científicas, na medida em que se sabe podermos somente prever o futuro, com base no passado recomposto. Se as linguagens mudam em cerca de 20 anos, possuímos roteiros mentais e familiares por hora enquistados. Roteiros (scripts) são como «esquemas» mas mais dinâmicos, o que nos dá esse poder de aprendermos a antecipar (e a não mudar intimamente) o nosso dia seguinte, a Escola Nova ou o futuro no emprego. No efeito devastador da mudança e de mecanismos de decisão mais operativos como a intuição, estão implicados factores como o discurso divergente chegar a bloquear circuitos cerebrais alternativos (Aronson & Tavris, 2007; Gibert, 2007; Schacter, 2001) e factores cognitivo-perceptivos sejam subjacentes à formação e ao marco de referência para categorias linguísticas (Rosch,1975, 1978). Sistemas recíprocos de defesa e de género, portanto, como consequência de ameaças na família, chegam a falhar na antecipação de futuros risonhos de meninas. Temos vindo a analisar esquemas normativos abrangentes de medos (não) justificados, desconstruídos por Teoria e Método de Análise de Discurso (Iñiguez, 2007), em uma investigação qualitativa de ocorrências quotidianas e não quotidianas (existenciais e singulares) de raparigas e de rapazes, moldando o eu em relação. Sendo as raparigas inquiridas uma minoria normativa (como rapazes estudantes inquiridos), por aprendizagem e repetição de gestos, as identidades em construção desvelam-se fluidas e instáveis (Butler, 1990, 2004). E se mudar de opinião não é mudar de identidade, dialogámos com elas que se desenharam e escreveram, denunciando posturas e expressões transmitidas ao longo dos dias, quando quisemos conhecer temores, desejos e estilos de coping (Young et al., 2003) em situações de ameaça ou risco real ou imaginado. 115 ZEYNEP ACA Uludag University Turkey [email protected] Working Mothers and Child Care: Why the Child Care Services are not Widespread, as should be, for the Working Mothers in Turkey? Women taking part in working life is gradually become widespread over the last several decades but recent times with the changing conditions of life more women choosing to return to work after having children and that made child care importantly public policy issue. More women moved from home to workforce, child care became critically important and necessary. However, it is said that this need often goes unmet in Turkey. This situation leaves women with many problems between the domestic responsibilities and working life requirements. Turkey is a society with patriarchal family structure, although women participate in working life, but child care mostly seen as mother‟s duty. Thus, most of the Turkish women force having a child care problems frequently. In order to reduce the responsibilities for working mother, child care services should be provided through government or private sector. Yet, unfortunately, in Turkey it seems difficult to say that the child care services are sufficient. Although in terms of modernity woman participates in working life for decades but traditional family structure is conveyed into modern working life and child care is mostly done by family members, including parents and other relatives. The other fact that women force mostly lower-paid, furthermore it can be argued that childcare locks women into lower paid jobs which is obstacle for making use child care services. High cost of the private day care services and the disbelief to the individually privided services gives working mothers an extra problems. There is national law which forces organisations to have day care centre for the female staff but it brings an extra costs to the employers thus some organisation tries to find legal ways to not provide the services. The system is seeking more welfare reforms for working mothers in order to keep them in the workplace in Turkey. In a sum, the study demonstrates the reasons why the children care centres are not widespread in Turkey and how this situation affect women‟s working life. 116