Francisco Falcão e Giselda Carvalho 1. INTRODUÇÃO A via vaginal oferece uma alternativa com vantagens à laparotomia. É tecnicamente simples, de execução mais rápida, exige menos material cirúrgico, tem um pós-operatório com menos dores e internamento mais curto. Esta via é a mais antiga mas também a mais segura. Cada vez mais a cirurgia realizada através de orifícios naturais tem vindo a mostrar as suas vantagens, como demonstram os desenvolvimentos ocorridos noutras especialidades cirúrgicas. A primeira histerectomia vaginal foi realizada em 1815, na Alemanha, no contexto de um prolapso urogenital. No final do século XIX, a histerectomia vaginal já era considerada um procedimento seguro e com vantagens em relação aos enormes riscos de infecção que ocorriam nas laparotomias nessa época. A maioria dos progressos técnicos em cirurgia vaginal ocorreu na Europa, principalmente em França e na Alemanha. A introdução das técnicas de assepsia em cirurgia, no início do século XX, permitiu realizar laparotomias com baixo risco. Foi nos EUA que os procedimentos por laparotomia se desenvolveram. Isto levou ao abandono da via vaginal e à formação de uma geração de cirurgiões sem preparação para a cirurgia vaginal, que apesar de tudo continuava viva na Europa. Foi apenas após a década de 1930 que a via vaginal foi reabilitada para outros procedimentos para além do tratamento do prolapso e, desde então, tem-se assistido à mudan- ça de paradigma que faz da cirurgia vaginal uma primeira escolha. O desenvolvimento da laparoscopia veio de novo gerar conflitos, criando um grupo de cirurgiões pouco familiarizados com a via vaginal e que disputam o título de cirurgia minimamente invasiva. A cirurgia vaginal responde a todos os critérios que definem a cirurgia moderna. A doente tem menos complicações e menos graves, menor stress perioperatório, deambula e tem alta mais precocemente, tem uma convalescença mais curta com retorno rápido à vida activa. Por outro lado, utiliza orifícios naturais, permitindo a ausência de cicatrizes. Neste capítulo vamos falar essencialmente do tratamento da incontinência urinária, da histerectomia vaginal sem prolapso e do tratamento do prolapso urogenital. Como é impossível tratar estes temas sem abordar alternativas cirúrgicas que utilizam outras vias, vamos também referir estes procedimentos, embora alguns deles pertençam à história da cirurgia, como na cirurgia de correcção da incontinência urinária, onde hoje quase a totalidade das cirurgias são realizadas por via vaginal. 2. TRATAMENTO CIRÚRGICO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA 2.1. INTRODUÇÃO A incontinência urinária feminina, definida pela International Continence Society (ICS) como qualquer perda involuntária de urina, 557 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 51 Cirurgia por via vaginal 2.2. CRITÉRIOS NA SELECÇÃO DAS DOENTES Embora a história clínica seja pouco preditiva do tipo de incontinência urinária, assume uma importância major na avaliação e no tratamento. A realização de uma anamnese detalhada e uma boa avaliação clínica, incluindo teste de esforço, são pré-requisitos. É recomendada a avaliação urodinâmica prévia a qualquer cirurgia que afecte a micção e o armazenamento vesical, de forma a confirmar o diagnóstico presuntivo e excluir as doentes que não devem ser submetidas a cirurgia, por exemplo aquelas com alterações do esvaziamento (Quadros 1 e 2). 558 Não existe consenso quanto à necessidade de realizar estudo urodinâmico prévio em todas as doentes com IUE14-16. Não há dúvida que a investigação urodinâmica ajuda a estabelecer o diagnóstico de IUE e a excluir a urgência. Contudo, é menos claro que o uso da urodinâmica melhore os resultados globais17-19. Assim, nem sempre é claro o intuito da solicitação do estudo: para se efectuar um diagnóstico correcto, para excluir outros diagnósticos, ajudar na decisão terapêutica, melhorar o resultado após a cirurgia ou aumentar a satisfação da doente? O estudo urodinâmico pré-operatório deve ser considerado em doentes de idade avançada, com história de cirurgia de incontinência prévia, sintomas sugestivos de hiperactividade do detrusor ou disfunção miccional, exame neurológico anormal, elevado resíduo pós-miccional ou quando o diagnóstico de IUE é duvidoso20. 2.3. INDICAÇÕES A única indicação para a cirurgia da incontinência urinária na mulher é a incontinência de esforço. Para ser candidata a cirurgia, a doente deve ter incontinência urinária associada ao esforço que a afecte nas suas actividades diárias e na sua qualidade de vida21,22. O efeito de todas as cirurgias para a incontinência é o aumento da pressão na uretra quando aumenta a pressão da bexiga, tal como durante a tosse, espirro ou ao levantar pesos. Por este motivo, todas estas cirurgias causam um certo grau de obstrução. Não é razoável assumir que a cirurgia melhore sintomas de urgência, cure a imperiosidade miccional ou a incontinência devidas a contracções involuntárias do detrusor, nem a incontinência devida a fístulas ou doença neurológica. Os sintomas da incontinência são experimentados de forma diferente por diferentes mulheres. Algumas mulheres experimentam situações isoladas, transitórias ou reversíveis de incontinência (Quadro 3). Capítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 tem uma prevalência, no sexo feminino, de 12,8-46%1. É uma patologia comum e cujo impacto na qualidade de vida é devastador, seja no domínio social, físico, psicológico, profissional ou sexual2-5. Aproximadamente metade das mulheres com incontinência urinária tem incontinência urinária de esforço (IUE), predominante em mulheres de meia-idade6,7. A cirurgia de correcção da IUE é dos procedimentos mais comuns na mulher, sendo que aproximadamente 4% vão realizar uma cirurgia para a incontinência urinária durante a sua vida8. Avanços recentes nas técnicas cirúrgicas e materiais disponíveis têm vindo a tornar esta cirurgia mais acessível. É uma forma rápida de resolver a incontinência urinária e pode ser, de facto, muito bem sucedida na incontinência de esforço. Contudo, a incontinência pode decorrer de outros factores, como é o caso da bexiga hiperactiva, e aí a cirurgia pode ser potencialmente prejudicial e causar complicações transitórias ou permanentes9-12. Embora sendo considerada uma cirurgia «minimamente invasiva», os cirurgiões deverão definir critérios rigorosos para o interesse das doentes, e a decisão de realizar uma cirurgia deve ser cuidadosa e responsável, de forma a melhorar a função13. – História clínica e avaliação geral • Natureza e duração dos sintomas • Procedimentos cirúrgicos anteriores • História obstétrica • Mobilidade da doente • Status mental • Status de doença • Medicação • Objectivos e expectativas da doente • Condições cirúrgicas da doente – Diário miccional e score de sintomas • Diário miccional (3-7 dias) • Qualidade de vida – Exame físico • Exame neurológico sagrado • Exame pélvico • Status estrogénico – Teste de esforço • De preferência com a bexiga cheia – Sumária de urina e/ou urocultura • Urocultura apenas para doentes com suspeita de infecções urinárias de repetição – Determinação do resíduo pós-miccional • Cateterização com sonda vesical • Avaliação ecográfica Quadro 2. Guidelines para a cirurgia primária da IUE Confirmação da indicação Avaliação prévia – Documentação da IUE – Identificar e orientar causas transitórias de IUE – Demonstrar perda com esforço e confirmar baixo volume residual – Documentar normais hábitos de micção – Documentar exame neurológico normal – Documentar ausência de incontinência prévia ou cirurgia radical – Documentar ausência de gravidez – Aconselhamento da doente relativamente a alternativas terapêuticas Quadro 3. Causas transitórias de incontinência urinária – Delírio – Infecção – Vaginite atrófica – Fármacos – Factores psicológicos – Factores endócrinos – Mobilização reduzida – Obstipação Cirurgia por via vaginal 559 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Quadro 1. Guidelines para avaliação inicial da mulher com incontinência urinária 2.4. CRITÉRIOS DA CIRURGIA Ao longo dos anos, várias cirurgias foram desenvolvidas para curar ou, pelo menos, diminuir a IUE23-26. A selecção pré-operatória do tipo de cirurgia indicada é muito importante. Por este motivo, cada cirurgião deve estar familiarizado com vários procedimentos cirúrgicos, escolhendo o mais adequado à situação clínica da doente. É da sua responsabilidade não usar procedimentos ultrapassados ou não recomendados (Quadro 4). 2.4.1. COLPOSSUSPENSÃO RETROPÚBICA A colpossuspensão retropúbica está indicada para a mulher com diagnóstico de IUE e hipermobilidade uretral. Pode ser efectuada por laparotomia ou laparoscopia. No Third International Consultation on Incontinence concluiu-se que a colpossuspensão retropúbica, particularmente a colpossuspensão de Burch, «pode ser recomendada como um procedimento que é tão efectivo como outros procedimentos para a cirurgia primária ou secundária, com sucesso a longo prazo» no tratamento da IUE. Nenhuma outra cirurgia de correcção de incontinência demonstrou maior eficácia ou durabilidade que a colpossuspensão de Burch. As técnicas de colpossuspensão retropúbica, embora amplamente descritas e estudadas, têm vindo a ser ultrapassadas pelos slings retropúbicos e transobturadores colocados na uretra média, dada a sua possibilidade de realização em ambulatório, a menor taxa de complicações, maior rapidez de execução técnica e recuperação da doente e idênticas taxas de cura. Quadro 4. Procedimentos cirúrgicos para incontinência urinária de esforço – Eficácia superior, recomendado – evidência nível 1 • Colpossuspensão retropúbica (colpossuspensão de Burch, procedimento de Marshall- Marchetti-Krantz) • Procedimentos com sling tradicionais • Tension-free vaginal tape (TVT®) – Eficácia inferior, não recomendado – evidência nível 1 • Colporrafia anterior • Procedimentos de suspensão com agulha (p. ex. Pereyra, Raz, Stamey, Gittes) – Eficácia desconhecida – não disponível – evidência nível 1 • Slings tension-free na uretra média que não TVT® • Transobturator tape procedures (TOT®) • Técnicas de ablação por radiofrequência 560 Capítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 É recomendado nunca forçar uma cirurgia para a IUE, mas apenas oferecer à doente essa possibilidade, informando das medidas conservadoras possíveis. A idade avançada, obesidade, história de cirurgia prévia de incontinência urinária, uretra fixa e hiperactividade do detrusor são factores que influenciam negativamente o resultado da cirurgia da IUE e devem ser usados para aconselhamento da doente. São contra-indicações para a cirurgia a presença de hiperactividade pura do detrusor, atonia vesical e bexiga neurogénica. Doentes com risco elevado de retenção urinária no pós-operatório e incapazes de efectuar auto-algaliação não são boas candidatas a cirurgia de IUE. Operação de Marshall-Marchetti-Krantz A primeira operação retropúbica para o tratamento da IUE foi descrita em 1949 por Marshall, et al., urologista, e o procedimento foi modificado por Marchetti e Krantz, ginecologistas27. Após a exposição da uretra e da UVJ, como descrita anteriormente, a mão não dominante do cirurgião é colocada na vagina, com os dedos segundo e terceiro colocados em cada lado da uretra para facilitar a elevação da uretra e UVJ. Três pares de suturas não reabsorvíveis são colocadas em cada lado da uretra e suturadas à cartilagem da sínfise púCirurgia por via vaginal bica a nível mediano, ficando a sutura mais proximal na UVJ (Fig. 1). A osteíte púbica é a complicação mais frequente. Colpossuspensão de Burch J. Burch descreveu a sua técnica em 1961. Identificou o ligamento de Cooper (banda espessa de tecido fibroso que se estende ao longo da superfície superior do ramo superior do osso púbico), como ponto de fixação mais consistente para as suturas. Figura 1. Operação de Marshall-Marchetti-Krantz. Após ter acesso ao espaço retropúbico, a uretra e a UVJ são identificados e a parede anterior da vagina periuretral isolada de toda a gordura, como descrito anteriormente. Duas suturas permanentes são colocadas a cada lado da uretra. As suturas devem ser colocadas na espessura da parede anterior da vagina, com a agulha paralela à uretra. A sutura proximal é colocada lateralmente a 2 cm da UVJ e a sutura distal é colocada lateralmente a 2 cm da uretra média. O segundo e terceiro da mão colocada na vagina são usados para elevar a parede anterior da vagina, a cada lado da uretra, durante a realização das suturas, que devem ser efec- 561 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Acesso ao espaço retropúbico A doente é colocada em posição de litotomia modificada, de forma a permitir uma abordagem abdominal e vaginal simultânea. É efectuada algaliação com sonda de Foley (n.o 16) e administrada dose profiláctica de antibioterapia endovenosa. É realizada incisão abdominal vertical, transversal ou abordagem laparoscópica para acesso à cavidade abdominal. A colpossuspensão retropúbica pode ser inteiramente efectuada por abordagem retroperitoneal. Os músculos rectos abdominais são afastados na linha média e a fascia transversalis separada da sínfise púbica. O acesso ao espaço retropúbico é conseguido através de dissecção manual do cirurgião entre o osso púbico e a face anterior da bexiga. A mão não dominante do cirurgião é colocada na vagina para elevar os tecidos paravaginais, identificar a uretra e o colo vesical. A identificação da junção vesico-uretral (UVJ) pode ser facilitada pela tracção suave da sonda de Foley e palpação do balão. O tecido adiposo é dissecado, através da parede anterior da vagina, lateralmente à uretra e à UVJ, para evitar o traumatismo do mecanismo do esfíncter uretral. O espaço retropúbico e os tecidos paravaginais são muito vascularizados, pelo que é necessária uma dissecção cuidadosa e suave para evitar hemorragia. Figura 2. Colpossuspensão de Burch. Esta área é extremamente vascularizada, pelo que devem ser evitados vasos visíveis, sempre que possível. Quando ocorre uma hemorragia excessiva, pode ser controlada por pressão directa, sutura, electrocoagulação ou clips hemostáticos. Raramente é indicada a colocação de dreno no espaço retropúbico. No pós-operatório é colocado cateter vesical transuretral ou suprapúbico. A taxa de cura da IUE ao fim de um ano é de 85-90%, e aos 5 anos 70% das doentes podem esperar estar continentes. O aparecimento secundário de prolapso dos órgãos pélvicos, particularmente prolapso apical e da parede posterior da vagina, foi reportado em 22,1% das mulheres submetidas a colpossuspensão de Burch, a maioria assintomáticas e menos de 5% requerendo cirur- 562 gia reconstrutiva28. As doentes que vão ser submetidas a colpossuspensão retropúbica devem ser avaliadas quanto à existência de defeitos vaginais que quando presentes devem ser corrigidos. Alguns autores sugerem a obliteração profiláctica do fundo de saco de Douglas, com plicatura dos ligamentos uterossagrados, para reduzir o risco de prolapso subsequente. Colpossuspensão de Burch laparoscópica Os avanços na cirurgia minimamente invasiva na década de 1990 desenvolveram a colpossuspensão retropúbica laparoscópica, com vantagens desta abordagem relativamente à via aberta que incluem melhor visualização do espaço retropúbico, menor estadia hospitalar, diminuição da dor pósoperatória, recuperação mais rápida e melhoria cosmética. As desvantagens incluem uma curva de aprendizagem mais lenta para aquisição das suturas, dificuldade técnica na dissecção retroperitoneal, aumento do tempo operatório e potencialmente custos mais elevados relacionados com maior tempo operatório e uso de instrumentos cirúrgicos descartáveis. Tal como na via aberta, a doente é colocada em posição de litotomia, com pernas afastadas, de forma a permitir o acesso vaginal e abdominal. É colocada uma sonda de Foley com três vias, em drenagem livre, com irrigação de água destilada ou soro fisiológico. Na abordagem transperitoneal é colocado trocar de 5 ou 10 mm e o laparoscópio na incisão infra-umbilical standard. Duas portas adicionais são colocadas lateralmente: um trocar localizado no quadrante inferior direito, lateral aos vasos epigástricos inferiores direitos, e outro no quadrante inferior esquerdo, lateral aos vasos epigástricos inferiores esquerdos. Os trocars são colocados lateralmente aos músculos rectos, aproximadamente a 3 cm acima da espinha ilíaca antero-superior. O acesso transperitoneal ao espaço retropúbico inicia-se com a identificação das duas Capítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 tuadas na espessura da parede anterior da vagina, excluindo o epitélio. De cada lado, após efectuadas as suturas, elas atravessam os ligamentos de Cooper, de forma que cada sutura saia acima do ligamento. As suturas são apertadas para elevar a uretra, até à distância de dois dedos entre a uretra e o osso púbico (Fig. 2). 2.4.2. PROCEDIMENTOS COM SLINGS PUBOVAGINAIS Os slings pubovaginais ou do colo vesical sofreram um considerável número de modificações desde o seu aparecimento, no início do século XX. Um retalho de material, biológico ou sintético, é colocado sob a uretra ao nível do colo vesical, e os ramos do sling passam atrás da sínfise púbica e fixam-se à fáscia do músculo recto abdominal ou ao osso púbico, usando uma abordagem combinada abdominal e vaginal. Os slings pubovaginais, tal como a colpossuspensão retropúbica, foram os procedimentos com maior taxa de sucesso na IUE a longo prazo29. Cirurgia por via vaginal Com o desenvolvimento dos slings da uretra média, com menor taxa de complicações, idênticas taxas de sucesso e menos invasivos, esses procedimentos deixaram de constituir o procedimento standard para o tratamento cirúrgico da IUE na mulher. Restituem a continência através de dois mecanismos: restabelecem a posição e suporte da UVJ; providenciam uma base suburetral estável, que resulta num mecanismo de compressão da uretra proximal durante o esforço, resultando num aumento de pressão de transmissão da uretra em relação à bexiga, durante uma elevação da pressão intra-abdominal. A taxa de sucesso está comprometida em doentes com uretra fixa, contudo em doentes com hipermobilidade uretral a taxa de cura objectiva é de 85%30,31. A complicação mais comum dos procedimentos com sling é as disfunções de esvaziamento vesical. Tradicionalmente, foram utilizados slings autólogos de fáscia do músculo recto abdominal ou fascia lata, com a desvantagem do tempo operatório ser mais prolongado devido à preparação do retalho e do risco de complicações no local dador, nomeadamente hematomas e seromas. Também foram utilizados retalhos de mucosa vaginal (operação de Bolonha) com bons resultados. Menos usados foram os slings heterólogos que incluem fascia lata de cadáver, dura-máter humana liofilizada, derme acelular humana, derme de porco, mucosa intestinal de porco e pericárdio bovino. Slings na uretra média, sem tensão Retropúbico: tension-free vaginal tape Desde a introdução, em 1996, por Ulmsten, et al., do procedimento de TVT®, este adquiriu uma popularidade mundial e é, hoje em dia, a cirurgia mais realizada para a correcção da IUE23. Esta técnica introduziu novos conceitos: a colocação na uretra média, a colocação sem tensão e o uso de introdutores para passar da região periuretral para a região suprapúbica 563 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 pregas umbilicais intermédias, que servem como orientadores na dissecção. A bexiga é preenchida com 300 cc de fluido. Após preenchimento vesical o peritoneu é aberto 2 cm acima da cúpula vesical entre as pregas umbilicais intermédias. O acesso ao espaço retropúbico é através de dissecção romba e as restantes referências anatómicas são idênticas às descritas para a via aberta. Embora menos comum, alguns preferem o acesso ao espaço retropúbico por abordagem extraperitoneal. Para esta abordagem é realizada uma incisão infra-umbilical, com dissecção pré-peritoneal até ao espaço retropúbico. Alcançado o espaço retropúbico, é realizado um «pneumo Retzius», com insuflação de CO2. São colocados os trocars adicionais e todo o restante procedimento é similar ao descrito para a abordagem transperitoneal. As suturas com fio 0 ou 2-0 são efectuadas com a ajuda de condutores de agulhas laparoscópicos. A realização de nós extracorpóreos facilita a técnica e permite aplicar maior tensão na sutura. No final do procedimento é realizada cistoscopia para confirmar a integridade da bexiga. É deixada uma sonda vesical transuretral ou cateter suprapúbico no pós-operatório. 564 a raquianestesia ou a sedação, basta utilizar uma solução de adrenalina (diluição de 500 cc de soro fisiológico com 0,2 mg de adrenalina) que é infiltrada na parede anterior da vagina, a cada lado da uretra, lateralmente, até ao ramo inferior do púbis, para hidrodissecção e hemostase. A mesma solução deve ser também infiltrada na região retropúbica, descrita anteriormente, usando uma agulha de raquianestesia, que passa por trás do osso púbico até à vagina, a cada lado da uretra, para melhorar a hidrodissecção e prevenir a perfuração vesical. Na vagina é efectuada uma incisão vertical mediana na uretra média, com 1,5 cm, a cerca de 1 cm do meato uretral externo. Efectuada a incisão uretral, a dissecção é realizada lateralmente com uma tesoura de Metzenbaum de forma a criar um túnel por baixo do ramo púbico inferior, a cada lado da uretra. O kit de TVT® inclui dois trocars curvos conectados a uma prótese de polipropileno com 1 × 40 cm revestida por dois invólucros de plástico, separadas ao meio para facilitar a sua remoção depois de colocado o sling. Os trocars encaixam num introdutor. Antes da passagem do trocar com a prótese é efectuado esvaziamento da bexiga e colocado um mandril dentro da sonda de Foley, que é lateralizada em sentido ipsilateral à introdução do trocar para afastar o colo vesical do trocar e minimizar o risco de lesão. A ponta do trocar é colocada no túnel periuretral e direccionada até ao bordo inferior do osso púbico. Nessa altura é efectuada uma manobra de 90° e o trocar progride no espaço retropúbico, atravessando a fáscia endopélvica, por trás da sínfise púbica, até à incisão suprapúbica homolateral marcada, evitando a rotação interna ou externa do trocar (Fig. 3). Após a colocação de cada ramo da prótese, o mandril rígido é removido, instilam-se 200 cc de soro fisiológico na bexiga e é realizada cistoscopia para confirmar a ausência de perfuração. A área de maior risco de perfuração é a porção anterolateral da cúpula vesical. ConfirCapítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 os ramos de um sling de malha de polipropileno, com auto-fixação aos tecidos, sem necessidade de sutura. Esta técnica minimamente invasiva tem a vantagem de poder ser efectuada em regime de ambulatório, com retorno rápido à micção normal e tendo as doentes alta no dia seguinte, sem sonda vesical. A taxa de cura da TVT® é semelhante à da colpossuspensão de Burch e à dos slings tradicionais. Está indicada no tratamento primário da IUE com hipermobilidade uretral, mas na nossa experiência tem sido utilizada quando falha a cirurgia de IUE por técnica transobturadora e no tratamento da deficiência intrínseca do esfíncter com uretra fixa. O mecanismo de acção mais plausível parece ser o mecanismo de kinking transitório da uretra durante o esforço. Estudos ecográficos demonstraram que, durante a manobra de Valsalva e a tosse, ocorre um estrangulamento uretral dinâmico após uma TVT®, com a porção suburetral da TVT® a servir de suporte. Em repouso, não existe compressão ou angulação da uretra32,33. Os estudos urodinâmicos demonstraram um aumento na pressão de transmissão após uma TVT®, sem alteração na pressão de encerramento máximo da uretra34. A doente é colocada em posição ginecológica, com pernas afastadas e flectidas a 30° sobre o abdómen. É efectuada antibioterapia pré-operatória, em dose única (2 g de cefoxitina ev. e 1 g de metronidazol ev.; em doentes alérgicas à penicilina a cefoxitina é substituída por 400 mg de ciprofloxacina ev.) e terapêutica antitrombótica. É colocada sonda vesical e utilizada anestesia local com sedação endovenosa, anestesia regional ou geral. Usando um marcador dermográfico, são efectuadas a cada lado da linha média, 3 cm para cada lado e acima da sínfise púbica, duas incisões com 1 cm. Injecta-se um anestésico local, tal como 10 ml de lidocaína a 12%, em cada lado. Uma solução contendo um anestésico local pode ser usada. Se a doente for submetida Figura 3. TVT® retropúbico. O segundo trocar é então colocado usando a mesma técnica. No caso de perfuração vesical o trocar é retirado, é efectuada drenagem vesical e repetido o procedimento. Quando ocorre perfuração não é necessário alterar os procedimentos pós-operatórios. A tensão da TVT® é ajustada evitando qualquer compressão da uretra em repouso, ao retirar os invólucros que revestem a prótese. Se o procedimento for realizado com anestesia local, é solicitado à doente que tussa repetidamente, após introdução de 300 ml de soro fisiológico na bexiga. O sling pode ser apertado até que apenas um gotejo seja visível no meato uretral externo, durante a tosse. Colocamos uma tesoura de Metzenbaum entre o sling e a uretra para o ajustar sem tensão, minimizando o risco de retenção urinária. As incisões abdominais são suturadas com fio absorvível 3-0 ou 4-0 e a incisão vaginal Cirurgia por via vaginal encerrada com fio absorvível 2-0 ou 3-0, em sutura contínua. No pós-operatório é prudente medir um resíduo pós-miccional antes da alta. A sonda vesical pode ser retirada após 6 h. A TVT® é um dos procedimentos cirúrgicos mais estudados no tratamento da IUE. Os dados actuais sugerem que a eficácia a curto e médio prazo é semelhante à da colpossuspensão de Burch por via aberta, com taxas de cura entre 63-97%35,36. Embora a lesão da bexiga seja mais frequente no grupo das mulheres submetidas a TVT® do que nas submetidas a colpossuspensão de Burch por via aberta (9 vs 3%), a TVT® está associada a menor hemorragia, menor tempo operatório, menor tempo de internamento, retorno mais rápido à vida activa e menores perturbações miccionais, implicando menores custos económicos37,38. Os factores que influenciam negativamente o sucesso da TVT® incluem: elevado índice de massa corporal (IMC), sintomas pré-operatórios de hiperactividade do detrusor e a presença de uretra fixa (ângulo uretral < 30°). A uretra fixa está associada a uma taxa de sucesso de 50%39,40. A perfuração da bexiga é uma complicação mais associada a esta técnica do que a outras (3-9%), sem contudo deixar sequelas a longo prazo, desde que diagnosticada durante a cirurgia. A perfuração da bexiga com o trocar é mínima e extraperitoneal, não requerendo qualquer intervenção para além da recolocação do trocar41,42. Todas as outras complicações associadas a esta técnica são descritas no quadro 5. Em 4,1% das doentes desenvolvem-se hematomas no pós-operatório, podendo adoptar-se uma atitude expectante na maioria43. Quatro a 17% das mulheres sofrem de perturbações da micção a curto prazo que serão resolvidas ao fim de 6 semanas em 80 dos casos. A retenção urinária que necessita de secção da prótese ocorre em 1-5% das mulheres42,44,45. A taxa de erosão ou extrusão da prótese actualmente é baixa, inferior a 1%, 565 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 mada a integridade vesical, o introdutor é desconectado do trocar. Este é puxado pela incisão abdominal e é cortada a prótese conectada ao trocar. Registo TVT® Áustria N 5.578 Perfuração vesical 2,7% Lesão da uretra 0% Perfuração intestinal 0,02% Hemorragia 1,9% Hematoma retropúbico 1,1% Reoperação por hematoma 0,8% Transfusão sanguínea 0,3% Erosão da prótese 0,7% Reoperação por perturbação miccional 1,3% Infecção urinária 4,1% Fístula vesicovaginal resultado da utilização apenas de slings de polipropileno, monofilamento e à pequena incisão vaginal, com dissecção mínima, que esta técnica requer. Em mulheres assintomáticas e com pequenas erosões (< 1 cm), a aplicação tópica de estrogénios resulta em reepitelização. Em doentes sintomáticas e com erosões maiores, a excisão cirúrgica da prótese exposta com sutura do epitélio vaginal está indicada para evitar a infecção e a dor. Transobturador: TOT® – tension-free vaginal tape-obturator Em 2001, Delorme46 descreveu os slings suburetrais transobturadores. Tal como o TVT®, este é um sling colocado na uretra média, minimamente invasivo, que usa uma prótese sintética, usando uma abordagem transobturadora em vez de retropúbica. Pode ser utilizada uma anestesia geral, regional ou local com sedação. A doente é colocada em posição ginecológica, com hiperflexão das coxas sobre o abdómen, cujo objectivo é colocar o rolo neurovascular obturador em posição superior ao local de introdução do trocar, mais mediano e distando entre eles cerca de 2,5 cm. 566 0% A administração de antibioterapia pré-operatória é recomendada (idêntica à referida para a TVT®), bem como a profilaxia de acidentes tromboembólicos. É colocada sonda de Foley número 16 e deixada em drenagem livre. A infiltração da parede anterior da vagina com um anestésico local (diluição de 10 cc de lidocaína com adrenalina a 2% em 10 cc de soro fisiológico), a cerca de 1 cm do meato uretral externo e lateralmente por trás do ramo isquiopúbico, faz hidrodissecção e hemostase. É realizada incisão vertical mediana na uretra média, com 1,5 cm, a cerca de 1 cm do meato uretral externo. A cada lado da uretra, efectua-se uma dissecção com tesoura de Metzenbaum criando um túnel que vai passar por trás do ramo isquiopúbico, até à membrana obturadora. A colocação da prótese transobturadora pode ser efectuada via inside-out (tension free vaginal tape-obturator [TVT-O®]) ou outside-in (TOT®), e envolve a passagem cega de um trocar curvo lateral por incisões realizadas de cada lado nas pregas genitofemorais, à altura do clítoris, depois por trás do ramo isquiopúbico, atravessando o buraco obturador, e por trás da parede anterior da vagiCapítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Quadro 5. Complicações da técnica de TVT® Figura 5. Sling sem tensão. O kit de TVT-O® implica uma abordagem inside-out. Toda a técnica é idêntica à descrita para a abordagem outside-in, à excepção da dissecção que não pára a nível do ramo isquiopúbico. Com a TVT-O® a membrana obturadora é perfurada com a ponta da tesoura; é então colocado um guia metálico ao longo do túnel efectuado, que permite a passagem do trocar dentro do guia. As incisões na coxa são mais laterais, localizando-se 2 cm acima de uma linha horizontal traçada ao longo do meato uretral e 2 cm para fora da prega genitofemoral (Fig. 6). Figura 4. TOT®: tension free obturator tape. O sling é então ajustado, com técnica idêntica à descrita para a TVT®, devendo ser colocado sem tensão, seguida da colporrafia com sutura absorvível 3-0 (Fig. 5). Cirurgia por via vaginal Figura 6. TVT-O®. 567 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 na, até cada lado da uretra média. O ângulo de passagem do trocar desde a incisão na coxa à incisão periuretral é de aproximadamente 30-40°. Na abordagem outside-in a tunelização periuretral na vagina tem que permitir a inserção do segundo dedo contralateral ao trocar que está a ser introduzido, até ao ramo isquiopúbico. O trocar atravessa então a pele, o tecido celular subcutâneo, o músculo gracilis, o adutor e o obturador externo, a membrana obturadora, o músculo obturador interno e a fáscia endopélvica. A ponta do trocar é conduzida ao longo deste túnel pelo segundo dedo até à incisão suburetral, evitando-se lesões vesicais e uretrais. O sling é conectado ao trocar e puxado pelo túnel, por trás do ramo isquiopúbico, até à incisão na prega genitofemoral. O sling é então cortado e desconectado do trocar. O mesmo procedimento é efectuado no lado oposto (Fig. 4). Mini-slings Os mini-slings surgiram com o objectivo de reduzir as complicações operatórias, diminuir o tempo operatório e permitir a sua colocação fora do bloco operatório, sob anestesia local. São implantes inseridos por uma única incisão vaginal, com uma abordagem idêntica à transobturadora, mas sem passagem das agulhas através da membrana obturadora. A fixação ocorre ao músculo obturador interno (tension free vaginal tape-secure [TVT-S®]) ou à membrana obturadora (Miniarc®), partindo do pressuposto que, mantendo a fixação com menos material, se reduz o risco de lesão nervosa e vascular. Os mini-slings estão associados a uma maior taxa de persistência de IUE às 6 semanas (odds ratio [OR]: 9,49; intervalo de confiança [IC] 95%: 2,8-32,6) e aos 6 meses (OR: 8,14; IC 95%: 2,7-24,7)51. A taxa de cura nos estudos efectuados até ao momento parece ser inferior à descrita para as cirurgias standard da 568 IUE, contudo os estudos incluem séries pequenas de doentes e estudos randomizados ainda não foram publicados. Até ao momento são um desenvolvimento da indústria com dados insuficientes para suportar a sua adopção generalizada. 2.4.3. INJECÇÃO TRANSURETRAL – TÉCNICAS DE BULKING PERIURETRAL O uso de técnicas de Bulking uretral com agentes injectáveis para tratamento de IUE reporta ao ano de 1938. O material ideal é biocompatível, não imunogénico, hipoalergénico, seguro, pouco dispendioso e capaz de induzir uma reacção mínima dos tecidos. Deverá ser fácil de preparar e de injectar, reter as suas características de Bulking por tempo prolongado sem ser biodegradável e não migrar. Os agentes de Bulking devem ser partículas esféricas uniformes com mais de 110 Mm de forma a evitar a fagocitose pelos macrófagos e possível migração para locais distantes. A doente ideal para Bulking uretral deve ter hipomobilidade do colo vesical e um mecanismo esfincteriano intrínseco deficiente, embora alguns autores considerem que qualquer mulher que deseje tratamento conservador da IUE possa ser uma candidata. Existem outras mulheres que podem beneficiar deste procedimento: mulheres com deficiência esfincteriana intrínseca sem hipomobilidade uretral, comorbilidades importantes, insucesso de cirurgia recente para IUE (não existe contra-indicação ao uso de um agente Bulking 6 semanas após uma cirurgia de correcção de IUE), idade fértil e desejo de ter mais filhos. O aspecto a considerar em mulheres jovens é a necessidade de repetição das injecções dos agentes para manutenção do efeito. Os agentes de Bulking não estão indicados em mulheres com hipermobilidade uretral, na presença de infecção urinária aguda, elevados volumes residuais, hiperactividade do detrusor e capacidade vesical reduzida (< 250 ml). Capítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Ao contrário das técnicas de sling tradicional e da TVT®, o eixo do sling transobturador é mais horizontal ao eixo da uretra e não vertical, provocando menor compressão circunferencial. Esta via de abordagem apresenta algumas vantagens relativamente à TVT®, incluindo menor risco de lesão da bexiga, do intestino e dos grandes vasos, menor tempo operatório, curva de aprendizagem mais rápida, menor dor no pós-operatório e redução dos sintomas irritativos da bexiga no pós-operatório46-48. A desvantagem inclui o risco de lesões do compartimento obturador ou da coxa, incluindo hematomas e abcessos49. A laceração da vagina é mais frequente na técnica transobturadora (11%). A taxa de cura varia entre 59-97%, embora a taxa de cura em doentes com insuficiência esfincteriana intrínseca seja um pouco inferior (70%), motivo pelo qual não é considerado o procedimento cirúrgico ideal para estas doentes48,50. 2.5. CRITÉRIOS DE FOLLOW-UP A doente deverá ser avaliada 6-12 semanas após a cirurgia. A fácil acessibilidade da doente ao centro que a operou é importante em caso de complicações. O cirurgião deve estar familiarizado com as possíveis complicações e consequências da cirurgia de correcção de incontinência uriCirurgia por via vaginal nária de esforço e ser capaz de orientar uma doente que não está completamente satisfeita com a cirurgia. 3. HISTERECTOMIA VAGINAL SEM PROLAPSO 3.1. INTRODUÇÃO A partir da década de 1980 assistiu-se ao aumento da utilização da via vaginal para a realização da histerectomia em doentes sem prolapso urogenital. Inicialmente reservada a doentes com útero não muito aumentado, como na adenomiose ou nos miomas submucosos, tem vindo a utilizar-se cada vez mais em úteros de maiores dimensões. A confirmação das vantagens desta via em relação à laparotomia, aliada ao aumento do número dos ginecologistas treinados em cirurgia vaginal, tem vindo a mudar os paradigmas na escolha da via de acesso. Actualmente, a histerectomia vaginal sem prolapso é cada vez mais uma solução de primeira escolha. Os critérios para se optar por esta via dependem essencialmente da experiência do cirurgião, principalmente no que diz respeito ao tamanho do útero. O factor mais importante para a sua escolha é a acessibilidade ao útero por via vaginal. Uma vagina mais estreita que dois dedos, especialmente no ápex, ou um útero que não desce são os principais factores limitativos. 3.2. TÉCNICA A técnica mais usada actualmente é a descrita por Kovac53. A cirurgia começa com uma incisão na mucosa vaginal, a nível da reflexão cervico-vaginal, junto ao início das pregas transversais da vagina (Fig. 7). Alguns autores aconselham uma incisão circunferencial contínua, mas há quem defenda haver vantagem em interromper lateralmente a incisão às 3 e 9 h, principalmente quando o colo desce pouco. 569 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 O local de injecção pode ser periuretral ou transuretral. O método transuretral requer o uso de cistoscópio (lentes de 0, 12, 25 ou 30°) e uma bainha de trabalho que permita a passagem do cateter de injecção e respectiva agulha. O procedimento começa com a colocação de um anestésico local na uretra (lidocaína gel a 2%). A injecção transuretral inclui os seguintes locais de injecção: às 3 e 9 h, às 4, 8 e 12 h, ou às 3, 6, 9 e 12 h. O material é colocado por injecção na submucosa da uretra, 2 cm distal ao colo vesical. A injecção deve ser gradual de forma a provocar uma distensão da mucosa uretral, sem extravasamento do produto. No procedimento periuretral os locais para injecção do anestésico local (xilocaína) são ao nível da abertura dos canais de Skene, a cada lado da uretra. O cistoscópio com lente 0 é inserido na UVJ e depois retirado para visualizar a uretra proximal. É introduzida paralelamente à uretra uma agulha de raquianestesia com uma seringa com lidocaína a 1%. Logo que a agulha atinja a uretra proximal, a seringa é substituída pela seringa com o agente de Bulking, o qual é injectado. A complicação mais comum é a dor. Se ocorrer extrusão de material este deve ser removido para não provocar sintomas vesicais irritativos recorrentes e infecção. A complicação mais comum no período pósoperatório imediato é a retenção urinária e as disfunções miccionais. As complicações tardias são raras, e incluem abcessos suburetrais e infecções urinárias de repetição. As taxas de cura são de 40%52. Se a incisão vaginal posterior for feita correctamente, na reflexão cervico-vaginal, onde se iniciam as pregas vaginais, ficamos perto da inserção dos uterossagrados e do peritoneu do fundo de saco posterior. A abertura da cavidade peritoneal conseguese fazendo tracção numa pinça colocada no lábio posterior do colo e seccionando os tecidos entre os uterossagrados. Caso a abertura do fundo de saco seja difícil pode prosseguir-se com a secção dos ligamentos cardinais e uterossagrados extraperitonealmente. A secção dos ligamentos uterossagrados é o passo mais importante da histerectomia vaginal sem prolapso, pois vai permitir a descida do útero. A sua laqueação deve ser sempre transfixiva e deve ser sempre deixada uma referência. Seguidamente, tracciona-se para baixo o colo e eleva-se a bexiga na linha média, com o auxílio de uma pinça de dissecção. Seccio- 570 Capítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 7. Histerectomia vaginal sem prolapso – Incisão na mucosa vaginal. na-se o septo supravaginal com tesoura, de modo a expor o espaço vesico-uterino, que é avascular e facilmente dissecado com tesoura. A dissecção romba deste espaço com o auxílio de uma compressa é um erro que aumenta o risco de lesão vesical. Após a dissecção do espaço vesico-uterino chega-se à prega peritoneal anterior, que pode ser aberta sob visão directa. Deve evitar-se seccionar esta prega muito perto do útero, o que sucede frequentemente por medo de lesão vesical, pois isso vai fazer com que a dissecção continue retroperitonealmente, junto ao útero. No caso de dúvida é melhor adiar a secção do peritoneu anterior para uma fase mais adiantada da histerectomia. Após a secção e laqueação dos ligamentos cardinais e uterossagrados faz-se a laqueação da artéria uterina. Nesta altura, o útero desceu francamente. Kovac defende que, a exemplo do que sucede na histerectomia abdominal, após a laqueação das artérias uterinas não é necessário fazer laqueações no ligamento largo, podendo a cirurgia neste ponto progredir para os ângulos uterinos53. As laqueações devem ser realizadas com pinças mais fortes e seguras que as tradicionais pinças de Faure, como, por exemplo, as pinças de Heaney. Nesta fase, se o útero for pequeno, desce facilmente, eventualmente com o auxílio de tracção e rotação tornando acessíveis os pedículos anexiais. Caso contrário, há técnicas que facilitam a descida de um útero grande. A mais conhecida é o coring, descrita por Lash53,54 em 1942, que permite remover a porção interna do útero sem entrar na cavidade endometrial (Fig. 8). Faz-se uma incisão circunferencial no miométrio, paralela ao eixo do útero e à superfície da serosa, enquanto se aplica tracção no colo. Esta incisão inicia-se logo abaixo da reflexão da serosa que reveste a face anterior do corpo, e deve ter-se a certeza que foi laqueada a artéria uterina (Fig. 9). Figura 10. Hemissecção. Figura 9. Coring. O coring, se forem respeitadas as regras, sangra muito pouco e permite a descida do útero até serem acessíveis os pedículos anexiais. Outra técnica de morcelação uterina é a hemissecção, que consiste na secção longitudinal com bisturi a partir do colo. As valvas são colocadas para proteger a bexiga e o recto. O colo é traccionado por duas pinças colocadas às 3 e 9 h, e a incisão é realizada numa linha que liga as 12 e 6 h (Fig. 10). Cirurgia por via vaginal O princípio desta técnica é uma questão simples de mecânica. A força que impede o útero de descer é a resultante das forças aplicadas nos cornos pelos pedículos anexiais. Quando realizamos a hemissecção, o ângulo formado por estas duas forças aumenta e a sua resultante diminui, tornando possível a descida do útero (Fig. 11). Em alternativa, podem realizar-se miomectomias ou ressecções cuneiformes para reduzir as dimensões uterinas. Após a descida do útero os pedículos anexiais, ou seja os ligamentos útero-ováricos, redondos e a trompa, são laqueados, e é conveniente colocar uma referência para ajudar à inspecção dos ovários e eventual anexectomia. As indicações para realizar a anexectomia profilática por via vaginal são as mesmas que na laparotomia. Estudos realizados por Kovac mostram que um cirurgião experiente pode realizar este gesto em 94-97% dos casos53. Mais frequentemente, a técnica utilizada é a dissecção do ligamento largo no espaço entre o ligamento redondo e o restante pedículo anexial, que permite aceder ao espaço retroperitoneal e ao isolamento dos ligamentos infundibulopélvicos, que 571 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 8. Coring. podem ser laqueados com o auxílio de uma pinça de Heaney curva, ou melhor, de uma pinça desenhada para este passo cirúrgico, como a pinça de Sheth53. A utilização da histerectomia vaginal assistida por laparoscopia (LAVH) para a realização da anexectomia ou até outros gestos da histerectomia é útil quando há dúvidas sobre a existência de aderências ou em casos de endometriose, mas as indicações de cada técnica dependem da experiência do cirurgião e constituem uma discussão animada e interminável onde deve prevalecer o bom senso. O encerramento do peritoneu e a suspensão dos ligamentos redondos são gestos inúteis, e a histerectomia termina com a suspensão da parede posterior aos ligamentos uterossagrados, e pelo encerramento da cúpula vaginal. 4. CIRURGIA DO PROLAPSO UROGENITAL 4.1. INTRODUÇÃO O tecido conjuntivo que suporta os órgãos pélvicos é colectivamente referido como «fáscia endopélvica». A fáscia é uma rede contínua de tecido conjuntivo que envolve e suporta bexiga, vagina e recto55. 572 A fáscia parietal, que cobre os elevadores do ânus, é uma camada densa e organizada de colagénio que suporta os músculos esqueléticos. A fáscia visceral que envolve os órgãos pélvicos é um tecido conjuntivo laxo, desorganizado, composto por fibras musculares lisas, colagénio tipo III e elastina, por onde passam vasos e nervos, que permitem grandes alterações de volume, como sucede na repleção vesical. Na fáscia endopélvica há estruturas identificadas como o arco tendinoso da fáscia pélvica, os ligamentos cardinais e os uterossagrados, que não são estruturas distintas mas sim condensações de tecido conjuntivo. O arco tendinoso da fáscia pélvica vai fundir-se com uma condensação da fáscia dos elevadores do ânus, suportando lateralmente as paredes anterior e posterior da vagina56. Defeitos nestas estruturas resultam em cistocelo ou rectocelo. As técnicas cirúrgicas convencionais do tratamento do prolapso fundamentam-se na sua reparação. Os ligamentos cardinais e os uterossagrados fornecem suporte apical ao colo do útero e ao terço superior da vagina. Os defeitos nestas estruturas resultam em prolapso apical, uterino ou da cúpula vaginal55. Capítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 11. Forças mecânicas da hemissecção do útero. 4.2. COLPOCELO ANTERIOR Quando o folheto anterior da fáscia endopélvica está danificado surge o prolapso do compartimento anterior, colpocelo anterior ou cistocelo58. Corresponde a cerca de 33,8% dos prolapsos dos órgãos pélvicos. A ICS define prolapso do compartimento anterior como uma descida da parede anterior da vagina em que a UVJ ou qualquer região proximal fica a menos de 3 cm acima do plano himenial. Se a ruptura se localiza na região central surge um cistocelo por defeito central, com perda das pregas da mucosa, mantendo-se bem marcados os sulcos laterais da vagina. Se o defeito está na fixação lateral ao arco tendinoso (nível II de suporte de DeLancey), estes sulcos desaparecem, mas são preservadas as pregas da mucosa. É o defeito paravaginal ou lateral. Foram também descritos defeitos transversos, resultantes da separação da fáscia do anel pericervical e do complexo ligamentar dos cardinais e uterossagrados (nível I de suporte de DeLancey). Resulta num colpocelo volumoso com um colo vesical bem sustentado, com pregas apagadas, e que pode ser difícil de distinguir de um defeito central59. Cirurgia por via vaginal Outro tipo de defeito transverso é distal e resulta da separação da fáscia da sua inserção no diafragma urogenital/perineal (nível III de suporte de DeLancey) perto da sínfise púbica e apresenta-se como uma projecção para fora do meato uretral59. 4.2.1. COLPORRAFIA ANTERIOR POR PLICATURA DA FÁSCIA No caso de um cistocelo por defeito central, a reparação convencional inicia-se colocando pinças de Allis na linha média58,59. Alguns cirurgiões fazem a infiltração submucosa com soro fisiológico com adrenalina para facilitar a dissecção e evitar a hemorragia. Pessoalmente utilizamos uma diluição de 500 cc de soro fisiológico com 0,2 mg de adrenalina, que é suficiente para uma boa hemostase e minimiza os riscos de efeitos secundários sistémicos. Realiza-se uma incisão central do ápex até cerca de 1 cm abaixo do meato uretral. A dissecção pode ser feita separando o epitélio da camada muscular/adventícia, que assim fica junto à bexiga e vai ser submetida a plicatura com pontos separados de material reabsorvível, ou entre a totalidade da espessura da mucosa vaginal e a bexiga. Neste último caso, esta fáscia pode ser posteriormente separada do epitélio vaginal e usada para reparar o defeito central, sobrepondo-se à contralateral. A dissecção pode ser realizada com tesoura ou bisturi, devendo ser evitada a dissecção cega com compressa. Embora haja cirurgiões que param a dissecção perto da linha média, esta geralmente prossegue até ao ramo isquiopúbico. Deve ser evitada uma dissecção lateral muito agressiva que comprometa o suporte da vagina criando um defeito paravaginal que não existia previamente. Frequentemente, realiza-se uma sutura em bolsa de tabaco ou a plicatura da bexiga (Fig. 12). Isto não acrescenta qualquer solidez à reparação. A qualidade da reparação devese à fáscia com a plicatura ou sobreposição ao folheto contralateral. 573 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Os ligamentos cardinais e os uterossagrados constituem o nível I de suporte de DeLancey, o arco tendinoso da fáscia pélvica o nível II e o nível III é obtido pela fusão dos folhetos anteriores e posteriores da fáscia endopélvica anteriormente com a sínfise púbica e posteriormente com o corpo perineal57. A integridade e função do músculo elevador do ânus têm um papel crítico na integridade do pavimento pélvico. Os factores que favorecem o aparecimento do prolapso e incontinência urinária são idade, paridade, particularmente o parto vaginal, obesidade e raça55. Sabe-se que as mulheres que têm prolapso têm alterações qualitativas e quantitativas do colagénio. Faz-se uma colpectomia do excesso de mucosa vaginal e encerra-se com uma sutura contínua com um fio reabsorvível. A colporrafia anterior com plicatura da fáscia mostrou, em estudos randomizados, taxas de recorrência de cerca de 40%60. Se existir incontinência urinária associada, é preferível realizar um sling retropúbico ou transobturador de malha de polipropileno no final do procedimento, pois os resultados desta técnica são significativamente melhores que os da cirurgia convencional. 4.2.2. REPARAÇÃO PARAVAGINAL DO CISTOCELO Figura 13. Defeito paravaginal do cistocelo. Este defeito envolve a rotura da ligação entre a fáscia do sulco lateral da parede anterior da vagina e o arco tendinoso (Fig. 13). A dissecção para correcção de um defeito paravaginal começa onde se termina na reparação do defeito central, no ramo isquiopúbico. Acede-se ao espaço paravesical expondo os músculos elevador do ânus e obturador interno de modo a referenciar-se a espinha isquiática e o arco tendinoso, que se estende daí até ao ramo isquiopúbico59,60. 574 A reparação convencional por via vaginal consiste na colocação de quatro a seis pontos de sutura de material não reabsorvível no arco tendinoso entre um ponto a 1,5 cm da espinha isquiática até ao ramo isquiopúbico. Cada um destes pontos passa pela parede vaginal no sulco lateral da parede anterior, tendo-se o cuidado de não suturar a espessura total da mucosa vaginal. Os pontos devem ser apertados apenas no final da Capítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 12. Colporrafia anterior por plicatura da fáscia. Figura 14. Defeito transverso proximal. 4.2.3. REPARAÇÃO DOS DEFEITOS TRANSVERSOS 4.2.4. REPARAÇÃO DO PROLAPSO DO COMPARTIMENTO ANTERIOR COM PRÓTESES Alguns autores consideram o defeito transverso proximal, ou seja, a separação da fáscia do anel pericervical, a forma mais frequente de cistocelo (Fig. 14). Como já foi dito, apresenta-se como um colpocelo volumoso com um colo vesical bem sustentado, com pregas apagadas, e que é difícil de distinguir de um defeito central. Estes autores defendem que não existe o denominado defeito central, havendo apenas defeitos laterais e transversais. Nestes, a identificação, após dissecção, do bordo proximal da fáscia vai permitir a sua sutura com pontos separados de fio não absorvível ao anel pericervical. O defeito distal, ou seja, a separação da fáscia da sua inserção no diafragma urogenital-perineal perto da sínfise púbica, é mais rara, apresenta-se como uma projecção para fora do meato uretral e pode igualmente ser objecto de uma reparação directa do defeito. Os defensores da cirurgia de reparação dos defeitos transversos defendem que a plicatura na linha média é uma técnica sem base anatómica que se limita a esconder os defeitos da fáscia sem realmente os tratar58,59. A utilização de material de prótese para reparação do prolapso é uma ideia atractiva, particularmente no prolapso do compartimento anterior. No entanto, exceptuando a sua utilização na sacropexia para tratamento do prolapso apical, apenas recentemente o uso de próteses tem ganho popularidade, pois só agora surgiram materiais que podem ser usados com bons resultados a longo prazo, sem uma alta taxa de complicações62. O material de prótese classifica-se, segundo a origem, em biológico e sintético63. Os biológicos podem ser alo- ou xeno-enxertos. Os de origem humana são fáscia, normalmente fascia lata, e derivados da derme humana. O seu uso tem diminuído pelo medo de transmissão de doenças, como as veiculadas por priões, e pelo facto da sua qualidade ser pouco uniforme. Os de origem animal são derivados do pericárdio bovino, da submucosa do intestino delgado porcino e da derme porcina (Pelvicol® e Pelvisoft®). Teoricamente, estes materiais seriam invadidos por neovasos e integrados nos tecidos adjacentes, constituindo uma neofáscia63,64. Isso não se confirmou, pois não se integram nos tecidos vizinhos Cirurgia por via vaginal 575 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 reparação em cada lado, pois, caso contrário, a exposição fica muito dificultada. Esta reparação pode ser realizada por laparotomia ou por laparoscopia, onde o acesso ao arco tendinoso e ao bordo lateral da vagina se faz através da abertura do espaço de Retzius. Os resultados da reparação paravaginal por laparotomia ou por via vaginal são desconhecidos. Há estudos que mostram excelentes resultados com recorrências que variam dos 0-24%, mas trata-se de técnicas que exigem alguma destreza cirúrgica, e não há estudos randomizados comparativos entre as duas técnicas, nem com a colporrafia anterior convencional60,61. Inicialmente estas próteses eram colocadas sem fixação, como reforço de uma cirurgia convencional, mas cedo se demonstrou que a fixação tension-free obtinha melhores resultados. Também no início, a fixação era feita por sutura da prótese aos arcos tendinosos, como é feito na reparação paravaginal clássica, mas a fixação por via transobturadora, aproveitando a experiência obtida com a cirurgia da incontinência urinária, veio simplificar a cirurgia, sendo actualmente comercializados kits de malhas précortadas com os respectivos instrumentos descartáveis de colocação, que são cada vez mais populares (Figs. 16 e 17). Figura 16. Prótese do compartimento anterior. Figura 15. Malha de polipropileno para colocação no compartimento anterior. Algumas firmas comercializam materiais compostos (polipropileno/colagénio e polipropileno/ácido poliglicólico) acreditando assim diminuir o risco de complicações, nomeadamente a erosão e a retracção. 576 Figura 17. Prótese do compartimento anterior. Capítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 mas sim encapsulam-se, favorecendo a retracção, endurecendo e alterando a anatomia vaginal. Além disso, a degradação e reabsorção destes materiais podem levar a recorrência tardia do prolapso64. Os materiais sintéticos classificam-se em reabsorvíveis e não reabsorvíveis63. Os reabsorvíveis são as redes de malha de ácido poliglicólico. Este material é muito bem tolerado, tem excelentes resultados imediatos com poucas complicações, mas a esperança que o processo inflamatório que acompanha a reabsorção contribuísse para a formação de tecido fibroso, ou seja uma neofáscia, não se confirmou, sendo a recorrência uma regra65. Os não reabsorvíveis são variados, multi ou monofilamentos63. Neste momento é consensual que não se devem usar redes com material polifilamento e que a rede ideal é de polipropileno, monofilamento de malha larga e de baixa relação peso/superfície (baixa gramagem) (Fig. 15). Esta opção veio diminuir as complicações, particularmente a erosão e a infecção. 4.3. DEFEITOS APICAIS O prolapso apical, do útero ou da cúpula vaginal, surge quando é comprometido o suporte fornecido pelos ligamentos cardinais e uterossagrados (nível I de suporte de DeLancey). Os procedimentos cirúrgicos destinados a corrigir este problema podem ser divididos em três grupos: os que usam tecidos nativos de suporte, os que usam material de prótese, e os procedimentos obliterativos que encerram o lúmen vaginal67. Devemos também falar das cirurgias por prolapso que envolvem também o útero, que são a histerectomia vaginal e a operação de Manchester. A escolha destes procedimentos depende da experiência do cirurgião e dos resultados de cada técnica. O problema é que não há estudos prospectivos, excepto na comparação entre a sacropexia por laparotomia e a fixação ao ligamento sacroespinhoso por via vaginal (operação de Richter), em que a primeira mostrou vantagens, com menor recorrência e dispareunia68. A técnica mais usada a nível mundial para tratar o prolapso da cúpula vaginal é a sacropexia, mas está em crescendo a utilização da fixação por via vaginal aos ligamentos sacroespinhosos com a utilização de prótese de malha de polipropileno colocada por via transnadegueira. 4.3.1. HISTERECTOMIA VAGINAL E OPERAÇÃO DE MANCHESTER A histerectomia vaginal é a operação mais frequentemente realizada em todo o mundo para tratamento do prolapso apical. É iróniCirurgia por via vaginal co, pois esta operação por si só não contribui para o tratamento do prolapso apical, embora possa ser associada a gestos que tratam o prolapso, como a operação de McCall ou a fixação ao ligamento sacroespinhoso. A técnica é idêntica à da histerectomia vaginal sem prolapso. A sua popularidade vem do facto de eliminar o colo do útero e de associar a colpoplastia anterior e posterior, o que vai melhorar dramaticamente os sintomas, embora frequentemente se venha a complicar tardiamente com um prolapso da cúpula. Estas vantagens, ou seja, a eliminação do colo e a associação com as colpoplastias, podem ser obtidas com a operação de Manchester. Esta técnica foi descrita pela primeira vez em 1888 por A. Donald, que trabalhava em Inglaterra, em Manchester. Consistia na associação da amputação cervical com a colpoplastia anterior e a colpoperineoplastia. Foi modificada posteriormente por um dos seus discípulos, E. Fothergill, que estabeleceu a técnica tal como hoje é aceite69. Os princípios desta técnica são: — Amputação da porção vaginal do colo uterino. — Ressecção e reaproximação dos ligamentos cardinais à frente do coto cervical para elevar o útero e deslocar posteriormente o colo do útero. — Colporrafia anterior e colpoperineoplastia. — Plastia do coto cervical com pontos de Sturmdorf. Inicialmente, era realizada sistematicamente uma dilatação e curetagem uterina. Hoje em dia, a ecografia endovaginal torna este gesto supérfluo, embora a dilatação do endocolo vá facilitar a execução dos pontos de Sturmdorf no tratamento do coto cervical. É feita uma incisão circular no colo a nível da reflexão cervico-vaginal como normalmente se faz na histerectomia vaginal. Uma incisão longitudinal une o ponto suburetral a esta incisão circular para realizar a colpoplastia anterior. A bexiga é descolada até ao istmo e laqueiam-se os pilares da bexiga. 577 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 A utilização de próteses biológicas ou de rede de polipropileno sem fixação têm altas taxas de insucesso, mas as redes de malha de polipropileno, fixas tension-free por via transobturadora, parecem mostrar taxas de sucesso de 90-100%66. 4.3.2. TÉCNICAS QUE UTILIZAM OS TECIDOS NATIVOS DE SUPORTE As técnicas mais importantes são a culdoplastia de McCall e a fixação ao ligamento sacrospinhoso (operação de Richter). Culdoplastia de McCall McCall publicou esta técnica em 1957. Geralmente é utilizada no contexto de uma histerectomia vaginal para promover o suporte apical67. São colocadas três suturas de material não absorvível nos ligamentos uterossagrados, envolvendo também o peritoneu posterior, sendo a primeira colocada 2 cm acima da laqueação dos uterossagrados e distando 1-2 cm entre eles. Duas outras suturas de material reabsorvível são colocadas para suspender os uterossagrados à parede posterior da vagina (Fig. 18). Várias variantes desta técnica são descritas, mas todas partilham uma complicação que, apesar de rara, tem limitado a generalização desta técnica. É a lesão do ureter que ocorre em 0,24-3% dos casos67. Esta complicação pode ser evitada com a utilização de cistoscopia peroperatória, com a verificação da integridade ureteral. A injecção endovenosa de um corante que é rapidamente eliminado pelo rim, índigo carmim, é aconselhada pela maioria dos autores, mas este corante não está comercializado em Portugal. Fixação ao ligamento sacrospinhoso (operação de Richter) Foi descrita pela primeira vez em 1951, por Amreich e Richter, e fixa a cúpula vaginal uni ou bilateralmente aos ligamentos sacroespinhosos por um ou dois pontos de material não absorvível67. A descrição inicial faz a fixação ao ligamento sacroespinhoso direito para evitar o risco de lesão rectal. Após a abertura da parede posterior da vagina, a dissecção progride pelo espaço pararectal até se identificar a espinha isquiática e, mais medianamente, o ligamento sacroespinhoso (Fig. 19). Um ou dois pontos de sutura de material não reabsorvível são colocados, sob visão directa, no ligamento, 2 cm para dentro da espinha isquiática, para evitar a artéria e o nervo pudendos que passam por trás desta. Estes são seguidamente ancorados na cúpula vaginal, tendo o cuidado de não atravessar toda a espessura da mucosa vaginal. A taxa de sucesso varia entre 65-97%, mas a comparação com a sacropexia mostra maior taxa de recidiva e mais dispareunia68. 4.3.3. TÉCNICAS QUE UTILIZAM MATERIAL DE PRÓTESE Figura 18. Culdoplastia de McCall. 578 No tratamento do prolapso apical utiliza-se material de prótese na sacropexia e na fixação da cúpula vaginal aos ligamentos sacroespinhosos. Capítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Laqueiam-se os ligamentos de Mackenrodt. Faz-se a amputação cervical e o coto cervical, após a reaproximação dos ligamentos cardinais à frente deste, é coberto com mucosa vaginal com pontos de Sturmdorf, como é feito na conização a frio. Faz-se uma colpoplastia anterior convencional e termina-se com uma colpoperineoplastia. Sacropexia A sacropexia foi descrita pela primeira vez em 1957. Como não se trata de cirurgia vaginal, a sua descrição não caberia neste capítulo. Seja como for, é impossível falar do tratamento do prolapso urogenital sem falar desta técnica. É a única técnica de tratamento do prolapso com próteses cuja utilização se apoia em evidências de nível 1, sendo actualmente a técnica mais frequentemente usada no tratamento do prolapso apical. Geralmente é realizada por laparotomia, embora possa ser feita por laparoscopia. Consiste na suspensão da cúpula vaginal a L5 ou ao sacro (S1-S2) por duas próteses de malha de polipropileno suturadas à parede anterior e posterior da vagina67. Após exposição da cúpula vaginal com o auxílio, por exemplo, de uma vela número 35, disseca-se o espaço vesicovaginal expondo, pelo menos, cerca de 3 cm de parede anterior da vagina. Seguidamente, expõe-se a parede posterior da vagina entrando no espaço rectovaginal e dissecando aí o mais possível em direcção do corpo perineal, pois é vantajoso colocar material de prótese entre o recto e a vagina. Cirurgia por via vaginal Fixação apical aos ligamentos sacroespinhosos com prótese A fixação do útero ou da cúpula vaginal aos ligamentos sacroespinhosos por via vaginal com a utilização de prótese de malha de polipropileno62 é uma evolução da operação de Richter que já foi descrita neste capítulo. A técnica de acesso aos ligamentos sacroespinhosos já foi descrita. Após abertura da parede posterior da vagina, eventualmente com o auxílio da infiltração da mucosa vaginal com soro com adrenalina, disseca-se o espaço para-rectal até se identificar a espinha isquiática e o ligamento sacroespinhoso. Uma agulha desenhada para o efeito é colocada por via transnadegueira atravessando o 579 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 19. Ligamento sacroespinhoso. O espaço pré-sagrado é dissecado até expor o ligamento pré-vertebral, geralmente em L5 ou S1, onde são colocadas duas suturas de fio não absorvível, tendo o cuidado de evitar lesar a artéria sagrada média cuja hemorragia é difícil de controlar. Após afastar a sigmoide e identificado o ureter direito, abre-se o peritoneu parietal pélvico do promontório até à parede posterior da bexiga, o que nem sempre é conseguido sem alguma hemorragia. Nesta altura, se necessário, procede-se a uma culdoplastia. As duas próteses são fixas às paredes anterior e posterior da vagina por intermédio de suturas de fio não absorvíveis. A prótese posterior pode estender-se pelo septo rectovaginal até o mais perto possível do corpo perineal. Só então são passados pelas próteses os pontos de sutura pré-sagrados que vão suspender, sem tensão, a cúpula vaginal. As próteses são peritonizadas para evitar o seu contacto directo com as ansas intestinais. A taxa de êxito ronda os 80-100%. A complicação mais importante é a erosão vaginal, que ocorre em 3-4% dos casos, principalmente em doentes submetidas simultaneamente a histerectomia. A sacropexia pode ser utilizada em doentes nas quais se conserva o útero, sendo assim uma técnica de histeropexia. Figura 22. Prótese dos compartimentos apical e posterior. 4.3.4. PROCEDIMENTOS OBLITERATIVOS As técnicas mais usadas são a colpocleisis pela técnica de Le Fort, a colpocleisis total e a colpoplastia convencional agressiva. Figura 20. Malha de polipropileno para correcção do prolapso apical e posterior. Figura 21. Prótese dos compartimentos apical e posterior. 580 Colpocleisis (Le Fort) L. Le Fort publicou esta técnica em 187770. É reservada a doentes idosas, sem vida sexual activa e com comorbilidades que tornem atractiva uma técnica simples e rápida. Inicialmente foram descritas algumas recorrências, prevenidas pela realização sistemática de uma perineorrafia e de plicatura dos elevadores do ânus que entretanto se associou à técnica. Uma taxa elevada (25%) de incontinência urinária de novo foi explicada por incontinência urinária de esforço mascarada pelo prolapso, que não era diagnosticada no pré-operatório, e por uma dissecção agressiva da face anterior da vagina distalmente à UVJ, que alterava a dinâmica uretral. Para evitar essa complicação, actualmente, a dissecção é feita a partir de 2 cm da UVJ, poupando a zona mais distal da mucosa da parede anterior da vagina. Nesta operação, marcam-se com lápis dermográfico dois rectângulos de mucosa vaginal nas paredes anterior e posterior. Se o colo do útero está presente, o bordo proximal deve distar 0,5 cm da reflexão cervicoCapítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 ligamento a 2 cm da espinha isquiática para evitar lesar o nervo e artéria pudendos, que passam atrás da espinha. A prótese fixa-se à face posterior do istmo ou à cúpula vaginal e exterioriza-se nas zonas nadegueiras com o auxílio das agulhas (Figs. 20-22). A sua tracção vai corrigir o prolapso apical. Com a mesma prótese, nesse caso com um desenho que lhe permite estender-se entre a vagina e o recto, pode também ser corrigido o rectocelo. É importante lembrar que estas redes devem ser colocadas sem tensão. A grande vantagem desta técnica em relação à sacropexia é a sua simplicidade, rapidez de execução e melhor pós-operatório. Colpocleisis total e colpoplastia convencional agressiva Quando a doente não tem útero ou se decide efectuar histerectomia vaginal, não há necessidade de deixar os dois canais laterais, que obtemos com a técnica de Le Fort. As opções são a agressividade na execução das colpoplastias após a histerectomia vaginal estreitando o lúmen vaginal ou a colpocleisis total18. Normalmente, em ambos os casos, segue-se uma perineorrafia com miorrafia dos elevadores do ânus. Na colpocleisis total faz-se a excisão completa da mucosa vaginal. Respeita-se anteriormente a mucosa nos 2 cm proximais à UVJ, e posteriormente os 2 cm proximais ao anel himenial, como na técnica de Le Fort. Geralmente, divide-se a vagina em quatro quadrantes e infiltra-se a mucosa com soro com adrenalina para facilitar a dissecção. 5. DEFEITOS DO COMPARTIMENTO POSTERIOR Os defeitos do compartimento posterior podem ser: Cirurgia por via vaginal — Rectocelo: é uma hérnia da parede anterior do recto, que faz protrusão para o lúmen vaginal. Parece haver aqui um defeito central na fáscia rectovaginal. — Elitrocelo: corresponde a herniação de intestino delgado, que se deve à separação da fáscia do complexo dos ligamentos uterossagrados-cardinais, que faz com que o peritoneu e a vagina entrem directamente em contacto. — Hipermobilidade perineal: deve-se à desinserção da fáscia rectovaginal do corpo perineal. 5.1. COLPORRAFIA POSTERIOR Descrita desde o século XIX, foi desenvolvida inicialmente para reparar lacerações obstétricas antigas. Normalmente, a cirurgia inicia-se com uma incisão cutânea na pele do períneo na região da fúrcula. Pode ser horizontal, triangular ou em forma de losango. Se houver necessidade de fazer uma perineoplastia, faz-se uma incisão em forma de losango. A mucosa vaginal é aberta longitudinalmente ao longo da linha média, e a mucosa é dissecada da fáscia. Uma plicatura da fáscia é efectuada com fio reabsorvível com sutura contínua ou em pontos separados. Faz-se colpectomia da mucosa redundante e encerra-se a mucosa com sutura contínua de fio reabsorvível (Fig. 23). A plicatura dos músculos elevadores do ânus, que era realizada sistematicamente, causa dispareunia e, por isso, a maioria dos autores actualmente não a aconselham nas mulheres com vida sexual activa. Se for necessária uma perineoplastia, os músculos superficiais do períneo e os bulbocavernosos são aproximados com suturas absorvíveis e a pele do períneo encerrada com pontos separados. A taxa de cura é de 76-96%, ou seja, bastante melhor que prolapso do compartimento anterior71. 581 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 vaginal. Na cúpula vaginal deve distar 1 cm desta. Lateralmente, devem deixar-se 2 cm entre o rectângulo anterior e posterior. Distalmente, os limites são: na parede anterior 2 cm proximalmente à UVJ, e na parede posterior 2 cm para dentro do anel himenial. A mucosa desses dois rectângulos de mucosa vaginal das paredes anterior e posterior pode ser infiltrada com soro com adrenalina, o que facilita a dissecção e diminui a hemorragia. A dissecção deve poupar a fáscia, excisando apenas o epitélio vaginal, mantendo a dissecção num plano avascular. Os bordos dos rectângulos anterior e posterior são suturados com sutura reabsorvível, deixando dois canais laterais para drenagem de secreções ou sangue provenientes do útero. A cirurgia termina com uma perineorrafia com miorrafia dos elevadores do ânus. 6. COMPLICAÇÕES DAS PRÓTESES Figura 23. Colpoperineoplastia. Plicatura da fáscia. A via vaginal para o tratamento do rectocelo é mais eficaz que a via transanal, preferida pelos cirurgiões gerais68. 5.2. REPARAÇÃO DIRECTA DOS DEFEITOS Nesta técnica, são identificados os defeitos da fáscia através de um dedo colocado no recto e reparados individualmente. Os resultados estão muito mais dependentes da experiência do cirurgião. Teoricamente iriam permitir um melhor resultado anatómico, com menor estreitamento vaginal ou dispareunia. O único trabalho prospectivo randomizado que compara a colpoplastia posterior por plicatura da fáscia com a reparação directa dos defeitos foi publicado em 2006, e mostrou resultados funcionais e dispareunia idênticos nos dois grupos, mas uma taxa de recorrência maior (13,5 vs 9%) no grupo da reparação directa dos defeitos72. 5.3. REPARAÇÃO DO COMPARTIMENTO POSTERIOR COM PRÓTESE A colpoplastia posterior convencional com plicatura da fáscia tem uma taxa de sucesso 582 A erosão é a complicação mais citada nos estudos. Será a mais frequente, embora não a mais grave66,73-75. Inicialmente, a maioria dos estudos referia uma incidência que atingia os 16%, mas com a utilização das novas malhas de polipropileno de malha aberta e baixa gramagem a maioria das séries refere taxas de erosão inferiores a 4%. Trata-se geralmente de uma exposição simples da prótese, sem infecção, frequentemente assintomática, ocorrendo em cerca de metade dos casos nas primeiras 12 semanas após a cirurgia. Metade dos casos resolvem-se com aplicação de estrogénios locais e nos restantes é geralmente suficiente a excisão da área exposta com anestesia local. A excisão da totalidade da prótese raramente é necessária. A retracção da prótese é uma das complicações mais graves. Ocorre em 0-17% dos casos. Corresponde à diminuição das dimensões da prótese por fibrose. Em estudos experimentais de laboratório é de 15-65%, e a sua importância deve-se ao facto de estreitar a vagina e provocar tensão, causando dor pélvica e dispareunia. Ocorre durante os primeiros 2-3 meses após a cirurgia, e é promovida pela hemorragia e infecção pós-operatória74. A hemorragia e a infecção são complicações muito dependentes da técnica cirúrgica. A dispareunia é frequentemente citada como uma complicação importante, mas trabalhos recentes parecem desmentir isso. Capítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 de 76-96%, pelo que geralmente a utilização de próteses no tratamento primário do rectocelo não é aconselhada71. Nos casos em que há associação do rectocelo com um prolapso apical em que se pretende utilizar de próteses, deve tratar-se também o rectocelo com prótese, tanto mais que as complicações das próteses são mais raras na cirurgia do compartimento posterior. Bibliografia 1. Botlero R, Urquhart DM, Davis SR, Bell RJ. Prevalence and incidence of urinary incontinence in women: review of the literature and investigation of methodological issues. Int J Urol. 2008;15:230-4. Cirurgia por via vaginal 2. Abrams P, Cardozo L, Fall M, et al. The standardization of terminology of the lower urinary tract function. Report from the standardization subcommittee of the International Continence Society. Neurourol Urodyn. 2002;21:167-78. 3. Coyne KS, Zhou Z, Thompson C, Versi E. The impact on health-related quality of life of stress, urge and mixed urinary incontinence. BJU Int. 2003;92:731-5. 4. Handa VL, Zyczynski HM, Burgio KL, et al. The impact of fecal and urinary incontinence on quality of life 6 months after childbirth. Am J Obstet Gynecol. 2007;197:636.e1-636.e6. 5. Yip SK, Chan A, Pang S, et al. The impact of urodynamic stress incontinence and detrusor overactivity on marital relationship and sexual function. Am J Obstet Gynecol. 2003;188:1244-8. 6. Hannestad YS, Rortveit G, Sandik H, et al. A community based epidemiological survey of female urinary incontinence: the Norwegian Epincont study. Epidemiology of Incontinence in the County Nord-Trondelag. J Clin Epidemiol. 2000;53:1150-7. 7. Burgio KL, Matthews KA, Engel BT. Prevalence, incidence and correlates of urinary incontinence in healthy, middle-aged women. J Urol. 1991;146:1255-9. 8. Olsen AL, Smith VJ, Bergstrom JO, et al. Epidemiology and surgically managed pelvic organ prolapsed and urinary incontinence. Obstet Gynecol. 1997;89:501-6. 9. Karram MM, Sehal JL, Vassallo BJ, Kleeman SD. Complications and untoward effects of the tension-free vaginal tape procedure. Obstet Gynecol. 2003;101:929-32. 10. Latthe PM, Foon R, Tooz-Hobson P. Transobturator and retropubic tape procedure in stress urinary incontinence: a systematic review and meta-analysis of effectiveness and complications. BJOG. 2007;114:522-31. 11. Sung VW, Schleinitz MD, Radin CR, Ward RM, Meyers DL. Comparison of retropubic vs. transobturator approach to midurethral slings: a systematic review and meta-analysis. Am J Obstet Gynecol. 2007;197:3-11. 12. Vervest HA, Bisseling TM, Heintz AP, Schraffortdt Koops SE. The prevalence of voiding difficulty after TVT, its impact on quality of life, and related risk factors. Int Urogyn J Pelvic Floor Dysfunct. 2007;18(2):173-82. 13. Riss P, Hinterholzer S. Maintaining standards for surgery for female urinary incontinence. Maturitas (2009), doi: 10.1016/j.maturitas.2009.10.005. 14. Weidner AC, Myers ER, Visco AG, et al. Which women with stress incontinence require urodynamic evaluation? Am J Obstet Gynecol. 2001;184:20-7. 15. Ghoniem G, Stanford E, Kenton K, et al. Evaluation and outcome measures in the treatment of female urinary stress incontinence: International Urogynecological Association (IUGA) guidelines for research and clinical practice. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2008;19:5-33. 16. Farrell SA, Epp A, Flood C, et al. The evaluation of stress incontinence prior to primary surgery. J Obstet Gynaecol Can. 2003;25:313-24. 17. Glazener CM, Lapitan MC. Urodynamic investigations for management of urinary incontinence in adults [review]. Cochrane Database Syst Rev. 2002;3: CD003195. 18. Houwert RM, Venema PL, Aquarius AE, Bruinse HW, Kil PJ, Vervest HA. Predictive value of urodynamics on outcome after mid-urethral sling surgery for female stress urinary incontinence. Am J Obstet Gynecol. 2009;200(6):649, e1-e1. 19. NICE guidelines urodynamics. Urinary incontinence: the management of urinary incontinence in women; Issue date: October 2006. 583 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Eventualmente, nos trabalhos que referem esta complicação como frequente, terá havido uma má avaliação pré-operatória destas queixas74. A urgência de novo é também referida66. A laceração vesical ocorre raramente. Deve ser reparada após se terminar a dissecção e não impede a colocação da prótese. Nos casos de laceração rectal, esta deve ser imediatamente reparada e o procedimento interrompido, pois não se deve colocar a prótese por risco de infecção. A erosão ou fístula vesical ou rectal são raras66. A prevenção das complicações faz-se pela escolha da prótese, evitando as incisões em T na mucosa vaginal, pela prevenção da contaminação e antibioterapia profilática, e por uma dissecção cuidada, prevenindo a hemorragia. Deve ter-se sempre em atenção que as próteses devem ser colocadas sem tensão. A realização concomitante de histerectomia vaginal é frequentemente desaconselhada por favorecer a erosão. Pessoalmente realizamos a histerectomia com frequência, tendo sempre o cuidado de realizar a dissecção no compartimento anterior através da cúpula, evitando a colpotomia longitudinal. Há muitas dúvidas sobre a utilização de próteses no tratamento do prolapso. A maioria dos estudos sobre o uso deste material é retrospectiva e não randomizada. Além disso, muitas dessas investigações são patrocinadas pela indústria, havendo um conflito de interesses. Apesar de não haver evidência da vantagem das próteses, a sua utilização tem aumentado. Na maioria dos casos, a decisão de as usar é baseada na experiência e capacidade técnica do cirurgião e não em provas científicas. 584 39. Klutke JJ, Carlin BI, Klutke CG. The tension-free vaginal tape procedure: correction of stress incontinence with minimal alteration in proximal urethral mobility. Urology. 2000;55:512-4. 40. Liapis A, Bakas P, Lazaris D, et al. Tension-free vaginal tape in the management of recurrent stress incontinence. Arch Gynecol Obstet. 2004;269:205-7. 41. Kuuva N, Nilsson CG. A nationwide analysis of complications associated with the tension-free vaginal tape (TVT) procedure. Acta Obstet Gynecol Scand. 2002;81:72-7. 42. Tamussino K, Hanzal E, Kolle D, et al. The Austrian tension-free vaginal tape registry. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2001;12 Suppl 2:28-9. 43. Kolle D, Tamussino K, Hanzal E, et al. Bleeding complications with the tension-free vaginal tape operation. Am J Obstet Gynecol. 2005;193:2045-9. 44. Sokol AI, Jelovsek JE, Walters MD, et al. Incidence and predictors of prolonged urinary retention after TVT with and without concurrent prolapsed surgery. Am J Obstet Gynecol. 2005;192:1537-43. 45. Meschia M, Pifarotti P, Bernasconi F, et al. Tension-free vaginal tape: analysis of outcomes and complications in 404 stress incontinent women. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2001;12 Suppl 2:24-7. 46. Delorme E. Transobturator urethral suspension: miniinvasive procedure in the treatment of stress Urinary incontinence women. Prog Urol 2001; 11: 1306-1313. 47. Barber MD, Gustilo-Ashby AM, Chen CCG, et al. Perioperative complications and adverse events of the Monarc® transobturator tape compared to the tension-free vaginal tape. Am J Obstet Gynecol. 2006;195:1820-5. 48. David-Montefiore E, Frobert JL, Grisard-Anaf M, et al. Perioperative complications and pain after the suburethral sling procedure for urinary stress incontinence: a French prospective randomized multicenter study comparing the retropubic and transobturator routes. Eur Urol. 2006;49:133-8. 49. Davila GW, Johnson JD, Serels S. Multicenter experience with the Monarc® transobturator sling system to treat stress urinary incontinence. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2006;17:460-5. 50. Roumeguere T, Quackels T, Bollens R, et al. Transobturator vaginal tape (TOT) for female stress incontinence: one year follow-up in 120 patients. Eur Urol. 2005;48:805-9. 51. Basu M, Duckett J. A randomized trial of a retropubic tension-free vaginal tape versus a mini-sling for stress incontinence. BJOG. 2010. 52. Pickard R, Reaper J, Wyness L, et al. Periurethral injection therapy for urinary incontinence in women. The Cochrane Library. 2003;3. 53. Kovac SR, Zimmerman CW. Vaginal hysterectomy. In: Kovac SR, Zimmerman CW, eds. Advances in reconstructive vaginal surgery. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2007. p. 103-27. 54. Figueirêdo Netto O, Figueirêdo O. Vaginal hysterectomy for the enlarged uterus. In: Kovac SR, Zimmerman CW, eds. Advances in reconstructive vaginal surgery. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2007. p. 130-6. 55. Cundiff GW. Anatomy of the pelvic víscera. In: Bent AE, Cundiff GW, Swift SE, eds. Ostergard’s urogynecology and pelvic floor dysfunction. 6th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2008. p. 3-26. 56. Handa VL. Physiology and pathophysiology of disorders of pelvic support. In: Bent AE, Cundiff GW, Swift SE, eds. Ostergard’s urogynecology and pelvic floor dysfunction. 6th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2008. p. 417-21. Capítulo 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 20. ACOG Practice Bulletin No. 63. Urinary incontinence in women. Obstet Gynecol. 2006;105:1533-45. 21. Langford CF, Elmissiry MM, Ghoniem GM. Do women have realistic expectations of treatment for stress urinary incontinence? Neurourol Urodyn. 2009;27:480-4. 22. Kelleher CJ, Cardozo LD, Khullar V, et al. A new questionnaire to assess the quality of life of urinary incontinent women. BJOG. 1997;104:1374-9. 23. Ulmsten U, Henriksson L, Johnson P, Varhos G. An ambulatory surgical procedure under local anaesthesia for treatment of female urinary incontinence. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 1996;7:81-6. 24. Ward KL, Hilton P. A prospective multicenter randomized trial of tension-free vaginal tape and colposuspension for primary urodynamic stress incontinence: two-year follow-up. Am J Obstet Gynecol. 2004;190:324-31. 25. Liapis A, Bakas P, Creatsas G. Burch colposuspension and tension-free vaginal tape in the management of stress urinary incontinence in women. Eur Urol 2002;41:469-73. 26. Lapitan MC, Cody DJ, Grant AM. Open retropubic colposuspension for urinary incontinence in women. Cochrane Database Syst Rev. 2005;CD002912. 27. Marshall VF, Marchetti AA, Krantz KE. The correction of stress incontinence by simple vesicourethral suspension. Surg Gynecol Obstet. 1949;88:509-18. 28. Smith ARB, Daneshgari F, Dmochowski R, et al. Surgery for urinary incontinence in women. In: Abrahms P, Cardozo L, Koury S, et al., eds. Third Consultation on Incontinence. Paris: Health Publication Ltd; 2005. 29. Leach GE, Dmochowski RR, Appell RA, et al. Female Stress Urinary Incontinence Clinical Guidelines Panel summary report on surgical management of female stress urinary incontinence. The American Urological Association. J Urol. 1997;158:875-80. 30. Sand PK, Winkler H, Blackhurst DW, et al. A prospective randomized study comparing modified Burch retropubic urethropexy and suburethral sling for treatment of genuine stress incontinence with low-pressure urethra. Am J Obstet Gynecol. 2000;182:30-4. 31. Demirci F, Yucel O. Comparison of pubovaginal sling and Burch colposuspension procedures in type I/II genuine stress incontinence. Arch Gynecol Obstet. 2001;265:190-4. 32. Lo TS, Horng SG, Liang CC, et al. Ultrasound assessment of midurethra tape at three-year follow-up after tensionfree vaginal tape procedure. Urology. 2004;63:671-5. 33. Sarlos D, Kuronen M, Schaer GN. How does tensionfree vaginal tape correct stress incontinence? Investigation by perineal ultrasound. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2003;14:395-8. 34. Mutone N, Mastropietro M, Brizendine E, et al. Effect of tension-free vaginal tape procedure on urodynamic continence indices. Obstet Gynecol. 2001;98:638-45. 35. Wang AC, Chen MC. Comparison of tension-free vaginal taping versus modified Burch colposuspension on urethral obstruction: a randomized controlled trial. Neurourol Urodyn. 2003;22:185-90. 36. El-Barky E, El-Shazly A, El-Wahab OA, et al. Tension-free vaginal tape versus Burch colposuspension for treatment of female stress urinary incontinence. Int Urol Nephrol. 2005;37:277-81. 37. Ward K, Hilton P. Prospective multicenter randomized trial of tension-free vaginal tape and colposuspension as primary treatment for stress incontinence. Br Med J. 2002;325:67. 38. Manca A, Sculpher MJ, Ward K, et al. A cost-utility analysis of tension-free vaginal tape versus colposuspension for primary urodynamic stress incontinence. Br J Obstet Gynaecol. 2003;110:255-62. Cirurgia por via vaginal 68. Maher C, Baessler K, Glazener CMA, Adams EJ, Hagen S. Surgical management of pelvic organ prolapse in women [review]. The Cochrane Library. 2008; 3. 69. Guleria K. Manchester repair. In: Goel N, Rajaram S, eds. State-of-the-art vaginal surgery. McGraw-Hill Medical. 2009. p. 224-31. 70. Wheeler TL II, Richter HE. Obliterative procedures. In: Bent AE, Cundiff GW, Swift SE, eds. Ostergard’s urogynecology and pelvic floor dysfunction. 6th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2008. p. 511-23. 71. Blomquist JL, Cundiff GW. Posterior support defects. In: Bent AE, Cundiff GW, Swift SE, eds. Ostergard’s urogynecology and pelvic floor dysfunction. 6th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2008. p. 499-510. 72. Paraiso MFR, Barber MD, Muir TW, Walters MD. Rectocele repair: a randomized trial of three surgical techniques including graft augmentation. Am J Obstet Gynecol. 2006;195:1762-71. 73. Colinet P, Belot F, Debodinance P, Ha Duc E, Lucot JP, Cosson M. Transvaginal mesh technique for pelvic organ prolapse repair: mesh exposure management and risk factors. Int Urogynecol J. 2006;17:315-20. 74. Jacquetin B, Fatton B, Cosson M, Willy Davila G, Valemir L, Petri E. Postoperative complications following transvaginal mesh repair of pelvic organ prolapse: etiology, prevention and management. IUGA 2009 Workshop. Conference proceedings. 75. Novara G, Galfano A, Secco S, Ficarra V, Artibani W. Prolapse surgery: an update. Curr Opin Urol. 2007;17:237-2. Os autores agradecem ao Dr. L.J. Sanó Polanco os desenhos incluídos no capítulo. 585 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 57. DeLancey JO. Anatomic aspects of vaginal eversion after hysterectomy. Am J Obstet Gynecol. 1992;166:1717-24. 58. Young SB, Kambiss SM. Anterior wall defects. In: Bent AE, Cundiff GW, Swift SE, eds. Ostergard’s urogynecology and pelvic floor dysfunction. 6th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2008. p. 463-78. 59. Kovac SR, Syubbs JT. Repair of the anterior segment. In: Kovac SR, Zimmerman CW, eds. Advances in reconstructive vaginal surgery. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2007. p. 188-98. 60. Novara G, Artibani W. Surgery for pelvic organ prolapse: current status and future perspectives. Curr Opin Urol. 2005;15:256-62. 61. Weber AM, Richter HE. Pelvic organ prolapse. Obst Gynecol. 2005;106:615-34. 62. Debodinance P, Berrocal J, Calvé H, et al. Évolution des idées sur le traitement chirurgical des prolapsus génitaux. J Gynecol Obstet Biol Reprod. 2004;33:577-88. 63. Deprest J, Zheng F, Konstantinovic M, et al. The biology behind fascial defects and the use of implants in pelvic organ prolapse repair. 2005 IUGA Grafts Roundtable. Int Urogynecol J. 2006;17(Suppl):16-25. 64. Nguyen JN, Burchette RJ. Outcome after anterior vaginal prolapse repair. A randomized controlled trial. Obstetrics & Gynecology. 2008;111(4):891-8. 65. Weber AM, Walters MD, Piedmonte MR, Ballard LA. Anterior colporraphy: a randomized trial of three surgical techniques. Am J Obstet Gynecol. 2001;185:1299-304. 66. Abdel-Fattah M, Ramsay I, on behalf of the West of Scotland Study Group. Retrospective multicentre study of the new minimally invasive mesh repair devices for pelvic organ prolapse. BJOG. 2008;115:22-30. 67. Gutman RE. Apical support defects. In: Bent AE, Cundiff GW, Swift SE, eds. Ostergard’s urogynecology and pelvic floor dysfunction. 6th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2008. p. 479-98. Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010