22 Quarta-feira 7 de maio de 2014 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política PETROBRAS Renan adia mais uma vez indicações à CPMI O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), adiou em mais um dia o início das indicações para a CPI mista da Petrobras. Em ação combinada com o Palácio do Planalto, ele convocou para a noite desta quarta-feira, uma sessão do Congresso em que deve pedir que os líderes escalem seus representantes. Renan, contudo, já está ciente de um recurso que o PT vai apresentar na tentativa de protelar ainda mais a instalação da CPMI. Em paralelo, o senador prometeu escalar os representantes que ainda faltam para viabilizar a CPI exclusiva do Senado caso a oposição se negue a fazer as indicações até amanhã, quando vence o prazo regimental. “O prazo se encerra dia 8. Depois disso, o presidente se obriga a indicar no prazo de três sessões, o que exercerei no limite”, afirmou Renan ontem no plenário. O Palácio do Planalto admite a dificuldade de impedir a CPI mista, mas ainda vai apelar para mais uma cartada. Na sessão de hoje, governistas vão alegar a questão da “prevalência” para sustentar que SHEYLA LEAL/DIVULGAÇÃO/JC Líderes partidários vão indicar os nomes dos integrantes e elegerão o presidente e o vice-presidente do colegiado Oposição acredita que a CPI mista poderá funcionar na próxima semana terá poder de investigação a CPI que começar os trabalhos primeiro - tanto a comissão exclusiva do Senado quanto àquela que conta com a participação dos deputados se propõem a investigar o mesmo objeto. Com base nesse argumento, a ordem agora é correr para colocar em prática o mais rápido possível a CPI do Senado, onde a base governista, mais fiel, proporciona um ambiente mais favorável. Justiça nega habeas corpus para ex-diretor da estatal preso na PF A ministra Regina Helena Costa, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), negou, liminarmente, pedido de habeas corpus em favor do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso preventivamente durante a Operação Lava Jato da Polícia Federal, deflagrada em 17 de março. A operação apura suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo doleiros e também fornecedores da estatal. A informação foi publicada no site do Tribunal. Segundo o STJ, a defesa alega, no pedido de habeas corpus, que Paulo Roberto Costa estaria submetido a condições degradantes e incompatíveis com o princípio da dignidade da pessoa humana, sendo impedido até mesmo de cuidar da higiene pessoal e de tomar banho de sol. A ministra afirmou, em sua decisão, que, apesar da relevância dos argumentos apresentados, a matéria deve ser primeiramente analisada e julgada pelo tribunal de origem. “Como não verificou a presença de flagrante ilegalidade, ela afastou a possibilidade de manifestação do STJ”, diz a nota no site. ‘CPMI é caminho mais correto’, avalia presidente da Câmara A criação de uma comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) para investigar denúncias de irregularidade na Petrobras é o caminho mais correto e democrático, avaliou, ontem, o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). “Acho que (a CPMI) é o caminho correto com a Câmara e com o Senado. A Câmara quer participar desde o primeiro momento. É a participação correta, democrática, transparente do Senado e da Câmara. Acho que o senador Renan Calheiros está certo em marcar para amanhã (quarta-feira) a sessão do Congresso e pedir que os líderes indiquem os membros”, disse Alves. O presidente da Câmara descartou a possibilidade de a CPMI investigar outros temas além da Petrobras, como as denúncias de corrupção nas obras do metrô de São Paulo, como querem os governistas. “A CPMI vai investigar as denúncias na Petrobras”, de acordo com a decisão da ministra Rosa Weber, do STF. A questão de ordem que deve ser encabeçada pela senadora Gleisi Hoffmann (PT) pode atrasar isso. O recurso a ser apresentado pela ex-ministra da presidente Dilma Rousseff (PT) chegou ao conhecimento de Renan na noite de segunda-feira, quando ele estava reunido com a cúpula peemedebista. Na ocasião, a petista mandou entregar o documento que preparou. Embora Renan tenha prometido para oposicionistas, que estiveram com ele na tarde de segunda-feira, solicitar as indicações para compor a CPI mista ainda ontem, o recurso pode levá-lo a usar uma manobra protelatória. Regimentalmente, o presidente do Senado pode recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e, com isso, ganhar mais algumas semanas de prazo. Em outra linha de atuação, Renan pode responder de imediato aos questionamentos do PT, acatando-o ou não, e abrir o prazo para as indicações. Também com esse cenário o governo pode ganhar um respiro de, ao menos, mais duas semanas. Isso porque, feito o pedido de indicações, os líderes têm cinco sessões da Câmara para indicar os membros da CPI; não escalando seus respectivos times nesse período, o presidente do Congresso terá outras três sessões para fazer as indicações. Como, tradicionalmente, às segundas e sextas-feiras não há quórum para abrir sessão, a oposição espera ter a CPMI instalada em duas semanas. Os líderes governistas na Câ- mara, porém, já anunciaram que farão suas indicações assim que for solicitado. “No momento que abrir o prazo nós vamos indicar. Não tem como querer segurar isso”, disse, por exemplo, o líder do PSD, Moreira Mendes (RO). Parlamentares da oposição têm observado que no momento em que metade dos membros tiverem sido indicados já seria possível convocar a reunião para a instalação. Assim, julgam que poderiam conseguir colocar a CPI mista para funcionar na próxima semana e evitar uma defasagem de tempo em relação a CPI do Senado. O governo, por sua vez, quer acelerar a investigação sem deputados porque sua base no Senado é mais ampla e fiel. Nesse movimento de acelerar a CPI exclusiva do Senado, o líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), indicou o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) para presidir os trabalhos da CPI. A oposição se recusou a fazer suas indicações para uma CPI exclusiva do Senado na tentativa de tornar realidade a investigação mista. CÂMARA DOS DEPUTADOS Projeto que permite biografia sem autorização é aprovado A Câmara dos Deputados aprovou ontem projeto de lei que permite a publicação de biografias não autorizadas. O texto seguirá para análise do Senado Federal e ainda precisa da sanção da presidente da República. A proposta altera o Código Civil e acaba com a brecha que permite a proibição de livros sem autorização prévia de biografados ou familiares. Atualmente, é possível vetar obras escritas sem autorização. O texto do projeto, de autoria do deputado Newton Lima (PT-SP), estabelece que “a ausência de autorização não impede a divulgação de imagens, escritos e informações com finalidade biográfica de pessoa cuja trajetória pessoal, artística ou profissional tenha dimensão pública ou esteja inserida em acontecimentos de interesse da coletividade”. Uma sugestão feita pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) foi incorporada ao texto para garantir rapidez no julgamento de processos em que biografados se sentirem ofendidos. O projeto estabelece que esses processos devem ter prioridade na análise judicial. “Não existe censura a nenhuma biografia no País. Biógrafos podem escrever aquilo que eles acharem certo embasado nos do- cumentos que têm ou por relatos de fatos”, disse o parlamentar. Para o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, “a emenda do Caiado dá um conforto, porque dá agilidade para tentar tirar (da biografia) aquilo específico que seja falso”. “Recorrer ao Poder Judiciário não é censura”, completa o representante de Roberto Carlos. Desde 2005, Caiado processa o escritor Fernando Morais por informações sobre ele publicadas no livro “A Toca dos Leões”. O autor perdeu a ação em primeira instância, mas o processo está em nível de recurso. “É uma vitória da sociedade, não dos escritores. Eles não querem tirar o emprego da gente, eles querem impedir a sociedade de ser informada a respeito dela própria”, afirmou o biógrafo sobre a aprovação. Há três anos em tramitação na Câmara dos Deputados, o projeto das biografias voltou aos holofotes em outubro do ano passado, quando artistas reunidos no grupo Procure Saber defenderam a manutenção das regras vigentes. Os fundadores do grupo são Roberto Carlos, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Djavan e Erasmo Carlos. Posteriormente, o cantor Roberto Carlos rompeu com o grupo e alguns desses artistas, como Djavan e Caetano Veloso, voltaram atrás e negaram ser contrários à liberação de obras biográficas. “Detesto a ideia de que meus filhos e netos venham a tomar conta do que se pode publicar sobre mim depois que eu morrer”, afirmou Caetano à Folha de S.Paulo em janeiro. Ambos criticaram a atuação da imprensa ao noticiar o caso. Procurada por telefone para comentar a decisão da Câmara, a porta-voz do Procure Saber, Paula Lavigne, não atendeu as ligações. Para Paulo César de Araújo, biógrafo de Roberto Carlos, cuja obra sobre o cantor foi tirada de circulação em 2007, a “aprovação é um avanço, um passo para derrubar a censura”. A liberação das biografias não autorizadas também é debatida no Supremo Tribunal Federal, onde a Associação Nacional de Editores de Livros questiona a norma vigente. Os editores argumentam que as restrições atuais vão contra a liberdade de expressão e informação. A associação diz que a norma condena o leitor à “ditadura da biografia única”.