Etnoconhecimento dos extrativistas da ostra de mangue (Crassostrea sp.) em Cananéia
(São Paulo, Brasil).
Raquel Rodrigues dos Santos a*, Ingrid Machadob, Nivaldo Nordia
a
Laboratório de Ecologia Humana e Etnoecologia (LEHE), Universidade Federal de
São Carlos, Rodovia Washington Luiz, km 235 - SP-310, São Carlos-SP, Brasil.
[email protected]
b
Instituto de Pesca/SAA-SP. Av. Bartolomeu de Gusmão, 153, Santos-SP, Brasil.
[email protected]
* +55 19 9728 4002. [email protected]
Palavras chave: manguezal, etnoecologia, complexo estuarino, Crassostrea rizophorae,
Crassostrea brasiliana.
Titulo abreviado: Etnoconhecimento sobre a ostra de mangue
ABSTACT
The mangrove oyster C. brasiliana (sin C. rizophorae) is one of the most
important resources exploited by the artisanal fisheries sector from estuary of Cananéia.
Ethnoknowledge can be a partner of academic knowledge and can help fill gaps left by
the analysis of scientific data, resulting in management practices that helps in the
conservation and sustainable use of fisheries resources. The objective of this paper is to
expose new questions for research encouraged by the knowledge of the oysters
harvesters from estuary of Cananéia. Within this aim, non-directive and semi-structured
interviews were applied at the end of 2007 and first half of 2008. Data were analyzed
1
using the model of “unity of the various individual skills”. The results suggests more
studies about populations distribution and behavior of different oysters species, the time
of oysters growth and the influence of sunlight conditions on the bivalve in the estuary.
RESUMO
A ostra de mangue C. brasiliana (sin C. rizophorae) é um dos mais importantes
recursos explotados pelo setor pesqueiro artesanal do estuário de Cananéia.
Considerando que o etnoconhecimento como parceiro do conhecimento acadêmico pode
ajudar a preencher lacunas deixadas pela análise de dados científicos, resultando em
práticas de manejo que auxiliam na conservação e no uso sustentável dos recursos
pesqueiros, o presente trabalho objetiva expor novas questões de pesquisa incitadas pelo
conhecimento etnoecológico dos coletores de ostra do estuário de Cananéia. Para isso
foram aplicadas entrevistas não-diretivas e semi-estruturadas no final de 2007 e
primeiro semestre de 2008. Os dados foram analisados segundo o modelo de união das
diversas competências individuais. Os resultados sugerem a necessidade de mais
estudos sobre a distribuição e comportamento das populações das diferentes espécies de
ostra no estuário de Cananéia, sobre o tempo de crescimento da ostra no estuário e sobre
a influência das condições de luminosidade/insolação sobre o bivalve.
INTRODUÇÃO
Localizado entre o litoral sul do estado de São Paulo e o norte do Paraná, o
Complexo Estuarino-lagunar de Cananéia, Iguape e Paranaguá, sustenta uma faixa de
manguezais que são verdadeiros criadouros naturais para diversas espécies marinhas
(Mendonça, 2007), constituindo o terceiro estuário do mundo em termos de
produtividade primária de acordo com a União Internacional de Conservação da
Natureza (Pereira et al, 2001). Dentro deste encontra-se o Complexo Estuarino-Lagunar
2
de Cananéia, Iguape e Ilha Comprida, inserido no Vale do Ribeira e Litoral Sul, uma
das áreas mais pobres do Estado de São Paulo, onde a cultura caiçara tornou-se
altamente dependente dos recursos naturais (Machado, 2009).
A ostra de mangue Crassostrea sp. é explorada na região desde a década de 40
(Santos, 2008) e é um dos mais importantes recursos explotados pelo setor pesqueiro
artesanal do estuário de Cananéia (Mendonça & Machado, 2010, no prelo), sendo que
sessenta núcleos familiares dependem do recurso como principal fonte de renda (Pereira
et al, op. cit.). À medida que esses núcleos extrativistas (extratores/coletores) são
pressionados pelo mercado e cedem aos seus apelos, seja pela necessidade de
sobrevivência, seja pela aspiração de participarem da sociedade de consumo,
aumentam-se os riscos de depredação dos bancos naturais da ostra e de inviabilidade da
sua coleta em nível comercial (Machado, op. cit.; Garcia, 2005).
A única forma de ordenamento implementada para o recurso na região são as
portarias de 1986 e 1987 da Superintendência de Desenvolvimento da Pesca. Elas
instituem o defeso da espécie - período de 18 de dezembro a 18 de fevereiro no qual a
coleta de ostra nativa fica proibida – e também prevêem a proibição da retirada de
indivíduos menores que 50 e maiores que 100mm em todo o ano.
Também na tentativa de diminuir a pressão sobre o recurso, houve projetos de
organização da cadeia produtiva da atividade. Dentre eles, pode-se dizer que a
Cooperativa dos Produtores de Ostra de Cananéia – COOPEROSTRA (iniciada em
1997), cujo objetivo era agregar os extratores do estuário para que pudessem controlar
todos os pontos da cadeia de produção ganhando mais pelo produto vendido, gerou
impactos positivos na preservação do estoque do manguezal e na auto-estima e visão de
mundo de seus cooperados (Garcia, op. cit.). Porém, atualmente o empreendimento
3
envolve um número restrito de extratores, a grande maioria proveniente da Reserva
Extrativista do Mandira (Resex do Mandira), abrangida pelo estuário de Cananéia. Isso
somado ao significativo número de usuários do recurso em todo o estuário, o precário
ordenamento da atividade, com fiscalização deficitária nos aspectos sanitário, ambiental
e fiscal e a escassez de modelos cientificamente embasados para a gestão de recursos de
manguezal, tornam as medidas tomadas até então insuficientes para combater a
sobrexploração da ostra.
Cardoso (2008), com base na sua atuação frente à Resex do Mandira, sugere a
gestão participativa na definição do ordenamento da coleta de ostras, baseada nas
experiências e aprendizados compartilhados pelos locais. Para tanto, é fundamental um
diagnóstico do ambiente, dos atores sociais envolvidos e da maneira como estes
interpretam os recursos com os quais estão lidando (Loureiro et al, 2007).
Nesse contexto encontra-se a Etnoecologia, uma área de estudo que busca
compreender o conhecimento que as comunidades humanas possuem acerca dos
recursos naturais e ecossistemas dos quais dependem, como a classificação que
atribuem a estes (Begossi, 2004). Segundo Toledo (1992), o saber etnoecológico pode
ser dividido em “corpus” (todo o conhecimento retido na memória dos indivíduos, a
partir da capacidade de descrever e interpretar os ciclos naturais) e a “práxis” (prática de
intervenção na natureza, orientada pelos conhecimentos acumulados), os quais
desenvolvem-se a partir de experiência transmitida ao longo das gerações, do
intercâmbio dentro de uma mesma geração e da experiência individual da cada ser
humano.
A consciência pelos próprios extrativistas do seu conhecimento contribui para
participarem com propriedade e responsabilidade no manejo da pesca e para o
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fortalecimento dos valores culturais e do poder político da comunidade (Freire, 1977;
Begossi, 2004). Além de essencial para a conservação de traços culturais e subsistência
de comunidades locais, a valorização do saber local como parceiro do conhecimento
acadêmico pode ajudar a preencher lacunas deixadas pela análise de dados científicos
(Tobias, 2000 apud Hall & Close, 2006), resultando em práticas de manejo que
auxiliam na conservação e no uso sustentável dos recursos pesqueiros (Begossi, op.
cit.).
O presente trabalho objetiva levantar novas questões de pesquisa relativas ao
manejo da ostra, incitadas pelo conhecimento etnoecológico dos extrativistas do
Estuário de Cananéia. Assim, dentre um conjunto de informações do etnoconhecimento
sobre taxonomia e fatores ambientais abióticos e bióticos relacionados à ostra, serão
destacadas aquelas que não corroboram com o conhecimento acadêmico ou que
evidenciam lacunas na pesquisa relatada na literatura específica. Entende-se que a
abordagem de tais questões pode, além de gerar novos dados científicos, facilitar o
diálogo entre técnicos e usuários do recurso, na direção de uma gestão participativa.
METODOLOGIA
O grupo estudado pertence à categoria pescador profissional artesanal,
representado por extrativistas da ostra de mangue, residentes no município de Cananéia
em sua porção insular e continental, na zona rural e urbana. Tais extrativistas tiveram
cadastros socioeconômicos feitos por Machado em 2007 (Machado, 2009), dos quais
selecionou-se uma sub-amostra baseada nos seguintes critérios: local de habitação,
região principal de coleta, gênero e anos que executa a atividade. Dessa forma, foram
selecionadas e entrevistadas 13 pessoas que se disponibilizaram a participar da
pesquisa.
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Em uma primeira visita a campo, em dezembro de 2007, foi aplicada entrevista
não-diretiva (Chizzoti, 2000). A entrevista teve o objetivo de estabelecer o contato
inicial entre a entrevistadora e os entrevistados e suscitar as questões a serem mais bem
investigadas numa próxima ida a campo. As informações foram registradas em
gravador digital ou por escrito, de acordo com a permissão de cada pessoa.
Após análise das entrevistas não-diretivas, elaboraram-se questões semiestruturadas (Viertler, 2002), aplicadas aos participantes do estudo de forma sincrônica
em abril de 2008, permitindo verificação de consistência e validade das respostas
(Begossi, op. cit.). A pesquisadora confeccionou ainda um diário de campo. Esse
ajudou na compreensão do contexto da declaração oral do entrevistado, para melhor
interpretá-la, além de possibilitar a lembrança do diálogo anterior tido com cada
entrevistado e dessa maneira tornar a nova entrevista mais conectada com aquele
diálogo (Viertler, op cit.).
Os dados foram analisados segundo o modelo de união das diversas
competências individuais, que considera que cada informante fornece “um registro
supra-individual”, portanto fiel ao conhecimento comunitário local (Hays in Marques,
1991).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Etnotaxonomia
A maioria dos extrativistas diferencia dois “tipos” de ostra no estuário: a “ostra
de fundo”, também chamada de “ostra da pedra” ou “ostra de mergulho”, e a “ostra de
mangue”.
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Segundo os extrativistas, o substrato mais comum para a ostra do mangue são os
rizóforos de “mangue-bravo” (Rhizophora mangle) e ela cresce acompanhando o
formato destes. Sua concha fica muitas vezes tortuosa e acumula “limo” na superfície,
tornando-se mais escura. Os coletores comentam que estas ostras podem eventualmente
se desprender vivas dos rizóforos - por motivo de velhice e/ou impacto de chuvas,
enchentes, vento, entre outros fatores - e cair no fundo do corpo d’água. No fundo,
continuam sobrevivendo e desovando até a morte, causada, por exemplo, pelo aumento
de temperatura. Nesse caso, a ostra continua sendo considerada “ostra do mangue”, mas
passa a ser chamada também de “ostra de fundo”. Os extrativistas afirmam inclusive
que essa ostra desprendida pode se enterrar “na lama” e continuar vivendo. Para
Nascimento (1991) é quase impossível para as ostras sobreviverem ou desovarem
abaixo da interface lama-água, porque o substrato é extremamente lodoso e anaeróbico.
A ostra de fundo propriamente dita, desde a fixação da larva desenvolve-se no
sedimento de fundo dos rios e canais ou em pedras (“lages”, “pedrais”), em
profundidade que fica constantemente coberta pela maré. Apresenta concha mais
arredondada e clara do que a do mangue, cujo crescimento acompanharia a superfície da
pedra e também atingiria tamanhos maiores, por se alimentar constantemente, mas
principalmente por não sofrer muita pressão de coleta. “Do fundo é assim: três, quatro
dúzias chegam a encher uma caixa grande! Porque ela cresce muito lá no fundo,
ninguém vai querer ficar mergulhando lá.” (L., São Paulo Bagre). Os coletores
afirmam que as ostras de fundo, que apresentam 10 cm ou mais (Figura 2), são as
principais responsáveis pela reposição dos estoques, incluindo a parcela que se fixa no
mangue (ostra de mangue). Uma das causas apontadas para essa afirmação é o fato das
ostras do mangue serem coletadas antes de atingirem o tamanho reprodutivo: “Ostra de
mangue também desova só que o período dela no mangue é pouco, (porque) a gente vai
7
lá e captura.” (E., Mandira). Por conta disso, as ostras de fundo também são chamadas
de “matrizes” das ostras.
Os extrativistas não negam que a ostra de mangue também possa atingir os
tamanhos citados, se não for coletada. Isso seria possível principalmente quando ela se
desprende dos rizóforos e continua crescendo no fundo do corpo d’água. Nesse caso, a
ostra de mangue tornar-se-ia muito parecida em termos de tamanho com a ostra de
fundo, podendo ocupar até o mesmo habitat que aquela.
As informações científicas indicam que a ostra está apta a desovar quando atinge
os tamanhos de 2,5 a 3 cm no estágio adulto (Galvão et al, 2000; Wakamatsu, 1973).
Segundo Nascimento (op. cit.), em Cananéia a desova é melhor em profundidades de 7
a 8 metros, onde as correntes promovem uma maior salinidade do que a das águas
superficiais, fato que pode ser associado à percepção dos coletores sobre a ostra de
fundo ser a “matriz” das ostras.
A percepção dos extrativistas sobre a existência de diferentes “tipos” de ostra
pode ser associada aos trabalhos científicos que identificam espécies distintas de ostra
ocorrendo e sendo exploradas conjuntamente no litoral brasileiro. A partir de estudos
de genética populacional, Varela (2007) diferenciou duas espécies nativas de ostra (C.
brasiliana e C. rhizophorae) nos manguezais da costa brasileira. Christo (2006),
estudando a distribuição das populações das duas espécies no litoral paranaense, afirma
que C. rizophorae ocupa como substrato os rizóforos de mangue enquanto C. brasiliana
ocupa os substratos de fundo:
“C. rhizophorae, conhecida popularmente como ‘ostra-da-pedra’ ou
‘ostra-do-mangue’ sobretudo por estar fixada nas raízes aéreas de
plantas do mangue – Rhizophora mangle (NASCIMENTO, 1983)
8
ocorre na região entre-marés e pode atingir até 10 cm de altura. A
espécie C. brasiliana, conhecida como ‘ostra-de-fundo’, ocorre no
infralitoral e é considerada uma espécie de grande porte, podendo
atingir mais de 20 cm de altura. Os adultos de ambas as espécies são
sésseis, caracterizados por apresentarem grande plasticidade na
morfologia da concha, dependendo do substrato onde estão fixadas
(ABSHER, 1989), de modo a gerar controvérsias na identificação”.
(Christo, 2006, p 10)
Em 2008 teve início um projeto de doutorado para o estudo genético das
populações dos bosques de manguezal e canais de fundo rochoso do estuário de
Cananéia (GALVÃO, comunicação pessoal1), o qual deverá trazer importantes
contribuições para essa questão.
Ciclo de vida da ostra
Os extrativistas dizem que em qualquer parte do ano é possível notar sementes
de ostra crescendo no mangue ou em outros substratos, como barcos, muros de
concreto, pedaços de madeira. Por volta de um ou dois meses já é possível enxergar o
indivíduo fixado com aproximadamente 1,5cm de tamanho (“tamanho de um botão”).
Com aproximadamente seis meses após fixar-se no mangue a ostra já atingiu o tamanho
de 6 cm e já é permitida a sua extração. Após doze meses atinge por volta de 10 cm. Se
não for coletada, ela pode ainda alcançar mais de 25 cm.
Esse ciclo é muito semelhante ao encontrado por Cardoso (2008) entre os
moradores da Reserva Extrativista do Mandira. Porém constitui um ponto de
discordância entre o conhecimento local e o acadêmico. Pereira et al (2003) constataram
1
Projeto “Identificação molecular e avaliação de diversidade genética da ostra do gênero Crassostrea no
complexo lagunar de Cananéia-SP, para seu manejo sustentável”, pesquisadora Márcia dos Santos Nunes
Galvão, Instituto de Pesca/SAA-SP
9
que nos rizóforos as ostras de crescimento rápido levam 7,52 meses de idade para
atingir a altura mínima de 2,32 cm, as de crescimento lento demoram 16,28 meses para
atingir 3,71 cm e no viveiro atingem 5 centímetros em 14 meses.
Cardoso (op. cit.) atribui a percepção de um menor período de crescimento das
ostras pelos extrativistas à relação com os viveiros de engorda e/ou ao fato da
reprodução ocorrer durante todo o ano, existindo diversas coortes de tamanho
diferenciado. Além disso, a autora citada não descarta a possibilidade da Resex ser um
lugar propício para um crescimento mais acelerado das ostras, fato também relatado por
Machado (2009), por meio de entrevistas com moradores externos à Resex.
O fato de os extrativistas de outras áreas do estuário - inclusive aqueles que
tiveram contato com a informação acadêmica sobre o assunto - insistirem no ciclo de
crescimento mais curto do que o descrito nos trabalhos científicos reforça a necessidade
de mais estudos tanto no estuário de Cananéia como um todo, quanto na Reserva
Extrativista do Mandira.
Fatores ambientais relacionados à ostra
As condições de insolação para a sobrevivência da ostra, apontadas pelos
coletores, devem ser uma mescla entre a sombra proporcionada pela folhagem do
mangue e o sol que atinge as raízes em determinadas partes do dia. A sombra é vista
como a luminosidade na qual a ostra se aclimatiza mais, porém também há
concordância sobre o sol ser necessário para o crescimento e fortalecimento da concha.
No contexto desta interpretação, alguns extrativistas relataram a existência de uma
prática de manejo denominada “castigo”. Nessa prática as ostras são postas em
“lanternas” e periodicamente retiradas da água. Ao serem manejadas desta forma, são
10
expostas ao ar e ao sol e às conseqüentes variações de temperatura e insolação, o que as
tornaria mais resistentes:
“Meu cunhado fez aquelas lanternas. A lanterna é uma gaiola que
tem 5 compartimentos (...). Tipo um viveiro, só que ela é redonda e
você coloca ostra ali dentro e depois joga pra água, daí fica
pendurado (...) Essa ostra pode durar mais pra transporte porque
você dá um castigo nela: pega ela, tira d’água e deixa 3, 4 dias (...)
aí ela acostuma com clima, com sol e volta pra água (...).Quando for
transportar ela tá acostumada com frio e o calor. Aí ela não abre
rápido.” (A., Acaraú)
Em experimentos realizados pelo Instituto de Pesca, as ostras captadas em
coletores artificiais, quando mantidas permanentemente submersas em lanternas de
engorda tiveram o seu crescimento prejudicado, a maior parte não alcançando tamanho
comercial e atingindo elevadas taxas de mortalidade. Já no sistema de cultivo em
viveiros nas entremarés (sistema de cultivo em tabuleiros ou camas fixados nas “coroas”
ou planícies de maré na beira do mangue, desenvolvido na década de 70), onde as ostras
permanecem periodicamente expostas ao sol e ao ar, ao sabor das variações da maré,
uma maior parcela dos indivíduos alcança tamanho comercial. Estas experiências
sugerem que a ostra necessita em certa medida da exposição ao ar e/ou luminosidade do
sol como estímulo para o seu crescimento.
Ademais, a única referência direta encontrada na literatura científica sobre a
relação da luminosidade com a ostra refere-se à fototaxia negativa apresentada pelas
larvas no momento do recrutamento, algo que não foi comentado pelos coletores.
CONCLUSÕES
11
Observa-se a necessidade de mais estudos que abordem a distribuição das
populações das diferentes espécies de ostra no estuário de Cananéia, destacando-se as
distinções morfológicas, fisiológicas, de habitat e de comportamento entre elas. A
abordagem destas questões pode subsidiar também a investigação sobre o tempo de
crescimento da ostra de mangue no estuário: se ele é realmente superestimado pelos
extrativistas ou se e quais fatores e/ou condições ambientais locais determinam uma
taxa de crescimento diferenciada. Ademais, mais estudos sobre a influência das
condições de luminosidade/insolação sobre o bivalve podem melhorar as técnicas de
manejo da ostra em viveiros de engorda e aumentar a viabilidade do cultivo integral das
espécies nativas do gênero Crassostrea. Recomenda-se ainda um estudo etnoecológico
mais profundo sobre essas questões específicas, uma vez que este pode mostrar pontos
de partida mais seguros para procedimentos científicos mais custosos e demorados.
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos extrativistas participantes desta pesquisa.
15
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