UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL ISMÊNIA RESENDE FONSECA AVALIAÇÃO DA INTERFERÊNCIA DA EFICIÊNCIA HIDRÁULICA NA EFICIÊNCIA DE DESINFECÇÃO EM TANQUES DE CONTATO DE ÁGUA COM CLORO UTILIZANDO COM REFERENCIA O GRUPO DE COLIFORMES TOTAIS E FECAIS VITÓRIA 2002 ISMÊNIA RESENDE FONSECA AVALIAÇÃO DA INTERFERÊNCIA DA EFICIÊNCIA HIDRÁULICA NA EFICIÊNCIA DE DESINFECÇÃO EM TANQUES DE CONTATO DE ÁGUA COM CLORO UTILIZANDO COM REFERENCIA O GRUPO DE COLIFORMES TOTAIS E FECAIS Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental do Centro Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Ciências em Engenharia Ambiental Orientador:Prof. Dr Edmilson Costa Teixeira VITÓRIA 2002 E quando nem um fio dágua cintilar sobre a terra para saciar a sede humana, o homem mergulhará em sua consciência e envergonhado de sua partição ou omissão sutilmente limpará suas lágrimas, o único fio de água cristalina que ele não poderá omitir, porque participou! Ismênia Resende Fonseca AGRADECIMENTOS A Deus que em seu imensurável amor me concede o aprendizado diário, tão necessário a minha evolução.! Ao meu querido Maurício, marido-amigo, grande incentivador de todos os momentos de minha vida, em seu apoio constante. Aos meus filhos, Fabrício, Fábio e Lucas, pela compreensão de tantas horas subtraídas do convívio familiar. Ao meu orientador Prof. Edmilson Costa Teixeira, pela oportunidade, pela orientação, pela paciência e pelo meu desenvolvimento profissional. À participação especial da Enga e Profa Iene Figueiredo, pelo apoio na etapa inicial desse trabalho. Ao técnico do Laboratório de Hidráulica e Saneamento Antônio Carlos de Souza, pela sua valiosa colaboração e disponibilidade em cada etapa da montagem da unidade experimental. A CESAN através da EngA Maria Alice Piccolo. Aos colegas do GEARH, em especial a Lucas Henrique Case e Renato Siqueira pelo apoio acadêmico e atenção dispensados no período de conclusão desta dissertação. A Fabrício Resende Fonseca pelo apoio aos trabalhos de campo e ensaios laboratoriais, SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ............................................................................................ 7 LISTA DE QUADROS ............................................................................................. 9 LISTA DE TABELAS ............................................................................................. 10 LISTA DE GRÁFICOS ........................................................................................... 11 LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS ......................................................................... 12 ABSTRACT ........................................................................................................... 14 1-INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15 2- OBJETIVOS ...................................................................................................... 18 2.1 – Objetivo Geral ........................................................................................... 18 2.2- Objetivos Específicos ................................................................................. 18 3- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 19 3.1 – Desinfecção de Água Pelo Método da Cloração ...................................... 19 3.1.1- Cloração ao breakpoint ........................................................................ 20 3.2 –Química da cloração .................................................................................. 22 3.2.1 – Reações com Água ............................................................................ 22 3.2.2- Reações com Amônia .......................................................................... 24 3.2.3 – Subprodutos da Cloração ................................................................... 25 3.3 –Mecanismo da desinfecção ....................................................................... 26 3.3.1 – Eficiência da Resinfecção com Residual de Cloro Livre .................... 26 3.3.2 -Fatores que Influenciam a Ação Bactericida do Cloro ......................... 28 3.3.2.1- Teoria das Colisões ....................................................................... 29 3.3.2.2 – Injeção do Desinfetante ............................................................... 30 3.4-Parâmetros Bacteriológicos ......................................................................... 31 3.4.1- Coliformes Totais (CT) ......................................................................... 31 3.4.2- Coliformes Fecais (CF) ........................................................................ 32 3.4.3-Identificação de Coliformes Totais e Fecais Pela Técnica da Membrana Filtrante .......................................................................................................... 32 3.5-Parâmetros Físicos e Químicos ................................................................... 33 3.5.1- pH ........................................................................................................ 33 3.5.2 – Temperatura ....................................................................................... 34 3.5.3-Turbidez ................................................................................................ 34 3.5.4- Cor ....................................................................................................... 35 3.5.5- Ferro e Manganês ................................................................................ 35 3.5.6 – Oxigênio Dissolvido (OD) ................................................................... 35 3.5.7- Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) ............................................ 36 3.5.8 –Demanda Química de Oxigênio (DQO) ............................................... 36 3.5.9- Nitrogênio Amoniacal (N-NH3) ............................................................. 37 3.6- Variáveis Hidrológicas ................................................................................ 38 3.7-Aspectos Gerais da Eficiência de Desinfecção em Unidade de Contato ..... 38 3.7.1- Desempenho hidráulico da Unidade de Contato .................................. 38 3.7.1.1- Efeito da Configuração no Desempenho Hidráulico ...................... 40 3.7.1.2- Coeficiente de Mistura Global (d) .................................................. 41 3.7 2- Cinética de Decaimento Bacteriano (K) ................................................... 41 3.8 - Modelos Cinéticos de Desinfecção ............................................................ 42 3.8.1- Modelo de Chick-Watson ..................................................................... 43 3.8.2– Modelo de Wehner e Wilhelm ............................................................. 46 4- METODOLOGIA ............................................................................................... 48 4.1- Avaliação de Qualidade da Água In Natura do Manancial Santo Agostinho. ........................................................................................................................... 48 4.2 – Método da Cloração ao Breakpoint .......................................................... 49 4.2.1-Sistema Experimental da Cloração ao Breakpoint (batelada) ............... 49 4.3 –Determinação do Cloro Residual Livre ...................................................... 52 4.4– Determinações Bacteriológicas ................................................................. 53 4.5- Determinação dos Coeficientes de Cinética Reacional Bacteriana K ......... 55 4.6-Características Hidráulicas da Unidade de Contato (UC) em Estudo .......... 56 4.6.1- Modelo Reduzido ................................................................................. 57 4.6.2- Modelo Reduzido Otimizado ................................................................ 57 4.6.2.1- Modelo Reduzido com Defletor de Escoamento............................ 58 4.6.2.2-Modelo Reduzido com Chicanas .................................................... 59 4.7 - Método de Injeção do Desinfetante na Unidade de Contato de Fluxo Contínuo ............................................................................................................ 59 4.8 - Método de coleta das amostras na Unidade de Contato .......................... 60 4.9- Previsão da Taxa de Inativação Bacteriana ............................................... 61 5- RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................... 63 5.1- Avaliação da Interferência da Qualidade de Água Bruta no Sistema Experimental da Cloração.................................................................................. 63 5.2 - Avaliação Da Influência da Eficiência Hidraúlica de Unidades de Contato na Eficência de Desinfeção de Água Com Cloro ............................................... 66 5.2.1-Verificação da Influência da Eficiência Hidráulica na Taxa de Remoção de Coliformes Totais e Fecais ........................................................................ 67 5.2.2 – Verificação da Influência da EH na ED Através do Consumo de Cloro ....................................................................................................................... 71 5.2.3 - Considerações Finais Sobre a Relação Entre Eficiência Hidráulica (EH) e Eficiência de Desinfecção (ED). .................................................................. 72 5.3- Verificação do Desempenho dos Modelos de Previsão de Wehner E Wilhelm e Chick-Watson no Processo de Desinfecção de Água com Cloro . 73 5.3.1 – Determinação da Cinética Reacional Bacteriana (K) ......................... 73 5.3.2 – Verificação do Desempenho do Modelo de Wehner Wilhelm no Processo de Desinfecção de Água ................................................................ 74 5.3.3 – Verificação do Desempenho do Modelo de Chick-Watson no Processo de Desinfecção de Água ................................................................................ 76 5.3.4 – Análise Comparativa Entre os Modelos de Desinfecção .................... 79 6 - Conclusões e Recomendações........................................................................ 81 6-1 – Conclusões Gerais ................................................................................... 81 6-2 – Avaliação da Eficiência de Desinfecção(ED) na UC ................................. 82 6-3 – Avaliação do consumo de desinfetante .................................................... 82 6-4 – Recomendações ....................................................................................... 83 LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE QUADROS LISTA DE TABELAS LISTA DE GRÁFICOS LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS RESUMO A desinfecção de águas destinadas ao consumo humano torna-se cada vez mais necessária no controle de doenças de veiculação hídrica. Para isso é fundamental a utilização de desinfetantes seguros sob o ponto de vista de eficiência inativação de microrganismos patogênicos, da não toxicidade desinfetante e da humana(Daniel,2000). não geração Diante dessa de subprodutos necessidade, do residual de nocivos tornou-se de à saúde pertinente o desenvolvimento de estudos que busquem maior eficiência de desinfecção nos processos de cloração.Nesse contexto este trabalho propõe-se avaliar: (1) a demanda de cloro requerido pela água em estudo através do breakpoint da cloração, assim como os parâmetros de qualidade da água que mais interferem no processo da cloração; (2) a cinética reacional bacteriana (k) em função do comportamento hidrodinamico da unidade de contato, em suas diferentes configurações, e dos fatores que podem influenciar nesse processo; (3) a aplicabilidade de modelos cinéticos de desinfecção em batelada (Chick-Watson e Hom) na previsão de desinfecção de água com cloro em unidades de contato operando em fluxo contínuo; (4) a validação da equação de Wehner e Wilhelm,para dimensionamento de unidades de contato a serem construídas. a demanda de cloro pela água em estudo através da cloração ao breakpoint, assim como os parâmetros de qualidade da água que mais interferem no processo da cloração.Este trabalho estabelece ainda a relação entre a cinética de decaimento de coliformes totais e fecais.Na análise dos resultados constatou-se uma significativa interferência do comportamento hidrodinamico sobre a cinética reacional bacteriana, independente do microrganismo, uma vez que o aumento da eficiência hidráulica da unidade provocou um consumo de cloro para desinfecção. Verifica-se também que,apesar do modelo de Wehner e Wilhelm considerar a hidrodinamica da UC, o modelo de Chick-Watson se mostrou uma boa ferramenta na estimativa do consumo de cloro na situação estudada. ABSTRACT 1-INTRODUÇÃO No Brasil a cloração tem sido o processo de desinfecção de água mais utilizado para o controle de microrganismos patogênicos nas UC. A cloração é usualmente realizada com cloro na forma de gás cloro, hipoclorito de sódio (líquido) ou hipoclorito de cálcio (sólido).O cloro é um agente oxidante de elevado potencial bactericida, além de estar disponível a preço razoável, apresentar facilidade de manuseio, armazenamento, transporte e aplicação, produz residual capaz de evitar a recontaminação da água tratada (Fair, Geyer e Okum, 1954). Tem-se constatado que o processo da cloração na maioria das unidades de contato não alcançam um nível desejável de desinfecção da água, porque não fazem uso eficiente deste desinfetante.As principais causas dessa deficiência são atribuídas a elaboração de projetos e operação inadequados (Hart e Gupta,1978).Tais procedimentos se devem à dificuldade na determinação do regime hidráulico da UC, em função de sua configuração (geometria, tipo dos dispositivos de entrada e saída da unidade, presença de defletores de escoamento, de chicanas, entre outros), e a correta utilização do regime hidráulico no projeto (Siqueira et al. 1996; Marke e Boyle, 1973). Em vista do exposto, observa-se a utilização de dosagens de cloro maiores do que aquelas previstas para um determinado nível de eficiência de desinfecção (Hart e Gupta, 1978). Outros fatores, tais como: espécie e concentração de microrganismos e desinfetante, tempo de contato, características físicas e químicas da água, e grau de dispersão de desinfetante, também podem acarretar a elevação das dosagens de cloro, quando são negligenciados.Esse procedimento não tem sido uma medida eficiente, segundo os trabalhos de Lechevalier (1990) e de Van der Kooy e Veenenndaal (1992).O que se observa nessas situações é a formação de subprodutos do cloro potencialmente cancerígenos, como a produção de trihalometanos,além de elevar os custos operacionais do processo da cloração. O cloro aplicado no tratamento deve manter um residual mínimo de 0,2 mg/l de cloro livre até o ponto mais distante da rede (Portaria 1469/2000 do Ministério da Saúde). A eficiência de desinfecção (ED) da água por um desinfetante esta diretamente relacionada com a eficiência hidráulica (EH) da unidade de contato (UC) e com a constante cinética de inativação dos microrganismos (k) (Figueiredo e Teixeira, 2000). A eficiência hidráulica de uma unidade de tratamento de água é altamente dependente das características do escoamento no seu interior (Teixeira, 1999). Na prática, os regimes de escoamento no interior de uma unidade são caracterizados por parcelas significativas de curto-circuito e zonas mortas, desviando-se bastante do escoamento tido como tipo pistão para esse tipo de reator (Teixeira, 1993; Shiono et. Al, 1991). Entretanto o padrão de escoamento pode sofrer mudanças significativas para otimizar o processo de cloração, como a alteração de sua configuração: modificação da geometria, inserção de difusores, chicanas, etc (Siqueira et. al. 1996; Marske e Boyle, 1973). A cinética reacional bacteriana k constitui um dado de fundamental importância, na previsão na ED. Esse dado expressa a velocidade com que ocorre a desinfecção (tomando-se como referência à inativação de um determinado tipo de microrganismo) e, conseqüentemente, aponta os fatores que nela interferem. Para a obtenção desse dado cinético(k) são comumente empregados os modelos cinéticos de desinfecção, a partir de dados laboratoriais. Dentre os modelos disponíveis encontram-se os modelos de Chick-Watson (1908), Hom (1972) e Wehner e Wilhelm (1956).A aplicação desses modelos é uma importante ferramenta para previsão da dosagem de desinfetante a ser utilizada numa unidade de contato. Neste contexto, foram definidos os objetivos desse trabalho. 2- OBJETIVOS Neste trabalho a avaliação da interferência da eficiência hidráulica (EH) na eficiência de desinfecção está fundamentada no estudo da cinética reacional bacteriana em unidades de cloração e, na influência do comportamento hidrodinâmico do escoamento nesse processo. A partir deste contexto, são descritos os objetivos geral e específicos. 2.1 – Objetivo Geral Verificação da eficiência de desinfecção (ED) pelo processo da cloração, em função da cinética de inativação bacteriana e do desempenho hidráulico de uma unidade de contato, utilizando os modelos cinéticos de desinfecção para relacionar a ED com o consumo de desinfetante. 2.2- Objetivos Específicos Avaliação da interferência da qualidade da água bruta na desinfecção, Avaliação dos valores de cinética reacional bacteriana k obtidos em batelada e em fluxo contínuo, aplicando-se o modelo de Chick-Watson, Avaliação do efeito da configuração da UC em seu desempenho hidráulico, a partir dos valores de cinética reacional K e concentração de desinfetante (mg/l), obtidos em batelada e fluxo contínuo, Previsão de consumo de cloro para inativação de cada microrganismo tomado como referência, em função das configurações da UC (original, com defletor e chicanas) segundo os modelos de previsão (Chick-Watson, Hom e Wehner e Wilhelm), 3- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 – Desinfecção de Água Pelo Método da Cloração A desinfecção de água destinada ao consumo humano torna-se cada vez mais necessária para o controle de doenças de veiculação hídrica, exigindo a utilização de desinfetantes seguros quanto à eficiência de inativação de microrganismos patogênicos, níveis residuais de desinfetantes isentos de toxidade e geração de subprodutos prejudiciais à saúde humana. No Brasil, a desinfecção de água para consumo humano é usualmente realizada com cloro na forma de gás cloro, hipoclorito de sódio (líquido) ou hipoclorito de cálcio (sólido). Alguns estudos verificaram que a eficiência do processo de desinfecção pelo cloro, pode ser afetada pelas características hidrodinâmicas da unidade de contato, características físico-químicas e bacteriológicas da água a ser tratada, assim como a concentração e tempo de contato do desinfetante utilizado (Morris et al. 1971). Os projetos de unidades de contato consideram basicamente o volume e o tempo teórico de detenção, não levando em conta o surgimento de zonas mortas e curto circuitos durante o escoamento da água (Teixeira,1993 e Figueiredo,2000). Conseqüentemente é necessário um aumento da concentração de desinfetante para atingir a eficiência de desinfecção desejada, acarretando a elevação dos níveis residuais de cloro e os riscos da geração de subprodutos da cloração (LeChevallier,1990). A desinfecção por cloração pode ser realizada por três métodos: cloração simples, cloração ao breakpoint e amonia-cloração. Para águas destinadas ao consumo humano é indicado a cloração ao breakpoint. Neste caso as dosagens de cloro variam com as características da água (White, 1972), conforme discutido no item 3.1.1. 3.1.1- Cloração ao breakpoint O cloro não só é um agente desinfetante eficaz, como também possui uma forte ação oxidante.Assim, quando aplicado à água no processo da desinfecção, pode ser em parte consumido por reações de oxidação, que se processam com materiais de origem orgânica e inorgânica. As reações de oxidação e a proporção com que ocorrem comprometem os processos de desinfecção.Sendo, por esse motivo, necessário que o cloro adicionado à água exista em quantidade suficiente para atender tanto as reações de oxidação, como as reações especificas do processo de desinfecção. Para garantia da desinfecção e como prevenção a posteriores contaminações deve ser mantidos residuais de cloro livre, em qualquer ponto da unidade de tratamento. O residual livre ocorrerá quando toda demanda de cloro pela água tiver sido satisfeita. As manutenções do residual livre são complexas devido a forte ação oxidante do cloro.O cloro livre reage inicialmente com agentes redutores e logo após essa demanda imediata, continua a reagir com compostos amoniacais presentes na água, formando as cloraminas (Metcalf e Eddy, 1991).O cloro apresentado sob essa forma é definido como cloro residual combinado. A relação entre o cloro residual livre e o cloro residual combinado é definido como breakpoint (Figura 3.1). O breakpoint é o ponto de inflexão na cloração da água onde todo ou quase todo cloro residual aplicado será livre. Figura 3.1–Curva representativa do breakpoint da Cloração Fonte Treffeissen e al. (1997) O cloro adicionado à água com teor de amônia formam residuais que definem uma curva similar à da Figura 3.1. A curva de breakpoint é particular para cada água testada, pois a demanda de cloro depende da concentração de amônia, presença de outros redutores, período de contato entre a aplicação do cloro e o teste de residual, e outros fatores (Hammer,1979) A linha reta representa a concentração de cloro aplicada ou o cloro residual, caso a água não tenha demanda pelo cloro.O trecho curvo corresponde residuais de cloro, provenientes de várias dosagens, após um determinado tempo de contato.A demanda de cloro representa a área entre as linhas correspondentes ao cloro aplicado e residual.O ponto mínimo desta área determina o breakpoint, que indica a separação entre o cloro residual combinado e o cloro residual livre. O breakpoint é atingido depois da destruição total das cloraminas, o que significa que a efetiva desinfecção ocorrerá a partir desse ponto.Novas adições de cloro aparecerão inteiramente como cloro residual livre, visto ter sido satisfeita toda a demanda de cloro pela água.Convém assim dizer, que o residual de cloro se encontre após o breakpoint. (Hammer, 1979). A cloração ao brakpoint pode ser usada como etapa inicial da desinfecção, estabelecendo e mantendo um residual de cloro livre ao longo do processo de tratamento.(Rossin,1971) . A analise quantitativa do cloro residual (mg/l) pode ser feita através dos métodos calorimétricos ou iodométricos.Esses métodos permitem um monitoraramento imediato da desinfecção porque possuem um sistema operacional simples e rápido. 3.2 –Química da cloração O cloro e seus sais inorgânicos são oxidantes energéticos. Podem reagir com uma grande variedade de compostos orgânicos e inorgânicos antes de produzir qualquer efeito de desinfecção. 3.2.1 – Reações com Água O cloro adicionado à água na forma de hipoclorito de sódio (NaClO) em poucos segundo se hidrolisa segundo a reação: NaClO + H2O NaOH + HclO (3.1) Forma-se então, o ácido hipocloroso (HClO), que se ioniza instantaneamente segundo a reação: HclO H+ Acido hipocloroso cátion hidrogênio + ClOânion hipocloroso (3.2) A quantidade de HClO e ClO- presente na água representa o cloro residual livre, no entanto, apenas o ácido hipocloroso tem função de agente desinfetante, o íon hipoclorito é praticamente inativo. A proporção entre o ácido hipocloroso e o íon hipoclorito varia significativamente com o pH e temperatura da água (Figura 3.2).Quanto maior a temperatura e o pH, maior o grau de ionização desse ácido, e menor a sua proporção no sistema. Figura 3.2- Distribuição de HClO e ClO- em água em função do pH Fonte Laubush (1975) O ácido hipocloroso ioniza-se fracamente a valores de pH inferiores a 6,0; portanto o cloro existe predominantemente na forma de HClO em valores baixos de pH (Laubush, 1975). O hipoclorito de sódio adicionado à água torna o meio alcalino, favorecendo a ionização do ácido HClO, reduzindo a ação bactericida do cloro. Esse problema é contornado diluindo as soluções de hipoclorito (White, 1972) 3.2.2- Reações com Amônia Entre as substâncias freqüentemente contidas na água com as quais o cloro reage, tem significado especial a amônia e outros compostos orgânicos nitrogenados, como proteínas e aminoácidos, com os quais o cloro reage formando as cloraminas de acordo com as reações: NH4+ + HClO NH2Cl + H2O + H+ (3.3) NH2Cl + HClO NHCl2 + H2O (3.4) NHCl2 + HClO NCl3 (3.5) + H2O As cloraminas representam o cloro residual combinado e possuem um relativo poder bactericida, mas incomparavelmente menor do que o ácido hipocloroso. A demanda imediata do cloro pela água ocorre na oxidação de sulfetos,íons de ferro II e manganês II e nitritos.Essas reações ocorrem muito rapidamente, enquanto a maior parte dos compostos orgânicos requer um tempo maior para reagir (Morris, 1971). O processo da cloração é representado esquematicamente através da Figura 3.3. Cloro-(Cl2) Cloro residual Demanda Livre HOCl Acido Hipocloroso Combinado OCl- Íon Hipoclorito NHCl Mono cloramina NHCl2 Di cloramina NCl3 Tricloreto de Nitrogênio Figura 3.3 – Representação esquemática do processo de cloração 3.2.3 – Subprodutos da Cloração A cloração de águas que contém matéria orgânica pode formar vários subprodutos prejudiciais à saúde como, por exemplo, trihalometanos, haloacetonitrilas, haloacetonas, ácidos haloáceticos, clorofenóis, dentre outros. Os trihalometanos são potencialmente cancerígenos e as haloacetonitrilas podem ter ação mutagênica ou induzir o desenvolvimento de tumores (Daniel, 2000). A formação dos trihalometanos (THM’s) é favorecida pelo aumento de temperatura,aumento do pH, elevações nas concentração dos residuais de cloro e presença de substâncias húmicas e fúlvicas . Uma das formas de controlar a formação dessas substâncias é a construção de unidades de cloração com maior eficiência hidráulica e de desinfecção, evitando dosagens excessivas de cloro. 3.3 –Mecanismo da desinfecção A desinfecção pelo cloro envolve uma série de hipóteses quanto a destruição ou inativação de microrganismos.Atualmente a mais aceita é a hipótese da inativação de sistemas enzimáticos desses microrganismos. A ação bactericida do cloro se processa inicialmente com a penetração do desinfetante na parede celular do microrganismo.Em seguida, ocorre uma reação química irreversível do desinfetante com o sistema enzimático,(possivelmente sobre triosefosfato dihidrogenase) responsável pelos processos de oxi-redução no metabolismo celular causando sua interrupção, o que implica em morte rápida (Murgel, 1986). Essa hipótese sustenta que as moléculas neutras são bactericida mais eficiente do que íons, aparentemente porque podem penetrar mais facilmente nas paredes celulares carregadas negativamente, enquanto a passagem do anion pode ser contrariada pela repulsão eletrostática.Neste caso, o acido hipocloroso é mais ativo que o íon hipoclorito (Rossin, 1971). 3.3.1 – Eficiência da Resinfecção com Residual de Cloro Livre A eficiência de um processo de desinfecção é avaliada pela redução do número de microrganismo patogênicos. Entretanto é inviável econômica e operacionalmente detectar todos os microrganismos patogênicos presentes.Para tornar a avaliação segura e menos dispendiosa utilizam-se coliformes fecais como microrganismos indicadores, mais resistentes que a grande maioria dos microrganismos patogênicos (Daniel, 2000). Durante a cloração e em situação que exigem maior rapidez, as análises bacteriológicas, pode ser parcialmente substituídas pela determinação de cloro residual (Moitta, 1974). O uso do residual de cloro livre oferece maior garantia de desinfecção devido a forte ação bactericida do ácido hipocloroso (descrita no item 3.2).Entretanto o cloro residual combinado (cloraminas) pode atingir a mesma eficiência se forem utilizados tempos de contato e concentrações maiores. Em 1980 o Comitê para estudos da Água da Academia Nacional de Ciências, relatou que as cloraminas reagem com enzimas dos ácidos nucléicos, entretanto alguns pesquisadores contestaram essas informações afirmando que as cloraminas reagem com grupos sulfidrilas de proteínas.As reações com esses radicais somente ocorrem com desinfetante em altas concentrações.Quando em baixas concentrações, pode ocorrer a recuperação do microrganismo.Além disso, a célula bacteriana apresenta muitos grupamentos sulfidrilas, acarretando inúmeras reações com as cloraminas, para que a inativação seja alcançada. Todos esses fatores contribuem para a menor eficiência do cloro residual combinado em relação ao cloro residual livre (Figura 3.4). Cloro Combinado %Bact. remanes centes livre Cloro livre Tempo de contato (min.) Figura 3.4 –Eficiência da desinfecção de água contendo E.coli com cloro residual livre e combinado Entre os fatores que afetam a eficiência de desinfecção pelo cloro podem ser citados: Concentração e espécie do organismo a ser inativado; Concentração e espécie do desinfetante; Tempo de contato; Características físicas e químicas da água; Grau de dispersão do desinfetante na água No Brasil, a Portaria No 1469, de Dezembro do Ministério da Saúde recomenda a concentração mínima de 0,2 mg/l de cloro livre em qualquer ponto da rede de distribuição. 3.3.2 -Fatores que Influenciam a Ação Bactericida do Cloro A avaliação da eficiência de um agente bactericida é feita através da determinação do número de microrganismos sobreviventes após um determinado tempo de contato do desinfetante com a bactéria. Informes sobre agentes bactericidas afirmam que eles “matam por contato”. Tecnicamente esta afirmação está correta, porque as células bacterianas devem estar em contato com o desinfetante para serem mortas.Mas é errôneo concluir que todos as bactérias são mortas instantaneamente, ao contato. Em vez disso, elas morrem em uma relação constante, em um dado período de tempo.Este padrão característico de morte é denominado morte exponencial (Pelczar, 1996). O aumento do tempo de contato aliado a mistura do desinfetante favorece a probabilidade de colisões entre as moléculas do desinfetante e as membranas bacterianas. 3.3.2.1- Teoria das Colisões Segundo a Teoria das Colisões, a velocidade da reação é controlada por dois fatores: Número de colisões entre as moléculas reagentes na unidade de tempo; Colisões orientadas (colisões efetivas). O primeiro fator é obvio, quanto maior a concentração dos reagentes, maior será a probabilidade de haver colisões entre as moléculas reagentes.Porém, nem todas as colisões possuem orientações suficientes para produzir uma reação química.A natureza dos reagentes, a temperatura e a extensão do contato das moléculas reagentes tem influência sobre a fração de colisões que resultam numa reação química (Perkins, 1974; Denbigh, 1971; Eyring, 1963). A ação do desinfetante é uma ação de superfície, devido a penetração deste, na parede celular bacteriana; portanto, é necessário favorecer o encontro entre o desinfetante e o microrganismo que se pretende inativar (Campbell et al.,1993) . Segundo Green e Stumph (1974), a morte dos microrganismos resulta da reação química entre o ácido hipocloroso (HClO) com a enzima triosefosfato dihidrogenase, essencial na atividade do metabolismo celular. Uma rápida e perfeita dispersão do cloro permite o contato de seus residuais mais ativos com as bactérias presentes na água, aumentando a eficiência do mecanismo da desinfecção. Neste caso, o contato entre residuais livre e bactéria corresponde a colisão entre o ácido hipocloroso e a enzima triosefosfato dihidrogenase. A desinfecção não é um processo instantâneo, ela leva tempo para atingir o nível de inativação desejada. Esse tempo necessário não é estabelecido por padrões fixos, porquanto a inativação de microrganismos na água depende de muitos fatores tais como: pH, temperatura, espécie e concentração de cloro (dosagem), tempo de contato, características físicas e químicas da água, além de outros (Netto, 1966).Entretanto, as colisões moleculares (moléculas do desinfetante e enzimas) constituem um fator preponderante para conduzir as reações no sistema de cloração. 3.3.2.2 – Injeção do Desinfetante A injeção do desinfetante é feita normalmente na entrada da unidade, seja instantânea ou contínua, evitando alterar o padrão de escoamento da unida de tratamento. A injeção instantânea é utilizada para obtenção de uma distribuição de tempos de residência para toda unidade. Enquanto a injeção contínua se aplica para determinação de uma distribuição permanente no interior da unidade. Neste caso torna-se necessário observar o momento em que a unidade atinge um regime permanente de escoamento (Teixeira e Rigo, 1996). O desinfetante injetado é dosado por dosadores de hipoclorito denominados de hipocloradores. O mais utilizado é a bomba dosadora de diafragma.Entretanto, outro tipo de dosador à gravidade pode ser utilizado. Qualquer que seja o ponto de aplicação e tipo de dosador é necessário que a dispersão do cloro na água seja a mais perfeita e rápida possível.Uma rápida dispersão do cloro é de fundamental importância para eficiência da desinfecção (Netto, 1966). 3.4-Parâmetros Bacteriológicos Os padrões bacteriológicos de qualidade da água a nível nacional e internacional estão baseados na detecção e enumeração de coliformes totais, coliformes fecais e E.coli (Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA, 1986; World Health Organization-Who, 1987). As bactérias do grupo coliforme são microrganismos indicadores da qualidade sanitária da água (Ministério da Saúde, 1990).Para avaliar a qualidade bacteriológica de águas tratadas utilizam-se os coliformes totais, e para águas brutas de mananciais os coliformes fecais (CONANA 20/86).Portanto, são estes os grupos bacterianos estudados tradicionalmente nos estudos de cinética reacional (Ceballos, 1998) A “Norma de Qualidade de Água para Consumo Humano”, anexo da portaria do Ministério da Saúde No 1469, de dezembro de 2000, define Escherichia coli como sendo “sendo considerada o mais especifico indicador de contaminação fecal recente e de eventual presença de organismos patogênicos” e estabelece padrão bacteriológico com base na detecção de Escherichia coli ou coliformes termotolerantes, mas recomenda a primeira para ser preferencialmente adotada (CETESB,1993). 3.4.1- Coliformes Totais (CT) O grupo de bactérias coliformes denominados de coliformes totais (CT), é constituído de vários gêneros da família Enterobacteriaceae (Enterobacter, klebiella, Citrobacter e Escherichia). São definidos como bastonetes Gram negativos, não formadores de esporos, anaeróbio facultativo e fermentadores da lactose em 24-48 horas com produção de gás (APHA, 1995). A presença de coliformes total indica poluição que pode ser de origem ambiental ou de esgoto (E. Coli) com risco da presença de organismos patogênicos. 3.4.2- Coliformes Fecais (CF) Subgrupo dos coliformes.Sua caracterização está baseada na capacidade de fermentar a lactose a 44,5oC (Geldreich, 1966). O principal componente deste subgrupo é Escherichia coli, embora a Klebsiella tenha também a capacidade de fermentar a lactose a essa temperatura. A presença de coliforme fecal indica uma poluição que tem origem no esgoto. As bactérias Escherichia coli e eventualmente a Klebsiella são consideradas indicadoras de poluição fecal. 3.4.3-Identificação de Coliformes Totais e Fecais Pela Técnica da Membrana Filtrante O fundamento da técnica da membrana filtrante consisti em filtrar um volume conhecido de amostra ou de suas diluições através de uma membrana atóxica com porosidade de 0,45 m, a qual retém as bactérias em sua superfície. As membranas por sua vez são transferidas para uma placa de Petri, contendo meio de cultura seletivo e diferencial. O meio M-Endo Agar é usado para o grupo coliformes onde ocorre o desenvolvimento de colônias de coloração rosa a vermelha-escura com brilho metálico verde-dourado superficial, dentro de 22-24 horas de incubação a 35o C. Para coliformes fecais o meio utilizado é o meio M-FC Agar, onde desenvolvem colônias azuis sob uma temperatura de 44,5 oC após um periódo de 22-24 horas.As colônias são observadas através de um microscópio estereoscópio.e quantificadas segundo a expressão: UFC/100ml(unidade formadora de colônia). Segundo Ceballos (1995), os requisitos básicos de um bom indicador bacteriológico são: Estar presente na sempre que houver poluição fecal e ocorrer em maior número que os patogênicos; Não se reproduzir em ambientes aquáticos e não sobreviver muito tempo nessas condições; Ser mais resistente que os patogênicos em ambientes aquáticos e à desinfecção; Ser detectado por testes simplificados e apresentar fácil identificação. Não serem patogênicos 3.5-Parâmetros Físicos e Químicos Alguns parâmetros físicos e químicos devem ser sistematicamente monitorados, para avaliar o processo da desinfecção por cloro, principalmente em águas onde a demanda pelo cloro oscila com muita freqüência. É necessário, portanto, que o monitoramento tenha capacidade de detectar essa oscilação para que o tratamento da água não seja, ou seja, minimamente afetado (Sorrini et al, 2001). 3.5.1- pH A eficácia do desinfetante pode ser significativamente afetada pelo pH, uma vez que a ionização do ácido hipocloroso depende diretamente do pH (O’Neil, 1999). As águas naturais têm valores de pH variando entre 5 a 9. O ajustamento do pH dentro desta faixa é relativamente simples. 3.5.2 – Temperatura O efeito da temperatura na desinfecção pode estar associada à ionização do ácido hipocloroso(HClO), uma vez que a constante de ionização do ácido (K a) diminui á medida que a temperatura aumenta, aumentando a eficiência do desinfetante. Além disso, elevações de temperatura aumentam a taxa de reações químicas e biológicas (Sperling, 1995), resultando na morte mais rápida de microrganismos. Entretanto, é necessário considerar, que temperaturas elevadas podem reduzir a solubilidade do oxigênio dissolvido dificultando o processo de oxidação da matéria orgânica pelos microrganismos aeróbios. 3.5.3-Turbidez A turbidez da água é atribuída principalmente às partículas sólidas em suspensão, que diminuem a claridade e reduzem a transmissão da luz no meio.Pode ser provocada por plâncton, algas, detritos orgânicos e outras substâncias como: zinco, ferro, manganês e areia, resultantes do processo natural de Erosão ou adição de despejos domésticos ou industriais(Luttembark e Parlatorre,1998). A turbidez pode reduzir a eficiência da cloração, porque os sólidos em suspensão podem servir de abrigo para microrganismos patogênicos.Além disso, águas com turbidez elevada causa interferência na detecção de coliformes pelo método da membrana filtrante, quando as partículas (sólidos em suspensão) entopem os poros da membrana impedindo a passagem do meio de cultura para superfície, onde se desenvolvem as colônias (Hammer, 1979). 3.5.4- Cor A presença de cor na água pode resultar da presença de constituintes mineral ou vegetal, causada por substancias metálicas como o ferro e o manganês e vegetais provenientes de matérias húmicas e fúlvicas. A cor quando relacionada a esses constituintes é um parâmetro indireto na previsão da demanda de cloro. Entretanto deve-se evitar o uso do cloro para oxidar a cor devido a presença da matéria orgânica, pois os produtos gerados( organoclorados, como os Triahalometanos) são cancerígenos A cor é sensível ao pH. A sua remoção é mais fácil a pH mais baixo. Ao contrário, quanto maior o pH mais intensa é a cor(Netto,1996). 3.5.5- Ferro e Manganês O ferro e o manganês presentes na água(Fe 2+ e Mn 2+ )são rapidamente oxidados pelo cloro livre ou combinado, dificultando o uso do cloro como desinfetante e gerando uma demanda de cloro significativa em determinados casos. Concentrações de ferro e manganês têm grande influência na cor, sabor e odor da água. 3.5.6 – Oxigênio Dissolvido (OD) É um dos principais parâmetros de caracterização dos efeitos da poluição por despejos orgânicos. Todos os processos de tratamento aeróbios dependem da presença do oxigênio dissolvido, sendo indispensável no controle da taxa de aeração, para assegurar suficiente e adequada quantidade de ar para a manutenção de uma boa condição aeróbia no tratamento (Richter et al. 1981). A ausência de OD acarreta presença de impurezas dissolvidas de ferro e manganês que prejudicam o processo da desinfecção (item 3.5.5). 3.5.7- Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) A DBO é, por definição, a quantidade de oxigênio utilizada por uma população mista de microrganismos durante a oxidação aeróbia (Hammer, 1979). Esse parâmetro expressa a quantidade de oxigênio requerida para estabilizar a matéria orgânica carbonácea. É um parâmetro indireto do carbono orgânico biodegradável (Sperling, 1996). A quantidade de oxigênio requerida para a estabilização de uma água contaminada por poluição pode ser tomada como medida do seu conteúdo em matéria orgânica (Julião, 1995). O processo de nitrificação pode exercer uma demanda de oxigênio no teste da DBO, entretanto o crescimento da bactéria da nitrificação é defasada em relação ao crescimento das bactérias que efetuam a reação carbonácea (Rossin, 1971). Ainda assim, é necessário a inibição dos organismos responsáveis pela oxidação da amônia, para evitar que o consumo de oxigênio na nitrificação interfira com a demanda carbonácea (Sperling,1996). 3.5.8 –Demanda Química de Oxigênio (DQO) O parâmetro da DQO mede o consumo de oxigênio ocorrido durante a oxidação química da matéria orgânica através de um forte oxidante químico.Essa determinação se apóia no fato de que quase todos os compostos orgânicos, com raríssimas exceções, podem ser oxidados, em meio ácido, a dióxido de carbono e água, pela ação um agente oxidante energético. A maior vantagem da análise da DQO é o tempo gasto na sua determinação. O teste requer apenas 3 horas, enquanto que na DBO é feita em 5 dias.Por essa razão, em muitos casos, a DQO substitui a DBO.Além disso, esse teste não é afetado pela nitrificação, apresentado a oxidação apenas da matéria orgânica carbonácea, isenta da nitrogenada(Cavalcanti e Braile,1993). A DQO é, de maneira geral, maior que a DBO, devido a oxidação química decompor matéria orgânica não –biodegradável. 3.5.9- Nitrogênio Amoniacal (N-NH3) A amônia e outros compostos nitrogenados tem uma importância significativa na desinfecção devido à formação das cloraminas As reações de formação das cloraminas podem ocorrer simultaneamente, sendo que o aumento de acidez e da relação cloro/nitrogênio favorece a formação dos derivados mais clorados.(Morris, 1971). As reações ocorrem mais rapidamente em valores de pH mais baixo, onde a concentração do ácido hipocloroso não dissociado é mais elevado. Águas com teor de amônio demandam uma quantidade bem maior de cloro do que aquela necessária para desinfecção (Johnson, 1987). O nitrogênio amoniacal é produto de atividade microbiológica e indica uma poluição recente no corpo d’ água. 3.6- Variáveis Hidrológicas A avaliação dos dados de qualidade de água deve estar associados à variação espacial e temporal do regime hidrológico, visando evitar que possíveis variações bruscas na qualidade de água possam provocar impactos no tratamento da água (Perez e Sorrini, 2001). Um manancial pode sofrer oscilações bruscas de qualidade da água, em função em função de fenômenos como inversão térmica, ressolubilização de substâncias presentes nos sedimentos do fundo, variações nictemerais, dissolução de solos e rochas, intensificados pela ocorrência de chuvas e conseqüente aumento de vazão e nível (Paiva, 1998). Todas as observações de campo e amostragem devem estar associadas a variações hidrológicas,para uma interpretação mais significativa de resultados analíticos da qualidade da água(UNESCO/WHO/UNEP,1992). 3.7-Aspectos Gerais da Eficiência de Desinfecção em Unidade de Contato Dois fatores têm efeito significativo na eficiência de desinfecção da água por um desinfetante: Desempenho hidráulico da Unidade de Contato, Cinética de decaimento bacteriano, k. 3.7.1- Desempenho hidráulico da Unidade de Contato As unidades de contato devem atingir elevadíssimas eficiências de remoção de coliformes (ED=99,99%) para que possam ser cumpridos os padrões recomendados pela “Norma de Qualidade da Água para Consumo Humano”, anexo da portaria do Ministério da Saúde No 1469, 29 de dezembro de 2000. Segundo esses padrões, coliformes totais não podem estar presentes em amostras de água coletadas na saída da unidade de tratamento e conseqüentemente os coliformes fecais devem estar ausentes (Ministério da Saúde, 2000). A eficiência de desinfecção é determinada pele relação entre o número de microrganismos que entra e o número de microrganismos que deixam a Unidade de contato (UC). O regime hidráulico das UC tem uma grande influência na eficiência de desinfecção, uma vez que os padrões de escoamento dessas unidades determinam as variações de velocidade do seu interior, fazendo com que, algumas partículas residam mais tempo e outras menos na unidade. Este comportamento contribui para o surgimento de zonas mortas e curto circuitos. As unidades de contato que apresentam grandes níveis de curto circuito possibilitam a saída de microrganismos em tempos inferiores ao necessário para serem inativados (Figueiredo, 2000).Conseqüentemente é necessário um aumento na dosagem de desinfetante injetado na unidade de contato para obter a eficiência desejada. O padrão de escoamento que se verifica na prática está configurado entre dois regimes de escoamento ideais. Os escoamentos ideais podem ser classificados como: Escoamento do tipo pistão: as partículas que entram no reator se distribuem uniformemente na sua secção transversal, deslocando-se paralelamente e com a mesma velocidade, em direção à saída. Neste tipo de escoamento todas as partículas levam o mesmo tempo de residência. Escoamento do tipo mistura completa: o fluido mantém a homogeneidade de suas propriedades em qualquer instante e em qualquer ponto do reator. Na maioria das unidades de tratamento o regime de escoamento (real) define um grau de mistura intermediário entre os extremos idealizados(fluxo em pistão e mistura completa). Esse escoamento ocorre em fluxo contínuo. O fluxo de entrada e saída é contínuo. A avaliação da eficiência hidráulica (EH) de uma UC pode ser feita através dos desvios das características hidrodinâmicas nas condições ideais e reais (Teixeira, 1993). Quanto maior a eficiência hidráulica de uma UC, menores os esperados desvios entre os resultados obtidos por um dado processo de tratamento e os previstos na fase do projeto (Thirumurthi, 1969; Thomson, 1969). 3.7.1.1- Efeito da Configuração no Desempenho Hidráulico O regime de escoamento no interior de uma UC é altamente governado por sua configuração (geometria, tipo de dispositivos de entrada e saída da unidade, presença de defletores de escoamento, de chicanas, etc).(Siqueira et al, 1996; Marske e Boyle, 1973). A melhoria da EH é obtida a partir de modificações para redução da intensidade de curtos-circuitos e misturas.Essa melhoria é proporcionada pela mudança hidrodinâmicas da UC na sua configuração de referencia. A instalação de defletores de escoamento reduz a intensidade de curtos-circuitos, devido a resistência ao avanço do jato de entrada em direção à saída, resultando em maior aproximação do escoamento com a condição real. O uso de chicanas é recomendável para que uma unidade de contato tenda ao regime pistão. A melhoria da EH desta configuração em relação à configuração de referência está na grande redução do grau de mistura do escoamento, no interior da unidade. A alteração da configuração de uma UC pode resultar em mudanças significativas em seu desempenho hidráulico e, conseqüentemente, no seu processo de tratamento (Teixeira, 1999). 3.7.1.2- Coeficiente de Mistura Global (d) Segundo Teixeira (1995), o coeficiente d é um parâmetro representativo para o dimensionamento de reatores químico e biológico.Este parâmetro pode indicar a tendência do escoamento de uma unidade. À medida que o valor de d diminui, devido às alterações da UC, seu escoamento tende ao fluxo pistão.Por outro lado, quando d é bastante elevado o escoamento tende à mistura completa (Figueiredo e Teixeira, 2000). O coeficiente d tem sido altamente recomendado na literatura como um dos mais adequados parâmetros representativos da hidrodinâmica de unidades de contato (Marsk e Boyle.,1993) 3.7 2- Cinética de Decaimento Bacteriano (K) A cinética reacional bacteriana define a velocidade constante, com que os microrganismos são destruídos ou inativados durante o processo da desinfecção.Esse processo envolve uma série de etapas físicas, químicas e bioquímicas, que culmina em morte ou inativação de microrganismos.Essas etapas ocorrem de forma gradativa como a grande maioria dos processos físicoquímicos. Portanto, a velocidade da desinfecção é a resultante das velocidades das etapas que envolvem esse processo. A cinética reacional em uma unidade de contato é função de diversos parâmetros, dentre eles incluem-se: microrganismos e qualidade desinfetante e da água, tipo e as características de concentração de escoamento na unidade.Entretanto,o levantamento de coeficientes k em laboratório é feito em regime de batelada , aplicando-se uma dosagem de um dado desinfetante à base de cloro num volume definido de água e, após realizada mistura completa do desinfetante neste volume, faz-se o monitoramento do decaimento bacteriano em função do tempo(Haas et al.,1995;USEPA, 1986). Segundo Teixeira (1995), a transferência das informações obtidas através desse procedimento para unidades de contato de fluxo contínuo somente seria justificável para o regime de escoamento ideal do tipo pistão,o que não se verifica na prática.Desse modo, quanto mais as características do escoamento no interior da unidade se distanciem daquelas referentes ao escoamento pistão, maiores serão os desvios entre o valor de k obtido pelo regime batelada e o valor de k representativo da unidade operando em fluxo contínuo. A desinfecção é necessária, porque os processos físico-Químicos, usualmente utilizados no tratamento da água não assegura a remoção total dos microrganismos (Metcalf e Eddy, 1991). 3.8 - Modelos Cinéticos de Desinfecção A constante cinética, k, pode ser determinada por alguns modelos cinéticos que buscam relacionar a velocidade de decaimento de microrganismo com o tempo de contato e a concentração do desinfetante utilizado. A maioria dos modelos cinéticos são desenvolvidos para reator em batelada, a partir das seguintes condições: ausência de mistura anterior, distribuição uniforme das moléculas de desinfetante e microrganismos, mistura suficiente para garantir a difusão líquida, valores de pH e temperatura fixos, a concentração residual do desinfetante é considerada constante durante todo tempo de contato devido a ausência de matéria orgânica na água destilada(Gyürék e Finch, 1998). Essas condições não são observadas na prática, o que pode invalidar a utilização desses modelos para estimativa da eficiência de desinfecção de uma unidade de tratamento real. 3.8.1- Modelo de Chick-Watson Um dos primeiros modelos para inativação de microrganismos através de desinfetante foi elaborado por Chick (1908), representado pela equação 3.6, e implementado por Watson (1908), equação 3.7; de onde originou a equação de Chick-Watson (equação 3.8). Ln N/No = - K.t .............................................................................................. (3.6) K = k’. Cn ..................................................................................................................................................... (3.7) LnN/No = - k’. Cn. t ........................................................................................ (3.8) Onde N – número de microrganismos presentes na amostra após o tempo de contato t; No – número de microrganismos presentes na amostra no t = 0; C – concentração do desinfetante; n – coeficiente de diluição k – constante cinética reacional de 1o ordem; k’ - constante empírica; t – tempo de contato entre o desinfetante e os microrganismos Através do coeficiente de diluição, n, é possível interpretar a importância do tempo de contato e da concentração de desinfetante em um determinado processo da desinfecção.A partir dos valores de n verifica-se: n> 1: redução da eficiência do desinfetante, com aumento da diluição. n< 1: maior interferência do tempo de contato na inativação. n = 1: igualdade de importância da concentração do desinfetante e do tempo de contato no processo da desinfecção (Rubin et al.,1983) A cinética de desinfecção enunciada por Chick compara a inativação bacteriana com uma reação química. Analogamente a desinfecção é uma reação química bimolecular, tendo como reagentes, o microrganismo e o desinfetante (Haas, 1995). Watson (1908) implementou o modelo de Chick, relacionando a concentração do desinfetante com a velocidade média da reação através da equação 3.7. O modelo de Chick-Watson microrganismos é é baseado na hipótese de que toda espécie de geneticamente semelhante, apresentando assim uma sensibilidade uniforme ao desinfetante utilizado, e que a concentração do desinfetante permanece constante durante o tempo requerido para inativação (Gyürék e Finch, 1998). Ao contrário, os microrganismos são estruturas complexas, com diferentes mecanismos de transporte e muitas reações químicas podem ocorrer para inativar um microrganismo (Venkobachar et al.,1997;Jancangelo et al.,1991). Desta forma, ao descreverem-se graficamente os resultados obtidos por esse modelo, a relação entre o tempo de contato(t) e a inativação (lnN/No) se comporta de forma linear, seguindo uma cinética reacional de 1o ordem. De acordo com as reações de 1o ordem, a taxa de decaimento bacteriano é proporcional à concentração desses microrganismos em qualquer instante (Sperlin,1996). De acordo com a Lei de Chick-Watson, onde C, n, e k são constantes, não há demanda de desinfetante durante o processo de desinfecção. Entretanto, a partir da avaliação de resultados estatísticos, concluiu-se que a Equação de Chick-Watson é suficiente para descrever a inativação de microrganismos por cloro livre ou combinado (Haas e Karra, 1984). Tal conclusão foi conduzida mediante a comparações de resultados obtidos e estimados para diversos microrganismos inoculados em água destilada, mantendo constantes as condições de pH e temperatura, utilizando o sistema de batelada. Estudos realizados em batelada com água in natura, utilizando diferentes desinfetantes e microrganismos, foi observada uma diferença significativa entre a inativação medida e a prevista pelo modelo de Chick-Watson (adotado pela U.S. Environmental Protection Agency- USEPA) (Gyürék e Finch, 1998). Essa diferença pode provocar equivoco no dimensionamento da UC, conforme exemplificado pela Figura 3.5. Shoulders Chick Tailing Off Tempo Figura 3.5 – Gráfico de decaimento bacteriano obtido em batelada (ChickWatson) e em condições reais. A inativação de microrganismos em batelada, nem sempre acompanha o decaimento exponencial previsto pela equação de Chick-Watson (Haas, 1990). De acordo com a figura 3.5, dois tipos de desvios são observados: Curva de inativação que apresenta concavidade para baixo(shoulders): identificada freqüentemente no inicio do processo de desinfecção,podendo ser atribuída a uma mistura inadequada na unidade,à aglomeração de populações de microrganismos ou a presença de substâncias que tem prioridade na reação química com o desinfetante(Gyürék e Finch,1998). Essa curva expressa a inativação da E.coli (Severin, 1998). Curva de inativação que apresenta concavidade para cima (Tailing-off): a taxa de inativação decresce progressivamente, podendo ser a atribuída aos seguintes fatores: Rápida inativação inicial, Existência de variações genéticas na subpopulação, Proteção de uma subpopulação ou variações na dosagem de desinfetante, Aglomeração de uma subpopulação. O desvio apresentado por essa curva caracteriza a inativação de coliformes por cloro livre (Selleck et al, 1978). 3.8.2– Modelo de Wehner e Wilhelm A solução analítica da equação para fluxo contínuo com reações de primeira ordem foi proposta por Wehner e Wilhelm (1956) (Sperling, 1996). A equação 3.9 (Wehner e Wilhelm) relaciona o desempenho hidráulico da unidade de contato e a cinética de inativação dos microrganismos com a eficiência de desinfecção a ser atingida. Este modelo apresenta a dependência entre o grau de inativação(N/No), a dinâmica de escoamento(d e T), e a cinética reacional(k) N/No = 4.a exp (1/2d) / [(1 + a)2. exp (a/2d) – (1- a)2. exp (1/2d)] ............... (3.9). A eficiência de desinfecção (ED) expressa em porcentagem é dada pela equação 3.10 ED(%)=(1–N/No).100 ................................................................................. (3.10) Onde N – concentração de microrganismos na saída da UC No – Concentração de microrganismos na entrada da UC d – coeficiente de mistura global da UC T – tempo teórico de detenção K – constante cinética reacional de 1o ordem; a = (1 + 4. K. T.d) 1/2. A vantagem desta equação é permitir uma solução contínua entre os limites de fluxo contínuo e mistura completa. Quando d é pequeno, a Equação 3.9 apresenta resultados bem próximos à ao fluxo pistão. Por outro lado, quando d é elevado, a Equação 3.9 apresenta resultados similares aos obtidos para mistura completa. Através da equação de equação de Wehner e Wilhelm é possível avaliar a influência do método de determinação da constante cinética reacional k, na estimativa de eficiências de desinfecção, considerando-se os valores de K obtidos pelos métodos padrão (batelada) e em UC operando em fluxo contínuo (Teixeira et al,1995). 4- METODOLOGIA 4.1- Avaliação de Qualidade da Água In Natura do Manancial Santo Agostinho. A água bruta utilizada no sistema experimental deste trabalho pertence ao Rio Santo Agostinho e abastece a Estação de Tratamento de Água de Viana (ETAVIANA), operada pela Companhia Espírito-santense de Saneamento (CESAN), localizada no município de Viana do Estado do Espírito Santo. Para análise da qualidade de água in natura, foram tomados os parâmetros que indicam presença de matéria orgânica e inorgânica oxidáveis, e que comprometem o processo da desinfecção da água com cloro (McCarty et al, 1984).Os parâmetros de qualidade da água selecionados foram: pH, cor, turbidez, temperatura, sólidos suspensos totais (SST), nitrogênio amoniacal (N-NH3), ferro e manganês(Fe2+ e Mn2+),demanda bioquímica de oxigênio(DBO), demanda química de oxigênio(DQO)e oxigênio dissolvido(OD) Os parâmetros bacteriológicos utilizados na determinação da taxa de inativação bacteriana foram coliformes totais (CT) e fecais (CF). Todas as análises foram realizadas com três repetições e de acordo com a metodologia descrita no “Standard Methods for the Examintion of Water and Wastewater” (19 0 ed.,1995). Para o desenvolvimento dessas analises foram realizadas seis campanhas de coletas de amostras de água bruta, no período de junho a dezembro de 2001. As amostras foram coletadas no canal de entrada da ETA-VIANA. As campanhas de coletas foram intensificadas em períodos de maior variações temporais, típicas de verão e primavera, perfazendo um total de 180 amostras Tal procedimento permitiu uma melhor apreciação da desinfecção frente às alterações ocorridas nas características da água (Olson e Hanani, 1981), conforme já discutido no item 3.6 da Revisão Bibliográfica. O levantamento desses parâmetros, principalmente no que se refere ao conteúdo de nitrogênio amoniacal (N-NH3), indicou a necessidade de se utilizar o Método da Cloração ao Breakpoint. 4.2 – Método da Cloração ao Breakpoint O método da cloração ao breakpoint, descrita no item 3.1.1 da Revisão Bibliográfica, foi utilizado para avaliar a demanda de cloro requerida pela água em estudo e, por conseguinte, a definição da dosagem mínima de cloro a ser utilizada no processo de desinfecção da água. As dosagens de cloro utilizadas nos ensaio experimentais de inativação bacteriana foram preparadas a partir de uma solução padronizada a 10 mg/l de hipoclorito de sódio com um teor de cloro ativo na faixa de 8% a 10 % . 4.2.1-Sistema Experimental da Cloração ao Breakpoint (batelada) Os ensaios para obtenção das dosagens de cloro aplicado através da cloração ao breakpoint foram conduzidos nos laboratórios de Química Geral, do Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo (CEFETES) e Laboratório de Analise Microbiológicas da CESAN (Companhia Espírito-santense de Saneamento). Para o desenvolvimento desses ensaios foram realizadas três campanhas em períodos de maior variações temporais: época mais chuvosa (outubro/novembro/dezembro-2001), época menos chuvosa (agosto/setembro2001) e época sem chuva (Junho/Julho-2001), períodos em que se procedeu ao monitoramento da qualidade da água do manancial. As amostras, foram coletadas a 30 cm abaixo da superfície em frascos de plásticos autoclaváveis, com boca larga ,e com capacidade de 1000 ml.Após as coletas, os frascos foram fechados, identificados e preservados em caixas de isopor com gelo a uma temperatura inferior a 10 oC..Essas amostras foram levadas para o laboratório e, imediatamente foram iniciados os ensaios de cloração ao breakpoint. Para montagem do sistema experimental foram usados três béqueres contendo 1000 ml de água bruta em cada um, sob agitação contínua e constante de 30 rpm produzida por agitador magnético, para garantir a homogeneidade da amostra tratada. As dosagens de hipoclorito de sódio utilizadas na cloração das amostras de água brutas foram retiradas a partir de uma solução padrão (Solução-mãe) de hipoclorito de sódio de concentração igual a 10 mg/l. A solução de hipoclorito de sódio foi injetada em cada reator (béquer) através de buretas de 100ml fixadas em haste universal com garras, acima de béqueres contendo as amostras(Figura 4.1). Injeção de Solução de NaClO (Bureta) Béquer de 2000 ml Água bruta Água bruta Água bruta Agitador magnético Reator - 1 Reator - 2 Reator - 3 Figura 4.1 – Esquema do ensaio da cloração ao breakpoint em batelada Cada ensaio de cloração ao breakpoint compreendeu três ciclos operacionais de 18,7 minutos cada um. Em cada um foram testadas simultaneamente três dosagens de cloro. Para iniciar cada ciclo, os três reatores (Reator-1, Reator-2 e Reator-3) foram alimentados simultaneamente com amostras coletadas no mesmo dia e horário,e com diferentes dosagens de desinfetante (hipoclorito de sódio). Assim sendo, tem-se: para o primeiro ciclo, as dosagens de 0,10 mg/l, 0,20 mg/l e 0,30 mg/l; para o segundo ciclo, as dosagens de 0,45 mg/l, 0,50 mg/l e 0,60 mg/l; para o terceiro ciclo, as dosagens de 0,65 mg/l, 0,75 mg/l e 0,80 mg/l. Após cada ciclo, foram retiradas dos reatores uma alíquota de 10 ml para determinações de cloro residual (item 4.3) e uma alíquota de 250 ml para determinações bacteriológicas (descrita no item 4.4). A Tabela 4.2 resume os resultados dos ensaios de breakpoint para o tempo de contato de 18,7 minutos. Tabela-4.2 Resultados da Cloração ao Breakpoint utilizando tempo de contato de 18,7 minutos Concentração de Cloro Residual(mg/l) Amostra-1(*) Amostra-2(*) Amostra-3(*) cloro aplicado Epoca mais chuvosa Epoca menos Epoca sem chuvas Outubro-Dezembro chuvosa Agosto-Setembro Junho-Julho NaClO(mg/l) 0,10 0,20 0,30 0,45 0,50 0,60 0,65 0,75 0,80 (*): Valores médios Cloro Residual(mg/l) Cloro Residual(mg/l) 2001 2001 2001 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,20 0,25 0,30 0,00 0,05 0,15 0,20 0,25 0,30 0,25 0,30 0,35 0,00 0,10 0,15 0,20 0,25 0,35 0,30 0,35 0,40 Plotando os valores da Tabela 4.2 obtem-se as curvas de breakpoint da cloração conforme apresentada na Figura 4.2 Breakpoint Figura. 4.2-Curvas do Breakpoint da Cloração para tempo de contato de 18,7 minutos Como pode ser visto, os níveis de cloro residuais sofreram variações e as curvas de breakpoint são diferentes para cada amostra de água analisada, devido as alterações na sua qualidade Essa constatação confirma resultados verificados em estudos anteriores (Mecalf e Eddy, 1991). A Figura 4.2 indica que as concentrações de cloro a serem utilizadas na avaliação do decaimento bacteriano devem ser superiores a 0,65mg/l de cloro aplicado. De acordo com a Teoria da cloração ao breakpoint a efetiva desinfecção ocorrerá após essa dosagem, conforme descrito no item 3.1.1 da Revisão Bibliográfica. A partir dessa avaliação as dosagens de hipoclorito de sódio (NaClO) testadas para inativação de coliformes foram fixadas a partir de 0,65 mg/l 4.3 –Determinação do Cloro Residual Livre A leitura do cloro residual livre foi feita a cada ciclo de 18,7 minutos, segundo método colorimétrico por DPD (N, N-dietil-p-fenileno-diamina), através do Kit HACH 661. Este aparelho consta de um disco colorimétrico com uma variação de cores que é comparada com a cor desenvolvida na reação da água e o reativo DPD. As alíquotas de 10 ml para leitura do cloro residual foram coletadas no béquerreator com auxílio de pipetas tipo Mohr de 10 ml e rapidamente transferidas para cubetas do colorímetro contendo o reagente DPD (N, N-dietil-p-fenileno-diamina), que ao reagir com cloro livre das amostras, produz uma coloração róseoavermelhada. A variação de cores permite avaliar no disco colorimétrico, o nível de cloro com faixa de leitura entre 0,1 a 3,0 mg/l. O método iodométrico (Standard Methods for the Examintion of Water and Wastewater, 19a ed, 1995), foi utilizado paralelamente ao método colorimétrico para garantir determinações de cloro residual livre de concentrações menores que 0,1 mg/l. 4.4– Determinações Bacteriológicas Nesta etapa foram determinadas as concentrações de coliformes totais e fecais (UFC/100ml) em função das dosagens de cloro aplicado (mg/l) e diferentes tempos de contato. As dosagens de hipoclorito de sódio foram injetadas nas amostras de água bruta sob agitação contínua (30 rpm), através de agitador magnético. A injeção do desinfetante foi feita utilizando buretas aferidas para as dosagens de: 0,70 mg/l, 0,75 mg/l, 0,80 mg/l, 0,85 mg/l e 0,90 mg/l e tempos de contato de 0, 1, 4, 7,12 e 18,7 minutos. Após cada tempo de contato, foi adicionado no próprio béquer contendo a amostra clorada, 1 ml de solução a 1,8% de tiossulfato de sódio para neutralizar a ação do cloro residual (descloração), em seguida foram retiradas amostras de 250 ml para determinações bacteriológicas, em frascos de polietileno autoclavados, não tóxicos e estéreis, com boca larga e capacidade de 250 ml. Os isolamentos de Coliformes Totais e Fecais em membranas filtrantes foram desenvolvidos simultaneamente. As membranas resultantes da filtração foram acondicionadas em placas de petri, sobre a superfície de meios de cultivo seletivos e diferenciados para detecção de coliformes totais e fecais. Foi utilizado o meio m-Endo Agar (24 hs /35 oC) para coliformes totais e o meio m-FC Agar para coliformes fecais (24 hs/44,5oC). Após o período de incubação (24 horas) as colônias de coliformes totais apresentaram coloração verde, com brilho metálico dourado superficial, enquanto que as colônias de coliformes fecais desenvolveram colorações azuis, passíveis de quantificação. Os resultados foram apresentados como unidades formadoras de colônias por 100ml (UFC/100ml). Durante a cloração das amostras os valores de pH variaram numa faixa de 6,80 a 7,50 conduzindo à uma cloração basicamente sob ação bactericida do ácido hipocloroso (HClO), promovendo maior eficiência do processo de desinfecção, conforme descrito no item 3.2 da Revisão Bibliográfica. As analises bacteriológicas confirmaram os ensaio da cloração ao breakpoint. Dosagens de 0,75mg/l e 0,80mg/l de cloro apresentaram uma inativação de 100% de coliformes totais e fecais em reatores de batelada. As determinações bacteriológicas em amostras de água coletadas na unidade de contato operando em fluxo contínuo (item 4.10), foram as mesmas conduzidas em amostra de batelada .As metodologias de preparo, de injeção de desinfetante e de coletas dos dados serão descritas nos itens 4.8.2,4.9 e 4.10. 4.5- Determinação dos Coeficientes de Cinética Reacional Bacteriana K Os resultados do número de microrganismos obtidos para cada dosagem de cloro em diferentes tempos de contato (descrita no item 4.4) possibilitaram a obtenção dos valores de k. Esses valores foram definidos a partir das curvas de decaimento para coliformes totais e fecais determinadas graficamente, através do modelo de Chick-Watson, modelo de batelada, com auxilio de planilha eletrônica (Microsoft Excel) Os dados de cinética reacional bacteriana obtidos em batelada foram tratados estatisticamente com intervalo de confiança de 95%(Microsoft Excel), de onde foram extraídos valores médios de k para cada dosagem acima do breakpoint.(0,70 mg/l, 0,75 mg/l e 0,80 mg/l). O coeficiente cinética reacional k é um dado fundamental para a determinação da taxa de inativação bacteriana prevista pelos modelos cinéticos e depende da qualidade de água do manancial. Para uma analise comparativa entre os valores de k obtidos em reatores de batelada e fluxo continuo de uma mesma água, seus ensaios de obtenção deveriam ser realizados concomitantemente, o que não foi possível, devido a limitações instrumentais para desenvolvimento das análises de bancada. Para minimizar essa falha metodológica, utilizou-se como critério da representatividade de k, selecionar amostras conduzidas em batelada, com características de qualidade de água similares àquelas determinadas em fluxo contínuo. Deve-se destacar que as taxas de inativação de coliformes (TIC%) totais e fecais previstas pelo modelo cinético de fluxo contínuo, modelo de Wehner e Wilhelm .utilizou os valores de k médio de batelada.obtidos experimentalmente.para as dosagens de 0, 70, 0,75 e 0,80 mg/l de cloro, Adotou-se essa metodologia, pois, no escoamento do tipo pistão, as características ao longo de uma seção transversal são homogêneas, o que caracteriza bem o escoamento em mistura completa (batelada). Dessa forma considera-se cada secção do escoamento pistão um reator em batelada, tornando-se possível utilizar os valores de k obtidos por este método no modelo. Esses valores, porém, podem provocar discrepâncias nos resultados previstos pelo modelo, aumentando os erros em relação à TIC medida. 4.6-Características Hidráulicas da Unidade de Contato (UC) em Estudo A unidade experimental utilizada como referência nesse trabalho é um modelo reduzido do tanque de cloração da ETA da sede do município de Linhares/ESSAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). O modelo reduzido foi construído a partir da unidade real, cujas dimensões guardam um fator de escala linear 1:8 entre o modelo e o protótipo. Suas dimensões são apresentadas na Figura 4.3. Os experimentos foram desenvolvidos no modelo reduzido, utilizando sua configuração original e duas configurações modificadas, uma com inserção de defletor e outra com inserção de chicanas. Esses experimentos avaliaram a influência das características hidráulicas da UC na taxa de inativação de coliformes (TIC) durante o processo de desinfecção da água com cloro. Os experimentos foram desenvolvidos no modelo reduzido, utilizando sua configuração original e duas configurações modificadas, uma com inserção de defletor e outra com inserção de chicanas.Esses experimentos avaliaram a influência das características hidráulicas da UC na ED da cloração. Dimensões Protótipo(m) Modelo Reduzido(m) A B C D E F Profundidade 12,50 6,00 6,50 19,60 11,52 8,08 5,60 1,56 0,75 0,81 2,45 1,44 1,01 0,70 Volume(m 3) 952,67 1,86 Figura - 4.3 - Vista superior e dimensões da UC protótipo e do modelo reduzido (escala 1:8) 4.6.1- Modelo Reduzido A unidade experimental utilizada para obtenção dos dados de cinética reacional 3 constituiu-se de um tanque em “L”, com capacidade de 17 m operando em fluxo contínuo, instalado na ETA-VIANA (município de Vitória/ES). A água bruta que alimenta a unidade experimental é proveniente do Manancial to S Agostinho. O abastecimento de água para o tanque foi feito por um conjunto de bomba de recalque, bomba de alimentação, tubo de PVC e medidor de vazão (rotâmetro). 4.6.2- Modelo Reduzido Otimizado A otimização da UC foi feita modificando seu comportamento hidrodinâmico através da inserção de defletor de escoamento e chicanas, para promover a melhoria da ED da UC, já discutidas na Revisão Bibliográfica (item 3.7.1.1) e propostas por Figueredo (2000). Os volumes de desinfetante utilizados no inicio desta etapa guardam as mesmas concentrações implementadas em batelada (método padrão): 0,70mg/l, 0,75mg/l e 0,80mg/l. Esse procedimento tornou-se necessário, uma vez que, o levantamento de coeficientes k foi feitos em regime batelada, conforme discutido na Revisão Bibliográfica (item 3.7.1.1). 4.6.2.1- Modelo Reduzido com Defletor de Escoamento O defletor foi colocado com objetivo de minimizar a energia cinética na região de entrada da UC. Estudos anteriores (Teixeira e Figueiredo, 1997), recomendaram o posicionamento do defletor a 86 mm após a tubulação de entrada. Sua largura ocupou toda extensão transversal da unidade, como mostra a Figura 4.4. Figura 4.4 - Vista superior do modelo reduzido com a inserção de defletor com altura hd= 1,5D e a uma distância dd= D da entrada da UC 4.6.2.2-Modelo Reduzido com Chicanas As chicanas dividiram a UC em três compartimentos, aumentando a distância percorrida pelas partículas do fluido no sistema, sem alterar o tempo teórico de detenção da unidade. Para diminuir a incidência de zonas mortas e curto circuitos na unidade, foram instalados chicanas longitudinais (Marke e Boyle, 1973) com 0,70 metros de altura, distribuídas uniformemente nas seções transversais ao escoamento, como mostra a Figura 4.4.1.2. Figura 4.4.1.2 – Vista superior do modelo reduzido com inserção de chicanas 4.7 - Método de Injeção do Desinfetante na Unidade de Contato de Fluxo Contínuo A injeção do desinfetante (solução de hipoclorito) foi feita junto à secção de entrada da água, aproveitando a velocidade de escoamento, para melhorar a dispersão do cloro na unidade (item 3.3 - Revisão Bibliográfica). O sistema de cloração usado nesse experimento constituiu-se de uma caixa de polietileno com 20 litros de solução de hipoclorito, provida de uma pequena torneira, conectada a uma mangueira de látex de 1,5 cm de diâmetro, que levou o desinfetante até o dosador por gravidade antes de chegar a ponto de injeção. A caixa contendo a solução de hipoclorito foi instalada 1,0 metro acima do dosador de hipoclorito sendo abastecida em cada experimento. Antes de iniciar a injeção do desinfetante, a unidade foi mantida em operação durante um tempo equivalente a quatro vezes o tempo teórico de detenção.Esse procedimento foi necessário para que a unidade entrasse em regime hidrodinâmico, objetivando manter um padrão de escoamento constante na unidade. Após o regime hidrodinâmico foi necessário estabelecer o regime químico na UC, para evitar que, as amostras coletadas em um mesmo ponto apresentassem diferentes níveis de cloro residual. A negligência desse procedimento poderia acarretar erros nas determinações bacteriológicas. O monitoramento do regime químico foi feito através do controle do cloro residual na saída da unidade. A partir do momento em que a leitura do residual de cloro livre permaneceu constante se deu o inicio das coletas. 4.8 - Método de coleta das amostras na Unidade de Contato Os pontos de coleta foram distribuídos ao longo da unidade, em posições que equivalem aos tempos de coleta das amostras tomadas nos experimentos em batelada (descritos no item 4.4). Em cada ponto definido para coleta foi fixado um dispositivo contendo três sondas paralelas eqüidistantes, acopladas a uma bomba peristáltica sob uma mesma profundidade. As sondas foram introduzidas a uma profundidade de aproximadamente 0,252 m, equivalente a metade da altura da lâmina d’água.Tal procedimento objetivou avaliar a variação dos resultados na seção transversal do escoamento, subsidiando maiores informações da relação entre os níveis residuais de cloro e a cinética de decaimento bacteriano. Após a coleta, as amostras foram acondicionadas em frascos plásticos de 250 ml, autoclavavéis, com boca larga, tampa a prova de vazamento, contendo 0,1 ml de solução a 1,8%de tiossulfato de sódio para neutralização do efeito do cloro. Os frascos foram preservados a uma temperatura inferior a 10 o C e conduzidas ao laboratório de bacteriologia para determinações de coliformes totais e fecais, usando a técnica da membrana filtrante (item 3.4.2.1- Revisão Bibliográfica). Em cada ponto de amostragem foram feitas três coletas bacteriológicas precedida da leitura do cloro residual, para posterior análise do consumo de desinfetante nas configurações estudadas. 4.9- Previsão da Taxa de Inativação Bacteriana Para essa analise os modelos de Chick-Watson (equação 3.7.1) e Wehner e Wilhelm (equação3. 7.2) foram implementados com os coeficientes de cinética reacional bacteriana k, obtidos experimentalmente em batelada, mantendo -se o mesmo tempo teórico de detenção (descrita no item4. 5). Esse procedimento permitiu a comparação entre os valores das TICs estimada pelos modelos e medidas considerando as configurações estudadas.e as dosagens de cloro utilizadas Para o modelo de Chick-Watson a concentração de desinfetante considerada para determinações dos erros foi de 0,70 mg/l. As outras concentrações (0,75 e 0,80 mg/l) atingiram 100% de inativação na configuração chicanada, para o tempo de contato de 18,7 minutos, inviabilizando essa analise. Os desvios entre os valores das TICs previstas pelos modelos e medidas foram calculados em erros percentuais para posterior avaliação do desempenho dos modelos. Ressalta-se que a inativação de coliformes de 99,99% assegura a qualidade bacteriológica da água tratada evitando a presença de 01 (uma) UFC em 100ml de amostra, o que significa ausência de CT e CF na saída da UC (Portaria 1469/2000).Contudo esse trabalho considerou a taxa de inativação de coliformes de 100%,para representar a ausência desses microrganismos. 5- RESULTADOS E DISCUSSÕES 5.1- Avaliação da Interferência da Qualidade de Água Bruta no Sistema Experimental da Cloração. Já se sabe que as características físicas, químicas e bacteriológicas da água in natura podem comprometer o processo de desinfecção com cloro (item 3.5 – Revisão Bibliográfica) Este item visa avaliar a influência dos parâmetros de qualidade da água in natura (Manancial Santo Agostinho), que abasteceu a unidade experimental, em função dos níveis residuais de cloro livre obtidos durante o processo de cloração.. Os resultados se encontram resumidos na Tabela 5.1 Tabela 5.1: Características da água in natura que abastece a ETA-VIANA e os níveis residuais de cloro livre após o processo de cloração, utilizando uma dosagem de cloro de 0,70 mg/l e tempo de contato de 18,7 minutos. Variáveis Hidrológicas Época sem Chuva Época menos chuvosa Época mais chuvosa Meses de coleta - Ano de 2001 Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Cloro Residual Livre(mg/l) 0,30 0,30 0,25 0,25 0,20 0,20 0,15 6,93 25 6,79 7,60 0,70 6,00 5,00 ND ND 0,38 114 21 7,20 30 6,71 7,40 0,90 7,00 6,00 ND ND 0,42 203 35 7,60 35 6,67 7,30 1,10 9,00 8,00 ND ND 0,49 210 41 Parâmetros de Qualidade de Água in natura Turbidez(uT) Côr(uH) pH OD(mg/l) DBO(mg/l) DQO(mg/l) SST(mg/l) Ferro(mg/l) Manganês(mg/l) N-NH3(mg/l) Coliformes Totais(UFC/100ml Coliformes Fecais(UFC/100ml) ND: Não detectado 4,90 15 6,99 7,90 0,30 3,00 2,00 ND ND 0,22 98 11 5,10 15 6,89 7,80 0,40 4,00 3,00 ND ND 0,25 101 18 6,70 20 6,86 7,70 0,50 5,00 5,00 ND ND 0,28 112 16 6,85 25 6,82 7,60 0,60 6,00 4,00 ND ND 0,36 109 19 Os resultados apresentados na Tabela 5.1 indicam um decréscimo nos níveis residuais de cloro, com o aumento no valor de alguns parâmetros de qualidade de água como: cor, turbidez, DBO e N-NH3, que expressam o aumento na demanda de cloro na água ocorrem com acréscimos. As Figuras 5.1 a 5.4 apresentam aa variações dos níveis residuais de cloro em função dos parâmetros de DBO, N- Turbidez Meses de coleta Figura 5..3-Variação temporal da cor com o cloro residual livre Cor(uH) Cor 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 Meses de coleta NH3(mg/l) 0,35 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 Cloro Resid DBO Cloro Resid Figura 5.2-Variação temporal da cor com o cloro residual livre Ju nh o Ju l h Ag o Se o st te o m O bro ut N ub ov ro e D mb ez ro em br o 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 DBO(mg/l) 0,35 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 Ju nh o Ju Ag lho Se o s t e to m O bro ut N ub ov r e o D mb ez r em o br o Cloro Residual(mg/l) Figura 5.1-Variação temporal da turbidez com o cloro residual livre 40,00 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 Meses de coleta Cloro Residual(mg/l) Meses de coleta 0,35 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 Ju nh o Ju l h Ag o Se o st te o m O bro ut N ub ov ro e D mb ez ro em br o Cloro Resid Cloro Residual(mg/l) 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 Turbid ez(uT) 0,40 0,30 0,20 0,10 0,00 Ju nh o Ag os to O ut ub ro De ze m br o Cloro Residual(mg/l) NH3, turbidez e cor. Cloro Resid N-NH3 Figura 5..4-Variação temporal do NH3 com o cloro residual livre Observando as Figuras 5.1 a 5.4, verifica-se não só as correlações existentes entre os parâmetros de qualidade da água com a demanda de cloro, como também a grande influência das variáveis hidrológicas inferidas pela variação temporal. As variáveis hidrológicas são representadas pelos meses de coleta, considerando três períodos: mais chuvoso (Outubro à Dezembro), menos chuvoso (Agosto-Setembro) e sem chuva (Junho-Julho).Desse modo, no período mais chuvoso (outubro à dezembro) os níveis residuais de cloro diminuem ,devido o aumento da demanda de cloro pela água. A Figura 5.5 apresenta a variação do cloro residual livre em função da matéria orgânica carbonácea e nitrogenada representada respectivamente pelos 1,20 0,6 1,00 0,5 0,80 0,4 0,60 0,3 0,40 0,2 0,20 0,1 0,00 N-NH3(m g/l) DBO(m g/l) parâmetros da DBO e N-NH3. 0 0,15 0,20 0,20 0,25 0,25 0,30 0,30 Cloro Residual Livre(m g/l) DBO N-NH3 Figura 5.5- Variação temporal dos parâmetros, DBO e N-NH3 da água in natura. Esses parâmetros apresentam valores crescentes à medida que o nível de cloro residual diminui, entretanto, observa-se que os valores das concentrações do nitrogênio amoniacal (N-NH3) são consideravelmente menores que os valores da demanda bioquímica de oxigênio (DBO).Este comportamento provavelmente está associado ao fato da matéria orgânica apresentar maior fração carbonácea que nitrogenada, implicando menor demanda de cloro para oxidação de compostos nitrogenados, conforme discutido no item - 3.4.6 da Revisão Bibliográfica. A cor e a turbidez foram parâmetros físicos de qualidade de água de variações significativas durante os meses de coleta devido a dissolução de rochas, nos processos erosivos, intensificados pela ocorrência de chuvas e conseqüente aumento de vazão do manancial. Embora a turbidez tenha chegado a valores superiores a 15 uT em períodos chuvosos, foi necessário estabelecer um limite máximo de 8,0 uT, para que os procedimentos bacteriológicos pudessem ser desenvolvidos com eficiência (item 3.5.3 – Revisão Bibliográfica). Analisando os valores das variáveis microbiológicas no período experimental pela Tabela 5.1 observou-se que os números de coliformes totais e fecais foram significativamente maiores nos períodos mais chuvosos. Esse resultado pode ser explicado pela lavagem dos solos, onde vivem animais silvestres da Reserva Florestal de Duas Bocas, local da nascente do Rio Sto Agostinho Os resultados apresentados nesse item indicam que a qualidade da água está sujeita a variações bruscas em função das variações temporais, podendo interferir nos resultados dos experimentos, uma vez que os níveis de cloro residual não se mantiveram constante, mesmo sendo utilizada a mesma dosagem de desinfetante (0,70mg/l) e o mesmo tempo de contato (18,7 minutos) em todas as amostras analisadas. 5.2 - Avaliação Da Influência da Eficiência Hidraúlica de Unidades de Contato na Eficência de Desinfeção de Água Com Cloro Para avaliação da influencia da eficiência hidráulica (EH) na eficiência de desinfecção (ED) da água, foram analisados os dados obtidos nos ensaios bacteriológicos para coliformes totais e fecais em reatores batelada e fluxo contínuo. As três configurações estudadas de UC de fluxo contínuo foram: original, com defletor e com chicanas (item 4.8.2-Metodologia). Nesse contexto, a ED foi avaliada através da taxa de inativação de coliformes (TIC%) totais e fecais e do consumo de desinfetante (mg/l de Cloro). A EH de cada configuração foi representada pelo coeficiente de mistura global (d), conforme descrito no item 3.6.3 da Revisão Bibliográfica. 5.2.1-Verificação da Influência da Eficiência Hidráulica na Taxa de Remoção de Coliformes Totais e Fecais As medições das concentrações de coliformes (UFC/100ml) na entrada e saída da UC foram determinadas a partir de três dosagens de cloro: 0,70mg/l, 0,75mg/l e 0,80mg/l. Cada uma das dosagens foi aplicada nas três configurações de fluxo contínuo, permitindo a obtenção da TIC (Tabela 5.2). Como pode ser observado nesta Tabela, as variações de qualidade de água (cor, turbidez, pH e coliformes) não foram, no geral, muito significativas, satisfazendo a condição desejável para efeito de comparação de resultados. Tabela 5.2: Resumo dos resultados obtidos experimentalmente na inativação de coliformes totais e fecais, utilizando diferentes dosagens de cloro (mg/l) e tempo de contato de 18,7 minutos, tendo como referência os indicadores de EH (d) e ED (TIC). C=0,70mg/l Configuração d ColiformesTotais(UFC/100ml) Coliformes Fecais(UFC/100ml) TIC% pH No N No N CT CF Cor Turbidez (uH) (uT) Original 0,407 109 25 23 6 77,06 73,91 6,92 15 4,90 Defletor 0,191 113 18 26 5 84,07 80,77 6,89 20 4,75 Chicanado 0,065 109 8 25 3 92,66 88,00 6,87 20 5,10 C=0,75mg/l Configuração d ColiformesTotais(UFC/100ml) Coliformes Fecais(UFC/100ml) TIC% pH No N No N CT CF Cor Turbidez (uH) (uT) Original 0,407 104 21 18 5 79,81 77,78 6,86 15 4,76 Defletor 0,191 108 11 23 3 89,81 86,96 6,91 15 4,79 Chicanado 0,065 97 <1 22 <1 100,00 100,00 6,79 20 5,65 C=0,80mg/l Configuração d ColiformesTotais(UFC/100ml) Coliformes Fecais(UFC/100ml) TIC% pH No N No N CT CF Cor Turbidez (uH) (uT) Original 0,407 108 17 24 5 84,82 79,77 6,90 20 5,10 Defletor 0,191 113 7 21 2 93,81 90,48 6,86 20 4,90 Chicanado 0,065 103 <1 25 <1 100,00 100,00 6,75 25 (<1 ): Ausencia de coliformes de Inativação de coliformes 6,70 TIC: Taxa As informações na tabela permitem avaliar a influência do comportamento hidrodinâmico da UC, cuja variação é representada por d, em relação à eficiência de desinfecção, representada por TIC%. À medida que o valor de d diminui, aproximando-se ao fluxo pistão, observa-se um aumento da taxa de inativação (TIC), tendendo a 100% de remoção para a configuração chicanada. Esse comportamento pode ser verificado em todas as dosagens utilizadas (0,70 mg/l, 0,75mg/l, 0,80 mg/l), independente do tipo de microrganismo avaliado (CT e CF).. Pode-se observar na Figura 5.6 que, para todas as configurações a taxa de inativação de coliformes em uma determinada configuração cresce à medida que a dosagem de cloro aumenta, devido o aumento das probabilidades de colisões entre as moléculas do desinfetante e as membranas bacterianas, estando de acordo com a Teoria das Colisões (item 3.3.2.1 da Revisão Bibliográfica). Taxa de Inativação de Coliformes Totais 100 TICT% 80 60 40 20 0 0,70 0,75 0,80 Dosagem de desinfetante(m g/l) original defletor chicanas 100,00 TICF% 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00 0,70 0,75 0,80 Dosagem de cloro(m g/l) original defletor chicanas Figura 5.6 – Variação da Taxa de Inativação de Coliformes Fecais e Totais para as configurações estudadas. O percentual de inativação de CF se apresenta sempre menor ou igual ao percentual de inativação de CT para todas as três dosagens testadas, como ilustrado pela Figura 5.7. Esses resultados comprovam a maior resistência dos coliformes fecais à ação desinfetante do cloro (Pelczar et al. 1998). Taxa de Inativação de coliformes para Configuração original 100 95 TIC% 90 85 80 75 70 0,70 0,75 Dosagem de cloro (m g/l) Coliformes Totais 0,80 Coliformes Fecais Taxa de Inativação de coliformes para Configuração com defletor 95 TIC% 90 85 80 75 70 0,70 0,75 Dosagem de cloro(m g/l) Coliformes Totais 0,80 Coliformes Fecais Taxa de Inativação de coliformes para Configuração com Chicanas 105,00 TIC% 100,00 95,00 90,00 85,00 80,00 75,00 0,70 0,75 Dosagem de cloro (m g/l) Coliformes Totais 0,80 Coliformes Fecais Figura 5.7: Variação da Taxa de Inativação (TIC) com consumo de cloro para coliformes fecais e totais nas configurações estudadas 5.2.2 – Verificação da Influência da EH na ED Através do Consumo de Cloro Esta etapa avaliou o consumo de cloro (mg/l) para atingir uma TIC igual a 100% em cada configuração da UC de fluxo contínuo. A Tabela 5.3 apresenta a relação entre a EH (d) e as dosagens de cloro aplicadas. Chama-se a atenção para a pequena variação dos valores dos parâmetros de qualidade de água (pH, cor, turbidez e concentração de coliformes), o que favorece a comparação entre a influência da hidrodinâmica nos consumos de desinfetante para atingir uma mesma TIC. Tabela 5.3: Relação entre os resultados das dosagens de cloro aplicado (mg/l) e a EH (d) para TIC=100% e tempo de contato de 18,7minutos Configuração d Coliformes Totais Coliformes Fecais No(UFC/ml) No(UFC/ml) C(mg/l) pH Cor Turbidez(U (uH) T) Original 0,407 117 26 0,90 6,76 15 4,75 Defletor 0,191 104 24 0,85 6,79 20 4,81 Chicanado 0,065 112 22 0,75 6,81 25 4,98 Os resultados mostrados na Tabela 5.4.2 indicam a relação direta entre o coeficiente de mistura (d) e a dosagem de cloro aplicada (Cmg/l): à medida que o valor de d diminui, devido às alterações na configuração da UC, a dosagem de cloro (mg/l) necessária para uma ED=100% também decresce. Deste modo, d variando de 0,407 (configuração original) a 0,191 (configuração Defletor) as dosagens de cloro foram reduzidas de 0,90mg/l para 0,85mg/l, uma redução de cerca de 5,9% no consumo de desinfetante. Já na configuração chicanada (d=0,065), a dosagem foi reduzida para 0,75mg/l, acarretando uma redução bem mais efetiva, cerca de 20% no consumo de cloro, em relação ao consumo para a configuração original. 5.2.3 - Considerações Finais Sobre a Relação Entre Eficiência Hidráulica (EH) e Eficiência de Desinfecção (ED). Os experimentos demonstram que a melhoria de EH pode efetivamente maximizar a ação bactericida do cloro (Teixeira, 1995; Figueiredo, 2000), pois, para as mesmas concentrações de cloro, obteve-se maiores Taxas de Inativação quando o escoamento na unidade de contato era mais próximo ao pistão (maior EH), sendo considerada a unidade mais eficiente a chicanada, que apresentou as maiores TIC para uma determinada concentração de cloro aplicada. A análise relativa ao consumo de cloro levou às mesmas conclusões, por que o consumo de cloro necessário para se atingir uma TIC de 100% diminuiu com o aumento da eficiência hidráulica (menores valores de d). É importante salientar que a inserção do defletor provocou uma melhoria na eficiência hidráulica, e conseqüentemente uma redução no consumo de desinfetante (da ordem de 6% em relação à configuração original), porém, a utilização de chicanas (d=0,065) mostrou ser muito mais relevante no processo de eficiência hidráulica, o que resultou numa redução de 20% no consumo do cloro necessário para a desinfecção. O aumento da eficiência de desinfecção (indicada pelo aumento de TIC ou pela diminuição do consumo) sugere uma redução dos custos do tratamento da água – pelo menor consumo de cloro -, além de minimizar a possibilidade de geração de subprodutos da cloração (Morris et al, 1971; Jensen e Johnson, 1987; Daniel, 2000). 5.3- Verificação do Desempenho dos Modelos de Previsão de Wehner E Wilhelm e Chick-Watson no Processo de Desinfecção de Água com Cloro O modelo analítico desenvolvido por Chick e Watson (1908) relaciona o tempo de contato do reator e a cinética de inativação de microrganismos com a Taxa de Inativação dos mesmos (item 3.8.1 – Revisão Bibliográfica). Já o modelo de Wehner e Wilhelm (1956) relaciona a esses parâmetros as características hidrodinâmica da unidade (item 3.8.2 – Revisão Bibliográfica) representadas pelo coeficiente adimensional de mistura (d). (item 3.7.1.2– Revisão Bibliográfica). 5.3.1 – Determinação da Cinética Reacional Bacteriana (K) A estimativa da TIC determinada pelos modelos de previsão depende dos valores de coeficientes da cinética reacional bacteriana k, conforme já discutido na Revisão Bibliográfica (item 3.7.2). Para assegurar uma boa representatividade na determinação de k, foram escolhidos grupos de amostras de água que apresentassem características semelhantes às características da água a qual buscava-se representar (item 4.5 - Metodologia). De cada grupo foram obtidos os valores de k médio, um para os coliformes totais e outro para os coliformes fecais. Os valores de k individuais apresentaram, em geral, variações não altas em relação aos valores médios, cujos valores de desvio padrão e coeficiente de variação são dados na tabela 5.4. Tabela 5.4: Dados de cinética reacional bacteriana k,para coliformes totais e fecais, obtidos utilizando diferentes dosagens de cloro (mg/l) e o tempo de contato de 18,7 minutos. 0,70 mg/l Conf.Equivalente K(médio) Desvio Padrão Coef. Variação (Batelada) CT CF CT CF CT CF Original 0,1899 0,1299 0,005 0,002 0,029 0,015 Defletor 0,1864 0,1178 0,002 0,003 0,013 0,024 Chicanada 0,1887 0,1289 0,007 0,004 0,037 0,029 0,75 mg/l Conf.Equivalente K(médio) Desvio Padrão Coef. Variação (Batelada) CT CF CT CF CT CF Original 0,2280 0,1940 0,008 0,008 0,036 0,043 Defletor 0,2188 0,1931 0,005 0,004 0,024 0,018 Chicanada 0,1965 0,1911 0,010 0,009 0,051 0,055 0,80 mg/l Conf.Equivalente K(médio) Desvio Padrão Coef. Variação (Batelada) CT CF CT CF CT CF Original 0,2325 0,2029 0,009 0,003 0,040 0,017 Defletor 0,2687 0,2199 0,005 0,005 0,021 0,025 Chicanada 0,2467 0,2192 0,003 0,008 0,012 0,037 5.3.2 – Verificação do Desempenho do Modelo de Wehner Wilhelm no Processo de Desinfecção de Água Esta secção avaliou os erros relativos à estimativa de TIC através do modelo proposto por Wehner e Wilhelm em relação aos valores de TIC medidos, considerando as três configurações e dosagens de desinfetante utilizadas. A equação de Wehner e Wilhelm foi implementada com os valores de k obtidos em batelada, conforme descrito no item 5.3.1. A tabela 5.4 apresenta o resumo das comparações entre TIC medida e TIC calculada, bem como os erros cometidos pelo modelo. Tabela 5.5: Relação entre a ED medida e a prevista pelo modelo de Wehner e Wilhelm C=0,70mg/l Configurações da UC d TIC% (medida) TIC%(Wehner e Wilhelm) |%Erro| CT CF CT CF CT CF Original 0,407 77,06 73,91 88,82 81,02 15,3 9,6 Defletor 0,191 84,07 80,77 91,75 82,28 9,1 1,9 Chicanado 0,065 92,66 88,00 94,95 88,16 2,5 0,2 C=0,75 mg/l Configurações da UC d TIC% (medida) TIC%(Wehner e Wilhelm) |%Erro| CT CF CT CF CT CF 79,81 77,78 91,71 89,19 14,9 14,7 Original 0,407 Defletor 0,191 89,81 86,96 94,05 92,31 4,7 6,2 Chicanado 0,065 100,00 100,00 95,46 95,11 4,5 4,9 C=0,80mg/l Configurações da UC d TIC% (medida) TIC%(Wehner e Wilhelm) |%Erro| CT CF CT CF CT CF 84,82 79,77 91,99 89,94 8,5 12,7 Original 0,407 Defletor 0,191 93,81 90,48 96,29 94,04 2,6 3,9 Chicanado 0,065 100,00 100,00 97,66 96,66 2,3 3,3 As diferenças entre os valores medidos e os previstos por Wehner e Wilhelm são considerados aceitáveis, visto que erros da ordem de 10% são tidos como aceitáveis, para atuações práticas, em várias áreas da engenharia. Além disso, a desinfecção de água envolve processos químicos e biológicos, susceptíveis a significativas variabilidades. Os dois maiores erros (|%Erro|) obtidos foram de 15,3% e 14,9% na configuração original, para dosagens de 0,70mg/l e 0,75mg/l, respectivamente. Este erro foi relativamente menor para as configurações chicanadas, não ultrapassando 4,9% para CF e 4,5% para CT. Exceto para onde a TIC medida atingiu 100%, observa-se que as estimativas feitas pelo modelo superaram os valores medidos (Tabela 5.5.2). Por exemplo, no experimento com concentração 0,70mg/l, para a configuração Original (d=0,407) o modelo prevê a TIC (CT)=88,82% enquanto a TIC (CT) medida foi 77,06%; na configuração Defletor (d=0,191) o modelo estimou uma TICT de 91,75%, sendo seu valor real 84,07%; e também na configuração Chicanada (d=0,065), onde pelo modelo se teria uma TIC(CT) de 94,95%, o valor medido foi 92,66%. O modelo de Wehner e Wilhelm pode ser considerado promissor, visto que os erros apresentados foram relativamente baixos, especialmente quando se trabalha com escoamentos que tendam a pistão, para os quais o modelo foi desenvolvido. Todavia, é preciso cuidado ao usá-lo, pois mesmo para baixos valores de d – exceto quando TIC medida atingiu 100% -, o modelo prevê uma TIC maior que a real, induzindo, juntamente com outros fatores, a um dimensionamento da dosagem de cloro a ser aplicado insuficiente para se alcançar a ED desejada (100%), fato esse que representaria um risco à saúde pública. Um fato que também deve ser notado é o de que o modelo parece estar mais bem ajustado ao comportamento dos coliformes totais do que os fecais, já que a taxa de inativação dos primeiros apresentou menor erro que a dos segundos em duas das três dosagens estudadas (0,75mg/l e 0,80mg/l), porém este fato deve ser estudado mais a fundo para que se possa validá-lo estatisticamente, como o próprio modelo. 5.3.3 – Verificação do Desempenho do Modelo de Chick-Watson no Processo de Desinfecção de Água Para essa verificação buscou-se comparar os valores de TIC obtidos pelo modelo de Chick-Watson com os correspondentes às experimentações feitas em unidades de fluxo contínuo. Como dado comum entre as simulações com o modelo de Chick-Watson para cada configuração da UC tinha-se o tempo teórico de detenção. Ainda como dado comum dever-se-ia ter o valor de k. Contudo, por um problema metodológico, o valor do coeficiente de cinética reacional utilizado no modelo diferiu-se daquele referente à água utilizada nas experimentações em fluxo contínuo, como discutido na metodologia (item 4.5), sendo necessário, com isso, obter os coeficientes de inativação de coliformes totais e fecais (k) considerando amostras de água obtidas em outros dias, diferentes daqueles destas experimentações, que fossem equivalentes (em termos de qualidade de água). A Tabela 5.6 resume os resultados obtidos. Essa analise foi feita apenas para a concentração de desinfetante igual a 0,70 mg/l, pois para as demais concentrações estudadas (0,75 e 0,80 mg/l), a TIC medida atingiu 100% (configuração chicanada), para o tempo de contato de 18,7 minutos, o que inviabilizaria as comparações desejadas (comparação do erro entre valores medidos e estimados). Tabela 5.6: Análise entre a TIC (medida) e a TIC estimada por Chick-Watson, utilizando uma dosagem igual a 0,70 mg/l e tempo de contato de 18,7 minutos. Conf.Equival(batelada) K batelada(médio) TIC% (medida) TIC% (Chick-Watson) |Erro%| CT CF CT CF CT CF CT CF Original 0,1899 0,1299 77,06% 73,91% 97,13% 91,19% 26,0 23,4 Defletor 0,1864 0,1178 84,07% 80,77% 96,93% 88,95% 15,3 10,1 Chicanada 0,1887 0,1289 92,66% 88,00% 97,06% 91,02% 4,7 3,4 Os maiores erros (26,0% e 23,4%) apresentados na Tabela 5.6 podem ser considerados não muito altos, tendo em vista que o modelo envolve processos biológicos, susceptíveis a alta variabilidade. Deve-se salientar também que as TIC do modelo são função apenas da cinética reacional bacteriana k das águas em estudos e do tempo teórico de detenção, por tanto independem da hidrodinâmica do reator (item 3.8.1 – Revisão Bibliográfica). Dessa forma, os comportamentos das TIC do modelo podem não acompanhar o das TIC reais,uma vez que estas são influenciadas pela hidrodinâmica do reator. Este fato pode ser observado através das TIC medidas em relação às estimadas. Como pode ser visto na Tabela 5.6 (avaliando as maiores variações referentes às configurações), enquanto a TIC (CT) medida variou de 77,06% para 92,66%, uma variação relativa de 20,24%, a maior variação dos valores de TIC (CT) estimada foi de 96,93% para 97,13%, uma variação relativa de 0,21%, cerca de 100 vezes menor que a primeira. Para TIC (CF) também foram observados comportamentos semelhantes, a maior variação de TIC (CF) medida foi de 73,91% a 88,00%, cerca de 19,1% de variação relativa, enquanto o valor estimado pelo modelo variou entre 88,95 e 91,19%, que corresponde a 2,5% de variação relativa. Isso leva a crer que o comportamento da TIC estimada pelo modelo não acompanha o comportamento real dessas taxas. Este fato está ilustrado na Figura 5.8. Variação da taxa de coliformes 100,00% Variação da taxa de coliformes totais Fecais 95,00% 90,00% 90,00% TICF% TICT% 95,00% 85,00% 80,00% 75,00% 85,00% 80,00% 75,00% 70,00% 0,1864 0,1887 0,1899 0,1178 K TIC%(medida) 70,00% TIC%(Chick-Watson) TICF%(medida) 0,1289 K 0,1299 TICF%(Chick-Watson) Figura 5.8 – Comparação entre o comportamento da TIC medida e da TIC estimada pelo modelo de Chick-Watson O modelo de Chick-Watson apresenta erros menores para unidades mais eficientes. Como o modelo independe das características hidrodinâmicas das unidades, essa diminuição indica que a cinética reacional de inativação nessas unidades aproxima-se mais daquelas obtidas em batelada e utilizadas pelo modelo. A hidrodinamica na unidade chicanada se aproxima da ideal (escoamento pistão).Logo, as diferenças entre os valores medidos e estimados pelos modelo são menores, pois o tempo de contato entre os microrganismos e o desinfetante aproxima-se do tempo teórico de detenção Os valores das TIC estimadas pelo modelo são, nos casos estudados, maiores que os valores reais. Assim, especialmente nas unidades consideradas menos eficientes, a utilização desse modelo (que não considera parâmetros hidrodinâmicos) para reatores de fluxo contínuo, pode aliado a outros fatores incorrer em erros de dosagem do desinfetante, tornando-a ineficaz para a desinfecção adequada da água. 5.3.4 – Análise Comparativa Entre os Modelos de Desinfecção Neste item serão avaliados os modelos desenvolvidos por Chick Watson (1908) e Wehner e Wilhelm (1956) a partir das variações percentuais relativas determinadas entre a TIC medida e estimadas por esses modelos. A Tabela 5.7 apresenta esses resultados. Tabela 5.7: Erros das TIC’s estimadas pelos modelos de inativação Configurações da UC d |%Erro| |%Erro| Chick Watson Wehner e Wilhelm CT CF CT CF Original 0,407 26,0 23,5 15,3 9,6 Defletor 0,191 15,3 10,1 9,1 1,9 Chicanado 0,065 4,7 3,4 2,5 0,2 Os erros relativos entre TIC medidas e estimadas mostraram-se mais acentuados no modelo de Chick Watson. Os maiores erros, em valores absolutos, foram observados na configuração Original, onde, para CT, Wehner e Wilhelm apresentou um erro de 15,3% e Chick-Watson um erro de 26,0%, cerca de 70% maior que o primeiro. Nas demais configurações, os erros para coliformes totais também mantiveram variação semelhante, com os erros de Chick-Watson sendo entre 70 e 90% maiores do que o de Wehner e-Wilhelm. Quando analisados os coliformes fecais, as diferenças entre os modelos ficam ainda mais evidentes. As razões entre os erros de Chick-Watson e Wehner e Wilhelm são de 2,4 para a configuração Original; 5,3 para a configuração Defletor e 17,0 para a configuração Chicanada. Assim, mesmo apresentando valores absolutos relativamente baixos para as unidades mais eficientes, os erros de Chick-Watson apresentaram-se muito maiores do que os de Wehner e Wilhelm . Ambos os modelos apresentaram menores erros para as unidades onde o fluxo era mais próximo do pistão. Porém, como discutido, os erros de Chick-Watson foram bem mais expressivos. Os dois modelos consideram a cinética reacional obtida em batelada, e com a aproximação do fluxo ao pistão, a cinética nas unidades aproximou-se daquelas obtidas em batelada, diminuindo os erros. Contudo, a proposição de Wehner e Wilhelm leva em conta também o parâmetro hidrodinâmico d, que não é considerado no modelo de Chick-Watson, o que pode explicar os menores erros cometidos pelo primeiro. Isso vem confirmar a relevância da hidrodinâmica do reator no processo de desinfecção de água. 6 - Conclusões e Recomendações De acordo com os dados obtidos neste trabalho serão apresentadas as conclusões, assim como as recomendações para trabalhos posteriores. 6-1 – Conclusões Gerais Os resultados apresentados neste trabalho enfatizam a importância da adoção do correto regime hidráulico para unidade de contato e os correspondentes coeficientes de decaimento bacteriano k. Este procedimento viabilizou a adoção do modelo cinético mais adequado para previsão das taxas de inativação de coliformes totais e fecais em UC operando em fluxo contínuo. As melhorias propostas (defletor e chicanas) reduziram os desvios entre os valores das taxas de inativação estimadas pelos modelos cinéticos de desinfecção e os valores reais, representativos da UC operando sob fluxo contínuo, considerando-se individualmente os grupos de coliformes totais e fecais. Todas as alterações na configuração do reator afetaram sensivelmente o consumo de cloro (hipoclorito de sódio) independente do tipo de microrganismo inativados. As reduções no consumo de desinfetante tornam-se mais representativas à medida que o microrganismo de referência apresenta maior resistência à ação do desinfetante. Os resultados apresentados neste trabalho mostraram que concentração residual de cloro irá depender da qualidade da água in natura, sendo assim, o monitoramento do decaimento bacteriano não deve ser determinado somente através do residual de cloro livre, como um parâmetro indireto de inativação de coliforme, para evitar sobrecarga ou insuficiência de cloro no sistema. Comprovou-se neste estudo, que a taxa de inativação de microrganismos varia com as características físico-químicas e bacteriológicas da água in natura, ressaltando a importância da caracterização da água a ser tratada no dimensionamento da UC. 6-2 – Avaliação da Eficiência de Desinfecção(ED) na UC Todas as alterações implementadas na configuração original da UC tendendo ao escoamento pistão (defletor e chicanas), demonstraram melhorias significativas em sua eficiência hidráulica, caracterizadas pela elevação das taxas de inativação de coliformes e coeficientes de cinética reacional desses microrganismos. 6-3 – Avaliação do consumo de desinfetante As dosagens de cloro aplicadas para alcançar uma eficiência de desinfecção de 100%, ou seja, taxas de inativação iguais a 100% resultaram em valores diferentes entre si, devido às alterações na configuração da UC.Quanto mais essas alterações se aproximaram do escoamento pistão (menores valores de d) maior foi a redução no consumo de cloro. Esse resultado demonstra que o aumento da EH poderá refletir na economia do consumo de cloro para inativação dos microrganismos estudados, acarretando uma conseqüente redução no custo de operação da ETA. Tomando como referência as dosagens determinadas experimentalmente em cada configuração, observou-se que para os modelos, de Chick-Watson (1908) e Wehner e Wilhelm (1956) as taxas de inativação de coliformes foram superiores à inativação real. Entretanto, o modelo de Wehner e Wilhelm apresentou menores desvios que o modelo de Chick-Watson em relação às dosagens medidas.Desta forma, esse modelo se mostrou uma boa ferramenta na estimativa de consumo de cloro para a situação estudada. A variação da resistência dos microrganismos estudados (coliformes totais e fecais) ao cloro se verifica pela diferença da taxa de inativação entre esses microrganismos numa mesma configuração, sob a ação dos mesmos desinfetantes, dosagens e tempo de contato.. Além disso foram observados diferentes níveis residuais de cloro nas amostras de água coletadas.Esse fato reforça a necessidade de caracterização da água a ser tratada 6-4 – Recomendações É importante enfatizar que qualquer estudo de modelagem do decaimento bacteriano deve apresentar explicitamente informações básicas como: regime hidráulico, configuração do reator, parâmetros físico, químicos e bacteriológicos da água in natura,para melhor representatividade da cinética reacional bacteriana k. Os valores do coeficiente de cinética reacional bacteriana são obtidos pela metodologia padrão, utilizando reator batelada.Tais condições são bem diferentes da prática, em que se trabalha com reator de fluxo contínuo, contando ainda, com flutuações dos parâmetros de qualidade de água.Neste aspecto, recomenda-se que sejam elaborados mecanismos, para que a obtenção da cinética reacional bacteriana k pelo método de batelada, seja mais incorporada a outros parâmetros hidrodinâmicos, além do tempo teórico de detenção(T), permitindo um melhor ajuste dos níveis de desvios que ocorrem na prática. Estudos adicionais são sempre necessários para confirmar ou ajustar os modelos analíticos de desinfecção na previsão da taxa de inativação de microrganismos .Recomenda-se que esses estudos analisem o modelo que reproduza melhor as condições reais de inativação.