14OPINIÃO
A GAZETA
QUINTA-FEIRA, 15 DE OUTUBRO DE 2015
Paulo Bonates
OPINIÃO DE A GAZETA
É médico, psicanalista e jornalista
Pedaladas, que tornaram a
política econômica do governo
Dilma opaca, não podem ser
justificadas com populismo
E-mail: [email protected]
O novo ministro da Saúde, Marcelo Castro, é
aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
com quem fazia composições não musicais
DESCULPA
ESFARRAPADA
É
mais do que absurda a justificativa do ex-presidente Lula para
as “pedaladas fiscais” no ano
passado. Ele simplesmente ecoa
a ideia já propagada pelo Planalto anteriormente de que tratou-se de um mal necessário, para custear os
programas sociais, principalmente o Minha
Casa Minha Vida e o Bolsa-Família. O último,
inclusive, foi tema recorrentemente polêmico
na campanha eleitoral à Presidência.
Como se houvesse desculpa possível para o
descumprimento da lei, seja ela qual for. Como
ex-presidente do país, há um certo decoro a ser
cumprido por Lula. A partir do momento em
que fundamenta atos ilícitos da gestão de sua
afilhada política na necessidade de manutenção de programas populares que são as estrelas
da era petista, seu discurso torna-se desonesto
edemagógico,porenvolvernessebalaiodemanobrasfiscaisasemoçõesdafatiadapopulação
que se beneficia desses programas. Além disso,
arranha os fundamentos do Estado de direito
aopressuporqueosfinsjustificamosmeios.No
caso, passando por cima da lei. É evidentemente uma mensagem danosa para as instituições
democráticas do país e para a própria imagem
do ex-chefe de Estado brasileiro.
Não é aceitável que argumentos como esse sejam usados para minimizar algo que já foi considerado um erro pelo TCU. As pedaladas tornaram a política econômica do governo Dilma
opaca, fazendo crescer exponencialmente a
desconfiança do mercado. Não há qualquer
boa ação que justifique o descumprimento da
lei. Principalmente, por haver a desconfiança
de que os programas sociais em questão tenham sido ampliados por meros fins eleitoreiros.
Mais do que nunca, a atual gestão precisa encarar seus próprios erros, em vez de buscar justificativaspopulistasparasuasações.Nãoaceitar essas desculpas não significa ser contra esses programas sociais, mas, sim, exigir uma
gestão planejada e eficiente dos recursos. Sem
“pedaladas”.
Samba de
uma nota só
EU DIGO QUE...
“É o ciclo do
Dunga na
Seleção até o
final. Após a
próxima Copa,
vou estar
postulante
ao cargo”
—
Tite
Técnico do
Corinthians,
defendendo a
continuidade de
Dunga no comando
da Seleção
“O povo turco e
todas as forças
políticas devem
permanecer
unidas diante dos
terroristas e
contra todos os
que tentam
desestabilizar o
país, que
enfrenta muitas
ameaças”
—
Confesso, de coração. Pensava que não
existisse, mas existe sim gente que não
gosta de música, nenhuma música, seja
qual for o estilo. Para compreender melhor a importância da música não existir
na vida de uma pessoa, basta lembrar que
em todas as culturas e povos as sete notas
musicais são as mesmas. A articulação
entre elas resulta nas diferenças de ritmo,
harmonia e tudo o mais.
Pois bem, acabo de encontrar um desses tapa-buraco, no caso o ministro da
Saúde, Marcelo Castro, que, se não me
engano, a desgovernada Dilma Yussef
usou para simular uma reforma radical.
Em matéria de tragicomédia a nossa
presidente é insuperável. Pois então.
O desafinado assume uma das pastas
mais cobiçadas e exigentes do país e forma
dupla caipira com o célebre Eduardo Cunha. Sua experiência é saltitar pelo Congresso em suas tenebrosas transações. Formado em Medicina (sic), é tido como fiel
integrante do chamado “baixo clero", do
inevitável PMDB. Mas não termina aqui a
formação do responsável pela saúde do
povo brasileiro, uma das mais precárias do
mundo pela falta de gestão. A escolha
seguiu a linha de nomeações para os
cargos-chave do país: a incompetência. O
político profissional é aliado do claudicante
presidente da Câmara, com quem fazia
composições não musicais, suponho.
Segundo o filho: “Ele não tem hobby, não
gosta de escutar música. Gosta mesmo é de
muito capim”. Bem, quem falou foi o
próprio filho, sangue do seu sangue.
Quem é esse ilustre desconhecido?
Em 2010 declarou possuir R$ 835 mil.
E em 1914, 1,3 milhão. Uma miséria.
Ainda bem que em 2011 a empreiteira
Jurema, que pertence aos irmãos do
deputado, recebeu R$ 36 milhões do
governo. Coincidentemente, o superintendente do órgão era um cunhado de
Castro, um certo Ribeiro. A Jurema
continua faturando em contratos com o
governo federal. Recebeu R$ 34,9 milhões este ano; R$ 164,6 milhões, em
2014; R$ 42,3, em 2013 e 4,7 milhões,
em 2012. Nas mãos do novo ministro
estão médicos e outros profissionais
concursados com os salários praticamente congelados há 23 anos.
Além disso, os funcionários só dispõem de pseudosindicatos aderidos aos
partidos chapa-branca que apoiam descaradamente o governo seja lá no que
for. Ainda por cima os servidores de
verdade são alvo de silenciosos assédios
institucionais. O mesmo não acontece
com os contratados via janela amiga.
Estamos todos, essa imensa orquestra de
sambistas, músicos clássicos e compositores à espera de um bom som, na esperança de que este ministro aprenda pelo
menos uma nota que seja digna do país.
Amanhã vai ser outro dia.
HÁ 50 ANOS
FOTO: PROJETO ACERVO DIGITAL / WWW.AGENCIAAG.COM.BR
Preparada pelo
secretário do bloco
parlamentar
revolucionário,
deputado Aniz Brada, irá
ao Congresso dentro de
alguns dias a emenda
que permite, à revelia do
presidente Castelo
Branco, a reeleição do
presidente e
vice-presidente da
República pela maioria
dos congressistas no
próximo ano. A emenda
parlamentar prevê três
escrutínios para a
eleição indireta.
Federica Mogherini
Representante da União
Europeia, convocando a
Turquia a permanecer
unida contra os
terroristas, após um
atentado que deixou ao
menos 95 mortos
A IMAGEM DESTE JORNAL ESTÁ AMPLIADA NA EDIÇÃO DIGITAL DE A GAZETA
agazeta.com.br
Congresso vai
receber emenda
para reeleição de
Castelo Branco
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DESCULPA ESFARRAPADA Samba de uma nota só