CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS DE HDPE COM FIBRAS DE ALGODÃO E ACRÍLICA Juliana Lautert, Estevão Freire, Ademir J. Zattera, Mara Zeni Depto. de Engenharia Química da UCS, CP. 1352, 95.001-970 Caxias do Sul/RS – [email protected] Characterization of composites of HDPE with cotton and acrylic fibers The incorporation of natural fibers in thermoplastic polymers has attracted the attention from scientists because they contribute to the solution of environmental problems caused by the disposal of large volume of non-biodegradable materials. Their use of composites has gained technical applications, such as automotive industries. The main disadvantages of natural fiber-reinforced composites are the lack of good adhesion between fiber and matrix, which results in poor properties of the final material. Therefore, it is necessary to decrease the hydrophilicity of the fibers by chemical modification, or by the use of a coupling agent. In this work, cotton and acrylic fiber composites using HDPE as the polymeric matrix, and Polybond 3009 as a coupling agent. Mechanical and thermal analysis was performed, according ASTM methods. Results showed that the tensile strength of composites increased and the thermal degradation of composites increased with higher fiber content. Introdução A estrutura da cadeia produtiva têxtil é composta pelo setor de fibras e filamentos naturais e químicos. Dados de 2003 mostram que o Brasil ocupa o 42o lugar dentre os países exportadores de produtos têxteis, e o 6o lugar no ranking dos países produtores de fios e filamentos, tecidos, malhas e confecções. A região sul do Brasil é responsável por 22,8% da produção nacional, sendo 19,2% da produção nacional de algodão e 2,8% de fibras artificiais/sintéticas. O consumo nacional de algodão corresponde a 92,7% do consumo de fibras naturais. O consumo nacional de fibra acrílica corresponde a 19,6% do total de fibras químicas (1). A incorporação de fibras têxteis em polímeros termoplásticos oferece a vantagem de obtenção de materiais de baixo custo, com boas propriedades mecânicas e para aplicações na indústria automobilística e de mobiliário (2, 3). Diversas fibras naturais celulósicas, tais como o sisal, fibra do coco, juta, palma, bambu, madeira, têm sido usadas como agentes de reforço para polímeros termorrígidos e termoplásticos (4). Como desvantagem dos compósitos reforçados com fibras naturais, há a falta de adesão adequada entre a fibra e a matriz, devido à pouca compatibilidade causada pela hidrofilicidade das fibras celulósicas (5) e pelas características hidrofóbicas da matriz, o que resulta em baixas propriedades do material final (4). Este inconveniente pode ser superado por meio de tratamento químico das fibras (5). A fibra acrílica é uma "commodity", sendo amplamente utilizada na indústria têxtil, na indústria de malharia e tecelagem, na confecção de pelúcias e na indústria automobilística, como em pastilhas de freios, coberturas, etc. Na indústria têxtil, a fibra acrílica tem substituído em grande escala, a lã. O objetivo deste trabalho foi analisar o potencial de uso das fibras têxteis em uma matriz polimérica não polar usando um agente compatibilizante (104). Experimental Processamento dos compósitos Os compósitos poliméricos utilizando polietileno de alta densidade como matriz e as fibras de algodão e acrílica, separadamente, foram processados em equipamento misturador de alta velocidade, do tipo Drais, utilizando proporções de 10, 20 e 30 % em peso de fibra e 5 phr de Polybond 3009 como agente de acoplamento, com tempo total de mistura de cerca 1 minuto. A confecção das placas foi realizada em prensa hidráulica Shulz, a 150°C, durante 5 minutos, utilizando força de 8000 kgf. Placas sem a adição de agente de acoplamento foram também confeccionadas. Os corpos de prova de tração e impacto foram confeccionados a partir das placas moldadas, segundo as dimensões estabelecidas nos métodos ASTM D638 para os ensaios mecânicos de tração. Foram confeccionados 5 corpos de prova de tração . Análise mecânica Os ensaios de resistência à tração foram realizados no equipamento de ensaios universal EMIC DL 2000, utilizando célula de carga de 2.000 kg e velocidade de 50mm/min. Para a análise dos resultados foi calculada a média aritmética dos resultados. Análise térmica A análise térmica dos compósitos com fibra acrílica foi realizada utilizando o material retirado das placas moldadas por compressão. As análises de calorimetria diferencial de varredura foram realizadas em 1276 equipamento Shimadzu DSC-50 a 10o/min, utilizando fluxo de 50mL/min de nitrogênio. As análises termogravimétricas foram realizadas em equipamento Shimadzu TGA-50, a uma taxa de 10o/min, utilizando fluxo de 50mL/min de nitrogênio. Os resultados da análise térmica dos compósitos com fibra acrílica estão apresentados na Tabela 1 a seguir. Resultados e Discussão Os resultados da análise mecânica estão mostrados na Figura 1 (a) e 1 (b) a seguir. Os resultados da análise térmica mostram que aumento do teor de fibra acima de 20% em peso reduziu a 60 PAN/HDPE s/ agente PAN/HDPE c/ agente HDPE Resistência à Tração (MPa) 50 Teor de fibra (% em peso) 10 20 30 40 Temperatura de Temperatura de Temperatura do cristalização fusão (oC) início da (oC) degradação (oC) sem com sem com sem com agente agente agente agente agente agente 112 117 141 137 314 322 112 118 140 137 315 319 109 113 142 141 312 316 30 20 10 0 5 10 15 20 25 30 35 Teor de Poliacrilonitrila (%) Figura 1 (a) – Resistência à tração dos compósitos HDPE/fibra acrílica Algodão/HDPE s/ agente Algodão/HDPE c/ agente HDPE 40 Resistência à Tração (MPa) Tabela 1 – Valores das temperaturas de cristalização, de fusão e do início da degradação dos compósitos HDPE/fibra acrílica, com e sem agente de acoplamento. 30 20 temperatura de cristalização do HDPE. Além disso, a presença do agente de acoplamento deslocou as temperaturas de cristalização dos compósitos para valores mais elevados, e provocou a diminuição das temperaturas de fusão. As composições com agente de acoplamento se mostraram mais resistentes à degradação, embora o aumento do teor de fibra reduzisse as temperaturas de degradação com ou sem a presença do agente de acoplamento. Conclusões Os resultados obtidos neste trabalho mostraram que as fibras de algodão apresentaram os melhores resultados mecânicos e o aumento do teor de fibra nos compósitos deslocou o início da temperatura de degradação para valores mais baixos. Pode-se concluir de uma forma geral que os resultados indicam o potencial do uso de fibras da planta como reforço com matrizes termoplásticas para o uso em peças que não requerem responsabilidade mecânica extrema. 10 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Teor de Algodão (%) Figura 1 (b) – Resistência à tração de compósitos HDPE/ fibra de algodão Os resultados dos ensaios de resistência à tração dos materiais mostraram que a influência do agente de acoplamento foi maior no aumento da propriedade para as composições elaboradas com fibra de algodão, até 20% de fibra em peso. O agente de acoplamento, que é um composto de polietileno graftizado com anidrido maleico provavelmente tem interações mais fortes com a celulose presente nas fibras do algodão, produzindo maior resistência ao esforço na interface fibra-matriz. Agradecimentos Os autores agradecem à Radici Group, e à Paramount Têxteis, na pessoa do Sr. Edisson Salerno e à Maira Finkler, pelas realização das análises térmicas. Referências Bibliográficas 1. Brasil Têxtil 2004, Relatório Setorial da Cadeia Têxtil Brasileira, São Paulo, 4, Agosto 2004. 2. L. Y. Mwaikambo, E. T. N. Bisanda, Polym. Testing, 18, 1999, 181-198 3. U. Riedel,J. Nickel, Die Ang. Makromol. CEIME, 272, 1999, 34-40. 4. P. J. Herrera-Franco, A. Valdez-Gonzalez, Composites: Part A, 35, 2004, 339-345. 5. V. Tserki, P. Matzinos, C. Panayioyou, J. Appl. Polymer Sci., 88, 2003, 1825-1835. . Anais do 8o Congresso Brasileiro de Polímeros 1277 Anais do 8o Congresso Brasileiro de Polímeros 1278