Revista Adusp Março 2001 UMA EMPRESA CHAMADA FIA Alice Castanheira, Antônio Biondi e Pedro Estevam da Rocha Pomar Equipe da Revista Adusp Gordos contratos com o setor público garantem a opulência da fundação, que tem sede própria, 206 funcionários e previdência privada altamente capitalizada. Nos últimos anos, os cursos “USP-MBA” ministrados na Faculdade de Economia tornaram-se outra lucrativa fonte de receitas 78 Revista Adusp Março 2001 Fundação Instituto de Administração Tabela 1 - ORIGEM DAS RECEITAS (FIA), entidade criaDA FIA POR TIPO DE CONTRATANTE da em 1980 e conveniada à Faculdade SETOR 1994 1995 1996 1997 1998 1999 de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), Público 81% 80% 89% 80% 70% 44% é tida como uma das vedetes entre Privado 19% 20% 11% 20% 30% 56% as instituições que se destacam por prestar serviços privados com a Fonte: FIA chancela do “selo USP”. Na década de 90, a FIA lidou com orçaTabela 2 - EVOLUÇÃO DO mentos milionários, sustentados QUADRO DE PESSOAL DA FIA basicamente por seus contratos com empresas e órgãos públicos, que chegaram a responder por 1995 1996 1997 1998 1999 89% de suas receitas. Um dos siFuncionários 232 306 417 346 206 nais mais ostensivos dessa opulência é o prédio da FEA, beneficiado por reformas custeadas por repas- Fonte: FIA ses da FIA, Fipe e Fipecafi e co- Banco do Brasil, Empresa de Cor- treinamento entre os projetos conreios e Telégrafos (ECT), Prefeitu- tratados, caindo o número de connhecido como “Taj Mahal”. Falar em orçamentos milionários ra de São Paulo, Secretaria Esta- sultorias prestadas. A participação do setor público não é força de expressão. Sua pro- dual do Meio Ambiente (Semaposta orçamentária para 2000, que SP), Financiadora de Estudos e na receita da FIA, que era de 81% em 1994 e manteve-se no patamar refletiu “uma atitude de cautela” da Projetos (Finep) e outros. Naquele ano, por exemplo, a dos 80% ou mais até 1997, baixou direção da entidade, foi de R$ 35,9 milhões (Plano de Trabalho e Pro- FIA firmou contrato com o Fundo para 70% em 1998 e foi drasticaposta Orçamentária, FIA 2000, p. 8). Nacional de Desenvolvimento da mente reduzida para 44% no ano Essa perspectiva conservadora pode Educação (FNDE), “para prestação seguinte. Portanto, as receitas ter relação com o balanço de 1999, de serviços de consultoria, visando o oriundas do setor privado saíram pois a receita realizada revelou-se desenvolvimento institucional, espe- do patamar de 20% ou menos, em inferior aos valores orçados: a FIA cificamente centrado na automação que se encontravam no período arrecadou R$ 49,7 milhões, menos de processos e nas atividades dela 1994-1997, para 30% em 1998 e do que os R$ 55,8 milhões previstos. decorrentes”, no valor de R$ 4,7 mi- 56% em 1999, conforme mostra a Mesmo assim, houve superávit de lhões (Parecer da Tríade Auditores & tabela 1 (Relatório de Atividades, FIA 2000, p. 7). R$ 3,2 milhões no exercício de 1999 Consultores, FIA 2000, p. 8). De todo modo, na proposta orDe 1997 em diante, deu-se uma (Realização Orçamentária, Receitas 1999: Valores Orçados e Valores Rea- dupla inversão. Em primeiro lugar, çamentária da fundação para 2000 o “ajuste fiscal” e as privatizações ainda constavam expressivos valolizados, FIA 2000, p. 1). De onde vem todo esse dinhei- parecem ter-se refletido nas novas res como saldo a receber de conro? Até 1997, a maior parte provi- contratações, de modo que a parti- tratos firmados com o setor públinha de atividades de consultoria, cipação relativa do poder público co em 1998 e 1999. O Serviço Feespecialmente as prestadas a em- passou a declinar. Por outro lado, deral de Processamento de Dados presas e órgãos públicos, como também cresceu o peso relativo do (Serpro) tinha saldo devedor à A 79 Revista Adusp Março 2001 ALGUNS CONTRATOS REALIZADOS PELA FIA COM O SETOR PÚBLICO EM 1998 Contratante e nº do contrato Título resumido Valor (em R$)* PREFEITURA DE SÃO PAULO Processamento de Dados do Município (2099) Prefeitura de São Paulo (2062) Consultoria administrativa Análise e reformulação dos procedimentos administrativos GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Secretaria Estadual do Meio Ambiente (2090) Gestão e racionalização de atividades de licenciamento ambiental Sabesp (2202) Desenvolvimento e implantação de estratégias de marketing FDE- Secretaria Estadual da Educação (2240) Sistema de informações e apoio à revisão de processos de trabalho CDHU (2254) Delineamento e execução de curso de capacitação gerencial GOVERNO FEDERAL Ibama (2039) Pnud/Sudam (2245) 750.000,00 1.173.739,12 1.916.161,16 57.545,19 113.648,00 67.285,00 567.336,42 59.164,00 Serviços de informática Implantação do banco de projetos interativo EMPRESAS ESTATAIS FEDERAIS Correios - ECT (2082) Programa de desenvolvimento de executivos em marketing Serpro (2145) Desenvolvimento institucional Petrobrás (2266) Avaliação empresarial das gerências administrativas regionais 223.899,34 119.582,00 62.122,00 * Saldo a receber. Não dispomos do valor integral dos contratos. Fonte: Plano de Trabalho e Proposta Orçamentária 2000, FIA. FIA de R$ 119 mil; o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), de R$ 567 mil; a Processamento de Dados do Município S/A (Prodam), de R$ 750 mil; a Prefeitura de São Paulo, de R$ 1,173 milhão. A Sema-SP devia saldar R$ 1,916 milhão de contrato firmado em 1998 (para “desenvolvimento organizacional, gestão e racionalização das atividades de licenciamento ambiental”), e outros R$ 194 mil de contrato assinado em 1999 (para “revisão organizacional da Sema”). O Banco do Brasil tinha nada menos do que sete contratos em andamento, firmados em 1999, relativos a cursos de especialização e formação de executivos e 80 Os melhores clientes da FIA ainda estão no setor público, entre eles o MEC que totalizavam saldo a pagar de R$ 523 mil. Um novo contrato com o FNDE, leia-se Ministério da Educação, desta vez para “assessoria técnica ao PNBE 99”, foi firmado em 1999, restando como saldo a receber pela FIA, em 2000, a quantia de R$ 570 mil. Outros dois contratos com o MEC (“pesquisa de auditoria nos dados de matrícula no ensino fundamental declarados pelo Censo Escolar” e “consultoria para controle de qualidade do Censo Escolar”) somavam R$ 43 mil de saldo. Na relação de saldos a receber em 1999, o valor mais alto oriundo do poder público, contudo, era o da Secretaria Municipal da Educação de São Paulo: R$ 1,1 milhão. Apesar da redução do volume global, verifica-se, quando se analisa os projetos contratados até 29 de fevereiro de 2000, que os melhores contratos da FIA continuaram a ser aqueles firmados com o poder público. O mais generoso deles foi assinado pela Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel, que pagará R$ 1,94 milhão pelo “desenvolvimento, teste e implementação de um processo de aferição do grau Revista Adusp Março 2001 PRINCIPAIS CONTRATOS REALIZADOS PELA FIA COM O SETOR PÚBLICO EM 1999 Contratante e nº do contrato Título resumido Valor (em R$)* PREFEITURA DE SÃO PAULO SME (2381) Desenvolvimento de novo modelo de gestão logística 1.100.000,00 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Secretaria de Transportes Metropolitanos (2380) Pesquisa de atitudes da população com relação aos serviços modais Secretaria Estadual do Meio Ambiente (2388) Revisão organizacional (gabinete, Fundação Florestal e institutos) SERT - Emprego e Relações do Trabalho (2389) Capacitação gerencial para empresários e tomadores do Proger 147.640,00 194.700,00 303.600,00 GOVERNO FEDERAL FNDE/MEC (2328) MEC (2360) MEC (2361) Assessoria técnica ao PNBE 99 Pesquisa de auditoria nos dados de matrícula do ensino fundamental Consultoria para controle de qualidade do Censo Escolar 570.146,97 23.292,00 27.331,96 EMPRESAS ESTATAIS FEDERAIS Banco do Brasil (2294) Banco do Brasil (2305) Banco do Brasil (2320) Banco do Brasil (2326) Banco do Brasil (2353) Banco do Brasil (2366) Banco do Brasil (2367) Petrobrás (2376) Petrobrás (2382) Curso de especialização em recursos humanos Tracking de comunicação Curso de especialização em agribusiness Curso de formação de executivos (Marília) Curso de formação de executivos (Porto Velho) Curso de formação de executivos (Manaus) Curso de formação de executivos (Natal) Avaliação empresarial das gerências administrativas regionais Consultoria e treinamento em marketing 102.000,00 3.600,00 99.500,00 40.000,00 44.000,00 102.000,0 132.000,00 291.191,25 129.306,00 OUTROS Secretaria da Fazenda de Mato Grosso (2354) Banco de Desenvolv. do Estado da Bahia (2356) Prefeitura de Limeira (2385) Consultoria e implantação do modelo de gestão de pessoas Desenvolvimento e implantação de modelos para área de risco de crédito Realização de concurso público *Saldo a receber. Não dispomos do valor integral dos contratos. Fonte: Plano de Trabalho e Proposta Orçamentária 2000, FIA. de satisfação dos consumidores do serviço telefônico comutado e do serviço móvel celular”. No período janeiro-fevereiro de 2000, o contrato mais rentável com o setor privado, assinado com a IBM, tem o valor de R$ 924 mil — muito inferior, portanto, ao firmado com a Anatel. Também nas propostas que estavam sendo negociadas no início de 2000 esse dado se repetia. Os projetos que envolviam maiores valores eram aqueles que a FIA pretendia assinar com a Cetesb (“revisão de fluxos e desenvolvimento de recursos humanos”), no valor de R$ 1,5 milhão, a Sabesp (“continuidade do processo de redesenho da organização”), no montante de R$ 1,07 milhão, a ECT (“pesquisa sobre avaliação da qualidade do atendimento”), R$ 418 mil, a Secretaria 268.000,90 114.125,00 392.874,00 de Estado da Administração Penitenciária de São Paulo (“implantação de um sistema de acompanhamento e controle de penas alternativas”), R$ 397 mil. Entre os projetos contratados no ano 2000 por empresas privadas encontram-se uma pesquisa de mercado para a Xerox (R$ 179 mil) e cursos para o Bradesco (R$ 135 mil), Unibanco (R$ 38,5 mil) e 81 Revista Adusp Março 2001 PRINCIPAIS CONTRATOS REALIZADOS PELA FIA EM JANEIRO E FEVEREIRO DE 2000* Contratante e nº do contrato Visanet (2398) IBM (2402) Petrobrás (2403) Seduc-MG (2404) Anatel (2410) Título resumido Curso de especialização em estratégias gerenciais (MBA) Treinamento Curso de pós-graduação em management à distância Consultoria para planos de educação média e profissional Processo de aferição do grau de satisfação dos consumidores Valor (em R$) 350.000,00 924.144,00 325.647, 00 305.199,98 1.944.960,00 *Relaciona apenas os cinco maiores contratos, de um total de 22, que somam R$ 4.913.537,98. Monsanto (R$ 40 mil). Entidades de classe do empresariado também figuram entre os clientes da FIA. É o caso do Sindusfarm (“A indústria farmacêutica brasileira e a globalização”, R$ 120 mil) e da Fundecitrus (“Mapeamento dos agentes ligados ao sistema agroindustrial citrícola”, R$ 29 mil). Nos últimos anos, ao mesmo tempo em que cresceu a participação do setor privado no faturamento da fundação, a tendência parece ser também a de aumentar o valor obtido com os treinamentos oferecidos. Nessa frente, a mina de ouro é o Programa de Educação Continuada em Administração para Executivos, que oferece cursos de pósgraduação lato sensu, do tipo MBA, em uma dezena de modalidades, para pessoas físicas ou jurídicas. Há os MBA abertos e os fechados, contratados por uma determinada empresa ou pessoa jurídica. Os mais caros chegam a custar, para o aluno ou a pessoa jurídica que paga a inscrição, 28 mil reais, o equivalente a US$ 14 mil. O USP-MBA Executivo Internacional, que inclui duas semanas de permanência no exterior, requer um pagamento adi- 82 Clientes privados e cursos aumentam participação nas receitas da fundação cional de “US$ 8 mil em reais ao câmbio do dia do pagamento ou US$ 1500 no ato da matrícula + cinco parcelas de US$ 1300”. Um exemplo de curso fechado é o MBA Derivativos e Informações Econômico-Financeiras, realizado pela FIA a pedido da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). A turma tem 40 alunos. O curso, de carga horária de 500 horas, custará aproximadamente R$ 20 mil por aluno. Ao final do curso, a FIA terá arrecadado cerca de R$ 800 mil (em torno de US$ 400 mil). A FIA esperava receber em 2000, apenas com as novas turmas de MBA, R$ 3,5 milhões. Como cursos desse tipo são encontrados também fora da USP, não há dúvida de que o grande chamariz é a universidade, ou seja, a marca USP. Por isso os cursos cha- mam-se USP-MBA e contam com salas próprias no prédio da FEA-1, onde “uma pequena reforma permitiu a construção de mais duas salas de aula, devidamente equipadas com os recursos de audiovisual presentes nas demais salas, e de um amplo espaço de convivência, utilizado para o serviço de coffeebreak oferecido nos intervalos dos cursos” (Plano de Trabalho e Proposta Orçamentária 2000, FIA). Em 1999, os cursos da FIA ocuparam 24 salas, dez delas na FEA e as restantes em outros locais, externos ao campus da USP. Mas, até 1996, a quase totalidade das salas utilizadas pela fundação pertencia à faculdade. A expansão dos cursos levou à aquisição de um imóvel para centralizar as atividades, nas imediações da USP. A compra, por R$ 3,5 milhões, foi autorizada pelo Conselho Curador, por unanimidade (Ata, FIA, 13/3/97, p. 3). Outras unidades da FIA funcionam em imóveis alugados. A FIA tinha 206 funcionários em 1999, o número mais baixo desde 1995 (232), como se pode ver na página 79, tabela 2. As despesas com pessoal, incluídos os docentes Revista Adusp Março 2001 Tabela 3 - CRESCIMENTO DO FUNDO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA DA FIA INDICADOR 1996 1997 1998 Rentabilidade 8% 23% 12,5% 48,9% Saldo acumulado* 4,37 6,76 8,34 1999 13,27 * em milhões de R$ em 1999. Deque coordenam pois de crescer os projetos, conPrevidência privada 8% em 1996, somem a maior 23% em 1997 e parte do orçade R$ 13 milhões 12,5% em 1998, mento da FIA. o Fundo dispaTomando-se coe favores fiscais rou 48,9% no mo base a previano seguinte são orçamentária para 2000, de R$ 35,3 milhões, (Plano de Trabalho 2000, FIA, p. as despesas com pessoal técnico se- 27). A razão provável desse salto riam de R$ 20,12 milhões, enquan- na rentabilidade é a desvalorização to as despesas com pessoal adminis- do real, ocorrida em janeiro de trativo somariam R$ 5,29 milhões e 1999 e que beneficiou os investios encargos R$ 3,8 milhões. Os da- mentos em dólar. Como outras fundações privados disponíveis não discriminam os valores recebidos pelos coordena- das, a FIA vem-se beneficiando de dores dos projetos (Proposta Orça- favores fiscais e decisões da justiça baseadas na condição que ostenta, mentária 2000, FIA, p. 15). A elevada lucratividade do em- de pessoa jurídica especial. Os dapreendimento FIA é atestada pelo dos constam do Parecer da Tríade valor acumulado do seu fundo de Auditores & Consultores, FIA 2000, previdência, chamado Fundo Mul- p. 9-10: 1) Em março de 1999, a FIA tipatrocinado. Em apenas três anos, o Fundo mais que triplicou obteve da Secretaria da Receita seu valor, passando de R$ 4,3 mi- Federal o deferimento do pedido lhões em 1996 para R$ 13,2 mi- de parcelamento de dívida relativa lhões em 1999 (tabela 3). O Fundo à Contribuição para o Financiatinha como aplicadores, em 1999, mento da Seguridade Social (Co53 coordenadores (docentes) e 168 fins) no valor total de R$ 4,99 milhões. O “leão” foi indulgente com funcionários da FIA. Sua excelente situação resultou a FIA, parcelando a dívida em 68 da excepcional rentabilidade obtida parcelas mensais. 2) A fundação recebeu um novo presente do governo federal quando da publicação, em junho de 1999, da Medida Provisória 1858-6. Esta MP isentou do pagamento da Cofins, em relação a fatos geradores ocorridos a partir de 1º de fevereiro de 1999, as fundações de direito privado e outras instituições. Com isso, a FIA deixou de recolher a Cofins depois de junho daquele ano, economizando quase R$ 1,7 milhão somente no exercício de 1999. Além disso, pretende recuperar ou compensar os pagamentos feitos entre fevereiro e junho (490 mil reais, em números redondos, em valores de dezembro de 1999). 3) Em fevereiro de 1999, a Justiça Federal concedeu liminar em ação de repetição de indébito movida pela FIA, que pretendia a restituição, pelo INSS, de valores pagos entre setembro de 1991 e agos- 83 Revista Adusp Março 2001 to de 1994 a título de contribuição previdenciária de autônomos. A liminar autoriza a fundação a compensar os valores recolhidos (R$ 2 milhões, em números redondos, em valores de dezembro de 1999) “com as contribuições previdenciárias vincendas incidentes sobre a folha de salários”. Apesar da exuberância financeira da FIA, seus dirigentes declaram que ela favorece a dedicação dos docentes às suas atividades acadêmicas. “As fundações estimulam uma permanência maior dos docentes em tempo parcial e completo nas instalações do Departamento, facilitando o contato com os alunos e maior dedicação à elaboração de publicações”, defende o professor Eduardo Vasconcellos, presidente da FIA. A existência da fundação possibilitaria que parte dos recursos oriundos de terceiros seja aplicada nos departamentos e nas faculdades. “As fundações asseguram que uma parcela maior seja aplicada na própria unidade e na universidade. Quando não existe uma fundação, os contratos são realizados diretamente com as entidades contratantes, com uma contribuição visivelmente menor para a universidade”, afirma Vasconcellos. Prova disso, continua, seriam as instalações hoje existentes na FEA, bancadas por recursos das fundações dos seus três departamentos (Administração, Economia e Contabilidade). A FIA, explica seu presidente, não tem nenhuma dotação orçamentária fixa oriunda de qualquer fonte pública de recursos. Isso por- 84 Professor Eduardo Vasconcellos, presidente da FIA rém, está nas que a entidade mãos de um é estruturada “Fundações estimulam dos coordenapor projetos, de permanência do dores, o profesforma que sua sor Lindolfo receita varia em docente no Galvão de Alfunção da exisbuquerque. tência ou não Departamento” Há fortes side um determinais de que tal nado projeto. Os representantes das funda- sistema de controle é inoperante. ções também argumentam que seu Segundo o professor Laércio Giucontrole é garantido pelos respec- zi, coordenador que está acionantivos conselhos curadores, os quais do judicialmente a fundação, os fiscalizariam as atividades das dire- grupos de poder que se formam na torias e dos docentes engajados FIA acabam dando as cartas na nos projetos (no caso da FIA, os gestão da FEA. “Os acordos interchamados coordenadores). O Con- nos determinam quem vai ser o selho Curador da FIA é escolhido chefe do Departamento de Admipelos docentes do Departamento nistração, os representantes nos de Administração, juntamente com conselhos e os coordenadores do seus atuais membros. Cabe ao MBA. O poder é exagerado” (veja Conselho, por sua vez, indicar os a matéria seguinte). O depoimento do professor diretores da fundação, após uma consulta ao corpo de coordenado- Giuzi sugere, ainda, que diversos res. O Conselho é formado hoje contratos são conseguidos por por 18 membros, na maioria do- meio de lobby junto às esferas de centes do Departamento de Admi- governo e, às vezes, com paganistração, mas também empresá- mento de propinas. Isso explicaria rios e executivos de destaque. A os altos valores de muitos desses atual presidência do Conselho, po- contratos. RA