http://www.devir.com.br/rpg/index.php?pagina=rpgeducacao II Simpósio RPG & Educação O Lúdico e a Construção do Conhecimento O 2º Simpósio de RPG & Educação reuniu quase mil pessoas entre educadores e interessados em geral, durante os dias 28, 29 e 30 de março de 2004, no Centro Cultural São Paulo.Alguns vieram de outros estados como Bahia, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Através de palestras, mesas-redondas e oficinas básicas e avançadas, este 2º Simpósio teve como objetivo apresentar o RPG aos interessados, além de desmistificar sua prática e oferecer aos educadores que já tiveram contato com o RPG a oportunidade de aprimoramento das técnicas de criação e condução de histerias interativas com fins pedagógicos. Trouxe ainda, novas experiências não apenas nos ambientes acadêmico e escolar, como também no universo empresarial e no âmbito da cidadania. Além disso, cerca de cem Mestres de RPG narraram aventuras para 450 educadores que participaram das oficinas culturais e para 150 crianças e adolescentes de entidades beneficentes da Zona Sul, de São Paulo. O evento foi organizado pela Ludus Cuturalis e realizado pela Secretaria Municipal da Cultura e Prefeitura do Estado de São Paulo, com patrocínio da Devir Livraria e apoio da Apeoesp, Sinpem, Terramédia e da revista ABCeducatio. A seguir um pequeno relato dos três dias de intensa atividade: Primeiro Dia - O dia começou com uma pequena apresentação realizada por Douglas Quintas Reis, seguido pela palestra “O que é RPG??”, com Carlos Eduardo Lourenço. Ambos tinham como principal objetivo transmitir noções básicas sobre o RPG (Role Playing Game). Muitas questões abordadas trataram da “Jornada do Heróii”, pensamento construído por Joseph Campbell em seus livros, e também da construção de pensamentos e o desenvolvimento psicogenético de Piaget, tudo em cima de uma abordagem construtivista e de acordo com a LDB (Leis e Diretrizes Básicas da Educação). A experiência não ficou na teoria, pois foi seguida de uma sessão prática de RPG, onde de modo cognitivo, todos puderam assimilar os principais conceitos e formar suas próprias opiniões através da reflexão de suas próprias experiências. A atividade incluía a aventura-pedagógica “O Resgate dos Retirantess”, escrita por Carlos Eduardo Lourenço (Devir Editora), onde através da vida e obra do pintor Cândido Portinari, os participantes puderam acompanhar de forma lúdica o processo de criação de uma história interativa. Segundo Dia - A primeira mesa-redonda foi “O RPG em Sala-de-aula: Duas Experiênciass”, apresentada pelas professoras Rosangela B.B. Mendes e Vivien Morgato, transmitiram aos educadores relatos bem sucedidos sobre os benefícios alcançados com a transmissão de conteúdos através de historias interativas e o processo que utilizaram para transformar os conteúdos curriculares em narrativa interativa de caráter pedagógico. Citando Frenet (na questão da autonomia e solidariedade) e Paulo Freire (sobre o medo da realização do novo) ambas relataram um novo ânimo dos educandos através do uso do RPG como motivador e transmissor de conteúdos. A seguir o psicólogo Antonio Fernando Stanziani, em sua palestra ”O Lúdico e o Desenvolvimento da Personalidadee”, mostrou a importância do lúdico, da ficção e, particularmente do RPG na formação da personalidade e da identidade de crianças e adolescentes. Ele transmitiu noções psicológicas sobre o jogo e sua simbologia, tratando desde uma explicação da necessidade da construção de um conjunto de regras às suas aplicações pedagógicas. Huizinga e Jung estiveram na base dos estudos que esclareceram aos participantes sobre a estruturação do Ego e o desenvolvimento da personalidade decorrentes da construção e vivência de um personagem em um ambiente fictício-narrativo, levando ao auto-conhecimento e a descoberta das próprias potencialidades. Depois aconteceu a mesa-redonda “O Teatro Épico do Improvisoo”, que apresentou noções sobre o Live Action ((“ação ao vivo”), uma modalidade de interação que exige muita pesquisa sobre a época onde se ambienta a história a ser narrada, já que seus participantes devem se trajar, pensar e falar como se fosse realmente um espetáculo teatral. Instituições como o Graal, Confraria das Idéias e diversas iniciativas particulares apresentaram seus projetos de construção de histórias que transmitissem, além de uma aventura narrativa, um conhecimento cultural de ambientes históricos ou fictícios através de encenações, pois relatos têm demonstrado que a pesquisa prévia e a interpretação mais elaborada são extremamente benéficas para a utilização pedagógica. A última palestra do dia, realizada pela professora América dos Anjos Costa Marinho, integrante do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), transmitiu aos presentes o apoio pedagógico através do relato da criação do projeto “Ensinar e Aprenderr”, em parceria com a Secretaria de Educação, visando a utilização do RPG para a transmissão de conhecimentos nos componentes curriculares de História e Língua Portuguesa, da 5ª a 8ª série do Ciclo Fundamental. O projeto criado em 1995 tem como objetivo auxiliar educandos em classe de aceleração visando sua interação com os demais participantes, iniciação na linguagem escrita e oral e aumento na auto- estima, fornecendo a estes educandos reflexão crítica e iniciativa. O projeto teve sua primeira implantação no Paraná, seguido por São Paulo, onde faz parte da proposta curricular. Paralelo às palestras e mesas-redondas, aconteciam as oficinas “Como Narrar uma Aventura” e “Criando uma Aventura Paradidática”, onde por meio de exercícios de criatividade e de prática narrativa foi visto, passo a passo, o processo de criação de uma aventura de RPG. Terceiro Dia - O último dia foi marcado por depoimentos que demonstram o caráter pedagógico em diversos setores dentro do RPG, e que impressionaram todos os participantes pelas apresentações competentes dos conteúdos. A primeira palestra do dia foi apresentada por Eliane Bettochi, ilustradora de RPGs nacionais, que relatou suas experiências nesses projetos. Na verdade, ela fez uma análise crítica da construção artística de personagens de RPG, mostrando inclusive a nova postura artística da Wizard of the Coast, principal produtora de livros de RPG e card games dos Estados Unidos, em sua diminuição da exposição sensual dos personagens femininas por uma apresentação de caráter mais forte e com padrões psicológicos inovadores na tentativa que conquistar o público feminino. Com citações aos trabalhos de Sônia Mota e Andréia Pavão, como precursoras nos estudos sobre o RPG no Brasil, Eliane mostrou a relevância interativa do signo visual nos livros de RPG e sua conseqüente potencialidade didática. Apresentou, ainda, as atividades de alunos do curso de Designer, oferecido pela PUC/RJ, nas comunidades carentes, demonstrando que as ilustrações, inseridas em seus contextos, possuíam significados importantes e indo muito além da apresentação visual. Em seguida, Carlos Klimick, escritor e criador de livros de RPG; George Barcat, professor da Associação Palas Athena e a arquiteta Paula Santorol, do Instituto Polis, mostraram as possibilidades de uso do RPG na formação de cidadãos mais conscientes, explorando-se as virtudes da prática na abordagem de temas transversais. Carlos Klimick apresentou o projeto que vem realizando no I.N.E.S. (Instituto Nacional de Educação de Surdos, do Ministério da Educação), onde o RPG é utilizado para auxiliar no aprendizado lingüístico e cultural de surdos devido à sua interatividade plena ao se utilizar diversos meios propícios ao trabalho. Seu projeto utilizou como base referencial os livros-jogo em um processo gradativo de participação e interação. George Barcat está desenvolvendo com a Ludus Culturalis um projeto de responsabilidade social e empresarial de forma lúdica, com vistas à formação ética e a cidadania, com a utilização do RPG. Neste projeto, cada questão social leva à produção de uma narrativa diferenciada, transmissora de emoções para a formação de um caráter ético. O projeto, iniciado em Capão Redondo com o apoio do Município, visa a capacitação e a multiplicação do trabalho através de workshops. Paula Santoro trabalha diretamente com um projeto que utiliza o RPG para o ensino do Estatuto da Cidade, uma lei federal que regulamenta o capítulo de política urbana da Constituição Federal, e contém instrumentos de regulação urbanística que contribuem para que as populações dos centros urbanos tenham assegurado o seu direito de viver em cidades mais justas e equilibradas. O RPG foi escolhido por sua capacidade de despertar e incentivar, por meio do jogo de papéis, o interesse pelo conhecimento e pelo desenvolvimento do trabalho solidário em grupo. Além disso, possibilita lidar com os diferentes públicos envolvidos na construção cotidiana da cidade de uma maneira lúdica: ao mesmo tempo em que são propostas discussões de situações urbanas conflituosas, são apresentadas alternativas usando os novos instrumentos contidos no Estatuto. A mesa-redonda seguinte foi um relato da experiência dos envolvidos em levar o RPG até a Escola, realizado por Alessandro Vieira dos Reis, formado em Psicopedagogia, César Sinicio Marques, pedagogo e Alessandro G. Izzo de Oliveira, mestrando em Física. Alessandro Vieira realiza junto com a NBA/USP a construção de aventuras pedagógicas nas áreas de Administração. Há algum tempo vem trabalhando nos Sapiens Circus, tendas interativas onde as narrativas recebem som e imagem com caráter complementar, visando temas ambientais e utilizando tecnologia de ponta desenvolvida para a atividade. É o criador de um sistema de RPG pedagógico onde são trabalhados as articulações artísticas dos participantes e a estrutura criativa do narrador. César Sinicio, inspirado após ter assistido, no ano passado, ao 1º Simpósio resolveu levar até à sua escola o RPG e lançar-se ao desafio de construir uma aventura pedagógica. Através da pesquisa e da divisão da sala em grupos de interesse, viu a necessidade de ações coletivas para dinamizar o jogo. Foi orientado por Carlos Klimick. Alessandro Izzo, orientado por um professor especializado em jogos pedagógicos, utilizou-se do RPG como ferramenta e levou a pesquisa ao grau de um referencial teórico para a construção de um conhecimento através da experimentação simulada. A última mesa-redonda do dia, fechando o 2º Simpósio de RPG & Educação, foi realizada pelas doutoras Eliane Yunes e Sonia Mota que traçaram um painel mostrando a relação do RPG com a Literatura e a tradição oral. Ambas declararam que a linguagem traz a percepção do que é uma cultura, tendo a narrativa como sua maior representação. Já a língua escrita trata-se da interiorização de experiências de forma individualista. No RPG ocorre o conflito entre os valores emocionais e sociais, principalmente na falta de referencias no caráter interpretativo. É um trabalho de grupo onde se interpreta a vida em que as decisões tomadas afetam diretamente o grupo. Sonia Mota, conhecida por sua tese de doutorado da PUC /RJ, apresentou ao público seu projeto “Autoriaa”, um sistema de regras que fogem do formato norte-americano de produção de narrativas interativas, visando a espontaneidade e a tradição oral, presente na família, no círculo de amigos, etc. A conclusão foi de que o RPG contribui para a construção espontânea da oralidade e da escrita, respeitando o universo lúdico do educando e fornecendo ao educador uma nova ferramenta de fácil adaptação e adequação ás suas necessidades. Em suas aventuras periódicas pelo terreno da fantasia saudável, os praticantes de RPG desenvolvem, de forma lúdica, o hábito de leitura, o gosto pela pesquisa, as habilidades narrativas, a socialização, noções de ética e cidadania, além de uma vasta cultura geral.