RENATO MENDES MINEIRO ATIVIDADES PARA O ESTUDO DE SUPERFÍCIES QUÁDRICAS, MEDIADAS POR UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO São Paulo 2011 RENATO MENDES MINEIRO ATIVIDADES PARA O ESTUDO DE SUPERFÍCIES QUÁDRICAS, MEDIADAS POR UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a orientação da Professora Doutora Vera Helena Giusti de Souza. UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO São Paulo 2011 M492a Mendes, Renato Mineiro. Atividades para o estudo de superfícies quádricas mediadas por um modelo de representação tridimensional/ Renato Mineiro Mendes – São Paulo: [s. n.], 2011. 174 f.il. ; 30cm. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, Universidade Bandeirante de São Paulo, Curso de Educação Matemática. Orientadora: Profa Dra. Vera Helena Giusti de Souza. 1. Superfícies quádricas 2. Representação tridimensional 3. Componentes formais, algorítmicas e intuitivas 4. Registros de representação semiótica 5. Visualização I. Título. CDD: 372.7 RENATO MENDES MINEIRO ATIVIDADES PARA O ESTUDO DE SUPERFÍCIES QUÁDRICAS, MEDIADAS POR UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL DISSERTAÇÃO APRESENTADA A UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO COMO EXIGÊNCIA DO PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA Presidente e Orientador Profa. Dra. Vera Helena Giusti de Souza Doutorado em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Assinatura: 2º Examinador Profa. Dra. Rosana Nogueira de Lima Doutorado em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Assinatura: 3º Examinador Prof. Dr. Raymond Guy Jean Claude Duval Doutorado em Psicologia Genética pela Université Paris X - Nanterre Assinatura: Biblioteca Bibliotecário: _________________________________________________ Assinatura: _________________________________ Data: ___ / ___ / ___ São Paulo, ___ de ________________ de 20____ Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação, por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos Assinatura: ___________________________Local e Data: _____________ Dedicatória A Deus, o maior de todos os Geômetras e às três pessoas mais importantes da minha vida, Rosangela, Mauro e Mariana AGRADECIMENTOS À Profa. Dra. Vera Helena Giusti de Souza, minha orientadora, pela constante dedicação e pela paciência, que soube tão bem e com tanto carinho, aconselhar-me nos momentos mais difíceis da jornada. À Profa. Dra. Rosana Nogueira de Lima, pelas valiosas contribuições da Qualificação, por todo o incentivo e amizade. Ao Prof. Dr. Raymond Duval, pela generosidade em compartilhar suas opiniões e considerações conosco e pelas importantes contribuições durante a Qualificação. À Profa. Dra. Tania Maria Mendonça Campos, Presidente do Conselho de Pós-Graduação e Pesquisa da UNIBAN-SP, por acreditar em mim, desde o primeiro dia de aula e por não medir esforços nas situações em que precisei de seu apoio. Aos companheiros de estudo Olga Corbo, Ana Maria Poggio e Raimundo Brandão, pelo apoio e por todos os cafés que tomamos juntos em agradáveis momentos, dos quais tenho certeza que vou sentir saudades. Aos colegas de trabalho da Noritsu do Brasil, que devem ter ficado sobrecarregados pelas minhas ausências. Obrigado por toda a ajuda e compreensão. Aos alunos que concordaram em participar como sujeitos da pesquisa, que apesar de anônimos nas páginas deste texto, sabem o quanto foram importantes para o andamento dos trabalhos. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da UNIBAN-SP, sempre compromissados e prontos a ajudar. A todos meus amigos e de modo particular ao meu irmão Silvio Scalisse, pela constante torcida e à sobrinha Stéfany Scalisse, minha cinegrafista preferida. Aos meus amores, Rosangela, Mauro e Mariana, que souberam compreender a ausência do esposo e pai, e que têm me ensinado tanto sobre coisas diferentes da Matemática, como sobre a vida. A Matemática, vista corretamente, possui não apenas verdade, mas também suprema beleza. Uma beleza fria e austera, como a da escultura. Bertrand Russell (1872 – 1970) RESUMO Com esta pesquisa, tivemos por objetivo verificar se uma abordagem que envolva tratamentos e conversões entre diferentes registros de representação semiótica, mediada por um modelo de representação tridimensional, pode favorecer a visualização de superfícies quádricas. Para alcançar este objetivo, fizemos uma intervenção junto a alunos do 3º Ano de um curso de Licenciatura em Matemática. Buscamos a fundamentação teórica para a elaboração das atividades nas ideias de Duval (1999), que distingue a visão (imediatamente acessível ao primeiro olhar, porém não suficiente para desenvolver funções cognitivas fundamentais) da visualização (responsável pela organização das relações entre as informações obtidas pela visão, em busca da produção de representações semióticas, de forma a desenvolver tais funções) e defende a necessidade de sabermos representar os objetos matemáticos em pelo menos dois diferentes sistemas de representação semiótica, com as mudanças de registros, tanto em cada um dos sistemas (tratamento) como de um para outro (conversão). Analisamos os protocolos obtidos nas atividades à luz das concepções de Fischbein (1993), que defende a necessidade da interação entre componentes formais, algorítmicas e intuitivas de um conteúdo matemático. Fundamentados por estes quadros teóricos, respondemos nossa questão de pesquisa: “Uma sequência de atividades que envolvam tratamentos e conversões de registros de representação semiótica, mediadas por um modelo de representação tridimensional, pode favorecer a visualização das superfícies quádricas?”. A análise qualitativa dos protocolos e filmagens obtidos indica que, para a maioria dos sujeitos desta pesquisa, aspectos intuitivos, frutos de aprendizagens anteriores e fortemente enraizadas, sobrepuseram-se a aspectos formais e algorítmicos, bloqueando iniciativas que pudessem fazê-los ir além da percepção visual das representações e assim favorecessem o desenvolvimento da visualização de superfícies quádricas. Palavras-chave: superfícies quádricas, representação tridimensional, componentes formais, algorítmicas e intuitivas, registros de representação semiótica, visualização ABSTRACT With this work we intended to verify if an approach involving treatments and conversions between different register of semiotics representation, mediated by a three-dimensional representation model, can promote visualization of quadrics surfaces. In order to reach our purpose, we promoted an intervention along with students of a 3rd year of a degree course in mathematics. We seek the theoretical basis for the conception of the activities on the ideas of Duval (1999), that distinguishes vision (immediately accessible at first glance, but unable, by itself, to develop fundamental cognitive functions) from visualization (responsible by relating information, which were obtained by vision, with semiotics representations, in order to develop such functions) and advocates the need for students to represent mathematical objects in at least two different semiotic systems of representation, with changes of registers, either inside each one of the systems (treatment) or between the two of them (conversion). We analyzed the protocols, which we obtained with the activities, based on the conceptions of Fischbein (1993), who defends the need of the interaction between formal, algorithmic and intuitive components of a mathematical content. Based on these theoretical frameworks, we have answered our research question: “A set of activities, involving treatment and conversion of semiotic registers, mediated by a three-dimensional representation, may promote visualization and interaction between formal, intuitive and algorithmic aspects of quadric surfaces?”. Qualitative analysis of protocols and videos obtained with this intervention indicates that for most subjects in this study, intuitive aspects, fruits of prior and strongly rooted learning, overlapped formal and algorithmic aspects, by blocking initiatives that would take them beyond visual perception of representations and could help them to develop visualization of quadric surfaces. Keywords: quadric surfaces, three-dimensional representation, formal, algorithmic and intuitive components, registers of semiotic representation, visualization LISTA DE DESENHOS DESENHO 1. TRIÂNGULO ISÓSCELES ................................................................. 25 DESENHO 2. QUAL DOS PONTOS É MAIOR? ....................................................... 27 DESENHO 3. REPRESENTAÇÃO BIDIMENSIONAL DE UM CUBO ....................... 30 DESENHO 4. REPRESENTAÇÃO DE UM QUADRADO E DE UMA PIRÂMIDE ..... 31 DESENHO 5. PROJEÇÃO PARALELA SOBRE UM PLANO PARALELO À AA'C'C .................................................................................................................................. 34 DESENHO 6. INTERSECÇÃO DOS PLANOS ABC E AA'C'C.................................. 35 DESENHO 7. INTERSECÇÃO DE PLANOS ............................................................ 35 DESENHO 8. EXEMPLOS DE GRÁFICOS OBTIDOS PELO CORTE DE UMA SUPERFÍCIE QUÁDRICA ......................................................................................... 40 DESENHO 9. TRIÂNGULO ABC .............................................................................. 49 DESENHO 10. SOBREPOSIÇÃO DE GRÁFICOS BIDIMENSIONAIS ..................... 56 DESENHO 11. PERSPECTIVA DE UM HIPERBOLÓIDE ........................................ 67 DESENHO 12. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 3 .............. 75 DESENHO 13. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 2 .............. 75 DESENHO 14. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (2, 3) E RAIO 3 ............. 76 DESENHO 15. TRIÂNGULO RETÂNGULO XPPC .................................................... 78 DESENHO 16. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (XC, YC) E RAIO CP ...... 79 DESENHO 17. ELIPSE COM CENTRO EM C (0, 0) E FOCOS SOBRE O EIXO X . 82 DESENHO 18. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (-3, 2) E RAIO 3 ............ 83 DESENHO 19. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 3 .............. 93 DESENHO 20. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (2,-3) E RAIO 3 ............. 94 DESENHO 21. RESPOSTA DO G2 – ITEM 1.1........................................................ 98 DESENHO 22. REPRESENTAÇÃO DE UMA RETA NO R3 ................................... 103 DESENHO 23. REPRESENTAÇÃO DE UMA RETA NO R2 ................................... 103 DESENHO 24. RESPOSTA DO G2 – ITEM 1.2...................................................... 104 DESENHO 25. ALVO PARA COMPETIÇÕES DE ARCO E FLECHA .................... 113 DESENHO 26. CURVAS DE NÍVEL CORRESPONDENTES AO MODELO 3 ....... 113 DESENHO 27. REPRESENTAÇÃO EM PERSPECTIVA E EM PERFIL ................ 123 DESENHO 28. CORTE DE UMA FIGURA NO PLANO YZ ..................................... 124 DESENHO 29. ESBOÇO DO G4 – ITEM 3.3 .......................................................... 128 DESENHO 30. PROJEÇÃO DE UMA QUÁDRICA NO PLANO DE BASE ............. 130 LISTA DE QUADROS QUADRO 1. ENUNCIADO DO ITEM 1.6 ................................................................ 118 QUADRO 2. ENUNCIADO DO ITEM 4.1 ................................................................ 131 QUADRO 3. ATIVIDADE 5.1 – G4 .......................................................................... 136 QUADRO 4. ENUNCIADO DO ITEM 5.3 ................................................................ 138 LISTA DE FOTOS FOTO 1. PERFURAÇÃO E MONTAGEM DAS TRANSPARÊNCIAS ....................... 41 FOTO 2. RECORTE DOS ESPAÇADORES E MONTAGEM.................................... 41 FOTO 3. COLAGEM E CORTE DAS EXTREMIDADES ........................................... 42 FOTO 4. UMA REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL DA HIPERBOLOIDE DE DUAS FOLHAS ......................................................................................................... 42 FOTO 5. MODELO 1 ................................................................................................. 96 FOTO 6. MODELO 2 ................................................................................................. 97 FOTO 7. MODELO 3 ................................................................................................. 97 FOTO 8. ESCADA EM ESPIRAL ............................................................................ 115 FOTO 9. CENTRO AQUÁTICO NACIONAL DE PEQUIM ...................................... 122 LISTA DE TABELAS TABELA 1. EQUAÇÕES COM TRÊS E DUAS INCÓGNITAS .................................. 45 TABELA 2. GRÁFICOS OBTIDOS A PARTIR DAS EQUAÇOES COM DUAS INCÓGNITAS ............................................................................................................ 46 TABELA 3. TRATAMENTO DENTRO DE UM REGISTRO ALGÉBRICO ................. 53 TABELA 4. CONVERSÃO DO REGISTO ALGÉBRICO PARA O GRÁFICO ............ 53 TABELA 5. CONVERSÕES CONGRUENTES E NÃO CONGRUENTES ................. 54 TABELA 6. RESPOSTAS DA QUESTÃO 1 .............................................................. 81 TABELA 7. RESPOSTAS DA QUESTÃO 2 .............................................................. 84 TABELA 8. RESPOSTAS DA QUESTÃO 3 .............................................................. 86 TABELA 9. RESPOSTAS DA QUESTÃO 4 .............................................................. 89 TABELA 10. RESPOSTAS DAS QUESTÕES 1 A 4 ................................................. 91 TABELA 11. LOCALIZAÇÃO DE PONTOS NO R3 ................................................... 99 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13 1: APRESENTAÇÃO.............................................................................................. 13 2: JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 15 3: OBJETIVO E QUESTÃO DE PESQUISA .......................................................... 17 CAPÍTULO 1: REVISÃO DE LITERATURA ............................................................. 18 CAPÍTULO 2: UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL.............. 40 CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS ........................................................ 43 3.1 FISCHBEIN: A INTERAÇÃO ENTRE AS COMPONENTES FORMAIS, ALGORÍTMICAS E INTUITIVAS NA ATIVIDADE MATEMÁTICA .......................... 44 3.2 DUVAL: REPRESENTAÇÃO, VISÃO E VISUALIZAÇÃO ................................ 50 CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................... 60 4.1 QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS ...................... 61 4.1.1 Questão 1 .................................................................................................. 62 4.1.2 Questão 2 .................................................................................................. 63 4.1.3 Questão 3 .................................................................................................. 64 4.1.4 Questão 4 .................................................................................................. 64 4.2 INSTITUCIONALIZAÇÃO ................................................................................ 65 4.3 ATIVIDADES COM MODELO DE REPRESENTAÇÃO ................................... 66 4.3.1 Atividade 1 ................................................................................................. 66 4.3.2 Atividade 2 ................................................................................................. 69 4.3.3 Atividade 3 ................................................................................................. 70 4.3.4 Atividade 4 ................................................................................................. 70 4.3.5 Atividade 5 ................................................................................................. 71 4.3.6 Atividade 6 ................................................................................................. 71 CAPÍTULO 5: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .................................. 73 5.1 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS 73 5.1.1 Questão 1 .................................................................................................. 74 5.1.2 Questão 2 .................................................................................................. 81 5.1.3 Questão 3 .................................................................................................. 84 5.1.4 Questão 4 .................................................................................................. 86 5.2 INSTITUCIONALIZAÇÃO ................................................................................ 92 5.3 ANÁLISE DAS ATIVIDADES COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL................................................................................................. 95 5.3.1 Atividade 1 ................................................................................................. 96 5.3.2 Atividade 2 ............................................................................................... 120 5.3.3 Atividade 3 ............................................................................................... 126 5.3.4 Atividade 4 ............................................................................................... 131 5.3.5 Atividade 5 ............................................................................................... 135 5.3.6 Atividade 6 ............................................................................................... 142 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 146 1: CONCLUSÕES ................................................................................................ 146 2: CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 153 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 158 APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS ... 160 APÊNDICE B - ATIVIDADES COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL ................................................................................................. 165 ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............... 171 ANEXO B – PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA .............................................. 174 13 INTRODUÇÃO 1: APRESENTAÇÃO Considerei importante, nesta introdução, escrever um pouco sobre mim mesmo, o autor deste projeto, assim como de minha tardia trajetória acadêmica. Tendo em vista que se trata de um relato pessoal, tomei a liberdade, exclusivamente nesta etapa, de escrever em primeira pessoa do singular. Iniciei minha vida escolar em 1976, numa escola municipal de um bairro da periferia de São Paulo. Lembro-me que uma das poucas ruas asfaltadas da região era a rua da escola e que, quando chovia, apesar da roupa molhada e da lama, que chegava aos joelhos, não deixava de frequentar as aulas. Numa época em que a escola não era para todos, exceder o número de faltas podia levar à expulsão. Havia, na época, a instituição da repetência. Os alunos que não conseguiam bom aproveitamento nas disciplinas eram mantidos na mesma série escolar, ou como dizíamos na época, “repetiam de ano”. Àqueles que repetiam consecutivamente, ano após ano e que se tornavam crianças grandes em salas de pequenos, restava conformar-se com a sua “falta de jeito” para vida escolar e abandonar os estudos. Ainda escuto, vez por outra, alguns que dizem: “No meu tempo se ensinava assim, e nós aprendíamos!”. Esquecem-se, no entanto, dos muitos que não conseguiram aprender e que desistiram de estudar. Neste contexto, em que o ensino tradicional exercia sua hegemonia, ao focar-se no ensino e não na aprendizagem, pude conhecer, entre a 7ª e 8ª séries do 1º Grau (atual Ensino Fundamental), um professor de Matemática chamado Clóvis. Embora fosse bastante severo e não admitisse que os alunos conversassem durante as suas aulas (eu confesso que não gostava muito desta sua rigidez), demonstrava preocupar-se com cada um de nós. Importava-se se estávamos conseguindo acompanhar o desenvolvimento dos conteúdos. Eu percebia que o professor preparava com antecedência as aulas e que procurava contextualizar cada um dos conceitos matemáticos, fazendo com que a aprendizagem desses novos conceitos se relacionasse com os conhecimentos 14 que já possuíamos. Nunca vinha de “mãos vazias”. Isto fazia com que nos sentíssemos importantes e aumentava a nossa autoestima. Em suas aulas, costumava incentivar-nos dizendo que “todos os dias milhares de Albert Einsteins viajam apertados nos vagões do metrô”, fazendo-nos acreditar que pudessem existir entre nós pessoas tão inteligentes quanto Einstein, fazendo-nos ver que éramos capazes de vencer os obstáculos impostos pela nossa origem humilde e que éramos capazes de aprender. Passaram-se, desde então, quase trinta anos. Depois de ter iniciado e interrompido um curso de Engenharia, depois de ter concluído um curso Técnico em Eletrônica e depois de trabalhar na indústria por mais de vinte e cinco anos, decidi voltar a estudar, e não tive dúvidas na hora de escolher a minha futura profissão: Professor de Matemática. Ingressei num curso de Licenciatura em Matemática, e pude perceber, então, quanto avanço deu-se, não tanto quanto à Matemática, mas principalmente quanto ao modo como se ensina Matemática. A escola atual, diferentemente da que frequentei na infância, pretende ser para todos: os que têm e os que não têm facilidade em aprender. Mais à frente, quase ao final do curso de Licenciatura, fui apresentado aos conceitos que controlam a representação tridimensional dos objetos matemáticos e percebi que, apesar do avanço das metodologias em algumas áreas, a passagem do mundo bidimensional para o tridimensional parecia ter sido negligenciada. As representações de objetos tridimensionais eram feitas basicamente em duas dimensões, no quadro negro, nos livros, e até mesmo nas telas dos computadores. Embora na época eu ainda não tivesse tido contato com as teorias de aprendizagem que pude conhecer posteriormente no curso de Mestrado, tinha a convicção de que era possível desenvolver estratégias que favorecessem a aprendizagem relacionada à representação de objetos tridimensionais, e que pudessem colaborar com a superação das dificuldades encontradas na mudança do R2 para o R3. Foi esta convicção que me possibilitou prosseguir e desenvolver esta pesquisa, que agora tenho a felicidade de compartilhar com todos aqueles que como eu, acreditam na possibilidade de transformação por meio da educação e do saber. 15 2: JUSTIFICATIVA As superfícies quádricas, como todos os objetos matemáticos, são entidades abstratas, inacessíveis à nossa percepção sensorial. Não podemos “ver”, “tocar”, ou “pegar” uma superfície quádrica. O acesso e a comunicação sobre estas entidades se dão exclusivamente por meio de sua representação. Para isso, podemos utilizar um sistema de representação, que pode ser discursivo (quando nos referimos às quádricas por meio da linguagem escrita ou falada, ou por meio da expressão algébrica correspondente), figural (quando utilizamos desenhos) ou gráfico (quando utilizamos um sistema de coordenadas, como o sistema cartesiano tridimensional). No período em que frequentamos as aulas da disciplina de Cálculo Integral, pudemos presenciar uma grande dificuldade de entendimento dos conceitos envolvidos na representação de superfícies quádricas, aliada a uma também grande dificuldade por parte dos professores em fazer-se entender sobre tais conceitos. Na ocasião, acreditávamos que a construção de um modelo de representação tridimensional que apresentasse de forma simultânea a representação gráfica da equação em diferentes cortes do plano, a exemplo do que ocorre com as curvas de nível, porém em três dimensões, pudesse ajudarnos a avançar na aprendizagem deste conteúdo. Incomodados com a ausência de tal recurso e em busca de uma representação que superasse as limitações bidimensionais do livro didático e do quadro negro, desenvolvemos um modelo de representação de equações no sistema coordenado retangular tridimensional R3, composto pela sobreposição de transparências impressas com gráficos bidimensionais. No CAPÍTULO 2: UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL, apresentamos alguns detalhes sobre a confecção das transparências e montagem do modelo. Mais adiante, em nosso percurso dentro do programa de Mestrado em Educação Matemática da UNIBAN-SP, pudemos ter contato com as ideias de Efraim Fischbein (1993), sobre a necessidade da interação entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas de um conteúdo matemático; e as de Raymond Duval, (1999) que de um ponto de vista focado no desenvolvimento cognitivo, distingue a visão (imediatamente acessível ao primeiro olhar, porém 16 incapaz de desenvolver as funções cognitivas fundamentais) da visualização (responsável pela organização das informações obtidas pela visão em busca da produção de representações semióticas) e defende a necessidade de que os alunos desenvolvam a aprendizagem sobre os objetos matemáticos em pelo menos dois diferentes registros de representação semiótica, e que saibam coordenar a mudança entre estes registros. Este quadro teórico foi fundamental durante a nossa pesquisa, ao nortear nossas ações e auxiliar-nos tanto na elaboração quanto na análise das atividades que foram desenvolvidas. No CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, apresentamos com mais detalhes estas concepções. Além dessas leituras, que referenciaram teoricamente a concepção de nosso trabalho, analisamos trabalhos já realizados de outros pesquisadores, que em alguns de seus aspectos relacionam-se com a nossa proposta. Destes, destacamos as pesquisas feitas por Tavares (1998), Medalha (1997) e Reis (2006), que optaram, em seus procedimentos metodológicos, pela utilização de modelos concretos de representação; por Possani (2002), que investigou as possibilidades de representações planas de objetos tridimensionais em um ambiente informático; e por Imafuku (2008), que buscou respostas sobre o motivo das dificuldades envolvidas na passagem do estudo de funções de uma variável para o estudo de funções de mais de uma variável. Adicionalmente, fizemos a leitura de um dos artigos de Fischbein (1993) sobre a dupla natureza das figuras geométricas, que são ao mesmo tempo imagem e conceito; de um artigo de Parzysz (1988), sobre a inevitável perda de informação quando da representação de figuras geométricas, e sobre o conflito apresentado entre o que os alunos sabem sobre determinada figura geométrica (sabido) e o que os alunos conseguem ver na representação desta figura (visto); e de um artigo de Rommevaux (1998) sobre a importância do discernimento dos planos em representações bidimensionais de objetos tridimensionais. Detalhes sobre as pesquisas e sobre estes artigos, assim como as considerações sobre como influenciaram nosso trabalho, podem ser encontrados no CAPÍTULO 1: REVISÃO DE LITERATURA. No CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS, apresentamos os detalhes relativos à concepção da intervenção que fizemos junto a alguns alunos do 3º ano de um curso de Licenciatura em Matemática, que consistiu na 17 resolução de um questionário de revisão sobre circunferências e em atividades sobre superfícies quádricas mediadas por um modelo de representação tridimensional. A análise das respostas apresentadas no questionário e nas atividades em que usamos o modelo de representação encontra-se no CAPÍTULO 5: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS. Nossas conclusões e considerações finais basearam-se na análise qualitativa dos dados obtidos na intervenção que fizemos. 3: OBJETIVO E QUESTÃO DE PESQUISA O objetivo de nossa pesquisa é verificar se uma abordagem que envolva tratamentos e conversões entre diferentes registros de representação semiótica, mediada por um modelo de representação tridimensional, pode favorecer a visualização das superfícies quádricas. Para isso, faremos uma intervenção junto a alguns alunos do 3º Ano de um Curso de Licenciatura em Matemática, por meio de algumas atividades que incluem a resolução de um questionário sobre circunferências e atividades que envolvem a representação de superfícies quádricas em diferentes registros de representação semiótica. Detalhes sobre estas atividades, assim como as razões que nos levaram a propô-las, podem ser encontradas no CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. Ao final, após a análise dos protocolos que serão obtidos nas atividades, gostaríamos de responder a seguinte questão, que se originou no período em que fazíamos a graduação, e que acreditamos ter ganhado maior relevância em nosso percurso pelo Programa de Mestrado: Q. Uma sequência de atividades que envolvam tratamentos e conversões de registros de representação semiótica, mediadas por um modelo de representação tridimensional, pode favorecer a visualização das superfícies quádricas? 18 CAPÍTULO 1: REVISÃO DE LITERATURA Considerando que o objetivo de nossa pesquisa é verificar se uma abordagem que envolva tratamentos e conversões entre diferentes registros de representação semiótica, mediada por um modelo de representação tridimensional, pode favorecer a visualização das superfícies quádricas, fomos levados à leitura de pesquisas já realizadas, cujos autores houvessem se preocupado em estudar os processos de ensino e de aprendizagem envolvidos na representação de objetos matemáticos tridimensionais. Alguns destes autores, como Tavares (1998), Medalha (1997) e Reis (2006), desenvolveram suas pesquisas utilizando-se de modelos concretos de representação. Outros, como Possani (2002), utilizaram-se de recursos computacionais. Adicionalmente, a fim de entender os entraves que se apresentam quando da passagem do estudo de funções de uma variável para o estudo de funções com mais de uma variável, fizemos a leitura do trabalho de Imafuku (2008). Também tivemos contato com alguns artigos de Fischbein (1993) sobre a Teoria dos Conceitos Figurais; de Parzysz (1988), sobre os conflitos entre o “visto” e o “sabido”; e de Rommevaux (1998) sobre a importância do discernimento dos planos em representações bidimensionais de objetos tridimensionais. Apresentamos a seguir um pequeno resumo sobre cada uma destas pesquisas e artigos e as implicações destas leituras em nosso trabalho. Baseado em sua prática docente como professor do Ensino Médio e de Licenciatura em Matemática, Tavares (1998) afirma que os alunos apresentam grande dificuldade no estudo da Geometria Espacial, e que esta dificuldade é provocada, na maioria das vezes, pela deficiência das habilidades de visualização e percepção do aluno (p. 11). Embora os livros didáticos de Matemática e os desenhos feitos pelo professor no quadro negro representem figuras espaciais, sua característica plana pode não favorecer aqueles alunos que não têm o pensamento espacial desenvolvido (p. 15). Preocupado com este aspecto, desenvolveu um trabalho de pesquisa, cujo objetivo era apresentar uma proposta alternativa para a construção do conceito de volume de uma pirâmide 19 qualquer e identificar a importância da intuição, visualização, percepção e representação na construção de uma ideia geométrica. Seu trabalho pautou-se pelas seguintes questões de pesquisa Como os alunos do 2.º grau constroem o conceito de volume de uma pirâmide qualquer? Qual a influência da visualização na construção da ideia de volume? Qual é o papel da utilização de diferentes abordagens na construção do conceito de volume? (TAVARES, 1988, p.16). A fim de responder estas questões, o autor promoveu nove encontros de duas horas-aula cada. Os alunos que participaram da atividade estavam matriculados no 2º Grau (atual Ensino Médio) de uma escola estadual da cidade de Campos, no Rio de Janeiro. Durante os encontros, foram propostas algumas atividades que combinavam questionários e atividades experimentais relacionadas ao cálculo de volume de pirâmides e prismas. Nas atividades experimentais, foram utilizados sólidos geométricos feitos de sabão, que eram mergulhados em vasilhames com água. A medição da variação do nível da água, associada ao conhecimento das dimensões do recipiente, permitiram aos alunos o cálculo do volume de cada um dos sólidos que era imerso. Esta atividade simulava o experimento atribuído à Arquimedes, matemático da antiguidade que, diante da tarefa de descobrir se uma coroa era feita de ouro maciço ou de alguma liga que incluía prata, calculou o volume da coroa de forma indireta, mergulhando-a numa banheira e observando o volume de água que era deslocado. Munido das informações sobre o peso da coroa, seu volume e a densidade do ouro e da prata, conseguiu provar que a coroa era feita de uma liga de ouro e prata, e não de ouro maciço como havia encomendado o Rei Hierão ao desonesto ourives que executara o trabalho. No caso específico desta pesquisa, os alunos partiram da constatação empírica do volume dos poliedros, de acordo com a proposição de Arquimedes, chegando à formalização destes conceitos, conforme os princípios de Cavalieri. Segundo Tavares (1998), as atividades experimentais, ao envolverem a manipulação de modelos concretos, despertaram grande interesse por parte dos alunos, favorecendo o desenvolvimento dos conhecimentos matemáticos e levando-os, ao final, a encontrarem a fórmula para o cálculo do volume de uma pirâmide. 20 Medalha (1997) investigou o modo pelo qual os processos de visualização atuam na construção de conceitos matemáticos, procurando identificar quais as habilidades básicas e quais os facilitadores para o desenvolvimento do pensamento espacial. Para isso, desenvolveu uma sequência de atividades junto a alguns alunos, entre 16 e 19 anos, matriculados na 2ª e 3ª séries do 2º Grau (atual Ensino Médio) do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Durante os encontros foram construídos, manuseados e observados alguns sólidos geométricos, a partir dos quais os alunos deviam produzir imagens mentais que os ajudassem a abstrair e inferir sobre as propriedades dos objetos matemáticos, sem a presença do modelo concreto correspondente. Medalha (1997) analisou os dados obtidos durante as atividades à luz das concepções de Van Hiele (1986) quanto às quatro etapas de desenvolvimento do raciocínio (reconhecimento, análise, síntese e dedução informal) e na abordagem de Hoffer (1991) sobre as habilidades necessárias para que se dê o desenvolvimento do raciocínio (visual, gráfica, linguística e lógica). A autora reforça a necessidade de que se trabalhem os aspectos da Geometria Espacial com recursos adicionais ao giz, quadro negro e livro didático, que apresentam possibilidades de representação essencialmente planas. Concluiu que para o desenvolvimento da visualização são necessários alguns elementos, como a construção da imagem mental, as múltiplas representações do objeto matemático (gráfica, escrita, falada) e o raciocino visual. A análise dos dados coletados comprova que os alunos participantes da pesquisa desenvolveram habilidades relacionadas à visualização. Concordamos com Tavares (1998) e Medalha (1997) quando se referem à importância que a visualização e a percepção espacial podem apresentar na construção de imagens mentais em atividades matemáticas, no entanto, a nosso ver, apoiados nas ideias de Duval (1999), há uma diferença fundamental entre a percepção visual que chamamos de “visão” e a “visualização”: a “visão” é capaz de, ao primeiro olhar, obter acesso imediato à representação da figura, porém é por meio da “visualização” que as informações obtidas pela visão, chamadas de unidades representacionais, são compreendidas e organizadas de modo a formar uma representação semiótica. Nas palavras de Duval, “[...] a visualização não 21 pode ser reduzida à visão, ou seja, a visualização torna visível tudo o que não é acessível pela visão” 1 (DUVAL, 1999, p. 13, tradução nossa). Em busca de pesquisas que, a exemplo da nossa, houvessem utilizado modelos concretos de representação, encontramos o trabalho de Reis (2006), que se dedicou à identificação de materiais manipuláveis e à investigação do modo pelos quais estes materiais poderiam colaborar com a aprendizagem dos conceitos elementares de Geometria Esférica. Para isso, desenvolveu um curso de extensão universitária sobre o tema, do qual participaram dez alunos do terceiro ao oitavo semestres dos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Matemática da UNESP de Rio Claro - SP. O curso apresentava atividades que envolviam a resolução de problemas relacionados à Geometria Esférica, a utilização de materiais manipuláveis como caleidoscópios e esferas de isopor, e a utilização de um software de Geometria Dinâmica. Reis (2006) justificou a escolha da resolução de problemas como recurso didático, em concordância com as concepções de Onuchic (1999) sobre “ensinar por meio da resolução de problemas” e com as definições de Ponte e Matos (2003) sobre as características da investigação como metodologia de ensino da Matemática. Quanto às etapas necessárias a resolução dos problemas, orientouse pela abordagem proposta por Polya (1977), que as dividem em quatro: compreensão do problema, construção de uma estratégia, execução da estratégia e verificação dos resultados. Ao optar pela utilização de modelos concretos, a autora cita Pais (1996), para quem “o objeto é a forma de representação primária do conceito matemático, ou seja, a forma mais acessível e imediata à sensibilidade humana”. Após a análise qualitativa dos dados que foram coletados durante os encontros, Reis (2006) pode verificar que, embora os materiais manipuláveis (modelos concretos) fossem menos precisos que os modelos disponíveis no software de geometria dinâmica, a possibilidade de tocá-los e visualizá-los apresentou importantes contribuições às investigações dos alunos, mostrando-se mais adequados às atividades que envolviam a percepção e a concepção de 1 […] visualization should not be reduced to vision, that is to say: visualization makes visible all that is not accessible to vision. 22 objetos geométricos. Em contrapartida, verificou que, nos processos onde havia necessidade de demonstrações, os materiais manipuláveis não colaboraram de forma significativa. Em síntese, a autora conclui que as atividades propostas contribuíram para a aprendizagem dos conceitos básicos relacionados à Geometria Esférica. Embora tenha usado apenas uma pequena quantidade de materiais manipuláveis, acredita que sua pesquisa possa propor a busca por novos materiais, objetivando alternativas para o ensino da geometria. Efetivamente, nossa justificativa para a criação de um modelo concreto de representação tridimensional surgiu diante de nossa dificuldade de entendimento sobre os conceitos envolvidos na representação de superfícies quádricas, aliada a uma também grande dificuldade, por parte dos professores, em fazer-se entender sobre tais conceitos, porém, a exemplo de Reis (2006) e amparados pelas suas conclusões, também acreditamos que nossa pesquisa possa propor a busca de novas alternativas ao ensino de conteúdos que estejam relacionados à objetos matemáticos em três dimensões. Nossa convicção sobre a necessidade de utilização de recursos didáticos adicionais ao livro didático e ao quadro negro é reforçada pelas conclusões da pesquisa de Possani (2002), que procurou investigar quais as possibilidades que um programa de Geometria Dinâmica, como o Cabri-Géomètre II, poderia apresentar na exploração dinâmica de representações planas de objetos espaciais. Desenvolveu, para isso, um conjunto de atividades, que se realizaram em um ambiente informático e que propunham a representação tridimensional de cubos e pirâmides por meio de suas secções planas. A elaboração das atividades pautou-se pelas considerações sobre as apreensões das figuras geométricas (Duval, 1995); sobre a diferenciação dos planos (Rommevaux, 1997); sobre a funcionalidade do desenho em Geometria Espacial (Chachooua, 1997) e sobre a distinção entre desenho e figura (Parzysz, 1988). Também foram considerados alguns elementos da teoria das Situações Didáticas (Brousseau, 1986) e dos aspectos da metodologia da Engenharia Didática (Artigue, 1990). De acordo com Possani (2002), o caráter dinâmico das representações de figuras geométricas, possibilitado pelo programa de geometria dinâmica CabriGéomètre II, permitiu uma melhor interação dos alunos com essas 23 representações, possibilitando-os observar certos tratamentos de figuras que caracterizam a apreensão operatória dos conceitos matemáticos envolvidos nas atividades. As conclusões de Possani (2002) levaram-nos a considerar a necessidade de que a sequência de atividades que iríamos propor aos sujeitos de nossa pesquisa apresentasse as superfícies quádricas por meio de diferentes registros de representação semiótica, além de prever a conversão entre estes registros. Incomodado com as observações de sua prática docente como professor em turmas de Cálculo Diferencial e Integral, Imafuku (2008) dedicou sua pesquisa à investigação dos motivos pelos quais alguns alunos, até mesmo aqueles que apresentam um bom rendimento nas aulas de Cálculo Diferencial e Integral, apresentam tanta dificuldade quando da passagem do estudo de funções de uma variável para o estudo de funções de mais de uma variável. Também procurou identificar como essas dificuldades interferem no estudo das derivadas parciais de primeira ordem. Imafuku (2008) realizou uma pesquisa diagnóstica com análise qualitativa dos dados, que foram coletados a partir da aplicação de dois questionários. O autor baseou-se na Teoria dos Registros de Representação Semiótica (Duval, 2003), tanto para a elaboração dos questionários quanto para sua análise. O primeiro questionário, que o autor chama de “exploratório”, foi aplicado a quinze duplas de alunos do quarto e quinto semestres de um curso de Licenciatura em Matemática de uma universidade particular da região metropolitana de São Paulo. Apresentava questões sobre localização de pontos no espaço, sobre funções e seu domínio, e sobre a representação gráfica de funções. O segundo questionário, que o autor chama de “definitivo”, foi aplicado a sete outras duplas de alunos do quinto semestre do mesmo curso. Embora abrangesse os mesmos conceitos matemáticos, continha cinco questões adicionais (treze ao todo), além de algumas mudanças no enunciado, que objetivaram uma maior clareza quanto às questões que não haviam sido bem interpretadas pelos alunos que haviam respondido ao primeiro questionário. Após a análise dos protocolos, o autor concluiu que a maioria dos alunos que participaram da pesquisa não compreendia o sistema de representação tridimensional, além de confundirem o conceito de domínio com o conceito de 24 função e com as curvas de nível. Também pode verificar que, embora os alunos conhecessem o procedimento para determinar algebricamente derivadas parciais de primeira ordem, não relacionavam este resultado à representação geométrica da derivada. De acordo com o autor, uma prática docente que valorizasse os registros de representação e a conversão entre estes registros, conforme preconiza Duval (2003), poderia levar à superação de algumas das dificuldades apresentadas pelos alunos. Identificamo-nos com as inquietações de Imafuku (2008), principalmente pelo fato de que uma das justificativas de nossa pesquisa relaciona-se à nossa própria dificuldade de entendimento sobre tais conceitos e à busca do referido entendimento por meio da construção de um modelo concreto de representação, no período em que cursávamos as aulas de Cálculo Diferencial e Integral durante nossa graduação. Acreditamos, em concordância com o quadro teórico sobre o qual Imafuku (2008) se apoiou, que nosso trabalho, ao propor atividades que promovam o tratamento e a conversão entre diferentes registros de representação semiótica, pode colaborar para o avanço da aprendizagem e superação das dificuldades identificadas pelo autor. Um dos artigos de Fishbein (1993), chamado “The Theory of Figural Concepts”, tem como principal objetivo esclarecer as características da dupla natureza das figuras geométricas, que são ao mesmo tempo imagem e conceito. Para Fischbein (1993), as teorias psicológicas atuais normalmente fazem a distinção entre conceito e imagem mental. Nessas abordagens, conceito referese à representação simbólica usada nos processos de raciocínio abstrato, ligado principalmente à “ideia” que se tem de um determinado objeto, enquanto a imagem mental relaciona-se à percepção sensorial e ao modo de representação deste objeto. No entanto, existe uma terceira categoria, que ele chama de “conceito figural”, e que reúne tanto as características de conceito quanto de imagem mental. Fischbein (1993) cita como exemplo a seguinte sequência por meio da qual é possível demonstrar que os ângulos da base de um triângulo isósceles são congruentes. 25 Consideremos o triângulo isósceles ABC, tal que o lado AB seja congruente ao lado AC (DESENHO 1). Nós queremos provar que os ângulos correspondentes aos vértices B e C são congruentes. Podemos imaginar a seguinte prova: consideremos que alguém destaca o triângulo de si mesmo, invertendo-o de tal forma que o lado AC fique do lado esquerdo e o lado AB fique do lado direito, sobrepondo o triângulo que foi girado sobre o triângulo original. O ângulo correspondente ao vértice A mantém-se o mesmo, e como os lados AB e AC têm o mesmo comprimento, AC coincidirá perfeitamente com o lado AB do lado esquerdo, e AB e AC coincidirão perfeitamente do lado direito. Desta forma, o triângulo que foi girado e o triângulo original coincidirão perfeitamente. Como consequência, os ângulos correspondentes aos vértices B e C só podem ser iguais, conforme se desejava demonstrar (FISCHBEIN, 1993, p. 140, tradução nossa 2). DESENHO 1. TRIÂNGULO ISÓSCELES Nesta demonstração, foram usados conhecimentos conceituais, como os relativos a ângulo e congruência, ligados ao mundo das ideias, porém a operação de rotação do triângulo sobre si mesmo encontra-se no domínio das representações. Não se “destaca” nem se “rotaciona” uma ideia, a menos que esta ideia esteja intimamente ligada a uma imagem. Temos, neste caso, uma mistura entre o conceito e a imagem mental do objeto matemático. O triângulo ao qual nos referimos não pode ser considerado puro conceito, tampouco pura imagem. O processo de prova utilizado também não poderia desenvolver-se exclusivamente por meio das ideias, ou unicamente por meio da representação 2 Consider the isosceles triangle ABC with AB ≈ AC. We want to prove that ^B = ^C. We may imagine the following proof: let us consider that one detaches the triangle from itself, one reverses it such that AC is on the left side and AB on the right side, and one superposes the reversed triangle on the original one. The angle A remaining the same and AB and AC having the same length, AC will coincide perfectly with AB on the left side and AB and AC will coincide perfectly on the right side. Then the reversed and the original triangle will coincide perfectly. As a consequence, the angles ^B and ^C must be equal. Q.E.D. (Fischbein, 1993) 26 gráfica do triângulo. Temos aqui um exemplo da terceira categoria à qual Fischbein (1993) se refere: a categoria dos conceitos figurais. De acordo com Fischbein É necessário considerar três categorias de entidades mentais quando nos referimos às figuras geométricas: a definição, a imagem (baseada na experiência perspectiva sensorial, como a imagem de um desenho) e o conceito figural. O conceito figural é a realidade mental, é a elaboração favorecida pelo raciocínio matemático no domínio da geometria. Embora desprovido de qualquer propriedade figural concreta (como cor, peso, densidade, etc.), apresenta as propriedades figurais. Esta criação é controlada e manipulada, a princípio sem interferências, por regras lógicas e procedimentos no domínio de um determinado sistema axiomático (FISCHBEIN, 1993, p. 148, tradução nossa 3). Para Fischbein (1993) as figuras geométricas são conceitos figurais. Quando pensamos em uma circunferência, por exemplo, somos levados imediatamente a pensar sobre sua representação gráfica, que é controlada intrinsecamente pelos conceitos formais que caracterizam as circunferências (conjunto de pontos equidistantes a um ponto dado, chamado de centro da circunferência). Em Geometria, não existe sentido no conceito sem a imagem, tampouco teria sentido a existência da Geometria como um dos ramos da Matemática sem o conceito de imagem. Diferentemente das ciências empíricas, como a Biologia, por exemplo, na qual os conceitos sobre o objeto de estudo são determinados pelo próprio objeto, em Matemática são os conceitos que controlam o objeto. Conflitos podem ocorrer quando, ao contrário, as propriedades figurais do objeto, pela característica intuitiva, inerente às percepções sensoriais, tendem a controlar os conceitos. Fischbein (1993) cita como exemplo uma atividade experimental realizada junto a alguns alunos com idades entre 6 e 11 anos. Nesta atividade, os participantes eram solicitados a observar o DESENHO 2, 3 One has, then, to consider three categories of mental entities when referring to geometrical figures: the definition, the image (based on the perceptive-sensorial experience, like the image of a drawing) and the figural concept. The figural concept is a mental reality, it is the construct handled by mathematical reasoning in the domain of geometry. It is devoid of any concrete-sensorial properties (like color, weight, density, etc.) but displays figural properties. This figural construct is controlled and manipulated, in principle without residuals, by logical rules and procedures in the realm of a certain axiomatic system (Fischbein, 1993). 27 comparar os pontos 1 (formado pela interseção de quatro retas) e 2 (formado pela intersecção de duas retas) e responder às seguintes questões: Os pontos 1 e 2 são diferentes? Algum dos dois pontos é maior do que o outro? Se sim, qual é maior? Algum dos dois pontos é mais pesado do que o outro? Se sim, qual dos dois? Os dois pontos têm a mesma forma (FISCHBEIN, 1993, p.145, tradução nossa 4)? DESENHO 2. QUAL DOS PONTOS É MAIOR? Por meio da análise das respostas apresentadas, Fischbein (1993) observou, nas argumentações dos alunos mais novos, que a intuição, reforçada pela percepção sensorial, determinou o raciocínio, levando-os a responder que o ponto 1 era maior e mais pesado que o ponto 2. Também pôde observar a mudança dos padrões das respostas, de acordo com a maturidade escolar dos sujeitos da pesquisa. Nas respostas dos alunos mais velhos, observaram-se considerações corretas, sobre a igualdade dos pontos, que envolviam conceitos formais relacionados à definição de ponto (não possui dimensão). Para Fischbein (1993), os conceitos e as figuras interagem nos processos de raciocínio, algumas vezes favorecendo a aprendizagem, outras vezes dificultando-a, porém o desenvolvimento de conceitos figurais não é algo que se desenvolva naturalmente, sendo esta uma das principais causas pelas quais a Geometria é um tópico tão complicado para boa parte dos alunos. Fischbein (1993) ressalta como uma das principais tarefas dos professores de Matemática, principalmente aqueles que se dedicam ao ensino da Geometria, promover 4 Are these two points different? Is one of them bigger? If yes, which one? Is one them heavier? If yes, which one? Have the two points the same shape? 28 situações nas quais se favoreça a fusão entre os aspectos ligados aos conceitos e os ligados às imagens, como modo de uni-los em um único objeto mental. Recomenda o uso de exercícios cujos padrões da representação espacial tendam a desobedecer as restrições formais, criando conflitos que levem os alunos a conjecturar sobre os aspectos conceituais e figurais dos objetos matemáticos. A leitura deste artigo possibilitou-nos o entendimento acerca das três categorias envolvidas na representação de figuras geométricas (conceitos, imagens e conceitos figurais) e contribuiu para que, ao concebermos as questões e atividades propostas aos sujeitos da pesquisa, levássemos em conta as particularidades das circunferências e das superfícies quádricas, que são, simultaneamente, conceito e imagem. Em um de seus artigos, intitulado “’Knowing’ vs ‘Seeing’”. Problems of the plane representation of space geometry figures, Parzysz (1988) apresenta alguns aspectos do conflito existente entre o que é “conhecido” e aquilo que é “visto” durante as tentativas de desenhar (codificação) uma figura geométrica, ou durante as tentativas de interpretação de um desenho (decodificação) de uma figura geométrica. Incomodado com as dificuldades do ensino da geometria espacial na França, que, a seu ver, estão intimamente relacionadas aos problemas de representação (mental e material) dos objetos matemáticos que são estudados, Parzysz (1988) desenvolveu estudos junto a alguns alunos do Ensino Médio (na França), em que estes eram solicitados a “codificar” (desenhar) um objeto matemático a partir da sua representação material em três dimensões e “decodificar” (ler) um objeto da geometria espacial a partir de sua representação plana. Esta pesquisa relaciona-se com algumas outras feitas na mesma época em Grenoble e em Montpelier, na França. Esses estudos fundamentaram-se nos princípios de que a) existe uma dialética entre a aquisição do conhecimento em geometria espacial e o domínio da representação em três dimensões; b) é fundamental que os alunos passem por uma fase onde possam ser usados modelos concretos de representação tridimensional (embora o objetivo seja que desenvolvam a aprendizagem sem os modelos, o contato inicial com estes tipos de representação permite-lhes criar 29 imagens mentais sobre estes objetos); e c) é necessário que se explicitem as regras para o desenho de figuras espaciais, regras estas não sujeitas a convenções duvidosas, mas nas propriedades formais da geometria projetiva. Os principais compromissos assumidos por meio dos estudos foram os de investigar os princípios mais ou menos implícitos que subjazem a codificação e a decodificação das representações planas de objetos tridimensionais, além de desenvolver uma engenharia didática que permitisse que esses princípios fossem analisados, e que levasse os alunos à elaboração de um conjunto de regras, não estabelecidas de início, que controlassem as suas representações e que os ajudasse a desenvolver aprendizagem destes conceitos Parzysz (1988) opta, em seu trabalho por definir FIGURA como o objeto matemático, regulado por suas propriedades formais e que só existe no mundo das ideias; e por DESENHO a representação plana do objeto matemático, a representação da figura. Em concordância com suas considerações, decidimos usar estas mesmas definições em nosso trabalho. Em outras palavras, sempre que nos referirmos a uma entidade matemática, iremos chamá-la de FIGURA. A fim de evitar ambiguidade entre os termos, quando formos nos referir às representações gráficas, ilustrações e esboços, usaremos o termo DESENHO. A representação de uma figura geométrica pode ser um desenho se a figura pertence à geometria plana, ou pode ser um desenho ou modelo concreto de representação, caso a figura pertença à geometria espacial. De acordo com Parzysz (1988), podem ser distinguidos dois níveis de representação. No nível 1, encontram-se as representações próximas, ou seja, a representação assemelhase ao objeto matemático que está sendo representado e possui a mesma quantidade de dimensões deste; e no nível 2, encontram-se as representações distantes. As representações deste nível possuem quantidade de dimensões inferior à do objeto matemático. Em outras palavras, a representação plana (2D) de um objeto da geometria plana (2D) está no nível 1 (ambas possuem a mesma quantidade de dimensões), enquanto que a representação plana de um objeto da geometria espacial (3D) está no nível 2 (a representação apresenta-se em uma dimensão a menos do que o objeto). Analogamente, um modelo de representação concreto, 30 em três dimensões, está no nível 1, quando utilizado para representar objetos da geometria espacial, pois ambos possuem a mesma quantidade de dimensões: três. Neste caso, embora exista a perda de informação, ela é menor do que quando representamos o objeto 3D exclusivamente por meio do desenho. Para Parzysz (1988), existe necessariamente a perda de informação quando nos movemos de um nível para outro maior. Neste raciocínio, a figura, que corresponde ao próprio objeto matemático, encontra-se no nível 0, ou seja, não há perda de informação. Sua representação, no entanto, irá encontrar-se no nível 1 ou 2. Quanto maior o nível, maior a perda de informação. Nem tudo o que pertence à figura pode ser preservado na representação, porém, algumas de suas propriedades podem eventualmente prevalecer. Parzysz (1988) chama este fenômeno de “restituição do significado”, e que, todavia, só ocorre devido à boa vontade do leitor, que estabelece uma conivência com o autor da representação, graças ao seu repertório de imagens mentais, restrito a um número limitado de tipos, tais como pontos, retas, planos, circunferências, pirâmides, etc. Para a maioria de nós, a representação do DESENHO 3 provavelmente será interpretada como um cubo. Acreditamos que tal se deva, principalmente, pelo fato de que esta figura já faz parte do acervo de figuras e de representações que fomos acumulando durante a nossa vivência, dentro e fora da escola. Se nos pedissem que reproduzíssemos esta representação de forma tridimensional, provavelmente o faríamos da forma correta, respeitando os ângulos retos entre as arestas, embora não estejam presentes no desenho. Acreditamos, em concordância com Parzysz (1988), que isso pode ocorrer porque somos coniventes com a ideia de que o desenho representa um cubo DESENHO 3. REPRESENTAÇÃO BIDIMENSIONAL DE UM CUBO 31 Existem casos, entretanto, em que as figuras e suas respectivas representações, (ao contrário de arquétipos como pirâmides, cubos, cilindros, etc.) podem não fazer parte do acervo da maioria dos alunos, em virtude de sua especificidade. Nestes casos, embora se espere que os alunos desenvolvam sua aprendizagem de modo que possam apropriar-se das características abstratas dessas figuras, para Parzysz (1988), é obrigatório que passem por uma fase de contato com o modelo de representação. Diante da impossibilidade de representação de todas as propriedades das figuras geométricas por meio de seus desenhos, algumas convenções têm sido utilizadas, como a representação de uma reta por um traço na folha de papel, ou a representação de um plano por meio do desenho de um paralelogramo. Embora a restituição do significado possa levar à representação próxima do objeto, pode também, em alguns casos, apresentar outros tipos de problema, devido à ambiguidade apresentada pela representação. Um traço no papel também poderia ser a representação de um segmento de reta e não da reta toda, que é impossível de ser representada. Quando fazemos a representação plana de objetos da geometria espacial os problemas são maiores ainda. Passamos do nível 0 para o nível 2, que corresponde à representação distante do objeto. Se na representação próxima de objetos da geometria plana eram mantidas algumas das propriedades do objeto matemático (paralelismo e perpendicularismo, entre outras), no caso da representação plana de objetos espaciais tal não ocorre. A fim de exemplificar esta observação, Parzysz (1988) apresenta dois desenhos em seu artigo (DESENHO 4), que reproduzimos aqui. DESENHO 4. REPRESENTAÇÃO DE UM QUADRADO E DE UMA PIRÂMIDE 32 O desenho da esquerda (A) corresponde à representação de um quadrado (geometria plana) e de suas diagonais. O desenho da direita (B) é a representação plana de uma pirâmide de base quadrada. Enquanto no desenho do quadrado as diagonais são perpendiculares, tanto idealmente quanto na representação, tal não se observa na representação das diagonais da base da pirâmide, que são perpendiculares na figura, mas que não mantém esta propriedade na representação plana. Para Parzysz (1988), a perda de informação relacionada às representações em nível 1, e muito mais nas representações em nível 2, pode ser minimizada, ou até mesmo evitada por meio de legendas que acompanhem os desenhos, ou de textos com as definições formais, e reafirma que o modelo de representação não pode, exclusivamente, substituir a figura. De acordo com Parzysz (1988), parte dos erros relacionados à codificação e decodificação de figuras geométricas deve-se à tendência natural em considerar representações distantes (representações que possuem menos dimensões do que o objeto) como representações próximas (representações que possuem a mesma quantidade de dimensões que o objeto). Isto ocorre tanto na interpretação quanto na representação da figura, onde os alunos procuram, por meio de um desenho suficientemente sofisticado, representar todas as propriedades formais do objeto matemático. O autor do desenho, neste caso, é confrontado com um dilema insolúvel, ou seja, o que ele “sabe” sobre o objeto matemático conflita-se com o que ele “vê” na representação. A fim de observar e investigar detalhes deste conflito, que Parzysz (1988) nominou de conflito entre o “visto” e o “sabido” (“knowing vs seeing” conflict), ele faz a análise de um teste feito entre 88 alunos do Ensino Médio (na França), aos quais era apresentada uma representação próxima de uma pirâmide de base quadrada, em forma de um esqueleto feito com palitos de madeira. Em seguida, os modelos eram recolhidos e os alunos eram solicitados a fazer a representação plana do sólido, de forma que alguém que não tivesse visto ou conhecesse o sólido fosse capaz de identificá-lo. Dos 88 alunos que participaram da experimentação, apenas 18 optaram em adicionar ao desenho alguma legenda ou informação que auxiliasse o leitor a identificar as propriedades do objeto, sendo que destes, apenas dois alunos fizeram de forma suficientemente eficaz. A grande maioria acreditou que o 33 desenho por si só seria capaz de transmitir todas as propriedades da figura ao leitor. Parzysz (1988) conclui seu artigo alertando sobre a necessidade de que sejam trabalhados, pelo menos no Ensino Médio, os princípios que controlam as representações planas de figuras espaciais, a fim de que os alunos consigam desenvolver o domínio neste campo do conhecimento e a fim de que não fiquem presos a desenhos estereotipados baseados em confusas convenções. Esta leitura contribui com a nossa pesquisa ao possibilitar-nos entendimento de que existem perdas quando representamos um objeto matemático, e que esta perda é maior na medida em que a quantidade de dimensões da representação se distância da quantidade de dimensões do objeto, além de pontuar o conflito que ocorre quando não nos damos conta desta limitação e tentamos, por meio de uma representação suficientemente sofisticada, representar todas as propriedades do objeto (conflito entre o "visto" e o "sabido"). O artigo de Rommevaux (1998) chamado “Le discernement des plans dans une situation tridimensionnelle”, apresenta o resultado de suas investigações sobre a possibilidade de ensinar os alunos a ver no espaço e sobre as interações entre as representações utilizadas na geometria tridimensional. A visualização sobre a qual a pesquisadora se refere, no entanto, não é a capacidade de ver as coisas ou objetos matemáticos em representações tridimensionais, mas ver três dimensões em uma figura bidimensionalmente representada, como por exemplo, em uma perspectiva paralela. Através da análise das etapas necessárias à resolução de problemas de geometria tridimensional, a pesquisadora conseguiu observar uma sequência de etapas, caracterizadas pela seleção de planos de situação, resolução de problemas planos e coordenação dos resultados obtidos. A fim de ilustrar estes passos, ela cita como exemplo um problema, que reproduzimos a seguir. ABCA’B’C’ é um prisma de base triangular ABC, as arestas AA’, BB’ e CC’ são paralelas, I é o ponto médio de BC, I’ é o ponto médio de B’C’ e M um ponto da aresta AA’. a) Determine a interseção da reta MC’ e o plano ABC b) Determine a interseção da linha MB’ e o plano ABC c) Determine a interseção da linha MI’ e o plano ABC 34 4 d) Mostre que os três pontos, ass d sim encontrados são a alinhados em e uma re eta paralella a uma aresta do prisma (R ROMMEVAUX, 1998, p. 15, trradução nossa 5). DESENHO O 5. PROJE EÇÃO PARA ALELA SOB BRE UM PL LANO PAR RALELO À AA'C'C A Uma da as primeirras dificuldades apresentadass pelos a alunos diante do prob blema prop posto é a mudança a de dime ensão doss elementtos estrutu urantes (aresstas, facess, vérticess). Diferentemente da d geomettria plana, na qual são as retass que perm mitem estrruturar as figuras, f em m três dim mensões sã ão os planos que cumprem esta tarefa. Neste exemplo, alguns planos são im mediatamen nte disce erníveis (reprresentadoss pelos trriângulos das d bases s e pelos retângulo os das fac ces do prism ma) enqua anto outross, deverão o ser desc cobertos a fim de qu ue se enco ontre a reso olução. O DESE ENHO 6, ob btido por meio m do pro ograma de e geometria dinâmica a Cabri 3D, mostra a interseção dos plano os da base e ABC e da a face AA’C’C, assim m como o ponto c, correspond c dente à interseção o da reta a MC’ (co ontida no plano dete erminado pela p face AA’C’C A do prisma) p com o plano da base A ABC. 5 ABC CA'B'C' estt un prisme de base AB BC triangula aire, les arê êtes (AA’), (B BB’) et (CC C’) sont parallèles. I est le milieu de e (BC), l' est le milieu de d (B'C’) et M est un po oint de l'arête (AA'). a) Détermin ner l'interse ection de la droite (MC)) et du plan (ABC). b) Détermin ner l'interse ection de la droite (MB')) et du plan (ABC). c) Détermin ner l'interse ection de la droite (MI') et du plan (ABC). ( d) Montrer que les trois points ain nsi trouvés sont s alignéss sur une drroite parallè èle à une arête e du prisme. 35 5 DESENHO O 6. INTERS SECÇÃO DOS PLANO OS ABC E A AA'C'C A demo onstração de d que os pontos b, c e i estão alinhado os, exige que q nos deslo oquemos do d ambien nte 2D de volta v ao es spaço 3D, onde é possível observar a existtência de um plano o diagona al, que co ontém as retas MC C’, MB’ e MI’. A interrsecção de este plano com os planos p parralelos corrresponden ntes à bas se e ao topo o do prisma a, determin na duas re etas parale elas, que contém c resspectivame ente os ponttos B’, I’, C’ C e os pontos b, i e c. c DE ESENHO 7. INTERSEC CÇÃO DE PLANOS P Apresen ntamos os desenhoss a fim de ilustrar alg gumas dass diferentes s fases da resolução r deste pro oblema de e geometrria tridimen nsional. Eles mostram a 36 sucessão dos passos aos quais Rommevaux (1998) se refere, ou seja: a) seleção de planos (solução de problemas planos à partir dos planos AA’C’C, AA’B’B e AA’I’I); b) resolução de problemas planos (intersecção das retas, a fim de determinar os pontos b,c e i) ; e c) a coordenação do resultados planos (provar o alinhamento dos pontos encontrados e o paralelismo entre a reta que os contém e uma das arestas do prisma). Rommevaux (1998) classifica as diferenças fundamentais entre a representação de objetos 2D e de objetos 3D por meio de representações bidimensionais, de acordo com elementos de referência (apoio da representação, plano de referência e plano de situação) e de acordo com a natureza da relação entre o objeto e a sua representação De acordo com a referência, as diferenças são as seguintes: • Em geometria bidimensional, o apoio de representação (a folha de papel, a lousa ou a tela do computador onde é construída a representação), o plano de referência (os planos representados no desenho, como as faces dos poliedros, por exemplo) e o plano da situação (aqueles por meio dos quais são permitidos os tratamentos que levem à solução) coincidem; • Em geometria tridimensional, o apoio da representação, o plano de referência e os planos de situação podem não coincidir. De acordo com a natureza da relação entre o objeto e a sua representação, Rommevaux (1998) pontua as seguintes distinções: • Em geometria bidimensional, os objetos são representados, e qualquer alteração sobre a representação pode ser considerada como uma alteração no próprio objeto matemático; • Em geometria tridimensional, são os planos de referência que são representados e que estruturam o objeto. Eventualmente estes planos também são os da situação. A identificação destes planos deve preceder a identificação dos objetos matemáticos. 37 A fim de obter subsídios à sua investigação, a pesquisadora desenvolveu algumas atividades, fundamentadas na Teoria dos Registros de Representação Semiótica de Raymond Duval (DUVAL, 1994) e que foram propostas à duas classes de alunos da 2ª série secundária, com idades que variavam entre 15 e 16 anos. Após submeterem-se a um questionário preliminar, com o qual se procurou verificar se eram capazes de identificar figuras tridimensionais e bidimensionais em representações bidimensionais, os alunos participaram de duas atividades, incluídas em uma fase que a pesquisadora chama de exploratória. Na primeira atividade, foram dados aos alunos desenhos com representações de quatro polígonos, um cubo feito de acetato transparente e uma folha de respostas. Rommevaux (1998) justifica a utilização de um modelo de representação tridimensional, complementar aos dois diferentes registros de representação semiótica (linguagem natural e perspectiva paralela) em que o objeto matemático é apresentado aos alunos que participaram da experimentação. Os estudos históricos e certos estudos técnicos mostram, contudo, que estes objetos podem ter, para a compreensão do espaço real ou virtual, funções importantes: função heurística pelas simulações que permite, e função de verificação útil, mas que pode intervir apenas quando o problema é resolvido (ROMMEVAUX, 1998, p. 45, tradução nossa 6). A tarefa proposta era verificar a possibilidade de, por meio de uma secção do cubo, obter o polígono desenhado. Além da resposta os alunos eram solicitados a justificar suas conclusões. Na segunda etapa, ao invés dos desenhos de polígonos, os alunos receberam moldes vazados com as formas de seis polígonos, inclusive os quatro que haviam sido analisados na primeira tarefa desta fase. Da mesma forma, foram solicitados a responder e a justificar se poderiam, por meio de uma secção do cubo, obter o polígono vazado. 6 Les études historiques et certaines études techniques montrent cependant que ces objets peuvent avoir, pour la compréhension de l'espace réel ou virtuel, des fonctions importantes: fonction heuristique par les simulations qu'elle autorise, fonction de vérification utile -, mais qui ne peut intervenir que lorsque le problème est résolu. 38 Diferentemente da primeira atividade, agora os alunos podiam “mergulhar” materialmente os moldes vazados no cubo a fim de justificar suas respostas. A pesquisadora sublinha as reações de surpresa dos alunos, ao descobrirem, por exemplo, a possibilidade de obter uma secção do cubo correspondente a um pentágono. Com o objetivo de dar à perspectiva paralela, além de sua função intrínseca de comunicação, a função de tratamento e promover a sua utilização como instrumento heurístico indispensável à solução de problemas em geometria tridimensional, foram propostas algumas atividades por meio da quais os alunos deviam descobrir quais eram, e como eram obtidos, os polígonos correspondentes às secções do cubo, de acordo com pontos dados em suas arestas. Nesta fase, que Rommevaux (1998) chamou de fase de tratamento figurativo, os alunos deviam desenhar os pontos e os polígonos correspondentes à secção sobre o cubo feito de acetato, desenhar os polígonos correspondentes às secções em tamanho natural e representar os polígonos correspondentes às secções desenhando-os na representação bidimensional em perspectiva paralela. Gradativamente os alunos eram solicitados a realizar as atividades sem o auxílio do modelo. Após a análise das avaliações feitas pelos alunos, Rommevaux (1998) concluiu que as atividades favoreceram a utilização da perspectiva paralela na resolução de problemas da geometria tridimensional, além de ajudar os alunos a desenvolverem a capacidade de discernir planos em representações bidimensionais, ou seja, ver no espaço pode ser aprendido da mesma forma que outros saberes. Esta leitura permitiu-nos compreender as diferenças entre a representação plana de objetos bidimensionais e a representação plana de objetos tridimensionais. Diferentemente dos objetos 2D, em 3D o plano de apoio (folha ou lousa onde a representação é feita), o plano de referência (a representação da figura) e o plano de situação (o plano onde fazemos os tratamentos que possibilitam a solução) podem não ser os mesmos. Em representações planas de objetos 3D é fundamental o discernimento dos planos para que haja visualização. Quando criamos o modelo de representação tridimensional, ainda não tínhamos tido contato com as ideias de Rommevaux, porém, concordamos quando afirma que “ver no espaço pode manifestar-se pela capacidade em 39 distinguir planos em uma representação bidimensional”. Na verdade, acreditamos que as conclusões obtidas a partir de sua pesquisa possam justificar algumas de nossas escolhas, como por exemplo, a utilização de um modelo concreto, e a opção de representar a figura tridimensional por meio de recortes planos. Além destas leituras, que nos orientaram quanto aos problemas e impasses envolvidos nas pesquisas em Educação Matemática e que nos possibilitaram considerar importantes aspectos envolvidos na representação de figuras geométricas bidimensionais e tridimensionais, fizemos a leitura de dois outros artigos, escritos respectivamente por Fischbein (1993), sobre a interação entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas do objeto matemático; e por Duval (1999), sobre a necessidade de que os alunos desenvolvam a aprendizagem sobre os objetos matemáticos em pelo menos dois diferentes registros de representação semiótica coordenando a mudança entre estes registros e sobre as diferenças entre a visualização e a visão, ajudaram-nos a fundamentar teoricamente nossa pesquisa, seja quanto à concepção das atividades, seja quanto à forma de análise que pretendemos fazer a partir dos dados coletados durante as experimentações. No CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, detalharemos melhor estes dois artigos. 40 CAPÍTULO 2: UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL O modelo de representação gráfica que desenvolvemos consiste basicamente na sobreposição ordenada de gráficos bidimensionais, impressos em folhas de acetato transparente, a exemplo das curvas de nível. Como as folhas são transparentes, podemos ver diferentes gráficos simultaneamente. Tal efeito pode proporcionar a visão da representação tridimensional da equação estudada. A seguir, procuramos resumidamente ilustrar as etapas da construção do modelo de representação gráfica tridimensional. Os gráficos bidimensionais são obtidos por meio de um programa de geometria dinâmica de uso livre chamado Geogebra (www.geogebra.org), e correspondem à representação de cortes da superfície quádrica em diferentes alturas do sistema de planos coordenados ortogonais. A fim de ilustrar esta construção, reproduzimos no DESENHO 8, dois cortes da quádrica ,definida pela equação x 2 + y 2 − 4 z = 0 , feito em planos paralelos ao plano xy, respectivamente com as cotas 2 e 16. DESENHO 8. EXEMPLOS DE GRÁFICOS OBTIDOS PELO CORTE DE UMA SUPERFÍCIE QUÁDRICA Após impressos em folhas transparentes adequadas à impressão por jato de tinta, os gráficos são recortados e perfurados nos quatro cantos, de modo que seja possível montá-los nas hastes. 41 FOTO 1. PERFURAÇÃO E MONTAGEM DAS TRANSPARÊNCIAS Recortamos diversos pedaços de canudo (do mesmo tipo utilizado para as hastes) de forma que tenham um mesmo tamanho padrão, correspondente à distância em que serão feitas as secções em determinado eixo. Estes pedaços serão usados como espaçadores entre as transparências. FOTO 2. RECORTE DOS ESPAÇADORES E MONTAGEM Após a montagem das camadas, finalizamos a construção com a colagem das extremidades, de modo que as folhas transparentes não se soltem. 42 FOTO 3. COLAGEM E CORTE DAS EXTREMIDADES O resultado final é uma representação gráfica tridimensional da equação no R3. FOTO 4. UMA REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL DA HIPERBOLOIDE DE DUAS FOLHAS Nosso objetivo, ao ilustrar as etapas de criação e construção do modelo de representação tridimensional, foi proporcionar ao leitor uma visão geral do processo. Consideramos, no entanto, que algumas das etapas da confecção do modelo, como as tarefas de imprimir, recortar e perfurar, não contribuiriam para a aprendizagem. Dessa forma, embora a dinâmica das atividades que iremos realizar preveja a montagem dos modelos, esta se dará pelo uso de folhas já impressas, recortadas e perfuradas. 43 CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS Em busca de subsídios que nos orientassem quanto aos aspectos envolvidos na aprendizagem dos conceitos relacionados à representação das superfícies quádricas, fomos levados à leitura de uma série de artigos científicos. Alguns destes artigos já foram mencionados no CAPÍTULO 1: REVISÃO DE LITERATURA, porém existem dois artigos, um de Efraim Fischbein (1993) e um de Raymond Duval (1999), que escolhemos para referenciar teoricamente nosso trabalho. Estes artigos, além de terem nos orientado quanto à concepção das atividades que realizaremos junto aos alunos, nos auxiliarão no momento em que fizermos análise dos protocolos que serão obtidos. Fischbein (1993) aborda a importância da interação entre três componentes fundamentais dos objetos matemáticos em uma atividade matemática: a componente formal, a componente algorítmica e a componente intuitiva; e defende que, para que haja aprendizagem é necessário que haja a interação entre estas componentes. Duval (1999) distingue a visão (imediatamente acessível ao primeiro olhar, porém incapaz de desenvolver as funções cognitivas fundamentais) da visualização (responsável pela organização das informações obtidas pela visão em busca da produção de representações semióticas) e defende a necessidade de que os alunos desenvolvam a aprendizagem sobre os objetos matemáticos em pelo menos dois diferentes registros de representação semiótica, e que saibam coordenar a mudança entre estes registros. Neste capítulo, além de apresentar o resumo dos artigos, procuramos, por meio de alguns exemplos, extraídos destes textos e de outras leituras, esclarecer o leitor sobre os pressupostos teóricos que auxiliaram a concepção das atividades envolvidas em nossa pesquisa, e que irão nos auxiliar nos no processo de análise posterior. 44 3.1 FISCHBEIN: A INTERAÇÃO ENTRE AS COMPONENTES FORMAIS, ALGORÍTMICAS E INTUITIVAS NA ATIVIDADE MATEMÁTICA7 Para Fischbein (1993), a Matemática pode ser considerada sob dois pontos de vista diferentes. O primeiro, como um rigoroso conjunto de conhecimentos, determinado por relações formais, logicamente estruturadas, tal como se apresenta nos tratados matemáticos; e o segundo como fruto da atividade humana e, portanto, sujeito a momentos de incerteza e de hesitações. O fato de os matemáticos se preocuparem em desenvolver um corpo logicamente estruturado de conhecimento não nos impede de considerar o processo criativo no desenvolvimento da Matemática. É sobre esta segunda concepção que estamos interessados em aprofundar-nos. Fischbein (1993) considera a interação entre três diferentes componentes básicas do objeto matemático na atividade matemática: a componente formal, a componente algorítmica e a componente intuitiva. Os aspectos formais estão relacionados aos axiomas, definições, teoremas e provas. Embora estejamos analisando a Matemática como fruto da atividade humana, não podemos deixar de considerar este importante aspecto, pois é por meio dos conceitos formais que se desenvolve a argumentação lógica e o raciocínio matemático. Por outro lado, de acordo com Fischbein (1993) é pura ilusão achar que apenas o conhecimento de teoremas, provas e definições, como normalmente são expostos nos livros didáticos, torne o aluno capaz de resolver problemas matemáticos. Em sua tese de doutorado, De Souza (2008) cita um exemplo apresentado por Kline (1973) em seu livro “Why Johnny can’t add: the failure of the new Math”, em que um pai, ao perguntar para o seu filho quanto é 5 + 3, recebe a resposta de que, de acordo com a propriedade comutativa da adição, 5 + 3 é igual à 3 + 5. Diante da resposta, somos levados à pensar sobre a constatação de que o conhecimento do fictício aluno sobre as propriedades da adição não foram capazes de habilitar-lhe a dar a resposta esperada pelo pai, correspondente à soma dos dois números. 7 The interaction between the formal, the algorithmic, and the intuitive components in a mathematical activity (tradução nossa) 45 Deparamo-nos, assim, com a necessidade de considerar outro aspecto dos objetos matemáticos, que Fischbein (1993) chamou de aspecto algorítmico, e que está relacionado aos procedimentos de resolução, ou seja, às habilidades que podem ser aprendidas e sistematicamente treinadas. Isto não quer dizer, entretanto, que o raciocínio matemático pode ser reduzido a um conjunto de procedimentos e técnicas, mas sim da interação entre os aspectos formais e os aspectos algorítmicos. Encontramos um exemplo da importância da componente algorítmica no período em que inicialmente nos dedicamos ao estudo das superfícies quádricas, quando fazíamos o curso de Licenciatura em Matemática. Pudemos observar que, para a maioria dos alunos, até mesmo para aqueles familiarizados com a representação de pontos no R3, era difícil, a partir de expressões algébricas com três incógnitas, inferir sobre qual era a figura geométrica correspondente. Diante das três incógnitas, os alunos pareciam não saber por onde começar. Notamos, no entanto, que após a sugestão de substituir uma das incógnitas por um valor constante, a fim de observar o comportamento da figura em diversas secções do espaço tridimensional, conseguiam relacionar a nova expressão obtida a equações com duas incógnitas e esboçar, para cada um dos valores eventualmente atribuídos à constante, a figura geométrica bidimensional correspondente. Observamos, neste caso, que o procedimento algorítmico, aliado às propriedades formais relacionadas às cônicas, tornou possível a alguns dos alunos o encaminhamento da solução, que até então, por meio exclusivo da mobilização dos conhecimentos formais do assunto, não estavam conseguindo. TABELA 1. EQUAÇÕES COM TRÊS E DUAS INCÓGNITAS Equação original (três incógnitas) x2 − y2 + z2 = 4 Equação com duas incógnitas e uma constante x2 − y2 = 4 − c2 46 6 TAB BELA 2. GR RÁFICOS OBTIDOS A PARTIR DA AS EQUAÇ ÇOES COM DUAS INC CÓGNITAS Valorr da constantte ... Equaação .... Figu ura .... ‐3 m foco no eixo y x 2 − y 2 = −5 Hippérbole, com ‐2 x2 − y2 = 0 Gráfico ... Par de retas pe erpendicularres ‐1 x2 − y2 = 3 0 m foco no eixo x x 2 − y 2 = 4 Hippérbole, com Hip pérbole, com m foco no eixo x 1 x2 − y2 = 3 Hip pérbole, com m foco no eixo x 2 x2 − y2 = 0 Par de retas pe erpendicularres ... .... .... ... Um tercceiro comp ponente en nvolvido na atividade e matemática é o as specto intuitivo, pressente nas afirmaçõe es aceitas s diretame ente, sem necessida ade de justifficativas, autoeviden a ntes, e fu undamenta ais para a construçção dos saberes s mate emáticos. máticos grregos fazia a distinção o entre Na antiguidade, a maioria dos matem axiomas e po ostulados, sendo um u axioma uma afirmação a assumida como 47 autoevidente, e um postulado uma construção a partir de um axioma. Atualmente, não notamos mais esta distinção, porém, independentemente disto, foram estas asserções que fundamentaram o desenvolvimento de boa parte da Matemática que chegou até nós. Fischbein (1993) cita como exemplo um dos axiomas presentes nos Elementos de Euclides: “o todo é maior do que cada uma de suas partes”, puramente intuitivo, ao qual adicionamos os outros quatro: “coisas iguais à mesma coisa são iguais entre si; adicionando-se iguais a iguais, as somas são iguais; subtraindo-se iguais de iguais, as diferenças são iguais; coisas que coincidem uma com a outra são iguais entre si”. Fischbein (1993) exemplifica a importância do aspecto intuitivo na construção do conhecimento matemático ao referir-se à distância temporal de quase dois mil anos entre a geometria euclidiana (baseada em noções comuns aceitas sem prova, como são os postulados e axiomas) e a geometria não euclidiana, que embora se apresente lógica e coerente, é um campo do saber extremamente contra-intuitivo. Nós aceitamos a evidência de que através de um ponto fora de uma reta apenas uma linha paralela possa ser traçada. Nós não podemos intuitivamente aceitar outras alternativas, por exemplo, que nenhuma paralela possa ser traçada (a geometria de Riemann) ou que uma infinidade de paralelas possam ser traçadas (a geometria de Lobachevsky) (FISCHBEIN, 1987, p. 47, tradução nossa 8) Além deste exemplo, podemos citar alguns outros, como é o caso da criação do algarismo zero pelos hindus no século V (mais de três mil anos após os egípcios terem desenvolvido seu sistema de numeração), em uma atitude contrária ao bom senso ou às necessidades da contagem da época. Acreditamos, do mesmo modo como se deu entre a geometria euclidiana e a não euclidiana, que o longo intervalo de tempo entre a criação dos conceitos fundamentais da contagem e a criação do número zero, ocasionou-se devido à falta dos aspectos intuitivos envolvidos na representação do nada, na representação da ausência. 8 We accept as evident that through a point outside a line only one parallel may be drawn. We cannot accept intuitively other alternatives, for instance that no parallel can be drawn (the geometry of Riemann) or that an infinity of parallels can be drawn (the geometry of Lobachevsky). 48 Os conhecimentos autoevidentes, pela natureza intuitiva, quando em interação com os aspectos formais e com os aspectos algorítmicos, podem ter um papel facilitador da aprendizagem matemática, porém, de acordo com Fischbein (1993), o que ocorre com frequência é que esses conhecimentos intuitivos conflitam com os demais aspectos, e ao exercer seu poder coercivo, levam a erros e à falta de entendimento, criando obstáculos à aprendizagem. Fischbein (1993) cita um exemplo, obtido a partir de uma série de entrevistas feitas em um curso de formação de professores. Nesta ocasião, foram apresentadas duas questões que envolviam proporcionalidade, sendo que na primeira questão as grandezas eram diretamente proporcionais e na segunda, inversamente proporcionais. Para um melhor entendimento reproduzimos a seguir a segunda questão: Sete trabalhadores terminam certo trabalho em 28 dias. Em quantos dias 5 trabalhadores terminariam o mesmo trabalho (FISCHBEIN, 1993, p. 241, tradução nossa 9)? Os estudantes afirmaram que se tratava de um problema de proporção, e escreveram 7 5 = , chegando ao resultado de x =20. 28 x Quando chamados a refletir sobre o resultado, os estudantes perceberam que haviam errado, afinal de contas, com menos trabalhadores o trabalho demoraria mais tempo para ser terminado, e não menos tempo, como haviam calculado. O que ocorreu, neste caso, é que os alunos aplicaram o procedimento algorítmico de resolução, a despeito das restrições formais e até mesmo da intuição, ou seja, não houve a interação entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas. O aspecto algorítmico sobrepôs-se aos demais e determinou exclusivamente, o caminho (errado) da resolução. De Souza (2008) apresenta alguns outros exemplos sobre a prevalência do aspecto algorítmico sobre os demais. Em um deles, afirma que “para a inequação y 2 ≤ 25 , mais de 50% dos alunos extraem a raiz quadrada dos dois lados e chegam à y ≤ ±5 (procedimento próprio para equações)” (2008, p. 51). 9 Seven workers finish a certain piece of work in 28 days. In how many days will five workers finish the work? 49 Caraça (1978), ao fundamentar suas concepções sobre as dificuldades de entendimento que podem se apresentar quando do contato com a noção do infinito, expõe o seguinte exemplo, que reproduzimos: Seja o triângulo ABC e tiremos ao meio de AB uma paralela A’C’ a AC; sabe-se, da geometria, que o segmento A’C’ tem o comprimento igual à metade do comprimento do segmento AC. Pois, apesar disso, o conjunto, infinito, de pontos A’C’ é equivalente ao conjunto, infinito, de pontos de AC. Para o verificar, basta estabelecer entre esses dois conjuntos uma correspondência biunívoca, do modo seguinte: a cada ponto P de A’C’ faz-se corresponder o ponto M (único) de AC em que AC é encontrado pela reta BP; a cada ponto N de AC faz-se corresponder o ponto Q (único) em que A’C’ é encontrado pela reta NB (CARAÇA, 1978. p. 15) DESENHO 9. TRIÂNGULO ABC Para Caraça (1978) “a simples aceitação da possibilidade de repetição ilimitada de um ato mental exige o abandono de certas verdades fundamentais cuja evidência a vida de todos os dias impõe” (p. 16) Neste exemplo, percebemos o conflito entre os aspectos formais e intuitivos. Como o segmento A’C’ é menor do que o segmento AC, intuitivamente resistimos ao fato de que possa haver correspondência biunívoca entre seus pontos. A aceitação ocorre, no entanto, quando, apesar do efeito coercivo exercido pela intuição, consideramos os aspectos formais da situação, e como afirma Caraça (1978), abandonamos “certas verdades fundamentais”, intrinsecamente intuitivas. A interação entre os aspectos formais, algorítmicos e intuitivos é bastante complexa, assim como é complexa a identificação destes aspectos na atividade matemática, porém, em alguns casos, é possível perceber o conflito entre estas 50 componentes, que acarretam em erros e em falta de compreensão de determinado assunto. Acreditamos que, ao promover atividades matemáticas em que a interação entre os aspectos formais, algorítmicos e intuitivos esteja presente, possamos favorecer o processo de aprendizagem dos conceitos envolvidos nesta atividade. Estudar os conflitos que ocorrem entre as componentes pode subsidiar-nos quanto à origem dos erros e das dificuldades de aprendizagem. 3.2 DUVAL: REPRESENTAÇÃO, VISÃO E VISUALIZAÇÃO10 Para Duval (1999), embora as pesquisas em Educação Matemática tenham avançado nos últimos anos, o impacto delas tem sido mais efetivo no estudo dos currículos e das metodologias em sala de aula do que na investigação dos processos de aprendizagem em Matemática. As dificuldades deste tipo de pesquisa originam-se da necessidade de definição de quadro teórico que se encaixe dentro das restrições epistemológicas específicas da aprendizagem em Matemática. Isto requer ir além do estudo local dos conceitos matemáticos, assim como ir além da descrição das atividades em sala de aula. A representação e a visualização encontram-se no cerne do entendimento em Matemática e a comparação destes termos nos leva a associar a representação a uma grande variedade de atividades significativas, como por exemplo, o modo como a informação é codificada, ao passo que a visualização parece relacionar-se às imagens e à intuição empírica dos objetos. Duval (1999) considera três ideias chave na definição de um quadro teórico que seja capaz de analisar as condições de aprendizagem: a) O caráter paradoxal do conhecimento matemático. Em algumas áreas, como a Biologia, por exemplo, a representação referese a algo que existe no mundo real e que pode ser acessado (tocado, visto, cheirado) diretamente, mas que, em virtude de sua ausência em um determinado contexto, é representado. Nestes casos, a representação supre a falta do objeto real. 10 Representation, vision and visualization: cognitve functions in mathematical thinking. Basic issues for learning (tradução nossa) 51 Em Matemática, entretanto, ocorre o contrário. O único modo de acesso aos objetos é por meio de sua representação, sendo o representado (uma equação, uma figura geométrica, uma função) inacessível diretamente. O entendimento em Matemática requer que saibamos fazer a distinção entre essas duas entidades: a representação e o objeto matemático representado. b) A ambiguidade do termo “representação”. Normalmente este termo é usado para referir-se a uma entidade mental, que pode ser uma imagem, ou algo que não esteja presente no momento e que, portanto, precisa ser representado. Neste contexto, a ideia de “imagem mental” conflita-se com os símbolos, que, devido à sua função de comunicação, só podem ser materiais ou externos ao pensamento. Para Duval (1999), esta é uma divisão equivocada. Quando referimo-nos às representações, a distinção entre representação mental e representação externa refere-se ao modo de produção desta representação e não à natureza de sua forma. Existem dois tipos de representações cognitivas: aquelas produzidas intencionalmente pelo uso de algum sistema semiótico e aquelas que são geradas automaticamente por um sistema orgânico (como sonhos ou imagens mentais) ou por dispositivos físicos (como reflexos em um espelho ou fotografias). Tanto no primeiro caso como no segundo, as representações podem ser mentais ou externas ao pensamento. O que as distingue é o fato de que as representações produzidas intencionalmente são frutos de uma ação e da seleção do sistema de representação semiótico, enquanto as representações automáticas são consequência de alguma ação física do objeto representado sobre algum sistema orgânico ou alguma ação física sobre um dispositivo físico. Para Duval (1999), a divisão básica encontra-se, dessa forma, entre as representações semióticas e as representações físicas e orgânicas. c) A necessidade de vários sistemas de representação semiótica. O avanço da aprendizagem em Matemática está associado ao desenvolvimento dos processos semióticos, derivados dos primeiros modos de representação: a linguagem natural e as imagens. Da linguagem escrita, derivouse a escrita algébrica, que evoluiu até os nossos dias, dando origem à linguagem formal. Das imagens, desenvolveram-se as figuras planas, as figuras em 52 perspectiva e os gráficos. Cada novo sistema semiótico fornece meios específicos da representação e ação sobre os objetos, por isso, Duval chamou estes sistemas de “registros de representação semiótica”. Existem registros para representação discursiva (língua natural e linguagem simbólica) e registros para representação não discursiva, por visualização (gráficos e desenhos entre outros). Tanto para o discurso como para a visualização, existem dois tipos de estrutura dos registros: estrutura diádica de significância (língua natural, representação 2D ou representação 3D) e estrutura triádica de significância (notações, símbolos, linguagem formal, diagramas). De acordo com Duval (1999), de um ponto de vista didático, o raciocínio matemático normalmente requer que ativemos dois ou três diferentes registros de representação semiótica, mesmo quando apenas um registro parece ser suficiente do ponto de vista matemático. A falta de entendimento em Matemática pode estar relacionada à falta de entendimento sobre como funcionam os registros de representação. Para Duval (1999), um único registro de representação semiótica é incapaz de proporcionar ao interlocutor todas as propriedades do objeto, pois cada registro apresenta um modo particular de entendimento e, de acordo com as especificidades do objeto matemático, um registro de representação pode apresentar-se mais apropriado do que outro. Duval (1999) considera a necessidade de distinção entre dois tipos de operações cognitivas: o tratamento e a conversão. Os tratamentos referem-se às operações que são feitas dentro de um mesmo registro de representação; e as conversões são aquelas operações que implicam uma troca de registro (a tradução da representação do objeto em outro registro). A resolução de uma equação como ilustrado a seguir, pode servir como exemplo de um tratamento. As operações foram todas feitas dentro de um mesmo registro de representação semiótica: o registro algébrico. 3x − 4 = 2 x + 3 (I ) 3x − 4 + (− 2 x + 4) = 2 x + 3 + (− 2 x + 4) 3x − 2 x = 3 + 4 ( III ) x=7 ( IV ) ( II ) 53 TABELA 3. TRATAMENTO DENTRO DE UM REGISTRO ALGÉBRICO Registro de origem (algébrico) (I) 3x − 4 = 2 x + 3 Registro de destino (algébrico) (IV) x=7 O traçado de um gráfico a partir de uma equação dada (ou vice versa), é um exemplo de conversão. O registro de origem é o algébrico e o de destino é o registro gráfico. TABELA 4. CONVERSÃO DO REGISTO ALGÉBRICO PARA O GRÁFICO Registro de origem (algébrico) ( x − 2 )2 Registro de destino (gráfico) =0 A conversão de representações é um problema crucial da aprendizagem matemática, e apesar de alguns estudantes conseguirem aprender alguns “tratamentos”, de acordo com Duval (1999), poucos conseguem realmente promover a “conversão” de representações. Muitos equívocos na aprendizagem são originados desta incapacidade. A atividade matemática presente na resolução de problema requer a habilidade de troca de registros, seja porque outra representação dos dados pode adequar-se melhor ao encaminhamento da solução, seja porque dois registros precisam atuar juntos, como por exemplos os desenhos e a linguagem. De um ponto de vista didático, Duval (1999) afirma que apenas os alunos que conseguem fazer a troca dos registros não confundem o objeto matemático com a sua representação e vice-versa, conseguindo desta forma, transferir seus 54 conhecimentos matemáticos para um contexto diferente daquele em que se deu a aprendizagem. A conversão apresenta dois fatos de grande complexidade, relacionados à congruência das representações: a) Qualquer conversão pode ser congruente ou não congruente. Dissemos que a conversão é congruente quando a representação do registro de saída é equivalente à representação do registro de destino TABELA 5. CONVERSÕES CONGRUENTES E NÃO CONGRUENTES Registro de origem Registro de destino (língua natural) (algébrico) Antonio tinha 4 figurinhas e Conversão congruente ganhou mais 7 de seu irmão. Quantas figurinhas 4 + 7 = 11 o Antonio tem agora? Após uma aposta, Marcos perdeu 7 bolinhas de gude Conversão não e ficou com 4. Quantas congruente bolinhas de gude Marcos 4 + 7 = 11 tinha, antes da aposta? No primeiro caso (Antonio) a associação é imediata e a tradução do registro algébrico é literal ao registro em língua natural. As palavras “ganhou” e “mais” aparecem no registro algébrico por meio da operação de adição. No segundo caso (Marcos), embora as representações em língua natural e algébrica sejam equivalentes, não há congruência. A palavra “perdeu” não está associada à adição. b) A congruência e a não congruência dependem da direção em que se dá a conversão. Uma conversão pode ser congruente em um sentido e não 55 ser no outro. Duval alerta sobre o fato de este fenômeno ser ignorado no ensino da Matemática. A resolução de problemas posposta nos currículos normalmente propõe a conversão congruente, evitando as situações não congruentes e suas adversidades, que podem levar às reais dificuldades. Partindo do princípio que a aprendizagem em Matemática se estabelece quando os alunos conseguem transferir e utilizar seu conhecimento em contextos diferentes daqueles em que se deu a aprendizagem, Duval (1999) sugere, que na elaboração de atividades matemáticas, proponham-se exercícios em que seja necessária a conversão em dois sentidos, de um registro de representação A para um registro de representação B, e deste registro de representação B para o registro de representação A. Além disso, os exercícios devem contemplar casos de congruência e de não congruência nas conversões. Esta coordenação entre os registros permite aos alunos observarem diferentes representações do mesmo objeto matemático, possibilitando-lhes o estabelecimento de conexões entre estas diferentes representações. Duval (1999) refere-se à duas funções cognitivas fundamentais: a função epistemológica e a função sinóptica. A função epistemológica está relacionada ao acesso direto a qualquer objeto físico e a função sinóptica relaciona-se à apreensão simultânea de vários objetos em um campo mais amplo. A visão não consegue cumprir ambas as funções, primeiramente porque, considerando o aspecto epistemológico, o acesso direto aos objetos não é por si só capaz de produzir sua representação semiótica, e segundamente, ao considerar o aspecto sinóptico, embora vivamos em um mundo tridimensional, só vemos um lado das coisas de cada vez. A visão simultânea exigiria a movimentação do observador ou do objeto que está sendo visto. Diante da impossibilidade da visão em cumprir as funções epistemológicas e sinópticas, Duval (1999) distingue-a da visualização, esta sim responsável pela produção de uma representação semiótica a partir da organização das relações entre as unidades representacionais, não acessíveis ao primeiro olhar. 56 Para que se dê a visualização em diferentes registros, de acordo com Duval (1999), é necessário que se considerem as limitações e restrições deste registro, a fim de que se produzam e se relacionem estas unidades representacionais em busca do entendimento sobre o objeto representado. Do ponto de vista didático, três aspectos devem ser levados em conta sobre a visualização: a discriminação, o tratamento e a coordenação com o registro discursivo. Ao considerarmos a discriminação, percebemos que, para alguns alunos, existe uma deficiência heurística na interpretação geométrica da visualização. Algumas figuras geométricas, de acordo com o problema apresentado, podem oferecer uma grande quantidade de possibilidades de configuração, porém a configuração que oferece apoio heurístico nem sempre é aquela percebida à primeira vista. Percebemos, durante o período em que fazíamos o curso de Licenciatura em Matemática, que alguns alunos, embora conseguissem obter os gráficos bidimensionais em diferentes alturas do espaço tridimensional, não conseguiam visualizar a representação da figura tridimensional correspondente. A visão dos gráficos, neste caso, não foi suficiente para a criação da representação da figura. A visualização, que não se manifestou, poderia provocar o relacionamento dos gráficos e a criação da representação em três dimensões. DESENHO 10. SOBREPOSIÇÃO DE GRÁFICOS BIDIMENSIONAIS 57 Para Duval (1999), esta deficiência heurística está relacionada à falta de habilidade dos estudantes em ir além da visão inicial apresentada, e questiona se estas limitações se devem ao modo como os alunos são ensinados, ou a algum modo por meio do qual a cognição opera. Ao analisar o tratamento, verificamos que a existência de vários registros de representação apresenta a possibilidade de optar pelos caminhos mais adequados a fim de que se atue em cada registro. Se uma figura geométrica pertence a um registro, devemos obter o melhor modo de atuar neste registro, como meio de realizar as transformações necessárias na figura, de forma que possamos, ao final e após este processamento, beneficiar-nos das propriedades heurísticas da figura. Duval (1999) distingue três tipos de operação: a) Mereológica: consiste em dividir o todo em partes e recombinar estas partes, transformando a figura inicial em outra figura, que eventualmente pode ser mais apropriada à resolução do problema proposto b) Óptica: baseia-se no aumento ou diminuição das formas da figura, sem no entanto, modificá-la; c) operação Local: resume-se em alterar a orientação da figura no plano. Esta afeta principalmente o reconhecimento de ângulos retos, tradicionalmente desenhados por uma reta horizontal e uma reta vertical. Estas transformações, quando operadas, individualmente ou por meio de combinações, podem proporcionar às figuras geométricas sua função heurística. Duval (1999) chama este fenômeno de apreensão operatória e distingue-a da apreensão perceptiva (que fixa a imagem inicial da figura e a conserva inalterada) e da operação discursiva. A apreensão operatória é capaz de criar uma sequência de figuras a partir de uma figura inicial, apresentada como ponto de partida e captada pela apreensão perceptiva. Desta sequência, pode surgir alguma figura que apresente propriedades heurísticas úteis à resolução do problema apresentado. Para Duval (1999), existe uma concepção equivocada de que o que é simples do ponto de vista matemático também é simples do ponto de vista 58 cognitivo. O que ocorre, na verdade, é que os objetos de estudo somente tornamse simples ao final da aprendizagem. Um ponto de partida no estudo dos processos de ensino e de aprendizagem deve levar em consideração as consequências desta falsa autoevidência. Concordamos com Fischbein (1993) quanto à necessidade de interação entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas na atividade matemática, para que se dê a aprendizagem. Partindo deste princípio, ao conceber as atividades que serão executadas pelos sujeitos desta pesquisa, procuramos contemplar estes três aspectos. Como já dissemos anteriormente, essa interação é bastante complexa, porém, apesar disso, acreditamos que, ao mediar algumas atividades por um modelo de representação tridimensional, estejamos priorizando a componente intuitiva da atividade, ao passo que nas atividades orientadas para a montagem estejamos reforçando a componente algorítmica, e finalmente, ao solicitar as justificativas da montagem, seja a componente formal a ser priorizada. Na verdade, essa nossa crença somente poderá ser comprovada após a análise dos protocolos. Esperamos, ao analisar estes dados, à luz da abordagem proposta por Fischbein (1993): a) verificar se as atividades promoveram a interação entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas, b) verificar se houve a evolução dos saberes dos alunos com relação aos conceitos envolvidos na representação de superfícies quádricas. Orientados pela leitura de Duval (19990, em concordância com as suas ideias sobre a necessidade de que os alunos desenvolvam a aprendizagem em pelo menos dois diferentes registros de representação semiótica, e que saibam coordenar a mudança entre estes registros, proporemos algumas atividades que contemplem estas condições e, ao observar a realização destas atividades, e ao analisar os protocolos obtidos: a) verificar se os alunos conseguem desenvolver a visualização sobre as quádricas, e a partir deste desenvolvimento, estabelecer relações entre as unidades representacionais em busca da aprendizagem deste conteúdo; 59 b) verificar se os alunos conseguem fazer a representação das superfícies quádricas em diferentes registros de representação semiótica, efetuando tratamentos e conversões entre estes registros, nos dois sentidos, de ida e de volta. 60 CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Nosso trabalho prevê uma intervenção junto a um grupo de, no máximo, 20 alunos do último ano do curso de Licenciatura em Matemática, que trabalharão em forma de duplas durante os encontros. Após obtermos a autorização do Conselho de Ética da UNIBAN, assim como da universidade onde pretendemos que se realize a pesquisa, faremos o convite aos alunos, informando-lhes que se trata de uma atividade de caráter investigativo, ligada à linha Ensino e Aprendizagem de Matemática e suas Inovações, do programa de Mestrado em Educação Matemática da UNIBAN-SP e que, embora possa caracterizar-se como uma forma de aprendizagem, a participação nas atividades é voluntária. Procuraremos deixar claro aos alunos que suas identidades, assim como da instituição de ensino, serão mantidas em sigilo e que os resultados da pesquisa, aos quais terão pleno acesso, não afetarão os conceitos ou notas de qualquer disciplina. Também informaremos aos alunos que os protocolos e as eventuais gravações de áudio e de vídeo obtidos nos encontros serão utilizados exclusivamente como instrumento de análise, e que será necessário, aos que queiram participar da pesquisa, que assinem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ver ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO). A intervenção que faremos junto aos alunos participantes da pesquisa consiste em uma sequência de atividades, previstas para ocorrer em seis encontros de 50 minutos cada, fora do horário de aula. Pretendemos, por meio destas atividades, promover a mobilização das componentes formais, algorítmicas e intuitivas (Fischbein, 1993) envolvidas na representação de algumas superfícies quádricas, assim como, apresentar situações que impliquem a utilização de diferentes registros de representação semiótica das superfícies quádricas, envolvendo tratamentos e conversões (Duval, 1999). As atividades ocorrerão de acordo com o seguinte roteiro: 61 1º Encontro: seção de apresentação e resolução de um questionário com revisão sobre circunferências (ver APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS). 2º Encontro: institucionalização, correção conjunta do questionário sobre as circunferências. 3º, 4º, 5º e 6º Encontros: atividades com a utilização do modelo de representação tridimensional (APÊNDICE B - ATIVIDADES COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL). Descreveremos a seguir, de forma detalhada, cada uma das etapas previstas no cronograma. 4.1 QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS As superfícies quádricas são as correspondentes tridimensionais das cônicas do plano. Em outras palavras, o corte de uma superfície quádrica pode ser representado por uma cônica, seja ela uma circunferência, uma elipse, uma parábola ou uma hipérbole. Em nosso projeto, a fim de que não houvesse tantos pré-requisitos, como por exemplo, a necessidade de que os sujeitos dominassem os conceitos relativos às cônicas, optamos por apresentar-lhes exclusivamente as quádricas obtidas por revolução em torno de um eixo, ou seja, as quádricas que podem ser obtidas pela superposição de circunferências. Considerando que os sujeitos de nossa pesquisa são alunos do 3º ano do curso de Licenciatura em Matemática, que os conteúdos relativos às circunferências são objeto de estudo do Ensino Médio e que (de acordo com a grade curricular da universidade onde realizaremos a pesquisa) a disciplina de Geometria Analítica é ministrada no 2º ano, acreditamos que o conhecimento sobre as circunferências seja de domínio da maioria dos participantes. A fim de certificarmo-nos disto, iremos propor um questionário envolvendo algumas questões sobre circunferências (ver APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS). 62 Chamamos as atividades contidas neste questionário de “tarefas de reconhecimento”, tendo em vista que o nosso objetivo com a aplicação do questionário é verificar se os sujeitos sabem reconhecer e representar graficamente uma circunferência por meio de sua expressão algébrica, assim como verificar se são capazes de, a partir da representação gráfica da circunferência, chegar à sua representação algébrica. A análise das respostas obtidas por meio deste questionário irá subsidiarnos quanto à necessidade de uma etapa adicional de institucionalização sobre este conteúdo matemático específico. Apresentamos nos próximos parágrafos as questões que serão propostas, e nossos objetivos, em cada uma delas: 4.1.1 Questão 1 Solicitamos aos sujeitos que façam a associação entre a representação gráfica de uma circunferência e a sua respectiva representação algébrica. Gostaríamos, dessa forma, de verificar se os participantes são capazes de realizar a conversão do registro gráfico para o registro algébrico. Acreditamos que a análise das eventuais respostas possa levar-nos a verificar se os sujeitos dominam os seguintes conceitos básicos sobre algumas das características da expressão algébrica de uma circunferência: • A expressão algébrica de uma circunferência sempre pode ser reduzida a uma soma de quadrados. Algumas das alternativas não apresentam esta característica e deveriam ser descartadas, como por exemplo: x 2 − y 2 = 9 (item 1a) x 2 − y 2 = 2 (item 1b) • Uma soma de quadrados sempre resultará em um número maior ou igual à zero. Algumas das alternativas não apresentam esta característica e deveriam ser descartadas, como por exemplo: 63 x 2 − y 2 = −4 (item 1b) ( x − 2 )2 + ( y + 3 )2 • Na expressão = −9 (item 1c) algébrica reduzida coeficientes das incógnitas x2 e de uma circunferência, os y 2 são iguais. Algumas das alternativas não apresentam esta característica e deveriam ser descartadas, como por exemplo: x 2 + 3 y 2 = 9 (item 1b) x2 y2 + = 9 (item 1c) 2 3 • Quando reduzidas à forma (x − a ) + ( y − b ) = c 2 , as coordenadas do 2 2 centro são dadas por C (a, b), e o comprimento do raio é dado pelo valor de c. Algumas das alternativas não apresentam esta característica e deveriam ser descartadas, como por exemplo: x 2 + y 2 = 3 (item 1a – de acordo com o gráfico o raio é 3 e não 3 ) x 2 + y 2 = 2 (item 1b – de acordo com o gráfico o raio é 2 e não 2) ( x + 2 )2 + ( y − 3 ) 2 = 9 (item 1c – de acordo com o gráfico as coordenadas do centro são (2, -3) e não (-2, 3) Quando dizemos que algumas das alternativas devem ser descartadas, acreditamos que os sujeitos que tenham desenvolvido a aprendizagem sobre as circunferências o façam de forma rápida. Assim, determinamos um tempo bastante limitado para que respondam a cada uma das questões (em torno de 2 minutos por item, 6 minutos ao todo). 4.1.2 Questão 2 64 Em um sentido oposto à conversão que se propôs na Questão 1, solicitamos aos sujeitos que associem a representação algébrica de uma circunferência à sua representação gráfica. Esperamos verificar nesta etapa se os sujeitos conseguem rapidamente associar a expressão na forma (x − a ) + ( y − b ) = c 2 às coordenadas do centro e ao comprimento do raio. Apresentamos duas expressões, uma da quais 2 2 corresponde à uma circunferência com centro na origem (2a) e a outra com centro fora da origem (2b), no ponto C (-3, 2). Assim como na Questão 1, limitamos o tempo de resposta (2 minutos para cada item, 4 minutos ao todo). 4.1.3 Questão 3 Nesta etapa, solicitamos aos participantes que associem a representação gráfica de algumas circunferências à sua descrição em língua natural. Uma das circunferências apresenta o centro sobre a origem, outra apresenta o centro sobre um dos eixos ordenados (eixo das abscissas) e outras duas apresentam o centro em pontos que não estão nem na origem e nem em um dos eixos ordenados. Esperamos verificar se os sujeitos da pesquisa conseguem extrair da representação gráfica duas informações básicas sobre as circunferências: as coordenadas do centro e o comprimento do raio. Da mesma forma que nas questões anteriores, acreditamos que os sujeitos que tenham desenvolvido aprendizagem sobre este conteúdo devam, de forma rápida, apontar as alternativas que correspondam à descrição correta da circunferência, por isso também limitamos o tempo de resposta (1 minuto para cada item, 4 minutos ao todo). 4.1.4 Questão 4 Nesta questão apresentamos algumas expressões algébricas e solicitamos aos sujeitos que façam a associação destas com a respectiva descrição. De forma análoga ao que foi proposto na Questão 3, gostaríamos de verificar se os participantes são capazes de fazer a conversão, neste caso, da representação algébrica para a representação em língua natural e se 65 conseguem, a partir das expressões algébricas que representam circunferências, deduzir as informações sobre o centro da circunferência e o comprimento do raio. Além disso, gostaríamos de verificar se os sujeitos conseguem, por meio da análise da expressão, inferir algumas das características básicas da representação algébrica das circunferências, ou seja: • A expressão algébrica de uma circunferência sempre pode ser reduzida à uma soma de quadrados. A expressão apresentada no item 4a contraria esta regra, portanto não pode corresponder à uma circunferência: ( x − 5 )2 − ( y + 3 )2 = 16 • Na expressão algébrica de uma circunferência, os coeficientes das incógnitas x 2 e y 2 são iguais. A expressão apresentada no item 4c contraria esta regra, portanto não pode corresponder à uma circunferência: 2 x 2 + ( y + 3) = 6 2 Limitamos o tempo de resposta à 2 minutos para cada item, 8 minutos ao todo. 4.2 INSTITUCIONALIZAÇÃO Considerando que nossa pesquisa relaciona-se à representação de superfícies quádricas e que o corte das superfícies quádricas que escolhemos estudar corresponde a circunferências, é fundamental, a fim de que possamos desenvolver as próximas atividades, que os participantes tenham desenvolvido aprendizagem sobre os conceitos envolvidos na representação das circunferências. Acreditamos que a análise das respostas ao questionário aplicado previamente possa certificar-nos disso. Entendemos, no entanto, que, caso se faça necessário, devamos fazer um fechamento sobre as questões levantadas no 66 questionário, como forma de universalizar os conceitos abordados entre todos os sujeitos, dando a estes conceitos o estatuto de saber, visto que não dependem de convicções subjetivas ou valores individuais, eventualmente atribuídos pelos participantes. Dessa forma, dependendo do aproveitamento obtido pelos sujeitos, propomos que seja feita uma discussão, mediada pelo professor pesquisador, sobre as questões apresentadas no questionário, objetivando a institucionalização dos conteúdos matemáticos envolvidos. 4.3 ATIVIDADES COM MODELO DE REPRESENTAÇÃO Após as tarefas de reconhecimento e eventual institucionalização, propomos que os sujeitos sejam divididos em duplas, a fim de que desenvolvam as próximas atividades, utilizando o modelo de representação gráfica tridimensional como um dos recursos didáticos (ver APÊNDICE B - ATIVIDADES COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL). Descrevemos a seguir cada uma dessas atividades, assim como, nossas expectativas quanto à reação dos sujeitos e quanto às respostas que estes possam eventualmente apresentar. 4.3.1 Atividade 1 Apresentamos aos sujeitos da pesquisa três modelos de representação tridimensional, montados por meio da sobreposição de transparências (ver descrição da montagem no CAPÍTULO 2: UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL). No modelo 1 as transparências apresentam circunferências com o mesmo comprimento de raio, cujos centros localizam-se numa reta não perpendicular ao plano da base, representando um cilindro oblíquo. No modelo 2 as transparências apresentam circunferências de mesmo comprimento de raio, porém seus centros localizam-se sobre uma curva, diferentemente do modelo 1 67 7 No mod delo 3 as trransparênccias aprese entam circcunferência as com dife erentes comprimentos de raio, com c os ce entros sobre o eixo z, que é perpendicu ular ao plano da base e, represen ntando um hiperbolóide, conforme persp pectiva cria ada por meio o do progra ama Cabri 3D e apre esentada no DESENH HO 11. DESENH HO 11. PER RSPECTIVA A DE UM HIPERBOLÓ ÓIDE Nos iten ns 1.1, 1.2 2 e 1.3, solicitamos s s aos participantes q que analis sem as repre esentaçõe es e que ass descreva am, com palavras, p fo ornecendo o os detalhes que conssiderarem relevantess, a fim de transmitirr a ideia do o objeto m matemático a uma pesssoa que nã ão tenha viisto o modelo. No item m 1.4, solicitamos aos a sujeito os descrevvam a differença en ntre os mod delos; no item 1.5, pe erguntamo os se conse eguem ima aginar as ccurvas de nível a partiir dos mod delos e no o item 1.6, perguntam mos se accham posssível imagin nar um objeto tridimen nsional a partir das cu urvas de nível. n Além de e proporcio onar aos participante p es um prim meiro conta ato com o modelo m de representaçção tridime ensional, esperamos e s verificar se conseg guem perc ceber e exprressar algu umas das caracteríssticas que considera amos impo ortantes pa ara que dese envolvam a visualização das su uperfícies quádricas, q como as sseguintes: 1. As A transparências que formam os modelos m 1 e 2 po ossuem circu unferênciass com messmo comp primento de e raio, enq quanto as que as 68 que formam o modelo 3 possuem circunferências com diferentes comprimentos de raio 2. As transparências que formam os modelos 1 e 3 possuem circunferências cujos centros localizam-se sobre uma reta, enquanto que as transparências que formam o modelo 2 têm os centros localizados sobre uma curva 3. As transparências que formam os modelo 1 possuem circunferências cujos centros localizam-se sobre uma reta oblíqua ao plano da base, enquanto que as centros das circunferências do modelo 3 localizam-se sobre uma reta perpendicular ao plano da base 4. A localização em que a transparência é montada pode determinar a forma do objeto tridimensional. A mudança da transparência de lugar pode formar a representação de um objeto tridimensional diferente do original 5. A distância entre as transparências pode determinar a representação de diferentes objetos tridimensionais. Por exemplo, poderíamos utilizar as mesmas 11 transparências para representar tanto a equação x 2 + y 2 + z 2 = 25 , que é uma circunferência, quanto a equação x 2 + y 2 + z2 = 25 , que é um elipsóide, bastando para isso 9 alterar o tamanho dos espaçadores que são colocados entre uma transparência e outra Alem disto, esperamos, pela análise das descrições, verificar se os sujeitos são capazes de, além de usar a percepção visual, buscar dados adicionais nas representações e organizar as relações entre estes dados, a fim de criar uma representação semiótica das figuras representadas, e se são capazes de fazer a conversão do registro gráfico para o registro figural, e deste para o registro discursivo. 69 4.3.2 Atividade 2 Nesta etapa, recolhemos os modelos montados e entregamos a cada um dos grupos 11 transparências impressas com representações gráficas de circunferências com comprimentos de raio entre os valores inteiros de zero a 10 unidades. Além desse material, os grupos receberão hastes e espaçadores de mesma altura, ambos feitos de canudos de refrigerante a fim de que sobreponham as transparências (ver descrição da montagem no CAPÍTULO 2: UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL). Em seguida, no item 2.1, solicitamos que montem as transparências nas hastes, escolhendo livremente o raio e a posição em que devem colocá-las, de forma que fiquem sobrepostas umas às outras e igualmente espaçadas entre si. Também solicitamos que os sujeitos justifiquem sua escolha, por escrito, quanto ao tamanho da circunferência e quanto à ordem da montagem (item 2.2). Terminada a montagem e a redação das justificativas, propomos uma discussão entre os grupos, a fim de que compartilhem as ideias surgidas durante a atividade. É preciso deixar claro aos sujeitos que, nesta etapa, a justificativa que se pede não é formal, tampouco deve obrigatoriamente ser apoiada em princípios lógicos. Esperamos justificativas simples, como por exemplo “montamos da menor para a maior”, ou “montamos as menores no meio e as maiores nas extremidades”, ou até mesmo “montamos aleatoriamente”. Acreditamos que este tipo de justificativa, por escrito, servirá para que os sujeitos exercitem a visualização (Duval, 1999), além de promover a interação entre a componente intuitiva (conhecimentos aceitos sem necessidade de demonstrações ou provas) e a componente algorítmica (montagem) do objeto representado (Fischbein, 1993). Esperamos nesta etapa que os sujeitos por si mesmos percebam a potencialidade dos modelos tridimensionais para a representação de figuras tridimensionais e que a escolha dos raios das circunferências e das posições em que devem ser montadas podem gerar diferentes representações destas figuras. Para verificar isso, perguntamos, no item 2.3, se os sujeitos acham possível criar a representação de outro sólido a partir das mesmas 11 transparências. 70 4.3.3 Atividade 3 No item 3.1, solicitamos aos sujeitos que montem, a partir das 11 transparências que lhes serão entregues, a representação tridimensional correspondente à expressão algébrica x 2 + y 2 = z , para os valores inteiros de z = 0 até z = 10. Como nesta etapa as transparências apresentarão a indicação da cota z e a indicação do comprimento do raio, acreditamos que os sujeitos não terão dificuldade na montagem do modelo. Basta que coloquem a transparência com indicação z = 0 em primeiro lugar, z = 1 em segundo lugar, e assim por diante, respeitando o espaçamento implícito. No item 3.2, esperamos verificar se os sujeitos conseguem estabelecer a relação entre o aumento linear do parâmetro z (0, 1, 2, 3, ... , 10) e o aumento não linear do comprimento do raio da circunferência. O item 3.3 foi proposto a fim de verificar se os participantes conseguem traçar, a partir da representação tridimensional, as curvas de nível correspondentes, no plano cartesiano formado pelos eixos x e y. Acreditamos que esta capacidade possa colaborar com o desenvolvimento da visualização. 4.3.4 Atividade 4 No item 4.1, solicitamos aos participantes que montem a representação tridimensional de uma superfície quádrica, a partir de suas curvas de nível, que são apresentadas em um plano cartesiano. Esperamos verificar por meio desta atividade se são capazes de representar tridimensionalmente uma superfície quádrica partindo de sua representação em duas dimensões. No item 4.2, solicitamos que os sujeitos façam a descrição da figura obtida, que neste caso é um elipsóide. Esperamos, por meio da análise destas descrições, verificar se os sujeitos conseguem realizar a conversão entre a representação tridimensional e o registro em língua natural. Com isso esperamos aferir quais as propriedades formais os participantes conseguem descrever. Acreditamos que esta análise pode indicarnos se houve a “visualização” da figura representada ou apenas a “visão” do objeto concreto. 71 4.3.5 Atividade 5 Consideramos esta etapa como uma preparação para a atividade final. Apresentamos a expressão algébrica x 2 + y 2 = 10 + z 2 e solicitamos aos sujeitos que analisem o comportamento do comprimento do raio da circunferência em função da mudança do parâmetro z. Para tal, no item 5.1, sugerimos que façam variar o valor de z entre valores inteiros de -4 a 4 e que registrem as informações em uma tabela. Em seguida, os sujeitos serão solicitados a analisar os valores obtidos e procurar estabelecer relações entre z e o comprimento do raio. No item 5.2, perguntamos aos participantes qual a relação entre o valor de z e o raio da circunferência. Ao propor esta pergunta, esperávamos verificar se os sujeitos conseguiriam traduzir em palavras a relação algébrica que usaram para completar a tabela do item 5.1. Nos itens 5.3 e 5.4, perguntamos aos sujeitos se é possível que em algum dos cortes da figura dada pela expressão algébrica x 2 + y 2 = 10 + z 2 existam circunferências com raio 4,5 (item 5.3) e com raio 2,5 (item 5.4). Gostaríamos de verificar se os participantes são capazes de perceber que, embora possamos atribuir qualquer valor ao parâmetro z , o menor comprimento do raio possível é igual à 10 4.3.6 Atividade 6 Nesta última atividade, entregamos 11 transparências impressas e apresentamos a representação algébrica de uma superfície quádrica. No item 6.1, solicitamos aos sujeitos que esbocem as curvas de nível correspondentes, em um plano cartesiano. No item 6.2, solicitamos aos sujeitos que montem uma representação tridimensional da figura, a partir da expressão algébrica, e (item 6.3) que a descrevam em linguagem natural. Esperamos verificar, nesta etapa final, se os participantes familiarizaramse com os modelos tridimensionais e com isso conseguiram relacionar os diversos registros e organizar as relações entre as unidades representacionais. 72 Gostaríamos de analisar as descrições apresentadas nesta etapa e compará-las com as descrições que foram feitas nas etapas anteriores, a fim de verificar se houve alguma evolução quanto ao registro discursivo e quanto à capacidade de visualização. 73 CAPÍTULO 5: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 5.1 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS Conforme previsto no CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS, após obter a aprovação da Comissão de Ética da UNIBAN para pesquisas com seres humanos (ver ANEXO B – PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA), procuramos alguns alunos de um curso de Licenciatura em Matemática que estivessem cursando o último ano e que concordassem em participar como sujeitos de nossa pesquisa. Nessa procura, tivemos contato com a professora coordenadora de um curso de Licenciatura em Matemática, por meio da qual fomos apresentados a uma turma do 3º ano. Falamos aos alunos sobre nossa pesquisa e sobre os trabalhos que se desenvolvem no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da UNIBAN, assunto que despertou a atenção dos alunos, visto que boa parte pretende dar prosseguimento aos estudos assim que terminar a graduação, seja em cursos de Especialização, seja em um curso de Mestrado. Após estes esclarecimentos, distribuímos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ver ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO) para que os alunos lessem e, caso concordassem, assinassem e nos devolvessem. Neste primeiro contato, recebemos quatorze termos assinados. Em outra reunião, receberíamos o décimo quinto, de um aluno que no primeiro contato não pode comparecer à aula, mas que compareceu às demais atividades previstas em nossa pesquisa. Aproveitamos a oportunidade e falamos aos alunos sobre um dos prérequisitos de nossa pesquisa, sobre a necessidade de que tivessem desenvolvido a aprendizagem sobre as circunferências. Informamos que havíamos desenvolvido algumas questões, que chamamos de “tarefas de reconhecimento”, por meio das quais esperávamos verificar se saberiam reconhecer e representar graficamente uma circunferência por meio de sua expressão algébrica, assim como verificar se seriam capazes de, a partir da representação gráfica da circunferência, chegar à sua representação algébrica. 74 Explicamos aos sujeitos que as tarefas apresentadas no questionário eram objetivas e que eles teriam um tempo limitado para respondê-las. A fim de que fosse evitado algum eventual constrangimento relacionado a esta restrição, informamos aos participantes que pretendíamos verificar, por meio de uma resposta rápida, se os conhecimentos sobre as circunferências estavam disponíveis entre os saberes matemáticos que haviam desenvolvido ao longo de sua vida acadêmica, ou em outras palavras, usando um termo de uso comum, se estes conhecimentos “estavam à mão”, prontos para serem usados quando necessário e que por este motivo, limitaríamos o tempo que teriam para responder as questões. Os sujeitos demonstraram compreender nossa argumentação e concordaram em responder o questionário, sem apresentar objeções quanto à questão da limitação do tempo. Na verdade, no decorrer da aplicação do questionário, verificamos que o tempo que prevíamos para cada uma das questões foi suficiente, não sendo necessário, em nenhuma ocasião, interromper qualquer dos participantes. Todos entregaram as atividades no tempo previsto. Apresentamos a seguir uma análise de como foi o desempenho dos sujeitos nesta atividade e quais foram os pontos que consideramos necessários abordar na atividade de institucionalização prevista, antes da aplicação das atividades com o modelo de representação tridimensional. 5.1.1 Questão 1 Nesta questão, apresentamos três representações gráficas de circunferências e cinco expressões algébricas para cada uma. Solicitamos aos participantes que indicassem qual das expressões corresponderia ao gráfico. Estimamos que levariam no máximo seis minutos para responder os três itens desta questão. No item 1A, apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em C (0, 0) e raio igual a 3 unidades (ver DESENHO 12). 75 DESENHO 12. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 3 Ao analisar as respostas, verificamos que oito participantes indicaram corretamente a expressão x 2 + y 2 = 9 , quatro participantes apontaram a expressão x 2 + y 2 = 3 , e dois participantes apontaram a expressão x 2 − y 2 = 3 . No item 1B, apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em C (0, 0) e raio igual a 2 unidades (ver DESENHO 13). DESENHO 13. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 2 Neste item, dez participantes indicaram corretamente a expressão x 2 + y 2 = 4 , três participantes apontaram a expressão participante apontou a expressão x 2 − y 2 = 2 . x 2 + y 2 = 2 , e um 76 No item 1C, apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em C (2, -3) e raio igual a 3 unidades (ver DESENHO 14). DESENHO 14. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (2, 3) E RAIO 3 Verificamos, após a análise das respostas, que oito participantes indicaram corretamente a expressão ( x − 2 ) + ( y + 3) = 9 , três participantes 2 apontaram a expressão expressão ( x + 2 ) 2 + ( y − 3 )2 ( x − 2 )2 + ( y + 3 )2 ( x − 2 )2 + ( y + 3 )2 Conforme = −9 e um 2 = 9 , dois participantes apontaram a participante apontou a expressão = 3. descrevemos no CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS, com a Questão 1 nossa intenção é verificar se os sujeitos são capazes de realizar a conversão entre o registro gráfico e o registro algébrico, e avaliar se dominam alguns conceitos básicos sobre algumas das características da relação entre a expressão algébrica e o gráfico de uma circunferência. A análise das respostas mostra-nos que, em média, 62% das questões foram respondidas corretamente, embora não possamos dizer que 62% dos sujeitos responderam corretamente. Como veremos, houve casos em que um participante respondeu erroneamente um item para logo em seguida, numa situação similar, responder corretamente. 77 Quanto aos erros, chamou-nos a atenção o fato de que em 29% das alternativas apontadas no item 1A, em 21% das alternativas apontadas no item 1B e em 7% das alternativas apontadas no item 1C, a expressão algébrica, que deveria estar na forma x2 + y2 = r 2 apresentava-se incorretamente como x 2 + y 2 = r (sem que o raio estivesse elevado ao quadrado). Em nossa opinião, tendo em vista o poder coercivo que o aspecto intuitivo pode exercer em uma atividade matemática, é compreensível que o comprimento do raio e o valor numérico apresentados na equação sejam associados um ao outro diretamente, sem transformações. Diante do gráfico de uma circunferência que possua o comprimento do raio igual a 3, um participante pode intuitivamente associar esta circunferência à expressão x2 + y2 = 3, como efetivamente ocorreu no questionário que aplicamos. Isto parece mostrar, entretanto, a falta de compreensão das propriedades formais que definem uma circunferência como o lugar geométrico dos pontos do plano que são equidistantes de um ponto fixo chamado centro da circunferência. Neste caso, o raio é dado pela hipotenusa de um triângulo retângulo e as medidas dos catetos correspondem, respectivamente, à distância entre as abscissas e as ordenadas de um ponto qualquer da circunferência e as abscissas e as ordenadas do centro. Se os sujeitos que responderam incorretamente esta questão tivessem desenvolvido a aprendizagem dos aspectos formais envolvidos na representação algébrica de uma circunferência, poderiam verificar que é possível utilizar o teorema de Pitágoras para calcular o comprimento do raio em função da soma dos quadrados dos catetos. Assim, o raio deveria estar elevado ao quadrado, conforme a equação (x p − x c ) + ( y p − y c ) = (CP ) . 2 2 2 78 DESENHO 15. TRIÂNGULO RETÂNGULO XPPC No item 1C, observamos que três participantes associaram o gráfico de uma circunferência de centro no ponto C (2,-3) e raio 3 à expressão algébrica ( x + 2 )2 + ( y − 3 ) 2 = 9 . De um ponto de vista que considere aspectos intuitivos, também consideramos compreensível este erro. Afinal, a associação é direta. Como no gráfico o centro possui abscissa 2 e ordenada -3, e como na expressão o valor que está junto com x dentro do parênteses é 2 e o que está junto com y é -3, intuitivamente os sujeitos fizeram a associação entre o gráfico e a expressão. Este erro pode indicar uma falha na aprendizagem, quanto à validação de aspectos intuitivos por aspectos formais que definem as coordenadas do centro da circunferência na expressão algébrica. O comprimento do raio da circunferência relaciona-se com o comprimento dos catetos, cujas medidas são determinadas pela distância entre as abscissas e as ordenadas de um ponto qualquer da circunferência e as abscissas e as ordenadas do centro da circunferência. Caso os participantes que responderam incorretamente interrelacionassem os aspectos intuitivos e formais, poderiam ter inferido que estes módulos não correspondem a uma soma, mas sim a uma diferença. O cateto horizontal corresponde ao módulo da diferença entre a abscissa de um ponto P qualquer da circunferência e a abscissa do centro (x p − x c ) , e o cateto vertical, ao módulo da diferença entre a ordenada de um ponto P qualquer da circunferência e a ordenada do centro ( y p − y c ) . 79 DESENHO 16. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (XC, YC) E RAIO CP Observamos outro erro, presente em 14 % das alternativas apontadas no item 1A e em 7% das alternativas apontadas no item 1B, que consistiu em indicar uma subtração de quadrados como equação correspondente à representação gráfica dada. Assim como no erro que comentamos anteriormente, sobre a indicação do raio, acreditamos que estes erros podem indicar uma falta de entendimento quanto às propriedades formais que definem uma circunferência e que, sendo o comprimento do raio determinado pelas relações do teorema de Pitágoras, a expressão algébrica deva apresentar uma soma de quadrados e não uma subtração. Ao responderem o item 1C, dois participantes indicaram que a expressão algébrica ( x − 2 )2 + ( y + 3 )2 = −9 corresponderia à representação gráfica dada, sem atentarem ao fato da impossibilidade de que existam, dentro do campo real, valores de x e y que tornem a expressão verdadeira. Sendo uma soma de quadrados, independentemente do valor numérico das variáveis x e y, o resultado será sempre maior ou igual zero, nunca negativo. Ao analisar pontualmente o desempenho dos sujeitos nesta questão, conseguimos observar algumas regularidades quanto ao tipo de erro cometido e algumas incoerências quanto ao padrão de resposta, como descrevemos a seguir. 80 Os participantes, que aqui identificaremos como sujeitos 6, 7 e 12, cometeram o mesmo erro no item 1A e no item 1B, ao associar a expressão algébrica x 2 + y 2 = r (sem que o raio estivesse elevado ao quadrado) à circunferência dada. O padrão de suas respostas parece demonstrar que para esses três sujeitos a expressão algébrica indica o raio da circunferência e não o raio ao quadrado. Apesar disto, ao responderem o item 1C (em que o centro da circunferência encontrava-se fora da origem do sistema cartesiano), os três o fizeram de forma acertada. O sujeito 2, embora tenha cometido o mesmo erro dos sujeitos 6, 7 e 12 no item 1A, respondeu corretamente o item 1B e errou o item 1C, ao indicar a expressão (x − 2 ) + ( y + 3) = −9 , em que a soma dos quadrados resulta em um 2 2 valor negativo. O sujeito 13 cometeu um erro duplo, tanto no item 1A como no item 1B. Primeiramente associou uma subtração de quadrados à equação da circunferência dada, quando na verdade deveria associar uma soma. Além disso, as alternativas apontadas por este sujeito apresentam o valor que corresponderia ao raio sem que estivesse elevado ao quadrado. Este mesmo erro foi observado na resposta deste sujeito para o item 1C, no qual, apesar de ter associado uma soma de quadrados à circunferência dada, não considerou que na equação o raio deveria estar elevado ao quadrado. Os sujeitos 9, 10 e 14 mostraram conhecer a representação algébrica da circunferência quando esta se apresenta com centro na origem do sistema cartesiano, pois responderam corretamente às questões 1A e 1B. No entanto, ao responderem o item 1C, em que o centro da circunferência encontra-se no ponto C (2, -3), associaram de forma direta as coordenadas do centro ao valor numérico apresentado na expressão algébrica e apontaram como correta a expressão ( x + 2 ) + ( y − 3) = 9 . 2 2 Na TABELA 6, apresentamos as respostas dos participantes às questões 1A, 1B e 1C. As células em tom cinza indicam as respostas corretas. 81 TABELA 6. RESPOSTAS DA QUESTÃO 1 Sujeito 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 1A c a c c d a a c c c c a d c Questões 1B d d d d d a a d d d d a c d 1C b e b b e b b b d d b b a d 5.1.2 Questão 2 Nesta questão, apresentamos a expressão algébrica de duas circunferências e quatro gráficos para cada expressão. Em seguida, solicitamos aos participantes que associassem o gráfico a uma das expressões dadas. Estimamos que levariam, no máximo, quatro minutos para responder os dois itens desta questão. No item 2A apresentamos a expressão algébrica x 2 + y 2 = 4 . Ao analisar as respostas, verificamos que doze participantes responderam corretamente e apontaram o gráfico que apresenta uma circunferência de comprimento de raio igual a duas unidades, com centro na origem do sistema cartesiano. Quanto aos erros, um dos sujeitos associou à expressão dada o gráfico cujo raio da circunferência era igual a 4 unidades com centro em C (0, 0) e o outro sujeito apontou o gráfico cujo raio da circunferência é igual a 4 unidades com centro no ponto C (4,4). 82 No item 2B apresentamos a expressão algébrica ( x + 3) + ( y − 2 ) = 9 . 2 2 Neste item apenas seis participantes apontaram corretamente o gráfico que apresentava uma circunferência com centro no ponto C (-3, 2) e cujo comprimento do raio era igual a 3. Os outros oito participantes associaram a expressão dada ao gráfico de uma elipse (ver DESENHO 17). DESENHO 17. ELIPSE COM CENTRO EM C (0, 0) E FOCOS SOBRE O EIXO X Ao analisar as respostas dadas aos itens 2A e 2B, esperávamos verificar se os sujeitos eram capazes de saber, a partir da expressão na forma ( x − a )2 + ( y − b )2 = c 2 , as coordenadas do centro e o comprimento do raio. Ao analisarmos o modo como responderam estes dois itens, conseguimos observar que o sujeito 6, que nos itens 1A e 1B havia associado o valor numérico da expressão ao raio da circunferência sem observar que o raio deveria estar elevado ao quadrado, manteve seu padrão de resposta e cometeu os mesmo erro no item 2A. O sujeito 2, a exemplo do que havia demonstrado nas respostas aos itens 1A (quando errou quanto ao comprimento do raio), 1B (quando respondeu corretamente) e 1C (quando considerou como negativo a soma de quadrados), parece não seguir um padrão lógico quanto aos erros que comete, como se estivesse escolhendo aleatoriamente as alternativas, dificultando nossa investigação sobre as dificuldades de entendimento que apresenta. No item 2A associou o gráfico do DESENHO 18 à expressão x 2 + y 2 = 4 . 83 DESENHO 18. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (-3, 2) E RAIO 3 Ao observar o desempenho dos participantes no item 2B surpreendemonos ao verificar que a maioria dos sujeitos associou a equação de uma circunferência de raio 3 e com centro em C (-3, 2) ao gráfico de uma elipse. Dentre estes participantes, destacamos os sujeitos 1, 6 e 7, que haviam respondido corretamente o item 1C, ao associar o gráfico de uma circunferência à sua expressão algébrica e que, no item 2A, não conseguiram associar corretamente a expressão algébrica de uma circunferência ao seu gráfico. Além destes, chamaram-nos a atenção as respostas dos sujeitos 9, 10 e 14. No item 1C, estes sujeitos erraram ao associar as coordenadas do centro da circunferência ao valor numérico da expressão algébrica. Seguindo este padrão, esperávamos que, ao fazer a conversão do registro algébrico para o registro gráfico, os sujeitos associassem o gráfico da circunferência de raio 3 e centro C (3, -2) à expressão algébrica ( x + 3) + ( y − 2 ) = 9 , porém, ao invés disto, eles 2 2 apontaram o gráfico de uma elipse. Entre os que acertaram o item 2B, destacamos o sujeito 5, que no item 1C havia errado ao associar as coordenadas do centro da circunferência ao valor numérico da expressão algébrica. De acordo com as respostas que apresentou anteriormente, acreditávamos que neste item poderia associar o gráfico da circunferência de raio 3 e centro ( x + 3 )2 + ( y − 2 ) 2 = 9 , o que não ocorreu, pois este sujeito respondeu de forma C (3, -2) à expressão algébrica correta este item. Na TABELA 7, apresentamos as respostas dos sujeitos as questões 2A e 2B. As células em tom cinza indicam as respostas corretas. 84 TABELA 7. RESPOSTAS DA QUESTÃO 2 Sujeito 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Questões 2A 2B a c d c a d a d a d c c a c a d a c a c a d a d a c a c 5.1.3 Questão 3 Nesta questão, apresentamos quatro gráficos de circunferências e solicitamos aos participantes que os associassem a uma das três descrições em língua natural, disponíveis para cada um. Estimamos que levariam, no máximo oito minutos para responder os quatro itens desta questão. Devido a uma falha que cometemos no momento da entrega dos questionários, dois dos quatorze sujeitos que estavam participando não responderam esta questão. Infelizmente, percebemos este erro depois que já havíamos deixado a universidade onde se deu o encontro e não tivemos como corrigi-lo. De qualquer forma, doze participantes responderam o questionário, possibilitando assim nossa análise. No item 3A apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em C (-3, 2) e raio 2. Verificamos que nove participantes responderam corretamente este item, dois participantes informaram que o comprimento do raio era 4 (ao invés de 2) e um participante inverteu as coordenadas do centro, trocando o valor da abscissa pelo da ordenada e vice-versa. 85 No item 3B apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro na origem do sistema cartesiano e raio 3. Verificamos que onze participantes responderam corretamente este item e que um participante informou que o comprimento do raio era 6 (ao invés de 3). No item 3C apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em C (3,0) e raio 3. Verificamos que dez participantes responderam corretamente este item, um sujeito informou que o comprimento do raio era 6 (ao invés de 3) e um sujeito deixou e item sem resposta. No item 3D apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em C (2,2) e raio de comprimento 2. Verificamos que todos os doze sujeitos responderam corretamente este item. Por meio da análise das respostas dadas às questões 3A, 3B, 3C e 3D esperávamos verificar se os sujeitos conseguem extrair da representação gráfica duas informações básicas sobre as circunferências: as coordenadas do centro e o comprimento do raio. Ao analisarmos a resposta do sujeito 1 ao item 3A pudemos observar que inverteu as coordenadas do centro, trocando o valor da abscissa pelo da ordenada e nos itens 3B e 3C confundiu o valor do raio com o valor do diâmetro da circunferência. Este erro também foi cometido pelos sujeitos 7 e 9 quando responderam o item 3A. Pareceu-nos, pela análise das respostas e pelo índice de acertos demonstrado nesta questão, que os sujeitos, em sua maioria, conseguiram obter os dados das coordenadas do centro e comprimento do raio a partir do gráfico da circunferência, associando corretamente o registro gráfico com o registro em língua natural. Na TABELA 8, apresentamos as respostas dos sujeitos aos itens 3A, 3B, 3C e 3D. As células em tom cinza indicam as respostas corretas. 86 TABELA 8. RESPOSTAS DA QUESTÃO 3 Sujeito 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 3A b a a Questões 3B 3C a c c b c b 3D a a a a a c a c a a c c c c c c c b b b b b b a a a a a a a a a c c b b a a 5.1.4 Questão 4 Nesta questão, apresentamos quatro expressões algébricas e solicitamos aos participantes que as associassem a uma das três descrições em língua natural disponíveis para cada expressão. Estimamos que levariam, no máximo, oito minutos para responder os quatro itens desta questão. No item 4A, apresentamos a expressão algébrica ( x − 5 )2 − ( y + 3 )2 = 16 . Verificamos que apenas quatro participantes responderam corretamente este item, informando que a expressão algébrica não correspondia a uma circunferência. Os outros dez participantes informaram que se tratava de uma circunferência com centro em C (5, -3) e raio 4. No item 4B apresentamos a expressão algébrica x 2 + ( y − 4 ) = 5 . 2 Verificamos que dez participantes responderam corretamente, informando que a expressão algébrica correspondia a uma circunferência com centro em C (0,4) e raio de comprimento 5 . Dois participantes informaram que o raio da circunferência era igual a 5, numa associação direta entre o comprimento do raio e o valor numérico da expressão algébrica. Outros dois participantes informaram que a expressão algébrica não correspondia a uma circunferência. 87 No item 4C apresentamos a expressão algébrica 2 x 2 + ( y + 3) = 6 . 2 Verificamos que apenas 5 participantes responderam corretamente, informando que a expressão algébrica não correspondia a uma circunferência (a expressão dada corresponde a uma elipse). Nove participantes associaram a equação a uma circunferência com centro C (0, -3) e raio 6. No item 4D apresentamos a expressão algébrica x 2 + y 2 = 7 . Verificamos que 10 participantes responderam corretamente, informando que a expressão algébrica correspondia a uma circunferência com centro em C (0, 0) e raio 7. Três participantes associaram o raio da circunferência ao valor apresentado na expressão dada e informaram que o raio da circunferência era 7. Um participante informou que a expressão algébrica não correspondia a uma circunferência. Ao analisar as respostas dadas às questões 4A, 4B, 4C e 4D, gostaríamos de verificar se os participantes conseguiriam fazer a conversão do registro algébrico para o registro em língua natural e se conseguiriam, a partir das expressões algébricas que representam circunferências, deduzir as informações sobre o centro da circunferência e o comprimento do raio. Dos dez participantes que responderam de forma incorreta o item 4A, destacamos os sujeitos 3 e 4, que tiveram um bom desempenho nas questões anteriores. Acreditamos que, neste caso específico, não perceberam que se tratava de uma subtração e não de uma adição e que podem ter respondido de forma errada por distração. No caso dos sujeitos 9, 10 e 14, entretanto, não podemos dizer o mesmo. Estes sujeitos, ao responderem o item 1C e 2B já haviam dado mostras de não conhecer a equação da circunferência com centro fora da origem. Da mesma forma, os sujeitos 2 e 6, embora tenham tido um bom desempenho nas associações entre o registro gráfico e o registro em língua natural (questão 3) demonstraram limitações quanto à questão algébrica, seja associando uma soma de quadrados a um número negativo (resposta do sujeito 2 à questão 1C, p. 80), seja associando uma elipse à equação da circunferência (resposta do sujeito 6 à questão 2B, p. 82). Entre os participantes que erraram o item 4B, os sujeitos 6 e 7 informaram que a expressão algébrica x 2 + ( y − 4 ) = 5 não 2 correspondia a uma circunferência. Estes mesmos dois sujeitos, ao responderem o item 2B haviam 88 associado a expressão algébrica ( x + 3) + ( y − 2 ) = 9 a uma elipse e nos itens 1A e 1B, relacionado o valor numérico apresentado na expressão algébrica ao valor 2 2 do raio. Acreditamos que, para estes sujeitos, a equação da circunferência seja x 2 + y 2 = r , sem considerar os casos em que o centro encontra-se em um ponto fora da origem do sistema e sem considerar que na expressão algébrica o raio deve apresentar-se elevado ao quadrado. Ainda no item 4B, observamos que o sujeito 14 informou que o raio era 5 5 , como deveria ser. Este participante ainda não havia cometido este e não engano e havia feito com sucesso a associação entre o registro gráfico e o registro em língua natural, embora houvesse invertido o valor da abscissa com o valor da ordenada ao associar o registro gráfico ao algébrico, no item 1C. Entre os participantes que informaram, no item 4C, que a expressão 2 x 2 + ( y + 3) = 6 correspondia a uma circunferência, seis deles (sujeitos 2, 3, 5, 9 2 10 e 13) haviam cometido erro similar no item 4A, ao afirmar que a expressão ( x − 5 )2 − ( y + 3 )2 = 16 também correspondia a uma circunferência. Para estes sujeitos, estão não claras algumas das características que definem algebricamente uma circunferência, ou seja, que a expressão resultará em uma soma de quadrados e que os coeficientes de x 2 e y 2 devem ser iguais. No item 4D, os sujeitos 5, 9 e 14 associaram o raio da circunferência ao valor apresentado na expressão dada e informaram que era igual a 7. Destes, apenas o sujeito 9 havia cometido erro similar, no item 3A. Os sujeitos 5 e 14, nas associações anteriores, haviam respondido corretamente este tipo de questão. Na TABELA 9, apresentamos as respostas dos sujeitos às questões 4A, 4B, 4C e 4D. As células em tom cinza indicam as respostas corretas. 89 TABELA 9. RESPOSTAS DA QUESTÃO 4 Sujeito 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 4A c a a a a a a c a a c c a a Questões 4B 4C a b b b b b b c b b c c c c b c b b b b b b b c b b a c 4D c a a a b a a a b a a a a b Ao analisar as respostas das questões apresentadas no questionário de revisão, concluímos que haveria a necessidade de uma atividade de institucionalização, com o objetivo de trazer à tona os saberes envolvidos na representação de circunferências, a fim de que possamos discutir as questões com os sujeitos e prosseguir com as atividades previstas em nosso projeto. Como já informamos nos parágrafos anteriores, quatorze sujeitos participaram da aula em que aplicamos o questionário. Considerando que havia ao todo 13 itens (1A, 1B, 1C, 2A, 2B, 3A, 3B, 3C, 3C, 4A, 4B, 4C E 4D) e que cada participante deveria apontar somente uma alternativa em cada item, deveríamos receber ao final, um total de 182 alternativas. Devido a uma falha na distribuição dos questionários e ao fato de que um dos sujeitos deixou uma das questões em branco, conseguimos obter ao todo 176 alternativas. Se analisarmos apenas o número de alternativas válidas, temos que 66% delas apontavam para a resposta correta. Quanto às alternativas não corretas, destacamos a seguir quais foram os erros mais frequentes, que são importantes para a continuação de nosso trabalho: 90 • 22 alternativas associam uma circunferência a uma expressão algébrica em que o raio não se apresentava elevado ao quadrado, como se a representação algébrica de uma circunferência fosse (x − x ) + (y − y ) 2 p • 2 p =r 13 alternativas associam um número negativo a uma soma de quadrados • 8 alternativas associam expressões algébricas com coeficientes diferentes de x 2 e y 2 a uma circunferência • 5 alternativas indicam incorretamente as coordenadas do centro da circunferência, seja quanto ao sinal, seja ao confundir o valor da abscissa com o valor da ordenada • 4 alternativas associam o comprimento do diâmetro ao comprimento do raio, como se fossem a mesma coisa • 3 alternativas associam uma expressão que representa uma diferença de quadrados (e não uma soma de quadrados) a uma circunferência • 5 alternativas apontam outros erros específicos, diferentes dos já relatados, que podem ser observados comparando a tabela de respostas e o questionário. Apresentamos na TABELA 10, as respostas dos sujeitos às questões apresentadas. As células em tom cinza indicam as respostas corretas. 91 TABELA 10. RESPOSTAS DAS QUESTÕES 1 A 4 Sujeito 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 1A c a c c d a a c c c c a d c 1B d d d d d a a d d d d a c d 1C b e b b e b b b d d b b a d 2A a d a a a c a a a a a a a a 2B c c d d d c c d c c d d c c Questões 3A 3B 3C b a c a c b a c b 3D a a a a a c a c a a c c c c c c c b b b b b b a a a a a a a a a c c b b a a 4A c a a a a a a c a a c c a a 4B a b b b b c c b b b b b b a 4C b b b c b c c c b b b c b c 4D c a a a b a a a b a a a a b Esta análise ajudou-nos a compreender algumas das dificuldades dos sujeitos quanto ao reconhecimento e a representação gráfica de uma circunferência a partir de sua expressão algébrica e quanto à representação algébrica de uma circunferência a partir da representação gráfica. A compreensão destas dificuldades orientou-nos quanto às questões que propusemos desenvolver e discutir com os alunos na institucionalização, como as seguintes: • A dedução da representação algébrica da circunferência, a partir do cálculo da distância entre um dos pontos da circunferência e o centro, por meio do Teorema de Pitágoras • O cálculo do raio em ambos os casos, quando a circunferência tem centro na origem do sistema cartesiano e quando o centro está fora da origem • A identificação das coordenadas do centro e do raio da circunferência a partir da expressão algébrica 92 • A verificação da impossibilidade de que a adição de números quadrados resulte em um número menor do que zero 5.2 INSTITUCIONALIZAÇÃO Ao final da aula em que os participantes responderam o questionário, conversamos sobre quais seriam os melhores dias para desenvolver as demais atividades previstas. Nossa proposta inicial era que os encontros fossem realizados uma vez por semana, durante o período de um mês, num horário conhecido como “pré-aula”, que como o próprio nome deixa claro, é um horário disponível antes do início das aulas. Diante desta sugestão, alguns dos sujeitos apresentaram objeções, pois gostariam de participar das atividades, mas não tinham como chegar a tempo para a “pré-aula”. Como alternativa, propuseram que fizéssemos as atividades aos sábados, porque poderíamos começar as atividades às 8h00 e desenvolvêlas até próximo das 12h00, portanto teríamos um tempo maior, podendo assim completar as tarefas em um menor número de encontros. Consensualmente, decidimos que faríamos as atividades aos sábados e tentaríamos desenvolvê-las em um único encontro. Caso se mostrasse cansativo, ou o tempo necessário às atividades fosse insuficiente, reuniríamos novamente em outro sábado. Nesta ocasião, já deixamos agendados os dias de atividade, tanto junto aos alunos quanto junto à universidade, que nos cedeu uma sala equipada com computador e projetor multimídia. No primeiro encontro, pudemos perceber que o tempo seria suficiente tanto para que fizéssemos a seção de institucionalização sobre as circunferências, como para que desenvolvêssemos as seis atividades previstas, sem atropelos e com a dedicação necessária em cada uma das tarefas. Reunimo-nos das 8h00 às 12h30min, com um pequeno intervalo para café, sendo que utilizamos a primeira hora para que pudéssemos fazer a institucionalização. Dos quatorze alunos que fizeram o questionário, oito compareceram ao encontro do sábado. Além destes, um aluno da mesma turma, que estava ausente e não havia respondido ao questionário, apresentou-se e demonstrou 93 interesse em participar. Como ainda não havíamos feito a institucionalização, acreditamos que sua participação seria positiva e por isso concordamos que participasse. O aluno leu e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e se integrou aos demais participantes. Utilizando o programa de geometria dinâmica Geogebra, apresentamos aos alunos uma circunferência com centro no ponto C (0,0) e raio igual a 3. Em seguida desenhamos um ponto P (xp,yp) na circunferência e traçamos um triângulo retângulo formado pelos pontos C, P e pela projeção de P no eixo das abscissas (xp), (ver DESENHO 19) DESENHO 19. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 3 Associamos o segmento CP, raio da circunferência, à hipotenusa do triângulo e as projeções do ponto P sobre os eixos das abscissas e sobre o eixo das ordenadas, respectivamente xp e yp, aos catetos do triângulo, de forma que se estabelecesse a relação descrita pelo teorema de Pitágoras: x p + y p = CP 2 2 2 ⇒ xp + yp = r2 2 2 Utilizando-nos das possibilidades que o programa de geometria dinâmica oferece, movimentamos o ponto P em torno da circunferência e alteramos o comprimento do raio, a fim de que os sujeitos pudessem perceber que independentemente do local em que o ponto P estivesse ou do tamanho da circunferência, a relação se mantém, ou seja, a expressão encontrada é a 94 expressão que define os pontos da circunferência, conhecida como equação da circunferência, nos livros didáticos. Discutimos a seguir alguns pontos com os participantes, dos quais destacamos os seguintes: • O raio corresponde à hipotenusa do triângulo retângulo. Quando a equação da circunferência está na forma correspondente ao teorema de Pitágoras, o raio apresenta-se elevado ao quadrado • A equação de uma circunferência com centro em C (0,0) sempre pode ser reduzida a uma expressão em que o coeficiente de x 2 seja igual ao coeficiente de y 2 e kx 2 + ky 2 ≥ 0 . As expressões que não possuem esta característica não correspondem a uma circunferência, como por exemplo 2 x 2 − 2 y 2 = 3 ou 2 x 2 + 3 y 2 = 4 • Uma soma de quadrados sempre resultará em um número maior ou igual a zero, independentemente do valor assumido pelas variáveis x e y. Nunca a soma de quadrados resultará em um valor negativo Após esta discussão, apresentamos outra circunferência, com centro C (2, -3) e raio igual a 3 (ver DESENHO 20). DESENHO 20. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (2,-3) E RAIO 3 95 Mostramos aos sujeitos que quando o centro da circunferência não está localizado na origem do sistema, embora o raio continue correspondendo à hipotenusa de um triângulo retângulo, o comprimento dos catetos é dado pelo módulo da diferença, entre as coordenadas do centro e as coordenada de um ponto P pertencente à circunferência. Em notação algébrica, o cateto horizontal da figura é dado por xc − x p = x p − x c , e o cateto vertical é dado por y c − y p = y p − y c . Movimentamos então o ponto P em torno da circunferência, alteramos o raio e transladamos a circunferência por todos os quatro quadrantes, para que os sujeitos pudessem verificar que independentemente destas variáveis, a relação se mantém. Discutimos a seguir alguns pontos com os participantes, dos quais destacamos o seguinte: • Quando reduzidas à forma (x − a ) + ( y − b ) = r 2 , as coordenadas do 2 2 centro são dadas por C (a, b), e o comprimento do raio é dado pelo valor de r. Se o centro encontrar-se sobre a origem do sistema, a equação continua válida, porém como a = 0 e b = 0, teremos ( x − 0 )2 + ( y − 0 )2 = r 2 ⇒ ( x )2 + ( y )2 = r2 Terminadas estas discussões, demos início às atividades em que utilizamos o modelo de representação tridimensional. 5.3 ANÁLISE DAS ATIVIDADES COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL Após terminarmos a institucionalização sobre as circunferências propusemos aos sujeitos que se dividissem em duplas. Como havia nove participantes, foram formadas três duplas e um grupo com três sujeitos. No decorrer de nossa análise, chamaremos estes grupos de G1, G2, G3 e G4, respectivamente. Informamos aos participantes que, nesta etapa de nossa pesquisa, iríamos fazer a filmagem das atividades. Conforme o ANEXO A – TERMO DE 96 6 CON NSENTIME ENTO LIV VRE E ESCLAREC E CIDO, os sujeitos já haviam m sido inforrmados dissto e já haviam h co oncordado.. Recomendamos q que procurrassem dese envolver as tarefas naturalmen n nte, sem atenção a esspecial ao cinegrafistta, que por sua s vez, não n iria foccar sua ate enção em um u grupo específico, mas proc curaria, de acordo a com m nossa orientação, filmar um pouco de e cada grupo, para que, q ao final, tivéssemos uma am mostragem m das discu ussões oco orridas. 5.3.1 Atividade 1 m os itens 1.1, 1 1.2, 1..3, 1.4, 1.5 5 e 1.6. Esta ativvidade tem Inicialmente, aprresentamoss aos grrupos trêss diferenttes modellos de repre esentação o tridimenssional, iden ntificados como c “MO ODELO 1”,, “MODELO 2” e “MO ODELO 3”,, montado os por me eio da so obreposiçã ão de tran nsparência as (ver desccrição da montagem m no CAPÍT TULO 2: UM MODEL LO DE RE EPRESENT TAÇÃO TRID DIMENSIO ONAL). No MO ODELO 1, as transp parências apresenta am circunfferências com o mesmo comp primento de d raio, cujos cen ntros loca alizam-se numa retta não perp pendicular ao plano da d base. Esta E figura representta um cilind dro oblíquo o cujos corte es nos plan nos parale elos ao plan no xy são circunferên c ncias. FO OTO 5. MO ODELO 1 No MOD DELO 2 as a transparrências ap presentam circunferê ências de mesmo m comprimento de raio, porém se eus centro os localiza am-se so obre uma curva, diferrentemente e do MODE ELO 1. 97 7 FO OTO 6. MO ODELO 2 No MO ODELO 3 as transsparências s apresen ntam circu unferências s com diferrentes com mprimento os de raio o, com os s centros sobre o eixo z, que é perp pendicular ao plano da d base. FO OTO 7. MO ODELO 3 ns 1.1, 1.2 e 1.3, soliicitamos aos particip pantes que observass sem as Nos iten repre esentaçõe es e que as a descrevessem, co om palavra as, fornece endo os de etalhes que considera assem neccessários para que e alguém que não tivesse viisto os delos conse eguisse reproduzi-loss. mod Item 1.1 1 - Descriçã ão do MOD DELO 1 Transcrrevemos a seguir as descrições s que cada a um dos g grupos fez: 98 G1 É um cubo formado por várias folhas de transparência e cada folha de transparência representa um plano x0y, em cada plano temos formada uma circunferência de raio 5 e no primeiro plano esta circunferência se encontra no 1º quadrante e a cada plano a circunferência vai mudando de posição até o sétimo quadrante, formando uma diagonal como se fosse uma mangueira na diagonal e passando o centro da circunferência pela origem G2 i) Imagine uma linha inclinada cuja função é y = x ii) Coloque nesta linha várias circunferências representadas pela função x 2 + y 2 = 25 iii) Chegaremos à seguinte representação (fizeram o esboço abaixo) DESENHO 21. RESPOSTA DO G2 – ITEM 1.1 G3 Plano tridimensional com 12 circunferências, de raio 5 cada uma. Cada circunferência tem centro diferente na medida em que percorre o eixo z. O importante a observar é que a diferença dos centros de cada circunferência define tal sobreposição G4 Em 12 planos sobrepostos bidimensionais, no conjunto total dos mesmos está representada uma circunferência de raio fixo 5, onde o centro varia, de acordo com z. No 1º plano x e y positivo chegando ao último onde x e y negativos, passando pela origem. Posição também Quando representamos um objeto espacial utilizando o sistema de coordenadas Oxyz, cada dois eixos determinam planos perpendiculares entre si, ou seja, os eixos Ox e Oy determinam o plano xy, os eixos Ox e Oz determinam o plano xz e os eixos Oy e Oz determinam o plano yz. Os planos xy, xz e yz separam o espaço em oito regiões distintas, chamadas octantes. Cada ponto pode ser localizado no espaço por meio de suas coordenadas que correspondem a um terno de números reais (x, y, z). De acordo com os valores destas coordenadas, podemos dizer qual é a localização do ponto, da seguinte forma: 99 • Se P (0, 0, 0), então P localiza-se sobre a intersecção dos três planos ortogonais, conhecida como a origem do sistema • Se P (x, 0, 0) e x ∈ R , então P localiza-se sobre a reta de intersecção entre os planos xy e xz, correspondente ao eixo Ox • Se P (0, y, 0) e y ∈ R ,então P localiza-se sobre a reta de intersecção entre os planos xy e xy, correspondente ao eixo Oy • Se P (0, 0, z) e z ∈ R ,então P localiza-se sobre a reta de intersecção entre os planos xz e yz, correspondente ao eixo Oz • Se P é tal que as coordenadas de x, y e z são maiores que 0, então P localiza-se no 1° octante • Se P é tal que as coordenadas de y e z são maiores que 0 e a coordenada correspondente a x é menor do que zero, então P localizase no 2° octante e assim por diante, conforme a TABELA 11: TABELA 11. LOCALIZAÇÃO DE PONTOS NO R3 x y z Posição no espaço 0 0 0 origem x 0 0 eixo Ox 0 y 0 eixo Oy 0 0 y eixo Oz >0 >0 >0 1º octante <0 >0 >0 2º octante <0 <0 >0 3º octante >0 <0 >0 4º octante >0 >0 <0 5º octante <0 >0 <0 6º octante <0 <0 <0 7º octante >0 <0 <0 8º octante Ao analisar a resposta dada pelos sujeitos do G1 (p. 98), observamos que seu primeiro olhar fixou-se na forma do modelo e não nas curvas que estavam impressas nos gráficos. Ao descrevê-lo, escreveram que era um “cubo”. 100 Acreditamos que como o modelo é constituído pela sobreposição de doze transparências, seu formato de paralelepípedo pode ter feito com que os sujeitos se lembrassem de “um cubo” e descrevessem-no como tal. Ao referir-se à disposição das circunferências, escreveram que “no primeiro plano esta circunferência se encontra 1º quadrante e a cada plano vai mudando de posição até o 7º quadrante”. Quando recorremos à filmagem desta atividade, verificamos que os sujeitos alinhavam o olhar na direção do eixo Oz, de modo que pudessem ver o modelo no sentido de Oz+ para Oz- e observar a transparência cuja cota era z = 5. Inicialmente, quando escreveram que “no primeiro plano esta circunferência se encontra 1º quadrante” imaginamos que estivessem se referindo ao posicionamento da circunferência em um sistema bidimensional. Como no gráfico que estavam olhando o centro da circunferência encontra-se no ponto C (5, 5), a descrição parecia correta, porém, em seguida escreveram que “a cada plano vai mudando de posição até o 7º quadrante”, verificamos que se equivocaram quanto ao termo quadrante. Um olhar mais atento nos mostra que estavam se referindo ao 7º octante, e não ao 7º quadrante. Considerando que tenham invertido os termos, a descrição tornar-se-ia mais coerente se tivessem escrito que “no primeiro plano esta circunferência se encontra no 1º octante (as coordenadas do centro possuem x > 0, y > 0 e z > 0) e a cada plano vai mudando de posição até o 7º octante (as coordenadas do centro da circunferência são C (-5, -5, -5), ou seja, x < 0, y < 0 e z < 0)”. Os sujeitos do G1 completaram a descrição escrevendo que as circunferências sobrepostas “formam uma diagonal como se fosse uma mangueira na diagonal e passando o centro da circunferência pela origem”. Referiram-se assim à inclinação do cilindro oblíquo representado pela figura, cujo corte em z = 0 corresponde a uma circunferência com centro em C (0, 0, 0). Ao considerarmos que a diagonal de um poliedro é o segmento de reta definido por dois vértices desse poliedro não pertencentes à mesma face, a referência que os sujeitos do G1 fazem à figura “como se fosse uma mangueira na diagonal” parece-nos inadequada. Mesmo que estivessem se referindo ao formato de paralelepípedo que o modelo apresenta, nem a reta oblíqua ao plano de base que contém os centros das circunferências, nem as circunferências, encontram-se sobre a diagonal deste paralelepípedo. 101 A descrição feita pelos sujeitos do G2 sugere que “imaginemos uma função y = x ” e que “coloquemos nesta linha várias circunferências” (p. 98). De acordo com o esboço que desenharam (indicam apenas os eixos x e y) e de acordo com a função que apresentaram (uma “linha” representada pela função y = x , que entendemos ser a reta que contém os centros das circunferências) podemos observar que não estão se referindo ao espaço tridimensional, mas às curvas de nível correspondentes à projeção das diversas circunferências em um plano de base, cuja visão é possibilitada pela característica dos gráficos, que foram impressos em folhas transparentes. Observamos, ao analisar as descrições apresentadas pelo G1 e G2, que aspectos intuitivos do objeto matemático trazidos à tona durante a atividade prevalecem sobre aspectos algorítmicos e formais. Os sujeitos pareceram “ver” a representação da figura, porém não mobilizaram conhecimentos formais ou mostraram iniciativas de organizar as relações entre as informações disponíveis na representação tridimensional em busca de uma representação semiótica do objeto. Notamos a ausência da componente formal quando descreveram um objeto com formato de paralelepípedo como um “cubo”; quando escreveram “quadrante” quando queriam dizer “octante”; quando usaram o termo “diagonal” para referir-se a uma reta não perpendicular ao plano de base, ou ainda quando descreveram uma “função y = x” sem informar em qual domínio se encontra, podendo representar tanto um plano (se considerarmos que estão no R3) quanto uma reta (considerando que estejam referindo-se ao plano bidimensional R2). Os sujeitos do G3 descreveram o modelo referindo-se às “12 circunferências de raio 5” cujos centros variam “na medida em que percorrem o eixo z” (p. 98). Ao analisar esta descrição percebemos que os sujeitos conseguiram relacionar a mudança das coordenadas do centro da circunferência à altura em que esta foi montada, embora não tenham explicitado que o valor de z define as coordenadas do centro. Também observaram que “a diferença do centro define tal sobreposição”, que de acordo com nosso entendimento, quer dizer que a figura tem a forma que tem, graças à mudança dos centros das 102 circunferências. Se nos gráficos bidimensionais as circunferências tivessem o mesmo raio e as mesmas coordenadas x e y de centro, teríamos a representação de outra figura. Acreditamos que esta observação pode ter sido favorecida pela visão simultânea dos centros das doze circunferências que compõem o modelo e que se encontram alinhados sobre uma reta oblíqua ao plano de base. Os sujeitos do G3 cometeram um equívoco, no entanto, ao descrever o modelo como um “plano tridimensional”. Neste caso, acreditamos que não perceberam a incompatibilidade entre as duas dimensões do plano cartesiano e o termo tridimensional, numa demonstração clara de como conhecimentos prévios, neste caso conceitos desenvolvidos durante a aprendizagem de geometria plana, podem sobrepor-se a componentes formais e algorítmicas presentes na aprendizagem da geometria espacial. Na descrição apresentada pelo G4 os sujeitos escreveram “em 12 planos sobrepostos bidimensionais” referindo-se a cada representação plana que compõe o modelo e explicitaram a relação existente entre as circunferências e o valor de z, ao escrever que “o centro varia de acordo com z” (p. 98). Pela descrição que fazem do 1º plano, pudemos observar que olhavam o modelo pela parte de cima e alinhavam a visão com o eixo Oz na direção de Oz+ para Oz-, de modo a observar a transparência correspondente ao z = 5. Como tenham encontrado as coordenadas do centro da circunferência C (5, 5, 5), escreveram “x e y positivo”, referindo-se às coordenadas x e y do centro da circunferência. Ao escreverem “chegando ao último onde x e y negativos”, deduzimos que mencionavam a última transparência onde as duas primeiras coordenadas do centro da circunferência são negativas. Ao afirmarem que “passa pela origem”, podem ter se referido à reta que contém os centros das 12 circunferências. Se considerarmos que estavam utilizando as três dimensões para descrever o objeto, então esta é a reta que passa pelo ponto O (0, 0, 0) e é r paralela ao vetor V = (1,1,1) , ou seja, x = y = z, conforme a representação em perspectiva do DESENHO 22. 103 DESENHO 22. REPRESENTAÇÃO DE UMA RETA NO R3 Por outro lado, se considerarmos que os sujeitos do G4 estavam baseando a descrição da figura pela projeção horizontal das transparências em um plano de base, compatível com a visão de um observador que alinha o olho na direção Oz e direciona o olhar no sentido de Oz+ para Oz-, então a reta que contém os centros das circunferências passa pela origem do sistema cartesiano bidimensional, conforme a representação do DESENHO 23. DESENHO 23. REPRESENTAÇÃO DE UMA RETA NO R2 Item 1.2 - Descrição do MODELO 2 Os grupos descreveram da seguinte forma: G1 Segue as características básicas do MODELO 1, mas neste caso a circunferência tem início no 1º quadrante e segue até o sétimo girando em torno da origem (0,0) formando uma mola no formato de espiral 104 G2 i) Imagine uma mola ii) coloque nesta mola uma circunferência representada pela função x 2 + y 2 = 25 iii) Chegaremos a uma representação similar a (fizeram o esboço abaixo): DESENHO 24. RESPOSTA DO G2 – ITEM 1.2 G3 O MODELO 2 segue os mesmos parâmetros do MODELO 1, o raio não muda e o que muda é o centro, comparando uma circunferência com outra. O que muda do MODELO 1 para o MODELO 2 é o desenho tridimensional de cada modelo G4 Mesma prerrogativa do MODELO 1, começando no 1° quadrante, não passando pela origem, até o quarto quadrante, onde o centro é diferente do MODELO 1 A curva que contém os centros das circunferências do MODELO 2, quando projetada no plano de base, pode ser descrita de forma bidimensional como uma circunferência com centro em C (0, 0) e raio de comprimento 6 ou pode ser descrita em três dimensões, como uma curva espiral cilíndrica, que na cota correspondente ao z = -5 está no 7º octante e em z = 5 no 1º octante. Ao escreverem que as circunferências “formam uma mola no formato espiral” (p. 103) os sujeitos do G1 parecem ter analisado a figura considerando as três dimensões. Esta impressão é reforçada pelas imagens que obtivemos da 105 filmagem do grupo enquanto desenvolviam esta atividade, porém, ao analisar a resposta, observamos novamente que confundiram os termos “quadrante” e “octante”. Acreditamos que quiseram referir-se ao “octante”, visto que apresentam uma descrição tridimensional do modelo. Também mostram ter observado que, diferentemente do MODELO 1, os centros das circunferências que compõem o MODELO 2 encontram-se sobre uma curva. A descrição apresentada pelo G2 sugere que “imaginemos uma mola e coloquemos nesta mola uma circunferência” (p. 103). Acreditamos que, a exemplo da descrição feita pelo G1, quando os sujeitos do G2 escreveram mola estavam se referindo à curva espiral que contém os centros das circunferências. Ao analisar as descrições que os grupos G1 e G2 fizeram do MODELO 2, verificamos novamente que os sujeitos descreveram a figura de forma intuitiva, sem a preocupação em escrever sobre aspectos formais envolvidos na representação dos objetos. Os sujeitos do G1 escreveram que a figura “forma uma mola no formato espiral” e os sujeitos do G2 sugeriram “colocar nesta mola uma circunferência”, mas não deixaram claro qual é tipo de mola, tampouco qual é o tipo de espiral a que se referiram. Pareceram “ver” que a figura tem o formato de uma “mola”, mas não se preocuparam em “visualizá-la”. Os sujeitos do G3 apresentaram uma descrição superficial. Apesar de explicitarem algumas características importantes, como quando escreveram que “o raio não muda e o que muda é o centro” (p. 103), não comentaram o fato de que no MODELO 2 os centros das circunferências encontram-se sobre uma curva. Ao comparar os modelos, escreveram que “o que muda do MODELO 1 para o MODELO 2 é o desenho tridimensional”. Embora tenham mostrado que conseguiram “ver” a figura representada, não apresentaram argumentos que nos levassem a concluir que tenham conseguido “visualizar” as figuras. Ao descreverem a figura, os sujeitos do G4 parecem não ter levado em conta que o modelo representava um objeto tridimensional, ou pelo menos não demonstraram isso nas descrições que fizeram, tanto do MODELO 1 quanto do MODELO 2. Na descrição que apresentaram escreveram que as circunferências 106 que compõem o modelo “começam no 1º quadrante até o 4º quadrante” (p. 103), referindo-se às curvas de nível correspondentes à projeção das doze circunferências no plano de base. Esta descrição é compatível com a visão que se obtém quando o olho do observador está sobre o eixo Oz, com o olhar no sentido de Oz+ para Oz-. Quando analisamos a descrição do MODELO 1 feita por este mesmo grupo (p. 98), não conseguimos saber se estavam se referindo ao objeto tridimensional ou à projeção no plano de base, porém, se compararmos com a descrição que fizeram do MODELO 2 (p. 103), podemos observar que realmente se referiam às duas dimensões, ou seja, parecem não ter visto a figura tridimensional, ou se viram não a descreveram, muito menos deduziram algumas de suas propriedades formais. Item 1.3 - Descrição do MODELO 3 As descrições que obtivemos do MODELO 3 são as seguintes: G1 Segue as características básicas do 1º modelo. Neste caso temos uma circunferência com origem no centro e podemos notar que no 1º plano a circunferência tem raio 10 e vai diminuindo à medida que o z vai aumentado, formando um funil G2 i) Imagine uma esfera representada pela função x 2 + y 2 + z 2 = 100 ii) Corte a esfera ao meio e separe uma metade iii) Desta metade faça 12 cortes com a mesma distância iiii) Teremos 12 circunferências com a mesma origem e variação de raio G3 Circunferências sobrepostas, todas com centro (0,0) e raio diferente em cada uma G4 Circunferência com centro em (0, 0) em todos os planos, variando o raio a cada plano Para os sujeitos dos grupos G3 e G4, a figura é formada pela sobreposição de diversas circunferências “com centro em (0, 0)”, cujo raio 107 aumenta (diminui) a cada plano. Ao escreverem “com centro em (0, 0)” (p. 106) observamos que são explícitos quanto a característica bidimensional de sua descrição e que a origem a qual se referem é a origem do sistema cartesiano bidimensional. Ao analisar as descrições destes dois grupos, G3 e G4, não encontramos indícios de que os sujeitos tenham conseguido observar que o modelo representa uma figura tridimensional. Ao assistirmos a filmagem desta atividade observamos uma discussão entre os sujeitos do G4, que identificaremos como sujeito A4 (sujeito A do G4) e como sujeito B4 (sujeito B do G4), sobre a relação existente entre a variação do comprimento do raio em função de z. Sujeito A4: “Não é proporcional.” (referindo-se a relação entre o raio e o valor de z) Sujeito B4: “Como não é proporcional?” Sujeito A4: “Anota aí... 3.02, 3.16, 3.33 e 3.54.” (referindo-se aos raios de circunferências que estavam montadas sequencialmente) Sujeito B: “Então, mas para cada uma também tem o valor de z. Olha aqui... z = 11, z = 12...” Sujeito A4: “Mas eu acho que este z não interfere em nada.” Sujeito B4: “Interfere sim. Veja aqui ... quando z = 11 o raio mede 3.02... Vamos passar a limpo (referindo à folha de respostas que deveriam preencher para entregar). Todas [as circunferências] têm centro em (0,0), certo?” Sujeito A4: “Certo.” Sujeito B4: “Com o centro variando em função do z (balbucia enquanto escreve), ou não? (dirigindo se ao outro sujeito)“ Sujeito A4: “Bom, se você considerar a equação [da circunferência] pode ser que sim, mas o z não tem o mesmo intervalo...” O sujeito B4 termina de escrever que “modifica o raio em função de z” e o sujeito A4, aparentemente contrariado, concorda e desiste do debate. Ao analisar este trecho da filmagem verificamos que o sujeito A4, ao observar que não há proporcionalidade entre a variação do comprimento dos raios (3.02, 3.16, 3.33, 3.54, etc.) e os valores de z (11, 10, 9, 8, etc.), justificou que não poderiam estar relacionados, ou seja, que o “z não interfere em nada”, 108 como se duas grandezas somente pudessem relacionar-se se houvesse proporcionalidade entre elas. Tendo em vista que os sujeitos da pesquisa são alunos do 3º Ano do Curso de Licenciatura em Matemática, acreditamos que em sua trajetória acadêmica tenham desenvolvido aprendizagem sobre funções do 2º grau e que tenham verificado que, nestas funções, embora haja dependência entre os valores da função e o valor da variável, não existe proporcionalidade entre um e outro. A justificativa do sujeito A4 parece indicar, no entanto, que se duas grandezas não são proporcionais então elas não podem estar relacionadas. A nosso ver, esta concepção pode indicar que durante a aprendizagem anterior não tenha havido a interação entre aspectos intuitivos e algorítmicos (fazer tabelas com valores de x e f(x), traçar gráficos da função) e aspectos formais dos conceitos que definem as funções do 2º grau, entre os quais o conceito que estabelece a dependência entre dois termos que não são proporcionais. Outra possibilidade é de que o sujeito, embora tenha desenvolvido aprendizagem sobre as funções do 2º grau e compreenda a possibilidade de relação entre grandezas não proporcionais, não tenha conseguido mobilizar estes conhecimentos em um contexto diferente daquele em que se deu a aprendizagem anterior. Acreditamos que, se houvesse tempo hábil para que entrevistássemos o sujeito A4, poderíamos obter mais informações que pudessem esclarecer-nos sobre suas concepções e complementar a análise desta atividade. O MODELO 3 foi gerado a partir da equação da quádrica x 2 + y 2 = 100 . Os z gráficos bidimensionais que compõem o modelo representam cortes paralelos ao plano xy. Caso representássemos a figura por meio dos gráficos bidimensionais correspondentes a cortes feitos em planos paralelos ao plano xz ou ao plano yz, obteríamos gráficos bidimensionais de hipérboles. Acreditamos que se o sujeito A4 tivesse desenvolvido a visualização da figura iria perceber que o crescimento dos raios, observável nas transparências, descreve uma hipérbole e não uma reta e que embora as variáveis relacionem-se, esta relação não é linear. 109 Os sujeitos do G1 também informaram que as circunferências que compõem o MODELO 3 têm centro na origem e que “vão diminuindo na medida em que z vai aumentando” (p. 106). Ressaltaram o formato tridimensional da figura que, de acordo com a descrição que deram, tem forma de “funil”. Ao analisarmos esta resposta, observamos novamente que aspectos intuitivos parecem prevalecer sobre os demais, ou porque os sujeitos evitaram descrever a figura a partir de suas propriedades formais contentando-se em descrevê-la como um “funil” ou porque não desenvolveram aprendizagem que mobilizasse aspectos formais envolvidos nesta atividade. Ao observarmos as respostas do G3 e G4 (p. 106), novamente verificamos que a forma tridimensional do modelo foi deixada de lado e que os sujeitos focaram a descrição na posição do centro e no tamanho das circunferências. A resposta do G2 sugere que “imaginemos uma esfera” de raio igual a 10 unidades, que a “cortemos ao meio”, separemos uma das metades e que façamos “doze cortes com a mesma distância“ nesta metade, obtendo assim doze circunferências “com a mesma origem e variação de raio” (p. 106). Esta descrição pode indicar que os sujeitos do G2 conseguiram desenvolver a apreensão de que o modelo que apresentamos é formado pela planificação de diversos cortes em um objeto tridimensional (sugerem uma esfera como exemplo) feitos a mesma distância um do outro. Este detalhe parece não ter sido observado pelos demais grupos, ou se foi, pelo menos não foi citado em nenhuma das descrições. Vale ressaltar, no entanto, que as doze circunferências obtidas pela sugestão do G2, embora possuam centro na origem e embora o comprimento do raio aumente (diminua) em função de z, quando as sobrepomos temos uma semi-esfera e não um hiperbolóide. No item 1.4, pedimos aos sujeitos que escrevessem sobre as diferenças que observaram entre um modelo e outro. Seguem as respostas que obtivemos de cada um dos grupos: 110 G1 No MODELO 1 nós temos uma circunferência na 1ª transparência e que sai do 4º quadrante e vai até o primeiro [quadrante] passando pela origem nas demais transparências. No MODELO 2 nós temos uma circunferência do quarto vai para o 1º quadrante sem passar pela origem e passando pelo 3º quadrante. No MODELO 3 a circunferência parte da origem e conforme o valor de z vai diminuindo o raio vai aumentando G2 A função da origem = variação de z G3 Como podemos observar nos modelos 1 e 2, quase parecidos, apenas os centros fazem tal sobreposição, enquanto que o raio é o mesmo. No [MODELO] 3 os centros são os mesmos para todas [as circunferências] e o raio é o responsável por tal formato G4 Em 1 e 2 o raio não modifica e não começa na origem, sendo apenas no MODELO 1 que fica na origem quando z = 0 e em 3 começa no centro e permanece no centro modificando o raio em função de z Para os sujeitos do G1 e do G3, a principal diferença entre o MODELO 1 e o MODELO 2 parece ser o fato de que no primeiro caso a reta que contém os centros das circunferências passa pela origem do sistema e no segundo não passa e que no MODELO 3 o raio varia em função de z. Quanto à posição dos centros das circunferências, consideramos importante observar uma das definições dada pelos sujeitos do G3 que escreveram que nos modelos 1 e 2 “cada circunferência tem centro diferente” e “no [MODELO] 3 os centros são os mesmos para todas [as circunferências]”. Os sujeitos do G4 também observam esta característica e escrevem que “no [MODELO] 3 [o raio] começa no centro e permanece no centro”. Estas afirmações podem demonstrar que para estes sujeitos, quando os centros das circunferências que compõem a figura estão contidos em uma reta perpendicular ao plano de base, então os centros “são os mesmos” e quando estão contidos em uma reta oblíqua à base, ou quando estão contidos em uma curva, então as circunferências “têm centro diferente”. Acreditamos que, neste caso, os sujeitos foram influenciados pela visão bidimensional dos gráficos e não consideraram que estavam em diferentes alturas do espaço. Parecem ter “visto”, mas não “visualizado” a figura como um todo. 111 Ao analisarmos a descrição que deram à luz de uma abordagem que leva em conta aspectos intuitivos, algorítmicos e formais da atividade matemática, acreditamos que o poder coercivo de componentes intuitivas, como a visão dos gráficos e a constatação de que nesses gráficos bidimensionais todas as circunferências possuem o mesmo centro tenha se sobreposto à interpretação formal da figura. O G2 tentou resumir as diferenças por meio da frase “a função da origem = variação de z” (p. 110). Acreditamos que se tivessem escrito mais sobre as diferenças que observaram teríamos condições de fazer inferências mais fundamentadas, porém, pela curta frase, parece que se referiam à relação observável entre os valores de z (“variação de z”) e as características das circunferências que compunham os modelos, que ora variavam a localização do centro, ora variavam o tamanho, dependendo do valor de z. No item 1.5, perguntamos aos sujeitos se conseguiriam imaginar qual seria a projeção dos modelos no plano de base e pedimos que justificassem. Seguem as respostas que obtivemos: G1 MODELO 1 – temos uma reta crescente que passa pela origem e que em todos os seus pontos temos uma circunferência. MODELO 2 – Várias circunferências que vão formando um círculo maior. MODELO 3 – Uma circunferência menor com origem no centro (0, 0) e vai aumentando o diâmetro como se fosse um alvo G2 Anexo desenhos G3 Imagino que todas as circunferências estariam no mesmo plano cartesiano, pois não daria para separar cada circunferência em um plano cartesiano diferente e colocar no plano de base G4 MODELO 1: uma espiral, escala inclinada. MODELO 2: Uma escada circular: MODELO 3: uma mola, cone 112 Com este item (1.5), esperávamos verificar se os sujeitos, subsidiados pela visão simultânea dos gráficos bidimensionais, conseguiriam fazer a relação entre o registro de representação gráfico tridimensional e um dos registros de representação gráfico bidimensional, que neste caso são as curvas de nível. Dentre as respostas, observamos que o G1 foi o que melhor conseguiu expressar a ideia da sobreposição das circunferências no plano de base. Ao descreverem a projeção do MODELO 1 escreveram “temos uma reta crescente que passa pela origem e que em todos os seus pontos temos circunferências” (p. 111). A reta à qual se referem é a reta formada pela união dos pontos centrais das circunferências que formam o modelo. Quando projetada no plano de base, é uma reta crescente. Como na transparência z = -5 o centro encontra-se no ponto C (-5, -5) e na transparência z = 6 encontra-se no ponto C (6, 6), podemos calcular a inclinação da reta (igual a 1) e o coeficiente linear (igual a zero). Ao descreverem a projeção do MODELO 2, escrevem “várias circunferências que vão formando um círculo maior” (p. 111). Considerando que os raios das circunferências encontram-se sobre uma curva e que esta curva, quando projetada no plano de base, corresponde à circunferência cuja equação é x 2 + y 2 = 6 2 , avaliamos como correta a descrição dada. Ao descreverem a projeção do MODELO 3, escrevem “uma circunferência menor com origem no centro (0, 0) e que vai aumentando o diâmetro como se fosse um alvo” (p. 111). Embora tenham associado a visão que obtiveram a um “alvo”, formado pela sobreposição das 12 circunferências concêntricas e de raios diferentes, observamos que deixaram de expressar um detalhe importante sobre a relação estabelecida entre a altura da transparência e o diâmetro da circunferência. Neste modelo, gerado a partir da equação da quádrica x2 + y2 = 100 , a relação entre a altura em que a transparência se encontra e o z2 raio da circunferência não é linear, ou seja, se considerarmos a variação linear entre as cotas, as curvas de nível correspondentes não obedecerão o mesmo crescimento. No DESENHO 25 reproduzimos um alvo usado em competições de arco e flecha e no DESENHO 26 reproduzimos as curvas de nível da figura representada pelo MODELO 3 em alturas correspondentes aos valores inteiros 113 de z de 1 à 10. No DESENHO 25 podemos observar o distanciamento uniforme entre os círculos e no DESENHO 26 não. De acordo com a descrição dada pelo grupo, não é possível inferir se observaram ou não esta relação. DESENHO 25. ALVO PARA COMPETIÇÕES DE ARCO E FLECHA DESENHO 26. CURVAS DE NÍVEL CORRESPONDENTES AO MODELO 3 O G3 escreveu que “todas as circunferências estariam no mesmo plano de base” (p. 111). Consideramos que apesar da concisão a descrição resume, em parte, o que ocorre quando representamos um objeto tridimensional por meio das curvas de nível. Os sujeitos poderiam ter sido mais específicos sobre como seria 114 a projeção dos modelos utilizados na atividade. Também poderiam complementar a resposta e informar que as curvas são identificadas de acordo com a cota em que se encontram. A justificativa que deram parece indicar que conhecem a técnica envolvida na representação em curvas de nível, porém não apresentaram detalhes que nos permitissem afirmar se seriam capazes de fazer a representação das figuras estudadas nesta atividade. Ao analisar a descrição, observamos que trazem à tona aspectos algorítmicos, mas parecem negligenciar componentes formais das quádricas. O G2 preferiu desenhar as representações das figuras em perspectiva, embora solicitássemos que imaginassem a projeção em um plano de base. Acreditamos que, neste caso, ou os sujeitos não entenderam que ao mencionar as projeções planas estávamos nos referindo às curvas de nível e não às perspectivas; ou a concepção de projeção plana que têm estava associada à representação em perspectiva. A fim de complementar as conclusões desta pesquisa, pretendemos posteriormente fazer uma entrevista com os sujeitos para esclarecer-nos sobre a concepção que tinham sobre representação em perspectiva e em curvas de nível. Os sujeitos do G4 optaram por utilizar referências do cotidiano para descrever os modelos. Descreveram o MODELO 1 como “uma espiral, escala inclinada” provavelmente em referência à característica oblíqua (inclinada) do cilindro; o MODELO 2 como “uma escada circular” aparentemente em analogia com uma escada em formato de caracol (ou escada em espiral), como a representada na FOTO 8; e o MODELO 3 como “uma mola, cone” (p. 111), o que acreditamos ser uma referência a uma mola espiral em formato cônico. 115 FOTO 8. ESCADA EM ESPIRAL Apesar das descrições dadas pelo G4 não se referirem a projeções planas, conforme havíamos solicitado, pudemos observar que ao comparar o MODELO 2 com “uma escada circular”, os sujeitos deram indicações de que a percepção visual que tinham da figura era diferente da que nós imaginávamos quando criamos o modelo. Nesta ocasião, diante da impossibilidade de representar todas as características da figura, idealizamos uma representação que pudesse reunir algumas dessas características. Para isso, simulamos alguns cortes em planos paralelos ao plano xy e montamos estes cortes, obedecendo a uma sequência e um espaçamento padrão, num modelo que, a nosso ver, poderia representar a figura. Para os sujeitos do G4, entretanto, a figura consistia em um conjunto de “circunferências com centro em (0,0) em todos os planos, variando o raio a cada plano” (p. 106), ou seja, consistia em um conjunto de planos bidimensionais e não na representação de um objeto tridimensional. Esta descrição mostra que para estes sujeitos, apenas algumas das características da figura contidas no modelo não foram suficientes para que imaginassem a figura tridimensional que desejávamos representar. 116 No item 1.6 perguntamos aos participantes se achavam possível imaginar um objeto tridimensional a partir da projeção horizontal das diversas circunferências sobre o plano de base. Além de responder solicitamos que justificassem. Obtivemos as seguintes respostas: G1 Só seria possível se fosse representado em perspectiva G2 Sim. Com a representação com os três eixos conforme anexo gráficos G3 Sim, pois se estivesse no plano de base todas as circunferências, seria só imaginar todas elas (circunferências) se separando cada uma em um plano G4 Não, pois cada plano estaria paralelo Neste item (1.6), esperávamos verificar se os sujeitos conseguiriam fazer a conversão no sentido oposto ao que havíamos solicitado no item 1.5, ou seja, se conseguiriam relacionar a representação gráfico-bidimensional (curvas de nível) com o próprio objeto. Ao analisar as respostas, consideramos a justificativa dada pelo G3 a que melhor representa a conversão necessária entre as projeções planas e o objeto. Após responder afirmativamente, o grupo justifica que “se estivesse no plano de base todas as circunferências, seria só imaginar todas elas (circunferências) se separando cada uma em um plano”. Os sujeitos do G1, que no item anterior melhor tinham conseguido expressar a ideia da sobreposição das circunferências em um plano de base, ao responder este item escreveram que “só seria possível se fosse representado em perspectiva”, ou seja, não seria possível chegar ao objeto a partir de suas curvas de nível. A fim de investigar a aparente contradição entre o que fizeram no item anterior e o que afirmaram nesta, recorremos à filmagem e conseguimos captar a seguinte discussão: Sujeito A1: “Só dá em perspectiva, porque em perspectiva você tem a noção de profundidade, agora se você desenhar assim óh (olhando o 117 modelo por cima, com o olho sobre o eixo Oz, no sentido de Oz+ para Ozde modo a ver todos os gráficos simultaneamente, como se estivessem projetados em um único plano), não dá não!” Sujeito B1: “Desse jeito que foi feito dá para imaginar (levantando o modelo com as mãos e mostrando-o ao sujeito A1).” Sujeito A1: “Mas na lousa?” (perguntando se devem imaginar a figura a partir do modelo ou da projeção no plano, que aqui chamou de lousa) Sujeito B1: “A questão diz no plano. Aí concordo com você. Só dá se for em perspectiva.” A fim de compreender melhor a concepção que estes sujeitos tinham sobre a projeção em um plano de base, adiantamo-nos na análise e fomos verificar o modo como desenharam as curvas de nível, solicitadas no item 3.3 da Atividade 3 (p. 129) e no item 6.1 da Atividade 6 (p. 142). Observamos, tanto em uma atividade quanto em outra que, embora tenham esboçado corretamente as curvas no plano cartesiano, não as identificaram de acordo com a cota correspondente. Auxiliados por esta informação, acreditamos que a resposta do grupo, apesar de incorreta, se justifique se levarmos em conta o modo como os sujeitos compreendem o que são curvas de nível. Para estes sujeitos, como não há informações adicionais quanto às cotas nas curvas de nível (como nos esboços que fizeram), então não é possível imaginar o objeto tridimensional a partir dessas curvas e neste caso, a tarefa somente seria possível se a figura fosse representada em perspectiva. Os sujeitos do G4 também responderam negativamente e escreveram que “cada plano estaria paralelo”. Acreditamos que, a exemplo do G1, estes não estavam considerando a necessidade de que as diversas projeções fossem identificadas. Ao escrever que os planos estariam paralelos, provavelmente estavam se referindo a planos paralelos e coincidentes e nesse caso, embora incorreta, a resposta parece ser coerente com a concepção que estes sujeitos têm sobre as curvas de nível. Os integrantes do G2 responderam que seria possível “com a representação com os três eixos” e desenharam gráficos em perspectiva, no entanto, de acordo com o enunciado da pergunta (QUADRO 1), esta resposta 118 parece ser negativa e não afirmativa, pois referíamo-nos a projeção horizontal em um plano de base e não a representação em perspectiva. 1.6) Você acha que seria possível imaginar um objeto tridimensional a partir da projeção horizontal das diversas circunferências sobre o plano de base? Justifique. QUADRO 1. ENUNCIADO DO ITEM 1.6 Acreditamos, a exemplo do que havíamos observado no item 1.5, que, se houvesse possibilidade de entrevistar os sujeitos do G2, poderíamos aprofundar a análise e procurar compreender quais são as concepções destes sujeitos sobre representações por meio de perspectivas e por meio de curvas de nível. Pretendemos realizar esta tarefa após o término deste trabalho. Ao apresentar esta primeira atividade, esperávamos, além de proporcionar aos participantes um primeiro contato com o modelo de representação tridimensional, verificar se conseguiam perceber e expressar algumas das características que consideramos importantes para o desenvolvimento da visualização das superfícies quádricas como, por exemplo, o fato de que nos modelos 1 e 2 as circunferências têm o mesmo comprimento de raio e no MODELO 3 têm raios diferentes ou que nos modelos 1 e 3 os centros das circunferências encontram-se sobre uma reta e no MODELO 2 encontram-se sobre uma curva. Ao observar as respostas dadas pelos sujeitos aos itens 1.1, 1.2, 1.3 e 1.4, verificamos que, apesar de se expressarem de maneiras particulares, alguns usando notação matemática (“imagine uma linha inclinada cuja função é y = x ”) (p. 98), outros usando comparações com objetos concretos do cotidiano (“imagine uma mola” (p. 103), “como se fosse uma mangueira na diagonal” (p. 98), ou “à medida que z vai aumentando, formando um funil” (p. 106)) , em geral, conseguiram observar e descrever as características que destacamos. Observamos que nos itens 1.5 e 1.6, quando nos referíamos a representações planas por meio da projeção no plano de base, os sujeitos do G2 e do G4 apresentaram respostas que envolviam perspectivas. Numa próxima 119 atividade, talvez devamos modificar o enunciado das questões a fim de tornar explícito que nos referimos à projeção plana e a nenhum outro tipo de representação. Quando concebemos o MODELO 3, imaginávamos verificar se os sujeitos perceberiam que o tamanho das circunferências e a altura em que as mesmas estavam relacionavam-se de forma não linear, porém, com exceção da discussão dentro do G4 (p. 116), não pudemos obter dados adicionais que nos permitissem verificar se isso ocorreu ou não. Numa próxima oportunidade de repetir o experimento, talvez devamos apresentar um modelo adicional em forma de cone, a fim de que seja comparado ao MODELO 3, que representa um hiperbolóide e verificar se os sujeitos conseguem perceber e descrever que em um existe uma relação de proporcionalidade entre o raio e o valor de z e no outro não. Acreditamos que alguns grupos, em alguns itens, não tenham conseguido obter a percepção visual do objeto a partir do modelo de representação, como na resposta que o G3 apresentou ao item 1.2 ao descrever o MODELO 2 (p. 103) de forma excessivamente limitada, informando que os “raios não mudavam e o que mudava era o centro”, sem referir-se a outras propriedades da figura, como por exemplo o fato dos centros das circunferências encontrarem-se sobre uma curva ou sobre a forma que a figura possuía. Outras vezes observamos que um determinado grupo, em uma determinada atividade, conseguiu captar a visão do objeto a partir do modelo de representação, porém não demonstrou tê-lo visualizado, como nas descrições sobre o comportamento dos centros das circunferências apresentadas pelos grupos G3 e G4 (p. 110), nas quais escrevem que nos modelos 1 e 2 “as circunferências tem centro diferente” e no MODELO 3 os “centros são os mesmos”, sem levar em conta a tridimensionalidade do objeto. Por outro lado, alguns grupos, em alguns itens, conseguiram mostrar indicações de procurar a visualização das superfícies quádricas, como por exemplo, a descrição do G3 no item 1.6, em que sugerem “imaginar as circunferências se separando cada uma em um plano” (p. 116) para ilustrar o modo pelo qual poderíamos idealizar uma figura a partir de suas curvas de nível. 120 5.3.2 Atividade 2 Esta atividade tem os itens 2.1, 2.2 e 2.3. Inicialmente, entregamos aos participantes onze transparências impressas com representações gráficas de circunferências com centro na origem e com comprimentos de raio que vão de 1 a 10 unidades, além de espaçadores e hastes plásticas, similares aos utilizados nos modelos da Atividade 1. No item 2.1, solicitamos que montassem as transparências, espaçando-as umas das outras, de modo que ficassem sobrepostas. Observamos que o contato que tiveram com os modelos na Atividade 1 parece ter criado a familiarização com este tipo de representação, pois executaram sem dificuldade as tarefas práticas da montagem (ordenação das transparências, colocação das hastes, colocação dos espaçadores, etc.). No item 2.2, pedimos que descrevessem, com palavras, quais foram os critérios que utilizaram quanto à escolha do tamanho das circunferências e quanto à posição em que decidiram colocá-las. Transcrevemos a seguir as respostas obtidas. G1 Separamos as circunferências de raio par e as de raio impar, e montamos as de raio par e as de raio impar do maior para o menor de fora para dentro do cubo, formando duas cônicas distintas G2 Da menor para a maior G3 Decidimos alternar o tamanho e a posição das circunferências, colocando assim uma maior e uma menor, depois novamente uma maior e outra menor, assim por diante, formando assim um zig zag G4 Começamos onde a circunferência tinha raio 10 (maior) e sequenciando até chegar onde o raio foi igual a zero. Sendo sua posição da maior para a menor circunferência Nosso objetivo ao propor esta atividade e solicitar as justificativas por escrito era verificar se os alunos conseguiriam promover a interação entre componentes intuitivas (conhecimentos aceitos sem necessidade de 121 demonstrações ou provas) e componentes algorítmicas (os procedimentos de montagem) da atividade de criação de um modelo de representação tridimensional e se conseguiriam desenvolver a visualização da quádrica a partir desta representação. Ao analisarmos a filmagem desta atividade verificamos que todos os grupos, aparentemente de forma intuitiva, ordenaram as transparências em ordem crescente (decrescente) antes de iniciar a montagem. Observamos que os grupos G2 e G4 montaram obedecendo a uma ordem determinada pelo tamanho das circunferências, da menor para a maior, ou da maior para a menor, formando a representação de um cone. Os sujeitos do G1 e do G3, no entanto, após ordenarem as transparências de acordo com o tamanho, escolheram outros critérios de montagem. Conforme a descrição feita pelo G1, “separaram as circunferências de raio par e de raio ímpar e montaram da maior para a menor, de fora para dentro do cubo” (p. 120). Percebemos que, assim como haviam feito na Atividade 1, novamente referiram-se ao modelo como “um cubo”. Como dissemos anteriormente, o modelo é formado por transparências quadradas que, quando empilhadas, fazem com que o modelo tenha a forma de um paralelepípedo reto, não de um cubo. Apesar deste não ser o foco de nossa análise, observamos que, tanto nas atividades desta pesquisa como em nossa prática didática e em situações cotidianas, por vezes atribui-se a uma forma o nome de um objeto matemático sem que esta forma possua as propriedades que definem tal objeto. Isso acontece quando, por exemplo, os alunos referem-se a um retângulo chamandoo de quadrado ou quando se referem a uma circunferência chamando-a de “bola”. Nos Jogos Olímpicos de 2008, a cidade de Pequim mostrou ao mundo o Centro Aquático Nacional, um conjunto para competições aquáticas que ficou popularmente conhecido como “Cubo d’Água”. De acordo com a notícia de um jornal da época, o complexo esportivo ganhou este nome por ser “um enorme cubo formado por estruturas geométricas em forma de bolhas de água11”. 11 O local onde serão realizadas as competições de natação é um enorme cubo formado por estruturas geométricas semelhantes a bolhas de água (Folha de São Paulo, 11/11/2007 – Caderno Esporte, pag. D5) 122 As fotos do conjunto mostram (ver FOTO 9) que, apesar de possuir uma base quadrada, o conjunto não tem a forma de um cubo, mas de um paralelepípedo. Ao pesquisarmos o sítio oficial da competição verificamos que as dimensões da construção não deixam dúvidas: o conjunto possui como base um quadrado com 178 metros de lado e 31 metros de altura12. Acreditamos que esta contradição pode demonstrar a falta de validação dos aspectos intuitivos do objeto pelos aspectos formais. Neste caso, a forma do modelo de representação pode ter feito com que os sujeitos se lembrassem de um cubo, fazendo com que estes, intuitivamente, aceitassem isso como suficiente e descrevessem-no como um cubo. FOTO 9. CENTRO AQUÁTICO NACIONAL DE PEQUIM De acordo com a descrição que fizeram, os sujeitos do G1 “separaram as circunferências de raio par e as de raio impar” e montaram-nas da “maior para a menor de fora para dentro”. Ao observar o modelo, verificamos que a representação que montaram apresentava a sobreposição ordenada de circunferências com os seguintes raios: 10, 8, 6, 4, 2, 1, 3, 5, 7 e 9. Ao simularmos, por meio do programa de geometria dinâmica Cabri 3D, uma das possíveis figuras obtidas pelos sujeitos, conseguimos as vistas em perspectiva e em perfil (ver DESENHO 27) e verificamos que a figura apresenta dois cones, com a mesma inclinação, porém com vértices distintos. Os sujeitos do G1, no entanto, escreveram que a disposição das circunferências forma “duas 12 Official Olympics Site National Aquatics Center - http://en.beijing2008.cn 123 3 côniicas distin ntas” quan ndo na verdade v deveriam escrever e “duas quá ádricas distin ntas”. Obsservamos novamente, a exem mplo do qu ue havíam mos verifica ado na Atividade 1 (p. 98), que apesar do os sujeitos s mostrare em a inten nção de referir-se nais, fazem m-no por meio m de term mos da ge eometria plana. A aos objetos tridimension nossso ver, isto pode indicar o efeito coercivo que asp pectos intuitivos (con nhecimento os prévioss sobre a geometria plana) exercem sobre as spectos form mais e algorrítmicos prresentes na aprendiz zagem da geometria g espacial. DESENHO 27. REPRESEN NTAÇÃO EM E PERSPE ECTIVA E E EM PERFIL L Os suje eitos do G3 decidiram “alte ernar o ta amanho e a posiçã ão das circu unferênciass” (p. 120)). Iniciaram m a montag gem pela circunferên c ncia maior (raio = 10). Em seguid da montarram a terce eira maior (raio = 8) e depois a segunda a maior o = 9) e assim a suce essivamen nte. Ao fin nal, a figura formada apresen ntava a (raio sobrreposição ordenada o de circunfe erências com c os seg guintes raio os: 10, 8, 9, 7, 5, 6, 4, 2, 3, 1. Ao assistir a filma agem, observamos que, q assim m que come eçaram a montar odelo, os sujeitos s refferiram-se à figura in nformando que iriam montar “co omo se o mo fosse em zig zag”. z Utilizand do o programa de geometria g dinâmica Geogebra a, simulam mos um dos possíveis cortes do objeto qu ue os sujeitos do G3 3 montaram m e obtive emos a gem apressentada no o DESENHO O 28. Obse ervamos que q a rotaçção da figura em imag torno o do eixo y pode ge erar um ob bjeto tridim mensional cuja c latera al apresentta uma ondu ulação ou “um zig za ag”, em co oncordânciia com o que q os suje eitos havia am dito ante es de inicia arem a mon ntagem do modelo. 124 Embora não possamos afirmar que os sujeitos vislumbraram a figura antes da montagem, pudemos observar, ao ver a filmagem, que os gestos que faziam com as mãos, imitando uma onda, parecem indicar que tinham uma ideia prévia de como seria a figura depois de montada. DESENHO 28. CORTE DE UMA FIGURA NO PLANO YZ Após a montagem, promovemos um momento no qual os grupos mostraram uns aos outros os modelos que haviam criado. Nossa intenção era verificar se os sujeitos, ao verem figuras distintas formadas pelas mesmas onze transparências, conseguiriam perceber a potencialidade do modelo para a representação de diferentes objetos tridimensionais, de acordo com o tamanho das circunferências, com a posição em que seriam colocadas e com o espaçamento entre uma e outra. No item 2.3 perguntamos aos participantes se consideravam possível criar a representação de outro sólido a partir das mesmas 11 circunferências. As respostas obtidas foram as seguintes: G1 Sim, apenas mudando a ordem das figuras G2 Sim. Dois cones com a mesma origem, sendo um formado com as circunferências de raio par e outro com raio impar 125 G3 Não, no meu ponto de vista não. Mas quem sabe por outro ponto de vista poderia ser feito G4 Sim. Basta inverter as várias posições das circunferências. Esta que fizemos forma um funil. Se invertermos nos dava um cone O G3, apesar de ter visto os modelos montados pelos outros grupos, respondeu negativamente, dizendo que pelo seu “ponto de vista não”, porém “por outro ponto de vista poderia se feito”. Apesar de termos recorrido à filmagem, não conseguimos obter informações adicionais que nos permitissem entender se os sujeitos estavam falando do “ponto de vista” matemático, em referência ao local onde o observador se coloca para observar determinado fenômeno; ou se estavam referindo-se ao “seu ponto de vista” como quem quisesse dizer “em minha opinião”, “a meu ver”. Para um melhor entendimento, pretendemos recorrer a estes sujeitos e entrevistá-los, após o término desta pesquisa. Acreditamos que dessa forma possamos obter informações que complementem as conclusões deste trabalho. Dentre os grupos que responderam afirmativamente, a justificativa apresentada pelo G4 pode apontar uma falha relacionada ao entendimento dos conceitos matemáticos envolvidos na representação das superfícies quádricas. Os sujeitos associaram duas figuras diferentes, um cone e um funil, a duas figuras obtidas pela inversão da ordem de montagem. De acordo com a descrição que fizeram, ao montarem da maior para a menor (a maior na parte de baixo) obteriam um cone e ao montar da menor para a maior obteriam um funil (p. 124). Ao analisar esta justificativa, pareceu-nos que, de acordo com o entendimento do G4, em um funil as circunferências maiores estão em cima e em um cone as circunferências maiores estão embaixo, ou seja, para estes sujeitos, o objeto matemático que chamaram de “cone” e o que chamaram de “funil” são diferentes. Acreditamos que, neste caso, os sujeitos fizeram a associação direta entre o objeto matemático e o utensílio funil, que normalmente é utilizado com a parte maior para cima, assim como associaram o objeto matemático cone ao utensílio de mesmo nome usado para sinalização, que normalmente está com a parte 126 maior para baixo. Ao desconsiderar as propriedades formais que definem um cone e associá-lo aos objetos concretos do cotidiano, os sujeitos levaram em conta a componente intuitiva da atividade (conhecimentos prévios, aceitos sem necessidade de demonstrações ou provas) e a componente algorítmica (relacionada à procedimentos ordem de em que montagem), dispuseram porém as circunferências negligenciaram aspectos e aos formais envolvidos na representação das figuras que haviam montado. 5.3.3 Atividade 3 Esta atividade tem os itens 3.1, 3.2 e 3.3. No item 3.1, solicitamos aos sujeitos que montassem a representação tridimensional correspondente à expressão algébrica x 2 + y 2 = z (parabolóide) para os valores inteiros de z = 0 até z = 10, utilizando para isso as 11 transparências que lhes foram entregues. Auxiliados pelas indicações do raio e do valor de z que estavam impressos nas transparências, todos os participantes conseguiram realizar a tarefa sem dificuldades, bastando que ordenassem as circunferências em ordem crescente dos raios, respeitando uma unidade de espaçamento entre elas. No item 3.2 solicitamos aos sujeitos que identificassem e descrevessem a relação entre o valor de z e o comprimento do raio da circunferência. Transcrevemos a seguir as respostas que obtivemos. G1 A relação entre z e o raio é que o raio será sempre a raiz de z G2 O raio é igual a z0 = 0 = 0 z1 = 1 = 1 z 2 = 1,41 = 2 z 3 = 1,73 = 3 ... z10 = 3,16 = 10 zn 127 G3 Sim. O raio é a raiz quadrada de z, porque pela expressão algébrica x2 + y2 = z e z = r 2 G4 Sim. O valor do meu raio é dado, ou melhor, encontrado em função do valor de z, quando o centro da circunferência está na origem Ao propor a questão 3.2, esperávamos verificar se os sujeitos conseguiriam estabelecer a relação entre o aumento linear do parâmetro z (0, 1, 2, 3, ... , 10) e o aumento não linear do comprimento do raio da circunferência. Os sujeitos do G2 validaram a resposta de modo empírico. Ao perceberem que o crescimento não era linear (o aumento de 1 unidade no valor de z não correspondia a aumentos iguais no comprimento do raio), parecem ter encontrado familiaridade com alguns dos números que indicavam o comprimento dos raios (1,14, 1,73, 2, etc.) e relacionaram estes às raízes quadradas de inteiros ( 2 , 3 , 4 , etc.) por meio de uma tabela que desenharam no verso da folha. Quando verificaram que os valores relacionavam-se e que a raiz quadrada correspondia ao raio das circunferências em cada uma das respectivas alturas, responderam que “o raio é igual a z n ” (p. 126). Os sujeitos do G1 apresentaram a mesma resposta do G2, mas não fizeram nenhum esboço nos protocolos. A nosso ver, apesar dos grupos G1 e G2 terem respondido corretamente, a componente algorítmica, envolvida na determinação da relação entre z e o comprimento do raio por meio de uma tabela, prevaleceu sobre as demais. Embora houvéssemos solicitado que justificassem, pareceu-nos que, para estes sujeitos, foi suficiente apresentar a solução. Não encontramos indicações, seja nos protocolos, seja na filmagem, de que tenham relacionado a equação da circunferência com a expressão algébrica da quádrica e verificado que quanto maior o valor de z maior o raio, ou que tenham verificado que o crescimento dos raios em função do valor de z corresponde a uma parábola e que, por este 128 motivo, a figura tem um formato parabólico, entre outras observações que poderiam ter feito. Os sujeitos do G4 responderam afirmativamente que haviam conseguido identificar a relação entre o valor de z e o raio das circunferências, porém justificaram que “o valor do raio é encontrado em função do valor de z, quando o centro da circunferência está na origem” (p. 126) sem apresentar a relação que afirmaram ter identificado. A princípio, como não explicitaram, imaginamos que não haviam conseguido encontrar; porém, ao verificar o esboço que fizeram da quádrica no item 3.3, pudemos observar que, além de identificarem cada uma das curvas de nível corretamente, apresentaram indicações de que haviam compreendido que o valor do raio é igual à raiz quadrada de z, conforme o DESENHO 29. DESENHO 29. ESBOÇO DO G4 – ITEM 3.3 Os sujeitos do G3 escreveram que “o raio é a raiz quadrada de z, porque pela expressão algébrica x 2 + y 2 = z e z = r 2 ” (p. 126), estabelecendo uma relação direta entre a equação reduzida da circunferência, dada por x 2 + y 2 = r 2 e a expressão algébrica da quádrica apresentada nesta atividade, dada por x 2 + y 2 = z , chegando à conclusão que z = r 2 . Embora não tenham comentado, com palavras, que a relação entre a cota e o raio da circunferência corresponde a uma parábola, ou que não existe 129 circunferência quando para valores de z negativos, a justificativa apresentada pelo G3 foi a que mais se aproximou do entendimento que esperávamos que tivessem desta atividade e mostra indicações de que os sujeitos conseguiram estabelecer a relação formal entre as circunferências representadas nos cortes paralelos ao plano xy e a figura tridimensional. A nosso ver, a capacidade de fazer a conversão do registro gráfico tridimensional para o registro gráfico bidimensional pode colaborar com o desenvolvimento da visualização. Por isto propomos o item 3.3, no qual solicitamos aos participantes que imaginassem a projeção das transparências no plano de base e pedimos que as desenhassem em um plano cartesiano. Os quatro grupos fizeram desenhos similares ao que apresentamos no DESENHO 30, feito pelo G4. O G3 também desenhou as curvas com a identificação do z correspondente, porém nos desenhos dos grupos G1 e G2 não havia indicações que associassem as circunferências às suas respectivas cotas. Ao analisar o esboço que os sujeitos do G4 fizeram, recorremos às respostas que haviam escrito no item 1.6 da Atividade 1 (p. 116) e verificamos que, naquele momento, responderam que não era possível imaginar um objeto tridimensional a partir de sua representação plana, porém neste item (3.3) representaram corretamente a quádrica por meio das curvas de nível, identificando as curvas de acordo com as cotas, a partir da representação tridimensional. A nosso ver, a análise desta situação pode implicar uma de pelo menos três constatações: a) os sujeitos não conseguem imaginar uma figura tridimensional a partir das curvas de nível, porém conseguem fazer o caminho inverso e representar a figura tridimensional por meio das curvas de nível; b) os sujeitos desenvolveram algum tipo de aprendizagem entre a Atividade 1 e esta atividade (Atividade 3) que os permitiu esboçar e identificar corretamente as curvas de nível a partir da representação tridimensional da figura; ou c) responderam a questão proposta no item 1.6 sem que houvessem compreendido o enunciado. 130 DESENHO 30. PROJEÇÃO DE UMA QUÁDRICA NO PLANO DE BASE Os sujeitos do G1 fizeram o esboço das curvas de nível, porém não as identificaram de acordo com a cota correspondente. A fim de melhor compreender a concepção que estes sujeitos tinham sobre representações planas, recorremos ao item 1.6 da Atividade 1 e verificamos que, ao serem perguntados sobre a possibilidade de representação plana de uma figura tridimensional, responderam que “só seria possível se fosse representado em perspectiva” (p. 116). Os esboços que estes sujeitos fizeram, assim com os que foram feitos pelos sujeitos do G2, são compatíveis com a visão que se obtêm quando olhamos o modelo de representação tridimensional e alinhamos a visão com o eixo Oz. Parece-nos que, ao realizar esta etapa da atividade, os sujeitos reproduziram intuitivamente a imagem obtida a partir do modelo, sem preocuparse com as propriedades formais da representação e com a necessária indicação da cota correspondente a cada curva desenhada. Aparentemente, apenas com o olhar, os sujeitos conseguiram obter a percepção visual das curvas de nível, mas não mobilizaram outras informações (como a identificação das cotas) em busca de uma organização do conhecimento que os permitisse representar corretamente a quádrica por meio de sua projeção num plano de base. 131 5.3.4 Atividade 4 Esta atividade tem os itens 4.1 e 4.2 No item 4.1, solicitamos aos sujeitos que montassem a representação tridimensional de uma superfície quádrica, a partir de suas curvas de nível, apresentadas em um plano cartesiano, conforme o enunciado no QUADRO 2. As curvas apresentadas correspondem à representação plana de um elipsóide. 4.1) Utilizando as 11 transparências que foram entregues ao seu grupo, monte a representação tridimensional correspondente à representação bidimensional dada no gráfico abaixo. QUADRO 2. ENUNCIADO DO ITEM 4.1 Todos os grupos associaram corretamente a informação do valor de z, que estava indicada no gráfico, com a altura em que deveriam colocar as circunferências e chegaram à representação tridimensional de um elipsóide. No item 4.2, solicitamos que descrevessem a figura obtida. 132 Todos os grupos, aparentemente influenciados pelo formato oval da representação e pelas variáveis concretas envolvidas na montagem, como o tamanho dos espaçadores, descreveram-na como um elipsóide, porém não encontramos indicações de que tenham procurado validar a impressão visual que tiveram após a montagem. De um ponto de vista que considere a necessidade da interação entre aspectos intuitivos, algorítmicos e formais na atividade, parece-nos que neste caso aspectos intuitivos (a visão do objeto oval) e algorítmicos (as técnicas de montagem, a feitura do objeto) sobrepuseram-se a aspectos formais. Quando concebemos esta atividade, imaginávamos que os sujeitos poderiam descrever a figura a partir das informações observáveis nas curvas de nível e na representação tridimensional, elencando suas principais características. Poderiam, por exemplo, comentar o fato de que o corte paralelo ao plano xz ou ao plano yz pode determinar uma elipse e de que vem daí o nome que se dá a esta figura, ou o fato de que os centros das circunferências encontravam-se no eixo z, ou que o comprimento dos raios variava de 0 (na cota z = 5 e z = -5) até 10 unidades (na cota z = 0), entre outras. Ao descreverem a figura como elipsóide, os sujeitos mostraram conhecê-la e nominá-la, reunindo em uma única palavra todas as propriedades formais do objeto. Essa “economia”, no entanto, acabou privando-nos de argumentos que nos permitissem avaliar se os sujeitos haviam desenvolvido a apreensão formal sobre o objeto em questão ou se apenas sabiam o seu nome. A fim de complementar as conclusões, após o término desta pesquisa pretendemos entrevistar os sujeitos e obter mais dados sobre as impressões que estes possam ter sobre a figura. Numa próxima oportunidade, ao repetir esta experiência, devemos considerar uma mudança no enunciado, como forma de evitar a concisão de respostas que observamos nesta atividade. A fim de incitar uma discussão sobre a figura que haviam descrito, chamamos a atenção dos participantes para o fato de que poderíamos ter cortado os espaçadores em tamanho maior do que o que estávamos usando. Supondo isto, perguntamos verbalmente se ainda teríamos um elipsóide ou outro objeto. Os sujeitos dos grupos G1, G2 parecem ter reavaliado a resposta que 133 haviam escrito nos protocolos e responderam oralmente nosso questionamento, como transcrevemos a seguir: Sujeito do G2: “Então seria uma esfera” Sujeito do G3: “Aí sim, seria uma esfera!” Sujeito do G2: “É uma esfera. Está achatada por causa do tamanho dos canudinhos” (referindo-se aos espaçadores, que de acordo com sua argumentação são menores do que deveriam ser e fizeram com que a figura ficasse achatada) Perguntamos então o que ocorreria se ao invés de aumentarmos, diminuíssemos ainda mais o tamanho dos espaçadores, ao que um dos sujeitos do G2 respondeu: Sujeito do G2: “Ia ficar mais achatado ainda!” A fim de eliminar o tamanho dos espaçadores como uma das variáveis que pudessem determinar a forma do objeto, perguntamos se seria possível identificar se a figura é uma esfera ou um elipsóide olhando apenas no gráfico das curvas de nível, sem considerar a visão que haviam obtido a partir do modelo de representação tridimensional. Enquanto um dos sujeitos do G1 acredita não ser possível, um dos sujeitos do G2 olhou novamente para o gráfico das curvas de nível e começou a conjecturar. Sujeito do G1: “Não. Olhando só no plano não dá!” Sujeito do G2: “O [valor de] z está subindo 5, e o [valor de] x vai até 10, então o z é menor do que o x” Neste ponto da discussão o mencionado sujeito do G1, influenciado pela iniciativa do G2, mudou de ideia e também recorreu às curvas de nível, a fim de validar suas afirmações. Apesar de ter computando corretamente a altura da figura ao falar que “o [valor de] z vai até 10, contando de -5 até + 5”, não considerou que a “largura” corresponde ao dobro do raio e que, portanto, a 134 variação de x era igual a 20 unidades. Como em seus cálculos a figura teria 10 unidades de altura e 10 unidades de largura, falou que “seria uma esfera, só que aqui (no modelo de representação tridimensional) ela está achatada por causa dos espaçadores”. Sujeito do G1: “Eles têm razão (referindo-se aos sujeitos do G2). O [valor de] z vai até 10, contando de -5 até + 5 e a largura também dá 10. O certo seria uma esfera, só que aqui ela está achatada por causa dos espaçadores” O sujeito do G2, que havia afirmado que a figura era uma esfera, ao recorrer às curvas de nível, tenta obter informações a partir do gráfico, que num primeiro olhar haviam passado despercebidas e dá sinais de conseguir organizar estas informações em uma argumentação lógica, conforme transcrevemos: Sujeito do G2: “Mas é o raio que é 10. O comprimento total é o dobro. Dá 20, enquanto que a altura máxima é 10, então dá um elipsóide, uma esfera achatada” Neste ponto da discussão os sujeitos dos grupos G1 e G4 deram sinais de concordar com a argumentação do G2, de que a figura era realmente um elipsóide, independentemente dos espaçadores, porém o sujeito do G4 comentou sua dificuldade em “visualizar” a figura a partir das curvas de nível. Sujeito do G4: “Eu estou vendo circunferência atrás de circunferência. Olhando assim em 2D eu não consigo imaginar. Em três dimensões eu consigo ver a figura, mas olhando no gráfico não” Sujeito do G1, dirigindo-se ao sujeito do G4: “Você tem que “puxar” as circunferências prá cima, de acordo com o z” Sujeito do G4: “Mas esta representação aqui é bidimensional, não é tridimensional!” Sujeito do G2: “Você tem que abstrair e imaginar o z “saindo” do papel” A análise deste trecho da discussão pode indicar aspectos importantes quanto à concepção que o sujeito do G4 tem sobre a representação de figuras geométricas. De acordo com o seu argumento de que “esta representação é bidimensional, não é tridimensional”, referindo-se à sua dificuldade em visualizar a figura por meio das curvas de nível, parece-nos que para este sujeito: a) a 135 única maneira de acessar a figura é por meio da visão, disponível ao primeiro olhar; b) a única maneira de representar uma figura tridimensional seria por um modelo de representação tridimensional; c) as representações bidimensionais serviriam exclusivamente para representar objetos da geometria plana. A nosso ver, isto pode indicar uma dificuldade de “visualização” que não foi superada, apesar da participação do sujeito nas atividades. Por outro lado, esta atividade parece ter favorecido, pelo menos para os sujeitos do G1 e do G2 que participaram da discussão, a interação entre as componentes intuitivas, algorítmicas e formais envolvidas na representação da quádrica. Nossa impressão é reforçada pela observação das recomendações que deram ao sujeito do G4 (p. 134), a fim de que este conseguisse imaginar a figura a partir das curvas de nível e pelos diferentes posicionamentos que mostraram no decorrer das discussões. Inicialmente, descreveram a quádrica como um elipsóide, depois consideraram a possibilidade dos espaçadores serem menores e afirmaram, baseados apenas em aspectos intuitivos, que a figura era uma esfera. Ao final, após mobilizarem as informações das curvas de nível, concluíram que era realmente um elipsóide. A nosso ver, o que distingue a apreensão sobre a figura que os sujeitos do G1 e do G2 mostraram ter desenvolvido, relaciona-se em partes, ao fato de que estes, quando incitados pelo nosso questionamento, diferentemente dos demais grupos, procuraram ir além da percepção visual imediata, disponível nas representações e buscaram reunir outras informações e organizá-las em busca de uma representação semiótica. Parece-nos, desta forma, que conseguiram “visualizar” a figura, enquanto que os demais conseguiram “ver” as representações da figura. 5.3.5 Atividade 5 Esta atividade tem os itens 5.1, 5.2, 5.3 e 5.4. No item 5.1, solicitamos aos participantes que associassem a expressão algébrica de um hiperbolóide de uma folha x 2 + y 2 = 10 + z 2 à expressão reduzida de uma circunferência e que analisassem o comportamento do comprimento do 136 raio desta circunferência em função do parâmetro z. Para tal, sugerimos que fizessem z variar entre -4 e 4 e que registrassem as informações em uma tabela. Todos os grupos preencheram corretamente a tabela, conforme uma amostra dos protocolos do G4 (QUADRO 3). QUADRO 3. ATIVIDADE 5.1 – G4 No item 5.2, perguntamos aos participantes qual a relação entre o valor de z e o raio da circunferência. Ao propor esta pergunta, esperávamos verificar se os sujeitos conseguiriam traduzir em palavras a relação algébrica que usaram para completar a tabela do item 5.1. Obtivemos as seguintes respostas a esta questão: G1 z = r 2 . A relação é que r 2 = ( z + 10 ) G2 r = 10 + z G3 Independente do valor de z ser negativo ou positivo, o valor de raio sempre será o mesmo, para um determinado z G4 O valor simétrico de z não interfere no valor do raio A resposta do G1 apresenta uma incoerência. Ao tentar explicitar a relação existente entre o valor de z e o raio da circunferência, os sujeitos escreveram 137 z = r 2 e logo em seguida “a relação é que r 2 = ( z + 10 ) ”, como se uma afirmação implicasse a outra. Os sujeitos do G3 e do G4 observaram corretamente que tanto para z = k como para z = −k , o raio seria o mesmo, ao escreverem que “independente[mente] do valor de z ser negativo ou positivo, o valor do raio será sempre o mesmo para um determinado z” (G3) e que “o valor simétrico de z não interfere no valor do raio” (G4), porém não esclareceram se haviam entendido que r = 10 + z 2 . Posteriormente, ao analisar as respostas que deram à questão do item 5.3 verificamos que os sujeitos do G4 mostraram ter entendido e que os sujeitos do G3 confundiram a relação e associaram r = 10 + z 2 . Ao analisarmos as respostas do G1, G3 e G4 observamos que, apesar de terem completado corretamente a tabela proposta no item 5.1, responderam incorretamente o item 5.2 (G1) ou não explicitaram a relação entre o valor de z e o raio da circunferência (G3 e G4). Isto pode indicar que os sujeitos fizeram o preenchimento da tabela de modo mecânico ao substituir o parâmetro z pelos valores inteiros de -4 até 4, conforme proposto na atividade, sem a mobilização de aspectos formais que lhes permitissem validar seus procedimentos e descrever o que estavam fazendo. No item 5.3, perguntamos aos sujeitos se era possível , em algum dos cortes da figura dada pela expressão algébrica x 2 + y 2 = 10 + z 2 , que houvesse circunferências com raio 4,5 unidades e nesse caso em qual altura estaria. Obtivemos as seguintes respostas: G1 Sim. Colocaríamos no ponto 3,2 138 G2 10 + z 2 = 4,5 10 + z 2 = 4,5 2 z 2 = 20,25 − 10 z = 10,25 = 3,24 z = ±3,24 G3 Não, porque como o r = 10 + z 2 , e substituindo o r por 4,5, ou seja, 4,5 = 10 + z 2 resultará em z 2 = −5,5 , que dentro do R (conjunto dos números reais) não existe G4 Sim. r 2 = 10 + z 2 20,25 − 10 = z 2 z 2 = 10,25 = ±3,2 Quando distribuímos a folha com as questões, o enunciado do item 5.3 trazia o seguinte texto: 5.3) Dentre as circunferências obtidas, existe alguma cujo raio tenha o comprimento igual a 4,5 unidades? Se existe, em que altura você a colocaria? Justifique. QUADRO 4. ENUNCIADO DO ITEM 5.3 Diante da expressão “dentre as circunferências obtidas” alguns sujeitos entenderam que estávamos mencionando aquelas que constavam na tabela, correspondentes aos valores inteiros de z de -4 até 4. Esclarecemos que não estávamos nos referindo exclusivamente àquelas, mas a todas as circunferências possíveis, qualquer que fosse o valor real de z. Após este esclarecimento, os sujeitos mostraram entender o que a atividade solicitava e deram continuidade às tarefas. Em uma próxima oportunidade, ao repetir o experimento, devemos considerar a modificação do texto para “Dentre os possíveis cortes paralelos ao plano xy, existe algum que corresponda a uma circunferência com raio 4,5 unidades?”. Esta observação também vale para o item 5.4. 139 Verificamos que os sujeitos dos grupos G1 (que no item 5.2 haviam expressado incorretamente a relação entre o raio e o valor de z) (p.116), G2 e G4 (que no item 5.2 haviam expressado parcialmente a relação entre o raio e o valor de z) (p.116), responderam corretamente esta questão, ao informar que seria possível que houvesse uma circunferência de raio igual a 4,5 unidades e que esta circunferência se localizaria na altura correspondente a z = 10,25 . Os sujeitos do G3 (que no item 5.2 haviam expressado parcialmente a relação entre o raio e o valor de z) se equivocaram ao escrever a equação r = 10 + z 2 , quando deveriam escrever r 2 = 10 + z 2 , ou seja, não consideraram que na equação da circunferência o raio deveria estar elevado ao quadrado. Quando analisamos os protocolos obtidos após a aplicação do questionário sobre as circunferências, observamos que o erro de maior incidência consistia em associar uma circunferência à equação reduzida da circunferência sem que o raio se apresentasse elevado ao quadrado. A fim de complementar a atual análise, recorremos novamente a esses protocolos e verificamos que, ao contrário do que imaginávamos, nenhum dos sujeitos do G3 havia cometido este erro naquela ocasião. A nosso ver, o erro cometido neste item pode estar relacionado aos diferentes contextos em que se desenvolveram as duas atividades, de resolução do questionário e de estudo de quádricas. Quando aplicamos o questionário, concebemos questões voltadas à análise do entendimento que os participantes tinham sobre as circunferências e nas atividades com o modelo de representação (embora utilizemos os conceitos envolvidos na representação de circunferências) direcionamos as tarefas para o estudo de superfícies quádricas. O equívoco do G3 pode indicar que numa atividade sobre circunferências estes sujeitos mobilizaram conhecimentos que não foram mobilizados em um contexto diferente, como por exemplo, no estudo de quádricas. Como não consideraram que o raio de medida 4,5 deveria ser elevado ao quadrado, algebricamente chegaram à conclusão de que não poderia existir z e 140 que, portanto não seria possível que houvesse uma circunferência de raio igual a 4,5 unidades em nenhum dos cortes da quádrica, conforme a expressão: 4,5 = 10 + z 2 z 2 = −5,5 z = − 5,5 Ao observar os valores com os quais os sujeitos do G3 preencheram a tabela, verificamos que para o valor de z = ±4 o raio equivale a para o valor de z = ±3 o raio equivale a não há descontinuidade, 19 ≤ 4,5 ≤ 26 ≅ 5,1 e que 19 ≅ 4,4 , ou seja, se considerarmos que 26 , então existe uma circunferência com comprimento de raio igual a 4,5 situada entre os valores de z = 3 e z = 4 (idem para valores de z entre -3 e -4). O fato dos sujeitos do G3 chegarem à conclusão de que não havia nenhuma circunferência com raio igual a 4,5 unidades entre os possíveis corte da figura dada e apresentarem a resposta sem validá-la pode indicar que nesta atividade, as componentes algorítmicas (preenchimento mecânico da tabela com os valores da expressão e do raio) sobrepuseram-se a restrições formais. Embora os sujeitos do G3 tivessem a sua disposição argumentos que justificassem a existência da circunferência, o resultado que obtiveram algebricamente parece ter sido suficiente para descartar tal possibilidade. No item 5.4, perguntamos aos sujeitos se era possível que, em algum dos cortes da figura representada pela expressão dada, houvesse circunferências com raio 2,5 unidades e obtivemos as seguintes respostas: G1 Não existe, pois não existe raiz quadrada de número negativo no conjunto dos reais 141 G2 Não existe, pois o raio mínimo é 3,16. 10 + z 2 = 2,5 10 + z 2 = 2,5 2 10 + z 2 = 6,25 z 2 = 6,25 − 10 z = − 3,75 G3 Também não existe, como pode perceber abaixo dentro dos R (conjunto dos números reais) não existe raiz quadrada dos negativos r = 10 + z 2 2,5 = 10 + z 2 − 7,5 = z 2 z 2 = −7,5 G4 Não r 2 = 10 + z 2 6,25 − 10 = z 2 z = − 3,75 Os sujeitos do G1 responderam que não era possível que houvesse uma circunferência com raio igual a 2,5 unidades e justificaram dizendo que “não existe raiz quadrada de número negativo no conjunto dos reais”, mas não fizeram nenhuma anotação indicativa de que tenham feito algum cálculo para justificar a afirmação. Os sujeitos do G2 e G4 também responderam que não era possível. Justificaram a resposta substituindo o valor do raio na expressão z = r 2 − 10 e mostraram que quando o raio mede 2,5 não existe solução dentro dos números reais, pois z = 2.5 2 − 10 = − 3,75 . Os sujeitos do G3 se equivocaram novamente, a exemplo do que haviam feito no item 5.3, e escreveram a equação r = 10 + z 2 , quando deveriam escrever r 2 = 10 + z 2 . Apesar de responderem corretamente que não existia nenhuma 142 circunferência de raio 2,5 entre os possíveis cortes da quádrica, basearam-se em premissas incorretas. 5.3.6 Atividade 6 Esta atividade tem os itens 6.1, 6.2 e ,6.3. Inicialmente, apresentamos a representação algébrica x 2 + y 2 − z 2 = 10 e entregamos aos participantes 11 transparências impressas com circunferências correspondentes à 11 cortes paralelos ao plano xy da quádrica dada. No item 6.1, solicitamos aos sujeitos que esboçassem as curvas de nível correspondentes, em um plano cartesiano. Os sujeitos do G1 e do G2 desenharam as curvas corretamente, por meio de um esboço que é compatível com a visão que se obtêm quando o observador põe o olho sobre o eixo Oz e direciona o olhar no sentido de Oz+ para Oz-. Notamos, no entanto, que os sujeitos do G2 identificaram as curvas de acordo com a cota correspondente, enquanto os sujeitos do G1 não o fizeram, limitandose a reproduzir o que conseguiram “ver” através das transparências. Ao analisar esta atividade, parece-nos que os sujeitos do G2 procuraram mobilizar aspectos formais a fim de validar a representação plana da figura, enquanto os sujeitos do G1 pareceram considerar suficiente a reprodução de aspectos intuitivos do objeto. Aparentemente, os sujeitos do G1 conseguiram, ao primeiro olhar, obter a percepção visual da figura, porém não mostraram iniciativas no sentido de reunir e organizar as relações entre as informações disponíveis nas representações algébricas e gráficas que os permitissem criar, a partir desta mobilização, uma representação semiótica da figura. Os sujeitos dos grupos G3 e G4 não fizeram o esboço solicitado. Na tentativa de entender o motivo pelo qual isso ocorreu, recorremos à folha que continha as atividades propostas (ver APÊNDICE B - ATIVIDADES COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL) e acreditamos ter encontrado o motivo. O item 6.1, em que solicitávamos que desenhassem as curvas, encontrava-se no topo da página e o gráfico onde deveriam desenhar as 143 curvas, devido a uma falha de diagramação, ficou localizado na parte de baixo da folha, abaixo do item 6.4. É provável que os sujeitos do G3 e do G4 não tenham prestado atenção a este detalhe e tenham deixado de fazer o esboço solicitado. Numa próxima oportunidade, ao repetir o experimento, devemos modificar a localização do gráfico a fim de evitar esse tipo de falha. No item 6.2, solicitamos aos participantes que montassem a representação tridimensional da expressão dada usando as transparências. Acreditamos que, neste item, tenham sido priorizados aspectos algorítmicos da representação da quádrica. A fim de que montassem corretamente, os sujeitos poderiam, a exemplo do que fizeram na Atividade 5, relacionar a expressão algébrica da quádrica à equação de uma circunferência e de acordo com o parâmetro z, determinar o tamanho do raio correspondente. Todos os grupos conseguiram realizar esta tarefa com sucesso. No item 6.3, pedimos aos participantes que descrevessem com palavras a figura que obtiveram, e conseguimos as seguintes respostas: G1 Obtemos uma figura parecida com uma ampulheta, conhecida como hiperbolóide de uma folha G2 Hiperbolóide G3 Foi formada uma figura que chama hiperbolóide. Isso porque os raios foram diminuindo e depois aumentando G4 Como se fosse um funil ou dois cones unidos pelo vértice Observamos nas descrições dos grupos G1, G2 e G3 referências ao termo hiperbolóide. Neste caso, assim como havíamos observado na análise do item 4.2 da Atividade 4 (p. 131), ao nominar a figura chamando-a de hiperbolóide conseguimos concluir que os sujeitos conseguiram “ver” a figura por meio do 144 modelo de representação, porém a falta de uma descrição que apresentasse mais detalhes prejudicou a análise sobre o entendimento que os sujeitos tinham ou que vieram a desenvolver sobre superfícies quádricas. Não conseguimos, pelas descrições apresentadas, verificar se conhecem propriedades formais da quádrica chamada hiperbolóide ou se sabem apenas associar o nome à representação da figura. Pretendemos, a fim de complementar as conclusões obtidas após o término desta pesquisa, recorrer aos sujeitos e entrevistá-los, em busca de informações que possam nos esclarecer sobre qual é o entendimento que esses têm sobre a figura que montaram nesta atividade. Numa próxima oportunidade, ao repetir esta experiência devemos considerar uma mudança no enunciado, como forma de evitar respostas tão abreviadas como as que obtivemos nesta e na Atividade 4. Os sujeitos do G1 escreveram que a figura é “parecida com uma ampulheta” (p. 143) e os sujeitos do G3 justificaram que a figura é um hiperbolóide “porque os raios foram diminuindo e depois aumentando” (p. 143), porém não encontramos indicações de que os sujeitos tenham observado que apesar do corte em planos paralelos ao plano xy corresponder a uma circunferência, um corte paralelo ao plano xz (ou ao plano yz) corresponde à representação plana de uma hipérbole. Também não encontramos indicações de que tenham relacionado esta atividade aos itens 5.3 e 5.4 da Atividade 5 e verificassem graficamente a impossibilidade de que houvesse circunferências de raio igual a 2.5 em um dos cortes paralelos ao plano xy. Os sujeitos do G4 associaram a figura a um “funil ou dois cones unidos pelo vértice” (p. 143). Ao escreverem “funil” acreditamos que estivessem intuitivamente se referindo ao comprimento dos raios das circunferências que compõem o modelo, que de acordo com o valor de z diminuem ou aumentam. Ao referir-se à “dois cones unidos pelo vértice” os sujeitos não validaram formalmente pelo menos dois aspectos importantes da figura: a) o crescimento (decrescimento) das dimensões das circunferências não são lineares como são em um cone, ou seja, não existe um constante k, tal que r = k .z ; b) inexistência de 145 um vértice, visto que a menor circunferência, correspondente a cota z = 0 tem raio igual a 10 ≅ 3,16 . Neste capítulo apresentamos a análise dos dados obtidos a partir dos protocolos das “tarefas de reconhecimento” e das atividades desenvolvidas com o uso de um modelo de representação tridimensional. Desenvolvemos esta análise com base nas ideias de Fischbein (1993), sobre a necessidade da interação entre componentes formais, algorítmicas e intuitivas de um conteúdo matemático; e de Duval (1999), que distingue a visão (imediatamente acessível ao primeiro olhar, porém não suficiente para desenvolver funções cognitivas fundamentais) da visualização (responsável pela organização das relações entre as informações obtidas pela visão, em busca da produção de representações semióticas, de forma a desenvolver tais funções). Apresentaremos a seguir nossas conclusões e considerações finais, que se tornaram possíveis a partir dos resultados obtidos na presente análise. 146 CONCLUSÃO 1: CONCLUSÕES Ao desenvolver esta pesquisa, procuramos verificar se uma abordagem que envolvesse tratamentos e conversões entre diferentes registros de representação semiótica, mediada por um modelo de representação tridimensional, pode favorecer a visualização de superfícies quádricas. A fim de alcançar este objetivo, apoiados pelas considerações teóricas de Fischbein (1993), sobre a necessidade de interação entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas de um conteúdo matemático; e de Duval (1999), que distingue a visão da visualização e defende a necessidade de que os alunos desenvolvam a aprendizagem sobre os objetos matemáticos em pelo menos dois diferentes sistemas de representação semiótica; concebemos uma questão de pesquisa, que reapresentaremos e responderemos ao final deste texto, após algumas reflexões que consideramos importantes. Os sujeitos que participaram desta pesquisa apresentam dificuldade em traduzir em palavras as particularidades envolvidas em uma representação e mostram descuido quanto ao formalismo necessário à comunicação dentro de uma atividade matemática. De acordo com Duval (1999), embora não seja uma questão simples definir quais são os melhores registros de representação, ou qual o melhor modo de trabalhar em cada um deles, o registro descritivo em língua natural é essencial para um controle cognitivo e para o desenvolvimento da aprendizagem em qualquer atividade matemática. Ao analisar as respostas apresentadas pelos participantes, notamos pelo menos dois problemas, que a nosso ver estão associados à dificuldade dos sujeitos quanto ao registro discursivo. O primeiro problema que encontramos relaciona-se ao aparente descuido quanto ao formalismo necessário à comunicação dentro de uma atividade matemática, ao empregar um termo que define um objeto para referir-se a outro objeto. Sendo a Matemática um conjunto de conhecimentos, determinado por relações formais, logicamente estruturadas, a comunicação entre aqueles que se 147 dedicam a estudá-la e a ensiná-la se dá por meio de uma linguagem própria, regulada por conceitos e propriedades formais. Em uma atividade matemática, quando nos referimos, por exemplo, a uma circunferência, estamos nos referindo ao “lugar geométrico dos pontos do plano que são equidistantes de um ponto fixo chamado centro da circunferência” e não a outro objeto com propriedades distintas destas. A denominação carrega consigo as propriedades do objeto. Apenas para citar alguns exemplos, observamos que em algumas ocasiões, os sujeitos do G1 referiram-se ao modelo como um “cubo” (p. 98), apesar do modelo de representação não ter formato de um cubo; referiram-se a uma reta oblíqua ao plano de base como “diagonal” (p. 98), não porque fosse a diagonal de um poliedro, mas por sua obliquidade; escreveram “quadrante” quando queriam dizer “octante” (p. 98); descreveram dois cones como duas “cônicas” (p. 120). Os sujeitos do G3, ao descrever uma das representações, escreveram que era um “plano tridimensional” (p. 98) quando talvez quisessem referir-se às três dimensões do modelo, sem perceber a incompatibilidade entre as definições matemáticas dos termos “plano” e “tridimensional”. Para Fischbein (1993), com quem concordamos [...] normalmente é a interpretação intuitiva baseada em uma experiência primitiva, limitada, mas firmemente enraizada, que aniquila o controle formal ou as necessidades da solução algorítmica e assim distorce ou mesmo bloqueia uma reação matemática correta (FISCHBEIN, 1993, p. 244, tradução nossa 13). Nas descrições e respostas obtidas, percebemos a presença hegemônica de aspectos intuitivos, remanescentes de aprendizagens anteriores, que foram trazidos à tona e empregados sem que os sujeitos tentassem validá-los pela mobilização de aspectos formais e algorítmicos. A nosso ver, o poder coercivo de aspectos intuitivos bloqueou eventuais iniciativas que pudessem levar os sujeitos à aprendizagem desejada. Embora a identificação da interação e dos conflitos entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas seja uma tarefa complexa, ao analisar o modo 13 […] usually, it is the intuitive interpretation based on a primitive, limited, but strongly rooted individual experience that annihilates the formal control or the requirements of the algorithmic solution, and thus distorts or even blocks a correct mathematical reaction 148 como os sujeitos se utilizaram de termos próprios da geometria plana em referência a objetos tridimensionais, acreditamos estar diante de um desses conflitos citado por Fischbein (1993), ou seja, aparentemente as noções intuitivas da geometria plana, mobilizadas pelos sujeitos sem a necessária validação, mostraram-se tão enraizadas que acabaram anulando qualquer controle formal que possibilitasse a correta interpretação da figura. O segundo problema que encontramos, também relacionado ao registro discursivo, está no fato dos sujeitos utilizarem termos do quotidiano para designar objetos que possuem designação própria dentro da Matemática. Os sujeitos do G1 se referiram ao cilindro como uma “mangueira” (p. 98); relacionaram o formato do hiperbolóide a uma “ampulheta” (p. 143) ou a um “funil” (p. 106). Os sujeitos do G2 descreveram um dos modelos como uma “mola espiral” (p. 103) e outro como “funil” (p. 106). Os sujeitos do G3 disseram que iriam montar um modelo “como se fosse um zig zag” (p. 120). A nosso ver, os termos conseguem transmitir algumas das características da figura e podem ser utilizados normalmente e sem restrições em situações quotidianas, mas quando utilizados em uma atividade matemática, podem caracterizar a ausência de aspectos formais necessários ao próprio entendimento ou à comunicação que deve existir entre aqueles que participam de uma atividade matemática. O aparente descuido com a linguagem também foi verificado na concisão com que os grupos descreveram algumas das representações. A nosso ver, isto pode indicar que para estes sujeitos, aspectos intuitivos da figura parecem ser suficientes para descrevê-la, ou que a visão (Duval, 1999) imediata, captada a partir da representação, pode reunir em si as propriedades da figura. Notamos isso ao observar como os sujeitos do G2 descreveram a diferença entre os três modelos pela frase “a função da origem = variação de z” (p. 110); ou como os sujeitos do G3 descreveram o MODELO 3: “circunferências sobrepostas, todas com centro (0,0) e raio diferente em cada uma” (p. 106); ou como os sujeitos do G3 justificam a denominação da figura hiperbolóide: “porque os raios foram diminuindo e depois aumentando” (p. 143) ou ainda como o G4 definiu a relação entre o comprimento do raio e a cota na representação de um 149 parabolóide ao escrever que “o valor simétrico de z não interfere no valor do raio” (p. 136). Para Duval (1999) existe um ponto de ruptura entre a percepção visual e a visualização A representação semiótica não mostra as coisas como elas são em um ambiente 3D ou como podem ser fisicamente projetadas sobre um pequeno suporte material 2D. Este é o problema da percepção visual. A representação semiótica mostra relações, ou melhor, organização de relações entre as unidades de representação (DUVAL, 1999, p. 12, tradução nossa 14). Ao observar as constantes tentativas de associação entre representações icônicas (tais como “mola”, “funil”, “escada”), acessíveis ao primeiro olhar e representações de superfícies quádricas, percebemos que diante da percepção visual possibilitada pelas representações, os sujeitos descartaram a necessidade de organizar as informações e analisá-las, em busca de uma representação semiótica. Na maioria das vezes consideraram a visão obtida suficiente para descrever a figura. No item 4.2 da Atividade 4, notamos que um dos sujeitos do G4, diante da impossibilidade de “ver” a figura tridimensional a partir das curvas de nível, objetou quanto à capacidade do desenho em fazê-lo imaginá-la. Seu argumento era de que a representação era em 2D e que a figura era tridimensional (p. 134). Em outras palavras, de acordo com as concepções deste sujeito, se a figura pertence ao ambiente 3D, então deveria ser representada em 3D. Neste caso, entendemos que o sujeito refere-se à percepção visual da figura e não às possibilidades de visualização que podem ser mobilizadas por meio da organização de unidades representacionais (Duval, 1999), presentes tanto na representação tridimensional como em uma representação em duas dimensões. 14 A semiotic representation does not show the things as they are in the 3D environment or as they can be physically projected on a small 2D material support. That is the matter of visual perception. A semiotic representation shows relations, or better, organization of relations between representational units 150 Observamos, ao ler os protocolos, que os sujeitos do G3 e do G4 pareciam não relacionar as diferentes representações planas, tridimensionais e algébricas às figuras. No item 1.5 da Atividade 1, os sujeitos do G4 descreveram a representação do MODELO 2 como uma “escada circular” (p. 111), possivelmente em referência aos degraus que cada um dos gráficos parecia lembrar e no item 1.3 da Atividade 1 os sujeitos do G3 descreveram o MODELO 3 como “circunferências sobrepostas, todas com centro (0,0) e raio diferente em cada uma” (p. 106) e os sujeitos do G4 como “circunferência com centro em (0, 0) em todos os planos, variando o raio a cada plano” (p. 106). No item 6.3 da Atividade 6, os sujeitos do G4 parecem ter conseguido “ver” a figura tridimensionalmente, porém não mostraram ir além da percepção visual e descreveram a representação de um hiperbolóide de uma folha “como se fosse um funil ou dois cones unidos pelo vértice” (p. 143). Acreditamos que, caso tivessem desenvolvido a visualização da figura, iriam mobilizar e organizar as informações presentes na expressão algébrica e na representação tridimensional; e verificar que não havia vértices e que a figura não era um cone. Nos itens 3.3 da Atividade 3 e 6.1 da Atividade 6, solicitamos aos participantes que desenhassem as curvas de nível a partir do modelo de representação tridimensional. Nas duas oportunidades, verificamos que os sujeitos do G1 reproduziram um desenho compatível com a visão que se obtém quando o olhar do observador fica alinhado com o eixo Oz, no sentido de Oz+ para Oz-, porém não deram indicações de ter ido além da visão imediata possibilitada pelo modelo, quando poderiam coletar outras informações e organizá-las de modo a criar uma representação semiótica da figura. Em outras palavras, ao reproduzir nos protocolos a imagem que conseguiram captar por meio do olhar, mostraram que “viram”, mas não “visualizaram”. Observamos, contudo, que em pelo menos duas ocasiões, alguns sujeitos procuraram mobilizar outros aspectos, além dos intuitivos, e criar uma representação semiótica da figura. No item 3.3 da Atividade 3, ao esboçar as curvas de nível, os sujeitos do G2 não as identificaram de acordo com as cotas correspondentes, porém, na última atividade (item 6.1 da Atividade 6) mostraram observar outras informações 151 da representação, além da visão captada pelo primeiro olhar e identificaram-nas corretamente. A iniciativa de coletar e organizar informações adicionais presentes na representação, em busca de uma representação semiótica, pode indicar que neste caso e para este grupo, houve algum avanço em direção a aprendizagem esperada. No item 4.2 da Atividade 4, após todos os grupos terem respondido que a figura representada era um elipsóide, provocamos uma discussão sobre o tamanho dos espaçadores e verificamos que os sujeitos do G1 e do G2, depois de incitados, recorreram à representação plana em busca de informações que lhes permitisse validar a resposta que haviam dado, inicialmente baseada em aspectos intuitivos (p. 133). Os sujeitos analisaram os raios, as cotas, as curvas de nível e o espaçamento entre as transparências e concluíram que, independentemente do comprimento dos espaçadores (que poderiam inadvertidamente ter sido cortados em tamanho maior ou menor), a figura representada era um elipsóide. Para estes sujeitos, esta atividade foi capaz de promover a interação entre aspectos intuitivos, algorítmicos e formais envolvidos na associação entre o registro gráfico de representação e o objeto matemático representado. Ao analisar o percurso dos participantes dos grupos G1 e G2, concluímos que, pelo menos nesta atividade, a discussão desencadeada parece ter provocado a necessidade de ir além da visão imediata da representação tridimensional, levando-os a buscar outras informações. Como consideramos a visualização (Duval, 1999) essencial para a aprendizagem em Matemática, o processo de coleta e organização das informações, a nosso ver, permitiu, nesta atividade e para estes sujeitos, a visualização da figura e o avanço em direção à aprendizagem matemática do conteúdo estudado. No entanto, para a maioria dos sujeitos, as atividades que propusemos não foram suficientes para promover a visualização das superfícies quádricas ou a interação entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas envolvidas na aprendizagem deste conteúdo. Aspectos intuitivos, frutos de aprendizagens anteriores e fortemente enraizados, sobrepuseram-se aos demais, bloqueando 152 iniciativas que pudessem levar os sujeitos a buscar a validação formal de suas concepções prévias. Concluímos, a partir da consideração de que a visualização é fundamental para o entendimento em Matemática que, para a maioria dos sujeitos desta pesquisa, as atividades, embora mediadas por um modelo de representação tridimensional, não favoreceram o desenvolvimento da visualização de superfícies quádricas que lhes permitisse criar representações semióticas destas figuras e avançar em direção à aprendizagem esperada deste conteúdo. Como dissemos anteriormente, a fim de alcançar o nosso objetivo, elaboramos uma questão de pesquisa, que respondemos a seguir, subsidiados pela análise dos protocolos e das filmagens que foram coletados durante as atividades. Q. Uma sequência de atividades que envolvam tratamentos e conversões de registros de representação semiótica, mediadas por um modelo de representação tridimensional, pode favorecer a visualização das superfícies quádricas? R. As atividades que desenvolvemos foram mediadas por um modelo de representação tridimensional e previam a conversão entre diferentes registros de representação semiótica, porém, os dados que obtivemos não nos permitem afirmar que favoreceram a visualização, ou que tenhamos observado a interação entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas das superfícies quádricas. Não temos evidentemente condições de estender esta conclusão aos demais alunos, tampouco aos demais cursos de licenciatura, porém, acreditamos que mudanças no currículo que incluíssem a demonstração matemática como um dos tópicos a serem desenvolvidos poderiam fazer com que os estudantes mobilizassem, além de aspectos intuitivos, aspectos formais e algorítmicos em busca de respostas. 153 Além disso, ao considerar as dificuldades dos sujeitos desta pesquisa quanto ao registro discursivo, avaliamos que as disciplinas e atividades desenvolvidas nos cursos de licenciatura devem incentivar os futuros professores ao uso da linguagem natural em sua futura prática docente e que, no caso da Matemática, esta linguagem deve enquadrar-se dentro das restrições e formalidades, próprias desta área do conhecimento. 2: CONSIDERAÇÕES FINAIS Não consideramos como pré-requisito a condição de que os participantes não soubessem algo, como por exemplo, identificar a representação de uma superfície quádrica e relacioná-la ao seu nome. Acreditamos, é verdade, que quanto menos soubessem sobre as quádricas mais poderíamos inferir se houve ou não algum tipo de avanço que pudesse caracterizar o desenvolvimento da aprendizagem sobre este conteúdo. Salientamos, porém, que o desconhecimento sobre as superfícies quádricas não era um pré-requisito. Os participantes de nossa pesquisa tiveram aulas sobre superfícies quádricas, previstas em uma disciplina do curso, dois meses antes que iniciássemos as atividades. Não nos dedicamos em saber quão detalhadas e em que nível de aprofundamento se desenvolveram estas aulas. Entretanto, de acordo com a análise dos protocolos e subsidiados pelas discussões que conseguimos filmar dentro dos grupos e entre os grupos, acreditamos que não tenham atingido o nível de formalidade que conferisse aos alunos o domínio sobre este conteúdo. Parecem, no entanto, ter desenvolvido alguma aprendizagem, principalmente quanto à identificação das figuras, como por exemplo, na Atividade 4, quando nominaram a figura obtida como “elipsóide” (p. 131), ou na Atividade 6, quando chamaram a figura obtida de “hiperbolóide” (p.143). Ao encontrarem um nome que resumisse todas as propriedades da figura obtida, os sujeitos de certa forma “economizaram” outros tipos de descrições, que poderiam nos fornecer mais argumentos para que desenvolvêssemos nossa análise. Ao escrever que uma figura é um elipsóide, embora estivessem nominando-a corretamente, os sujeitos acabaram privando-nos involuntariamente 154 de material que poderia nos permitir verificar o quanto sabiam e o quanto teriam eventualmente evoluído com a utilização do modelo tridimensional. Devemos considerar, em um estudo que possa complementar as conclusões desta pesquisa, desenvolver as atividades em uma turma que ainda não tenha estudado o assunto e verificar se as descrições que dão sobre as figuras podem ser mais detalhadas. Ao conceber as atividades, consideramos a necessidade de que os sujeitos já tivessem desenvolvido aprendizagem sobre circunferências. De acordo com o conteúdo programático da universidade onde aplicamos a pesquisa, os alunos do curso de Licenciatura em Matemática frequentam a disciplina Geometria Analítica no 2° ano. Como o estudo das circunferências faz parte desta disciplina e como os sujeitos de nossa pesquisa são alunos matriculados no 3º ano, acreditamos que poderiam preencher esta condição. Apesar disto, consideramos que fosse necessário aplicar um questionário de revisão e propor uma retomada deste assunto, de modo que os participantes tivessem condições de desenvolver as atividades que proporíamos. A análise deste questionário permitiu-nos desenvolver uma atividade de institucionalização, com o objetivo de trazer à tona os saberes envolvidos na representação de circunferências. Como o objetivo de nossa pesquisa relaciona-se ao estudo das quádricas, embora tenhamos feito a análise das repostas que os sujeitos deram no questionário (p. 73), não aprofundamos esta análise a fim de verificar se conseguiram ou não desenvolver aprendizagem sobre as circunferências. Acreditamos, no entanto, que os dados obtidos a partir da análise das respostas que obtivemos indicam pontos importantes, como a grande incidência de erros relacionados ao fato dos sujeitos associarem o raio à equação reduzida da circunferência sem elevá-lo ao quadrado, ou ao fato dos alunos associarem um número negativo a soma de quadrados correspondente à equação reduzida da circunferência (p. 89). Estas constatações podem suscitar novos estudos e pesquisas sobre o tema. Ao elaborar a sequência de atividades, esperávamos, entre outras coisas, explorar a capacidade descritiva dos sujeitos. Para isso, solicitamos em algumas 155 atividades que descrevessem livremente os modelos, ou que imaginassem e descrevessem a figura a partir da sua projeção em um plano de base. Acreditávamos que, a partir dos registros discursivos em língua natural poderíamos fazer inferências sobre como os sujeitos conseguiam “ver” a representação e como conseguiam “visualizar” a representação, ou seja, como conseguiam mobilizar e organizar as relações entre as informações vistas em busca de uma representação semiótica da superfície quádrica estudada em cada atividade. Como dissemos nas conclusões da pesquisa, em alguns casos a concisão das descrições e a brevidade das respostas não foram suficientes para que conseguíssemos obter as impressões que gostaríamos. Em uma próxima oportunidade, ao repetir o experimento ou ao rever os objetivos em uma nova pesquisa, devemos considerar modificações no enunciado das questões, tornando-as mais direcionadas e menos genéricas, eventualmente dividindo-as em mais de um tópico, de modo a incitar nos sujeitos a reflexão e um maior detalhamento nas descrições. Em virtude da limitação de tempo que se impõe à produção de uma pesquisa de Mestrado, tendo em vista que havíamos concebido: a) resolução de um questionário de revisão sobre circunferências, b) análise das respostas do questionário, c) institucionalização sobre as circunferências, d) atividades com modelo de representação e finalmente e) análise das atividades; apesar de termos previsto a necessidade de entrevistas com os sujeitos, não tivemos condições de fazê-las e dirimir algumas dúvidas sobre as respostas que apresentaram no decorrer das atividades. Para citar um exemplo, no item 2.3 da Atividade 2, quando perguntamos sobre a possibilidade de representar outra figura a partir das mesmas transparências, os sujeitos do G3 responderam negativamente, dizendo que pelo seu “ponto de vista não”, porém “por outro ponto de vista poderia se feito” (p. 124). Não conseguimos descobrir, pela análise dos protocolos, se estavam falando do “ponto de vista” matemático, em referência ao local onde o observador se coloca para observar determinado fenômeno; ou se estavam referindo-se ao “seu ponto de vista” como quem quisesse dizer “em minha opinião”, “a meu ver”. Neste caso, uma entrevista com estes sujeitos poderia esclarecer-nos. 156 Em uma próxima oportunidade, devemos considerar um número menor de atividades, menos abrangentes, direcionadas a um número menor de superfícies quádricas, porém mais específicas além de prever no cronograma da pesquisa um tempo dedicado à entrevista individual dos sujeitos, logo após a análise das atividades, como modo de complementar as descrições por escrito. A componente intuitiva, conforme escreve Fischbein (1993), parece, por vezes suplantar qualquer iniciativa de formalismo. Orientados por esta consideração teórica, procuramos desenvolver atividades que, a nosso ver, pudessem mobilizar aspectos formais, algorítmicos e intuitivos dos conteúdos matemáticos relacionados às superfícies quádricas. Ao analisar os protocolos, no entanto, nos demos conta de quão coercivos podem ser aspectos intuitivos, que nas atividades foram trazidos à tona sem a necessária validação teórica, a bloquear eventuais possibilidades de interação com aspectos formais e algorítmicos e a dificultar possíveis organizações de informações em direção à visualização das superfícies quádricas. Em uma próxima investigação, devemos considerar atividades e questionamentos específicos, que levem os sujeitos a desenvolver uma reflexão sobre as respostas, validando-as teoricamente por meio da mobilização de outras componentes além das intuitivas. Para Duval (1999) O uso de visualização requer um treinamento específico para visualizar cada registro. Figuras geométricas ou gráficos cartesianos não são diretamente disponíveis como podem ser as representações icônicas. A aprendizagem não pode ser reduzida à treinar a construção destes registros (DUVAL, 1999, p. 14, tradução nossa 15). Subsidiados por esta consideração teórica, acreditamos que, para que haja aprendizagem, é necessário que os sujeitos compreendam que o acesso aos objetos matemáticos não se dá de forma direta e imediata, como ocorre nos casos de representações icônicas (um carro, uma casa, uma árvore). 15 The use of visualization requires a specific training, specific to visualize each register. Geometric figures or Cartesian graphs are not directly available as iconic representation can be. And their learning cannot be reduce do training to construct them. 157 Acreditávamos que as unidades representacionais (gráficos de circunferências, informações impressas sobre cotas, informações impressas sobre raios, expressões algébricas, curvas de nível) presentes nos modelos de representação tridimensional e nas atividades que propusemos, pudessem fazer com que os sujeitos, além de “vê-las”, considerassem-nas e organizassem-nas, a fim de desenvolver a visualização e criar representações semióticas das superfícies quádricas. Notamos, no entanto, que, por vezes, os sujeitos se referiam às representações como se fossem ícones, relacionando-as a “molas”, “funis”, “alvos”, “escadas”, entre outros. Devemos considerar, em uma próxima oportunidade, a concepção de atividades que façam com que os sujeitos sintam-se impelidos a mobilizar outros aspectos que não a percepção visual. A discussão que provocamos na Atividade 4 (p. 133) mostrou que é possível incitar os sujeitos nesta direção e pode servir de referência para a criação de outras atividades. Não tínhamos condições de filmar todos os participantes durante todo o tempo da atividade, então optamos em solicitar ao cinegrafista que nos acompanhou que filmasse as atividades por amostragem, ora focando um grupo, ora outro, de acordo com as discussões que ocorriam nos grupos e de acordo com a nossa orientação. A estratégia rendeu bons resultados, pois conseguimos captar algumas discussões importantes, porém, o eco da sala onde realizamos as atividades acabou prejudicando a audição de outros diálogos, que poderiam complementar a análise. Em uma próxima oportunidade devemos considerar, além da filmagem, a colocação de um gravador de áudio em cada grupo, a fim de evitar esta limitação. Terminamos esta pesquisa, mas não acabamos com a curiosidade, nem com a vontade de investigar e aprofundar-nos sobre o assunto, pelo qual acabamos nos apaixonando, relacionado às representações. Acreditamos que mudanças nos enunciados das questões, na concepção dos modelos tridimensionais e na dinâmica das atividades possam oferecer outras oportunidades de estudo e reflexão, em busca de uma abordagem que favoreça a aprendizagem de superfícies quádricas, para que outros, como nós, também se apaixonem pelo saber. 158 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROUSSEAU, Guy. Theory of didactical situations in Mathematics: didactique des Mathématiques. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 1997. CARAÇA, B. J. Conceitos Fundamentais da Matemática. Lisboa: 1978. DE FREITAS, José Luiz Magalhães. Teoria das situações didáticas. In: DA SILVA, Benedito Antonio et al. Educação Matemática: uma (nova) introdução. São Paulo: Educ, 2008. P. 77-111. DE SOUZA, Vera Helena Giusti. 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Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) - Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro, 1998. 160 APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS 1) Indique qual é a expressão algébrica correspondente à representação gráfica, de acordo com a tabela abaixo, sabendo que o ponto C corresponde ao centro da circunferência: a) x2 + y2 = 3 x − y2 = 9 2 x + y2 = 9 2 x − y2 = 3 2 b) x2 + 3y 2 = 9 x2 + y2 = 2 x 2 − y 2 = −4 x − y2 = 2 2 x + y2 = 4 2 x + y = 4 2 c) ( x − 2 ) + ( y + 3) = 3 2 2 ( x − 2 ) + ( y + 3) = 9 2 2 x2 y2 + = 9 2 3 (x + 2) 2 + ( y − 3) = 9 2 (x − 2 ) 2 + ( y + 3) = − 9 2 161 2) Indique qual é a representação gráfica correspondentes à expressão algébrica: a) x2 + y2 = 4 162 b) ( x + 3 )2 + ( y − 2 ) 2 =9 163 3) Indique qual é a descrição correspondente à representação gráfica: a) i. Circunferência com centro em (‐3, 2) e raio de comprimento 2 ii. Circunferência com centro em (2, ‐3) e raio de comprimento 2 iii. Circunferência com centro em (‐3, 2) e raio de comprimento 4 b) i. ii. iii. c) i. ii. iii. d) Circunferência com centro em (0, 3) e raio de comprimento 3 Circunferência com centro em (3, 0) e raio de comprimento 3 Circunferência com centro em (3, 0) e raio de comprimento 6 i. ii. iii. Circunferência com centro em (0, 0) e raio de comprimento 6 Circunferência com centro em (0, 0) e raio de comprimento 9 Circunferência com centro em (0, 0) e raio de comprimento 3 Circunferência com centro em (2, 2) e raio de comprimento 2 Circunferência com centro em (2, 0) e raio de comprimento 4 Circunferência com centro em (2, 2) e raio de comprimento 4 164 4) Indique qual é a descrição correspondente à expressão algébrica: a) i. ( x − 5 )2 − ( y + 3 )2 = 16 ii. iii. b) i. x 2 + ( y − 4) = 5 2 ii. i. 2 x 2 + ( y + 3) = 6 2 d) Circunferência com centro em (0, 4) e raio de comprimento 5 Circunferência com centro em (0, 4) e raio de comprimento 5 iii. c) Circunferência com centro em (5, ‐3) e raio de comprimento 4 Circunferência com centro em (5, ‐3) e raio de comprimento 16 A expressão algébrica não corresponde a uma circunferência ii. A expressão algébrica não corresponde a uma circunferência Circunferência com centro em (0, ‐3) e raio de comprimento 6 Circunferência com centro em (0, ‐3) e raio de comprimento 6 iii. A expressão algébrica não corresponde a uma circunferência i. Circunferência com centro em (0, 0) e raio de comprimento 7 x2 + y2 = 7 ii. iii. Circunferência com centro em (0, 0) e raio de comprimento 7 A expressão algébrica não corresponde a uma circunferência 165 APÊNDICE B - ATIVIDADES COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL Atividade 1 Seu grupo irá receber três modelos feitos a partir de transparências sobrepostas. Observe‐os e procure descrevê‐los com palavras, fornecendo as informações que julgar necessárias para que alguém que não tenha visto os modelos consiga reproduzi‐los. 1.1) Modelo 1 1.2) Modelo 2 1.3) Modelo 3 1.4) Quais são as diferenças observadas entre um modelo e o outro? 1.5) Como você imagina que seria a projeção destes modelos no plano de base? Justifique. 1.6) Você acha que seria possível imaginar um objeto tridimensional a partir da projeção horizontal das diversas circunferências sobre o plano de base? Justifique. 166 Atividade 2 Seu grupo receberá 11 transparências impressas com representações gráficas de circunferências com centro na origem e com diferentes comprimentos de raio. Também receberá hastes e espaçadores para que as transparências possam ser montadas, a exemplo do modelo que estávamos usando na atividade anterior. 2.1) Monte as circunferências nas hastes, de forma que fiquem sobrepostas umas às outras e espaçadas entre si. 2.2) Descreva, com palavras, quais foram os critérios que o seu grupo utilizou quanto à escolha do tamanho das circunferências e quanto à posição em que decidiram colocá‐las. 2.3) Você acha que seria possível criar a representação de outro sólido, a partir das mesmas 11 transparências? Justifique. 167 Atividade 3 3.1) Utilizando as 11 transparências que foram entregues ao seu grupo, monte uma representação tridimensional correspondente à expressão algébrica x 2 + y 2 = z , para os valores inteiros de z=0 a z=10. 3.2) Você consegue identificar alguma relação entre os valores de z e o raio das circunferências? Justifique sua resposta. 3.3) Após terminar a montagem, imagine que as transparências sejam projetadas no plano da base. Desenhe as diversas projeções no plano cartesiano representado abaixo, identificando‐as. 168 Atividade 4 4.1) Utilizando as 11 transparências que foram entregues ao seu grupo, monte a representação tridimensional correspondente à representação bidimensional dada no gráfico abaixo. 4.2) Descreva a figura que foi obtida. . 169 Atividade 5 Diante da expressão x 2 + y 2 − z 2 = 10 , um aluno verificou que pode isolar as variáveis x e y em um dos lados da equação e obter assim a equação reduzida de uma circunferência, cujo raio depende do valor de z. x 2 + y 2 = 10 + z 2 5.1) A partir das ideias deste aluno, complete a tabela e responda as questões abaixo. Valor de z Expressão z= ‐4 Raio z= ‐3 z= ‐2 z= ‐1 z= 0 z= 1 z= 2 z= 3 z= 4 5.2) Qual é a relação entre o valor de z e o raio da circunferência? 5.3) Dentre as circunferências obtidas, existe alguma cujo raio tenha o comprimento igual a 4,5 unidades? Se existe, em que altura você a colocaria? Justifique. 5.4) Dentre as circunferências obtidas, existe alguma cujo raio tenha o comprimento igual a 2,5 unidades? Se existe, em que altura você a colocaria? Justifique. 170 Atividade 6 6.1) Utilizando o plano cartesiano abaixo, desenhe as curvas correspondentes à expressão algébrica x 2 + y 2 − z 2 = 10 para os valores inteiros de z=‐5 a z=5. 6.2) Reproduza a figura tridimensional correspondente à expressão dada, utilizando as 11 transparências que foram entregues ao seu grupo. 6.3) Descreva, com palavras, a figura obtida. 171 ANE EXO A – TERMO DE E CONSEN NTIMENTO O LIVRE E ESCLARE ECIDO UNIVER RSIDADE BANDEIR RANTE DE E SÃO PAU ULO CONS SELHO DA A PÓS-GRA RADUAÇÃO O E PESQU UISA CO OMISSÃO DE D ÉTICA (Resoluçã ão CONSEP PE-UNIBAN N nº 17/06 de d 11/02/20 006) TERMO O DE CONSE ENTIMENTO O LIVRE E ESCLARECID DO Você ê está send do convidad do(a) a parrticipar, com mo voluntá ário, de um ma pesquisa a. Após serr escla arecido(a) sobre s as in nformações s a seguir, no caso de e aceitar fa azer parte do estudo,, assin ne ao final deste docu umento, que está em duas vias. Uma delas s é sua e a outra é do o pesq quisador re esponsável. Em caso o de recu usa você não sofrerá nenhum m tipo de e pena alidade. Se e você tive er alguma consideraçã ão ou dúv vida sobre a ética da a pesquisa,, entre e em conta ato com a Comissão C de e Ética – Av. A Braz Le eme, 3029 – 1º andar Telefones s 2972 2-9020 / 90 021, FAX: 2972-9028 8 – E-mail: secretariap [email protected] 1 – Título T Do Projeto: P “Attividades pa ara o Estud do de Supe erfícies Quá ádricas, Me ediadas porr Mode elos de Rep presentação o Tridimens sional”. 2 – O objetivo deste estu udo é inves stigar se a utilização de modelo os tridimensionais em m ativid dades que e contempllem conversões entrre diferenttes registro os de representação o semiiótica pode e favorecerr a visualiz zação de superfícies s quádricas na aprendizagem da a codifficação e da a decodifica ação de rep presentaçõe es planas dessas d supe erfícies. onário e pa 3 – Durante D a pesquisa, p v você será solicitado a responder um questio articipar de e algun ns encontros onde re ealizaremos s um conju unto de atividades. Estas ativida ades serão o filma adas por um m cinegrafista, a fim de subsidia ar a análise e que será feita poste eriormente. As im magens não serão div vulgadas e as identidades dos participante p es serão prreservadas. Cada a atividade poderá env volver uma a parte práttica, uma re esolução e//ou uma discussão de e ques stões sobre e a codifica ação e/ou decodificaç ção de reprresentações planas de d algumas s supe erfícies quád dricas. 4 – Em E cada en ncontro, de esenvolvere emos a ativ vidade desig gnada para a ele, indiviidualmente e ou em e grupos. As discus ssões surg gidas, gere enciadas pe elo principa al investiga ador, Prof. Rena ato Mendes s Mineiro, serão s obse ervadas e filmadas. f O protocolo Os os serão re ecolhidos e deles s serão tira ados os dad dos qualitattivos. 5 – Os dados analisados a serão utilizados de forma f sigilo osa. As ima agens e so ons obtidos s por meio m da film magem das s atividade es só serão utilizados pelo principal investig gador para a escla arecer dúvid das que po ossam surgir durante a análise do os protocollos e das ob bservações s escriitas. 172 6 – Somente no final do estudo poderemos concluir a presença ou não de algum benefício, na forma de propostas de abordagens de ensino diferentes da usual, para a Matemática em geral e para o caso da codificação e da decodificação de representações planas de superfícies quádricas. 7 – Garantia de acesso: em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. O principal investigador é o mestrando Renato Mendes Mineiro, que pode ser encontrado em seu local de trabalho, à Rua Carlos Villalva, 01 - 11º andar, tel. (11) 3779-0670 ou (11) 8509-5925, email [email protected]; e a orientadora é a Prof.a Dra. Vera Helena Giusti de Souza, que pode ser encontrada na UNIBAN – Campus MR, à Av. Braz Leme, 3029 – 1º andar , tel. (11) 2972-9045 ou (11) 3743-7240, e-mail [email protected]. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com a Comissão de Ética – Av. Braz Leme, 3029 – 1º andar Telefones 2972-9020 / 9021, FAX: 2972-9028 – E-mail: [email protected]; 9 – É garantida a liberdade de retirar o consentimento a qualquer momento e de deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo à continuidade de seu vínculo com a Instituição. 10 – Direito de confidencialidade – As informações obtidas, assim como as imagens e sons obtidos pela filmagem serão analisados no conjunto de participantes, não sendo divulgada a identificação de nenhum destes. 11 – Direito de ser mantido atualizado – Os resultados parciais das análises serão compartilhados, à medida que forem obtidos. 12 – Despesas e compensações: não há despesas pessoais para o participante em qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. 13 – Os dados analisados serão utilizados somente para esta pesquisa. 173 Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Atividades para o Estudo de Superfícies Quádricas, Mediadas por Modelos de Representação Tridimensional”. Eu discuti com o mestrando Renato Mendes Mineiro a minha decisão em participar desse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízos ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento nesta unidade de ensino. Assinatura do aluno/representante legal Data / / (Somente para o responsável do projeto) Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo. Assinatura do responsável pelo estudo Data / / 174 ANEXO B – PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA