trabalho Sorria, você está Às vezes, ser mascarada é um bem necessário sendo observada Competência não garante o emprego de ninguém. Ser mal-humorada, arrogante ou tagarela demais pode colocar a sua carreira em risco por Silvia Amélia de Araújo e Danilo 114 www.glossonline.com.br 11/2011 foto Loubie-Lou/Getty Images gloss E la chega ao trabalho pontualmente, cumpre todas as suas obrigações e entrega as tarefas dentro do prazo. Ninguém duvida de sua eficiência, mas mesmo assim seu emprego está por um fio. Qual é o problema? É que, apesar de competente, essa funcionária aparentemente exemplar não ouve os colegas, fica emburrada quando é contrariada e empina o nariz assim que recebe um elogio. Uma pesquisa feita em 2009 pela consultoria Catho Online em mais de 100 empresas públicas e privadas mostrou que “mau relacionamento com os colegas e superiores” é o segundo motivo mais recorrente para demissão de profissionais. Só perde para “falta de resultados”. Nem mesmo o gênio Steve Jobs, criador do iPod, do iPhone e do iPad, foi poupado de perder o emprego na Apple, em 1985, por causa de seu comportamento brigão. Considerado teimoso e difícil naquela época – quando tinha 30 anos de idade –, Jobs aprendeu com a experiência. “O remédio teve gosto ruim, mas o paciente precisava dele”, diria ele anos depois ao comentar o episódio. AULAS PARA RIR Foi na década de 1980 que os especialistas em recursos humanos concluíram que a conquista do sucesso depende mais de inteligência emocional do que de habilidade técnica. De lá para cá as empresas começaram a investir em maneiras de ajudar os funcionários no desenvolvimento de “competências comportamentais”, como a capacidade de rir de si mesmo e a facilidade de ouvir as outras pessoas. Funcionária do Serasa Experian, serviço de análise de crédito, a administradora Cynthia Bavinck, 29 anos, era “fechadona e exigente demais” até começar a frequentar, “Eu tinha coisa sa dizer, mas fica va na minha por timid ez. Acabava pass ando uma imagem b lasé” NATHÁLIA TEI XEI RA, analista de da dos dois anos atrás, um programa criado pela companhia com o objetivo de promover o bom humor entre as equipes. Batizado de Magia do Riso, ele conta com aulas de técnicas circenses e de teatro para fazer as pessoas se soltarem e trabalharem melhor em grupo. “Encenar uma peça exige muita coordenação entre os atores”, diz Cynthia. “Ao aprender a respeitar o tempo dos meus colegas no palco, comecei a fazer isso também no trabalho. Hoje presto mais atenção nas pessoas ao meu redor e sou muito mais tolerante com os meus erros e os dos outros.” CARTILHA DE ATITUDES Cursos, debates e palestras estão entre as iniciativas das empresas para estimular a adoção de comportamentos e valores coincidentes com os da cartilha corporativa. Jovens em início de carreira costumam ter profissionais mais experientes designados para observá-los e orientálos. Depois de quatro meses trabalhando na empresa de pesquisa de mercado Millward Brown, a analista de dados Nathália Teixeira, 26, foi aconselhada por sua mentora a ser mais extrovertida. “Ela me disse que meu trabalho era bom, mas que eu precisava dar mais opiniões, participar mais”, conta. Ouvir esse incentivo foi importantíssimo para Nathália. “Eu tinha coisas a dizer, mas ficava na minha por timidez. Daí acabava passando uma imagem blasé. Depois da conversa me senti encorajada a me manifestar.” Um erro comum de quem está entrando no mercado de trabalho é achar que pode se portar no escritório do mesmo jeito que em casa ou entre os amigos – situações e ambientes em que as noções de hierarquia são mais fluidas. 11/2011 www.glossonline.com.br 115 gloss trabalho Explodir no trabalho é fora de questão! udar um m a r a “P to, rtamen compo mudar o é precis valor” m antes u N, AIMA LEO F R peuta cotera “Nas empresas há pessoas de diferentes gerações e nelas, no geral, a hierarquia ainda conta muito”, diz o psicólogo João Baptista Brandão, coordenador do MBA em gestão de pessoas da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. Por isso, antes de “chegar chegando’”, preste atenção ao clima à sua volta. Procure também saber se os tais “valores corporativos” estão formalmente registrados em algum documento. Obviamente eles variam de empresa para empresa. Se for o caso, peça ajuda ao departamento de RH. 116 www.glossonline.com.br 11/2011 É muito mais fácil adquirir conhecimento técnico do que habilidades interpessoais. “Para mudar um comportamento, é preciso mudar antes um valor”, explica o psicoterapeuta Leo Fraiman, consultor em gestão de pessoas especializado em jovens. “E às vezes os valores estão muito enraizados na personalidade.” Ou seja, há situações em que mudar é praticamente impossível – mesmo com a ajuda de especialistas, terapia... O colunista José Simão, do jornal Folha de S.Paulo, por exemplo, é tão verborrágico pessoalmente quanto em sua coluna no caderno Ilustrada – e como consequência trabalha em casa desde 1987. “Eu atrapalhava o funcionamento da redação. Só escrevo em voz alta!”, conta ele morrendo de rir. “Por isso, quando virei colunista foi melhor para todos. Como trabalho sozinho, não atrapalho ninguém.” O talento de Simão obviamente foi o que lhe permitiu esse arranjo. Quem, como ele, não conseguir mudar de personalidade talvez tenha de mudar de emprego ou de condições de trabalho, ou mesmo de profissão – até encontrar um formato que case com seu jeito de ser. foto Loubie-Lou/Getty Images psi VESTIU A CARAPUÇA? Os perfis das malas mais comuns nos locais de trabalho ARROGANTE Tecnicamente é ótima no que faz e por isso se sente no direito de tratar os colegas como se eles fossem inferiores. O risco: em algum momento aparece alguém tão bom quanto ela, mas mais fácil de lidar, e a poderosa perde o poder – e o emprego. BLASÉ Vive com fone no ouvido, indiferente ao mundo à sua volta. Quem se isola demais acaba incomodando tanto quanto quem se mete onde não é chamado. Com o passar do tempo a pessoa passa a ser desconsiderada pelos colegas. E some de vez. FOLGADA Do tipo que entra na sala do chefe sem ser chamada e começa a falar sem pedir licença. Entender a relação hierárquica com os superiores é uma dificuldade comum entre os jovens (e às vezes também dos próprios chefes, que nem sempre sabem se impor). MAL-HUMORADA Há uma linha tênue entre ter espírito crítico e ser rabugenta. Ranzinzas são comuns entre profissionais com menos de 30 anos, no geral criados sem repressão – já desafiavam os professores na escola. Ansiosos por uma promoção rápida, eles acabam errando no tom. INTROMETIDA Aquela que fica de olho comprido na tela do computador do vizinho e pergunta com quem o colega estava falando ao telefone. Tem gente que não se importa em dividir os detalhes da vida, mas outros preferem a privacidade. É importante entender qual é o limite e respeitá-lo. TAGARELA Narra para todos os e-mails que recebe e conta com detalhes – e em voz alta – o que fez no fim de semana. Resultado: não deixa ninguém se concentrar. Por mais que a empresa lhe dê liberdade, não se pode transformar o ambiente de trabalho em uma grande mesa de bar. BARRAQUEIRA Por mais flexível e aberta a discussões que seja uma empresa, ela nunca vai tolerar profissionais encrenqueiros. Armar um barraco nunca é a melhor alternativa para resolver divergências! Trabalhar o autocontrole é essencial. FOFOQUEIRA Ela está sempre a postos para atualizar todo mundo dos últimos acontecimentos na vida dos colegas. Fofoca pode ser até natural dentro da empresa (ela é um “esporte corporativo” dos mais antigos), mas quem sempre espalha “notícias” vira alvo de desconfiança. 11/2011 www.glossonline.com.br 117