Os Efeitos da Pacicação Sobre o Crime e a Violência Claudio Ferraz Bruno Ottoni June 2013 Resumo Existe pouca evidência empírica acerca da efetividade das estratégias implementadas para combater os grupos armados que operam nas áreas urbanas dos países em desenvolvimento. Este trabalho procura contribuir com esta literatura a partir da avaliação do impacto da estratégia de pacicação, adotada a partir de 2008 no Rio de Janeiro, sobre o crime e a violência. Este programa foi criado com o objetivo de retomar o controle de áreas da cidade que caram sob o domínio de grupos armados por quase 30 anos. Através da metodologia de diferenças em diferenças realizou-se a comparação entre territórios invadidos pela polícia e localidades que permaneceram sob o domínio das facções criminosas. Os principais resultados indicam que a política é bem sucedida em reduzir ocorrências que geram custos elevados para a sociedade como autos de resistência e conitos entre facções. 1 Introdução A violência armada é reconhecida como um dos principais entraves ao avanço dos países em desenvolvimento. Grande parte dos grupos criminosos responsáveis por esta situação operam nas cidades. Assim, existem conitos urbanos que resultam em um número de mortos superior ao encontrado em guerras civis (Banco Mundial 2011). Países como Brasil, Colômbia, México e Jamaica adotaram políticas com o objetivo de lidar com este problema (Felbab-Brown 2011). No entanto, existe pouca evidência empírica acerca 1 da efetividade das estratégias implementadas. A única exceção é o trabalho de Dell (2012) que procura avaliar o impacto do projeto de combate ao tráco adotado no México. Mais estudos deste tipo são necessários. A situação do Rio de Janeiro é particularmente preocupante. A maior parte das fave- 1 las desta cidade estão sob o domínio de grupos armados. O controle destas comunidades oferece, às organizações criminosas, uma oportunidade de extração de renda. Assim, a falta de segurança deste município decorre tanto das disputas entre facções por estes territórios quanto em função das incursões armadas realizadas pela polícia nestas localidades (Lessing 2013; Banco Mundial 2012). Como consequência, a violência no Rio de Janeiro atingiu níveis alarmantes. Entre 1997 e 2000 as armas de fogo mataram mais nesta cidade do que nos confrontos ocorridos em Serra Leoa, no Afeganistão, em Uganda e em Israel (Dowdney 2003). Em 2008, o governo do Rio de Janeiro lançou um novo programa de combate ao crime organizado. O projeto das Unidades de Polícia Pacicadora (UPPs), também conhecido como estratégia de pacicação, foi desenvolvido com o objetivo de retomar o controle das favelas da cidade. Por questões de logística o processo de ocupação foi implementado de forma gradual. Esta pesquisa procura determinar o efeito dessa política sobre o crime e a violência. São utilizadas duas bases de dados ociais, disponibilizadas pelos órgãos de segurança pública do estado. A primeira contém informações no nível da delegacia e a segunda fornece números agregados por UPP. Além disso, são consideradas estatísticas coletadas pelo Disque-Denúncia (DD), que é uma Organização Não-Governamental (ONG) responsável por uma central de atendimento que registra ocorrências 24 horas por dia, todos os dias da semana. Os resultados, deste trabalho foram obtidos a partir de modelos de diferenças em diferenças que comparam territórios pacicados com localidades que não foram invadidas pela polícia. Em primeiro lugar, encontra-se que a ocupação resulta em um aumento das apreensões de drogas. Este fato pode ser explicado a partir da relação positiva entre o tamanho do efetivo e a probabilidade de detecção de entorpecentes. A especicação preferida indica que um crescimento de 1 desvio padrão na porcentagem da área de favelas 1 O Instituto Brasileiro de Geograa e Estatística (IBGE) dene um Aglomerado Subnormal (favela) como um conjunto de no mínimo 51 unidades habitacionais carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. No censo de 2010 o IBGE encontrou 763 favelas na cidade do Rio de Janeiro contendo 1,4 milhão de habitantes. Isto representa cerca de 23% da população da cidade. Enquanto a densidade populacional destas áreas é de cerca de 26.000 habitantes por quilômetro quadrado, a densidade populacional da cidade do Rio de Janeiro como um todo é de cerca de 5000 habitantes por quilômetro quadrado. 2 pacicadas implica em um aumento de cerca de 13% nas apreensões de drogas. Em segundo lugar, verica-se que as UPPs reduzem os autos de resistência e os conitos entre facções. Este comportamento é consistente com a idéia de que incursões armadas dos agentes de segurança pública perdem o sentido em áreas dominadas pelo estado. Além disso, a presença do governo diminui a atratividade das áreas pacicadas, dado que aumenta os custos de realização de atividades ilícitas nestes territórios. Estes dois fatos apontam para uma redução na probabilidade de ocorrência de confrontos nas favelas invadidas. Os modelos preferidos sugerem que um aumento de 1 desvio padrão na porcentagem da área de comunidades ocupadas resulta em uma queda de aproximadamente 36% nos autos de resistência e 37% nos conitos entre facções. Em terceiro lugar, observa-se que o programa implica em uma redução dos roubos. A presença dos grupos criminosos nas favelas do Rio de Janeiro é um grande facilitador para a ocorrência de destes crimes na cidade. Por exemplo, Misse (1997) argumenta que membros de facções alugam armas ociosas para a realização destas transgressões. Desta maneira, é razoável que haja uma diminuição dos roubos em decorrência da pacicação. As especicações preferidas mostram que um aumento de 1 desvio padrão na porcentagem da área de favelas invadidas pela polícia é consistente com uma redução de cerca de 9% neste tipo de ocorrência. Em quarto lugar, esta pesquisa constata um aumento dos furtos. Os modelos preferidos indicam que a pacicação está correlacionada com um crescimento de aproximadamente 37% nestes delitos. Finalmente, detecta-se um aumento dos estupros e das lesões corporais dolosas. As especicações preferidas indicam que um aumento de 1 desvio padrão na porcentagem da área de comunidades ocupadas pelo governo implica em um crescimento de cerca de 7% nos estupros e de 12% nas lesões corporais dolosas. O crescimento observado pelos furtos pode ser explicado pela falta de oportunidades disponíveis para ex-delinquentes nas favelas ocupadas. Além disso, o aumento dos três tipos de ocorrência citados acima pode decorrer da redução na severidade das punições aplicadas à estas transgressões nas comunidades pacicadas. Vale destacar que a justiça criminal implementa penas mais brandas do que as que costumam ser adotadas pelos grupos armados que operam nas favelas do Rio de Janeiro (Banco Mundial 2012). No entanto, o presente trabalho é incapaz de excluir a hipótese de que estes crimes estão aumentando unicamente em função de um crescimento da taxa de noticação. Note que a presença da polícia pode resultar em uma maior probabilidade de que moradores registrem ocorrências. Assim, os resultados encontrados nesta pesquisa indicam que a estratégia de pacica- 3 ção é bem sucedida no combate a crimes que geram custos elevados para a sociedade como autos de resitência e conitos entre facções. Porém, não é possível determinar o impacto da política sobre crimes não letais como furtos, lesões corporais dolosas e estupros. Estas ocorrências estão aumentando em decorrência da política. No entanto, este estudo não é capaz de determinar em que medida os efeitos positivos do projeto são causados por um crescimento da probabilidade de que indivíduos registrem ocorrências. No presente trabalho, existe ainda preocupação em determinar em que medida os parâmetros estimados oferecem evidência causal do impacto do programa. A hipótese de identicação assume que a escolha das comunidades beneciadas pela política não é correlacionada com as tendências das variáveis dependentes, antes da invasão policial. Assim, são disponibilizadas guras que mostram que a dinâmica do crime, antes da pacicação, era semelhante em localidades ocupadas pela polícia e em áreas mantidas sob o domínio das facções. Além disso, são apresentados grácos indicando que os efeitos só aparecem alguns meses depois da implementação do projeto. Por m, são realizados testes de falsicação e exercícios de robustez. A primeira contribuição deste trabalho para a literatura consiste em fornecer evidência empírica acerca dos efeitos de enfrentar as organizações criminosas que operam nas áreas urbanas dos países em desenvolvimento. Já foi dito anteriormente que Dell (2012) é o único artigo que realiza algo semelhante. A autora procura avaliar o impacto do projeto de combate ao tráco adotado pelo Partido da Ação Nacional (PAN) no México. Assim são realizadas regressões com descontinuidade comparando municípios em que prefeitos do PAN venceram por uma margem pequena, com localidades em que políticos liados à este partido perderam por poucos votos. Os resultados indicam que a violência aumentou em função do programa. Alternativamente, os resultados fornecidos neste estudo indicam que as UPPs reduziram os índices de violência. Esta pesquisa também está relacionada com os trabalhos que procuram avaliar a hipótese de desencorajamento (em inglês chamada de deterrence hypothesis ), que aparece nos modelos de Becker (1968) e Ehrlich (1973). Os artigos existentes analisam o impacto do aumento do efetivo em áreas que já contam com a presença do estado e consideram apenas dados fornecidos pelo governo (Chaln e McCrary 2012; Levitt 1997; Levitt 2002; Klick e Tabarrok 2005; Machin e Marie 2011; Evans e Owens 2007; Draca et al 2011). A primeira novidade do presente estudo é avaliar o efeito da ocupação de localidades operando fora do escopo da lei. Uma segunda contribuição deste trabalho é a utilização de números fornecidos pelo Disque-Denúncia, dado que esta instituição não tem ligação com o governo. É menos provável que haja manipulação de estatísticas disponibilizadas por 4 uma organização independente. Qualitativamente os resultados encontrados nesta pes- quisa são bastante semelhantes aos obtidos no restante da literatura que estuda a relação entre polícia e crime. Em ambos os casos, um aumento do número de agentes resulta em uma diminuição das ocorrências. Existem artigos teóricos que sugerem que aumentos localizados do custo de realização de crimes podem resultar em externalidades espaciais (Freeman et al 1996; Helsley e Strange 1999). Alguns trabalhos obtêm evidência empírica favorável à esta hipótese. Três exemplos recentes são Dell (2012), Gonzales-Navarro (2012) e Di Tella e Schargrodsky (2004). O presente estudo também fornece suporte quantitativo à esta proposição. Basicamente, os resultados indicam que houve um aumento da criminalidade em áreas da região metropolitana do Rio de Janeiro que não foram ocupadas pela polícia. Este fato sugere que houve realocação de bandidos para estes territórios. Inúmeros trabalhos analisam o programa de pacicação a partir de dados qualitati- 2 vos. No entanto, os únicos estudos que utilizam métodos econométricos para avaliar o impacto das UPPs sobre o crime e a violência são Cano et al (2012) e Frischtak e Mandel (2012). Ambas as pesquisas indicam que as ocupações policiais reduzem as transgressões. Antes de prosseguir vale discutir as limitações destes artigos. Em primeiro lugar, os dois estudos consideram somente números fornecidos pelo governo do estado. Lembre-se que estes dados estão sujeitos à manipulações por parte da polícia. Em segundo lugar, estes trabalhos não têm preocupação em determinar em que medida estimam efeitos causais da implementação do programa. Neste sentido, não discutem a possibilidade de que a redução nas ofensas tenha começado antes da implementação da política. Também não realizam testes de falsicação e de robustez. Já foi dito que o presente estudo procura lidar com estes problemas. A próxima seção tem o objetivo de ajudar o leitor na compreensão do contexto institucional do Rio de Janeiro. A Seção 3 descreve as três bases de dados utilizadas neste trabalho. A Seção 4 discute a estratégia empírica. A Seção 5 apresenta os principais resultados e a Seção 6 fornece as conclusões. 2 Alguns exemplos são: Carneiro (2012), Felbab-Brown (2011), Firjan (2012), Soares et al (2012), Henriques e Ramos (2011), Silva (2010), Cunha e Mello (2011), Fleury (2012), Banco Mundial (2012), Ramos (2011), Tierney (2012), CECIP (2010), FGV (2009), IBPS (2010), NDDEPR (2010), Stahlberg (2011). 5 2 Contexto Institucional 2.1 Favelas e Grupos Criminosos Ao m da ditadura iniciou-se um processo que culminou com a transformação do Rio de Janeiro em um importante centro de consumo e de exportação de drogas para a Europa e África do Sul. O enfraquecimento do exército, inerente ao esforço de redemocratização, resultou em um aumento da porosidade das fronteiras. O efeito colateral foi uma maior facilidade para a importação ilegal de armas e de cocaína. Além disso, a criação do Comando Vermelho (CV), a maior facção criminosa do estado do Rio de Janeiro, em meados da década de 1970, gerou uma rede de apoio mútuo cuja existência foi fundamental para a disseminação do tráco de entorpecentes para a maior parte das ocupações irregulares existentes no Rio de Janeiro (Misse 1997; Misse 1999; Misse 2007; Huguet e Carvalho 2008; Carneiro 2012; Dowdney 2003; Banco Mundial 2012; Barcellos 2004; Lima 1991; Leeds 1996; Carvalho e Soares 2013). Esta facção criminosa fornecia capital, armas, contatos e homens para membros interessados em estabelecer um novo ponto de venda. Assim, em 1985, esta organização já controlava o tráco de drogas em 70% das favelas da cidade do Rio de Janeiro (Penglase 2008; Amorim 1993). A partir de 1987 começa a ocorrer uma fragmentação do CV. O aumento da desconança entre as lideranças da organização, aliado à ganância de alguns dos seus membros, acarretaram no surgimento de novas facções. É neste período que foram criados o Terceiro Comando (TC) e os Amigos dos Amigos (ADA). O aumento do número de grupos criminosos deagrou uma guerra sem precedentes na história do Rio de Janeiro. O objetivo principal desta disputa era o domínio dos pontos de venda mais lucrativos. A consequência foi um aumento expressivo da violência (Misse 1997; Misse 2007; Dowdney 2003). A taxa de homicídios da cidade, que era de 10 por 100.000 3 habitantes em 1983, atingiu a alarmante marca de 40 por 100.000 habitantes em 1994. Isto representa um aumento de 300% em pouco mais de uma década. Desta forma, em meados dos anos de 1990, o processo de fusão entre o tráco de drogas e o território das favelas do Rio de Janeiro estava praticamente concluído. Diversos fatores contribuíram para gerar esta simbiose. Em primeiro lugar, deve-se ressaltar a localização privilegiada destas comunidades estando próximas de importantes vias de acesso à cidade. Além disso, muitas encontram-se nas cercanias de bairros nobres (onde mora grande parte 3 Estas taxas foram calculadas pelo o autor deste trabalho a partir dos dados disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 6 dos consumidores). Por outro lado, o fato de em geral estarem situadas em morros e de praticamente todas possuírem uma miríade de becos e vielas convertem estas áreas em fortalezas naturais. Fatores econômicos também foram determinantes para a fusão que ocorreu entre estes territórios e o tráco. A falta de emprego e de perspectivas para os moradores de favelas geraram a mão-de-obra necessária. Por m, a limitada presença do estado gerou um vácuo de poder que facilitou a ocupação destas áreas por parte de organizações criminosas (Penglase 2008; Dowdney 2003). Em muitos casos, a falta de presença estatal motivou o surgimento de grupos paramilitares conhecidos como milícias. Estas organizações são mais comuns na Zona Oeste da cidade, em bairros como Jacarepaguá e Campo Grande (Misse 2007; Oliveira e Ribeiro 2010; Banco Mundial 2012; Felbab-Brown 2011; Cano 2008). Assim, ao nal dos anos 2000, atingiu-se uma situação calamitosa em que a maior parte das comunidades do Rio de Janeiro estava sob o domínio de grupos criminosos (milicianos ou tracantes). Nestes casos, costuma-se observar o estabelecimento de um pacto de reciprocidade forçada entre as quadrilhas armadas e os moradores. O bando dominador ca responsável pela manutenção da ordem proibindo confrontos físicos (inclusive violência doméstica), furtos, roubos e estupros enquanto os moradores concordam em colaborar 4 com estas facções. Desta forma, existe nestas localidades um sistema de justiça paralelo que alija os habitantes do aparato institucional oferecido pelo estado. Indivíduos que desrespeitam as leis impostas pelos grupos criminosos são julgados e condenados, nas próprias favelas e comunidades pobres, pelos membros destas organizações. As sentenças incluem espancamento, tiro na mão, tiro no pé, expulsão da área e até execução (Penglase 2008; Banco Mundial 2012). A taxa de homicídio da cidade do Rio de Janeiro que era de 32,8 por 100.000 habitantes em 1993 atingiu a marca de 62,8 por 100.000 habitantes em 2002 (Waiselsz 2004; Waiselsz 2012). Vale ressaltar, que algumas das estratégias adotadas pelas organizações criminosas contribuem para o aumento da violência nas cercanias das favelas. Uma prática utilizada consiste no aluguel de armamentos ociosos para a realização de assaltos no entorno das comunidades, em troca de parte do butim. Roubos de carros também acontecem nas áreas próximas às ocupações irregulares quando grupos armados organizam bondes 5 para invadir algum território que está sob o poder de uma facção rival (Misse 2007; 4 Neste tipo de ambiente é comum que pequenos conitos resultem em agressões físicas. Em seu artigo Paes-Machado e Noronha (2002) argumentam que moradores de comunidades pobres têm que lidar com o desemprego, com condições de moradia precárias e muitas vezes acabam recorrendo ao alcoolismo. Por este motivo, estes indivíduos teriam maior propensão à atitudes violentas 5 Esta expressão é muito comum nas favelas do Rio de Janeiro e trata de um grupo composto por um número grande de criminosos armados. 7 Ramos 2011). 2.2 Políticas de Combate à Violência Entre o início da redemocratização e o nal dos anos 2000, foram feitas inúmeras tentativas de lidar com a gradativa perda de poder do estado nas favelas do Rio de Janeiro. Algumas destas experiências contribuíram para o aprendizado que culminou com a criação da política de pacicação. Assim, faz sentido discutir neste trabalho os principais programas que foram desenvolvidos nos anos em questão. O Grupamento de Aplicação Prático-Escolar (GAPE), inspirado no policiamento comunitário, foi implementado no 6 Morro da Providência (uma comunidade dominada por tracantes) entre 1991 e 1995. Em seguida, o modelo foi estendido para alguns bairros de classe média da cidade como Urca, Laranjeiras e Copacabana (Albernaz 2007; Soares et al 2012; Muniz et al 1997; Carneiro 1999). Em 1995, Marcello Alencar assumiu o governo do estado do Rio de Janeiro e implementou uma graticação por bravura no combate. Esta política garantia premiações para agentes de segurança pública com base no número de criminosos mortos em conitos com a polícia. O último programa que deve ser destacado foi iniciado na gestão de Anthony Garotinho (1999-2002) e continuado durante o governo de Rosinha Garotinho (2003-2006). O Grupamento de Policiamento em Áreas Especiais (GPAE) tinha o objetivo de estabelecer unidades de policiamento comunitário em algumas favelas do Rio de Janeiro. O primeiro foi fundado em 2000 nas comunidades do Cantagalo e do PavãoPavãozinho. Posteriormente o modelo foi replicado em diversas ocupações irregulares do estado (Soares e Sento-Sé 2000; Albernaz 2007; Misse e Paes 2010; Veloso e Ferreira 2008; Banco Mundial 2012; Soares et al 2012; Arias e Ungar 2009; Caldeira 2001; Zaverucha 2001; Carneiro 2012; Carneiro 2010). A literatura acerca dos programas descritos acima sugere que estas tentativas não 7 conseguiram reduzir a violência observada no Rio de Janeiro. É verdade que houve uma melhoria nos indicadores de segurança da cidade a partir do início da década de 2000. 6 Para uma descrição recente e detalhada acerca do policiamento comunitário ver Oliver (2001). 7 Existe evidência anedótica de que a graticação por bravura implementada durante a gestão do governador Marcello Alencar foi relativamente bem sucedida em reduzir os índices de criminalidade observados no Rio de Janeiro. No entanto, a violência policial aumentou signicativamente no período. Por este motivo, o candidato perdeu apoio da opinião pública. O mesmo tipo de análise sugere que os GPAE tiveram sucesso no combate ao tráco durante um curto período de tempo. Estudos mais aprofundados destas experiências seriam necessários para obter resultados mais conclusivos acerca do impacto destes projetos na violência. 8 Por exemplo, a taxa de homicídio do município que era de 62,8 por 100.000 habitantes em 2002 caiu para 41,9 por 100.000 habitantes em 2005 (Waiselsz 2012). No entanto, este comportamento pode ser explicado por outros fatores como a diminuição da desigualdade e o envelhecimento da população. Em seu artigo, Mello e Schneider (2007), mostram que alterações na estrutura etária explicam grande parte da redução na taxa de homicídio do estado de São Paulo entre 2000 e 2005. Pode-se dizer que o insucesso das estratégias adotadas no Rio de Janeiro decorre do fato que mantiveram-se inalteradas as seguintes características da polícia do estado: o treinamento de tradição militarista focado principalmente na preparação para o conito, a remuneração insuciente diante dos riscos e tentações existentes, a falta de cooperação entre as instituições de combate ao crime (observando-se muitos casos de rivalidade entre estas unidades), a falta de preocupação com o planejamento na alocação dos efetivos, o baixo grau de monitoramento dos agentes e o pequeno número de punições em casos de transgressão. Por um lado, este quadro resulta em agentes de segurança pública violentos, dada a cultura militarista transmitida nos treinamentos e os custos reduzidos do uso desproporcional da força. Por outro lado, esta situação gera um incentivo à corrupção, em função dos salários reduzidos e da impunidade em caso de desvios de conduta (Carneiro 2010; Tierney 2012; Soares 2000; Soares e Sento-Sé 2000; Soares 2002; Soares et al 2012; Banco Mundial 2012). Um exemplo de prática comumente utilizada pelos policiais do Rio de Janeiro é a invasão de favelas sob o pretexto de busca por criminosos. Durante estas operações ocorrem trocas de tiros entre agentes do estado e tracantes (podendo resultar na morte de vítimas inocentes), arrombamentos de portas de residências, prisões de indivíduos caminhando sem carteira de identidade e extorsões de moradores mediante ameaças de prisão. drogas. Outra atividade ilícita é a cobrança de taxas para não interferir no tráco de 8 Nestes casos é comum que negociações frustradas terminem em confrontos entre os membros dos grupos armados e os policiais (Lessing 2013; Silva et al 2004; Penglase 2008; Prado et al 2012; Soares et al 2005; Leeds 1996). Assim, pode-se dizer que os órgãos de segurança pública são responsáveis por grande parte da violência observada no Rio de Janeiro. Por exemplo, Lessing (2013), argumenta que cerca de 92% das disputas armadas ocorridas na cidade no ano de 2007 podem ser classicadas como conitos entre marginais e ociais. 8 Por exemplo, jornais apuraram que agentes recebiam 3000 reais por dia de bandidos da Rocinha para não intervir nos pontos de venda da favela em 1997. 9 2.3 A Política de Pacicação Em 2006, o candidato Sérgio Cabral foi eleito para ocupar o cargo de governador do Rio de Janeiro. Preocupado com a falta de segurança incentivou a criação de um grupo de estudos dentro da secretaria de segurança pública, com a incumbência de desenvolver estratégias para lidar com os elevados níveis de violência observados no estado. Estes especialistas chegaram à conclusão de que a situação só seria resolvida com a retomada dos territórios dominados pelos grupos armados (Banco Mundial 2012; Felbab-Brown 2011; Carneiro 2012). Faltava uma oportunidade para colocar o plano de ocupação das favelas em prática. Em novembro de 2008 um conito entre policiais e tracantes culminou na invasão do morro Santa Marta. Em dezembro daquele ano foi inaugurada a primeira UPP no local. O projeto piloto foi bem avaliado pelo governo, pela imprensa e pela opinião pública. Isto motivou a ampliação do programa (Banco Mundial 2012; Felbab-Brown 2011; Carneiro 2012). As novas invasões focaram na Zona Sul (que é a região turística da cidade), nos bairros da Zona Norte próximos ao estádio do Maracanã e nos bairros da Zona Norte por onde passam as vias de acesso ao aeroporto. Desta forma, parece evidente que a seleção dos locais foi fortemente inuenciada pela necessidade de oferecer segurança para a realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. 9 A Figura I apresenta a distribuição geográca das cerca de 100 comunidades pacicadas entre novembro de 2008 e outubro de 2012. Neste período, foram inauguradas 28 UPPs, contendo cerca de 3500 policiais e atendendo a uma população de cerca de 600.000 indivíduos. A Figura II apresenta quatro medidas diferentes do tamanho do programa 10 para todos os anos entre 2008 e 2012. Até 2014 o governo do estado espera atingir o número de 40 UPPs, contendo cerca de 12.000 policiais e atendendo a cerca de 750.000 indivíduos (Banco Mundial 2012; Felbab-Brown 2011). Vale destacar algumas das características do projeto de retomada das favelas. Os ociais alocados nas comunidades invadidas recebem treinamento em policiamento comunitário, são recém contratados pela corporação e têm garantia de um soldo maior (fornecido pela prefeitura). A idéia é que estes agentes sejam menos suscetíveis à corrupção e menos propensos ao uso da violência. É importante ressaltar que o programa não tem o objetivo 9 O decreto de número 42.787 de 6 de janeiro de 2011 regulamenta, de maneira formal, a estratégia de pacicação. 10 As quatro medidas são o número de delegacias com UPP, a população das comunidades com UPP, a área em quilômetros quadrados das favelas com UPP e o número de policiais nas favelas com UPP. Esta pesquisa classicou delegacias com UPP de acordo com o sítio ocial do Governo do Estado do Rio de Janeiro a respeito do programa. A informação está disponível em http://www.upprj.com/. 10 de acabar com o tráco de drogas. O próprio secretário de segurança pública deu de- clarações para a imprensa com o intuito de esclarecer este ponto. O necessário, segundo o chefe das instituições de combate ao crime do estado, é retirar o bandido armado das ocupações irregulares do Rio de Janeiro. Esta questão ganhou repercussão depois que surgiram matérias nos meios de comunicação apresentando evidências de que o comércio de entorpecentes não desapareceu nas comunidades pacicadas. Segundo as informações vinculadas nestas manchetes, o mercado de tóxicos passou a operar nas áreas com UPP de acordo com o modelo intitulado de tráco formiguinha. Esta estratégia consiste na venda de drogas em pequena escala, por indivíduos nômades, que costumam trabalhar desarmados (Banco Mundial 2012; Ramos 2011; Henriques e Ramos 2011; Oliveira 2007). Em geral, a pacicação de uma comunidade segue quatro etapas. No primeiro mo- mento tropas de elite da polícia, realizam uma operação coordenada para a retomada do território (em alguns casos esta etapa envolve cooperação com as Forças Armadas). Na segunda fase as equipes especiais permanecem responsáveis por patrulhar o local, visando coibir reações por parte dos tracantes. comunidade. Na terceira etapa uma UPP é inaugurada na Por m, ocorre um choque de ordem que procura lidar com o elevado grau de informalidade existente nas regiões pacicadas (Banco Mundial 2012; Carneiro 2012; Ramos 2011). Paralelamente à ocupação policial é implementada a UPP Social. Este projeto tem o objetivo de identicar as demandas da população local e coordenar a oferta de bens e serviços por parte do estado, do setor privado e da sociedade civil. Desta maneira, os formuladores da estratégia de expulsão dos grupos armados, procuram garantir a sustentabilidade de longo prazo da política (Henriques e Ramos 2011; Banco Mundial 2012). 11 A estratégia de pacicação tem sido vista no Brasil e no exterior como uma tentativa mais promissora, do que as desenvolvidas em governos anteriores, para resolver o problema de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Existem pelo menos quatro razões para que o programa tenha maior credibilidade. Primeiro, o projeto possui metas mais realistas do que as estipuladas em ocasiões anteriores. Um exemplo é o reconhecimento de que as UPPs não vão acabar com o tráco de drogas, devendo focar em retirar os bandidos armados das áreas beneciadas. Segundo, existe uma preocupação em treinar os agentes alocados para as favelas nas práticas de policiamento comunitário. Um dos motivos para o fracasso de experiências anteriores foi a tentativa de exigir, que ociais treinados de acordo com uma cultura militarizada, realizassem um trabalho cujo sucesso dependia da 11 Note que a UPP Social foi criada em agosto de 2010 pelo governo do estado do Rio de Janeiro, mas que o programa foi transferido para o governo do município do Rio de Janeiro em janeiro de 2011. 11 interação com o público. Terceiro, houve a preocupação de implementar uma agenda de desenvolvimento social. Este aspecto demonstra o reconhecimento de que o crime e a violência são decorrentes da falta de oportunidades dos moradores das comunidades pobres do Rio de Janeiro. Quarto, os formuladores da política foram bem sucedidos em demonstrar a importância da manutenção da ordem para grandes empresários o que garantiu apoio destes indivíduos ao programa (Banco Mundial 2012). Antes de prosseguir, vale destacar outra estratégia de combate ao crime implementada durante a gestão do governador Sérgio Cabral. O Sistema Integrado de Metas (SIM), adotado em 2009, mede o desempenho das diferentes unidades policiais a partir de um conjunto de indicadores. Graticações são oferecidas com base na redução no nível destas variáveis. 3 12 Descrição dos Dados Este estudo utiliza três bases diferentes. Dois destes bancos de dados são fornecidos pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), que faz parte das instituições de combate ao crime comandadas pelo governo do estado do Rio de Janeiro. O terceiro conjunto de informações é disponibilizado pelo Disque-Denúncia. Já foi dito que esta instituição é uma ONG responsável por uma central de atendimento que funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. Ligações recebidas pela organização são anônimas e não são gravadas. As denúncias são repassadas diretamente para a polícia. Indivíduos são encorajados a ligar para prestar queixa acerca de qualquer tipo de ocorrência. Assim, o serviço recebe chamadas referentes à crimes hediondos, como homicídios e sequestros, mas também é utilizado para tratar de pequenos delitos, como atos de vandalismo e furtos. Esta instituição recebe um número reduzido de denúncias de indivíduos que moram fora cidade do Rio de Janeiro. O primeiro arquivo, contendo estatísticas ociais, que é analisado neste trabalho possui 36 variáveis referentes à ocorrências observadas em 18 comunidades pacicadas. Estes dados são mensais e tratam do período entre janeiro de 2007 e dezembro de 2012. Os casos foram alocados por favela a partir do endereço das denúncias registradas nas delegacias. Note que só foi possível estabelecer esta relação depois da pacicação, dado que não 12 Vale ressaltar que a criação do SIM não representa um problema para a estratégia de identicação adotada neste trabalho já que o sistema afeta todas as unidades de polícia do estado do Rio de Janeiro. Até o momento nenhum estudo procurou determinar o impacto deste programa sobre o crime e a violência. Mais informações a respeito deste projeto podem ser obtidas no decreto número 41.931 de 25 de junho de 2009. 12 existia um cadastro de endereços das comunidades antes da ocupação policial. Os censos de 2000 e 2010 contém a população de todas as favelas do estado do Rio de Janeiro. Assim, obteve-se a população das áreas com UPP para estes dois anos. A metodologia de interpolação desenvolvida pelo IBGE foi utilizada para determinar a população mensal de cada comunidade. Este procedimento é descrito em detalhe no Apêndice A. O ISP oferece uma segunda base de dados que agrega as ocorrências no nível da delegacia de polícia. Estes casos são classicados de acordo com 38 categorias distintas (muito semelhantes às 36 encontradas no banco de informações das favelas). Estatísticas ociais são disponibilizadas mensalmente desde maio de 2002, mas este trabalho foca no 13 período entre janeiro de 2005 e outubro de 2012. Existem 142 unidades de polícia no estado do Rio de Janeiro. É importante ressaltar que 6 destas delegacias foram inauguradas no período considerado nesta pesquisa. Estes estabelecimentos surgiram a partir do desmembramento de outras unidades. Note que isto dicultaria a análise feita na seção de resultados, já que as novas delegacias teriam muitos meses sem nenhum registro de ocorrência. Assim optou-se por considerar as unidades de polícia que existiam antes da divisão. 14 Esta estratégia garante séries de tempo mais longas, mas reduz a variação em cada momento do tempo. Isto resulta em uma base de dados contendo 136 estabelecimentos, sendo 39 deles localizados na cidade do Rio de Janeiro. Em seguida, determinou-se uma correspondência entre os setores censitários contidos nos censos de 2000 e de 2010 e as áreas de responsabilidade de cada delegacia. O apêndice B descreve a procedimento utilizado para estabelecer esta relação. A partir deste emparelhamento calculou-se a população de cada unidade policial nestes dois anos. A mesma metodologia de interpolação descrita no Apêndice A foi utilizada para obter a população mensal neste caso. A principal vantagem do banco de informações agregado por delegacia é que considera ocorrências de todo o estado do Rio de Janeiro. Desta forma, é a única fonte utilizada neste trabalho que trata de casos que acontecem fora da cidade do Rio de Janeiro. Assim, estes dados permitem estudar o efeito da pacicação sobre o deslocamento de tracantes. Os exercícios desenvolvidos para analisar o impacto da política na migração de criminosos serão descritos de maneira mais aprofundada na seção de estratégia empírica. Um conjunto de 10 variáveis, que aparecem tanto na base de delegacias quanto nos dados de favelas, foram utilizadas para gerar 4 categorias agregadas de crime. As variáveis agregadas são: atividade policial, crimes violentos, crimes contra o patrimônio e outros crimes violentos. A primeira foi criada a partir da soma das prisões, das apreensões de 13 Este período foi escolhido por não apresentar mudanças na classicação dos dados de delegacias. 14 Uma explicação detalhada deste procedimento, contendo a lista inicial das delegacias e o conjunto nal de unidades consideradas, pode ser encontrada no Apêndice B. 13 drogas e das apreensões de armas. Para desenvolver a segunda realizou-se a adição dos homicídios e dos autos de resistência. 15 A terceira consiste na agregação dos roubos e dos furtos. A quarta resultou da soma dos estupros, das lesões corporais dolosas e das tentativas de homicídio. Assim, a seção de resultados procura determinar o impacto da pacicação sobre estas 14 variáveis. Antes de discutir a base de dados fornecida pelo Disque-Denúncia, vale ressaltar que políticas bem sucedidas de combate ao crime e a violência garantem recursos e reputação para os órgãos de segurança pública. Logo, estas instituições têm incentivo em produzir evidência favorável ao programa das UPPs. Isto é preocupante dado que existe espaço para a manipulação das estatísticas ociais fornecidas pelo ISP. Duas maneiras que policiais utilizam para alterar os dados são imprimir esforço para inuenciar o número de crimes registrados (em alguns casos os ociais tentam convencer a vítima a não noticar o evento e em outros os agentes de segurança pública simplesmente armam que não irão incluir a ocorrência nas estatísticas) e realizar uma classicação inadequada dos delitos (muitas vezes corroborada pela coleta deliberadamente insuciente de provas). Inúmeros artigos encontram evidência de manipulação dos dados por parte da polícia do Rio de Janeiro. Dois exemplos são Cerqueira (2012) e Carneiro (1999). A variável de desaparecidos (fornecida tanto na base das favelas quanto nos dados agregados por delegacia) pode ser utilizada para testar a hipótese de que policiais estão realizando uma classicação inadequada dos delitos. Investigações menos criteriosas poderiam resultar em uma redução do número de homicídios e dos autos de resistência. No entanto, este procedimento resultaria em um aumento do número de desaparecidos. Assim, para testar a proposição de classicação inadequada procura-se determinar o impacto da pacicação sobre os desaparecimentos. Os dados do Disque-Denúncia, que serão discutidos abaixo, geram a possibilidade de vericar em que medida os principais resultados deste trabalho são afetados pelo esforço dos agentes de segurança para reduzir (ou eliminar) ocorrências. A idéia é que esta instituição não é subordinada ao governo do estado e, portanto, não tem interesse em desestimular (ou excluir) denúncias. Em função disto, a seção de resultados avalia o efeito das UPPs sobre variáveis pertencentes ao banco de dados desta ONG. Note que procurou-se focar em denúncias ligadas à violência. Além disso, as estatísticas fornecidas pelo Disque-Denúncia possuem categorias de ocorrência que não aparecem nas bases do ISP (por exemplo, abuso de autoridade e 15 Note que os homicídios considerados neste trabalho são na verdade compostos pela soma dos latrocínios (roubos seguidos de morte), das lesões corporais seguidas de morte e dos homicídios dolosos. 14 corrupção policial). Desta maneira, é possível estabelecer o impacto do programa sobre um conjunto de variáveis relacionadas à denúncias contra a polícia (a despeito dos bancos de dados ociais não tratarem destes eventos). Uma desvantagem dos dados disponibilizados por esta instituição é a baixa popularidade do serviço de atendimento fora da cidade do Rio de Janeiro. Por este motivo, a ONG recebe um número bastante reduzido de ligações de indivíduos que moram fora da capital. Este fato compromete o uso destes números para estudar o efeito da política sobre o deslocamento de tracantes. As informações coletadas pelo Disque-Denúncia contém queixas feitas entre janeiro de 2004 e dezembro de 2011. Estes dados aparecem agregados por mês para os 139 bairros da cidade do Rio de Janeiro. Neste caso, estabeleceu-se uma correspondência entre os setores censitários dos censos de 2000 e de 2010 e as 139 vizinhanças contidas na base. O Apêndice C descreve a metodologia utilizada para determinar este emparelhamento. Esta relação possibilitou a obtenção da população de todos os bairros da amostra nestes dois anos. Novamente, a metodologia de interpolação descrita no Apêndice A foi utilizada para obter a população mensal. Já foi discutido acima que a base de dados do Disque-Denúncia tem a vantagem de possibilitar o estudo do efeito do programa nas denúncias contra a polícia e nas denúncias sobre violência. Um conjunto de 6 variáveis foram utilizadas para gerar estas duas categorias agregadas. A primeira foi criada a partir da soma dos abusos de autoridade, dos desvios de conduta e da corrupção policial. A segunda consiste na agregação do porte ilegal de armas, do uso ilegal de armas e dos conitos entre facções. Desta maneira, a seção de resultados procura determinar o impacto da política sobre estas 8 variáveis. Os setores censitários da cidade do Rio de Janeiro, obtidos a partir do censo 2010, foram utilizados para gerar a Tabela I. Esta tabela apresenta estatísticas descritivas para favelas e para outras áreas da cidade. 16 Note que estas categorias foram divididas em loca- lidades com e sem UPP. Em geral, os números indicam que favelas pacicadas são bastante semelhantes às comunidades não beneciadas pelo programa. Por exemplo, aproximadamente 91% dos chefes de domicílio de favelas ocupadas pela polícia são alfabetizados. Semelhantemente, cerca de 92% destes indivíduos são alfabetizados nas comunidades não invadidas pelos agentes de segurança pública. O mesmo tipo de conclusão é obtida ao analisar as outras áreas da capital. Por exemplo, aproximadamente 15% da população das outras áreas da cidade sem UPP, tem entre 15 e 24 anos. Este número é de cerca de 14% nos setores que não são classicados como favelas e que estão nas cercanias de 16 As outras áreas da cidade compreendem setores censitários da capital que não foram classicados como favelas. 15 comunidades invadidas pela polícia. A Tabela II apresenta estatísticas descritivas de todas as variáveis de crime consideradas no presente estudo. Os números contidos nas duas primeiras colunas foram gerados a partir das bases ociais, disponibilizadas pelo ISP. Nestes casos é possivel obter a média mensal por 100.000 habitantes e o erro-padrão, para cada tipo de ocorrência. Por um lado, pode-se perceber que a taxa de homicídio mensal é de cerca de 8 por 100.000 habitantes nas favelas da amostra (o erro-padrão nesse caso é de aproximadamente 1,5). Por outro lado, observa-se que este tipo de crime é menos comum no restante da cidade. A taxa de homicídio mensal é de aproximadamente 4 por 100.000 habitantes nas delegacias (o erro-padrão nesse caso é de cerca de 0,5). 17 Note que, as comunidades carentes são mais violentas. Porém, as outras áreas da cidade estão mais sujeitas aos crimes contra o patrimônio. A terceira coluna da Tabela II foi gerada a partir dos dados do DisqueDenúncia. Neste caso é possível obter a probabilidade média mensal de cada tipo de denúncia. Assim, pode-se perceber que a chance de haver um conito entre facções é de aproximadamente 13%, por mês (o erro-padrão é cerca de 0,01). 4 Estratégia Empírica A seção de contexto institucional explicou que a pacicação é realizada em quatro etapas. Um dos estágios cruciais do programa é o momento em que os agentes de segurança pública ocupam as favelas. Todos os resultados apresentados neste trabalho consideram que o tratamento começa a partir da data da invasão policial. Vale ressaltar que foram estimadas especicações, não incluídas nesta pesquisa, admitindo que o tratamento tem início a partir do anúncio da próxima comunidade a ser beneciada pela política. Outras regressões, também não fornecidas neste estudo, obtiveram o efeito do programa a partir da inauguração da UPP. Os impactos encontrados utilizando o anúncio e a inauguração não são tão expressivos quanto os obtidos ao assumir que o tratamento começa com a invasão. O método de diferenças em diferenças foi utilizado para determinar o efeito do programa sobre as 14 variáveis dependentes de interesse das bases de delegacias e de favelas. Estas variáveis explicadas são não-negativas, discretas e possuem grande massa em zero. Desta maneira, podem ser classicadas como variáveis de contagem. 18 Neste contexto, 17 O leitor deve lembrar que as delegacias compreendem tanto territórios de favela quanto outras áreas do município. 18 Variáveis de contagem é uma tradução utilizada neste trabalho para o termo 16 count variables, de optou-se por utilizar regressões de poisson, dado que garantem a consistência dos parâme- tros obtidos. Uma descrição detalhada deste método de estimação pode ser encontrada em Cameron e Trivedi (1998). A hipótese de identicação assume que o tratamento não é correlacionado com as tendências das variáveis dependentes, antes da pacicação. No caso dos dados de favelas optou-se por avaliar o impacto da invasão policial a partir das Equações 1 e 2 (apresentadas abaixo). λit = E[yit |Xit ] (1) ln[λit ] = β0 + β1 tratit + αi + πt + µi t + ln(popit ) (2) yit representa a variável dependente de interesse na favela i no mês t. Além disso, Xit contém tratit que é uma dummy igual a 0 para a favela i antes da invasão policial e Onde igual a 1 para esta comunidade depois da ocupação por parte dos agentes de segurança pública, αi que é um efeito xo por favela, tendência por comunidade e i no mês πt que é um efeito xo por mês, ln(popit ) que é o logaritmo neperiano da população da favela t. Note que existe uma restrição no coeciente associado à variável este parâmetro a ser igual a 1. A regressão de yit µi t que é uma e que contém o ln(popit ) poisson ln(popit ) que obriga em que a variável dependente é nas variáveis explicativas, com o coeciente sendo obrigado a ser igual a 1, é equivalente a uma especicação em que a variável dependente é a taxa de yit (por habitante) sem condicionar no coeciente β1 ln(popit ) (Cameron e Trivedi 1998). Assim, o estimado nas equações acima fornece o impacto da pacicação sobre a taxa por habitante da variável dependente de interesse (e não sobre o número de ocorrências desta variável). As Equações 3 e 4 apresentam a especicação escolhida para determinar o impacto da invasão policial no caso em que são considerados os dados por delegacia. λit = E[yit |Xit ] (3) ln[λit ] = β0 + β1 porcareaf avpacit + αi + πt + µi t + ln(popit ) (4) Onde todas as variáveis têm a mesma denição das adotadas nas Equações 1 e 2. Existem apenas duas diferenças. Primeiro, tem-se que agora a unidade de análise é a delegacia. Assim, a variável dependente contém o número de crimes por unidade de polícia. Além disso, os controles incluem efeitos xos, tendências e população por delegacia. origem inglesa. 17 Segundo, as Equações 3 e 4 levam em consideração o fato de que as favelas são apenas parte do território coberto por cada delegacia. Neste contexto, medidas de intensidade de tratamento garantem maior precisão na estimação dos parâmetros de interesse. Desta maneira, o modelo contém a variável área de favelas da delegacia i porcareaf avpacit , que foi pacicada até o mês timadas especicações considerando a porcentagem de que fornece a porcentagem da t. Vale ressaltar, que foram es- pessoas da delegacia i beneciadas pela política até o mês t. Os resultados são semelhantes e, portanto, não são apresentados neste estudo. 19 20 Note que, este estudo considera tanto modelos que incluem as tendências por favela (delegacia) nos controles da regressão, quanto especicações que omitem estas variáveis. Um exemplo ajuda a compreender a vantagem de incluir as tendências por favela (delegacia) no vetor de controles. Imagine que existem comunidades (unidades de polícia) em que esteja ocorrendo um crescimento constante do nível educacional. Este fato poderia explicar a implementação de UPPs nestas localidades (talvez pela constatação de que o projeto piloto foi bem sucedido em reduzir a violência). Além disso, a maior capacitação dos indivíduos destes territórios tenderia a diminuir o número de ocorrências nestas áreas. Neste contexto, uma regressão que não inclui as tendências por favela (delegacia) encontraria uma relação negativa entre a pacicação e criminalidade. Assim, os termos µi t ajudam a controlar pela dinânica de variáveis omitidas que podem estar simultaneamente correlacionadas com a probabilidade de receber uma UPP e com o número de ocorrências. Uma desvantagem da inclusão das tendências por favela (delegacia) é que implicam em uma redução da quantidade de informação disponível para a identicação dos parâmetros de interesse. Outra forma de visualizar a perda causada pelas especicações que contém estas variáveis é perceber que os coecientes obtidos nestes casos resultam de um conjunto mais restrito de comparações. No entanto, a seção de resultados mostra que a inclusão dos termos trabalho. µi t não compromete a estimação dos parâmetros de interesse deste Em alguns casos, ocorre redução do nível de signicância (e diminuição dos coecientes). Porém, as alterações não chegam a eliminar os efeitos. Por este motivo, o autor deste estudo prefere os modelos que contém as tendências. 21 Por m, o erro-padrão 19 Uma descrição mais detalhada do procedimento adotado para criar as medidas de intensidade de tratamento utilizadas nesta pesquisa pode ser encontrada no Apêndice D. pessoas da delegacia i beneciadas t como variável de tratamento podem ser obtidos mediante requisição para o autor 20 Os resultados das especicações que consideram a porcentagem de pela política até o mês deste trabalho. 21 Para uma discussão acerca das vantagens e desvantagens associadas à inclusão de tendências por unidade de observação, no conjunto das variáveis explicativas, ver Neumark et al (2013). Note que aquele artigo trata deste tema ao estudar a relação entre o salário mínimo e o desemprego. 18 das regressões estimadas usando a base das favelas (delegacias) é agrupado ( clustered ) por comunidade (unidade de polícia), para lidar com o problema de correlação serial dos erros. No caso dos dados agregados por delegacia é importante determinar as unidades de polícia tratadas e as que devem ser incluídas no grupo de controle. Optou-se por utilizar as informações disponibilizadas pelo site ocial da pacicação para estabelecer o conjunto 22 de delegacias que foram afetadas pelo programa. neste endereço da internet, Note que o governo do estado fornece, dados acerca de todas as unidades de polícia afetadas por cada UPP. A classicação adotada no presente trabalho admite que pelo menos uma comunidade da área de responsabilidade da delegacia tem que ser invadida pela polícia para que esta unidade seja incluída no grupo de tratamento. considerados dois grupos de controle distintos. Por outro lado, foram O primeiro consiste das delegacias da cidade do Rio de Janeiro que não foram beneciadas pela política, estas são as unidades responsáveis por áreas em que nenhuma comunidade foi ocupada pela polícia. O problema do primeiro grupo de controle escolhido é que sua proximidade com as unidades pacicadas pode levar tracantes à migrar para estas áreas (este fato já foi discutido anteriormente). Para lidar com esta situação, optou-se por utilizar um segundo grupo de controle composto pelas unidades de polícia localizadas fora da região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro (este conjunto de delegacias será chamado nesta pesquisa de resto do estado). A hipótese é que estas unidades policiais tem menor probabilidade de serem escolhidas como destino pelos tracantes expulsos das áreas afetadas pelo programa. Existem pelo menos dois motivos para acreditar nesta possibilidade. Primeiro, estas áreas são distantes das comunidades de origem dos bandidos. vamente pequeno o número de favelas nestes territórios. 23 Segundo, é relati- Assim, os resultados obtidos utilizando o segundo grupo de controle estão menos sujeitos ao tipo de viés que afeta os parâmetros encontrados no primeiro caso. As 8 variáveis dependentes de interesse da base do Disque-Denúncia assumem poucos valores maiores que 1. Neste caso, não faz sentido estimar modelos de poisson, já que este método garante parâmetros consistentes somente quando as variáveis explicadas são discretas e assumem valores maiores do que 1 com relativa frequência. Assim, todas as 8 categorias de interesse da base fornecida pela ONG foram transformadas em variáveis bi- 22 O governo do estado do Rio de Janeiro é responsável pelo encontrado no link site ocial da pacicação que pode ser http://www.upprj.com/ 23 As áreas localizadas fora da região metropolitana da cidade concentram apenas 25% das comunidades do estado do Rio de Janeiro compreendendo cerca de 17% da população desta unidade da federação que vive em favelas. 19 nárias. 24 A Equação 5 abaixo descreve as regressões de diferenças em diferenças utilizadas para determinar o efeito da invasão policial nas denúncias sobre violência e nas queixas contra a polícia. Note que estas especicações foram estimadas a partir de um Modelo de Probabilidade Linear (MPL). 25 Este tipo de modelo fornece parâmetros consistentes quando a variável explicada é dicotômica. A hipótese de identicação é a mesma que foi considerada nas regressões de poisson. yit = φ0 + φ1 porcareaf avpacit + αi + πt + µi t + it i no mês t, porcareaf avpacit fornece a porcentagem da área de favelas da vizinhança i que foi pacicada até o mês t, αi é um efeito xo por bairro, πt é um efeito xo por mês, µi t é uma tendência por vizinhança e it é um termo de erro para o bairro i no mês t. Onde a escolha pela variável porcareaf avpacit têm a mesma motivação descrita acima, já que favelas representam Onde, yit (5) é a variável binária de interesse no bairro apenas parte do território de cada bairro. Foram estimadas especicações considerando a porcentagem da até o mês pesquisa. t. população de favelas do bairro i que foi beneciada pelo programa Os resultados são semelhantes e, portanto, não são disponibilizados nesta 26 27 Neste caso, o coeciente φ1 representa o efeito de um aumento da porcentagem da área pacicada sobre a probabilidade de ocorrência da variável dependente de interesse. Novamente, este estudo analisa parâmetros obtidos ao incluir as tendências por vizinhança µi t nos controles da regressão, mas também considera as estimativas de especicações que omitem estas variáveis. Por m, o Apêndice D explica como foram determinados os clusters dos modelos estimados a partir da Equação 5 acima. Note que, o erro-padrão foi agrupado com o intuito de lidar com o problema de correlação serial dos erros. Este trabalho seguiu as informações disponibilizadas no determinar os bairros afetados pela pacicação. 28 site ocial das UPPs para As demais vizinhanças da cidade do 24 Basicamente a transformação obedeceu a fórmula abaixo. yit yit = yit = 1 if if yit yit = 0 ≥ 1 25 Para uma descrição mais detalhada acerca dos modelos de probabilidade linear ver Wooldridge (2002). 26 Uma descrição mais detalhada do procedimento adotado para criar as medidas de intensidade de tratamento utilizadas neste trabalho pode ser encontrada no Apêndice D. pessoas da delegacia i beneciadas t como variável de tratamento podem ser obtidos mediante requisição para o autor 27 Os resultados das especicações que consideram a porcentagem de pela política até o mês deste estudo. 28 O governo do estado do Rio de Janeiro é responsável pelo 20 site ocial da pacicação que pode ser Rio de Janeiro foram incluídas no grupo de controle. Estes bairros estão sujeitos ao mesmo problema de migração de tracantes descrito acima. No entanto, já foi dito anteriormente que o serviço oferecido pela ONG recebe um número bastante reduzido de ligações de indivíduos que moram fora da capital. Assim, não existe a opção de utilizar o resto do estado como grupo de controle para obter estimativas não viesadas do impacto da pacicação nas variáveis dependentes consideradas na base do Disque-Denúncia. Antes de prosseguir para a seção de resultados é importante explicar as especicações de poisson que foram estimadas, utilizando a base das delegacias, visando estudar as 29 externalidades geradas pela pacicação. Esta análise focou na possibilidade de migração de tracantes para duas áreas. A primeira região inclui as delegacias da cidade do Rio de Janeiro que não foram afetadas pelo programa e a segunda é composta pelas unidades de polícia da Baixada, do município de Niterói e do município de São Gonçalo (estes territórios serão chamados, daqui em diante, de Baixada). O resto do estado foi utilizado como grupo de controle nos dois casos, por compreender as delegacias de polícia que têm 30 baixa probabilidade de serem escolhidas como destino por parte dos criminosos. As Equações 6 e 7 abaixo apresentam as regressões estimadas com intuito de avaliar o uxo migratório dos bandidos. Vale ressaltar que o estudo do efeito da ocupação sobre a migração de criminosos considerou apenas 10 das 14 variáveis dependentes de interesse da base de delegacias. Basicamente, não foi avaliada a presença de externalidades espaciais na atividade policial. O objetivo é focar no crime e na violência dado que estas são as variáveis que deveriam ser afetadas diretamente pela realocação das quadrilhas. λit = E[yit |Xit ] (6) ln[λit ] = θ0 +θ1 ext2009it +θ2 ext2010it +θ3 ext2011it +θ4 ext2012it +αi +πt +ln(popit ) Onde, contém αi ext2009it , yit é a variável dependente de interesse na delegacia que é um efeito xo por unidade de polícia, πt i no mês t. Além disso, (7) Xit que é um efeito xo por mês, ext2012it e ln(popit ) que é o logaritmo neperiano da população da unidade de polícia i no mês t. Novamente, o coeciente associado à variável ln(popit ) é obrigado a ser igual a 1. A interpretação das variáveis ext2009it , ..., ext2012it será discutida abaixo. ..., encontrado no link http://www.upprj.com/ 29 O leitor deve lembrar que as 14 variáveis dependentes de interesse da base de delegacias podem ser classicadas como variáveis de contagem. poisson. Nestes casos o método de estimação mais indicado é o de 30 Vide discussão acima. 21 Note que as especicações apresentadas nas Equações 6 e 7 não incluem as tendências por delegacia. Todas as externalidades espaciais resultantes da pacicação desaparecem ao adicionar estas variáveis nas regressões. Por este motivo, optou-se por não apresentar os resultados dos modelos com as tendências por delegacia. Primeiro, o estudo analisa o impacto da invasão policial sobre a migração de tracantes para delegacias da cidade do Rio de Janeiro que não receberam UPPs. Isto signica que a variável ext2009it é igual a 1 para todos os meses do ano de 2009 nas delegacias da cidade do Rio de Janeiro que não foram beneciadas pelo programa e é igual a 0 para as unidades de polícia do resto do estado. O mesmo raciocínio foi utilizado na construção ext2010it , ext2011it das variáveis e ext2012it . Note que o Santa Marta foi invadido pela polícia em novembro de 2008 para a implementação da primeira UPP. A inauguração da base de operações nesta comunidade ocorreu em dezembro de 2008. Assim, as variáveis ext2009it , ext2012it ..., têm o intuito de captar a dinâmica das 10 categorias dependentes de interesse, nas áreas da cidade que não foram pacicadas, nos anos posteriores ao início do programa. Finalmente, inúmeros artigos que circulam nos meios de comunicação fornecem evidência anedótica de que a pacicação resultou em um aumento das ocorrências na Baixada. 31 No entanto, não existem trabalhos que testam esta possibilidade mais formalmente. Este estudo realiza um exercício para avaliar o efeito do programa sobre a migração de bandidos para esta região. Assim, a variável ext2009it é igual a 1 para todos os meses do ano de 2009 nas delegacias da Baixada e é igual a 0 para as unidades de polícia do resto do estado. O mesmo raciocínio foi utilizado na construção das variáveis e ext2012it . Neste caso, as variáveis ext2009it , ..., ext2012it ext2010it , ext2011it têm o intuito de captar a dinâmica das 10 categorias dependentes de interesse, na Baixada, nos anos posteriores ao início do programa. 5 Resultados 5.1 Análise Gráca As Figuras III e IV foram geradas a partir da base das delegacias. Apenas as unidades policiais da cidade do Rio de Janeiro fazem parte da amostra considerada. Os grácos 31 A revista The Economist do dia 14 de Setembro de 2013, por exemplo, argumenta que a Baixada (região localizada nas cercanias da cidade do Rio de Janeiro) observou um aumento de assassinatos e roubos de carro em função da implementação do programa. 22 contidos nestas guras fornecem a taxa média anual por 100 mil habitantes de oito indicadores de atividade criminal para as áreas com e sem UPP. Optou-se pela agregação anual para reduzir o ruído dos dados. Uma linha vertical indica o ano de 2008 (ano em que a primeira favela foi ocupada pela polícia). Praticamente todos os painéis contidos nas Figuras III e IV possuem tendências paralelas entre o grupo de tratamento e o grupo de controle, antes de 2008. As únicas exceções são os que focam nos crimes contra o patrimônio e nos roubos. Entre 2005 e 2008 não parece haver alteração nos crimes contra o patrimônio no grupo de controle, mas parece haver grande crescimento para este tipo de ocorrência no grupo de tratamento. O mesmo acontece para os roubos. As tendências paralelas para os diversos tipos de ilicitude antes de 2008 indicam que as invasões policiais não foram motivadas pela dinâmica criminal. Desta maneira, os dados parecem atender à hipótese de identicação necessária para a utilização do método de diferenças em diferenças. A análise dos grácos contidos nas Figuras III e IV indica que a pacicação tem um impacto negativo sobre os crimes violentos. A partir de 2008 há uma tendência de queda deste tipo de ilicitude no conjunto de delegacias com e sem UPP. Todavia, a queda é mais acentuada nas unidades policiais que foram beneciadas pela política. O mesmo tipo de comportamento é obtido quando os autos de resistência aparecem no eixo y. O contrário ocorre quando é estudado o efeito do programa sobre os outros crimes violentos. Esta categoria aumenta na cidade como um todo a partir de 2008. Todavia, o crescimento parece ser mais acentuado nas delegacias responsáveis por regiões que contém comunidades ocupadas pela polícia (a única exceção é o ano de 2012). Assim, as guras sugerem que a invasão afeta positivamente os outros crimes violentos. Esta mesma dinâmica está presente na análise das lesões corporais dolosas. As Figuras V e VI também foram geradas a partir da base de dados das delegacias. Novamente apenas unidades policiais da cidade do Rio de Janeiro foram consideradas. Os grácos contidos nestas guras apresentam os coecientes associados à indicadoras trimestrais que procuram capturar a evolução da criminalidade nos períodos ao redor da pacicação. Estes coecientes foram obtidos a partir de regressões de poisson similares às descritas nas Equações 1 e 2. Os parâmetros aparecem nas Figuras V e VI como pontos vermelhos. As linhas azuis caracterizam o intervalo de conança ao nível de 95% das estimativas pontuais. Optou-se por utilizar indicadoras trimestrais (no lugar de mensais) 32 para reduzir o ruído dos resultados. Note que, o trimestre contendo o mês da invasão 32 Uma descrição mais profunda do método utilizado para gerar os coecientes apresentados nas Figuras V e VI pode ser encontrada no Apêndice E. 23 foi omitido. Logo, todos os coecientes são estimados com relação à esta variável. Por m, vale ressaltar que uma barra vertical vermelha foi inserida no local onde caria a indicadora trimestral que foi excluída das regressões. A Figura V indica que tanto a atividade policial quanto a apreensão de drogas aumentam nos trimestres posteriores à pacicação. Isto pode ser observado nos dois painéis superiores desta gura. Em ambos os casos parece haver um aumento das estimativas pontuais depois da implementação do programa. No entanto, esta elevação não é signicativa, já que o zero faz parte dos intervalos de conança de todos os parâmetros estimados neste período. A Figura VI sugere que os crimes contra o patrimônio não são afetados pela política (isto pode ser observado no gráco localizado no topo e à esquerda desta gura). Por outro lado, a invasão parece reduzir os roubos de forma bastante signicativa. As estimativas pontuais localizadas à direita da linha vermelha apresentam uma tendência acentuada de queda. Além disso, o limite superior do intervalo de conança é menor do que zero para 2 dos 4 coecientes estimados depois da ocupação policial. As próximas subseções utilizam métodos econométricos para realizar uma avaliação mais formal acerca do impacto da política de pacicação. Os resultados apresentados abaixo conrmam as dinâmicas criminais encontradas na análise gráca. 5.2 Principais Resultados Antes de prosseguir para a análise dos resultados é importante tratar de um problema que afeta grande parte das variáveis dependentes de interesse consideradas neste trabalho. É razoável supor que a taxa de noticação aumenta com a presença policial (este fato já foi discutido anteriormente). Por exemplo, esta idéia é consistente com a hipótese de que a invasão leva a população à resgistrar ocorrências que costumavam ser resolvidas pelos grupos criminosos. Assim, os parâmetros negativos encontrados neste estudo subestimam o efeito da pacicação. Porém, os coecientes positivos superestimam o verdadeiro impacto do programa. Vale ressaltar que, a atividade policial total, as prisões, as apreensões de drogas e as apreensões de armas estão menos sujeitas aos efeitos do aumento da taxa de noticação. A maior probabilidade de que indivíduos registrem ocorrências só deveria impactar estas variáveis na medida em que a polícia responde ao crescimento do número de queixas feitas pela população. Este efeito é de segunda ordem. O problema descrito acima não compromete a interpretação de efeitos negativos da política (já que as reduções observadas deveriam ser ainda maiores caso não houvesse 24 aumento da taxa de noticação). Todavia, esta constatação não permite determinar em que medida impactos positivos dependem do aumento da probabilidade de que indivíduos registrem ocorrências. É possivel inclusive que a pacicação resulte em uma redução de variáveis dependentes para as quais este estudo encontra efeitos positivos. Para isto, basta que o aumento da taxa de noticação seja sucientemente grande compensando assim a queda causada pelo programa. Por este motivo os coecientes positivos encontrados neste estudo devem ser interpretados com cautela (exceto os ligados à atividade policial - citados no parágrafo acima). As Tabelas III, IV, V e VI apresentam os principais resultados desta pesquisa. É importante discutir três pontos acerca destas tabelas. Primeiro, as colunas 1 e 2 (3 e 4) apresentam os coecientes estimados a partir do modelo de poisson descrito nas Equações 1 e 2 (3 e 4). Lembre-se, que estas especicações consideram apenas os dados contidos na base de favelas (delegacias). Segundo, os parâmetros fornecidos nas colunas 5 e 6 foram obtidos a partir do modelo de probabilidade linear apresentado na Equação 5. Vale ressaltar, que estas regressões são estimadas apenas para as variáveis dependentes contidas nos dados do Disque-Denúncia. Terceiro, as colunas pares fornecem as especicações preferidas, que incluem as tendências por unidade de análise no conjunto de variáveis explicativas. Estas regressões têm a vantagem de controlar, ao menos parcialmente, pela dinâmica das variáveis omitidas. Os coecientes contidos na Tabela III foram estimados com o intuito de determinar o efeito das UPPs sobre a atuação da polícia. Os dados de favelas sugerem que a pacicação implica em um aumento de cerca de 176% na atividade policial total. Este valor pode ser calculado a partir do coeciente 1,016 apresentado na coluna 1 (note que este parâmetro é signicativo à 1%). O efeito diminui ao inserir as tendências por comunidade nas variáveis independentes, mas continua sendo signicativo à 1% (o coeciente estimado na coluna 2 é 0,951). Assim, a especicação preferida sugere que a ocupação das favelas resulta em um crescimento de aproximadamente 159% na atividade policial total. Além disso, as regressões que controlam pela tendência das variáveis omitidas mostram que o aumento do índice agregado decorre, principalmente, do crescimento das prisões e das apreensões de drogas. O coeciente 1,096 é estatísticamente signicativo a 1% e indica que a política resulta em um aumento de cerca de 199% nas prisões (ver coluna 2). O impacto é ainda maior sobre a apreensão de drogas. Neste caso, o parâmetro de interesse é 1,269. Note que este coeciente foi estimado com bastante precisão dado que é estatísticamente signicante a 1% (ver coluna 2). Isto signica que a pacicação resulta em um crescimento de aproximadamente 256% nas apreensões de drogas. Por m, existe 25 evidência de uma queda na apreensão de armas, mas este efeito não é estatísticamente signicativo (ver o coeciente -0,463 apresentado na coluna 2). Os efeitos encontrados acima são enormes. Estes impactos são consistentes com as expectativas descritas na introdução deste trabalho. As invasões policiais deveriam acarretar em um crescimento das prisões e apreensões de drogas. A ausência de efeito do programa sobre a apreensão de armas também não surpreende. Estes artefatos podem ser escondidos e transportados com relativa facilidade. Desta maneira, apreensões de armas são pouco frequentes durante as ocupações das favelas. Além disso, a evidência anedótica sugere que o mercado de tóxicos não foi eliminado com a implementação da política. A principal mudança é que o comércio de entorpecentes passou a ser realizado por indivíduos desarmados. Assim, faz sentido que apreensões de drogas e prisões continuem ocorrendo depois da invasão. Por outro lado, é razoável esperar um menor número de armas apreendidas. Em geral, os dados de delegacia indicam que o programa não tem efeito sobre a atuação da polícia. Praticamente todos os coecientes apresentados nas colunas 3 e 4 são estatísticamente insignicantes. é a apreensão de drogas. A única exceção ocorre quando a variável dependente Esta categoria aumenta em cerca de 18% em decorrência de um crescimento de 1 desvio padrão na porcentagem da área de favelas pacicadas. Este impacto foi encontrado a partir do coeciente 0,502 fornecido na coluna 3. Note, que o parâmetro foi estimado com relativa precisão dado que o nível de signicância é igual a 5%. Há uma redução do efeito na coluna 4, em decorrência da inclusão das tendências por delegacia. Neste caso, um aumento de 1 desvio padrão na porcentagem da área de comunidades ocupadas pela polícia implica em um crescimento de aproximadamente 13% na apreensão de drogas. Para calcular este impacto utilizou-se o coeciente 0,375 que é estatísticamente signicante a 10%. É natural que os efeitos encontrados ao considerar a base de delegacias sejam menores, em valor absoluto, do que os obtidos ao focar nas favelas. Esta relação está presente em praticamente todos os resultados desta pesquisa. Lembre-se que as comunidades ocupadas são apenas parte da área sob responsabilidade de cada unidade de polícia. Por um lado, o programa implica em uma mudança radical no interior das favelas. Estas localidades, que inicialmente não contavam com a proteção do estado, passam a desfrutar da presença permanente de agentes de segurança pública. Por outro lado, a política tem pouco ou nenhum efeito sobre o número de ociais alocados no restante do território. As variáveis de intensidade de tratamento foram incluídas nos modelos dos dados de delegacia com o intuito de captar as mudanças que ocorrem no interior das favelas. Os resultados indicam 26 que este procedimento é capaz de mostrar apenas parte do que está acontecendo nas comunidades ocupadas pela polícia. As colunas 5 e 6 avaliam o impacto da pacicação nas denúncias contra a polícia. Em geral, a política resulta em um aumento deste tipo de reclamação (todos os coecientes apresentados nas colunas 5 e 6 são positivos). No entanto, signicância estatística só é obtida ao controlar pelas tendências das variáveis omitidas (ver coluna 6). Estes resultados indicam que os parâmetros apresentados na coluna 5 subestimam o verdadeiro impacto da invasão sobre as denúncias contra a polícia. Ao controlar pela tendência das variáveis omitidas observa-se um aumento dos coecientes. Assim, as especicações preferidas mostram que um crescimento de 1 desvio padrão na porcentagem da área de comunidades invadidas pela polícia está correlacionado com um incremento de aproximadamente 23% nos abusos de autoridade, de 5% nos desvios de conduta e de 10% na corrupção. Estes efeitos foram calculados, respectivamente, a partir dos coecientes 0,086, 0,079 e 0,088. Note que o primeiro parâmetro mencionado foi estimado com relativa precisão dado que é estatísticamente signicante a 5%. Os demais coecientes são signicativos a 10%. A discussão realizada no início desta subseção sugere que estes impactos devem ser interpretados com cautela. É possivel que os aumentos observados decorram, exclusivamente, de uma maior probabilidade de realização de denúncias nos territórios invadidos. A Tabela IV foca no efeito da pacicação sobre a violência. O coeciente -1,021 é estatisticamente signicativo a 1% e indica que a política reduz o total de crimes violentos em cerca de 64% (ver coluna 1). O efeito diminui ao incluir as tendências por favela no conjunto das variáveis explicativas. No entanto, o impacto permanece negativo e signicativo a 1% (ver coeciente -0,089 na coluna 2). Assim, as especicações preferidas sugerem que a invasão policial resulta em uma diminuição de aproximadamente 59% no total de crimes violentos. A queda do índice agregado advém, principalmente, de uma grande diminuição dos autos de resistência. A especicação preferida mostra que ocorre uma redução de cerca de 78% neste tipo de ocorrência em função da pacicação. Esta informação foi calculada a partir do coeciente -1,495 (ver coluna 2). Note que este parâmetro é estatísticamente signicativo a 1%. Existe ainda uma queda expressiva, porém não signicativa, dos homicídios nas comunidades invadidas (ver coeciente -0,402 fornecido na coluna 2). Os resultados obtidos ao considerar a base de delegacias (colunas 3 e 4) são qualitativamente semelhantes aos encontrados ao focar nos dados de favelas (colunas 1 e 2). A especicação preferida indica que um aumento de 1 desvio padrão na porcentagem da área 27 de favelas pacicadas é consistente com uma redução de cerca de 16% no total de crimes violentos. Este efeito foi calculado a partir do coeciente -0,532 contido na coluna 4. Note que este parâmetro foi estimado com bastante precisão dado que é estatísticamente signicante a 1%. Além disso, o modelo que inclui as tendências por delegacia no conjunto de variáveis explicativas encontra que a redução do índice agregado decorre, principalmente, de uma diminuição dos autos de resistência. O crescimento de 1 desvio padrão na variável explicativa de interesse resulta em uma queda de aproximadamente 36% neste tipo de ocorrência. Esta informação foi calculada a partir do coeciente -1,358 (ver coluna 4). Note que este parâmetro é estatisticamente signicante a 1%. Observa-se também uma diminuição expressiva, porém não signicativa, dos homicídios (ver coeciente -0,262 na coluna 4). Os dados do Disque-Denúncia corroboram os efeitos estimados a partir das bases ociais. Em geral os coecientes indicam que a pacicação reduz a violência. Esta observação é encorajadora dado que a ONG não é ligada ao governo. Portanto as informações disponibilizadas por esta instituição são menos sujeitas às manipulações que podem ser realizadas por policiais. Lembre-se que a literatura documentou casos de subnoticação forçada e episódios em que agentes de segurança pública imprimiram esforço para induzir a vítima a não realizar o registro da ocorrência. As especicações preferidas, apresentadas na coluna 6, sugerem que um aumento de 1 desvio padrão na porcentagem da área de favelas pacicadas resulta em uma redução de 20% no uso ilegal de armas e numa queda de 37% nos conitos entre facções. O primeiro efeito foi calculado a partir do coeciente -0,171, que é estatisticamente signicante a 1%. O segundo impacto pode ser obtido a partir do parâmetro -0,134. Note que este último coeciente também é estatisticamente signicante a 1%. Em resumo, os resultados apresentados na Tabela IV são consistentes com a expectativa de redução da violência nas comunidades pacicadas. Grande parte das mortes observadas nas favelas do Rio de Janeiro decorrem dos conitos entre policiais e bandidos ou dos confrontos entre facções criminosas. Estas disputas passam a ser menos frequentes diante da presença do estado nas comunidades carentes. A Tabela V contém resultados de especicações que procuram avaliar o efeito da pacicação sobre os crimes contra o patrimônio. Esta tabela foca apenas nos dados ociais. A base de favelas sugere que a pacicação não tem impacto sobre o total de crimes contra o patrimônio. O coeciente apresentado na coluna 1 é positivo. Porém, este parâmetro é estatisticamente insignicante. O efeito permanece inalterado na coluna 2, que inclui 28 as tendências por favela no conjunto das variáveis explicativas. A especicação preferida indica que a política resulta em um aumento de aproximadamente 11% nos crimes contra o patrimônio. Este impacto é obtido a partir do coeciente 0,100. Note que este parâmetro também é estatísticamente insignicante. A falta de impacto do programa sobre a categoria agregada decorre de um aumento signicativo dos furtos e de uma redução insignicante dos roubos. Os coecientes fornecidos na coluna 2, quando o vetor de controles contém as tendências por comunidade, mostram que a invasão é consistente com um crescimento de 37% nos furtos e com uma redução de 11% nos roubos. O primeiro efeito foi calculado a partir do coeciente 0,312, que é estatisticamente signicante a 1%. O segundo impacto pode ser obtido a partir do parâmetro -0,120. Note que este último coeciente é estatisticamente insignicante. Os resultados encontrados mediante a análise dos dados de delegacias são qualitativamente diferentes dos obtidos a partir do estudo da base de favelas. Note que, os coecientes contidos nas colunas 3 e 4 sugerem que a pacicação não afeta o total de crimes contra o patrimônio e os furtos (todos os parâmetros associados à estas variáveis são estatisticamente insignicantes). Porém a política parece ser consistente com uma redução dos roubos (ambos os coecientes referentes à este tipo de crime são estatisticamente signicativos a 1%). A especicação preferida encontra que um aumento de 1 desvio padrão na porcentagem da área de favelas invadidas implica em uma redução de cerca de 9% nesta última variável (ver coeciente -0,279 na coluna 4). Os efeitos apresentados acima estão de acordo com o esperado. Foi dito na introdução deste trabalho que a presença dos grupos criminosos nas favelas do Rio de Janeiro facilita a ocorrência de roubos na cidade. Em particular, membros de facções adotam a prática de alugar armas ociosas para a realização destes crimes. Assim, é razoável que haja uma diminuição generalizada destas transgressões em decorrência da pacicação (tanto em favelas quanto nas cercanias destes territórios). 33 Além disso, inúmeros jovens costumam auferir renda a partir da realização de pequenos serviços para as facções armadas. Desta maneira, a falta de oportunidades para ex-delinquentes resultante da ocupação policial deveria acarretar em um aumento generalizado dos furtos (tanto nas comunidades quanto nas regiões próximas destas localidades). A discussão acima não esclarece a falta de impacto da política sobre os furtos nas 33 O leitor mais atento pode armar que roubos não costumam ocorrer dentro de favelas e, portanto, não deveria haver uma queda deste tipo de crime no interior das comunidades ocupadas pela polícia. No entanto, a base de favelas utilizada neste estudo acaba captando parte das transgressões realizadas nas cernias destas áreas. Este fato pode ser visto na Tabela II. Note que furtos e roubos são bastante comuns nas comunidades consideradas neste trabalho. 29 cercanias de favelas e os roubos no interior destas comunidades. A hipótese de que criminosos são indivíduos racionais implica que deveria haver uma substituição de crimes na direção de áreas em que há uma redução relativa do custo de realização de transgressões. Assim, a pacicação resultaria em um deslocamento dos crimes para o interior das favelas, em função do abrandamento das penas aplicadas nestas localidades. Este fato ajuda a explicar a ausência de efeito da pacicação sobre os roubos dentro de favelas e os furtos fora destas comunidades. Basicamente, a realocação de crimes suaviza o impacto, esperado tanto nas favelas quanto nas cercanias destas áreas, de queda de roubos e de aumento de furtos. A Tabela VI analisa somente variáveis contidas nas bases ociais. O objetivo desta tabela é determinar o efeito da pacicação sobre outros crimes violentos. As colunas 1 e 2 focam nos dados de favelas. Assim, as especicações preferidas indicam a invasão policial é consistente com um aumento destas ocorrências (ver coluna 2). O coeciente 0,726 é estatísticamente signicativo à 1% e mostra que a política resulta em um crescimento de aproximadamente 107% no total de outros crimes violentos. O impacto sobre o índice agregado advém principalmente de um aumento nas lesões corporais dolosas e nos estupros. O primeiro tipo de crime citado apresenta um crescimento de cerca de 112% em decorrência da implementação do programa. Este impacto foi calculado a partir do coeciente 0,752 contido na coluna 2 (note que este parâmetro é estatisticamente signicante a 1%). Além disso, a política é consistente com um aumento de aproximadamente 128% na segunda variável mencionada. Esta estimativa baseou-se no coeciente 0,824 encontrado na coluna 2. Note que este parâmetro é estatísticamente signicativo a 1%. Existe ainda evidência de um crescimento nas tentativas de homicídio. No entanto, o efeito da pacicação sobre estes crimes é relativamente menor. Neste caso, a ocupação policial é consistente com um aumento de aproximadamente 64%. Os resultados obtidos ao considerar a base de delegacias (colunas 3 e 4) são qualitativamente semelhantes aos encontrados ao focar nos dados de favelas (colunas 1 e 2). A única exceção é referente as tentativas de homicídio. O coeciente associado a esta variável é negativo e signicativo a 10% na coluna 3. Porém, ocorre uma reversão do sinal quando são incluídas as tendências por delegacia. Além disso, o parâmetro encontrado na coluna 4 é estatisticamente insignicante. Logo, a evidência acerca do efeito da pacicação sobre esta variável é inconclusiva. Além disso, as especicações preferidas sugerem que um incremento de 1 desvio padrão na porcentagem da área de favelas pacicadas é consistente com um aumento de cerca de 11% no total de outros crimes violentos. Este número baseia-se no coeciente 0,326 (ver 30 coluna 4). Note que este parâmetro é estatisticamente signicativo a 1%. O aumento da categoria agregada decorre, principalmente, de um crescimento de aproximadamente 12% nas lesões corporais dolosas e 7% dos estupros. Ambos os impactos advém de um incremento de 1 desvio padrão na porcentagem da área de comunidades ocupadas pela polícia. Antes de prosseguir, deve-se ressaltar que é possivel que os aumentos observados decorram, exclusivamente, de uma maior probabilidade de realização de denúncias nos territórios invadidos. 5.3 Testes de Robustez A subseção acima apresentou os principais resultados deste estudo. Neste trecho do trabalho são realizados inúmeros testes de robustez que foram desenvolvidos com o intuito de avaliar em que medida os efeitos obtidos anteriormente dependem das escolhas adotadas. A Tabela VII foca na atuação da polícia. Esta tabela apresenta resultados de 5 alterações dos modelos que foram discutidos na seção de estratégia empírica. A coluna 1 considera a base de favelas. Neste caso, foram estimadas especicações baseadas nas Equações 1 e 2. Porém, utilizou-se o método de mínimos quadrados ordinários (MQO) e optou-se por realizar uma transformação das variáveis dependentes de interesse. Ba- sicamente, determinou-se o impacto da política sobre o logaritmo da taxa por 100.000 34 habitantes destas variáveis. As colunas 2 e 3 focam na base de delegacias. A primeira adota o método de MQO e implementa a mesma modicação das variáveis dependentes de interesse que foi realizada 35 na coluna 1. A segunda estima modelos de poisson semelhantes ao apresentado nas Equações 3 e 4. A única diferença é que os resultados contidos nesta coluna foram obtidos a partir de especicações que consideram o resto do estado como grupo de controle. Já foi discutido que esta região está menos sujeita aos efeitos das externalidades espaciais (que podem ser positivas ou negativas). Assim, este exercício tem o objetivo de vericar em que medida a proximidade entre delegacias com UPP e unidades de polícia que não não foram beneciadas pelo projeto compromete os principais resultados desta pesquisa. 34 Note que somou-se 1 à estas variáveis antes de calcular a taxa e obter o logaritmo. O objetivo deste procedimento é evitar a perda de um grande número de observações. Vale ressaltar que também foram estimados modelos com as variáveis originais. Nestes casos houve perda de observações (devido à eliminação dos zeros). No entanto, os resultados encontrados com a amostra reduzida são semelhantes aos apresentados neste trabalho. 35 Note que neste caso também procedeu-se com a adição de 1 às variáveis dependentes de interesse antes da realização da transformação. Os resultados com a amostra reduzida também são parecidos com os apresentados neste estudo. 31 Os dados do Disque-Denúncia são utilizados nas colunas 4 e 5. A primeira apresenta resultados de regressões baseadas na Equação 5. Porém, neste caso implementa-se a estimação por MQO e realiza-se a mesma transformação das variáveis dependentes de interesse adotada nas colunas 1 e 2. 36 A segunda também considera um modelo semelhante ao descrito pela Equação 5. Todavia, utiliza uma variável de tratamento dicotômica. Esta indicadora é igual a 1 caso a pacicação tenha atingido pelo menos uma das favelas do bairro i no mês t. Caso contrário, esta variável é igual a 0. Os resultados apresentados na Tabela VII conrmam as estimativas obtidas anteriormente. Em primeiro lugar encontra-se evidência de um crescimento da atividade policial total. Este efeito advém, principalmente, de um aumento nas apreensões de drogas. Para estas duas variáveis apenas 1 dos 7 coecientes fornecidos nesta pesquisa é estatisticamente insignicante. Em segundo lugar, constata-se um crescimento dos abusos de autoridade e dos desvios de conduta. Em ambos os casos tem-se que 3 dos 4 parâmetros apresentados neste trabalho são estatisticamente signicantes. A Tabela VIII analisa a relação entre a pacicação e a violência. Neste caso são realizados os mesmos testes de robustez implementados na Tabela VII. Os resultados sugerem que a invasão policial é consistente com uma redução do total de crimes violentos. A queda do índice agregado decorre, principalmente, de uma diminuição dos autos de resistência. Este efeito é extremamente robusto para ambas as variáveis. Nos dois casos, observa-se que todos os coecientes fornecidos neste trabalho são estatisticamente signicantes. Além disso, encontra-se que o programa resulta em uma redução do uso ilegal de armas e dos conitos entre facções. Estes impactos são estatisticamente signicativos em todas as especicações apresentadas nesta pesquisa (8 no total). Os resultados encontrados na Tabela VIII podem decorrer de manipulação dos dados. Investigações pouco criteriosas poderiam levar homicídios e autos de resistência à serem classicados como desaparecimentos. O fato de que a base do Disque-Denúnica corrobora a evidência de redução de violência obtida a partir dos dados ociais, reduz a preocupação com este tipo de comportamento. A despeito disto, a Tabela IX procura avaliar, diretamente, a hipótese de manipulação das informações disponibilizadas pelos órgãos de segurança pública. Por este motivo, foca no impacto da ocupação policial sobre os desaparecimentos. As colunas 1 e 2 consideram apenas os dados de favelas. A primeira apresenta resultados obtidos a partir de um modelo idêntico ao discutido nas Equações 1 e 2. A segunda baseia-se nas especicações estimadas na coluna 1. No entanto, utiliza o 36 Note que neste caso também realizou-se a soma de 1 às variáveis dependentes de interesse antes da realização da transformação. Os resultados com a amostra reduzida também são parecidos com os fornecidos neste trabalho. 32 método de mínimos quadrados ordinários (MQO) e realiza uma transformação da variável dependente de interesse. A nova variável é o logaritmo da taxa por 100.000 habitantes dos desaparecimentos. As colunas 3, 4 e 5 utilizam a base de delegacias. A primeira apresenta coecientes obtidos a partir de modelos idênticos ao fornecido pelas Equações 3 e 4. A segunda baseia-se nas regressões estimadas na coluna 3. No entanto, adota o método de MQO e realiza a mesma modicação da variável dependente de interesse implementada na coluna 2. A terceira também estima modelos parecidos com o descrito nas Equações 3 e 4. A única diferença é que considera o resto do estado como grupo de controle. A migração de tracantes poderia aumentar a violência dos territórios da cidade localizados próximos à favelas pacicadas. Isto acarretaria em um crescimento dos desaparecimentos nestas áreas. Desta maneira, os parâmetros estimados nas colunas 3 e 4 subestimariam o verdadeiro impacto da pacicação sobre esta variável. Os parâmetros apresentados na coluna 5 estão menos sujeitos a este tipo de viés. Os resultados fornecidos na Tabela IX indicam que a invasão policial não resulta em um aumento dos desaparecimentos. Os cinco coecientes de interesse apresentados nesta tabela são estatisticamente insignicantes. Além disso, a maior parte destes parâmetros são consistentes com efeitos reduzidos do programa sobre este tipo de ocorrência. A única exceção é o coeciente apresentado na coluna 3. Logo, não parece estar havendo manipulação dos dados. A Tabela X avalia o impacto da pacicação sobre os crimes contra o patrimônio. A coluna 1 considera a base de favelas. Neste caso, foram estimadas especicações baseadas nas Equações 1 e 2. Porém, utilizou-se o método de MQO e optouse por realizar uma transformação das variáveis dependentes de interesse. Basicamente, determinou-se o impacto da política sobre o logaritmo da taxa por 100.000 habitantes destas variáveis. As colunas 2 e 3 focam na base de delegacias. A primeira adota o método de MQO e implementa a mesma modicação das variáveis dependentes de interesse que foi realizada na coluna 1. A segunda estima modelos de poisson semelhantes ao apresentado nas Equações 3 e 4. No entanto, estas especicações utilizam o resto do estado como grupo de controle. Novamente, procura-se considerar uma área menos sujeita às externalidades espaciais. Os resultados encontrados na Tabela X são qualitativamente semelhantes aos obtidos na subseção acima. Por um lado, a ocupação resulta em um aumento dos furtos nas favelas. Por outro lado, o programa implica uma redução dos roubos nas cercanias destes territórios. A Tabela XI analisa a relação entre a pacicação e os outros crimes violentos. Neste 33 caso, são realizados os mesmos testes de robustez implementados na Tabela X. Os resultados indicam que a política é consistente com um aumento no total de outros crimes violentos. O efeito na categoria agregada advém, majoritariamente, de um crescimento das lesões corporais dolosas e dos estupros. Assim, os parâmetros apresentados nas Tabelas VII, VIII, IX, X e XI corroboram os principais resultados desta pesquisa. 5.4 Placebo A política de pacicação é o foco deste estudo. As variáveis explicadas de interesse utilizadas nas subseções acima foram escolhidas por compreender categorias que deveriam ser afetadas pelo programa. Por outro lado, é razoável supor que existem ocorrências que estão menos relacionadas com a presença da polícia. As mortes no trânsito, que perfazem a maior parte dos homicídios culposos, são um exemplo de evento que é fracamente correlacionado com a localização dos agentes de segurança pública. Esta armação decorre do fato que a polícia não é responsável por multar veículos. Logo, atitudes imprudentes podem ocorrer mesmo diante de ociais. Acidentes de trabalho, que fazem parte das lesões corporais culposas, são fatalidades cujo acontecimento que está fora do controle dos policiais. Lembre-se que os agentes de segurança pública não realizam a scalização acerca do uso de aparelhos de proteção individual. Nesta subseção desenvolveu-se uma categoria agregada, chamada de total de crimes culposos. Esta variável foi criada a partir da soma dos homicídios culposos e das lesões corporais culposas. A explicação acima sugere que a pacicação não deveria ter efeito sobre nenhum destes três tipos de ocorrência. Os resultados apresentados na Tabela XII têm o objetivo de conrmar esta hipótese. As colunas desta tabela contém especicações identicas às contidas na Tabela IX. A única diferença é que agora são consideradas as três variáveis dependentes de interesse que não deveriam ser afetadas pela invasão policial. Note que apenas um dos parâmetros fornecidos na Tabela XII é estatisticamente signicante (ver coeciente 0,082 apresentado na coluna 3). Estes resultados são encorajadores, já que são consistentes com a hipótese de que os principais impactos estimados nesta pesquisa, discutidos na subseção 2, decorrem exclusivamente da implementação do programa. 34 5.5 Avaliando o Impacto da Pacicação na Migração de Criminosos A Tabela XIII procura estudar a possibilidade, discutida anteriormente, de fuga de bandidos para territórios da cidade do Rio de Janeiro que não receberam UPPs. Assim, os resultados apresentados nesta tabela foram obtidos a partir das regressões descritas pelas Equações 6 e 7. 37 Na coluna 5 constata-se um aumento dos crimes contra o patrimônio nas delegacias de polícia da capital que não foram pacicadas (todos os coecientes apresentados nesta coluna são positivos e estatisticamente signicativos). Note que, os furtos são os principais responsáveis pelo crescimento do índice agregado (esta interpretação decorre dos parâmetros contidos na coluna 6). Por outro lado, a coluna 7 é consistente com um grande aumento nos outros crimes violentos nas localidades da cidade que continuam sobre o controle do tráco (todos os parâmetros contidos nesta coluna são positivos e estatisticamente signicantes). Este crescimento decorre principalmente do comportamento das lesões corporais dolosas (não existe evidência de impacto sobre estupros e tentativas de homicídio). Estes resultados fornecem evidência favorável à hipótese de deslocamento de bandidos para as regiões da capital que não são beneciadas pelo programa. A Tabela XIV têm o intuito de avaliar a hipótese de que bandidos fugiram para a Baixada em decorrência da invasão policial. Os parâmetros contidos nesta tabela foram 38 obtidos a partir das regressões descritas pelas Equações 6 e 7. Os coecientes apresen- tados na coluna 4 apontam para um efeito positivo da política sobre os crimes contra o patrimônio ocorridos na Baixada (todos os parâmetros contidos nesta coluna são positivos e signicativos). O aumento do índice agregado decorre do crescimento dos roubos e dos furtos (estes efeitos aparecem nas colunas 5 e 6, respectivamente). Além disso, o programa é consistente com um crescimento dos outros crimes violentos na Baixada (todos os coecientes da coluna 7 são positivos e estatisticamente signicantes). Este resultado advém principalmente de um aumento das lesões corporais dolosas nesta região (ver coluna 9). Existe também evidência, menos contundente, de um crescimento das tentativas de homicídio (apenas dois dos quatro parâmetros contidos na coluna 8 são positivos e signicativos). Assim, a análise da Tabela XIV é consistente com a hipótese de deslocamento de criminosos para a Baixada. 37 Uma descrição mais detalhada das especicações estimadas para gerar os resultados apresentados na Tabela XIII, pode ser encontrada na seção de estratégia empírica. 38 Uma descrição mais detalhada das especicações estimadas para gerar os resultados apresentados na Tabela XIV pode ser encontrada na seção de estratégia empírica. 35 6 Conclusão Os resultados apresentados neste trabalho indicam que a política de pacicação está sendo bem sucedida em atingir o seu principal objetivo que é combater os grupos armados em atividade no Rio de Janeiro. Os efeitos estimados indicam que o programa reduz as transgressões que estão tipicamente ligadas ao domínio territorial exercido por estas organizações criminosas. Assim, observa-se uma queda dos autos de resistência e dos conitos entre facções. Os impactos discutidos acima sugerem que a estratégia de ocupação desenvolvida pelos órgãos de segurança pública do estado do Rio de Janeiro oferece um modelo bem sucedido para lidar de com a falta de segurança encontrada nos centros urbanos de inúmeros países em desenvolvimento. Um problema da política parece ser a ocorrência de um aumento de crimes não letais como denúncias contra a polícia, furtos, lesões corporais dolosas e estupros. Este estudo não é capaz de determinar em que medida os efeitos positivos encontrados decorrem de um crescimento na probabilidade de que indivíduos registrem ocorrências. É possível inclusive que o aumento destas transgressões esteja sendo causado diretamente pelo programa. Neste caso, algumas modicações da estratégia podem ajudar a reduzir os efeitos colaterais observados. Em primeiro lugar, as denúncias contra policiais estão crescendo apesar de haver preocupação com o treinamento, dos agentes alocados para regiões ocupadas, nas técnicas de polícia de proximidade. Este fato sugere que os cursos oferecidos até o momento são insucientes para apagar a herança cultural militarista característica dos órgãos de segurança pública do estado. Uma maneira de lidar com esta diculdade é aumentar o investimento na qualicação dos prossionais que atuam nas áreas pacicadas. Em segundo lugar, existe evidência de que as lesões corporais dolosas estão crescendo nos territórios invadidos. Moradores, submetidos à condições de vida precárias, muitas 39 vezes partem para agressões físicas em situações de conito. Já foi dito anteriormente, que as penas mais brandas implementadas pelo sistema de justiça criminal reduzem os custos associados à este tipo de comportamento. Este fato, pode explicar o aumento das lesões corporais dolosas nas áreas ocupadas pela polícia. O treinamento dos policiais na resolução de conitos pode ajudar a mitigar este efeito. Em terceiro lugar, parece estar ocorrendo um crescimento dos estupros. A realização de um policiamento mais eciente 39 Em seu artigo Paes-Machado e Noronha (2002) argumentam que moradores de comunidades pobres têm que lidar com o desemprego, com condições de moradia precárias, em geral não possuem título de propriedade e muitas vezes acabam recorrendo ao alcoolismo. pequenos conitos resultem em agressões físicas. 36 Nesse tipo de ambiente é comum que pode contribuir para a redução destas transgressões. 40 O aumento dos furtos, em decorrência da pacicação, pode ser caracterizado como o terceiro problema diante dos formuladores da política. Investimentos na oferta de alternativas para os jovens dos territórios beneciados pelo programa podem ajudar a combater o crescimento destes delitos. Por m, esse estudo encontra indícios de migração de bandidos para áreas da região metropolitana que não receberam UPPs. Este fato deve ser levado em consideração no momento da invasão. Uma opção para limitar a fuga de criminosos é o estabelecimento de um cerco mais rigoroso, daqueles que vem sendo implementados, no momento da ocupação. Outra alternativa é levar o programa para todas as favelas do estado. No entanto, é necessário fazer um estudo detalhado dos custos associados a esta estratégia, am de determinar a sua viabilidade. Referências Albernaz, E. (2007). Tensões e desaos de um policiamento comunitário em favelas do São Paulo em Perspectiva, 21(2):3952. Rio de Janeiro. Alves, H. (2012). Diagnóstico sócio-econômico de comunidades com UPP do Rio de Janeiro. Nota Técnica 459, FIRJAN. Amorim, C. (1993). Comando Vermelho - A história do crime organizado. BESTBOLSO. Angrist, J. e Kugler, A. (2008). Rural windfall or a new resource curse? Coca, income, and civil conict in Colombia. 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O poolicial dourado inndica a localizaçção das d polícia. delegacias de 44 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 600000 400000 200000 0 População das Comunidades com UPP 20 15 10 5 0 Número de Delegacias com UPP FIGURA II – DIFERENTES MEDIDAS DA IMPLEMENTAÇÃO GRADUAL DO PROGRAMA DE PACIFICAÇÃO 2012 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 15,000 10,000 5,000 0 15 10 5 0 Área das Favelas com UPP (km2) 20 Número de Policiais nas Favelas com UPP 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Notas. Os gráficos acima foram gerados a partir de dados do censo de 2010 e a partir de informações disponibilizadas no site oficial das UPPs. São fornecidas quatro medidas diferentes do tamanho do programa de pacificação para todos os anos entre 2008 e 2012. O painel no topo e à esquerda apresenta o número de delegacias com UPP, o painel no topo e à direita contém a população das comunidades com UPP, o painel abaixo e à direita disponibiliza a área (em quilômetros quadrados) das favelas com UPP e o painel abaixo e à esquerda fornece o número de policiais nas favelas com UPP. 45 2004 350 300 250 200 Prisões por 100.000 100 2006 2008 2010 2012 2004 2006 2008 2008 2010 2012 ano Rio sem UPP Rio com UPP Rio com UPP 15 10 5 0 Autos de Resistência por 100.000 60 40 2006 2012 20 Rio sem UPP 80 Rio com UPP 20 2004 2010 ano ano Rio sem UPP Total de Crimes Violentos por 100.000 150 700 600 500 400 300 200 Atividade Policial Total por 100.000 FIGURA III – IMPACTO DA PACIFICAÇÃO EM CRIMES VIOLENTOS E EM OUTROS CRIMES VIOLENTOS 2004 2006 2008 2010 2012 ano Rio sem UPP Rio com UPP Notas. Os gráficos acima foram gerados a partir da base de dados de delegacias. Foram consideradas apenas as unidades de polícia da cidade do Rio de Janeiro. O painel acima e à esquerda trata da atividade policial total. Assim, a linha vermelha indica a taxa média anual por 100.000 habitantes deste tipo de ocorrência nas delegacias com UPP. Por outro lado, a linha azul contém a mesma informação para as unidades de polícia sem UPP. Os demais painéis são idênticos. A única diferença é que o painel acima e à direita trata das prisões, o abaixo e à esquerda é referente ao total de crimes violentos e o abaixo e à direita foca nos autos de resistência. 46 FIGURA IV – IMPACTODA PACIFICAÇÃO EM CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO E NA ATIVIDADE POLICIAL 2008 2010 2012 5000 4000 3000 2000 Total de Roubos por 100.000 2006 1000 15000 10000 5000 0 2004 2004 2006 2008 ano Rio sem UPP 2010 2012 ano Rio com UPP Rio sem UPP Rio com UPP 2004 2006 2008 2010 2012 ano Rio sem UPP Rio com UPP 1200 1000 800 600 400 800 1000 1200 Lesão Corporal Dolosa por 100.000 1400 600 Total de Outros Crimes Violentos por 100.000 Total de Crimes Contra o Patrimônio por 100.000 2004 2006 2008 2010 2012 ano Rio sem UPP Rio com UPP Notas. Os gráficos acima foram gerados a partir da base de dados de delegacias. Foram consideradas apenas as unidades de polícia da cidade do Rio de Janeiro. O painel acima e à esquerda trata do total de crimes contra o patrimônio. Assim, a linha vermelha indica a taxa média anual por 100.000 habitantes deste tipo de ocorrência nas delegacias com UPP. Por outro lado, a linha azul contém a mesma informação para as unidades de polícia sem UPP. Os demais painéis são idênticos. A única diferença é que o painel acima e à direita trata do total de roubos, o abaixo e à esquerda é referente ao total de outros crimes violentos e o abaixo e à direita foca nas lesões corporais dolosas. 47 FIGURA V – ESTUDO DE EVENTO AO REDOR PACIFICAÇÃO PARA CRIMES VIOLENTOS E PARA OUTROS CRIMES VIOLENTOS Apreensão de Drogas 0 -.5 Parâmetro Estimado 0 -.2 -.4 -1 -.6 Parâmetro Estimado .5 .2 Atividade Policial Total -11 à -13 -8 à -10 -5 à -7 -2 à -4 2à4 5à7 8 à 10 11 à 13 -11 à -13 -8 à -10 -5 à -7 Meses Depois de Zero (Zero é o Mês Anterior à Invasão) -2 à -4 2à4 5à7 8 à 10 11 à 13 Meses Depois de Zero (Zero é o Mês Anterior à Invasão) Total de Crimes Violentos 0 -.5 -1 -1.5 -1 Parâmetro Estimado 0 -.5 Parâmetro Estimado .5 .5 Autos de Resistência -11 à -13 -8 à -10 -5 à -7 -2 à -4 2à4 5à7 8 à 10 11 à 13 -11 à -13 -8 à -10 -5 à -7 Meses Depois de Zero (Zero é o Mês Anterior à Invasão) -2 à -4 2à4 5à7 8 à 10 11 à 13 Meses Depois de Zero (Zero é o Mês Anterior à Invasão) Notas. Os gráficos acima foram gerados a partir da base de dados de delegacias. Foram consideradas apenas as unidades de polícia da cidade do Rio de Janeiro. Os pontos vermelhos indicam parâmetros associados à indicadoras trimestrais que foram obtidos a partir de regressões de poisson (o Apêndice E fornece uma explicação detalhada destas especificações). Optou-se por utilizar indicadoras trimestrais (no lugar de mensais) para reduzir o ruído dos resultados. A indicadora do trimestre contendo o mês da invasão foi omitida. As linhas azuis caracterizam o intervalo de confiança ao nível de 95% das estimativas pontuais. O painel acima e à esquerda foca na atividade policial total, o acima e à direita analisa a apreensão de drogas, o abaixo e à esquerda estuda o total de crimes violentos e o abaixo e à direita trata dos autos de resistência. 48 FIGURA VI – ESTUDO DE EVENTO AO REDOR PACIFICAÇÃO PARA CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO E PARA A ATIVIDADE POLICIAL Total de Crimes Contra o Patrimônio 0 -.1 Parâmetro Estimado -.3 -.2 .05 0 -.05 -.1 Parâmetro Estimado .1 .1 Total de Roubos -11 à -13 -8 à -10 -5 à -7 -2 à -4 2à4 5à7 8 à 10 11 à 13 -11 à -13 -8 à -10 -5 à -7 -2 à -4 2à4 5à7 8 à 10 11 à 13 Meses Depois de Zero (Zero é o Mês Anterior à Invasão) Meses Depois de Zero (Zero é o Mês Anterior à Invasão) Estupro -11 à -13 -8 à -10 -5 à -7 -.5 0 Parâmetro Estimado .2 .1 0 -.1 -.2 Parâmetro Estimado .5 .3 Total de Outros Crimes Violentos -2 à -4 2à4 5à7 8 à 10 11 à 13 -11 à -13 -8 à -10 -5 à -7 -2 à -4 2à4 5à7 8 à 10 11 à 13 Meses Depois de Zero (Zero é o Mês Anterior à Invasão) Meses Depois de Zero (Zero é o Mês Anterior à Invasão) Notas. Os gráficos acima foram gerados a partir da base de dados de delegacias. Foram consideradas apenas as unidades de polícia da cidade do Rio de Janeiro. Os pontos vermelhos indicam parâmetros associados à indicadoras trimestrais que foram obtidos a partir de regressões de poisson (o Apêndice E fornece uma explicação detalhada destas especificações). Optou-se por utilizar indicadoras trimestrais (no lugar de mensais) para reduzir o ruído dos resultados. A indicadora do trimestre contendo o mês da invasão foi omitida. As linhas azuis caracterizam o intervalo de confiança ao nível de 95% das estimativas pontuais. O painel acima e à esquerda foca no total de crimes contra o patrimônio, o acima e à direita analisa o total de roubos, o abaixo e à esquerda estuda o total de outros crimes violentos e o abaixo e à direita trata do estupro. 49 TABELA I ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DE CARACRÍSTICAS DOS SETORES CENSITÁRIOS - FAVELAS E OUTRAS ÁREAS (COM UPP VS SEM UPP) Favelas Sem UPP Proporção dos Chefes de Domícilio que são Alfabetizados Proporção dos Chefes de Domicílio que são Homens Porcentagem de Negros na População Proporção da População entre 15 e 24 Anos Número de Moradores do Domicílio Proporção dos Domicílios Localizados em Rua com Iluminação Pública Proporção dos Domicílios Localizados em Rua Pavimentada Proporção dos Domicílios em que Existe Lixo Acumulado nos Logradouros Proporção dos Domicílios com Rede Geral de Distribuição de Água Proporção dos Domicílios com Acesso à Rede de Esgoto Renda per Capita Número de Setores Censitários Outras Áreas Com UPP Diferença Sem UPP Com UPP Diferença (1) (2) (2)-(1) (4) (5) (5)-(4) 0,92 (0,001) 0,53 (0,004) 0,16 (0,002) 0,18 (0,000) 3,31 (0,010) 0,34 (0,013) 0,30 (0,013) 0,06 (0,006) 0,41 (0,015) 0,34 (0,013) 449,25 (4,106) 1059 0,91 (0,001) 0,54 (0,003) 0,17 (0,003) 0,20 (0,001) 3,31 (0,014) 0,19 (0,011) 0,18 (0,011) 0,04 (0,005) 0,25 (0,012) 0,22 (0,012) 464,29 (3,433) 1160 -0,006 (0,002) 0,002 (0,005) 0,008 (0,004) 0,011 (0,001) -0,005 (0,018) -0,158 (0,017) -0,123 (0,017) -0,020 (0,007) -0,164 (0,019) -0,115 (0,018) 15,041 (5,329) 0,98 (0,000) 0,55 (0,002) 0,11 (0,001) 0,15 (0,000) 2,98 (0,005) 0,94 (0,002) 0,91 (0,003) 0,04 (0,002) 0,97 (0,002) 0,88 (0,003) 1273,49 (18,024) 4445 0,98 (0,000) 0,52 (0,002) 0,09 (0,001) 0,14 (0,001) 2,79 (0,007) 0,97 (0,002) 0,97 (0,002) 0,04 (0,003) 0,98 (0,002) 0,94 (0,003) 1858,89 (25,262) 3531 0,006 (0,001) -0,023 (0,002) -0,02 (0,001) -0,01 (0,001) -0,195 (0,008) 0,031 (0,003) 0,061 (0,004) 0,006 (0,003) 0,012 (0,003) 0,058 (0,005) 585,396 (30,316) Notas. As estatísticas descritivas foram geradas a partir do CENSO de 2010. A amostra contém todos os setores censitários da cidade do Rio de Janeiro. Os setores censitários foram alocados para delegacias de polícia e, posterioemente, divididos entre pacificados e não pacificados. O erro-padrão aparece entre parênteses. 50 TABELA II ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DAS VARIÁVEIS DE CRIME Atividade Policial Total Prisões Apreensão de Drogas Apreensão de Armas Total de Crimes Violentos Homicídios Autos de Resistência Total de Crimes Contra o Patrimônio Total de Roubos Total de Furtos Número de Observações Favelas Delegacias Disque-Denúncia (1) (2) (3) 74,035 35,795 (9,080) (3,107) 18,223 14,460 (3,083) (1,482) 26,536 10,871 (3,571) (1,143) 29,276 10,465 (3,825) (1,146) 15,707 5,769 (2,152) (0,596) 8,377 4,271 (1,553) (0,472) 7,331 1,498 (1,373) (0,195) 154,253 767,391 (18,057) (129,929) 100,056 301,767 (12,700) (43,333) 54,197 465,625 (6,119) (87,188) 216 468 Notas. As estatísticas descritivas foram geradas a partir das bases de favelas, de delegacias e de bairros. As duas primeiras são fornecidas pelo ISP e a última é disponibilizada pelo Disque-Denúncia. Somente o ano de 2007 e os dados referentes à cidade do Rio de Janeiro foram considerados para gerar as informações apresentadas nesta tabela. As duas primeiras colunas contém taxas mensais por 100,000 habitantes. A terceira coluna fornece a proporção de meses com ocorrência. O erro-padrão aparece entre parênteses. 51 TABELA II ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DAS VARIÁVEIS DE CRIME (CONTINUAÇÃO) Total de Outros Crimes Violentos Tentativa de Homicídio Lesão Corporal Dolosa Estupro Favelas Delegacias DisqueDenúncia (1) (2) (3) 66,014 69,163 (7,055) (7,549) 8,184 3,097 (1,326) (0,288) 55,493 65,025 (6,194) (7,272) 2,337 1,041 (0,578) (0,270) 0,716 Indicadora de Denúncias Contra a Polícia (0,011) 0,174 Indicadora de Abuso de Autoridade (0,009) 0,665 Indicadora de Desvio de Conduta (0,012) 0,328 Indicadora de Corrupção (0,011) 0,806 Indicadora de Denúncias Sobre Violência (0,010) 0,787 Indicadora de Porte Ilegal de Armas (0,010) 0,393 Indicadora de Uso Ilegal de Armas (0,012) 0,127 Indicadora de Conflitos entre Facções (0,008) Número de Observações 216 468 1668 Notas. As estatísticas descritivas foram geradas a partir das bases de favelas, de delegacias e de bairros. As duas primeiras são fornecidas pelo ISP e a última é disponibilizada pelo Disque-Denúncia. Somente o ano de 2007 e os dados referentes à cidade do Rio de Janeiro foram considerados para gerar as informações apresentadas nesta tabela. As duas primeiras colunas contém taxas mensais por 100,000 habitantes. A terceira coluna fornece a proporção de meses com ocorrência. O erro-padrão aparece entre parênteses. 52 TABELA III IMPACTO DA PACIFICAÇÃO NA POLÍCIA (1) Variável Dependente: Atividade Policial Total R-quadrado† (2) (3) (4) (6) Base de Favelas Base de Delegacias Base do Disque-Denúncia Poisson (tratamento = dummy) Poisson (tratamento = % área pacificada) MPL (tratamento = % área pacificada) 1,016 0,951 (0,150)*** (0,131)*** 0,614 0,634 0,198 (0,167) 0,604 -0,000 (0,142) 0,664 R-quadrado† 1,253 1,096 (0,138)*** (0,117)*** 0,577 0,591 0,104 (0,211) 0,579 -0,076 (0,187) 0,651 Variável Dependente: Apreensão de Drogas R-quadrado† 1,419 1,269 (0,168)*** (0,127)*** 0,593 0,619 0,502 (0,246)** 0,553 0,375 (0,202)* 0,592 Variável Dependente: Apreensão de Armas R-quadrado† -0,674 (0,311)** 0,278 -0,338 (0,219) -0,575 (0,363) 0,421 0,445 Variável Dependente: Prisões (5) -0,463 (0,324) 0,293 Variável Dependente: Denúncias Contra a Polícia R-quadrado† 0,011 (0,029) 0,414 0,038 (0,028) 0,423 Variável Dependente: Abuso de Autoridade R-quadrado† 0,026 (0,027) 0,212 0,086 (0,034)** 0,225 Variável Dependente: Desvio de Conduta R-quadrado† 0,024 (0,023) 0,375 0,079 (0,041)* 0,386 0,014 (0,045) 0,327 0,088 (0,046)* 0,342 Variável Dependente: Corrupção R-quadrado† Observações Efeito fixo de mês Efeito fixo por unidade‡ Tendência por unidade‡ 1296 1296 3666 3666 13344 13344 X X X X X X X X X X X X X X X Notas. Erro-padrão entre parênteses (agrupado por favela na base de favelas, por delegacia na base de delegacia e de acordo com a metodologia descrita no Apêndice D na base do Disque-Denúncia). ‡Unidade é a favela (na base de comunidades), a delegacia (na base de unidades de polícia) e o bairro (na base do DisqueDenúncia). †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson (caso contrário é o próprio r-quadrado). * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. 53 TABELA IV IMPACTO DA PACIFICAÇÃO NA VIOLÊNCIA (1) (2) (3) Base de Favelas Base de Delegacias Poisson (tratamento = dummy) Poisson (tratamento = % área pacificada) -1,021 -0,890 Variável Dependente: Total de Crimes Violentos (0,184)*** (0,189)*** R-quadrado† 0,331 0,338 Variável Dependente: Homicídios R-quadrado† Variável Dependente: Autos de Resistência R-quadrado† (4) -0,488 (0,272)* 0,320 -0,402 (0,263) 0,327 (6) Base do Disque-Denúncia MPL (tratamento = % área pacificada) -0,705 -0,532 (0,104)*** (0,159)*** 0,326 0,333 -0,458 (0,105)*** 0,293 -1,765 -1,495 (0,306)*** (0,467)*** 0,331 0,351 (5) -0,262 (0,164) 0,299 -1,501 -1,358 (0,267)*** (0,377)*** 0,279 0,295 Variável Dependente: Denúncias Sobre Violência R-quadrado† -0,045 (0,036) 0,503 -0,029 (0,032) 0,519 Variável Dependente: Porte Ilegal de Armas R-quadrado† -0,070 (0,040)* 0,483 -0,031 (0,041) 0,500 Variável Dependente: Uso Ilegal de Armas R-quadrado† -0,149 (0,041)*** 0,302 -0,171 (0,046)*** 0,319 Variável Dependente: Conflitos Entre Facções R-quadrado† -0,149 (0,045)*** -0,134 (0,040)*** 0,237 0,283 Observações Efeito fixo de mês Efeito fixo por unidade‡ Tendência por unidade‡ 1296 1296 3666 3666 13344 13344 X X X X X X X X X X X X X X X Notas. Erro-padrão entre parênteses (agrupado por favela na base de favelas, por delegacia na base de delegacia e de acordo com a metodologia descrita no Apêndice D na base do Disque-Denúncia). ‡Unidade é a favela (na base de comunidades), a delegacia (na base de unidades de polícia) e o bairro (na base do DisqueDenúncia). †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson (caso contrário é o próprio r-quadrado). * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. 54 TABELA V IMPACTO DA PACIFICAÇÃO NOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (1) Variável Dependente: Total de Crimes Contra o Patrimônio R-quadrado† (2) (3) (4) Base de Favelas Base de Delegacias Poisson (tratamento = dummy) Poisson (tratamento = % área pacificada) 0,106 (0,100) 0,707 0,100 (0,087) 0,728 -0,088 (0,057) 0,918 -0,057 (0,045) 0,928 -0,149 (0,119) 0,703 -0,120 (0,134) 0,717 -0,344 (0,087)*** 0,849 -0,279 (0,074)*** 0,866 R-quadrado† 0,337 (0,106)*** 0,575 0,312 (0,078)*** 0,589 -0,040 (0,051) 0,922 0,039 (0,044) 0,928 Observações 1296 1296 3666 3666 X X X X X X X X X X Variável Dependente: Total de Roubos R-quadrado† Variável Dependente: Total de Furtos Efeito fixo de mês Efeito fixo por unidade‡ Tendência por unidade‡ Notas. Erro-padrão entre parênteses (agrupado por favela na base de favelas e por delegacia na base de delegacias). ‡Unidade é a favela (na base de comunidades) e a delegacia (na base de unidades de polícia). †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson (caso contrário é o próprio r-quadrado). * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. 55 TABELA VI IMPACTO DA PACIFICAÇÃO EM OUTROS CRIMES VIOLENTOS (1) Variável Dependente: Total de Outros Crimes Violentos R-quadrado† (2) (3) (4) Base de Favelas Base de Delegacias Poisson (tratamento = dummy) Poisson (tratamento = % área pacificada) 0,751 (0,093)*** 0,634 0,726 (0,089)*** 0,643 0,154 (0,086)* 0,535 0,326 (0,093)*** 0,566 0,455 (0,289) 0,296 0,494 (0,259)* 0,320 -0,300 (0,160)* 0,159 0,113 (0,195) 0,179 0,775 (0,097)*** 0,624 0,752 (0,098)*** 0,634 0,190 (0,090)** 0,532 0,345 (0,095)*** 0,563 0,824 (0,185)*** 0,272 0,120 (0,103) 0,217 (0,116)* R-quadrado† 0,905 (0,196)*** 0,260 0,281 0,288 Observações 1296 1296 3666 3666 X X X X X X X X X X Variável Dependente: Tentativa de Homicídio R-quadrado† Variável Dependente: Lesão Corporal Dolosa R-quadrado† Variável Dependente: Estupro Efeito fixo de mês Efeito fixo por unidade‡ Tendência por unidade‡ Notas. Erro-padrão entre parênteses (agrupado por favela na base de favelas e por delegacia na base de delegacias). ‡Unidade é a favela (na base de comunidades) e a delegacia (na base de unidades de polícia). †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson (caso contrário é o próprio r-quadrado). * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. 56 TABELA VII IMPACTO DA PACIFICAÇÃO NA POLÍCIA (1) (2) Base de Favelas (3) Base de Delegacias (4) (5) Base do Disque-Denúncia MQO (tratamento = dummy) MQO (tratamento = % área pacificada) Poisson (controle = resto do estado; tratamento = % área pacificada) 0,824 (0,140)*** 0,650 -0,038 (0,165) 0,822 0,206 (0,118)* 0,458 0,602 (0,112)*** 0,761 -0,177 (0,216) 0,805 0,052 (0,170) 0,412 0,785 Variável Dependente: Apreensão de Drogas (0,135)*** 0,715 R-quadrado† 0,204 (0,188) 0,802 0,600 (0,173)*** 0,485 -0,249 (0,144)* 0,695 -0,223 (0,339) 0,260 MQO (tratamento = % área pacificada) MPL (tratamento = dummy) Variável Dependente: Denúncias Contra a Polícia R-quadrado† 0,235 (0,094)** 0,721 0,024 (0,028) 0,423 Variável Dependente: Abuso de Autoridade R-quadrado† 0,086 (0,039)** 0,939 0,084 (0,036)** 0,225 Variável Dependente: Desvio de Conduta R-quadrado† 0,234 (0,083)*** 0,746 0,076 (0,034)** 0,386 0,070 (0,078) 0,851 0,066 (0,039)* 0,342 Variável Dependente: Atividade Policial Total R-quadrado† Variável Dependente: Prisões R-quadrado† Variável Dependente: Apreensão de Armas R-quadrado† -0,134 (0,085) 0,605 Variável Dependente: Corrupção R-quadrado† Observações Efeito fixo de mês Efeito fixo por unidade‡ Tendência por unidade‡ 1296 3666 8178 13344 13344 X X X X X X X X X X X X X X X Notas. Erro-padrão entre parênteses (agrupado por favela na base de favelas, por delegacia na base de delegacia e de acordo com a metodologia descrita no Apêndice D na base do Disque-Denúncia). ‡Unidade é a favela (na base de comunidades), a delegacia (na base de unidades de polícia) e o bairro (na base do DisqueDenúncia). †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson (caso contrário é o próprio r-quadrado). * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. 57 TABELA VIII IMPACTO DA PACIFICAÇÃO NA VIOLÊNCIA (1) (2) Base de Favelas (3) Base de Delegacias (4) (5) Base do Disque-Denúncia MQO (tratamento = % área pacificada) MPL (tratamento = dummy) Variável Dependente: Denúncias Sobre Violência R-quadrado† -0,182 (0,123) 0,728 -0,014 (0,026) 0,519 Variável Dependente: Porte Ilegal de Armas R-quadrado† -0,158 (0,112) 0,746 -0,013 (0,034) 0,500 Variável Dependente: Uso Ilegal de Armas R-quadrado† -0,188 (0,052)*** 0,851 -0,132 (0,039)*** 0,319 Variável Dependente: Conflitos Entre Facções R-quadrado† -0,104 (0,048)** 0,914 -0,124 (0,038)*** 0,283 Variável Dependente: Total de Crimes Violentos R-quadrado† Variável Dependente: Homicídios R-quadrado† Variável Dependente: Autos de Resistência R-quadrado† Observações Efeito fixo de mês Efeito fixo por unidade‡ Tendência por unidade‡ MQO (tratamento = dummy) MQO (tratamento = % área pacificada) Poisson (controle = resto do estado; tratamento = % área pacificada) -0,153 (0,048)*** 0,725 -0,264 (0,111)** 0,677 -0,711 (0,127)*** 0,261 -0,047 (0,047) 0,800 -0,093 (0,101) 0,673 -0,401 (0,132)*** 0,237 -0,134 (0,033)*** 0,794 -0,196 (0,092)** 0,708 -1,407 (0,375)*** 0,395 1296 3666 8178 13344 13344 X X X X X X X X X X X X X X X Notas. Erro-padrão entre parênteses (agrupado por favela na base de favelas, por delegacia na base de delegacia e de acordo com a metodologia descrita no Apêndice D na base do Disque-Denúncia). ‡Unidade é a favela (na base de comunidades), a delegacia (na base de unidades de polícia) e o bairro (na base do DisqueDenúncia). †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson (caso contrário é o próprio r-quadrado). * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. 58 TABELA IX IMPACTO DA PACIFICAÇÃO NOS DESAPARECIDOS (1) (2) (3) Base de Favelas (4) (5) Base de Delegacias Poisson (tratamento = dummy) MQO (tratamento = dummy) Poisson (tratamento = % área pacificada) MQO (tratamento = % área pacificada) Poisson (controle = resto do estado; tratamento = % área pacificada) R-quadrado† 0,025 (0,202) 0,261 0,005 (0,050) 0,735 0,208 (0,131) 0,187 0,103 (0,106) 0,667 0,022 (0,129) 0,128 Observações 1296 1296 3666 3666 8178 X X X X X X X X X X X X X X X Variável Dependente: Desaparecidos 59 Efeito fixo de mês Efeito fixo por unidade‡ Tendência por unidade‡ Notas. Erro-padrão entre parênteses (agrupado por favela na base de favelas e por delegacia na base de delegacias). ‡Unidade é a favela (na base de comunidades) e a delegacia (na base de unidades de polícia). †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson (caso contrário é o próprio r-quadrado). * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. TABELA X IMPACTO DA PACIFICAÇÃO NOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (1) (2) (3) Base de Delegacias Base de Favelas MQO (tratamento = dummy) MQO (tratamento = % área pacificada) Poisson (controle = resto do estado; tratamento = % área pacificada) 0,056 (0,078) 0,810 -0,023 (0,107) 0,912 -0,067 (0,041) 0,911 -0,157 (0,105) 0,818 -0,220 (0,119)* 0,898 -0,178 (0,067)*** 0,901 R-quadrado† 0,216 (0,061)*** 0,762 0,059 (0,092) 0,943 0,005 (0,042) 0,873 Observações 1296 3666 8178 X X X X X X X X X Variável Dependente: Total de Crimes Contra o Patrimônio R-quadrado† Variável Dependente: Total de Roubos R-quadrado† Variável Dependente: Total de Furtos Efeito fixo de mês Efeito fixo por unidade‡ Tendência por unidade‡ Notas. Erro-padrão entre parênteses (agrupado por favela na base de favelas e por delegacia na base de delegacias). ‡Unidade é a favela (na base de comunidades) e a delegacia (na base de unidades de polícia). †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson (caso contrário é o próprio r-quadrado). * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. 60 TABELA XI IMPACTO DA PACIFICAÇÃO EM OUTROS CRIMES VIOLENTOS (1) (2) (3) Base de Delegacias Base de Favelas MQO (tratamento = dummy) MQO (tratamento = % área pacificada) Poisson (controle = resto do estado; tratamento = % área pacificada) 0,642 (0,078)*** 0,724 0,222 (0,102)** 0,859 0,294 (0,083)*** 0,411 0,070 (0,065) 0,698 0,108 (0,109) 0,542 -0,165 (0,203) 0,161 0,664 (0,076)*** 0,724 0,238 (0,103)** 0,860 0,320 (0,083)*** 0,409 R-quadrado† 0,114 (0,028)*** 0,781 -0,038 (0,087) 0,721 0,390 (0,118)*** 0,220 Observações 1296 3666 8178 X X X X X X X X X Variável Dependente: Total de Outros Crimes Violentos R-quadrado† Variável Dependente: Tentativa de Homicídio R-quadrado† Variável Dependente: Lesão Corporal Dolosa R-quadrado† Variável Dependente: Estupro Efeito fixo de mês Efeito fixo por unidade‡ Tendência por unidade‡ Notas. Erro-padrão entre parênteses (agrupado por favela na base de favelas e por delegacia na base de delegacias). ‡Unidade é a favela (na base de comunidades) e a delegacia (na base de unidades de polícia). †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson (caso contrário é o próprio r-quadrado). * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. 61 TABELA XII TESTES DE FALSIFICAÇÃO (1) (2) (3) Base de Favelas (4) (5) Base de Delegacias 62 Poisson (tratamento = dummy) MQO (tratamento = dummy) Poisson (tratamento = % área pacificada) MQO (tratamento = % área pacificada) Poisson (controle = resto do estado; tratamento = % área pacificada) Variável Dependente: Total de Crimes Culposos R-quadrado† 0,058 (0,130) 0,550 0,036 (0,050) 0,741 0,078 (0,050) 0,560 0,087 (0,088) 0,822 0,036 (0,051) 0,418 Variável Dependente: Homicídio Culposo R-quadrado† -0,231 (0,306) 0,559 -0,011 (0,020) 0,946 -0,053 (0,145) 0,154 -0,021 (0,067) 0,671 -0,075 (0,144) 0,184 Variável Dependente: Lesão Corporal Culposa R-quadrado† 0,065 (0,142) 0,542 0,033 (0,050) 0,742 0,082 (0,049)* 0,555 0,092 (0,086) 0,820 0,038 (0,049) 0,414 1296 1296 3666 3666 8178 X X X X X X X X X X X X X X X Observações Efeito fixo de mês Efeito fixo por unidade‡ Tendência por unidade‡ Notas. Erro-padrão entre parênteses (agrupado por favela na base de favelas e por delegacia na base de delegacias). ‡Unidade é a favela (na base de comunidades) e a delegacia (na base de unidades de polícia). †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson (caso contrário é o próprio r-quadrado). * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. TABELA XIII MEDINDO A EXTERNALIDADE DA PACIFICAÇÃO PARA O RESTO DA CIDADE (CRIMES VIOLENTOS - RESTO DO ESTADO COMO GRUPO DE CONTROLE) Regressões de Poisson Total de Crimes Violentos 63 Dummy 2009*Dummy do Resto da Cidade Dummy 2010*Dummy do Resto da Cidade Dummy 2011*Dummy do Resto da Cidade Dummy 2012*Dummy do Resto da Cidade R-quadrado† Observações Efeito fixo de mês Efeito fixo de delegacia Homicídios Autos de Resistência Total de Crimes Contra o Patrimônio Total de Roubos Total de Furtos Total de Outros Crimes Violentos Tentativa de Homicídio Lesão Corporal Dolosa Estupro (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) 0,059 (0,087) 0,054 (0,084) -0,050 (0,082) -0,224 (0,097)** 0,274 0,064 (0,098) 0,040 (0,093) -0,008 (0,086) -0,236 (0,096)** 0,234 0,040 (0,203) 0,204 (0,244) -0,198 (0,277) 0,510 (0,295)* 0,416 0,060 (0,035)* 0,065 (0,038)* 0,090 (0,043)** 0,112 (0,050)** 0,866 -0,105 (0,050)** -0,081 (0,053) -0,049 (0,071) -0,021 (0,072) 0,876 0,167 (0,052)*** 0,210 (0,052)*** 0,274 (0,055)*** 0,303 (0,069)*** 0,811 0,106 (0,042)** 0,093 (0,041)** 0,145 (0,056)*** 0,148 (0,063)** 0,300 0,205 (0,115)* 0,079 (0,133) -0,033 (0,118) -0,035 (0,157) 0,134 0,113 (0,041)*** 0,102 (0,039)*** 0,163 (0,060)*** 0,166 (0,066)** 0,298 -0,259 (0,099)*** 0,010 (0,086) 0,059 (0,073) 0,110 (0,074) 0,207 7896 7896 7896 7896 7896 7896 7896 7896 7896 7896 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Tendência por delegacia Notas. Erro-padrão entre parênteses, agrupado por delegacia. A amostra consiste de delegacias da cidade do Rio de Janeiro que não foram afetadas pela pacificação e de delegacias do Resto do Estado. †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson. * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. TABELA XIV MEDINDO A EXTERNALIDADE DA PACIFICAÇÃO PARA A BAIXADA (CRIMES VIOLENTOS - RESTO DO ESTADO COMO GRUPO DE CONTROLE) Regressões de Poisson 64 Dummy 2009*Dummy da Baixada Dummy 2010*Dummy da Baixada Dummy 2011*Dummy da Baixada Dummy 2012*Dummy da Baixada R-quadrado† Observações Efeito fixo de mês Efeito fixo de delegacia Homicídios Autos de Resistência Total de Crimes Contra o Patrimônio Total de Roubos Total de Furtos Total de Outros Crimes Violentos Tentativa de Homicídio Lesão Corporal Dolosa Estupro (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) 0,089 (0,080) 0,104 (0,078) 0,044 (0,080) -0,089 (0,091) 0,242 0,086 (0,079) 0,083 (0,082) 0,072 (0,078) -0,047 (0,086) 0,214 0,116 (0,208) 0,322 (0,218) -0,131 (0,306) 0,051 (0,329) 0,348 0,131 (0,030)*** 0,144 (0,035)*** 0,191 (0,041)*** 0,227 (0,046)*** 0,816 0,078 (0,045)* 0,113 (0,054)** 0,238 (0,065)*** 0,328 (0,064)*** 0,841 0,118 (0,037)*** 0,183 (0,044)*** 0,219 (0,053)*** 0,222 (0,064)*** 0,735 0,095 (0,033)*** 0,095 (0,050)* 0,170 (0,053)*** 0,169 (0,063)*** 0,326 0,048 (0,087) 0,239 (0,087)*** 0,309 (0,087)*** 0,194 (0,119) 0,121 0,102 (0,034)*** 0,083 (0,051) 0,167 (0,053)*** 0,163 (0,064)** 0,326 -0,103 (0,096) 0,083 (0,112) 0,024 (0,117) 0,159 (0,118) 0,219 8554 8554 8554 8554 8554 8554 8554 8554 8554 8554 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Total de Crimes Violentos Tendência por delegacia Notas. Erro-padrão entre parênteses, agrupado por delegacia. A amostra consiste de delegacias da Baixada e de delegacias do Resto do Estado. †R-quadrado fornece o pseudo r-quadrado nas regressões de poisson. * Significante a 10%. ** Significante a 5%. *** Significante a 1%. Apêndice A Esse apêndice explica a metodologia utilizada para calcular a população mensal de cada comunidade (para a base de dados de favelas), de cada delegacia (para a base de dados das unidades policiais) e de cada bairro (para a base de dados do DD). Em todos os casos a população total em 2000 e em 2010 foi calculada. Note que a população total da base de dados de favela foi obtida a partir da soma da população das 18 comunidades existentes nesse banco de informações. 41 A população total da base de dados das delega- cias foi encontrada a partir da soma da população das 136 unidades de polícia contidas 42 nesse banco de informações. A população total da base de dados do DD foi encontrada 43 a partir da soma da população dos 139 bairros presentes nesse banco de informações. Uma interpolação log-linear foi realizada para obter os valores mensais da população total em cada caso. Mais precisamente a interpolação log-linear consiste em encontrar o coeciente angular e o intercepto de uma reta que cruza dois pontos. O primeiro ponto é o logaritmo da população total da base considerada (favela, delegacia ou bairro) em agosto de 2000 e o segundo ponto é o logaritmo da população total da base analisada (favela, delegacia ou bairro) em agosto de 2010. Note que o IBGE considera agosto como o mês-base tanto para o censo de 2000 quanto para o censo de 2010. A Equação 8 apresenta o método usado para obter o coeciente angular da interpolação log-linear. Além disso, a Equação 9 descreve a fórmula considerada para calcular o intercepto da interpolação log-linear. α = [log(poptotalago2010) − log(poptotalago2000)]/120 (8) β = log(poptotalago2000) (9) log(poptotalago2010) é o logaritmo neperiano da população total da base (favela, delegacia ou bairro) em agosto de 2010 e log(poptotalago2000) é o logaritmo neperiano da Onde população total da base (favela, delegacia ou bairro) em agosto de 2000. Note que 120 é 41 Note que os censos de 2000 e de 2010 fornecem a população de todas as favelas da cidade do Rio de Janeiro nesses anos. Logo, essas bases de dados foram utilizadas para calcular a população das 18 comunidades presentes na base de favelas em 2000 e em 2010. 42 A população de cada delegacia em 2000 e em 2010 foi calculada a partir dos censos de 2000 e de 2010 fornecidos pele IBGE. A metodologia utilizada para relacionar os setores censitários de cada censo com a área de cada unidade de polícia é descrita em detalhes no Apêndice B abaixo. 43 A população de cada bairro em 2000 e em 2010 foi obtida a partir dos censos de 2000 e de 2010 fornecidos pele IBGE. A metodologia utilizada para relacionar os setores censitários de cada censo com cada bairro é descrita em detalhes no Apêndice C abaixo. 65 o número de meses entre agosto de 2000 e agosto de 2010. A Equação 10 abaixo pode ser usada para obter o população total do banco de informações (favela, delegacia ou bairro) em todos os meses entre agosto de 2000 e agosto de 2010 (essa fórmula também serve para a realização de extrapolações com o intuito de calcular a população total de cada base nos meses posteriores à agosto de 2010). Na fórmula abaixo, x é denido como o número de meses desde agosto de 2000. Então a população total de junho de 2001 é calculada ao considerar x = 10, na Equação 10. log(poptotal(x)) = x ∗ α + β (10) Em seguida é possível determinar a população mensal para cada uma das 18 comunidades presentes na base de dados de favelas, para todas as 136 delegacias existentes no banco de informações das unidades policiais e para cada um dos 139 bairros contidos nas estatísticas fornecidas pelo DD. Para fazer isso é necessário encontrar os coecientes µi θi e apresentados nas Equações 11 e 12 abaixo. Note que dessa maneira são calculados coe- cientes angulares e interceptos especícos para cada unidade i (onde uma unidade i pode ser uma favela, uma delegacia ou um bairro dependendo da base de dados considerada). θi = (popago2010i − popago2000i )/(poptotalago2010 − poptotalago2000) (11) µi = popago2000i + θi ∗ poptotalago2000 (12) Onde popago2010i população da unidade i e µi é a população da unidade i em agosto de 2000, é o intercepto ligado à unidade i. θi i em agosto de 2010, popago2000i é a é o coeciente angular associado à unidade Além disso, poptotalago2010 e poptotalago2000 são denidas da mesma maneira que nas Equações 8 e 9 acima. A Equação 13 demonstra como os parâmetros mês θi e µi podem ser utilizados para obter a população da unidade i no t. popi (x) = θi ∗ poptotal(x) + µi popi (x) é a população da unidade i um número x de meses depois de agosto de 2000, poptotal(x) é a exponencial de log(poptotal(x)) calculado utilizando a Equação 10, θi é o coeciente angular da unidade i encontrado a partir da Equação 11 e µi é o intercepto da unidade i Onde x (13) é denido como o número de meses desde agosto de 2000, determinado a partir da Equação 12. 66 Apêndice B No texto foi discutido o problema resultante da criação de 6 delegacias novas no período considerado na base de dados das unidades de polícia (janeiro de 2005 até outubro de 2012). Esses estabelecimentos surgiram a partir do desmembramento de outras delegacias. Note que isso diculta a análise dos dados, já que as novas unidades de polícia não teriam registros de crimes anteriores à sua inauguração. Assim optou-se por agregar as delegacias novas com as unidades policiais existentes antes do desmembramento. Esse apêndice explica, em detalhe, as uniões que foram feitas para resolver o problema da separação das delegacias. A delegacia de número 42 foi desmembrada da delegacia de número 16 em abril de 2010. Para lidar com essa diculdade essas duas unidades policiais foram agregadas, gerando a delegacia de número 806. A delegacia de número 67 foi desmembrada da delegacia de número 65 em janeiro de 2011. Para lidar com essa diculdade essas duas unidades policiais foram agregadas, gerando a delegacia de número 807. A delegacia de número 70 foi desmembrada da delegacia de número 71 em janeiro de 2011. Para lidar com essa diculdade essas duas unidades policiais foram agregadas, gerando a delegacia de número 808. A delegacia de número 130 foi desmembrada da delegacia de número 123 em junho de 2008. Para lidar com essa diculdade essas duas unidades policiais foram agregadas, gerando a delegacia de número 809. A delegacia de número 132 foi desmembrada da delegacia de número 126 em janeiro de 2011. Para lidar com essa diculdade essas duas unidades policiais foram agregadas, gerando a delegacia de número 810. Por m, a delegacia de número 148 foi desmembrada da delegacia de número 143 em agosto de 2010. Para lidar com essa diculdade essas duas unidades policiais foram agregadas, gerando a delegacia de número 811. Em seguida, esse apêndice descreve a metodologia utilizada para estabelecer uma correspondência entre os setores censitários (dos censos de 2000 e de 2010) e as áreas sob responsabilidade de cada delegacia. O objetivo do emparelhamento é obter área e a população de todas as delegacias presentes na base de dados das unidades policiais, nos anos de 2000 e de 2010. O ISP fornece um documento contendo a área de atuação de cada unidade policial do estado do Rio de Janeiro. 44 É possível perceber, a partir da análise do arquivo fornecido pela secretaria de segurança pública desse estado, que a maior parte das delegacias são responsáveis por localidades que coincidem com fronteiras políticas. Por exemplo, a unidade de polícia de número 99 é responsável pelo município 44 Esse documento pode ser encontrado no http://urutau.proderj.rj.gov.br/isp_imagens/Uploads/RelacaoAISP.pdf . 67 endereço eletrônico de Itatiaia. A delegacia de número 96 fornece outro exemplo, já que atua nos municípios de Miguel Pereira e Paty do Alferes. Esses casos relacionam unidades de polícia com um único município ou com mais de um município. No entanto, algumas delegacias são responsáveis pelo policiamento e unidades geográcas menores como bairros (ou grupos de bairros) da cidade do Rio de Janeiro. A unidade de polícia de número 10, por exemplo, registra crimes ocorridos nos bairros de Botafogo, Humaitá e Urca. O emparelhamento entre setores censitários e delegacias é trivial quando existe uma coincidência entre a área de responsabilidade da unidade de polícia e as fronteiras denidas por questões institucionais. A discussão abaixo descreve o procedimento que foi adotado nos casos em que houve diculdade em estabelecer essa correspondência. Especicamente, existem sete bairros da cidade do Rio de Janeiro, para os quais, não foi trivial estabelecer o emparelhamento entre delegacias e setores censitários. Cada um desses bairros é atendido por duas ou mais delegacias. Por exemplo, a Tijuca é de responsabilidade da unidade de polícia de número 18, mas também é atendida pela delegacia de número 19. Assim, é necessário determinar que setores censitários pertencentes à Tijuca devem ser alocados para a delegacia de número 18 e quais deles devem ser atribuídos a unidade de número 19. A distância foi o critério adotado para estabelecer a corres- pondência nesses casos. Assim, cada setor censitário dos sete bairros descritos acima foi alocado para a delegacia mais próxima, dentre as responsáveis pela área. As vizinhanças que necessitaram da utilização desse do critério foram Copacabana, Tijuca, Brás de Pina, Centro, Colégio, Penha Circular e Vista Alegre. Todas as delegacias de polícia da cidade do Rio de Janeiro foram geo-referenciadas para poder medir as distâncias entre elas e os setores censitários. Dois arquivos do tipo shapele, disponibilizados pelo IBGE, forneceram a localização geográca dos setores censitários em 2000 e em 2010. O documento fornecido pelo ISP indica que as delegacias de número 12 e 13 são responsáveis por Copacabana. Usando ARCGIS um buer de 1200 metros foi criado ao redor de cada uma dessas unidades de polícia. A distância (1200 metros) foi escolhida buers, mas com a preocupação de englobar Setores censitários localizados no buer da delegacia para garantir uma pequena interseção entre os todos os setores censitários do bairro. de número 12 foram alocados para esta unidade de polícia. O mesmo procedimento foi buer da delegacia de número 13. Em seguida foi realizada uma redução gradual dos buers para conseguir distribuir os setores censitários remanescentes (aqueles localizados na interseção dos buers de 1200 metros) entre as duas delegacias. Essa metodologia foi aplicada usando tanto o shapele de 2000 adotado com os setores censitários localizados no quanto o de 2010. 68 O documento fornecido pelo ISP indica que as delegacias de número 18 e 19 são responsáveis pela Tijuca. Usando ARCGIS um buer de 2100 metros foi criado ao redor de cada uma dessas unidades de polícia. A distância (2100 metros) foi escolhida para garantir uma pequena interseção entre os buers, mas com a preocupação de englobar todos os setores censitários do bairro. Setores censitários localizados no buer da delegacia de número 18 foram alocados para esta unidade de polícia. O mesmo procedimento foi buer da delegacia de número 19. Em seguida foi realizada uma redução gradual dos buers para conseguir distribuir os setores censitários remanescentes (aqueles localizados na interseção dos buers de 2100 metros) entre as duas delegacias. Essa metodologia foi aplicada usando tanto o shapele de 2000 adotado com os setores censitários localizados no quanto o de 2010. O documento fornecido pelo ISP indica que as delegacias de número 22 e 38 são responsáveis por Brás de Pina. Usando ARCGIS um buer de 2200 metros foi criado ao redor de cada uma dessas unidades de polícia. A distância (2200 metros) foi escolhida buers, mas com a preocupação de englobar Setores censitários localizados no buer da delegacia para garantir uma pequena interseção entre os todos os setores censitários do bairro. de número 22 foram alocados para esta unidade de polícia. O mesmo procedimento foi buer da delegacia de número 38. Em seguida foi realizada uma redução gradual dos buers para conseguir distribuir os setores censitários remanescentes (aqueles localizados na interseção dos buers de 2200 metros) entre as duas delegacias. Essa metodologia foi aplicada usando tanto o shapele de 2000 adotado com os setores censitários localizados no quanto o de 2010. O documento fornecido pelo ISP indica que as delegacias de número 27 e 40 são responsáveis pelo bairro do Colégio. Usando ARCGIS um buer de 2000 metros foi criado ao redor de cada uma dessas unidades de polícia. A distância (2000 metros) foi escolhida buers, mas com a preocupação de englobar Setores censitários localizados no buer da delegacia para garantir uma pequena interseção entre os todos os setores censitários do bairro. de número 27 foram alocados para esta unidade de polícia. O mesmo procedimento foi buer da delegacia de número 40. Em seguida foi realizada uma redução gradual dos buers para conseguir distribuir os setores censitários remanescentes (aqueles localizados na interseção dos buers de 2000 metros) entre as duas delegacias. Essa metodologia foi aplicada usando tanto o shapele de 2000 adotado com os setores censitários localizados no quanto o de 2010. O documento fornecido pelo ISP indica que as delegacias de número 22 e 38 são responsáveis pela Penha Circular. Usando ARCGIS um 69 buer de 2400 metros foi criado ao redor de cada uma dessas unidades de polícia. A distância (2400 metros) foi escolhida buers, mas com a preocupação de englobar Setores censitários localizados no buer da delegacia para garantir uma pequena interseção entre os todos os setores censitários do bairro. de número 22 foram alocados para esta unidade de polícia. O mesmo procedimento foi buer da delegacia de número 38. Em seguida foi realizada uma redução gradual dos buers para conseguir distribuir os setores censitários remanescentes (aqueles localizados na interseção dos buers de 2400 metros) entre as duas delegacias. Essa metodologia foi aplicada usando tanto o shapele de 2000 adotado com os setores censitários localizados no quanto o de 2010. O documento fornecido pelo ISP indica que as delegacias de número 27 e 38 são responsáveis por Vista Alegre. No entanto, usando ARCGIS é possível determinar que todos os setores censitários de Vista Alegre são mais próximos da delegacia de número 38 do que da unidade de polícia de número 27. Logo todos os setores censitários de Vista Alegre foram alocados para a delegacia de número 38. Essa correspondência foi obtida tanto com o shapele de 2000 quanto com o de 2010. Esse emparelhamento não afeta os principais resultados obtidos nesse trabalho, já que é mantido em todos os períodos. Além disso, o aumento de área e população da delegacia de número 38 será acompanhado por uma diminuição equivalente dessas variáveis na unidade de polícia de número 27. O documento fornecido pelo ISP indica que as delegacias de número 1, 4 e 5 são responsáveis pelo Centro. Usando ARCGIS um buer de 1100 metros foi criado ao redor de cada uma dessas unidades de polícia. A distância (1100 metros) foi escolhida para garantir uma pequena interseção entre os buers, mas com a preocupação de englobar todos os setores censitários do bairro. Setores censitários localizados no buer da dele- gacia de número 1 foram alocados para esta unidade de polícia. O mesmo procedimento foi adotado com os setores censitários localizados no seguida foi realizada uma redução gradual dos buers buer das delegacias 4 e 5. Em para conseguir distribuir os setores censitários remanescentes (aqueles localizados na interseção dos buers entre as três delegacias. Essa metodologia foi aplicada usando tanto o de 1100 metros) shapele de 2000 quanto o de 2010. Depois de realizar o procedimento descrito acima, ainda foi necessário lidar com três problemas para nalizar o emparelhamento entre setores censitários e as delegacias de polícia. O primeiro problema decorre da existência de dois bairros nos censos de 2000 e de 2010 que não constam no documento disponibilizado pelo ISP. Esses dois bairros são Rocinha e Pitangueiras. Logo, não foi possível estabelecer que delegacias eram de fato responsáveis por essas áreas. A solução foi obtida a partir de ligações feitas pelo 70 autor dessa pesquisa para diversos órgãos da secretaria de segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Nessas chamadas descobriu-se que a unidade de polícia de número 15 é responsável pelo patrulhamento da Rocinha, enquanto a delegacia de número 37 atua no policiamento do bairro de Pitangueiras. Logo, a população e a área da Rocinha foram alocadas para a unidade de polícia de número 15. Por outro lado, a população e área de Pitangueiras foram incluídas nos dados da delegacia de número 37. A segunda diculdade para estabelecer a correspondência entre os setores censitários e as delegacias advém da concretização da emancipação de 6 bairros no período compreendido entre 2000 e 2010. Dessa maneira, esses 6 bairros existem no censo de 2010, mas não aparecem no censo de 2000. Nesse período foram criados os bairros Vasco da Gama, Gericinó, Serra Grande, Santo Antônio, Maravista e Jardim Imbuí. O IBGE explicou que Vasco da Gama separou-se de São Cristóvão entre 2000 e 2010. Além disso, o autor desse trabalho descobriu, a partir de ligações para o ISP, que a delegacia de número 17 sempre foi responsável pelos bairros de Vasco da Gama e de São Cristóvão. Assim, a população e a área de São Cristóvão, em 2000, foram alocadas para a delegacia de número 17. Por outro lado, a área e a população de São Cristóvão e Vasco da Gama, em 2010, foram incluídas nos dados da unidade de polícia de número de 17. O IBGE armou que Gericinó emancipou-se de Bangu entre 2000 e 2010. O autor desse trabalho descobriu, a partir de ligações para o ISP, que a delegacia de número 34 sempre foi responsável pelos bairros de Bangu e Gericinó. Assim, a população e a área de Bangu, em 2000, foram alocadas para a delegacia de número 34. Por outro lado, a área e a população de Bangu e Gericinó, em 2010, foram incluídas nos dados da unidade de polícia de número de 34. Informações disponibilizadas pelo IBGE indicam que o desmembramento de Itaipu resultou na criação dos bairros de Serra Grande, Santo Antônio e Maravista. O ISP explicou que a delegacia de número 81 sempre atuou nos bairros de Itaipu, Serra Grande, Santo Antônio e Maravista. Assim, a população e a área de Itaipu, em 2000, foram alocadas para a delegacia de número 81. Por outro lado, a população e a área de Itaipu, Serra Grande, Santo Antônio e Maravista, em 2010, foram incluídas nos dados da unidade de polícia de número 81. Por m, o IBGE informou que Jardim Imbuí conseguiu emancipar-se de Piratininga entre 2000 e 2010. O ISP armou que a delegacia de número 81 sempre foi responsável pela área dos bairros de Piratininga e Jardim Imbuí. Assim, a população e área de Piratininga, em 2000, foram alocadas para a delegacia de número 81. Por outro lado, a população e a área de Piratininga e Jardim Imbuí, em 2010, foram incluídas nos dados da unidade de polícia de número 81. O terceiro problema enfrentado para realizar o emparelhamento entre setores censi- 71 tários e delegacias de polícia é consequência da emancipação do município de Mesquita. Essa localidade conseguiu separar-se legalmente de Nova Iguaçu em 2001. Assim, o município de Mesquita existe no censo de 2010, mas não aparece no censo de 2000. O ISP informou que a delegacia de número 53 foi responsável pela área que hoje é conhecida como Mesquita durante todo o período entre os dois censos. Para resolver o problema basta determinar a população e a área de Mesquita em 2000 e incluir esses dados na delegacia de número 53 naquele ano. Note que o município de Mesquita é composto pelos bairros de Chatuba, Banco de Areia e Mesquita (essas localidades aparecem no censo 2000 como bairros de Nova Iguaçu). Assim, a população e a área dos bairros de Chatuba, Banco de Areia e Mesquita foram alocados para a unidade de polícia de número 53, em 2000. Por outro lado, a população e a área do município de Mesquita foram incluídas nos dados da delegacia de polícia de número 53, em 2010. Apêndice C Esse apêndice descreve a metodologia utilizada para emparelhar setores censitários e os bairros da cidade do Rio de Janeiro que aparecem na base de dados do DD. O objetivo de estabelecer essa correspondência é obter a população e a área de todas as localidades que estão contidas no banco de informações do DD, nos anos de 2000 e de 2010. Na maior parte dos casos os bairros considerados pelo IBGE são os mesmos presentes nos dados do DD. Sempre que isso ocorre é possível estabelecer a relação entre setores censitários e bairros de forma trivial. A discussão abaixo descreve os procedimentos que foram adotados quando houve diculdade de realizar esse emparelhamento. A primeira decisão tomada para organizar a base de dados do DD não está relacionada com a tentativa de estabelecer uma correspondência entre os setores censitários e os bairros. Existem 13 bairros na região da cidade do Rio de Janeiro conhecida como Ilha do Governador. Esses bairros são muito pequenos e, portanto, as estatísticas criminais da região são difíceis de analisar separadamente. Por este motivo, optou-se por agregar os 13 bairros dessa localidade. A nova região aparece na base de dados com o nome de Ilha do Governador. O segundo problema encontrado ao preparar a base de dados do DD está diretamente ligado com o trabalho de emparelhamento dos setores censitários com os bairros que aparecem nesse banco de informações. Três localidades da cidade do Rio de Janeiro existem no censo de 2000 e no censo de 2010, mas não podem ser encontradas no banco de informações do DD. Esses bairros são a Rocinha, o Complexo do Alemão e a Vista 72 Alegre. A ONG informou que os crimes do Complexo do Alemão são alocados para Bonsucesso, Ramos e Inhaúma. Logo, uma nova região foi criada na base de dados a partir da agregação do Complexo do Alemão, de Bonsucesso, de Ramos e de Inhaúma. A instituição declarou que as ocorrências da Rocinha são incluídas em São Conrado e Gávea. Assim, uma nova unidade foi incluída na base de dados a partir da soma das denúncias da Rocinha, de São Conrado e da Gávea. Por m, o DD explicou que as ligações acerca de Vista Alegre são alocadas para Cordovil. A solução foi desenvolver um novo bairro agregando Vista Alegre e Cordovil. O terceiro desao enfrentado durante a arrumação da base de dados do DD também está relacionado com o procedimento de alocação de setores censitários para os bairros presentes nesse banco de informações. Duas vizinhanças da cidade do Rio de Janeiro aparecem no censo de 2010, mas não aparecem no censo de 2000. Além disso, esses bairros não estão incluídos na base de dados do DD. Essas localidades são Gericinó e Vasco da Gama. 2000 e 2010. Bangu. Já foi dito anteriormente que Gericinó emancipou-se de Bangu entre O DD informou que as denúncias de Gericinó são sempre alocadas em Assim, o problema foi resolvido com a criação de um novo bairro a partir da agregação de Gericinó e Bangu. O leitor deve lembrar que Vasco da Gama separou-se de São Cristóvão entre 2000 e 2010. O DD explicou que as denúncias de Vasco da Gama são sempre incluídas em São Cristóvão. Dessa maneira, optou-se por gerar um novo bairro a partir da união de São Cristóvão e Vasco da Gama. Apêndice D Esse apêndice começa explicando os agrupamentos considerados para calcular o erropadrão das regressões estimadas usando o banco de informações do DD. Note que a pacicação de uma comunidade pode afetar mais de um bairro. Nesses casos, optou-se por considerar o conjunto de bairros impactados pela invasão policial como um único O site cluster. ocial das UPPs indica que em apenas 6 favelas a expulsão de tracantes teve 45 inuência sobre mais de um bairro. Essas comunidades são a Providência, o Cantagalo, o Vidigal, o Andaraí, a Mangueira e o Santa Marta. A ocupação da Providência afetou a Saúde, a Gamboa e o Santo Cristo. Logo, as especicações que utilizam a base de dados do DD consideram esses bairros como um único cluster. 45 Note que o A invasão do Cantagalo teve impacto sobre Ipanema e Copacabana. Então, site ocial das UPPs pode ser acessado a partir do 73 link http://www.upprj.com/ esses dois bairros representam um agrupamento nas regressões feitas utilizando o banco de informações do DD. A implementação do programa no Vidigal inuenciou a criminalidade nos bairros do Leblon e do Vidigal. Assim, essas duas localidades formam um cluster nos modelos estimados com os dados fornecidos pela ONG. A pacicação do Andaraí teve efeito sobre os bairros do Grajaú e do Andaraí. Dessa maneira, as especicações que trabalham com as informações disponibilizadas pelo DD admitem que essas áreas constituem um único agrupamento. A ocupação da Mangueira impactou os bairros de São Cristóvão, do Maracanã, de Benca e da Mangueira. Logo, essas regiões representam um único cluster nas regressões que consideram os dados da ONG. A invasão do Santa Marta teve inuência sobre os bairros de Botafogo e do Humaitá. Então, essas localidades formam um único agrupamento nos modelos estimados com o banco de informações do DD. Por m, o erro-padrão foi agrupado por bairros para todas as outras observações. Em seguida, essa parte do trabalho descreve o método utilizado para gerar as variáveis de tratamento alternativo da base de dados das delegacias. Para desenvolver essas variáveis foi feito o emparelhamento de setores censitários e das áreas de responsabilidade de cada unidade de polícia. Essa correspondência foi estabelecida de acordo com o procedimento descrito no Apêndice B acima. Somente o censo de 2010, disponibilizado pelo IBGE, foi utilizado para gerar as duas variáveis de intensidade de tratamento do banco de informações das delegacias. Note que a primeira variável mede a intensidade do tratamento com base na população e a segunda variável determina o grau de exposição ao tratamento a partir da área. O método desenvolvido para criar a primeira variável alternativa de tratamento é descrito abaixo. Primeiro, calculou-se a população total morando em favelas para cada delegacia de polícia, em 2010 (isso foi feito utilizando a variável do censo de 2010 que indica que setores censitários são favelas). Essa variável recebeu o nome de popf avtotal2010. Em seguida, determinou-se a população de cada UPP, em 2010 (isso foi possível graças a variável do censo de 2010 que fornece o nome de cada comunidade). Finalmente, as datas de invasão possibilitaram a criação de uma variável contendo a população pacicada na delegacia i no mês t. Essa variável é inicialmente igual a zero para todas as unidades de polícia. No entanto, quando uma comunidade é invadida no mês t1 na área da delegacia i1 essa variável passa a assumir o valor da população da favela ocupada (a partir do mês t1 ). No caso de outra UPP ser implementada na área da unidade de polícia i1 (digamos que isso ocorre no mês t2 ) então essa variável passa a ser igual à população das duas comunidades beneciadas pelo programa (a partir do mês t2 ). Essa variável recebeu o nome de popf avpacit . A Equação 14 abaixo apresenta a fórmula usada para calcular 74 a variável de intensidade de tratamento com base na população. Note que essa última porcpopf avpacit e que ela fornece a porcentagem da população i que foi pacicada até o mês t. variável recebeu o nome de de favelas da delegacia porcpopf avpacit = popf avpacit /popf avtotal2010 (14) A segunda variável de intensidade de tratamento utilizada na base de delegacias é bastante semelhante à descrita na Equação 14 acima. A única diferença é que essa variável foi desenvolvida com base na área pacicada. Primeiro, o ARCGIS calculou a área de todos os setores censitários contidos no censo de 2010. A partir da área dos setores censitários e da correspondência estabelecida no Apêndice B acima, foi possível determinar a área total de favelas sob responsabilidade de cada delegacia de polícia. Essa variável areaf avtotal2010. Em seguida, o mesmo procedimento adotado na geração da variável popf avpacit possibilitou a criação da variável areaf avpacit . Note que essa variável contém a área pacicada na unidade de polícia i no mês t. Por m, a Equação 15 abaixo fornece a porcentagem da área de favelas da delegacia i que foi pacicada até o mês t. recebeu o nome de porcareaf avpacit = areaf avpacit /areaf avtotal2010 (15) O mesmo procedimento descrito acima foi adotado para criar as variáveis de intensidade de tratamento da base do DD. A única diferença é que, no banco de informações fornecido pela ONG, os setores censitários foram emparelhados com bairros de acordo com a metodologia descrita no Apêndice C (lembre-se que no caso dos dados das delegacias a correspondência entre setores censitários e unidades de polícia estabeleceu-se de acordo com o procedimento descrito no Apêndice B). Apêndice E Esse trecho da pesquisa descreve as especicações estimadas para gerar os grácos apresentados nas Figuras V e VI. Note que foram utilizados os modelos de poisson des- critos pelas Equações 16 e 17, abaixo. A variável dependente considerada na regressão aparece no título do gráco. Por outro lado, os pontos vermelhos representam as esti- mativas pontuais dos coecientes β2 , β3 , primeiro ponto à esquerda representa o β9 , desse modelo. Vale ressaltar, que o parâmetro β2 , o segundo ponto da esquerda para ... 75 e a direita representa o coeciente β3 e assim sucessivamente. As linhas azuis caracterizam o intervalo de conança ao nível de 95% das estimativas pontuais λit = E[yit |Xit ] (16) ln[λit ] = β0 + β1 ind(−inf /14)it + β2 ind(−13/ − 11)it + β3 ind(−10/ − 8)it + + β4 ind(−7/ − 5)it + β5 ind(−4/ − 2)it + β6 ind(2/4)it + β7 ind(5/7)it + + β8 ind(8/10)it + β9 ind(11/13)it + β10 ind(14/ + inf )it + αi + πt + µi t + ln(popit ) Onde, as variáveis αi , πt , µi t e ln(popit ) (17) têm o mesmo signicado que foi considerado nas Equações 1 e 2 (uma diferença importante é que a variável µi t sempre faz parte do conjunto das variáveis independentes de interesse nos modelos estimados para gerar os grácos das Figuras V e VI). As variáveis ind(−13/ − 11)it , ... e ind(11/13)it são indicadoras trimestrais que procuram capturar a evolução da criminalidade nos períodos ao redor da pacicação. Note que essas variáveis são iguais à zero para todo período t i em todas as delegacias que nunca receberam uma UPP (dado que isso implica que não ocorreu ocupação de nenhuma comunidade na área de responsabilidade da unidade de polícia no mês 1. i). No caso em que houve invasão adotou-se a hipótese de que ela ocorreu Logo a variável ind(−13/ − 11)it -12 e para o mês -13 para todas as delegacias é igual à um para o mês -11, para o mês i em que ocorreu ao menos uma ocupação policial. Essa variável é igual a zero para os demais períodos t nessas unidades de polícia. As demais indicadoras trimestrais foram criadas seguindo o mesmo princípio. variável ind(2/4)it Então a é igual à um para o mês 2, para o mês 3 e para o mês 4 (para as delegacias em que pelo menos uma favela foi invadida pela polícia). Essa indicadora é igual a zero para os outros meses (para as unidades de polícia em que houve expulsão de tracantes de pelo menos uma comunidade). Além disso, a variável ind(−inf / − 14)it é uma indicadora igual à 1 para todos os meses até o mês -14, nas delegacias em que pelo menos uma comunidade foi pacicada (essa variável é igual a zero nas unidades de polícia em que nenhuma favela recebeu UPP). Similarmente, a variável ind(14/ + inf )it é uma indicadora igual à 1 para todos os meses posteriores ao mês 14, para as delegacias em que houve expulsão de tracantes de pelo menos uma comunidade (essa variável é igual à zero nas unidades de polícia em que nenhuma favela foi ocupada por agentes da secretaria de segurança pública). Por m, a variável ind(−1/1)it foi omitida de todas as regressões. Logo, os resultados devem ser 76 interpretados com base nessa variável. 77