Apostila de História 03 – República Velha (1889-1930) 1.0 Diferentes Projetos Republicanos Proclamação da República – União entre o exército e os cafeicultores paulistas; República recém-nascida – Temor de um contragolpe monárquico; República da Espada – Governos militares dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto; Projeto Republicano Liberal: Cafeicultores paulistas; Inspirado no sistema norte-americano; Descentralização política – Autonomia aos estados; Liberdades individuais – Direito de locomoção, da propriedade e de livreexpressão; Sistema de livre-competição econômica; Separação dos 3 poderes; Instauração de eleições; Separação da igreja e do Estado. Projeto Republicano Jacobino: População urbana – Baixa classe média e setores intelectualizados; Inspirado na Primeira República Francesa; Xenófobos – Principalmente anti-lusitanos; Liberdade pública de reunião e discussão – Decisão coletiva dos destinos da nação; Participação popular na administração pública. Projeto Republicano Positivista: Exército; Inspirado nas idéias do filósofo francês Auguste Comte; Visa a promoção do progresso na base da ordem; Governo centralizado – “Ditadura republicana”. 2.0 Governo Provisório (1889-1891) Governado por Deodoro da Fonseca; Objetivo – Resolver os principais problemas do país e dirigir o país até que se fosse criada uma nova constituição; Problemas iniciais: Falta de apoio da marinha; Autoritarismo de Deodoro da Fonseca. Extinção de instituições imperiais; Banimento da família imperial; Separação da Igreja e do Estado; Grande projeto de naturalização: Cidadania brasileira a todos os estrangeiros residentes no Brasil; Maior número de pessoas votando. Nomeação de Rui Barbosa para o ministério da Fazenda: Tendências simpáticas ao exército e positivistas; Promoveu medidas ao progresso industrial – Primeira vez na história que o Estado decidia-se em favor de uma proposta industrialista. Desenvolvimento industrial: Problemas: Falta de recursos; Grande demanda por moeda. Soluções: Emissão de papel-moeda; Facilitação de estabelecimento de sociedades anônimas; Novo regime de taxas alfandegárias – Dificultar a entrada de produtos estrangeiros. Consequências: Emissão de papel-moeda sem lastro – Sem montante equivalente de ouro mantido como reserva; Encilhamento – Processo inflacionário marcado pela febre especulativa; Ingenuidade de Rui Barbosa – Sonho de transformar rapidamente um país agrícola recém assalariada em uma potência industrial; Insatisfação dos cafeicultores. Retardação da instalação da assembléia constituinte; Constituição de 1891 – Projeto previamente preparado por uma comissão liderada por Rui Barbosa e inspirado na constituição norte-americana: República federativa com governo central e 20 estados membros, com autonomia jurídica, administrativa e fiscal; Divisão dos 3 poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário, ambos independentes entre si; Voto universal masculino, não secreto – Excluía mulheres, analfabetos, mendigos, menores de 21 anos, padres e soldados. O primeiro presidente da República não seria eleito pelo voto universal, e sim pela assembléia constituinte – Deodoro da Fonseca transformou-se no primeiro presidente constitucional da república brasileira. 3.0 Governo Constitucional – República da Espada 3.1 Deodoro da Fonseca (1891) Pressões militares sobre cafeicultores e oligarquias agrárias em geral – Permanência do marechal Deodoro na presidência; Elite civil – Criticava os efeitos da política econômica do governo, querendo representantes civis no poder; Novo governo: O presidente submete-se a um Congresso formado predominantemente de cafeicultores; Choques entre presidente e Congresso – Primeira grande crise política republicana. Convocação para ministro da Fazenda – Barão de Lucena: Adepto à monarquia; Desconfiança do exército; Cafeicultores mais insatisfeitos – Temem um retorno à monarquia. Estado de sítio: Fechou o Congresso; Prendeu vários políticos da oposição; Fuga dos principais líderes da oposição – Articula-se uma resistência ao golpe; Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul – A oposição arma-se; Aumento da oposição no exército. Greve dos trabalhadores da estrada de Ferro Central do Brasil – Primeira grande greve política; Insatisfação da marinha – Navios atracados no Rio de Janeiro, ameaçando bombardear a cidade, exigindo a renúncia de Deodoro da Fonseca. 3.2 Floriano Peixoto (1891-1894) Diplomático – Conseguiu o apoio dos republicanos radicais e dos positivistas; Autoritarismo exercido dentro dos limites da constituição; Política econômica voltada para questões sociais e populares do republicanismo radical quanto para as ambições modernizadoras dos positivistas; Conseguiu o apoio dos cafeicultores; Paternalismo – As camadas mais pobres não participavam do governo, mas recebiam algumas concessões (“presentes”); Protecionismo – Proteger a indústria nacional da concorrência estrangeira; Nacionalismo exacerbado – Incitação da xenofobia dos republicanos radicais; Falsa concepção da nação brasileira – Escondia as desigualdades sociais. 3.2.1 Revoltas Revoltas eram apoiadas no argumento de inconstitucionalidade: Pela constituição de 1891, o presidente e o vice deveriam ser eleitos por voto direto, por maioria absoluta, e o vice só poderia assumir a presidência no caso de impedimento ou morte do titular, se houvesse decorrido metade do mando presidencial; Deodoro renunciou à presidência passada apenas noves meses do seu mandato. Manifesto dos 13 generais: 13 generais do exército assinaram um manifesto pedindo o afastamento do presidente e a realização de eleições; Reação dura e dentro da lei de Floriano. Revolução federalista: A oposição de Floriano no Rio Grande do Sul (Partido Federalista) era contrária à excessiva centralização política; Federalistas se levantaram contra os republicanos – Transformação do conflito estadual em nacional. Revolta da Armada: Oficiais da marinha ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro, exigindo a renúncia de Floriano Peixoto – Resistência; Rio de Janeiro foi bombardeado de setembro de 1893 a março de 1894; Revolução Federalista se une à Revolta da Aramada; Contra-ofensiva de Floriano – Derrotou os federalistas e a marinha. 3.2.2 Equilíbrio Político Delicado Proximidade da sucessão presidencial por eleições diretas; Cafeicultores paulistas preparavam-se para a escolha do seu presidente – Republicano Prudente de Morais; Fracasso dos outros projetos positivistas; Acessão do projeto liberal dos paulistas – Pouco democrática: Exclusão política; Fraude; Dificuldades quanto à garantia do direto à propriedade privada; Perpetuação da desigualdade social; Voto – Acessível para poucos. 4.0 Transição para o Poder Civil (1894-1898) 4.1 Prudente de Morais Caráter transitório – Possibilidade de retorno dos militares ao governo; Objetivo primário – Fazer o país voltar à normalidade dentro do projeto político liberal da oligarquia cafeeira; Fim da Revolução Federalista – Habilidade política de Prudente ao anistiar os principais líderes da revolução; Reatou relações diplomáticas com Portugal; Tomou posse da Ilha de Trindade; Resolveu as questões das fronteiras com a Argentina – Intermediação: Estados Unidos; Morte de Floriano Peixoto por causa da crise hepática – Catalisador de reações contra Prudente do grupo jacobino-florianista; Afastamento temporário de Prudente de Morais por motivos de saúde – Assume o vice-presidente florianista; Retorno de Prudente – Defendeu os interesses dos cafeicultores, contrariando totalmente a tendência modernizadora e nacionalista dos governos passados. 4.2 Guerra de Canudos (1896-1897) Causas: Injusta situação fundiária; Total abandono do estado sobre as populações mais humildes. As tensões sociais explodiam com mais freqüência nos momentos de seca prolongada; Opções dos sertanejos: Emigração – Meios de transporte inviáveis; Banditismo social – Cangaço; Misticismo religioso: O apoio do imaginário espiritual, vida religiosa e mística; Desenvolvia-se em torno de um líder messiânico, carismático. Antônio Conselheiro percorria o Nordeste proclamando o Reino de Deus e prestando assistência à população mais pobre: Discurso cativante - Reuniu seguidores e cangaceiros; Estabeleceu-se na fazenda de Canudos – Fundação da aldeia de Belo Monte. Crescimento demográfico de Canudos – Apresentava uma alternativa para o regime a qual estavam submetidas; Analogia de Canudos com quilombos – Visto como ameaça pelo governo da Bahia; Conselheiro criticava o governo republicano – Visto como manifestação anticristo: Casamento civil; Eleições diretas; Apelava-se para um Salvador, o Rei português – Atribuição de Conselheiro a monarquista. Primeira expedição de 100 homens do exército foi massacrada por Canudos; Segunda expedição de 500 soldados, metralhadoras e canhões fracassaram a caminho de Canudos; Terceira expedição de 1300 homens do sul do país, comandados pelo vencedor da Revolução Federalista fracassou; Quarta expedição de 15000 soldados montou um cerco em Canudos; O próprio ministro da Guerra partiu para Canudos com mais reforços; Intenso bombardeio a Canudos, que estava sem suprimentos – A população continuava a crescer, demonstrando ser preferível morrer ao lado de Conselheiro a levar uma vida miserável; 5 de outubro de 1897 – Derrota de Canudos. 4.3 Sucessão de Prudente de Morais Prudente é vítima de um atentado – Declaração de estado de sítio; Decadência do florianismo; Próximo presidente, Campos Sales – Início do incontestável domínio oligárquico. 5.0 Ordem Oligárquica (1898-1914) 5.1 Economia Antes – Oligarquias exerciam o poder de forma indireta; Depois – Oligarquias exerciam o poder de forma direta; Características: Monocultura; Latifundiária; Produção para mercado externo; Exploração da mão-de-obra. Problemas: Superprodução do café – Queda de preços; Impossibilidade de pagar a crescente dívida externa; Crescente inflação; Decadência da produção de alimentos para consumo interno – Importações; Não desenvolvia manufaturas internamente – Importações; Dependência das oscilações do mercado internacional. Funding-loan – Renegociação da dívida externa entre o Brasil e os bancos credores: Concessão de um empréstimo para pagamento dos juros da dívida externa brasileira nos 3 anos seguintes; Concessão de um prazo de dez anos, além dos 3 iniciais, para que se iniciasse o pagamento da nova dívida; Confiscação de toda a receita da alfândega do Rio de Janeiro, além de, em caso de necessidade, outras alfândegas, das receitas da estrada de Ferro Central do Brasil e do serviço de abastecimento de água do Rio de Janeiro; Obrigação assumida perante os bancos de sanear a moeda brasileira – Fortalecê-la para combater a inflação; Não deu certo – A crise do café ainda não tinha sido resolvida, resultando num novo funding-loan; Realização de um corte nos gastos do governo – Paralisação quase total das obras públicas e dos estímulos às indústrias; Aumento da arrecadação de impostos com criação de novas taxas – Produtos de consumo; Redução da emissão de papel-moeda – Queda de inflação; Valorização do mil-réis em relação à libra inglesa – Barateação dos produtos importados; Queda acentuada na atividade econômica do país – Recessão; Aumento do desemprego; 5.1.1 Política de Valorização do Café Convênio de Taubaté: Reunião dos cafeicultores na cidade de Taubaté; Plano de intervenção estatal na cafeicultura com o objetivo de promover a elevação dos preços do produto. Os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro compraram toda a produção cafeeira – Estoques reguladores; O café estocado seria vendido no mercado internacional conforme surgisse a demanda; A compra pelo Estado só foi possível com o empréstimo de bancos ingleses e norteamericanos – Aumento da dívida externa; Se a demanda por café não surgisse – Destruição do mesmo, gerando prejuízos para o Estado; Elevação dos preços do café brasileiro – Estimulação da produção de café em outros países. 5.1.2 Borracha Segunda Revolução Industrial – Novas necessidades da indústria; Extração e exportação em larga escala da borracha – Principal fundamental na indústria de automóveis; A borra é extraída da seringueira: Nativo das florestas tropicais da América; Amazonas – Maior reserva natural dessa árvore. 1910 – A borracha representava 40% do valor das exportações – Aproxima-se do café; Trabalhadores: Nativos e emigrantes nordestinos; Condições péssimas de trabalho. Questão do Acre: Trabalhadores brasileiros penetraram no Acre (território boliviano); Brasil e Bolívia assinam o tratado de Petrópolis – O Brasil anexaria o Acre e pagaria uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas para a Bolívia. Borracha nunca foi uma alternativa ao café; 5.2 Mecanismos Políticos do Poder Oligárquico 5.2.1 Controle Federal – Política do Café-com-leite As oligarquias paulistas (PRP – Partido Republicano Paulista) e mineiras (PRM – Partido Republicano Mineiro), querendo defender suas influências no poder político, formaram uma aliança que defendia a alternância de políticos dos 2 estados na presidência; São Paulo – Poder econômico (maior produtor de café; Minas Gerais – Maior número de eleitores. 5.2.2 Controle Estadual – Política dos Governadores Acordo entre o presidente e os governadores, sendo que estes apoiariam o presidente cedendo votos para deputados e senadores, em troca da autonomia dos estados; Qualquer meio era válido nas eleições, até fraude eleitoral; Comissão Verificadora de Poderes – Se fosse eleito para o Congresso um deputado da oposição, este não seria empossado; Voto não era secreto – Manipulação total. 5.2.3 Controle Municipal – Coronéis Poder econômica – Grandes latifundiários; Prestígio social e poder político em suas localidades; Clientelismo – Controlava a população mais pobre, protegendo-as e exigindo obediência total; Abandono do Estado sobre as classes mais pobres permitiu a ascensão dos coronéis; Fraudes eleitorais – Roubo de urnas, falsificação de títulos de eleitor, intimidação dos eleitores; Voto do cabresto – Violência para “convencer” o eleitorado a votar no candidato dos coronéis; 5.3 Lutas Sociais 5.3.1 Revolta Popular de 1904 – Revolta da Vacina Urbanização do Rio de Janeiro: Europeização da cidade; Contingentes populares foram expulsos de suas casas; Saneamento da cidade – Combate à peste bubônica, malária e varíola. Instituiu-se a vacinação obrigatória contra a varíola – Estopim da revolta; Ignorância da população quanto aos efeitos da vacina – Revolta da população contra os agentes sanitários; Durante uma semana a cidade foi palco de violentos combates – Forças da polícia e do exército reprimiram os rebeldes. 5.3.2 Revolta da Chibata (1910) Em Minas Gerais e São Paulo, existia um velho regimento disciplinar que previa castigos corporais violentos, utilizando a chibata, até para infrações mais leves; Maus tratos sofridos pelos marujos por parte os oficiais, somada às más condições de alojamento e alimentação – Estopim para a revolta; Ameaça de bombardear Rio de Janeiro, solicitando o fim dos castigos com a chibata na marinha; Governo decide aceitar os termos após a entrega dos navios; Outros fuzileiros navais revoltaram-se contra o governo com propostas semelhantes às dos marinheiros, mas sem o fogo intimidador de antes – Repressão violenta do governo; Declaração de estado de sítio e aprisionamento dos principais líderes da revolta – desrespeito a anistia concedida anteriormente; 5.3.3 Revolta do Contestado (1914) Causas: Isolamento e abandono em que vivia a população entre os estados do Paraná e Santa Catarina; Território “contestado” pelos 2 governos estaduais. O território abandonado atraía grupos marginalizados, onde se desenvolveram comunidades místicas em torno de líderes messiânicos – José Maria; Analogia a Canudos; Alternativa de vida ao poder político dos coronéis – Região era vista, aos olhares das elites, como uma ameaça; Repressão violenta.