ESTUDO DA VARIABILIDADE CLIMÁTICA EM REGIÕES HOMOGÊNEAS DE TEMPERATURAS MÉDIAS DO AR NO RIO GRANDE DO SUL Silvia Maria Brahm Araújo 1 , Gilberto Barbosa Diniz 2 , RESUMO - A temperatura média, apesar de não ser uma variável muito estudada quanto à sua variabilidade, desempenha um papel importante na caracterização climática de uma região. Este trabalho teve como objetivo identificar as regiões homogêneas da temperatura média trimestral do ar, utilizando dados de 40 estações meteorológicas, e estudar sua variabilidade climática (19132002) para o Estado do Rio Grande do Sul. Para determinar as regiões, foi aplicada a técnica da Análise de Agrupamento utilizando a distância euclidiana como função de agrupamento. O método de agrupamento foi o da Ligação Completa, que mostrou-se coerente quanto à morfologia e climatologia do Estado. Foram obtidas 4 regiões homogêneas R1-R4 as quais tiveram uma composição, em termos de quantidade de estações contidas em cada uma pouco variável; ressaltando apenas, um número menor de estações na região R1. Pelo estudo dos tercis verificou-se que R4 é a região mais quente (24,5ºC em JFM) e a região R1 a mais fria (12,0ºC em JAS). O estudo climatológico através dos parâmetros estatísticos (média, desvio padrão, coeficiente de variação e variância), calculados para essas regiões, indicaram que a maior variabilidade da temperatura média do ar encontra-se nos trimestres AMJ/JAS. ABSTRACT - The averaged temperature, although being one of the less studied variable in relation to its variability, plays an important role in the climatological characterization of one region. This work has the main objective to identify the homogeneous regions of the three months period averaged temperature, utilizing data from 40 meteorological stations and to study its climatic variability (1913-2002) in the State of Rio Grande do Sul. To determine the regions it was applied the technique of the Cluster Analysis utilizing the euclidian distance as cluster function. The cluster method was the Complete Connection that was coherent with the morphology and climatology of the State. It was obtained 4 homogeneous regions R1-R4 that had a composition, in terms of quantity of stations contained in each one, little variable; emphasizing only a shorter number of stations in region R1. By the tierces study it is was verified that R4 is a warmer region (24,5°C in JFM) and the R1 region is the coldest (12,0°C in JAS). The climatological study with statistical parameters (averaged, standard deviation, coefficient of variation and variance) calculated for these regions, indicated that the greater variability in averaged temperature is found during the three month period AMJ and JAS. Palavras-Chave: Temperaturas médias, Regiões homogêneas. 1 Aluna de Pós-Graduação em Agrometeorologia - FAEM-UFPel, Pelotas RS (Fone/fax: 53-32757581). E-mail: [email protected] 2 Prof. Dr. FMet-UFPel, Pelotas-RS (Fone/fax: 53-32776722). E-mail:gilberto @ufpel.edu.br INTRODUÇÃO A temperatura média, apesar de não ser uma variável muito estudada, quanto à sua variabilidade climática, desempenha um papel importante na caracterização climática de uma região. Para realizar o estudo de uma variável meteorológica sobre uma determinada área em que estejam envolvidos dados de vários pontos de observação (estações meteorológicas) é preciso recorrer-se às técnicas estatísticas apropriadas, como por exemplo, a análise multivariada. Dentro da análise multivariada existem várias técnicas como: análise das componentes principais (ACP), análise de agrupamento (AA) e outras. Com o objetivo de determinar regiões homogêneas através de técnicas estatísticas como:ACP e AA, utilizando como variável de agrupamento dados de precipitação e como método de agrupamento o de Ward, muitos trabalhos já foram realizados. Gadgil & Iyengar (1980) utilizaram a ACP para obter modelos de variação temporal da chuva sobre 53 estações na península Indiana. Baptista da Silva et al., (2001), através da AA, estudaram o comportamento dos totais trimestrais das chuvas no estado do Ceará, a partir de 20 estações meteorológicas distribuídas por toda extensão deste Estado, tendo como medida de similaridade a distância euclidiana ao quadrado e a inércia intra-classe como critério de agregação. Com relação a dados de temperatura, Diniz (2002) utilizou a técnica de AA e como função de agrupamento a distância euclidiana para analisar as temperaturas máximas e mínimas no Estado do Rio Grande do Sul, com dados obtidos em 40 estações meteorológicas no período de 1913 a 1998. Neste trabalho utilizou-se a análise de agrupamento, aplicada à variável temperatura média trimestral, no processo de separação de grupos, os quais foram chamados de regiões homogêneas que possibilitou fazer o estudo climatológico. Assim, os objetivos deste trabalho foram: estudar e conhecer a estrutura da climatologia das regiões homogêneas, utilizando um método de agrupamento e estudar as características climatológicas das regiões obtidas. MATERIAL E MÉTODOS Período de estudo e dados utilizados Para este trabalho foram utilizados dados mensais de temperatura média de 40 estações meteorológicas do Rio Grande do Sul para o período de 1913 a 2002. Os dados das estações meteorológicas foram obtidos através do Instituto Nacional de Meteorologia - INMET (8º Distrito de Meteorologia - Porto Alegre) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Fundação Estadual de Pesquisas Agropecuárias (FEPAGRO), da Secretaria de Ciência e Tecnologia (SCT) no Estado do Rio Grande do Sul, com séries já preenchidas as falhas através do método das correlações utilizado por Diniz (1998). Metodologia Primeiramente determinou-se a temperatura média mensal, para as 40 estações meteorológicas, após foi calculada a média trimestral, que foi usada como variável de agrupamento nos processos de classificação. Os trimestres foram os seguintes: (jan – fev – mar), (abr – mai – jun), (jul – ago – set) e (out – nov – dez). Aplicou-se quatro métodos hierárquicos aglomerativos de agrupamento. Os métodos conforme Wilks (1995) foram: o da ligação simples, o da ligação completa, o da centróide e o de Ward, tendo como função de agrupamento, a distância euclidiana. Já definidas as regiões homogêneas e separadas as estações constituintes de cada região, foram estabelecidas duas séries temporais de dados. A primeira série foi uma média regional constituída de valores de temperatura média mensal dos 90 anos das estações meteorológicas de cada região. A segunda constituída de valores de temperatura média trimestral das estações meteorológicas de cada região homogênea. A estas séries foram estabelecidos dois estudos climatológicos. Na primeira série foi realizado o estudo de determinação do intervalo referente à normalidade através do método estatístico dos tercis e o segundo estudo, correspondente a segunda série de dados, foi feito através de parâmetros estatísticos como: média, desvio padrão, variância e coeficiente de variação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos quatro métodos utilizados para determinar as regiões homogêneas optou-se pelo método da ligação completa pois foi o que apresentou de forma mais coerente os aspectos morfológicos e climatológicos do Estado do Rio Grande do Sul. Foram obtidas regiões homogêneas de temperaturas médias trimestrais, identificadas por R1, R2, R3, e R4 referentes aos trimestres (JFM, AMJ, JAS e OND). Os resultados aqui apresentados, Figuras 1 e 2, referem-se apenas aos trimestres do período quente (JFM) e frio (JAS). FIGURA 1- Regiões Homogêneas da temperatura média trimestral (JFM), Estado do Rio Grande do Sul, período de 1913 a 2002. FIGURA 2- Regiões homogêneas da temperatura média trimestral (JAS), Estado do Rio Grande do Sul, período de 1913 a 2002. Observa-se na Figura 1 que a temperatura média do trimestre (JFM), que corresponde ao período quente, tem uma distribuição espacial mais conservativa, com as regiões homogêneas R3 e R4 abrangendo boa parte do Estado. Isto ocorre devido à menor freqüência de sistemas frontais que atingem a região Sul e também pela influência da topografia no Planalto Médio que são as regiões onde R3 aparece. Na região homogênea R4, o efeito da continentalidade e a baixa altitude são fatores que mais contribuem para elevar a temperatura média desta região. No trimestre (JAS), Figura 2, que corresponde ao período frio, observa-se uma variabilidade espacial maior, evidenciando a influência dos sistemas meteorológicos, mais freqüentes neste período, e da altitude diminuindo as temperaturas médias. Para o estudo climatológico das regiões homogêneas através do método estatístico dos tercis os meses considerados foram fevereiro e agosto, que são os meses centrais do período quente e frio respectivamente, tanto para as regiões do trimestre (JFM) como para as do trimestre (JAS). Este estudo possibilitou observar os seguintes resultados: - Em 66% dos anos da série estudada os valores das temperaturas médias para o mês de fevereiro, das regiões mais fria e mais quente do trimestre (JFM), estiveram acima de: 19,5ºC em R1 e 24,5ºC em R4. Com o mesmo percentual e para o mesmo mês as temperaturas médias dessas regiões, para o trimestre (JAS), estiveram acima de: 20,3ºC na região R1 e 24,1ºC na região R4. - Para o mês de agosto, considerando o mesmo percentual de anos, os valores das temperaturas médias das regiões R1 e R4 do trimestre (JFM) estiveram acima de: 11,8ºC em R1 e 15,2ºC em R4. Para essas regiões considerando o trimestre (JAS) estes valores foram: 12ºC em R1 e 15,3ºC em R4. Para o estudo climatológico das regiões homogêneas através dos parâmetros estatísticos: média, desvio padrão, variância e coeficiente de variação, os resultados estão apresentados nas Tabelas 1 e 2 também referentes aos trimestres (JFM) e (JAS). TABELA 1- Parâmetros estatísticos das temperaturas médias das regiões homogêneas do Rio Grande do Sul para o trimestre (JFM), período de 1913 a 2002 Região1 Região2 Região3 Região4 Média Desvio Padrão 19,7 21,4 22,8 24,5 0,69 0,59 0,59 0,61 Coeficiente de Variação (%) 3,50 2,78 2,60 2,48 Variância 0,48 0,35 0,35 0,37 TABELA 2- Parâmetros estatísticos das temperaturas médias das regiões homogêneas do Rio Grande do Sul para o trimestre (JAS), período de 1913 a 2002 Região1 Região2 Região3 Região4 Média Desvio Padrão 12,5 14,0 14,9 15,9 0,81 0,82 0,84 0,86 Coeficiente de Variação (%) 6,47 5,87 5,65 5,40 Variância 0,65 0,68 0,71 0,74 Através dos resultados do coeficiente de variação, observa-se que a maior variabilidade dos dados, quando se compara as diferentes séries destes trimestres, encontra-se no trimestre (JAS), período em que as massas de ar frio e sem nebulosidade favorecem à amplitude térmica (uma maior variação da temperatura média). Enquanto que a menor variabilidade ocorre para (JFM). Isso ocorre pois este trimestre corresponde ao período quente, onde não existe entrada de massas de ar frio de forma a produzir quedas abruptas de temperatura. CONCLUSÕES De acordo com os objetivos propostos neste trabalho e dos estudos realizados, chega-se às seguintes conclusões: O método hierárquico e aglomerativo de agrupamento da Ligação Completa é o melhor no processo de identificar e separar regiões homogêneas das temperaturas médias trimestrais, representando as condições fisiográficas e climatológicas do Estado do Rio Grande do Sul. A distribuição da temperatura média do trimestre (JFM), ou seja, no verão, não apresenta uma variabilidade espacial significativa em comparação aos outros trimestres, pois é nesta época do ano onde a freqüência e a intensidade dos sistemas frontais é menor. Pelo estudo dos tercis, em mais de 60 anos com temperatura na faixa de 24,5ºC, assume-se ser R4 a região mais quente com pouca variabilidade climática no trimestre JFM. O mesmo número de anos é o tempo em que a temperatura média fica na faixa de 12ºC na região R1 no período frio, caracterizando-a como a mais fria. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAPTISTA DA SILVA, J. et al. Modelagem das chuvas trimestrais por regiões homogêneas no Estado do Ceará. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria,v.9, n.2, p.317-324, 2001. DINIZ, G. B.; CALVETTI, L. Recomposição de séries temporais de temperatura máxima e mínima de estações do Rio Grande do Sul e Santa Catarina usando análise multivariada. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 10.; CONGRESSO DA FLISMET, 8., 1998, Brasília. Anais... Rio de Janeiro: SBMet, 1998. CL-98136. 1 CD-ROM. DINIZ, G. B. Preditores visando a obtenção de um modelo de previsão climática de temperaturas máxima e mínima para regiões homogêneas do Rio Grande do Sul: Porto Alegre: UFRGS, 2002. 167f. Tese (Doutorado em Fitotecnia – Agrometeorologia) – Curso de Pósgraduação em Fitotecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002. GADGIL, S.; IYENGAR, R. N. Cluster analysis of rainfall stations of the Indian peninsula. Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society, London, v.106, n.512, p. 873-886, 1980. WILKS, D. S. Statistical Methods in the Atmospheric Sciences. San Diego – CA: Academic Press, 1995. 467p.