XI C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI ON EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 1 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 O DEUS DO VINHO BACO: O PODER DA MITOLOGIA Ana Carolina Von Uliana Jaqueline de Oliveira Barão (Gdas – CLCA – UENP/CJ) Luiz Antonio Xavier Dias (Orientador – CLCA – UENP/CJ) RESUMO Comumente, a mitologia pode ser definida como qualquer história fabulosa perpetuada pela tradição oral, protagonizada por entes mágicos ligados à natureza, que busca explicar alguns aspectos da condição humana, além disso, estuda a criação, evolução e significado dessas histórias e de seus personagens, pode-se também defini-la como um conjunto de mitos, esses estão presentes em diversas culturas, em muitas civilizações, situam-se entre a razão e a fé, e ocupam-se em explicar a origem dos deuses, do mundo e seu fim. As mitologias Grega e Romana, por herança, foram as mais fascinantes já produzidas, e eram transmitidas de forma oral pelos habitantes das cidades milenares. Tendo em vista tal importância, o objetivo deste artigo é retratar Baco o deus do vinho e sua influência em algumas produções artísticas que perpassaram os séculos, além de sua relevância para a língua latina. Palavras-chave: Baco. Mitologia. Língua latina. ABSTRACT Commonly, the mythology may be defined as any fabulous story perpetuated by oral tradition, led by magical beings connected with nature, which seeks to explain some aspects of the human condition, in addition, studying the creation, evolution and significance of these stories and their characters, you can also set it as a collection of myths, these are present in different cultures, in many civilizations, are between reason and faith, and engage in explaining the origin of the gods, the world and its end. The Greek and Roman mythology, by inheritance, were the most fascinating ever produced, and were transmitted orally by the inhabitants of ancient cities. Given its importance, the aim of this paper is to depict Bacchus the god of wine and its influence on some artistic productions that have permeated the centuries, and its relevance to the Latin language. Keywords: Bacchus. Mythology. Latin language. 1 INTRODUÇÃO A mitologia é definida como um conjunto de mitos. Os mitos estão presentes em diversas culturas, em diversas civilizações, situam-se entre a razão e a fé, e ocupam-se em explicar a origem dos deuses, do mundo e o fim das coisas. As mitologias Grega e Romana, por herança, foram as mais fascinantes já produzidas, e eram transmitidas de forma oral. 476 XI C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI ON EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 1 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 A intenção desse incrível mundo mitológico era explicar fenômenos naturais, culturais ou religiosos que não tinham explicações reais e sua principal característica era a riqueza narrativa. 1.1 A cultura e os deuses gregos A antiga cultura grega era politeísta, seus deuses possuíam formas e atributos humanos, habitavam o céu, a terra, os mares e o mundo subterrâneo. Cada deus tinha uma identidade particular narrada nos mitos, e podiam variar conforme a região onde eram contados. Em geral, apesar de praticamente humanos, os deuses eram seres eternos e quase imunes a danos. Apesar de divinos, tinham os mesmos defeitos e qualidades humanas, tinham paixões e, por isso, estavam sempre se aventurando. Os próprios gregos moldavam seus deuses e alguns eram humanizados, tornando, assim, o céu um ambiente familiar. 1.2 Baco ou Dionísio? A mitologia de um modo geral possui incontáveis deuses, um deles é o deus Dionísio na cultura grega, também conhecido como deus Baco na cultura romana. De maneira mais específica, ele era considerado um semideus devido a sua origem: pai, deus, e mãe, humana. O deus Zeus era casado com Hera, mas em momento de infidelidade, em forma de homem, seduziu a humana Semele, a quem engravidou. A ciumenta Hera, com a intenção de se vingar da traição, convenceu a humana de que se Zeus realmente a amava, devia mostrar-se em sua forma divina. Semele intrigada pediu a Zeus que lhe atendesse um pedido, sob uma promessa, mesmo antes de saber ao que jurava pelo Estige, o voto mais sagrado que nem os deuses poderiam quebrar. Zeus jurou e Semele revelou que o pedido era que o pai de seu filho se mostrasse em sua forma divina. Ao saber do desejo de Semele, o deus tentou convencê-la do contrário, pois sabia que nenhum humano suportaria tal esplendor, porém seu apelo foi em vão. Ao mostrar-se em sua forma real o corpo mortal de Semele não suportou, e a humana caiu fulminada por raios e trovões. O feto de seis meses, que estava sendo gerado no ventre da humana, foi resgato por Zeus do fogo, que colocou-o em sua própria coxa. No momento oportuno, o deus deu a luz a Dionísio. Entregou-o a Hermes que confiou a criança a Ino e Athamas, convencendo-os a criá-lo como menina. 477 XI C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI ON EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 1 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 Após adulto, Dionísio sofreu com a raiva de Hera, que o enfeitiçou, fazendo com que ele vagasse, louco, por várias partes da Terra, até ser curado por Cibele e instruído em ritos religiosos. Quando curado, Dionísio percorreu a Ásia, ensinado o cultivo da uva, sendo, assim, denominado deus do vinho. Na mitologia romana, Dionísio torna-se Baco, o deus do vinho, dos excessos, principalmente, sexuais e da natureza. Transforma-se em leão para lutar e devorar os gigantes que escalavam o céu e, assim, foi considerado por Zeus como o mais poderoso dos deuses. As diferenças entre a visão grega e a visão romana relacionadas ao deus do vinho são muito pequenas. Nota-se uma nos nomes dedicados aos deuses, como por exemplo, na Grécia temos Zeus, enquanto em Roma temos Júpiter. Outra mudança são as homenagens dedicadas aos deuses: o Culto Dionístico é realizado pelos gregos, e o Bacanal acontece em Roma. Porém essas diferenças não alteram a visão que as pessoas têm do deus do vinho. É geralmente representado pela figura de um jovem risonho e festivo, de cabelos loiros e longos. Apesar, disso ocorre uma contradição, pois a imagem abaixo é a mais utilizada para representar o deus Baco hoje. Imagem mais conhecida de Baco Fonte: http://www.brasilescola.com/mitologia/baco.htm 2 As homenagens O Culto Dionístico era composto por rituais que se centravam num tema de morte-renascimento, regados de agentes tóxicos, na sua maior parte vinhos, para induzir transes que erradicavam as inibições. Os praticantes eram formados por estrangeiros, bandidos, escravos e, especialmente, mulheres. 478 XI C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI ON EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 1 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 As mulheres que participavam desses rituais dançavam freneticamente em volta da imagem de Dionísio, também, havia um ritual de sacrifício, no qual matavam cordeiros e bois e devoravam sua carne crua. Já na cultura romana, temos o Bacanal, festa realizada em um cerimonial sério e contrito, seguido de uma comemoração pública e festiva. Os Bacanais surgiram em Roma, vindos do sul da península. Eram secretos, realizados apenas três vezes por ano, frequentados apenas por mulheres. Mais tarde, os homens foram aceitos nos rituais, e estes passaram a ser realizados cinco vezes ao mês, tomaram as ruas de Roma e tornaram-se acontecimentos empolgados, onde as pessoas dançavam e soltavam gritos, atraindo adeptos do sexo oposto em números crescentes, causando desordem e escândalo. A má reputação dos bacanais levou à proibição da festa em toda Itália. Mas, mesmo as punições sendo severas a quem descumprisse as leis, os rituais continuaram por um longo período e voltaram a acontecer durante o Império Romano. 3 A intertextualidade com a mitologia Além dos elementos já vistos, é importante ressaltar a intertextualidade faz-se operador de leitura, principalmente em textos que trazem a intertextualidade com a literatura e mitologia, como no caso estudado: Baco. É importante marcar a primazia de Bakhtin em relação a esses estudos, divulgados por Julia Kristeva. É dela o clássico conceito de intertextualidade: “(...) todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto.” (KRISTEVA, 1974, p. 64). Dessa forma, Antoine Compagnon chama a atenção para o fato de que “escrever, pois, é sempre rescrever, não difere de citar. A citação, graças à confusão metonímica a que preside, é leitura e escrita, une o ato de leitura ao de escrita. Ler ou escrever é realizar um ato de citação”. (COMPAGNON, 1996, p.31) Além disso, pode-se associar essas concepções ao estudo de Bakhtin sobre a inerente polifonia da linguagem, na medida em que todo discurso é composto de outros discursos, toda fala é habitada por vozes diversas. Analisando a obra de Dostoiévski, o teórico russo afirma que o romance seria uma forma dialógica por excelência, pelo fato de ser composto por discursos de várias naturezas, tais como: o jurídico, o epistolar, o popular, o político. Na verdade, a intertextualidade, inerente à linguagem, torna-se explícita em todas as produções literárias que se valem do recurso da apropriação, colocando em xeque a própria noção de autoria. Augusto de Campos, por exemplo, apropriando-se de variadas produções poéticas e musicais, num processo de colagem metalinguisticamente 479 XI C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI ON EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 1 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 confessado, constrói um de seus sonetos em estilo non-sense, apontando desde o título para a forma em que será vazado. Tal composição explicita o processo de construção de um texto apenas com recortes de outros. 3.1 Baco e a literatura Abaixo, serão expostos alguns sonetos camonianos que trazem a intertextualidade com Baco na literatura e logo abaixo será exposta uma análise sobre o plano de conteúdo e plano de expressão. Os Lusíadas - Canto I 30 ... O padre Baco ali não consentia No que Júpiter disse, conhecendo Que esquecerão seus feitos no Oriente, Se lá passar a Lusitana gente. ... 38 E disse assim: "Ó Padre, a cujo império Tudo aquilo obedece, que criaste, Se esta gente, que busca outro hemisfério, Cuja valia, e obras tanto amaste, Não queres que padeçam vitupério, Como há já tanto tempo que ordenaste, Não onças mais, pois és juiz direito, Razões de quem parece que é suspeito. ... 39 "Que, se aqui a razão se não mostrasse Vencida do temor demasiado, Bem fora que aqui Baco os sustentasse, Pois que de Luso vem, seu tão privado; Mas esta tenção sua agora passe, Porque enfim vem de estâmago danado; 480 XI C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI ON EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 1 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 Que nunca tirará alheia inveja O bem, que outrem merece, e o Céu deseja. ... Como podemos notar no versos acima, extraídos da epopeia “Os Lusíadas” (Camões, 1572), Baco é o principal opositor dos heróis portugueses, é uma personagem vivíssima e contraditória. Os deuses são os verdadeiros dinamizadores da ação que gera o interesse narrativo do livro, são eles que lutam realmente, fazendo dos homens apenas instrumentos da sua luta e da sua ambição. O que movimenta Baco é o seu interesse pessoal. “Bacanal” (Manoel Bandeiras - 1918) Quero beber, cantar asneiras No esto brutal das bebedeiras Que tudo emborca e faz em caco Evoé Baco! ... Se perguntarem: Que mais queres, Além de versos e mulheres?... - Vinhos!... O vinho que é meu fraco!... Evoé Baco! Já nestes trechos do poema de Manoel Bandeira, Bacanal, o autor invoca o deus Baco para ostentação de seus desejos, envolvendo, explicitamente, bebidas e mulheres. 3.2 Baco e a música A seguir será apresentada a música Pactocombaco de Eugênio Dale, a qual representa a alegria e os temas mais representativos desse símbolo da mitologia, após a exposição teceremos comentários importantes sobre a sua possível utilização semântica. 481 XI C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI ON EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 1 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 PACTOCOMBACO (Eugênio Dale – CD Pactocombaco – 2004) "Eu fiz um pactocombaco Deus do balacobaco Caro sorriso que eu engato Eu saio do buraco Tem que ter felicidade Deve ser da idade Só faço o que tiver vontade Chega bem no pé da orelha E sempre me aconselha Só faça o que te der na telha Tem que acreditar no taco Pra virar o barco E Dionísio sabe o caminho Fiz um contrato E se eu cumprir eu não empaco Pra ter coragem de largar o que me enche o saco Eu fiz um pactocombaco Eu fiz um pactocombaco Um pactocombaco" A música “Pactocombaco” é uma composição de Eugênio Dale, onde o autor diz ter feito um pacto com Baco - o deus do vinho e das orgias; reza para Dionísio, louvando aquele que promete as delícias do descontrole. Esta composição mostra que a mitologia continua presente na atualidade, contribuindo com a cultura e facilitando a contextualização de uma ideia, neste caso, Eugênio Dale usa da figura do deus Baco para expressar sua vontade de encarar a vida despreocupadamente. Já o leitor, para entender do que se trata a letra, só tendo um conhecimento sobre os seres mitológicos. 482 XI C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI ON EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 1 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 4 Considerações Finais Em suma, os mitos foram apresentados como maneira de explicar fatos inexplicáveis. Suas variações ocorreram conforme cada cultura necessitou. A crença em seres superiores era uma maneira de minimizar curiosidades que não poderiam ser sanadas naturalmente. Algumas teorias mitológicas perderam sua força ao longo do tempo, foram substituídas por outras ideias mais realistas, mas, ainda assim a mitologia continua sendo algo fascinante. Este artigo vem a acrescentar conhecimento e gerar curiosidade não só sobre o deus em questão, mas quanto a todos os seres fantásticos existentes na mitologia, assim como sobre as civilizações grega e romana que, na falta da ciência, criaram este mundo de fantasia, hoje surreal, mas que durante muito tempo foi respeitada e admirada pela civilização, e que, hoje em dia, explica muitas crenças existentes por todo o mundo. 5 Referências BACO. Disponível em<http://www.brasilescola.com/mitologia/baco.htm> Acessado em 29/11/10, às 11:59. BAKTHIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara F. Vieira. São Paulo: Hucitec, 1981.________. Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1973. COMPAGNON, Antoine. O trabalho da citação. Trad. Cleonice P. B. Mourão. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996.KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. Trad. Lúcia Helena França Ferraz. São Paulo: Perspectiva, 1974. HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. São Paulo: Abril, 1981. MITOLOGIA. Disponível 27/11/10, às 13:47 em: <http://www.vivos.com.br/150.htm> - Acessado em Para citar este artigo: ULIANA ,Ana Carolina Von; BARÃO, Jaqueline de Oliveira. O deus do vinho Baco: o poder da mitologia. In: XI CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho. 2011.Anais...UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Ciências Humanas e da Educação e Centro de Letras Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2011. ISSN – 18083579. p. 476 – 483. 483