Vítor Manuel Lourenço Ortigão Borges Major de Infantaria Docente AEEEx/IESM Investigador Integrado do CISDI Lisboa, Portugal [email protected] 1. Dados da bibliografia da obra How to Win on the Battlefield, 25 tactics of all times — Recensão Literária How to Win on the Battlefield, 25 tactics of all times O livro ”How to Win on the Battlefield” foi escrito em 2010 por Rob Johnson, Michael Whitby e John France e editado pela Thames & Hudson, em Londres. 2. Dados biográficos do autor Rob Johnson é Professor de História da Guerra e Diretor Adjunto do programa de desenvolvimento Changing the Character of War, na Universidade de Oxford, tendo escrito as passagens sobre as guerras modernas e pré modernas. Michael Whitby exerce funções na Universidade de Warwick, como Professor de História da Antiguidade e Clássica e dedicou-se aos contrastes e comparações com o período da antiguidade. John France é Professor na Universidade de Swansea e Diretor do Callaghan Centre for the Study of Conflict, e focou-se nas batalhas da Idade Média. 3. A ideia que fica do texto O livro é composto por exemplos históricos de batalhas organizadas em 25 capítulos onde os autores identificam o valor de cada tática, através da descrição sintética e clara de cada batalha. Apesar das táticas serem apresentadas separadamente, a vitória no campo de batalha é alcançada por uma combinação de várias táticas, a par com a qualidade dos comandantes e o grau de motivação e preparação das tropas. O sucesso no campo de batalha depende de um conjunto de fatores interdependentes como: a capacidade de adaptação a diferentes situações; liderança eficaz; identificação do centro de gravidade; economia de forças; manter Revista de Ciências Militares, Vol. II, Nº 2, novembro 2014 389 a iniciativa com a ofensiva, através da concentração, manobra, poder de choque, surpresa e rapidez na ação; tirar vantagem da atrição e deceção; quebrar a vontade de combater do inimigo; tirar partido das informações e manter sempre uma reserva. 4. Resumo do texto Os primeiros cinco capítulos do livro abordam táticas relacionadas com manobras ofensivas. Evoca o conceito de Clausewitz de Ataque ao Centro de Gravidade, analisando como as forças aliadas derrotaram as forças do eixo em El Alamein (1942), no norte de África, durante a II Guerra Mundial (G.M.), através de diversos ataques por múltiplos eixos que esgotaram as reservas e a capacidade de combate do Africa Korps. O Capítulo 6 aborda a tática de Dominar o Terreno e o Usar o Meio Envolvente. Como exemplo desta tática, os autores recordam a “Guerra dos 7 anos”, em Leuthen (1757), onde o Imperador Frederico o Grande da Prússia enfrentou a invasão dos exércitos da Áustria, França, Rússia e Suécia mas, em vez de adotar uma postura defensiva, deslocou-se, usando concentração, surpresa e ataque, conseguindo destruir os exércitos invasores. Os capítulos seguintes realçam como os meios disponíveis podem ser bem aproveitados e os seus efeitos potenciados. Analisa o Ataque em Escalão, que consiste em concentrar o máximo potencial numa área específica do campo de batalha, como sucedeu na “Operação Amanhecer” (1986), na Guerra Irão-Iraque, na qual as forças iranianas abriram brechas em vários pontos-chave nas linhas iraquianas e capturaram a península de Fao. Dos Capítulos 10 ao 13, o livro foca-se na manobra. Exemplifica como a invenção das armas de fogo tornou possível causar o máximo de baixas numa força inimiga, através da Concentração de Poder de Fogo. Em Omdurman (1898), no Sudão, um exército britânicoegípcio-sudanês de 25 000 homens causou 23 000 baixas e 5 000 prisioneiros nos 50 000 homens que compunham as forças do Khalifa Abdullah al-Taashi. Os dois capítulos seguintes estão relacionados com o tomar da iniciativa e ganhar vantagem sobre o Inimigo. Com a Obtenção e Manutenção da Iniciativa é possível a uma força tornar o ciclo de decisão do inimigo superior ao seu e pode ser conseguida através de golpes de mão, como sucedeu na “Ponte de Pegasus” (1944), na Normandia, em vésperas do dia D, onde uma pequena força aeromóvel em planadores conseguiu segurar a ponte sobre o rio Orne, impedindo os contra ataques alemães sobre os desembarques aliados. O Capítulo 16 realça o valor do potencial de combate abordando o princípio da Massa, como é exemplo a “Campanha Overland” (1864-65), na guerra civil norte americana. O Exército da União, superior em número, meios e capacidade logística, empreendeu uma ofensiva ousada, tendo sofrido pesadas baixas em consecutivas batalhas mas conseguindo manter o ímpeto do ataque, o que resultou na capitulação do Exército Confederado e o final da Guerra da Secessão. Os três capítulos seguintes explanam como táticas defensivas podem conduzir à vitória 390 Revista de Ciências Militares, Vol. II, Nº 2, novembro 2014 de um ataque inimigo, diluindo a concentração do seu poder de fogo, como aconteceu na batalha de Kursk (1943), na frente Leste da II G.M., onde os soviéticos, através da preparação de sucessivos perímetros defensivos, com obstáculos batidos por artilharia e armas anticarro e contra ataques de reservas fortes de blindados, conseguiram parar o ataque alemão, na maior batalha de carros de combate da história, criando condições para a contra ofensiva. Nos Capítulos 20 e 21 abordam-se táticas novamente relacionadas com a psicologia, associadas à deceção e terror, como a Deceção e Fintas, que se pode comprovar com o exemplo dos Q-Ships (1915-17), durante a I G.M.. Nos primeiros anos da guerra, os aliados tinham dificuldade em destruir os submarinos (U-boats) alemães, que normalmente navegavam à superfície mas que submergiam em contato com navios de guerra. Os Aliados conceberam o plano de deceção de utilizar navios de mercadorias (Q-Ships) com armamento dissimulado, com poder de fogo suficiente para destruir os U-boats. O Capítulo 22 aborda a Atrição e Aniquilação como a chave para a vitória e apresenta o exemplo de Verdun (1916), na I G.M., cidade simbólica que os alemães pretenderam conquistar, com objetivo de tirarem os franceses da guerra. As forças germânicas tentaram romper o dispositivo defensivo mas os franceses conseguiriam resistir e o que pretendia ser uma batalha ganha pela atrição teve o desenlace contrário, tendo os alemães sido derrotados devido ao grande desgaste e elevadas baixas. How to Win on the Battlefield, 25 tactics of all times — Recensão Literária ou criar condições para a mesma. A Defesa em Profundidade permite absorver o choque Os últimos dois capítulos são referentes aos dias de hoje, com táticas relacionadas com a subversão, abordando a Guerra de Guerrilha e Subversão que, nas devidas circunstâncias, pode atingir sucessos dramáticos como é exemplo a Guerra do Vietnam (1956-75) na qual os norte vietnamitas, seguindo a doutrina subversiva empregue por Mao Tsé-Tung na China, derrotaram os norte americanos, não no plano militar mas pela opinião pública. 5. Pontos fortes e fracos do argumento apresentado pelo autor Os autores pretenderam abordar “25 táticas de todos os tempos”. Contudo, o que apresentam são princípios da guerra e alguns tipos de operação e formas de manobra, o que conseguiram fazer de forma agradável e de fácil leitura. Os capítulos estão bem organizados, as pequenas introduções despertam o leitor para a relevância de cada “tática” que, de seguida, é exemplificada através de várias batalhas. Terminam com uma análise conclusiva, que realça os aspetos mais importantes comuns aos exemplos históricos apresentados, em forma de síntese. As imagens que ilustram o livro tornam a leitura apelativa e os planos de batalha ajudam a compreender como os intervenientes atuaram, ainda que, por vezes, sejam de difícil perceção dada a dimensão reduzida dos mesmos. A obra apresenta uma média de duas a três batalhas em cada capítulo, o que se traduz num elevado número de batalhas em análise que, apesar de dar ao leitor uma grande diversidade de exemplos, não permite uma análise detalhada das mesmas. Um aspeto interessante no livro é referir batalhas separadas por milhares de anos, Revista de Ciências Militares, Vol. II, Nº 2, novembro 2014 391 sendo o exemplo mais antigo de 1457 AC, no capítulo 6 - Dominar o Terreno e o Usar o Meio Envolvente, e o mais recente da segunda metade do século XX, a guerra israelo-árabe de Yom Kippur, em 1973, no capítulo 18 – Ofensiva Estratégica e Defensiva Tática. No entanto, há falta de exemplos mais recentes e, visto que os princípios são imutáveis ao longo da história, seria enriquecedor perceber os contrastes e em que medida a evolução tecnológica, e consequente armamento mais moderno, tem impacto nas batalhas. O livro surge na mesma linha que os já editados em português “Uma história de Guerra”1 e “50 Batalhas que Mudaram o Mundo”2, não sendo, por esse motivo, de grande originalidade apresentar diversas batalhas travadas ao longo dos tempos e a importância que o seu desfecho teve na história. Contudo, é inovador na análise das batalhas de acordo com a “tática” utilizada para ter sucesso nas mesmas, abordando-as com um cariz mais militar. Referências Bibliográficas Johnson, R., Whitby, M., & France, J. (2010). How to win on the Battlefield. Londres: Thames & Hudson. Keegan, J. (2006). Uma história de Guerra. Lisboa: Tinta da China. Weir, W. (2003). 50 Batalhas que Mudaram o Mundo. São Paulo: M Books. Estudo profundo e abrangente de John Keegan que percorre séculos de conflito, revelando os diversos modelos da prática de guerra, a par das grandes inovações da tecnologia militar. 2 Escrito por William Weir revela 50 batalhas, que tiveram importância vital na formação cultural e geográfica dos povos e das nações e analisa as razões e consequências de cada conflito. 1 392 Revista de Ciências Militares, Vol. II, Nº 2, novembro 2014