AUMENTANDO A ESTABILIDADE VISUAL DE PÁRACHOQUES DE POLI(PROPILENO-CO-ETILENO): EFEITO DO NEGRO DE FUMO CONDUTOR Denison R. J. Maia1 , Leoberto Balbinot2 , Ronei J. Poppi2 , Marco-A. De Paoli1 1 Laboratório de Polímeros Condutores e Reciclagem, IQ Unicamp – [email protected], 2 Laboratório de Quimiometria em Química Analítica, IQ Unicamp – [email protected] Improving the visual stability of car bumpers made of poly(propylene-co-ethylene): effect of conducting carbon black The photoelectrochemical process initiating degradation during outdoor exposure of polymers containing TiO2 has previously been assigned to the reaction of an excited electron in the conductive band of TiO2 with atmospheric O2. This reaction generates the superoxide radical O2-., which promotes polymer oxidation. Conducting carbon black (NFcd) was used in substitution of the non conducting grade (NFcm) to minimize the photodegradation of injection molded parts made of TiO2 containing poly(propylene-co-ethylene), such as car bumpers. Analysis by light reflectance and specular reflectance in the mid-infrared region using a self-organizing map (SOM) revealed that the formulation with NFcd presented less photodegradation. Visual observation and comparative optical micrography showed that samples with NFcd exhibited lower surface whitening than samples with NFcm. Addition of NFcd to samples without TiO2 does not contribute to polymer stabilization. We propose that the stabilization effect associated with NFcd is a consequence of the deactivation of the TiO2 photoexcited electron by NFcd. Introdução O negro de fumo pode aumentar a estabilidade de polímeros à fotodegradação através do espalhamento e/ou absorção de luz, como observado por Allen et al [1] para o polietileno. Sua ação pode se dar também pela inativação de estados excitados singlete e triplete de grupos cromóforos. De maneira contrária, existem pigmentos que aceleram a degradação de polímeros, como o TiO2, especialmente em sua forma cristalina anatase [2]. Maia e De Paoli [3] demonstraram que o TiO2 rutilo também tem efeito catalítico na degradação do polipropileno usado na fabricação de pára-choques, levando ao embranquecimento prematuro da peça. Foi observada a evolução espontânea de fissuras na superfície da peça, como consequência da quimiocristalização. Essa cristalização secundária ocorre devido a aproximação de macromoléculas menores, originadas em reações de cisão de cadeia. Como a degradação é mais rápida na superfície em relação ao interior, devido principalmente à maior concentração de oxigênio nessa região, ocorre uma contração que pode levar ao fissuramento. Esse fissuramento leva ao aumento da quantidade de luz espalhada na superfície, que acarreta no efeito visual de embranquecimento da peça [3,4]. Para minimizar o efeito catalítico do TiO2 em formulações para pára-choques, foi usado negro de fumo condutor (NFcd) em substituição ao negro de fumo não condutor (NFcm). Esse tipo de negro de fumo pode ser mais eficiente na inativação do elétron fotoexcitado na banda de condução do TiO2. Para avaliar a eficiência do negro de fumo condutor, foi utilizado além das técnicas usuais de caracterização da degradação, uma ferramenta quimiométrica denominada mapa auto-organizável (SOM). SOM são redes neurais artificiais nãosupervisonadas que reduzem a dimensão de objetos, através da projeção de dados de alta dimensão para uma região espacial de baixa dimensão, tipicamente dois. A quimiometria aplica métodos matemáticos e estatísticos na análise de conjuntos de dados analíticos, enquanto que redes neurais artificiais são algorítimos que tentam imitar o comportamento neurobiológico. Experimental As formulações foram preparadas por processamento em extrusora dupla rosca co-rotatória interpenetrante APV MPC/V30; temp. de 200 – 240 oC e 100 rpm de rotação das roscas. Foram preparados quatro concentrados, que posteriormente foram Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros 1083 processados a 5 % m/m com poli(propileno-co-etileno) virgem para obter as quatro formulações finais usadas nos testes, conforme mostrado na Tabela 1. Tabela 1 – Formulações das amostras em % m/m. Componente TiO2 rutilo NFcd NFcm Estearato de Cálcio Poli(propilenoco-etileno) f1 0,5 0,3 0,02 f2 0,5 0,3 0,02 f3 0,3 0,02 f4 0,3 0,02 99,18 99,18 99,68 99,68 Foram injetados corpos de prova de tração (ASTM D638) em injetora Arburg Allrounder M-250. Esses foram submetidos à degradação por exposição ambiental por 136, 191, 226 e 427 dias. Utilizou-se para isso um suporte com 5o de inclinação voltado para o norte, Latitude 22o 49´ S e Longitude 47o 4´ W (± 6 m, GPS Garmin Map 162). As amostras degradadas foram chamadas F1-F4, e possuem as mesmas formulações das amostras f1-f4, respectivamente. As amostras controle de cada formulação (f1-f4) foram mantidas em sala escura com condições controladas (ASTM D638-95). Fez-se a caracterização por medidas de reflectância de luz visível, microscopia óptica, FTIR, incluindo classificação através de SOM, além de observação visual. Resultados e Discussão Todas as amostras expostas começaram a embranquecer após 136 dias de exposição, porém, foi possível observar que as amostras F2 apresentam embranquecimento mais pronunciado em relação às amostras F1, característica também observada através de microscopia óptica comparativa. Não foi observada diferença de tonalidade no embranquecimento das amostras F3 e F4. Essa característica se manteve após 191, 226 e 427 dias de exposição. As medidas de reflectância de luz na região do visível revelaram que as amostras F2 apresentam aumento maior da reflectância em relação as amostras F1, conforme valores calculados após 226 dias de exposição: F1 = 1,9 ± 0,4 % e F2 = 3,1 ± 0,1 %. No caso das amostras F3 e F4, a diferença ficou dentro do erro da medida: F3 = 2,9 ± 0,3 % e F4 = 3,1 ± 0,1 %. Através da visualização do mapa autoorganizável (figura 1), obtido após classificação por SOM das amostras controle (f1-f4) e das amostras degradadas por 427 dias (F1-F4), podemos perceber algumas características. As amostras controle representam apenas um grupo, recaindo na parte superior do mapa. Depois da degradação, as amostras foram distribuídas de acordo com suas formulações (F1-F4). A maior distância observada foi entre os conjuntos de amostras controle e o F2, ou seja, essas amostras apresentam a maior diferença entre seus espectros FTIR, caracterizando portanto que a amostra f2 apresenta menor estabilidade à degradação. Em 1084 contrapartida, as amostras f1 apresentam maior estabilidade em relação às amostras f2. Para as amostras f3 e f4, não há diferença clara quanto a estabilidade, uma vez que as distâncias entre os conjuntos de amostras controle e as amostras degradadas (F3 e F4) são de mesma magnitude. Isso sugere que, para as amostras sem TiO2, a inclusão de NFcd não promove melhoras na estabilidade à degradação fotoxidativa. Figura 1 – Mapeamento das amostras controle e degradadas por 427 dias, de uma dimensão 756 para uma região quadrada bidimensional com 121 neurônios. Conclusões A inclusão de NFcd aumenta a estabilidade de formulações de poli(propileno-co-etileno) contendo TiO2 (patente requerida [5]), e portanto melhora a estabilidade visual de formulações de pára-choques. Propõe-se que a melhor estabilidade dessa formulação está associada a inativação do elétron fotoexcitado na banda de condução do TiO2. Apesar disso, as formulações de pára-choques ainda vão requerer a inclusão de estabilizantes de UV, e estudos acerca da interação do NFcd com estabilizantes estão sendo realizados. A técnica SOM mostrou-se uma valiosa ferramenta na caracterização da degradação de polímeros. Agradecimentos Branco Dow, Katlen Allganer, Aline D. Reis, Caio Sanches, Beth Sanches, FAPESP proc.00/06552-5 e CNPq. Referências Bibliográficas 1. N.S. Allen, J.M. Peña, M. Edge, C.M. Liauw Polym. Degrad. Stab. 2000, 67, 563. 2. N.S. Allen, M. Edge, T. Corrales, A. Childs, C.M. Liauw, F. Catalina, C. Peinado, A. Minihan, D. Aldcroft, Polym. Degrad. Stab., 1998, 61, 183. 3. D.R.J. Maia, M-A. De Paoli, Polím. Ciênc. Tecnol. 2000, 10, 4. 4. D.R.J. Maia, M-A.De Paoli, J. Polym. Sci. B: Polym. Phys., 2002, 40, 657. 5. D.R.J. Maia, M-A. De Paoli, INPI No 204.800-0 (submetido). Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros 1