XV CISO – Encontro Norte e Nordeste de Ciências Sociais Pré-Alas Brasil. 04 a 07 de setembro de 2012, Teresina – Piauí. GÊNERO E MEIO AMBIENTE: A REALIDADE AMBIENTAL DAS PESCADORAS ARTESANAIS DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Anderson Lima Graduando Engenharia Florestal - UFRPE OBJETO E OBJETIVOS A criação desse trabalho partiu do projeto, COLETA E RECICLAGEM: Geração de Renda e Cidadania na Pesca Artesanal. Coordenado pela Prof. Drª Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão, projeto esse que tem o objetivo de promover e contribuir no processo de elaboração conjunta com a comunidade ações positivas relacionadas à coleta e reciclagem de resíduos sólidos na perspectiva de fomento da sustentabilidade, da equidade e da elevação da qualidade de vida, especialmente nas relações de trabalho e de acesso à cidadania. E a criação desse comitê tem a intenção de geração de renda e preservação do meio ambiente fundamentada nos pressupostas da educação ambiental. METODOLOGIA Utilizando metodologia participativa e diagnóstico da realidade local para a realização das oficinas. Então nos encontros realizados na comunidade de São José da Coroa Grande – PE, eram feitos debates referente ao tema de meio ambiente e sustentabilidade e troca de experiências das mulheres pescadoras da comunidade, assim, tivemos um maior conhecimento da realidade ambiental no ambiente da pesca. Com a intenção de disseminação e da conscientização ambiental, a criação do comitê funcionou como instrumento para que as pescadoras debatessem sobre os problemas locais com ênfase dos desgastes ambientais que possam prejudicar a atividade da pesca. Como em muitas outras comunidades pesqueiras a atividade da pesca artesanal é uma das bases para o sustento de várias famílias RESULTADOS E CONCLUSÕES É necessário primeiramente entender o papel da mulher no universo da pesca. A pesca é uma profissão onde é taxada como masculina, talvez pelo fato de dizerem que a mulher tem um instinto universal e biológico de cuidar dos filhos, do marido, afazeres domésticos, ou até mesmo dizer que elas são mais sensíveis e mais preocupadas com o meio ambiente. É até preconceituoso ter essa ideia do mundo feminino, isso seria reforçar estereótipos em relação o papel da mulher. Onde é reproduzida a clássica ideia de que o pai é o chefe da casa, criador da cultura e civilização e a mãe responsável por cuidar dos filhos e da casa. O trabalho da mulher na pesca artesanal, por muitos, é visto como uma extensão do seu papel de mãe/esposa/dona-de-casa, provedora das necessidades da família. Trazendo um exemplo de como o trabalho da mulher pescadora é visto e até servindo de escárnio para alguns homens pescadores. Leitão (2007) cita claramente esse fato no seguinte trecho: “Quando os homens as veem circulando de canoa, gritam em tom jocoso, “essa canoa tem motor?” A narrativa demonstram algumas diferenças nas relações de gênero no meio rural e destaca a força das mulheres quando unidas por um objetivo em comum. Aqui no relato ‘a velocidade’ adquirida no manejo do remo pelas mulheres, demonstra a aquisição diferenciada de acesso aos equipamentos para as atividades pesqueiras, já que, os barcos que pertencem aos homens possuem motor.” (LEITÃO, 2007, p.49) A atuação das mulheres no mundo da pesca foi ficando cada vez mais forte, mesmo que elas tenham que ter uma jornada pesada de trabalho, pois precisam conciliar afazeres domésticos com atividade produtiva. A preocupação com o meio ambiente também foi um fator que levou as pescadoras a participar do comitê, e foi uma participação muito ativa e proveitosa. Durante os encontros no comitê, houve várias discussões sobre educação ambiental, relacionando os problemas da comunidade, onde traziam experiências vividas por elas. Como a comunidade é pequena tem um maior conhecimento do que acontece na região, e elas são muito envolvida em questões políticas, principalmente a presidente da colônia Enilde Lima, que frequenta órgãos e entidades públicas para a resolução de algunsproblemas da colônia, ou os que podem afetar a atividade da pesca. Apesar desse envolvimento com as entidades, elas encontram dificuldade em ter parcerias para desenvolver algum projeto ou atividade que possa melhorar a qualidade do meio ambiente do local. Houve uma entrevista, no qual o técnico facilitador do projeto Francisco Costa fez a seguinte pergunta: “Você acha que, como presidente da colônia, você tem condição de fazer uma mobilização maior com os pescadores, e fazer um ponto de coleta e reciclagem?”. A resposta de Enilde Lima foi a seguinte: “Com certeza, com um apoio, pois sozinho a gente não consegue fazer nada, mas com parceria a gente faz. Você sabe que vontade eu tenho muita, mas tem que ter os apoios.”. As oficinas de reciclagem foi um momento de por em prática o que se foi dito nas reuniões, elas participaram ativamente das atividades, reuniram garrafas PET que encontravam na beira da maré, jogados no meio da rua e até mesmo os que elas solicitavam aos vizinhos que guardassem e levassem para que elas pudessem utilizar Aprenderam a fazer vassouras e puffs com esse material. E também aprenderam a fazer sabão com óleo de cozinha usado. O óleo que geralmente se jogava na pia ou até mesmo na rua, sem nenhum destino apropriado, foram guardados por elas para ser utilizado na oficina. As relações de gênero com meio ambiente ainda é um ponto pouco estudado, mas a atuação da mulher se destaca, pois estão mostrando um papel de liderança nas relações de cidadania e qualidade de vida. Elas estão mais ligadas aos problemas de necessidade básica, como abastecimento de água, ou saneamento. Como mostra a seguinte afirmação: “As mulheres estão mais ligadas à manutenção e a qualidade de vida . problema de lixo, problema de enchente, a primeira voz a se levantar é a mulher.” (Sorrentino & Trayeber, 1997.) A necessidade de se ter uma disseminação de educação ambiental é uma necessidade, antigamente era visto como modismo, mas de acordo com as circunstancias atuais, observou-se que realmente é prioridade a conscientização ética e moral sobre o ambiente em que vivemos. A preservação ambiental, de acordo com a maioria da população, remete somente aos elementos naturais, como as matas, rios, ar e o solo, porém despesa a presença do ser humano ou de fatores sociais. Devemos ter em mente que o meio ambiente e o homem tem uma relação muito antiga, porém, devido ao crescimento populacional, e a necessidade do crescimento econômico fez com que a degradação da natureza fosse possível, deixando de lado a preservação dos recursos naturais. Segundo Vianna: “A população brasileira tem dificuldade de entender que ecologia, pobreza e desenvolvimento são face da mesma moeda. Dessa forma é precária a compreensão de que a degradação ambiental está evidentemente associada ao padrão de produção distribuição e consumo do atual modelo de desenvolvimento.” (Vianna et alli, 1994, p.9). A discussão sobre meio ambiente com as pescadoras não se limitou aos mecanismos de equilíbrio da natureza, foram abordado relações de sociedade e problemas ambientais, a importância da preservação para a atividade da pesca e também troca de conhecimento, pois como elas vivem diretamente com a maré, tem muita experiência tanto pessoal, como as passadas de mãe para filha. Ao final do ciclo de debates e oficinas, um trabalho que durou aproximadamente quatro meses, teve a avaliação das participantes. Houve a aprovação unânime delas em relação ao comitê e das atividades efetuadas. Com o objetivo alcançado, agora ficou a responsabilidade das pescadoras por em prática tudo que absorveram dos facilitadores. Uma responsabilidade que com certeza será bem cumprida por essas mulheres guerreiras, que se acordam cedo para preparar o café da manhã e arrumar os filhos para a escola, sair para pescar o marisco ou outros produtos, fazer o beneficiamento do pescado, arrumar a casa, entre outras atividades que elas fazem. Coautores: Maria de Rosário de Fátima Andrade Leitão, Doutora em Estudios Iberoamericanos - Universidad Complutense de Madrid; professora associada da UFRPE, Departamento de Ciências Sociais DECISO. Francisco Assis de Andrade Costa , Engenheiro Agrônomo – UFRPE Phelippo de Oliveira Cordeiro Vanderlei , Biólogo - FUNESO REFERÊNCIAS LEITÃO, Maria do Rosário de Fátima Andrade, Extensão rural, extensão pesqueira: experiências cruzadas, Recife : FASA, 2007. SORRENTINO, Marcos & TRAJBER, Raquel. ONG ECOAR – Instituto Ecoar para a cidadania. São Paulo, 1997. VIANNA, Aurélio; MENEZES, Lais ; IÓRIO, Maria Cecília; RIBEIRO, Vera Masagão, Educação Ambiental: uma abordagem pedagógica dos temas da atualidade, Rio de Janeiro, CRAB, 1994.