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CANDIDATOS A TRANSPLANTE DE PULMAO:
CONFIGURAÇÕES TRAUMÁTICAS DA ESPERA PELA VIDA
Evelise Machado Pinto Waschburger (Mestranda em Psicologia Clínica/Capes), Renata Freitas
Ribas (Auxiliar de Pesquisa), Maria Alice Weber Ferreira (Auxiliar de Pesquisa) e Mônica M.
Kother Macedo (Orientadora)
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Faculdade de Psicologia, PUCRS,
Resumo
Introdução
O transplante pulmonar constitui atualmente uma terapêutica fundamental no
tratamento de doenças avançadas de pulmão. As conquistas tecnológicas e os conhecimentos
obtidos nos últimos tempos resultaram em um significativo desenvolvimento na área de
transplante pulmonar, dentre os quais, principalmente, o ajustamento dos critérios de
indicação e a metodologia de seleção dos candidatos a esse procedimento. Conforme dados do
Ministério da Saúde, no Brasil, no primeiro semestre de 2008 estavam 158 pacientes na lista
de espera e, entre os anos de 2007 e 2008, foram realizados 103 transplantes pulmonares,
(Ministério da Saúde, 2009).
Conforme Camargo, Schio e Sanchez (2006, 2007), os pacientes considerados ideais
para a indicação de transplante pulmonar, sem exceção, são portadores de pneumopatia
terminal, com grave limitação funcional e com expectativa de vida menor que 18 meses. A
partir dessa realidade busca-se com essa investigação compreender expectativas e recursos
psíquicos de candidatos a transplante de pulmão, quanto a esse momento de suas vidas,
caracterizado pela situação de pré-transplante, isto é, marcado pela aceitação da falência de
seu próprio órgão e a constatação da necessidade de receber um novo. Durante a espera pelo
transplante, o sujeito encontra-se em uma batalha entre a vida e a morte, em constante
expectativa de recebimento de um órgão vital. Segundo Moretto (2000), a vivência do
transplante mexe profundamente com o psiquismo dos pacientes, desencadeando, na maioria
destes, ambigüidade, visto que encaram a situação ora como salvação/vida, ora como grande
risco/morte. Considera-se que toda situação de expectativa de receber um órgão se constitui
em uma vivência complexa e singular por parte do paciente, imprimindo marcas significativas
em sua história de vida. Na situação de transplante pulmonar, pela inexistência de terapêuticas
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paliativas de auxílio no padecimento físico e pelo significado evidente de risco frente à
falência desse órgão, constata-se uma dupla incidência de um excesso psíquico: o sujeito está
colocado em uma situação de iminência de falência de um órgão vital de seu corpo e na
dependência da morte de outro para sua sobrevivência. Quando escreve “Além do Princípio
do Prazer”, Freud (1920/1976) ressalta que a definição de um evento como traumático ou não,
decorre da relação de forças que se estabelecerá entre o que invade o psiquismo de forma
abrupta e a quantidade de energia que o aparelho psíquico reserva para lidar com o fator
desestabilizante. Destaca-se, assim, a necessidade de atribuição de sentido a uma série de
experiências de intensa dor psíquica, tendo sempre presente a ameaça de morte e a
necessidade de uma espera que independe da própria vontade do sujeito.
Método
Considerando o aspecto traumático que se faz presente na experiência de pessoas
submetidas à lista de espera de transplante de pulmão, a metodologia utilizada é de cunho
qualitativo. Participaram desse estudo oito sujeitos maiores de 18 anos, homens e mulheres,
que estão na lista de espera, para transplante de pulmão no Rio Grande do Sul, vinculada ao
Grupo de Transplante Pulmonar do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de
Porto Alegre, seguindo o critério de exaustão/saturação dos dados, conforme proposto por
Bodgan e Biklen (1994). Estes participantes, conforme avaliação médica, contaram com
condições clínicas para participar da pesquisa. Atualmente na lista de espera, conforme
informações concedidas pela coordenação clínica do Grupo de Transplante Pulmonar do
Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia, estão aproximadamente 43 pacientes,
todos residentes na cidade de Porto Alegre e região metropolitana, mas provenientes de vários
estados do país.
A coleta dos dados foi realizada através do preenchimento de uma ficha de dados
sociodemográficos e de uma série de três entrevistas semi-estruturadas de questões abertas,
gravadas em áudio e, posteriormente, transcritas. As entrevistas foram realizadas após a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os dados colhidos estão
sendo codificados por categorias de respostas através da técnica de Análise de Conteúdo
(Moraes, 1999). A partir de tal análise, busca-se, não somente alcançar uma maior
compreensão acerca da vivência do indivíduo em situação de espera por um transplante de
pulmão, mas também contribuir com as equipes de saúde que trabalham com este tipo de
paciente. Para a interpretação dos dados, lançar-se-á mão do instrumental psicanalítico.
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O Projeto de Pesquisa foi avaliado e aprovado pela Comissão Científica da Faculdade
de Psicologia da PUCRS, pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS e pelo Comitê de
Ética em Pesquisa do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Situação atual do projeto
A coleta de dados já foi concluída. O número de participantes ficou em oito candidatos
a transplante pulmonar. Utilizando-se o critério de saturação de dados a coleta de informações
foi interrompida quando as informações se tornaram repetitivas, não ocorrendo novas
compreensões sobre o fenômeno em estudo.
No momento, as características
sociodemográficas dos entrevistados estão sendo organizadas em Tabelas. Todas as
entrevistas já foram transcritas e seus conteúdos estão sendo codificados por categorias de
respostas através da técnica de análise de conteúdo de Bardin (Moraes, 1999). Posteriormente,
os dados coletados serão interpretados a partir dos aportes teóricos psicanalíticos.
Referências
BODGAN, R., BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e
aos métodos. Porto: Porto. 1994.
CAMARGO, J. J; SCHIO, S. M., SANCHEZ, L. B. Indicações e Seleção do Receptor
Pulmonar. In: GARCIA, V. D; ABBUD, M. F; NEUMANN, J. M; PESTANA, J. O. M.
Transplante de Órgãos e Tecidos. 2 ed. São Paulo: Segmento Farma, 2006. p.687-694.
CAMARGO, J. J; SCHIO, S. M., SANCHEZ, L. Transplante de pulmão: indicações atuais.
In: CAMARGO, J. J; PINTO, F. D. R. Tópicos de atualização em cirurgia torácica. Sociedade
Brasileira de Cirurgia Torácica, 2007. Disponível em: www.sbct.org.br . Acessado em 20 dez
2007.
FREUD, S. Além do princípio do prazer. In: _________. Edição standard das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud. 24 v. v. 18. Rio de Janeiro: Imago, 1989. (Obra
original publicada em 1920).
MINSTÉRIO DA SAÚDE. Transplante/Lista de espera, (2009). Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1004. Acessado em 22 de
junho de 2009.
MORAES, R. Análise de Conteúdo. Educação. Ano XXII, Nº 37 (1999), pp 7-32.
MORETTO, M. L. Psicanálise onde o paciente está: no hospital, 2000. Disponível em:
http://www.usp.br/agen/bols/2000/rede594.htm. Acessado em 20 dez 2007.
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