A guerra pela água na Bolívia
Por Jim Shultz
Antes de abril de 2000 poucas pessoas de fora da Bolívia haviam ouvido falar sobre
Cochabamba, uma cidade de 600 000 habitantes cravada em um vale andino a 8 000 pés
de altura. Quatro meses após o início do novo século esse quadro mudou. Cochabamba
se tornou a linha de frente da crescente batalha internacional contra as regras da
globalização econômica. Enfrentando soldados, resistindo à declaração de uma lei
marcial e se levantando contra a onda da teologia do mercado econômico, a população
mais pobre da América do Sul expulsou uma das empresas mais ricas do mundo e
reconquistou algo simples e básico – sua água.
Precursores
A experiência da Bolívia com as forças da globalização teve início séculos atrás, em
uma outra cidade andina – Potosi. Lá, em 1545, descobriu-se que uma modesta
montanha era, literalmente, uma montanha de prata. Por aproximadamente três séculos
os colonizadores Espanhóis escavaram da montanha Cero Rico, ou Montanha Rica,
prata suficiente para virtualmente sustentar o império espanhol. Eles também causaram,
nas palavras de Eduardo Galeano, “8 milhões de corpos indígenas”. Escravos dos
mineradores eram mandados em túneis escuros e profundos por seis meses
consecutivos. Muitos dos que sobreviveram ficaram cegos ao serem re-expostos à luz
do sol. A primeira lição da Bolívia sobre globalização foi essa – um povo abençoado
pela Terra com uma das maiores fontes de riqueza mineral da história do planeta
encontra-se hoje como sendo uma nas nações mais pobres da América do Sul.
Essa memória de terrível abuso e roubo da riqueza para além mar não foi superada pela
alma boliviana quando, em 1980s e 1990s, o Banco Mundial e o Fundo Internacional
Monetário (FMI) decidiram tornar a Bolívia um laboratório de seus experimentos
modernos em economia global. Fazendo uso das ferramentas contemporâneas de poder
econômico –empréstimos, ajuda, e perdão da dívida – o Banco Mundial e o FMI
influenciaram e basicamente obrigaram o governo boliviano a vender ou arrendar suas
empresas estatais para mãos corporativas.
Uma por uma, o governo boliviano vendeu ou arrendou a campanhia aérea nacional, a
ferrovia e a companhia elétrica, sempre com mesmo resultado desastroso.
A pressão mais agressiva do Banco Mundial por privatização focou-se no sistema
público de água da terceira maior cidade da Bolívia, Cochabamba. Os oficiais do Banco
Mundial que trabalham com questões relacionadas a água acreditam na privatização da
mesma forma como outras pessoas acreditam em Jesus, Maomé, Moisés e Buda. Eles
argumentam que essa é uma medida essencial para assegurar capitais para o
desenvolvimento do sistema de água e para aprimorar seu o gerenciamento. Em público
o Banco Mundial ameniza seu discurso, alegando que a privatização é apenas uma das
opções e “não uma pílula mágica”. Às portas fechadas, no entanto, oficiais do Banco
não são tão sutis.
Em fevereiro de 1996 oficiais do Banco Mundial disseram ao prefeito de Cochabamba
fariam um empréstimo de $ 14 milhões de dólares para expansão do serviço de água
condicionado com a privatização do fornecimento água da cidade. Em junho de 1997 os
oficiais do Banco disseram ao presidente boliviano que o perdão de uma dívida de $600
milhões de dólares também dependiam de Cochabamba passar para mãos privadas sua
água. Oficiais do Banco Mundial depois alegaram que não gostaram dos detalhes do
modo como a Bolívia negaciou a privatização da água, mas o papel do Banco como uma
força motora é inquestionável. O governo boliviano seguiu as ordens do Banco
Mundial. Em setembro de 1999, em um processo às portas fechas com apenas um
concorrente, oficiais bolivianos arrendou a água de Cochabamba até 2039 para uma
mistérios e nova empresa chamada Aguas del Tunari – que depois se mostrou ser uma
subsidiária da gigante da Califórnia, Bechtel.
O contrato da água foi, digamos, um doce negócio. O acordo garantia à empresa 16% de
lucro por cada ano dos 40 cobertos pelo contrato. Uma lei sobre a água aprovada
paralelamente pelo Congresso boliviano também concedia o controle sobre centenas de
sistemas de irrigações rurais e poços comunitários, projetos financiados e construídos
pela população local sem ajuda do governo.
Apenas poucas semanas depois de assumir o controle da água, a empresa da Bechtel
golpeou as famílias locais com um aumento de 200% na taxa de água ou mais.
Trabalhadores que viviam com o salário mínimo local de $60 dólares deveriam pagar
algo como $15 dólares para continuar tendo água correndo de suas torneiras. Tanya
Paredes, mãe de quatro filhos que sustenta a família tricotando roupas de bebês, viu sua
conta de água aumentar de $5 dólares por mês para algo próximo a $20 dólares, uma
acréscimo equivalente ao seu gasto para alimentar a família por uma semana e meia. “O
que pagamos para água sai do que teríamos para pagar comida, roupa e outras coisas
que precisamos comprar para nossas crianças”, diz ela.
A guerra pela água começa
Um movimento cidadão começou a ser formado para desafiar a privatização mesmo
antes da introdução da altíssima taxa. Formou-se um grupo que ficou conhecido como
La Coordinadora. Sua liderança era composta por representantes de um sindicato dos
trabalhadores de uma fábrica local, irrigadores e fazendeiros, grupos ambientais,
economistas locais, membros progressistas do Congresso e uma vasto grupo de
organizações e associações de base. La Coordinadora nasceu tanto do meio rural como
urbano, da classe pobre e média.
Em novembro de 1999 a Federação dos Irrigadores, furiosos por causa do entrega de
seus sistemas de água, realizou um bloqueio de 24 horas das rodovias que dão acesso a
Cochabamba. “Nosso objetivo era testar a capacidade que tínhamos para lutar”, disse
Omar Fernandez, líder do sindicato dos irrigadores. “Nós percebemos que nossa base
desejava mover ainda mais rápido do que nossa liderança. Na [pequena cidade de] Vinto
eles bloquearam as rodovias por 48 horas”. Depois dos bloqueios os usuários rurais de
água formaram uma aliança com os usuários urbanos preocupados com a tomada da
Bechtel sobre o sistema de água da cidade e, em 12 de novembro de 1999, nasceu a La
Coordinadora para a Defesa da Água e da Vida.
Em janeiro de 2000, após a companhia de água anunciar o aumento gigantesco na taxa,
a Coordinadora ressurgiu do nada com sua primeira ação pública, uma greve geral. Essa
não foi uma tática nova em Cochabamba. Uma ou duas vezes ao ano os trabalhadores da
empresa de transporte local e outros grupos organizam ações que tiram os ônibus de
circulação, bloqueiam pontes e vias, fecham comércio e as escolas e a cidade vive um
dia de feriado para jogar futebol ou andar de bicicleta enquanto negociadores tentam
alcançar um acordo sobre a demanda do dia. No entanto, a ação de janeiro da
Coordinadora contra a alta do preço da água foi diferente. Por três dias Cochabamba
parou. Bloqueios fecharam as duas principais rodovias de acesso à cidade, eliminando o
transporte via ônibus e o carregamento de alimentos. O aeroporto foi fechado. Ruas
bloqueadas por pilhas de pedras e árvores interromperam todo o trânsito da cidade.
Milhares de Cochabambinos ocuparam a praça central da cidade. Em uma esquina da
praça a Coordinadora montou sua sede no escritório do sindicato dos trabalhadores de
uma fábrica local. Uma imensa bandeira vermelha pendurada na varanda do terceiro
andar anunciava em letras brancas o novo slogan da cidade, El Agua es Nuestra Carajo!
Do outro lado da praça fica o gabinete do Governador regional de Cochabamba, um
cargo nomeado pelo Presidente. Um dia depois de se recusar a reconhecer a
Coordinadora como uma organização legítima, o Governador concordou em se
encontrar com seus líderes. Durante a negociação o Governador pôde ouvir o canto
enfurecido de milhares de manifestantes quase literalmente em sua porta. O governo
finalmente assinou um acordo que iria rever o contrato da empresa de água e a nova lei
sobre água se os protestos fossem suspensos. A Coordinadora deu ao Governadou três
semanas.
Como é de costume na política boliviana, o governo não cumpriu sua palavra. Com a
passagem de janeiro para fevereiro e nenhuma mudança na taxa, o povo de Cochabamba
recusou-se a pagar a conta para a Bechtel. A empresa, desesperada, ameaçou cortar o
fornecimento de água da população. A Coordinadora anuncioou que iria organização
uma manifestação a simbólica na praça central da cidade mais uma vez no dia 4 de
fevereiro.
Estava planejado um simples protesto no horário de almoço para lembrar o governo que
o povo ainda o estava vigiando. Algumas centenas de manifestantes marchariam rumo à
praça, ouviriam alguns discursos, cobrariam o governo para que mantivesse sua palavra
e depois retornariam ao trabalho. “Nós dissemos ao ministro do governo,´Não vai
acontecer nada”, disse Oscar Oliveira, líder do Sindicato das Fábricas de Cochabamba e
uma das lideranças mais visíveis da Coordinadora. “Será um ato de bandeira branca,
com flores e bandas, como uma festa”.
O governo anunciou que o protesto não seria permitido e na manhã do dia 4 mais de
1000 policiais pesadamente armados assumiram o controle do centro da cidade, quase
todos trazidos de outras cidades (uma vez que o governo não podia contar com a polícia
de Cochabamba para bater fortemente de frente contra seus próprios parentes).
Para as pessoas de Cochabamba, mesmo para aquelas que não eram simpáticas à revolta
da água, a ocupação da polícia foi vista como uma declaração de guerra.
O governo não estava mais apenas se recusando a acabar com o aumento abusivo da
empresa, agora ele estava protegendo os lucros da Bechetel com gás lacrimogêneo e
armas.
Por dois dias a região central de Cochabamba se tornou uma zona de guerra. Cada
quarteirão em direção à praça se converteu em um mini-campo de batalha. De um lado a
polícia bloqueando as ruas com de gás lacrimogêneo. Do outro, manifestantes – jovens,
velhos, pobres e de classe média – tinham com pedras e estilingues. Muitos estavam
uniformizados com bandanas encharcadas em vinagre sobre sua boca e nariz e fermento
sob seus olhos, uma proteção contra o gás. Eu perguntei a um jovem policial se ele
atiraria e me mataria caso fosse ordenado por seu capitão. “Sim, se for uma ordem.”
Com o conflito persistindo, as portas das casas de classe médias se abriram e comida e
água apareceram, como forma de apoio àqueles que estavam lutando contra o governo
nas ruas.
Praticamente todas as rádios locais se converteram em discussões telefonicas sobre a
batalha no centro da cidade, com ligações atrás de ligações condenando o governo e a
empresa. Em dois dias mais de 175 pessoas foram feridas, a maioria vítima do gás ou
por apanhar da polícia.
Qualquer que fosse sua legitimidade pública na questão, o governo a tinha perdido. Ele
anunciou um acordo com a empresa para invocar temporariamente um recuo na taxa de
água por seis meses. A Coordinadora teve sua primeira vitória. “Isso deu às pessoas
muita força, muita energia. Elas se sentiram vitoriosas”, disse Oliveira.
Uma mudança de estratégia
“Uma cópia do contrato [da Bechetel] era muito difícil de ser conseguida”, disse Omar
Fernandez da Coordinadora. “Era como um segredo de Estado”. Por meio de membros
do Congresso a Coordinadora finalmente conseguiu ter uma cópia. Depois dos
confrontos de fevereiro os líderes da Coordinadora passaram a examinar o contrato mais
atentamente, com a assistência de economistas e advogado simpáticos à causa. Eles
descobriram a garantia de lucro de 16% para a Bechtel, descobriram também que a
empresa ganhou a concessão praticamente sem compromissos de investimento inicial,
bem como outras provisões que deixaram claro o quão péssimo foi o acordo que o
governo fez. A Coordinadora se convenceu de que eles precisavam mudar seu foco da
simples reversão da taxa para o cancelamento do contrato como um todo e colocar o
controle da água de Cochabamba sob controle público direto.
A demanda para o cancelamente do maior contrato internacional de água foi audaciosa,
para dizer o mínimo. Em nenhum outro lugar um protesto popular teve sucesso em
reverter um acordo de privatização como esse. Em março, os líderes da Coordinadora
utilizaram uma estratégia pioneira organizada por ativistas no México, a consulta
popular. Por três dias os ativistas da Coordinadora montaram mesas nas praças e em
outros locais públicos pelo Vale de Cochabamba para fazer a seus residentes uma
simples pergunta – o contrato sobre a água deveria ser cancelado? Mais de 60 000
pessoas participaram, aproximadamente dez porcento da população do vale. A resposta,
pela votação de mais de 90% foi um ensurdecedor sim. “A consulta tornou nosso
movimento muito mais participativo”, disse Oliveira. O cancelamento do contrato com
a Bechetel se tornou a nova bandeira da Coordinadora.
A batalha final
Em abril a Coordinadora anunciou o que ela chamou de La Ultima Batalla, a Batalha
Final. Os líderes da Coordinadora anunciaram que iriam iniciar uma greve geral e
bloqueio das rodovidas sem previsão de término até que o governo atendesse a suas
duas demandas – o cancelamento do contrato com a empresa de água e a revogação da
lei nacional pela qual o governo entregou à Bechtel o controle sobre os poços e sistemas
de irrigação rural. Na terça-feira, dia 4 de abril, a ameaçadora onda de protestos
começou e Cochabamba parou novamente pela terceira vez em quatro meses.
Na quinta-feira, depois da cidade estar parada por dois dias, oficiais do governo
finalmente sentaram para discutir com os líderes da Coordinadora, em negociações
moderadas pelo Arcebispo Católico de Cochabamba, Tito Solari. Tarde da noite os
líderes da Coordinadora iniciaram suas conversas com o Governador, o Prefeito da
cidade, o Arcebispo e outro oficiais. De uma hora para outra, a polícia sob ordem do
governo nacional de La Paz surgiu e prendeu todos os líderes da Coordinadora. “Foi
uma armadilha do governo nos colocar todos juntos negociando, porque assim poderia
prender todos de uma só vez”, disse Oliveira, que foi um dos que foram levados em
custódia. O Bispo Solari se trancou em seu escritório a noite toda, dizendo aos
repórteres que se a Coordinadora estava presa, ele também estaria.
Na sexta-feira, depois que os líderes da Coordinadora foram soltos, os habitantes de
Cochabamba aguardavam a qualquer momento uma tomada militar da cidade. O
presidente da Bolívia, Hugo Banzer, que havia governado o país durante os anos 1970s
como um ditador, era conhecido pelo uso da repressão política.
A atmosfera da cidade era incrivelmente tensa, especialmente na praça central onde as
notícias das prisões da noite anterior reuniram de mais de 10 000 pessoas. Muitas
vieram da cidade, mas milhares delas marcharam longas distâncias do interior e lá
permanecerames por dias.
Cada comunidade foi chegando carregando uma bandeira com o nome de seu povo. Um
oficial de uma cidade rural, que marchou mais de 70 quilômetros para chegar a
Cochabamba, disse-me, “Essa é uma batalha por justiça, e pela retirada dos negócios
internacionais que, antes mesmo de nos oferecer mais água, começou a cobrar de nós
preços absurdamente altos”.
Uma reunião foi anunciada para às 16h entre o Governador e a Coordinadora, moderada
pelo Arcebispo Solari. Quando se espalhou a notícia que o Governador não apareceu, as
pessoas na praça temeram o pior. Meia dúzia de adolescentes escalaram a torre do sino
da Catedral para que pudessem tocar o sino como aviso quando os soldados invadissem
a cidade.
De seu escritório o Governador Hugo Galindo podia ouvir a multidão furiosa. As
janelas da fachada do prédio já haviam sido quebradas. Foi colocado fogo na gigante
porta de entrada. No horário que ele deveria se encontrar com os líderes da
Coordinadora, o Governador ao invés telefonou para seus superiores em La Paz. Ele
explicou que ele não viu outra alternativa com exceção do cancelamento do contrato,
caso contrário haveria uma guerra entre o povo e o governo. Ele recomendou que o
contrato fosse cancelado. Galindo então telefonou para o Arcebispo Solari, e se
encontrou no escritório do Arcebispo com os líderes da Coordinadora. Ele contou ao
Bispo que urgiu ao Presidente que cancelasse o contrato. Quando o Bispo Solari
repassou a mensagem para Oliveira e demais líderes da Coordinadora ela se
transformou em algo mais dramático – que a companhia iria embora.
Minutos depois, ainda vestindo a bandana com vinagre em volta do pescoço e com
manchas de fermento embaixo de seus olhos, Oliveira surgiu na varanda do terceiro
andar. “Chegamos a uma vitória econômica importante sobre o neoliberalismo”, ele
gritou para a multidão, que vibrou. Ele agradeceu aos vizinhos, aos trabalhadores do
transporte, às pessoas do interior, aos estudantes universitários e a todos os outros que
batalharam e tornaram a vitória possível.
Os Cochabambinos celebraram nas ruas. O Arcebispo Solari presidiu uma missa de
celebração com a Catedral lotada.
Mas em horas o evento teve uma inesperada virada macabra. O porta voz de Banzer se
recusou a confirmar a partida da empresa. Os representantes locais da Bechtel enviaram
por fax à imprensa notas declarando que não estavam indo embora. À meia-noite o
Governador Galindo foi ao vivo à TV e disse aos habitantes da cidade que ele não
queria ser responsável por um “banho de sangue” e renunciou. Policiais começaram a
aparecer na porta dos líderes da Coordinadora e de suas famílias, prendendo todos que
encontravam. “Por volta da meia-noite eu estava passando pelo prédio do Los Tiempos
[o jornal] e um repórter me disse ´o Governador irá declarar Estado de Emergência”,
disse Omar Fernandez. “Então eu parti com minha motocicleta e me escondi”.
Dezessete pessoas foram colocadas em um avião e foram levadas para uma prisão
infestada de mosquitos na remota floresta da Bolívia. Aqueles que conseguiram escapar
da prisão, incluindo Fernandez e Oscar Oliveira, foram se esconder.
No sábado de manhã habitantes da cidade em pânico correram para os mercados locais,
que estava fechados há quatro dias, para estocar comida. Às 10 horas o Presidente Hugo
Banzer, o ex-ditador, declarou o Estado de Emergência (lei marcial). Os soldados
fecharam canais de TV e estações de rádios. Toda uma seção da cidade, o lado das
colinas onde as antenas continuavam a transmitir notícias, tiveram corte de energia.
Reuniões públicas com mais de duas pessoas foram banidas. Cochabamba estava sob
uma ditadura.
A resposta do povo foi rápida e furiosa. Mesmo com seus líderes presos ou escondidos,
a Coordinadora convocou a reinstituição imediata dos bloqueios. No meu bairro uma
senhora idosa deitou sobre as pedras em nossa rua para bloqueá-la. Os jovens,
conhecidos por “guerreiros da água” voltaram ao centro da cidade para desafiar as
tropas de Banzer. As mulheres bateram de porta em porta para coletar arroz e outros
alimentos para cozinhar para os que permaneciam acampados na praça.
Na tarde de sábado o conflito tinha se tornado violento. Manifestantes puseram fogo em
um prédio desocupado do Estado, mandando grandes nuvens de fumaça negra pelo céu
azul de Cochabamba. Os soldados substituíram o gás lacrimogêneo com tiros. Um canal
de televisão local filmou um capitão do Exército, Robinson Iriarte de La Fuente, um
graduado pela Escola das Américas dos EUA, disfarçado em roupas civis enquanto ele
disparava nos manifestantes. Ao mesmo tempo um garoto desarmado de dezessete anos,
Victor Hugo Daza, foi atingido e morto por uma bala em seu rosto. A batalha contra a
globalização na terra dos Incas, tragicamente, teve seu primeiro mártir. Seus
companheiros levaram seu corpo ensangüentado para a praça e houve uma vigília
furiosa e emotiva.
Cochabamba atingiu um estado sangrendo. O Presidente Banzer, que agora enfrentava
diversos protestos em outros assuntos em cidades por toda a nação, deixou claro que ele
não iria cancelar um contrato com uma grande corporação internacional. Sua equipe de
relações públicas trabalhou para espalhar uma falsa história para jornalistas estrangeiros
de que o aumento no preço tinha sido de apenas 20% e que os protestos em
Cochabamba foram orquestrados por “narcotraficantes” tentando desestabilizar o
governo.
As pessoas de Cochabamba também não iriam recuar. As ruas estavam cada vez mais
cheiras.
Enquanto os bolivianos estavam arriscando seu sangue, os donos e gerentes estrangeiros
da empresa de água estavam fugindo de sua responsabilidade. Os gerentes estrangeiros,
hospedados em um hotel cinco estrelas, insistiam em sua demanda para controlar a
água, assistindo o sofrimento pela televisão e não atendendo os repórteres que
conseguiram seus celulalres. Foi quando decidimos que a vaga conexão entre a empresa
e a Bechtel merecia mais uma vez atenção.
No domingo de manhã, com o velório de Victor Hugo Daza no centro da cidade, eu
comecei a pesquisar sobre a conexão Bechtel-Bolívia na Internet. Depois de examinar
por duas horas as páginas na Internet da Bechtel, semelhantes e subsidiárias, nós
descobrimos. A Bechtel não era apenas um agente na companhia boliviana de água, mas
sim sua fundadora e controladora de 55% das ações. Utilizamo a vasta rede de emails da
The Democracy Center para enviar alertas a milhares de ativistas ao redor do mundo,
pedindo a eles que pressionassem a Bechtel a deixar o país. Nós também enviamos na
mensagem o endereço de email pessoal do Presidente e CEO da Bechtel, Riley Bechtel.
Na segunda-feira os confrontos continuaram, embora mais pacíficos se comparados com
o final de semana sangrento. Não estava claro como o conflito chegaria a seu fim. Foi
quando, no período da tarde, o governo fez um anúncio. Os oficiais da Bechtel haviam
deixado o país e o governo declarou o cancelamento do contrato. O oficial nacional
responsável pelo acordo com a Bechtel divulgou uma carta que ele havia enviado aos
oficiais da Bechtel, “Dado que os diretores de sua empresa deixaram a cidade de
Cochabamba e não podem ser encontrados...o dito contrato está cancelado.” A cidade
celebrou como se o país tivesse conquistado a Copa do Mundo de futebol, com carros
parados pelas avenidas de Cochabamba buzinando. Os líderes da Coordinadora saíram
de seus esconderijos e voaram de volta de sua prisão na floresta, recebidos como heróis.
Com a partida de Bechtel, a companhia de água de Cochabamba, SEMAPA, foi
entregue à diretoria pública nomeada pela Coordinadora e pelo governo da cidade. A
taxa sobre a água retornou para o valor anterior ao aumento da Bechtel e os usuários
locais da água fizeram filas para pagar suas contas de água. Os líderes da Coordinadora
saíram do drama dos protestos nas ruas para se dedicarem a pensar como tornar o
trabalho da companhia de água mais eficiente. Os problemas de gerenciamento e de
sistema continuaram, mas o fornecimento de água foi levado a novos bairros e a
empresa alcançou algo extraordinário. Mesmo na época anterior às taxas da Bechtel, a
empresa de água de Cochabamba operava no vermelho. Por isso a empresa começou a
buscar empréstimos, seja com Banco de Desenvolvimento Interamericano como com
outros, para que o sistema de água fosse ser ampliado.
Mesmo as forças das finanças internacionais começaram a aceitar a idéia de que, em
Cochabamba, a água era para ficar em mãos públicas.
Porquê eles lutaram e porquê venceram
A privatização da água é uma tendência e uma preocupação por todo o mundo, e mesmo
em outras regiões da Bolívia (o sistema de água da capital, La Paz, foi arrendada para
uma empresa francesa chamada Vivendi anos antes). Por que em Cochabamba foi
diferente? Por que os Cochabambinos resistiram? Por que eles venceram?
“A privatização da água foi a gota d’água”, disse Tom Kruse, um pesquisador norteamericano que vive em Cochabamba e foi um conselheiro ativo para a Coordinadora.
Os Cochabambinos enfrentaram uma privatização atrás da outra, sempre com
resistência daqueles diretamente afetados – os trabalhadores da companhia aérea, por
exemplo – mas nunca forte o suficiente para fazer alguma diferença. A revolta pela água
foi uma revolta geral por tudo, uma reação à corrupção oficial, ao declínio econômico, e
ao fato do governo se preocupar com tudo menos com o povo. Em um bairro um garoto
de dezesseis anos me explicou que ele despertou para a política por causa de um pedaço
de pão. “Minha mãe me mandou comprar pão, mas me disse que ela não tinha dinheiro,
nem mesmo um Boliviano [cerca de 15 centavos de dólar na época]. Ela me disse para
pedir ao dono se poderíamos pagar depois. Eu pensei comigo mesmo, Como pode ser
que minha mãe trabalha tanto e não temos nem um Boliviano para comprar pão? Foi
quando me dei conta que algo estava realmente errado”. Quando a Coordinadora chegou
em seu bairro para organizar a resistência à privatização da água o garoto viu a chance
de fazer alguma coisa.
“As pessoas mais velhas nos contam histórias sobre as ditaduras [Banzer e outros se
espalharam pela Bolívia nos 1960s e 1970s], mas nunca estivemos diretamente
envolvidos em conflitos como daquela época”, explica Leny Oliveira [que não tem
relação com Oscar], universitária de 23 anos. Ela acrescenta, “Acredito que essa foi uma
chance para que nossa geração pudesse mostrar coragem”.
A água é algo essencial para a vida, diferente de um avião ou mesmo eletricidade em
um país pobre. As pessoas sabiam que se perdessem o controle sobre sua água,
perderiam o controle sobre suas vidas.
A Coordinadora deu às pessoas uma esperança que era algo novo. Após anos de
protestos que não davam em nada, a Coordinadora deu às pessoas a esperança de que o
povo poderia de fato se organizar e vencer. Houve uma unificação da população rural
com a urbana, que foi absolutamente chave para o sucesso. “Muitas pessoas dizem que é
impossível lutar contra o modelo neoliberal”, diz a universitária Leni Oliveira, “Mas
provamos que é possível, e não só na Bolívia como no mundo. As pessoas humildes são
maioria e são mais poderosas do que corporações multinacionais”.
Inadvertidamente, tanto a Bechtel como o governo Boliviano colaboraram enormemente
para o sucesso das revoltas. Se a Bechtel tivesse aumentado a taxa de forma gradual ao
longo do tempo, as revoltas não teriam tido tamanho apoio com que contaram. Se o
governo da Bolívia tivesse deixado que os protestos de fevereiro ocorressem sem
resistência, ele não teria provocado tamanha fúria pública que tornou, virtualmente,
todos em apoiadores da Coordinadora. No fim, essa não foi uma revolta apenas contra a
privatização da água, mas contra a arrogância e a atitude do Banco Mundial, da Bechtel
e de Banzer que disse, “Vocês estão perdendo o controle sobre sua água e terão que
pagar mais por ela, aceitem e fiquem quietos”. Foi por ser uma revolta contra a
arrogância que a revolta boliviana pela água teve tamanha e profunda ressonância na
batalha mais ampla contra a globalização imposta do alto.
O nascimento de um símbolo internacional
A revolta de Cochabamba pela água se tornou um símbolo internacional de uma versão
moderna do conflito entre Davi e Golias. A revolta pela água teve ampla atenção da
mídia internacional. Oscar Oliveira foi premiado com o internacionalmente prestigiado
Premio Goldman de ativismo ambiental. Cochabamba se tornou sinônimo de luta por
uma economia global justa, uma verdadeira fonte de inspiração e de esperança. A forma
como a revolta pela água deixou de ser uma batalha local e se tornou um ícone
internacional é uma grande estória em si, produto da Internet, e um golpe de sorte.
Durante a revolta pela água, a cobertura oficial da Bolívia para o mundo era reportada
pela Associated Press (AP), que circula no New York Times e em outros grandes
jornais. No entanto, o correspondente da AP na Bolívia escrevia todas as suas matérias
na distante La Paz e basicamente repetia a nota do dia do governo boliviano.
Mais tarde veio à tona que o correspondente da AP que estava cobrindo a revolta pela
água estava também fazendo lobby no Congresso boliviano para a aprovação de um
projeto de exportação de água da Bolívia para o Chile, revelação essa que iria custar seu
emprego.
A única cobertura internacional diretamente da cena foi a minha. Eu estava em
Cochabamba porque lá é onde moro. A cada manhã enquanto a revolta se aprofundava
eu caminhava a longa colina até o centro da cidade, o núcleo dos protestos, para
conseguir minhas histórias.
Depois subia toda a colina à tarde para enviar despachos para os 2000 contatos de
imprensa e organizações da lista de emails da Democracy Center. A rapidez com que as
notícias se espalhavam e a distância que alcançavam eram incríveis. Meus escritos eram
sindicados pelo Pacific News Service e repassadas para publicações por todo os EUA e
Canadá. Essas histórias depois inspiraram outros escritores do New Yorker, San
Francisco Chronicle e de outros lugares para escreverem suas próprias histórias.
O mais importante foi que ativistas de diferentes partes do mundo assumiram a luta de
Cochabamba e fizeram sua parte disseminando o alerta e atormentando a Bechtel com
mensagems de “Vá embora!”. Ativistas da água na Nova Zelândia receberam meus
alertas e perguntaram o que poderia fazer para ajudar. Com a revolta ainda repercutindo
na Bolívia, ativistas em Auckland pegaram um caminhão pipa, cobriram-no com
cartazes anti-Bechtel e anti-Banzer, e dirigiram até o consulado boliviano e diante dos
olhares da mídia local, abriram as mangueiras com alta pressão. Eles enviaram fotos do
evento para nós em Cochabamba, que foram entregues à imprensa local. Um jornal da
cidade, Gente, dedicou sua primeira página a essa história, surpreendendo os
Cochabambinos com o fato da rebelião local ter conquistado a atenção do mundo.
A revolta de Cochabamba inspirou milhares de jovens no outro hemisfério a irem para
Washington DC protestar contra uma reunião conjunta entre o Banco Mundial e o FMI,
a maior ação de globalização deste Seattle realizada cinco meses antes.
Meu colega Tom Kruse deve a idéia de comprarmos uma certa proteção política para
Oscar Oliveira que estava tendo que se esconder para não ser preso pelo governo. Ao
convencer grupos nos EUA a convidarem Oscar para participar de seus eventos em
Washington, a idéia não era que Oscar de fato participasse, mas repassar esses convites
à imprensa boliviana para que o governo boliviano hesitasse antes de prender alguém
que tivesse tamanha visibilidade internacional.
Na quarta-feira, quando a revolta pela água tinha acabado de se encerrar e o cheiro do
gás ainda estava no centro da cidade, Oscar nos disse que ele achava que realmente
deveria ir para Washington para compartilhar o que acabara de acontecer em
Cochabamba. Os protestos em Washington ocorreriam em dois dias e Oscar não possuia
nem um passaporte boliviano nem o visto para entrar nos EUA (o que geralmente leva
meses para se tirar). Na quinta-feira de manhã Oscar foi ao escritório que emite
passaportes que, por acaso, era dirigido por um ex-colega de escola dele. Seu passaporte
ficou pronto em menos de uma hora e na mesma manhã Oscar e Tom voaram para La
Paz na tentativa de conseguir a difícil tarefa de convencer a embaixada dos Estados
Unidos a conceder um visto de entrada imediato para um homem usando um relógio de
pulso do Che Guevara e que acabara de liderar uma campanha contra uma das maiores
empresas dos Estados Unidos. Enquanto Oscar estava na sala de espera da Embaixada,
em Cochabamba eu recebi a ligação de um jornalista de um dos maiores jornais dos
EUA implorando para que eu o ajudasse a garantir uma entrevista com Oscar. Eu sugeri
uma barganha: se ele concordasse em telefonar para a Embaixadora dos EUA e
perguntasse se ela daria o visto para Oscar, eu agendaria a entrevista. O jornalista
aceitou a proposta e poucas horas depois Oscar deixou a embaixada dos EUA com o
visto estampado em seu novíssimo passaporte. Na sexta-feira Oscar, Tom e eu voamos
para Washington.
Na noite de sexta-feira, minutos depois de deixarmos o avião após um longo vôo do sul
para o norte, Oscar encontrou uma sala repleta de ativistas. “Oscar chegou à igreja onde
estávamos organizando nossa grande luta contra o Banco Mundial no fim da noite, disse
Maude Barlow, presidente nacional do Conselho Canadense e líder de campanhas pelo
direito à água. “Quando Oscar subiu ao palco, as pessoas se levantaram de suas cadeiras
e o saudaram com mais de 10 minutos de aplauso. Não havia uma pessoa que não
tivesse lágrima nos olhos, incluindo eu. Esse foi o evento mais marcante de minha
vida”.
No sábado Oscar esteve junto com um grupo de pessoas que foram até a casa do
Presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, para levar uma mensagem sobre os
impactos reais que as políticas do Banco causavam em países pobres. Ainda usando seu
chapéu de trabalhador, Oscar discursou para um comício de 10 000 no Washington
Mall, bem em frente à Casa Branca. Nesta tarde ele também conduziu uma procissão de
milhares de pessoas pelas ruas da capital do país mais poderoso do mundo. E só de
pensar que uma semana antes ele estava se escondendo, Victor Hugo Daza era
assassinado e a Bolívia estava sob estado de lei marcial.
Caminhando com Oscar, perguntei “O que achou dos Estados Unidos?”. Ele fez uma
pausa e me respondeu em espanhol “Es como Cochabamba. Hay policias y jovenes en
todo lado”.
Epílogo – a Guerra da Água, fase dois
Em novembro de 2001 a Empresa Bechtel iniciou a fase dois da guerra pela água em
Cochabamba ao apresentar um demanda de $25 milhões de dólares contra a Bolívia em
um tribunal de comércio secreto operado pelo Banco Mundial, a mesma instituição que
forçou a privatização na cidade. O objetivo da Bechtel, eles diziam, era simplesmente
recuperar aquilo que investiram. “Não estamos querendo nada extra da Bolívia, apenas
queremos recuperar nossos custos”, explicou Michael Curtin, o chefe da empresa de
água da Bechtel na Bolívia.
Assim que a revolta pela água se tornou um símbolo internacional dos abusos das
privatizações dos serviços básicos, a disputa Bechtel vs. Bolívia se tornou um símbolo
internacional no direito comercial internacional.
A Bechtel não investiu nem de perto $25 milhões na Bolívia nos poucos meses que
operou em Cochabamba. Os oficiais da Bechtel pagaram os carros alugados e quartos
de hotel cinco estrelas com os fundos da empresa pública de água e a Bechtel saiu do
país sem pagar uma conta de eletricidade de $90 000 dólares. A Bechtel se mascarou de
empresa holandesa ao trocar o registro boliviano por uma caixa postal em Amsterdã na
esperança de ser coberta pelo tratado Bolívia-Holanda que torna o Banco Mundial o
árbitro de suas disputas de investimento.
Os valores no caso Bechtel vs. Bolívia eram altos. $25 milhões de dólares é o que a
Bechtel ganha em meio dia. Mas na Bolívia esse é o custo anual de se contratar 3000
médicos rurais ou 12 000 professores de escola pública, ou de prover para 125 000
famílias que não tinham acesso ao sistema público de água esse serviço básico. Mas os
interesses e efeitos deste caso ultrapassam a Bolivia. O tribunal de comércio secreto do
Banco Mundial é um protótipo da posposta de Área de Livre Comércio das Américas
(ALCA). O mesmo instrumento usado por Bechtel contra a Bolívia poderia então ser
usado por outras empresas para revogar leis ambientais na Califórnia, regras de saúde
em New Hampshire e proteções dos trabalhadores na Venezuela – em todos esses casos
em nome da derrubada de barreiras ao comércio.
Em agosto de 2002 mais de 300 grupos de cidadão de 41 diferentes países,
ambientalistas, líderes trabalhistas, grupos feministas, líderes indígenas e outros –
lançaram sua própria segunda fase da revolta boliviana pela água ao submeter uma
Petição Internacional de Cidadãos ao Banco Mundial demandando que as portas do
tribunal de comércio secreto fossem abertas para o escrutínio e participação pública.
“As ações da Bechtel na Bolívia deixaram uma cidade de mais de 600 000 pessoas em
tumulto por quatro meses”, escreveram os grupos. “Deixaram centenas de pessoas
feridas e um jovem morto, além de terem ameaçado o acesso de milhões de pessoas ao
elemento mais fundamental da vida”. “A revolta boliviana pela água teve um impacto
enorme na luta mundial pelo direito à água”, disse Maude Barlow. “Muitas pessoas
perceberam que se uma das populações mais pobres do mundo foi capaz de se levantar
contra o Banco Mundial e a Bechtel, então todos poderíamos. As histórias pessoais de
heroísmo e de luta do povo boliviano são fortes e têm sido recitadas mais e mais pelo
mundo.”
[1] Eduardo Galeano, Open Veins of Latin America, (New York: Monthly Review
Press), 32.
[2] Vincent Gouarne e John Briscoe, “Don’t shut the tap on private sector water”, Globe
and Mail, 18 de maio, 2000
[3] "Banco Mundial es Claro: Sin privatizacion de SEMAPA no hay agua potable para
Cochabamba [O Banco Mundial é claro: sem a privatização da SEMAPA não haverá
água potável em Cochabamba]", Primera Plana (La Paz), 29 de fevereiro, 1996, 10.
[4] "Organismos mulilaterales, presionan al Gobierno: Condonaran $US 600 milliones
de deuda si privatizan SEMAPA de Cochabamba [Organismos multilaterais pressionam
o governo: perdoraão uma dívida de $600 milhões dólares se houver a privatizão da
SEMAPA de Cochabamba]...", El Diario (La Paz), 1 de julho, 1997, 5.
[5] Iriarte depois foi colocado em um tribunal militar boliviana e foi inocentado e
imediatamente depois o Exército o promoveu como Major.
[6] Transcrição do “Leasing the Rain”, veiculado pela PBS, 5 de julho, 2002:
http://www.pbs.org/now/transcript/transcript125_full.html
Jim Shultz, diretor executivo do The Democracy Center (http://www.democracyctr.org),
vive em Cochabamba, Bolívia, e é autor do "The Democracy Owners'Manual" (Rutgers
University Press). Suas reportagens sobre a revolta pela água em Cochabamba foram
honradas entra as melhores histórias do ano do Project Censored.
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A guerra pela água na Bolívia