III Mostra de Pesquisa
da Pós-Graduação
PUCRS
Candidatos a transplante de pulmão: configurações traumáticas
da vivência de espera pela vida.
Evelise Machado Pinto Waschburger**, Renata Freitas Ribas*, Maria Alice Weber Ferreira*
Mônica Medeiros Kother Macedo***
** Mestranda em Psicologia Clínica, *Auxiliar de Pesquisa, ***Professora Orientadora
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Faculdade de Psicologia, PUCRS,
Resumo
Introdução
O presente estudo tem por finalidade investigar as vicissitudes do traumático em pessoas que
estão na lista de espera, aguardando a realização de um transplante de pulmão. Conforme Camargo,
Schio e Sanchez (2006, 2007), os pacientes considerados ideais para a indicação de transplante
pulmonar, sem exceção, são portadores de pneumopatia terminal, com grave limitação funcional e
com expectativa de vida menor que 18 meses. A partir dessa realidade busca-se com essa
investigação compreender suas expectativas e recursos psíquicos quanto a esse momento de suas
vidas, o qual se caracteriza pela situação de pré-transplante, isto é, passa pela aceitação da falência
de seu próprio órgão e a necessidade de receber um novo. Durante a espera pelo transplante, o
sujeito encontra-se em uma batalha entre a vida e a morte, em constante expectativa de recebimento
de um órgão vital. Segundo Moretto (2000), a vivência do transplante mexe profundamente com o
psiquismo dos pacientes, desencadeando, na maioria destes, ambigüidade, visto que encaram a
situação ora como salvação/vida, ora como grande risco/morte. Considera-se que toda situação de
expectativa de receber um órgão se constitui em uma vivência complexa e singular por parte do
paciente, imprimindo marcas significativas em sua história de vida. Na situação de transplante
pulmonar, pela inexistência de terapêuticas paliativas de auxílio no padecimento físico e pelo
significado da falência desse órgão, constata-se uma dupla incidência de um excesso psíquico: o
sujeito está colocado em uma situação de iminência de falência de um órgão vital de seu corpo e na
dependência da morte de outro para sua sobrevivência. Em 1920, quando escreve “Além do
Princípio do Prazer”, Freud (1920/1976) ressalta que a definição de um evento como traumático ou
não, decorre da relação de forças que se estabelecerá entre o que invade o psiquismo de forma
abrupta e a quantidade de energia que o aparelho psíquico reserva para lidar com o fator
desestabilizante. Objetiva-se, portanto, investigar, a partir do referencial psicanalítico, o quão
fundamental é para o paciente, nessa situação, nomear seus sentimentos, fantasias e anseios, uma
vez que a experiência de ser candidato a receber um órgão, antes pertencente a outro indivíduo, não
é tarefa que se restringe à preparação para a cirurgia. Destaca-se, assim, a necessidade de atribuição
de sentido a uma série de experiências de intensa dor psíquica, tendo sempre presente a ameaça de
morte e a necessidade de uma espera que independe da própria vontade do sujeito.
Metodologia
Os procedimentos metodológicos utilizados serão de cunho qualitativo, pois objetiva-se
investigar questões que dizem respeito à experiência subjetiva dos participantes em questão. O
método qualitativo será utilizado, também, porque, em questões de saúde e doença, nem sempre é
possível transformar todos os aspectos históricos, políticos, sócio-culturais e ideológicos, em
formulações hipotético-dedutivas (Minayo, 1992). Participarão desse estudo homens e mulheres,
maiores de 18 anos, considerados candidatos a transplante de pulmão por critérios médicos e que
estejam na lista de espera do Grupo de Transplante Pulmonar do Complexo Hospitalar Santa Casa
de Misericórdia de Porto Alegre. A amostra será composta por, no mínimo, oito pessoas, seguindo
critério de saturação dos dados, ou seja, a coleta será interrompida no momento que as informações
se tornarem repetitivas e não ocorrerem novas compreensões acerca do fenômeno. A coleta dos
dados será realizada através do preenchimento de uma ficha de dados sociodemográficos e de uma
série de três entrevistas semi-estruturadas de questões abertas, as quais serão gravadas em áudio e,
posteriormente, transcritas. Os dados colhidos serão codificados por categorias de respostas através
da técnica de Análise de Conteúdo (Bardin, 1991), mediante a utilização do software Atlas.ti. A
partir de tal análise, busca-se, não somente alcançar uma maior compreensão acerca da vivência do
indivíduo em situação de espera por um transplante de pulmão, mas também contribuir com as
equipes de saúde que trabalham com este tipo de paciente. Para a interpretação dos dados, lançarse-á mão do instrumental psicanalítico.
Situação atual
No presente momento os esforços concentram-se no encaminhamento, do projeto em
questão, à análise da Comissão Científica da Faculdade de Psicologia (FAPSI) da PUCRS. Após
esta avaliação será encaminhado, para apreciação e aprovação, ao Comitê de Ética em Pesquisa da
PUCRS, seguindo todas as exigências da regulamentação de pesquisas com seres humanos,
estabelecidas pelo Ministério da Saúde.
Este projeto encontra-se vinculado ao Grupo de Pesquisa Fundamentos e Intervenções em
Psicanálise do Programa de Pós-Graduação da FAPSI/PUCRS, sob a coordenação da Professora.
Dra. Mônica Medeiros Kother Macedo.
Referências
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1991.
.
CAMARGO, J. J; SCHIO, S. M., SANCHEZ, L. B. Indicações e Seleção do Receptor Pulmonar. In: GARCIA, V. D;
ABBUD, M. F; NEUMANN, J. M; PESTANA, J. O. M. Transplante de Órgãos e Tecidos. 2 ed. São Paulo: Segmento
Farma, 2006. p.687-694.
CAMARGO, J. J; SCHIO, S. M., SANCHEZ, L. Transplante de pulmão: indicações atuais. In: CAMARGO, J. J;
PINTO, F. D. R. Tópicos de atualização em cirurgia torácica. Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica, 2007.
Disponível em: www.sbct.org.br . Acessado em 20 dez 2007.
FREUD, S. Além do princípio do prazer. In: _________. Edição standard das obras psicológicas completas de
Sigmund Freud. 24 v. v. 18. Rio de Janeiro: Imago, 1989. (Obra original publicada em 1920)
MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro: Hucitec-Abrasco,
1992.
MORETTO, M. L. Psicanálise onde o paciente está: no hospital, 2000. Disponível em:
http://www.usp.br/agen/bols/2000/rede594.htm. Acessado em 20 dez 2007.
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