JOSÉ DA CONCEIÇÃO TAVARES BARBOSA O desenvolvimento da Pecuária familiar e sua relação com a Condição Sanitária Local, Pedra Badejo, Concelho de Santa Cruz Licenciatura em Biologia Vertente Educacional Praia, Junho de 2006 i JOSÉ DA CONCEIÇÃO TAVARES BARBOSA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA FAMILIAR E SUA RELAÇÃO COM A CONDIÇÃO SANITÁRIA LOCAL, PEDRA BADEJO, CONCELHO DE SANTA CRUZ Licenciatura em Biologia Vertente Educacional Monografia apresentada ao Instituto Superior de Educação (ISE) como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em Biologia, sob a orientação do Prof. Doutor Edwin Pile Praia, Junho de 2006 ii JOSÉ DA CONCEIÇÃO TAVARES BARBOSA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA FAMILIAR E SUA RELAÇÃO COM A CONDIÇÃO SANITÁRIA LOCAL, PEDRA BADEJO, CONCELHO DE SANTA CRUZ Licenciatura em Biologia Vertente Educacional Membros do Júri _________________________________ _________________________________ _________________________________ Praia, ________ de_________________ de 2006 iii Lhe ofereço uma Homenagem ao Prof. Doutor Edwin Pile, meu orientador, por quem tenho um admiração, pessoal e profissional, imensa. Pelo seu ensinamento e incentivo à realização deste trabalho. Com pessoas deste tipo trabalhando cá, Cabo Verde terá um futuro risonho e brilhante. iv “É na experiência da vida que o homem evolui”. Harvey Spencer Lewis v Resumo Com a finalidade de determinar o grau de desenvolvimento da pecuária familiar e sua relação com a condição sanitária, foi realizada a avaliação de uma localidade no Concelho de Santa Cruz. Os dados foram obtidos a partir do inquérito realizado na localidade de Salina. A análise e a interpretação dos dados foi realizada no período de Janeiro a Julho de 2006. Os resultados demonstraram que a maior parte das famílias mantém uma condição sanitária precária e que esta se relaciona principalmente com número de animais/família, as espécies criadas e o uso de latrinas. O grande número de pessoas por agregado possibilita o desenvolvimento acentuado de doenças de transmissão vectorial e que o problema da educação sanitária actualmente se relaciona com indivíduos do sexo feminino de 39 a 56 anos de idade, que criam sem os conhecimentos necessários um grande número de animais, principalmente porcos e aves no quintal. Os resultados também demonstraram que as recomendações devem ser fundamentadas nas espécies animais criadas, o tipo de alimentação utilizado e o aumento do número de latrinas. Entretanto, também deverá ser considerada a necessidade do esclarecimento da importância do saneamento básico como fonte para melhoria da sua condição sanitária local. vi Abstracts With the purpose of determining the degree of animal breeding development in families and its relationship with the sanitary condition, the evaluation of a place was accomplished in the Santa Cruz county. The data were obtained from inquiry accomplished at Salina locality . The analysis and the interpretation of data was accomplished from January to July/2006. The results demonstrated that most families maintains a precarious sanitary condition and its relationship mainly with number of animals/family, the species raised and use of latrines. The great number of individuals/family facilitates the accentuated development of diseases of indirect transmission and that the problem of education sanitary is currently related with the individuals of feminine sex of 39 to 56 years, which breeds without the necessary knowledge a great number of animals, mainly pigs and birds in the porch. The results also demonstrated that the recommendations should be based in the raised species animal, the used feeding type and increase of latrines number. However, the need to clear the importance of basic sanitary condition should also be considered as source for improvement of its local condition. vii AGRADECIMENTOS Tendo decidido fazer um estudo de investigação científica acerca da condição sócio-sanitária do concelho onde nasci e resido, Santa Cruz, é agradável agradecer a todos que me acompanharam e apoiaram na concretização do trabalho. Em primeiro lugar à minha família e principalmente aos meus pais, pela educação que me deram e pelo apoio que me tem dado durante todos esses tempos. Em seguida aos meus professores(do EBI ao Superior), pelos seus ensinamentos, e principalmente ao Prof. Doutor Edwin Pile, quem deu-me o gosto e incentivo à realização do trabalho, despertando-me o interesse pelo desenvolvimento de trabalhos de investigação científica. A todos os colegas do ISE, colegas do curso e destacando ao Sr. Adilson Freire por todas essas andanças e pelo apoio dado aquando da realização do inquérito. Aos responsáveis das casas na localidade de Salina, Santa Cruz, pela paciência durante o inquérito. À Câmara Municipal de Santa Cruz pela disponibilização de documentos. A todos os meus amigos e camaradas de longas caminhadas e noitadas passadas juntos. Enfim a todos aqueles que de uma forma ou outra me ajudaram; viii ÍNDICE I. Introdução .................................................................................................................... 13 II. Objectivos .................................................................................................................... 14 III. Revisão de Literatura................................................................................................ 15 A. Enquadramento do concelho de Santa Cruz .............................................................. 15 1. Dados históricos do Concelho de Santa Cruz (Vila de Pedra Badejo) .................... 15 2. Caracterização Geográfica .................................................................................... 15 3. Caracterização Climática ...................................................................................... 16 4. Caracterização socio-económica ........................................................................... 17 5. Alguns conceitos sobre Saneamento Básico .......................................................... 17 a) Saneamento básico na vila de Pedra Badejo ...................................................... 17 6. Alguns conceitos básicos sobre Abastecimento de água ........................................ 18 7. Alguns conceitos sobre Sistema de esgotos ........................................................... 18 a) Tipos de sistemas de esgotos............................................................................. 18 b) Evacuação dos resíduos na Vila ........................................................................ 19 8. Alguns conceitos sobre Disposição do Lixo .......................................................... 20 B. Pecuária e condição sanitária .................................................................................... 20 C. Zoonoses .................................................................................................................. 22 D. Vectores ................................................................................................................... 22 1. Da Família Muscidae ............................................................................................ 22 a) Generalidades ................................................................................................... 22 b) Classificação..................................................................................................... 24 (1) Taxionomia ............................................................................................... 25 c) Descrição .......................................................................................................... 25 d) Ciclo de vida..................................................................................................... 25 (1) Ovos ......................................................................................................... 26 (2) Larvas ....................................................................................................... 26 ix (3) E. e) Hábito ............................................................................................................... 26 f) Profilaxia e controle .......................................................................................... 27 (1) Medidas contra larvas ou seus criadouros .................................................. 27 (2) Medidas contra adultos.............................................................................. 28 Importância para a saúde (Vetores vs condição sanitária).......................................... 29 1. Doenças causadas pela falta de saneamento básico ............................................... 29 a) IV. Musca domestica como disseminadora de moléstias.......................................... 29 Material e métodos ................................................................................................... 31 1. V. Pupas ........................................................................................................ 26 Local e época de estudos ...................................................................................... 31 Resultados .................................................................................................................... 32 VI. Discussão ................................................................................................................. 52 VII. Conclusões ............................................................................................................... 54 VIII. Referências bibliográficas......................................................................................... 56 x Índice de Ilustrações Ilustração 1. Desenho esquemático da mosca comum (Musca domestica L.), hospedeiro intermediário e vector de diversos parasitos. ................................................................... 22 Ilustração 3. Análise de probabilidades dos factores avaliados no grupo amostral. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. ................................................................................................. 35 Ilustração 4. Representação gráfica da inter-relação identificada entre o número de moscas e as espécies animais identificadas. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. .............................. 38 Ilustração 5. Representação gráfica da inter-relação identificada entre o número de moscas e as local de criação dos animais. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. .............................. 39 Ilustração 6. Representação gráfica da inter-relação identificada entre o número de moscas e o tipo de alimento utilizado. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. .......................................... 40 Ilustração 7. Representação gráfica da inter-relação identificada entre o número de moscas e alguns dos factores sociais identificados. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. .......................... 41 Ilustração 8. Representação gráfica da contribuição dos factores para a formação do primeiro grupo. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. ................................................................................ 42 Ilustração 9. Representação gráfica da contribuição dos factores para a formação do segundo grupo. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. ................................................................................ 43 Ilustração 10. Representação gráfica da contribuição dos factores para a formação do terceiro grupo. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. ................................................................................ 44 xi Ilustração 11. Análise de probabilidades dos factores avaliados no grupo 3, após homogeneização. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. ........................................................................... 46 Ilustração 12. Análise de probabilidades dos factores avaliados no grupo 2, após homogeneização. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. ........................................................................... 48 Ilustração 13. Análise de probabilidades dos factores avaliados no grupo 1, após homogeneização. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. ........................................................................... 50 Ilustração 14. Criação do porco no “chiqueiro” no quintal. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006………………………...51 Ilustração 15. Criação de vários ruminantes (cabras e ovelhas) na rua ao redor da casa. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006……………………………………………………………………………....…51 Ilustração 16. Criação de ruminantes na rua ao redor da casa. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006………………..……53 Ilustração 17. Criação de porcos em cima da casa. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006……………………………...…53 Ilustração 18. Criação de ruminante no quintal. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006……………………………...…55 Ilustração 19. Criação de aves soltas em cima da casa. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006………………………...55 xii Índice de Tabelas Tabela 1. Distribuição em classes do número de moscas colectadas durante o inquérito. ...... 36 Tabela 2. Distribuição em classes do número de moradores/agregado familiar registados durante o inquérito. ...................................................................................................... 36 Tabela 3. Distribuição em classes da idade do tratador registada durante o inquérito. ........... 37 Tabela 4. Distribuição em classes do número de animais/família registado durante o inquérito. ..................................................................................................................................... 38 Tabela 5. Distribuição percentual da população após a homogeneização amostral do resultado. ..................................................................................................................................... 42 13 I. Introdução Segundo o INE/2000, Santa Cruz é um dos concelhos mais pobres de Cabo Verde. Contudo, com um grande potencial para agricultura, pesca e pecuária. Actualmente a criação animal é feita como forma de poupança, dentro, encima, ao redor da casa ou solto na rua. Segundo Rouquayrol & Almeida (1999), essa situação é preocupante visto que através do contacto, animal/pessoa, muitos agentes causadores de doenças podem ser transmitidos, a maioria das vezes pela falta de informação. Segundo, Forattini (1986), mensurar o estado de saúde e bemestar de uma determinada população é uma tarefa complexa, porém, necessária para que sejam feitos diagnósticos e realizadas intervenções, assim como avaliação do impacto produzido por determinados factores. Em Cabo Verde, a presença de inúmeras zoonoses já foi detectada em diversos concelhos, e Santa Cruz não é a excepção. Sendo Pedra Badejo uma vila em que o sistema familiar de criação animal é prevalente, há necessidade de determinar a situação actual da sua condição sanitária e avaliar a existência ou não da correlação dos factores relacionados com esses sistemas de criação. Com base nestas informações e sabendose da existência de variações regionais e anuais na prevalência das infecções influenciadas pelas condições já citadas, foi elaborada esta investigação no intuito de servir como subsídio para o planeamento futuro de formas de controlo estratégico de doenças vinculadas à presença de animais e vectores. 14 II. Objectivos Determinar o perfil da situação actual da região analisada. Determinar a importância relativa dos factores analisados e estabelecer indicadores da condição sanitária. Determinar a homogeneidade amostral da condição sanitária a ser estabelecida. Determinar o risco relativo que a condição actual representa. 15 III. Revisão de Literatura A. Enquadramento do concelho de Santa Cruz 1. Dados históricos do Concelho de Santa Cruz (Vila de Pedra Badejo) O concelho de Santa Cruz foi criado pelo Decreto nº 108/71, de 29 de Março, com vista a promover o desenvolvimento de actividades que o crescimento populacional impunha e possibilitar às populações contactos rápidos com as sedes quer do concelho ou das freguesias, onde os seus problemas deveriam ser resolvidos, desencravando-se, assim, do concelho da Praia. O nome, porem, fugiu à regra. Segundo conta o proprietário da então Sociedade Agrícola e Comercial de Santa Filomena (SOCOFIL), situada na pequena localidade de Santa Cruz, o Eng.º Almeida Henriques propôs às autoridades portuguesas a criação de concelho nessa localidade, onde se iria, posteriormente, construir um porto para exportação das suas bananas. Feito os levantamentos, viu-se que o local não dispunha de qualquer infra-estrutura para o efeito, acabando, no entanto, o concelho por ser criado, mas com sede na povoação de Pedra Badejo que já era um posto administrativo. O Eng.º Almeida Henriques fez, entretanto, finca pé para que o novo concelho tomasse o nome de Santa Cruz. Segundo conta, para a vila de Pedra Badejo, o nome teria advindo do património que dá vista com a ilha de Maio e da alusão feita à grande quantidade de peixe (Badejo) existente nessa redundância. 2. Caracterização Geográfica Localizado na parte leste da ilha de Santiago, Santa Cruz é um dos seis concelhos desta ilha, cobrindo uma superfície total de 109,8 Km2, correspondendo à 11% dos 991 Km2 que constitui a área total da ilha, sendo equivalente a aproximadamente 2.8% do território nacional. 16 O concelho de Santa Cruz situa-se na zona nordeste da ilha, aproximadamente entre os paralelos 15º 05º e 15º 11º de latitude norte e entre os meridianos 23º 38º e 23º 30º de longitude de Greenwich. Alongando-se entre Areia Branca, ao Norte, e a Ponta Tori (Mangue), ao Sul, estendendo-se sentido Este/Oeste para o centro da ilha até o Pico d´Antonia. Faz fronteira ao Norte com o concelho de São Miguel, Oeste com concelho de Santa Catarina, e a Sul com o concelho de São Domingos. Ao Este é delimitado pelo mar. O concelho é caracterizado por um emaranhado de montes, ribeiras e achadas. Com efeito, da garganta do Monte Pico de Antónia, terceiro maior do país (1393mts de altitude), ou a dobra das suas cordilheiras que percorrem longitudinalmente no sentido Norte/Sul e dividem a ilha em duas partes distintas, nascem pequenas ribeiras que vão convergindo formando vales cavados junto às montanhas, alargando e originando planícies à medida que vão-se aproximando do litoral. As pequenas serras, por seu turno, vão-se aplanando, dando lugar aos planaltos, normalmente denominados “Achadas”, Moreira (2000). 3. Caracterização Climática Inserido no conjunto dos concelhos que constituem a ilha de Santiago, Santa Cruz não é a excepção, no que concerne aos aspectos climáticos. No seu conjunto é do tipo árido a semiárido, com uma temperatura média anual de 25ºC e precipitação variável, caracterizado pelo contraste de duas estações bem definidas: A estação das chuvas ou o “ tempo das aguas”, que vai de Agosto a Outubro, chuvas fortemente ligadas à deslocação setentrional da Frente Internacional (FIT). A estação seca ou o “ tempo das brisas” que vai de Dezembro a Junho, mais fresca e seca, durante a qual predomina a acção dos alísios de nordeste, que de um modo regular sopram durante todo o ano Os meses de Julho e Novembro são considerados de transição. A acção da altitude e à de orientação das massas do relevo, em relação aos ventos dominantes, alísios do nordeste, provoca uma série de microclimas. Originando os climas locais distribuídos da seguinte forma: Aridez no litoral, humidade e vegetação nos pontos mais altos, precipitação maior na vertente oriental. A humidade e a vegetação encontram-se na zona de maior altitude, como a de pico d´Antonia. 17 O seu clima é árido, tornando-se mais ameno à medida que se avança para o interior, constituído o microclima de altitude, suave tanto na época quente com na época fria, cobrindo a maior parte do concelho (PAMSC, 2003).. 4. Caracterização socio-económica Segundo o INE (2000), o Concelho de Santa Cruz conta com 25184 habitantes residentes, sendo 11861 do sexo masculino e 13323 do sexo feminino. O concelho é constituído por uma só freguesia, a de São Tiago Maior, constituída pelas seguintes povoações: Pedra Badejo, Salina, Ponta Achada, Rocha Lama, Achada Igreja, Achada Fazenda, Achada Ponta, Cancelo, Santa Cruz, Achada Bel Bel, Achada Laje, Ribeirão Boi, Renque Purga, Boaventura, Aguada, São Cristóvão, Ribeira Seca, Librão e Porto Madeira. O concelho apresenta a maior taxa desemprego do país, a qual se situa na casa dos 30%. As principais actividades económicas do concelho são a agricultura de regadio e do sequeiro (o concelho possui uma das maiores áreas em agricultura de regadio do país em que as culturas de hortícolas e bananeiras ocupam um lugar importante), a pecuária, a pesca artesanal, e as pequenas e médias empresas, sobretudo a nível de marcenaria e carpintaria, mecânica, serralharia, entre outros. 5. Alguns conceitos sobre Saneamento Básico Saneamento é o conjunto de medidas visando preservar ou modificar as condições do meio ambiente com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde. Saneamento básico se restringe ao abastecimento de água e disposição de esgotos, mas há quem inclua o lixo nesta categoria. Outras actividades de saneamento são: controle de animais e insectos, saneamento de alimentos, escolas, locais de trabalho e de lazer e habitações. Normalmente qualquer actividade de saneamento tem os seguintes objectivos: controle e prevenção de doenças, melhoria da qualidade de vida da população, melhorar a produtividade do indivíduo e facilitar a actividade económica, (Sabesp. 2006). a) Saneamento básico na vila de Pedra Badejo No concelho, os constrangimentos na área de saneamento são ainda complexos, mas no domínio de abastecimento da água potável já há avanços visíveis quando comparados a outras áreas do saneamento. Se por um lado, a cobertura da água potável já atingiu níveis bastante 18 satisfatórios, o saneamento do meio ainda não, no que diz respeito à evacuação de excretas e das águas residuais, controlo dos animais e controlo sanitário dos alimentos. 6. Alguns conceitos básicos sobre Abastecimento de água A água própria para o consumo humano chama-se água potável. Para ser considerada como tal ela deve obedecer a padrões de potabilidade. Se ela tem substâncias que modifiquem estes padrões é considerada poluída. As substâncias que indicam poluição por matéria orgânica são: compostos nitrogenados, oxigénio consumido e cloretos. Para o abastecimento de água, a melhor saída é a solução colectiva, exceptuando-se nas comunidades rurais muito afastadas. No Sistema Público de Água podem ser considerados os seguintes elementos: Manancial, Captação, Adução, Tratamento, Reservação, Reservatório de montante ou de jusante e Distribuição. 7. Alguns conceitos sobre Sistema de esgotos Despejos são compostos de materiais rejeitados ou eliminados devido à actividade normal de uma comunidade. O sistema de esgotos existe para afastar a possibilidade de contacto de despejos, esgoto e dejectos humanos com a população, águas de abastecimento, vectores de doenças e alimentos. O sistema de esgotos ajuda a reduzir despesas com o tratamento tanto da água de abastecimento, quanto das doenças provocadas pelo contacto humano com os dejectos, além de controlar a poluição das praias. O esgoto (também chamado de águas servidas) pode ser de vários tipos: sanitário (água usada para fins higiênicos e industriais), sépticos (em fase de putrefação), pluviais (águas pluviais), combinado (sanitário + pluvial), cru (sem tratamento) e fresco (recente, ainda com oxigénio livre). Existem soluções para a retirada do esgoto e dos dejectos, havendo ou não água encanada. a) Tipos de sistemas de esgotos Existem três tipos de sistemas de esgotos : Sistema unitário: é a colecta do esgotos pluviais, domésticos e industriais em um único colector. Tem custo de implantação elevado, assim como o tratamento também é caro. Sistema separador: o esgoto doméstico e industrial ficam separados do esgoto pluvial. O custo de implantação é menor, pois as águas pluviais não são tão prejudiciais quanto o esgoto doméstico, que tem prioridade por necessitar tratamento. Assim como o 19 esgoto industrial nem sempre pode se juntar ao esgoto sanitário sem tratamento especial prévio. Sistema misto: a rede recebe o esgoto sanitário e uma parte de águas pluviais. A contribuição domiciliar para o esgoto está directamente relacionada com o consumo de água. As diferenças entre água e esgoto está na quantidade de microrganismos do último, a que é superior. O esgoto não precisa ser tratado, depende das condições locais, desde que estas permitam a oxidação. Quando isso não é possível, ele é tratado numa Estação de Tratamento. Também existe o processo das lagoas de oxidação. b) Evacuação dos resíduos na Vila Segundo o PAMSC, (2003), a vila de Pedra Badejo não cresceu em termos físicos no domínio da extensão da rede de pública de esgoto, que abrange apenas alguns domicílios, complexos sanitários, mercado municipal e o matadouro; sendo que a descarga é feita no mar. No que diz respeito ao esvaziamento das fossas, o serviço municipal não dispõe de um camião autotanque/limpa fossa. No entanto, existe um projecto em estudo da implantação da rede pública de esgoto e água potável aos principais centros da vila, além da construção de uma estação de tratamento de águas residuais (ETAR), organizado pelo MIT. Este trabalho é considerado de relevância, devido às melhorias que proporcionará ao saneamento do meio e consequentemente do índice de morbilidade. A limpeza da vila é feita por grupos de mulheres varredeiras, mas o facto mas tocante é a recolha, transporte e tratamento dos resíduos sólidos, apesar de haver algumas melhorias ou ganhos principalmente no meio de transporte, visto que anos atrás era feito em camião aberto. A recolha e transporte do lixo para o depósito de tratamento, que se situa na zona próxima de Porto Fundo, faz-se diariamente no camião de recolha do lixo, mas os homens que trabalham na recolha do lixo carecem de condições mínimas de trabalho, no que diz respeito a equipamentos. O lixo removido estima-se em 9,5-10ton/diárias. O depósito de tratamento é a céu aberto num “covão” de pouca profundidade, construído nos anos 80, pela Associação de Amizade Pedra Badejo-Leibnitz, que na altura distava 750mts da ultima casa em Achada Fátima. A referida zona vem sendo considerada zona de expansão, daí as moradias estarem próximas do depósito, com todos os incómodos que uma infra-estrutura do tipo acarreta, mormente quando o sistema de tratamento é feito à queima. Contudo, o quadro mais grave se relaciona com a lotação. Actualmente totalmente ocupado, com a consequente 20 impossibilidade da entrada do camião para seu esvaziamento. Portanto, há necessidade de medidas urgentes no concernente à nova localização para construção de um novo e melhor depósito central e tomada de novas medidas de tratamento do lixo (PAMSC, 2003). Com a prevalência dessas condições tem-se como consequência a disseminação de agentes causadores de doenças quer através do vento ou de vectores, neste caso especifico pode ser citada a presença de principalmente da mosca comum (Musca domestica). 8. Alguns conceitos sobre Disposição do Lixo O lixo é o conjunto de resíduos sólidos resultantes da actividade humana. Ele é constituído de substâncias putrescíveis, combustíveis e incombustíveis. O problema do lixo alcança patamares até de ordem psicológica: o efeito da limpeza da comunidade sobre o povo. O lixo tem que ser bem acondicionado para facilitar sua remoção, sendo assim, as vezes a parte orgânica do lixo é triturada e jogada na rede de esgoto. Se isso facilita sua remoção e possível colecta selectiva, também representa mais uma carga para o sistema de esgotos. Quando reciclada, a parte inorgânica do lixo pode ser reaproveitada no fabrico de alguns produtos, e a orgânica na alimentação de animais. O sistema de colecta tem que ter periodicidade regular, intervalos curtos, e a colecta nocturna ainda é a melhor, apesar dos ruídos. O lixo pode ser lançado em rios, mares ou a céu aberto, enterrado, ir para um aterro sanitário (o mais indicado) ou incinerado. Também pode ter suas graxas e gorduras recuperadas, ser fermentado ou passar pelo processo Indore1. B. Pecuária e condição sanitária Considerando a Pecuária como a aplicação de técnicas zootécnicas para a obtenção de proveitos, se tem a necessidade de uma boa condição sanitária para que o facto aconteça da melhor forma possível e evitando a transmissão de zoonoses. Segundo Lamy (1997), os 1 Esse método busca manter a estrutura e produtividade do solo, trabalhando em harmonia com a natureza. Conceitualmente, de acordo com especialistas da área, a "agricultura orgânica" insere-se na actualmente denominada "agroecologia" (agricultura com princípios ecológicos), sendo essa também constituída pela "agricultura natural", "agricultura biodinâmica (uso de preparados biodinâmicos)" e "agricultura biológica (uso de mecanismos biológicos)". Na realidade, a "agricultura orgânica" nada mais é do que a agricultura realizada pelos nossos agricultores antes do uso de insumos químicos industriais (fertilizantes solúveis e agrotóxicos), claro que, actualmente, com métodos mais cientificamente estudados. O conceito de agricultura orgânica surgiu com o inglês Albert Howard, que em 1905 começou a trabalhar na estação experimental de Pusa, na Índia, e observou que os camponeses hindus não utilizavam fertilizantes químicos, mas empregavam diferentes métodos para reciclar os materiais orgânicos. 21 insectos ameaçam as nossas criações animais e consequentemente a produção animal. Embora a maioria dos insectos sejam fitófagos (alimentam de vegetais) e consequentemente ameacem a produção vegetal, outros insectos picadores são hematófagos (vivem do sangue dos animais), transmitindo doenças tanto a animais quanto a humanos, outros ainda põem ovos ou larvas, ou ainda servem como vectores de parasitas, limitando dessa forma a criação de animais domésticos, principalmente nos países em desenvolvimento. O insecto é de facto o inimigo número um das produções vegetais e animais do homem e, em especial, das suas produções alimentares. As perdas são consideráveis e o custo económico deve ser acrescido aos gastos empenhados para lutar contra eles. Também se deve ter em mente, em especial para a alimentação das populações humanas dos países em desenvolvimento, que a metade dos produtos cultivados e consumidos pelos camponeses servem na verdade para alimentar estes parasitas, destacando-se que em muitas doenças parasitárias do homem, o insecto que serve como vector. Os dípteros hematófagos são considerados os insectos mais prejudiciais, desde que podem ocasionar a morte dos seus hospedeiros, directa ou indirectamente. Segundo Lamy (1997), os simulídeos (Flia: Ceratopogonidae) são capazes de causar estragos consideráveis pela sua picada venenosa e exanguinação. A Africa é uma zona importante da criação de bovinos, sendo estimados em 160 milhões de cabeças. Contudo, estão desigualmente distribuídos. Os mais numerosos, ocupam oito milhões de quilómetros quadrados das zonas do Sahel e do Sudão cobertas de estepes e de savanas secas mais ou menos arborizadas. Doze milhões de quilómetros quadrados são desertos ou regiões semidesérticas impróprias para a criação. Os dez milhões restantes estão ocupados por florestas densas e savanas húmidas (sete milhões de hectares) onde grassam as moscas tsé-tsé (Glossina palpalis). Pode-se então estimar em 7 milhões de quilómetros quadrados as zonas onde, embora existam pastagem de boa qualidade e água em abundância, o gado não esta presente por causa de problemas específicos, como a tripanosomíase (Trypanosoma spp). O homem ao interferir no habitat desses parasitas, destruindo as galerias florestais e desenvolvendo a criação animal, determinam o aumento constante desses problemas. O mesmo pode ser comentado sobre os ectoparasitas, como sarnas e piolhos que vivem na plumagem ou no pêlo dos animais de sangue quente. Eles não podem viver muito tempo fora desses “habitats” aos quais estão morfologicamente, anatomicamente e fisiologicamente bem adaptados. 22 C. Zoonoses São infecções naturalmente transmissíveis de anfitriões de animal vertebrados para humanos. Usualmente são ditas doenças do animal para o homem mas inclui também doenças do homem para o animal. São grupos de infecções heterogéneas com uma epidemiologia e características clínicas variadas, necessitando da aplicação de medidas de controlo. O organismo causativo pode ser uni ou pluricelular (vírus, bactérias, fungos, protozoário, helmintos, etc). A transmissão do agente pode ser feita de forma directa ou indirecta. O diagnóstico, vigilância, prevenção e controle requerem de um alto grau de colaboração intersectorial, principalmente entre a saúde, agricultura e a pecuária, (hpa - health protecteon agency 2003). Ilustração 1. Desenho esquemático da mosca comum (Musca domestica L.), hospedeiro intermediário e vector de diversos parasitos. D. Vectores 1. Da Família Muscidae a) Generalidades Segundo Lamy (1997), a entomologia (Entomon = insecto), etimologicamente significa estudo dos insectos. No entanto, hoje é empregado num sentido mais amplo para designar o estudo dos artrópodes. Os artrópodes (Arthron = articulações e pous, podos = pés) são animais metazoários triblásticos celomados, de simetria bilateral, apresentando o corpo segmentado (Metamerização heterônoma), revestido de quitina e munido de apêndices articulados. O filo Artrópode está dividido em várias classes, entre as quais temos: Onychophora, Pentastomida, 23 Crustácea, Arachnida, Chilopoda, Diplopoda, Hexapoda, etc. As moscas pertencem à Ordem Diptera e possuem apenas um par de asas membranosas correspondente às asas anteriores, daí o nome da ordem (di = duas, ptera = asas). O par posterior transformou-se em duas estruturas, de tamanho reduzido, chamadas de halteres ou balancins, os quais dão equilíbrio ao insecto durante o voo. Os dípteros pertencem a um dos quatro maiores grupos de organismos vivos, existindo mais moscas do que vertebrados. Não ocorrem somente nas regiões ártica e antártica, apresentam metamorfose completa, isto é, as fases de ovo, larva, pupa e adulto. Pode-se reconhecer as moscas pela cabeça, nitidamente distinta e móvel, com dois grandes olhos facetados, isto é, como se fosse dividido em várias partes (facetas). Algumas moscas possuem o aparelho bucal com capacidade para absorver líquidos, enquanto em outras o aparelho bucal é do tipo picador. Do ponto de vista benéfico alguns dípteros são importantes para o homem, tais como as espécies de Drosophila que são utilizadas como animais experimentais principalmente para estudos genéticos. Algumas espécies são utilizadas como agentes de controle biológico de plantas daninhas, bem como de insectos-pragas. Algumas moscas são hematófagas, isto é, alimentam-se de sangue, como por exemplo, as mutucas (Tabanidae), mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans), mosca-do-chifre (Haematobia irritans), etc. Entretanto, algumas moscas, mesmo não sendo hematófagas, são muito importantes na saúde pública, como a M. domestica e a mosca varejeira (Calliphoridae). As primeiras actuam como transportadores mecânicos de agentes patogênicos (vírus, protozoários, bactérias, rickéttsias e ovos de helmintos) e as últimas causam as miíases. Moscas são muito comuns em áreas rurais e urbanas. No ambiente urbano, algumas espécies adaptaram-se bem às condições criadas pelo homem, mantendo uma dependência chamada de sinantropia. Algumas espécies são altamente sinantrópicas, isto é, possuem grande adaptação ao ambiente urbanizado, enquanto outras são pouco sinantrópicas, ou seja, não apresentam tolerância ao processo de urbanização. Dentre as altamente sinantrópicas estão a M. domestica, as moscas-dos-filtros (Telmatoscopus albipunctatus, Psychoda alternata, P. cinerea, P. satchelli), as mosquinhas (Drosophila spp.) e as moscas do género Chrysomya. As mosquinhas ou mosca da banana (Drosophila spp.), no ambiente urbano, são atraídas por frutas maduras ou lixo presentes no interior de residências, feiras e mercados, (Prefeitura de São Paulo, (2000). 24 Actualmente, conhecem-se aproximadamente 120.000 espécies de dípteros e estima-se que existam mais 1 milhão de espécies viventes. Estas espécies estão divididas em 188 famílias e aproximadamente 10.000 géneros, sendo que por volta de 3.125 espécies são conhecidas apenas por registos fósseis, (Lamy, 1997). b) Classificação A espécie Musca domestica (Díptera: Muscidae) é uma espécie de grande importância parasitológica. Nesta família estão compreendidas duas subfamílias de interesse médico e veterinário, Muscinae e Stomoxidinae. Muscinae é a subfamília que reúne espécies não picadoras providas de proboscide do tipo lambedor; esta subfamília contém numerosos géneros, além do Musca, onde encontramos M. domestica. A subfamília Stomoxidinae contem espécies picadoras providas de proboscide do tipo picador sugador, esta subfamília contém dois géneros de importância, Stomoxys, onde está incluída a espécie S. calcitrans, e o género Neivamyia. O género Glossina, com as espécies exóticas transmissoras das tripanossomoses africana, também pertence a esta subfamília. 25 (1) Taxionomia Tabela 1. Classificação taxionómica de Musca domestica Reino Animalia Filo Arthropoda Sub-filo Hexapoda Classe Insecta Sub-classe Pterygota Infra-classe Neoptera Super-ordem Endopterygota Ordem Diptera Sub-ordem Brachycera Infra-ordem Orthorrapha Muscomorpha Cyclorrapha Família Muscidae Género Musca Nome específico M.domestica Linnaeus, 1758 c) Descrição Os adultos medem de 5mm a 6mm de comprimento, macho e fêmea respectivamente. O dimorfismo sexual é feito através dos olhos, sendo estes menores nas fêmeas. O tórax apresenta coloração cinzento-escuro, com quatro listras pretas longitudinais e paralelas, estendendo-se até a borda do escudo. O abdómen tem cor amarelada e apresenta uma linha mediana longitudinal escura que se torna difusa ao nível do quarto segmento, (Pessôa & Martins, 1982). d) Ciclo de vida Segundo Pessôa & Martins, (1982) o ciclo de vida dura de 25 a 30 dias (de acordo com as variações de temperatura e humidade). A fêmea faz até 5 posturas (100-150/postura aproximadamente), 26 (1) Ovos Os ovos são brancos ovóides, com uma das extremidades mais larga, medindo 1mm de comprimento. Cada fêmea põe um total aproximado de 500 a 600ovos. Os ovos geralmente são depositados em substâncias orgânicas fermentáveis, como lixo, esterco de cavalo, etc.; quando não, o ciclo de vida se prolonga. O período de incubação mínimo é de oito horas, podendo ir até os quatro dias. A temperatura óptima é de 23ºC a 26ºC, (Pessôa & Martins, 1982). (2) Larvas As larvas recém nascidas ficam agrupadas, são cilíndricas, esbranquiçadas, muito activas e dotadas de fototropismo negativo. Alimentam-se activamente e 24 horas após a eclosão, apresentam a primeira muda larvária; até a formação da pupa decorrem 72 horas, aproximadamente. A passagem de estádio larval a pupal pode ocorrer na própria matéria orgânica em decomposição. Via de regra, porém, preferem abandonar o lugar de alimentação e procurar locais mais frescos: terra fofa ou arenosa onde penetram, (Pessôa & Martins, 1982). (3) Pupas O pupário, a princípio tem uma cor amarelo-clara, que rapidamente muda para um tom vermelho-claro, e finalmente para castanho-escuro. Segundo Pessôa & Martins, (1982) a fase de pupa é de cerca de cinco dias no verão, aumentando nas épocas frias. As moscas, poucos dias após a saída do pupário, copulam e as fêmeas começam a postura dos ovos. Desta forma, não é difícil conceber a enorme quantidades de moscas que podem aparecer em determinadas ocasiões. e) Hábito Em relação a este tópico, a redacção limitar-se-á à espécie M. domestica, geralmente encontrada em áreas urbanas. A espécie é cosmopolita e, embora adaptada a condições extradomiciliares, ocorre preferencialmente nas habitações humanas e abrigos de animais domésticos. Nessas condições, mais de 90% dos ciclorrafos capturados são desta espécie. É activa durante o dia e repousa à noite. Preferencialmente pousam sob superfícies estreitas e longas (fios elétricos, galhos de árvores, rachaduras de paredes, etc.). A espécie utiliza vários 27 substratos (fezes, escarros, pus, exsudato de feridas, produtos de origem animal e vegetal em decomposição, açúcar, etc.) como alimento. As substancias líquidas são directamente ingeridas, ao passo que as sólidas são dissolvidas pela saliva no meio externo e posteriormente ingeridas. Esse mecanismo de regurgitação é um meio de disseminação de parasitas, como cistos de Entamoeba histolytica, por exemplo. A contaminação se dá tanto pelas fezes quanto pela saliva, (Pessôa & Martins, 1982). f) Profilaxia e controle Durante longos anos os métodos de combate às moscas foi constituído de medidas sanitárias visando à destruição de criadouros ou das larvas nos criadouros, associado ao combate ao adulto através de vários processos químicos e mecânicos. Com a introdução do DDT2 e outros insecticidas de acção residual e seu uso extensivo, os resultados foram tão espectaculares que os mais optimistas chegaram a afirmar, em 1948, que a “era sem moscas” estava próxima. Após dez anos verificou-se que o sonho era só isso: um sonho. De facto, a M. domestica tem a capacidade de se tornar resistente aos insecticidas de efeito residual. Assim, após alguns anos, às vezes, mesmo após alguns meses, a população de moscas de uma localidade, por selecção natural, torna-se inteiramente refractária. E uma vez resistente a um insecticida clorado, a resistência a outros se desenvolve mais rapidamente; assim a substituição do DDT por outros produtos não resolve o problema, como também não resolve o uso de misturas de insecticidas. Por outro lado, a resistência se desenvolve mais no estado larvário, de modo que um insecticida usado contra o adulto dificilmente funcionará contra as larvas. Finalmente, uma população de moscas que se tornou imune ao DDT ou a outros produtos correlatos compõe-se de “supermoscas” com maior resistência às condições mesológicas, podendo tornar-se mais abundantes do que nos lugares não-desinsetizados, (Chandler in Pessôa & Martins 1982). (1) Medidas contra larvas ou seus criadouros 2 DDT - Dicloro Difenil Tricloroetano. O DDT foi sintetizado em 1874 por um estudante alemão, mas caiu no esquecimento por muitos anos. Pesticida organoclorado, utilizado para o combate de pragas e formigas na agricultura. É o mais famoso dos pesticidas proibidos. Era amplamente empregado até se descobrir a extrema persistência no ambiente e toxicidade para quase todas as espécies animais. Já foi encontrado no leite materno de populações isoladas no Ártico, evidenciando a extensão do impacto ambiental de seu uso. Apesar de proibido na maioria dos países, ainda é produzido e utilizado para controle de insetos vetores de malária e encefalite, no Terceiro Mundo. Pertence ao grupo de poluentes chamados POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes) regulados internacionalmente pela Convenção de Basel (referente ao lixo tóxico) e pelo Tratado PIC Global (informação e consentimento prévio em caso de comércio ou transporte internacional). 28 Parece-nos certo que o método mais eficiente de combate as moscas consiste em evitar sua criação, uma vez que as medidas contra adultos são paliativas. Sendo os principais criadouros de moscas o lixo doméstico e fezes de animais, particularmente do cavalo, a eles devemos dirigir nossa atenção. Em relação ao lixo, a medida mais garantida seria a incineração; mas, além de dispendioso e só aplicável em certas circunstâncias, o processo tem a desvantagem da destruição do lixo, que é de grande valor económico e na adubação. O medida mais simples consiste em depositar o lixo em valas com camadas cobertas com pelo menos 20 a 25 cm de terra, em tanques de cimento armado (células de Beccari), onde há grande elevação da temperatura, e consequente fermentação matando as larvas, (Weigert et al. 2002). Pode-se ainda amontoar o lixo misturado com bórax (2 a 2,5kg/ton) ou paradiclorobezeno (0,5 Kg/m3), ou ainda regá-lo com solução daquele sal ou cianeto de sódio; mas esse último oferece perigo em virtude da toxidade. Outra medida consiste na aplicação do DDT a 5-10% ou gamexano a 0.5%. Mas o uso destes insecticidas como medida anti-larvária tem a desvantagem de acelerar o desenvolvimento da resistência. Quanto ao esterco de cocheiras, ele deve ser recolhido em fossas rectangulares ou de preferência em tanques de cimento, onde a fermentação, excepto as que estão na superfície. Para tornar as esterqueiras mais eficientes, elas podem ser construídas de modo que fiquem suspensas sobre uma camada de água. Os insecticidas mencionadas para o tratamento do lixo são também aplicáveis ao esterco. (2) Medidas contra adultos Desde que as moscas se criem domiciliarmente, o combate deverá ser feito contra adultos, uma medida de protecção será a telagem das habitações e dependências onde se manipulam alimentos. Métodos mecânicos, tais como, papeis “pega moscas”, armadilhas e outros utensílios podem ser usados como medidas paliativas tendentes a reduzir a população domiciliar das moscas. Outras medidas consistem no uso de iscas envenenadas, tais como, soluções açucaradas contendo 15ml de formaldeído ou solução saturada de fluorsilicato de sódio, este algo tóxico para os animais domésticos. Finalmente, os insecticidas de contacto são recomendáveis. Podemos usar o piretro ou piretrinas dissolvidas em querosene refinado (flit, etc.), e espalhados por meio de atomicidas manuais. Causam a morte rápida das moscas em ambiente fechados. O DDT, o gamexano e 29 outros inseticidas clorados são usados de modo idêntico ao empregado ao combate aos mosquitos, mas o desenvolvimento da resistência limita seu uso. E. Importância para a saúde (Vetores vs condição sanitária) A espécie tem importância como vector mecânico, isto é, podem veicular os agentes em suas patas após pousarem em superfícies contaminadas com germes e pousarem nos alimentos, disseminando-os amplamente, podendo assim provocar várias doenças. Segundo Pro et al. (1999), as larvas da espécie apresentam várias características que a tornam adequada para uma produção massiva, como a precocidade e prolificidade da espécie, dependendo da temperatura e humidade ambientais, além de poder desenvolver-se em uma grande variedade de substratos, alimentando-se basicamente de matéria orgânica vegetal, (Aleixo et al. 1984). 1. Doenças causadas pela falta de saneamento básico Existem mais de 100 doenças (incluindo zoonoses e outros tipos de doenças com fontes diversas), entre as que podem ser citadas: cólera, amebíase, vários tipos de diarréia, peste bubônica, lepra, meningite, póliomielite, herpes, sarampo, hepatite, febre amarela, gripe, malária, leptospirose, Ebola, etc (Lamy, 1997). a) Musca domestica como disseminadora de moléstias Tem sido demonstrado que a espécie pode levar os bacilos da febre tifóide (Salmonella typhi) nas patas, corpo, trompa ou ainda expulsá-los pela regurgitação ou nas fezes (Ficker, Smith & Austen in Pessôa & Martins, 1982). Isto pode acontecer pelo seu contacto com fezes humanas depositadas no lixo, no chão, nas fossas, etc., onde se contaminam. A situação torna-se particularmente perigosa quando a latrina se comunica directamente com a cozinha. Os bacilos podem permanecer vivos por aproximadamente 20 a 25 dias aderidos ao corpo das moscas. Segundo Pessôa & Martins (1982) o papel das moscas é importante nos acampamentos e locais com pouca ou nenhuma infra-estrutura de saneamento, porém menos nas cidades com boa rede de esgotos. Diversos autores também isolaram Shigellas spp patogénicas de moscas capturadas em casa com doentes de disenteria. Várias espécies de estafilococos foram isolados de partes externas e do canal alimentar da mosca, por diferentes observadores, e assim admite-se que o insecto possa transportar tais germes do pus de uma lesão para erosão da pele de indivíduos sãos. 30 Grassi in Pessôa & Martins, (1982) foi o primeiro a demonstrar a possibilidade da mosca ingerir ovos de helmintos, tais como Taenia solium, Enterobius vermicularis, e posteriormente expulsa-los pelas fezes, com a possibilidade de continuidade da evolução; e (Stiles in Pessôa & Martins, 1982) demonstrou o poder de disseminação de ovos de Ascaris lumbricoides. Finalmente (Galli-Valeiro in Pessôa & Martins, 1982) demonstrou que ovos dos helmintos, bem como larvas de Necator americanus, são transportados a pontos muito distantes, quando aderidos ao corpo das moscas. 31 IV. Material e métodos 1. Local e época de estudos Os dados foram obtidos a partir de inquérito realizado em Salina, Santa Cruz, Santiago (ver caracterização geográfica, III-A-2). O trabalho foi realizado no período de Janeiro a Julho de 2006, sendo no período de Janeiro a Maio aplicado o questionário e realizada a respectiva análise estatística. Os dados foram colectados de forma transversal, sendo as variáveis registadas: presença de animais, espécies presentes, local de criação, uso ou não de medicamentos, alimento usado, número de moscas/pulsar, presença ou não de latrinas e idade, sexo e escolaridade do tratador dos animais. 32 V. Resultados Durante as observações foram inquiridas 100 (cem) famílias. As perguntas foram direccionadas no intuito de identificar o perfil da criação animal, tipo de alimentação e local de criação usado para os animais, e nível sociodemográfico de cada família. Os resultados foram distribuídos em gráficos e tabelas, sendo os dados das tabelas distribuídos em classes para facilitar a análise. A distribuição em classes estão registadas nas tabelas e nelas se destaca a possibilidade do registo de até nove moscas/casa e dez animais/casa em mais de 80% dos casos. Em 75% dos casos, cada família mantinha um agregado entre 4 e 9 indivíduos, sendo os tratadores pessoas do sexo feminino (90%) de 39 a 56 anos (59%). A ilustração do perfil geral da situação demonstrou que na amostra inquirida prevalece a criação de porcos, pequenos ruminantes e aves, embora também tenham sido registadas a presença de coelhos, grandes ruminantes, herbívoros e animais de companhia. Da mesma forma foi verificada maior probabilidade de criação dos animais encima da casa ou no quintal. A verificação do uso de palha, ração e comida de panela como alimento também foi registada, destacando-se o uso de comida de panela. Demonstrou-se também uma proporção menor no uso de latrinas e até 40% de chances dos indivíduos do agregado terem até o 4º ano de escolaridade. As análises de correlação e variação entre as espécies criadas demonstraram também que os maiores problemas estão relacionados com o número de animais, criação de porcos e de aves. Pode ser verificada a criação animal no quintal como o maior dos problemas, contudo, a correlação foi positiva com a criação na rua e encima da casa. Em relação aos alimentos utilizados, destaca-se o de uso de comida de panela como o maior problema, seguido do uso da ração. Entretanto, também o uso da palha mantém correlação positiva com o número de moscas. A variação dos resultados também se relacionou com a falta de latrinas, a idade e o número de moradores. 33 A homogeneização da amostra avaliada destacou a presença de três grupos. No grupo 3 (três) (10% da amostra) pode ser verificada uma pequena quantidade de moscas (classe I) e a falta de animais. O chefe da família era do sexo feminino com 39 a 56 anos de idade, e o agregado familiar de 4 a 6 pessoas. Na maioria das famílias pode ser constatada a presença de latrinas. Os resultados da análise do grupo demonstraram que a variação no número de moscas (11,2%) estava relacionada ao último factor. Por outro lado, destaca-se que 90% da amostra mantém um grande número de moscas e que a homogeneização demonstrou a formação de dois grupos, indicando a necessidade de mais duas abordagens diferentes na estratégia de controlo. Assim vê-se, que no primeiro grupo (40,7%) haveria a necessidade de considerar a contribuição dos factores número de animais, a criação de pequenos ruminantes e o uso de palha como alimentos, indicando o número de animais como responsável por grande parte da variação, entretanto aproximadamente 22% do restante da variação depende de criação de porcos alimentados com comida de panela, e a criação de grandes ruminantes na rua (cr; p<0,05). O sexo e a escolaridade também apareceram como factores determinantes, contudo há necessidade da reavaliação do peso na análise, desde que estes são factores comuns a todos os grupos. Já no grupo 2 (49%), a criação de porcos e pequenos ruminantes e sua alimentação foram os factores de maior contribuição, indicando novamente a relação dos suínos com a presença dos insectos, entretanto o restante da variação (7%) se explica pela criação de aves na rua ou encima da casa e pelo número de moradores (cr; p<0,05). 34 Probability Plot of nenhum; peqrum; porcs; coelh; aves; grarum; ... Normal - 95% CI nenhum 99,9 99 90 90 50 50 50 10 10 10 1 0,1 1 0,1 1 0,1 0 1 -0,5 coelh 99,9 99 1,0 2,5 aves 99,9 99 0,0 90 90 50 50 50 10 10 10 1 0,1 1 0,1 1 0,1 0,0 0,8 -1 herb 99,9 99 0 1 90 90 50 50 50 10 10 10 1 0,1 1 0,1 1 0,1 0,6 1,2 0,0 0,6 2,4 0 1 animais 99,9 99 90 0,0 1,2 -1 ancomp 99,9 99 nenhum Mean 0,16 StDev 0,3685 N 100 AD 28,920 P-Value <0,005 grarum 99,9 99 90 -0,8 porcs 99,9 99 90 -1 Percent peqrum 99,9 99 peqrum Mean 0,33 StDev 0,4726 N 100 AD 20,593 P-Value <0,005 porcs Mean 0,72 StDev 0,4513 N 100 AD 22,485 P-Value <0,005 coelh 1,2 -5 10 25 Mean StDev N 0,04 0,1969 100 av es Probability Plot of nenhlo; quintal; rua; encicas Normal - 95% CI nenhlo Percent 99,9 99 90 90 50 50 10 10 1 0,1 1 0,1 -1 0 1 rua 99,9 99 90 50 50 10 10 1 1 0,1 0,1 0 -1 1 2 nenhlo Mean 0,16 StDev 0,3685 N 100 AD 28,920 P-Value <0,005 0 1 2 encicas 99,9 99 90 -1 quintal 99,9 99 quintal Mean 0,34 StDev 0,4761 N 100 AD 20,273 P-Value <0,005 rua Mean 0,2 StDev 0,4020 N 100 AD 26,503 P-Value <0,005 -1 0 1 2 encicas Mean 0,47 StDev 0,5016 N 100 35 Probability Plot of nenalim; palha; ração; panela; escola; latrina Normal - 95% CI nenalim Percent 99,9 palha 99,9 99 99 99 90 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 1 0,1 0,1 -1 0 99,9 -0,5 1,0 2,5 escola 99,9 -0,5 99 99 90 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 1 0,1 0,1 0,1 1,2 2,4 -6 0 6 1,0 2,5 latrina 99,9 99 0,0 nenalim Mean 0,16 StDev 0,3685 N 100 AD 28,920 P-Value <0,005 0,1 1 panela ração 99,9 palha Mean 0,36 StDev 0,4824 N 100 AD 19,692 P-Value <0,005 ração Mean 0,55 StDev 0,5 N 100 AD 18,040 P-Value <0,005 0,0 1,5 3,0 panela Mean 0,72 StDev 0,4513 N 100 escola Probability Plot of numanimclass; idadeclass; nummorclass; ... Normal - 95% CI numanimclass Percent 99,9 idadeclass 99,9 99 99 99 90 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 1 0,1 0,1 -5 0 5 99 90 90 50 50 10 10 1 1 0,1 0,1 0 4 2 8 4 0,0 sexo 99,9 99 numanimclass Mean 2,07 StDev 1,610 N 100 AD 10,498 P-Value <0,005 0,1 0 nummosclass 99,9 nummorclass 99,9 2,5 5,0 idadeclass Mean 2,802 StDev 0,6901 N 96 AD 9,729 P-Value <0,005 nummorclass Mean 2,598 StDev 0,8739 N 97 AD 6,252 P-Value <0,005 1 2 3 nummosclass Mean 2,347 StDev 1,146 N 95 Ilustração 2. Análise de probabilidades dos factores avaliados no grupo amostral. sexo Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 36 Tabela 2. Distribuição em classes do número de moscas colectadas durante o inquérito. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. Valida de <= 3 4-6 7-9 10 - 12 13 - 15 19 - 21 Total perdido Sistem s a Total Frequenc Percenta ia gem 26 26,0 28 28,0 27 27,0 12 12,0 1 1,0 1 1,0 95 95,0 5 5,0 100 100,0 Validade Cumulativo Percentual Percentual 27,4 27,4 29,5 56,8 28,4 85,3 12,6 97,9 1,1 98,9 1,1 100,0 100,0 Tabela 3. Distribuição em classes do número de moradores/agregado familiar registados durante o inquérito. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. Valida de <= 3 4-6 7-9 10 - 12 13+ Total perdido Sistem s a Total Frequenc Percenta ia gem 6 6,0 44 44,0 32 32,0 13 13,0 2 2,0 97 97,0 3 3,0 100 100,0 Validade Cumulativo Percentual Percentual 6,2 6,2 45,4 51,5 33,0 84,5 13,4 97,9 2,1 100,0 100,0 37 Tabela 4. Distribuição em classes da idade do tratador registada durante o inquérito. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. Valida de <= 20 21 - 38 39 - 56 57 - 74 75 - 92 Total perdido Sistem s a Total Frequenc Percenta ia gem 3 3,0 24 24,0 59 59,0 9 9,0 1 1,0 96 96,0 4 4,0 100 100,0 Validade Cumulativo Percentual Percentual 3,1 3,1 25,0 28,1 61,5 89,6 9,4 99,0 1,0 100,0 100,0 38 Tabela 5. Distribuição em classes do número de animais/família registado durante o inquérito. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. Valid ade <= 3 4-6 7-9 10 12 13 15 16 18 19 21 22 24 Total Frequenc Percenta ia gem 50 50,0 26 26,0 11 11,0 Validade Cumulativo Percentual Percentual 50,0 50,0 26,0 76,0 11,0 87,0 5 5,0 5,0 92,0 3 3,0 3,0 95,0 1 1,0 1,0 96,0 1 1,0 1,0 97,0 3 3,0 3,0 100,0 100 100,0 100,0 Loading Plot of nenhum; ...; moscas porcs 0,50 Second Component moscas 0,25 grarum herb 0,00 peqrum nenhum -0,25 animais -0,50 -0,50 av es -0,25 ancomp coelh 0,00 First Component 0,25 0,50 Ilustração 3. Representação gráfica da inter-relação identificada entre o número de moscas e as espécies animais identificadas. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 39 Loading Plot of nenhlo; ...; moscas 0,8 quintal Second Component 0,6 0,4 0,2 nenhlo moscas 0,0 rua -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -0,75 encicas -0,50 -0,25 0,00 First Component 0,25 0,50 Ilustração 4. Representação gráfica da inter-relação identificada entre o número de moscas e as local de criação dos animais. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 40 Loading Plot of nenalim; ...; moscas 1,00 palha Second Component 0,75 0,50 0,25 moscas nenalim 0,00 ração -0,25 -0,50 panela -0,50 -0,25 0,00 First Component 0,25 0,50 Ilustração 5. Representação gráfica da inter-relação identificada entre o número de moscas e o tipo de alimento utilizado. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 41 Loading Plot of moscas; ...; latrina 0,75 sexo Second Component 0,50 0,25 latrina 0,00 escola -0,25 idade morador -0,50 -0,75 moscas -0,50 -0,25 0,00 First Component 0,25 0,50 Ilustração 6. Representação gráfica da inter-relação identificada entre o número de moscas e alguns dos factores sociais identificados. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 42 Tabela 6. Distribuição percentual da população após a homogeneização amostral do resultado. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. N Cluster/Grupo Casos Excluidos Total 1 2 3 Combinados 37 45 9 91 9 100 % da Combinaç ão 40,7% 49,5% 9,9% 100,0% % do Total 37,0% 45,0% 9,0% 91,0% 9,0% 100,0% Ilustração 7. Representação gráfica da contribuição dos factores para a formação do primeiro grupo. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 43 Ilustração 8. Representação gráfica da contribuição dos factores para a formação do segundo grupo. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 44 Ilustração 9. Representação gráfica da contribuição dos factores para a formação do terceiro grupo. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 45 Probability Plot of nenhum; peqrum; porcs; coelh; aves; grarum; ... Normal - 95% CI nenhum 99 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 1,0 1,5 coelh 99 1 -0,5 0,0 0,5 av es 99 -0,5 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 0,0 0,5 herb 99 0,0 0,5 ancomp 99 90 50 50 10 10 10 1 1 1 -0,5 0,0 0,0 0,5 0,5 animais 99 50 0,5 grarum -0,5 90 0,0 0,5 1 -0,5 90 -0,5 0,0 99 90 -0,5 porcs 99 90 0,5 Percent peqrum 99 -0,5 0,0 0,5 nenhum Mean * StDev * N 9 AD * P-Value peqrum Mean * StDev * N 9 AD * P-Value porcs Mean StDev N AD P-Value * * 9 * coelh Mean * StDev * N 9 av es Probability Plot of nenhlo; quintal; rua; encicas Normal - 95% CI nenhlo Percent 99 90 90 50 50 10 10 1 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 rua 99 1 90 50 50 10 10 1 1 -0,25 0,00 -0,50 -0,25 0,25 0,50 0,00 nenhlo Mean * StDev * N 9 AD * P-Value 0,25 0,50 encicas 99 90 -0,50 quintal 99 quintal Mean * StDev * N 9 AD * P-Value rua Mean StDev N AD P-Value -0,50 -0,25 0,00 0,25 0,50 * * 9 * encicas Mean * StDev * N 9 46 Probability Plot of nenalim; palha; ração; panela; escola; latrina Normal - 95% CI nenalim Percent 99 palha 99 90 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 0,5 1,0 1,5 panela 99 0,0 0,5 escola 99 -0,5 90 50 50 50 10 10 10 1 1 1 0,5 -5 0 0,0 5 0,5 latrina 99 90 0,0 nenalim Mean * StDev * N 9 AD * P-Value 1 -0,5 90 -0,5 ração 99 0,0 1,5 3,0 palha Mean StDev N AD P-Value * * 9 * ração Mean StDev N AD P-Value * * 9 * panela Mean * StDev * N 9 escola Probability Plot of numanimclass; idadeclass; nummorclass; ... Normal - 95% CI numanimclass Percent 99 idadeclass 99 90 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 0,5 1,0 1,5 nummosclass 99 50 50 10 10 1 1 0,5 1,0 1,5 3 5 sexo 99 90 numanimclass Mean * StDev * N 9 AD * P-Value 1 1 90 nummorclass 99 0,0 2,5 5,0 idadeclass Mean 2,889 StDev 0,6009 N 9 AD 1,136 P-Value <0,005 nummorclass Mean 2,556 StDev 1,014 N 9 AD 0,525 P-Value 0,129 1,5 2,0 2,5 nummosclass Mean * StDev * N 9 Ilustração 10. Análise de probabilidades dos factores avaliados no sexo grupo 3, após homogeneização. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 47 Probability Plot of nenhum; peqrum; porcs; coelh; aves; grarum; ... Normal - 95% CI nenhum 99 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 0,0 0,0 0,5 1,0 av es 99 0,5 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 0,0 0,5 herb 99 0 1 90 50 50 50 10 10 10 1 1 1 -0,5 0,0 0,0 0,5 animais 99 90 0,5 grarum -0,5 ancomp 99 0,0 1,5 1 -1 90 -0,5 1,0 99 90 -0,5 nenhum Mean * StDev * N 45 AD * P-Value 1 0,5 coelh 99 porcs 99 90 -0,5 Percent peqrum 99 0,5 0 5 10 peqrum Mean 0,02222 StDev 0,1491 N 45 AD 16,927 P-Value <0,005 porcs Mean StDev N AD P-Value * * 45 * coelh Mean * StDev * N 45 av es Probability Plot of nenhlo; quintal; rua; encicas Normal - 95% CI nenhlo Percent 99 90 90 50 50 10 10 1 -0,50 -0,25 0,00 0,25 0,50 rua 99 1 90 50 50 10 10 -0,5 0,0 -1 0 0,5 1,0 1 nenhlo Mean * StDev * N 45 AD * P-Value 1 2 encicas 99 90 1 -1,0 quintal 99 quintal Mean 0,4667 StDev 0,5045 N 45 AD 7,968 P-Value <0,005 rua Mean 0,08889 StDev 0,2878 N 45 AD 15,074 P-Value <0,005 -1 0 1 2 encicas Mean 0,4889 StDev 0,5055 N 45 48 Probability Plot of nenalim; palha; ração; panela; escola; latrina Normal - 95% CI nenalim Percent 99 palha 99 90 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 -0,5 0,0 0,5 panela 99 0,0 0,5 escola 99 0 90 50 50 50 10 10 10 1 1 1 1,0 0 1 6 2 latrina 99 90 0,5 nenalim Mean * StDev * N 45 AD * P-Value 1 -0,5 90 0,0 ração 99 palha Mean StDev N AD P-Value * * 45 * ração Mean 0,6889 StDev 0,4682 N 45 AD 9,477 P-Value <0,005 12 1 2 3 panela Mean 0,9778 StDev 0,1491 N 45 escola Probability Plot of numanimclass; idadeclass; nummorclass; ... Normal - 95% CI numanimclass Percent 99 idadeclass 99 90 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 0 2 4 nummosclass 99 50 50 10 10 1 1 2,5 5,0 3 5 sexo 99 90 0,0 1 1 90 nummorclass 99 0 2 4 numanimclass Mean 1,4 StDev 0,6876 N 45 AD 7,259 P-Value <0,005 idadeclass Mean 2,844 StDev 0,6380 N 45 AD 5,416 P-Value <0,005 nummorclass Mean 2,622 StDev 0,8865 N 45 AD 2,640 P-Value <0,005 0,8 1,6 2,4 nummosclass Mean 2,489 StDev 1,160 N 45 Ilustração 11. Análise de probabilidades dos factores avaliados no sexo grupo 2, após homogeneização. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 49 Probability Plot of nenhum; peqrum; porcs; coelh; aves; grarum; ... Normal - 95% CI nenhum 99 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 0,0 0 1 2 av es 99 0 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 0 1 herb 99 0 1 -1 ancomp 99 90 90 50 50 10 10 10 1 1 1 0,8 -0,8 0 peqrum Mean 0,8378 StDev 0,3737 N 37 AD 10,574 P-Value <0,005 0,0 porcs Mean 0,6757 StDev 0,4746 N 37 AD 7,591 P-Value <0,005 1 animais 99 50 0,0 2 1 -1 90 -0,8 1 grarum 99 90 -1 nenhum Mean * StDev * N 37 AD * P-Value 1 0,5 coelh 99 porcs 99 90 -0,5 Percent peqrum 99 0,8 0 10 Mean StDev N 20 coelh 0,1081 0,3148 37 av es Probability Plot of nenhlo; quintal; rua; encicas Normal - 95% CI nenhlo Percent 99 90 90 50 50 10 10 1 -0,50 -0,25 0,00 0,25 0,50 rua 99 1 90 50 50 10 10 1 1 0 -1 1 2 nenhlo Mean * StDev * N 37 AD * P-Value 0 1 2 encicas 99 90 -1 quintal 99 quintal Mean 0,3243 StDev 0,4746 N 37 AD 7,591 P-Value <0,005 rua Mean 0,4054 StDev 0,4977 N 37 AD 6,803 P-Value <0,005 -1 0 1 2 encicas Mean 0,6486 StDev 0,4840 N 37 50 Probability Plot of nenalim; palha; ração; panela; escola; latrina Normal - 95% CI nenalim Percent 99 palha 99 90 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 -0,5 0,0 0,5 panela 99 0,8 1,6 escola 99 0,0 90 50 50 50 10 10 10 1 1 1 2 0 1,2 5 10 2,4 latrina 99 90 1 nenalim Mean * StDev * N 37 AD * P-Value 1 0,0 90 0 ração 99 palha Mean 0,9730 StDev 0,1644 N 37 AD 13,817 P-Value <0,005 ração Mean 0,6216 StDev 0,4917 N 37 AD 7,013 P-Value <0,005 0,0 1,5 3,0 panela Mean 0,6757 StDev 0,4746 N 37 escola Probability Plot of numanimclass; idadeclass; nummorclass; ... Normal - 95% CI numanimclass Percent 99 idadeclass 99 90 90 90 50 50 50 10 10 10 1 1 0 5 10 nummosclass 99 50 50 10 10 1 1 2 4 3 5 sexo 99 90 0 1 1 90 nummorclass 99 0 2 4 numanimclass Mean 3,378 StDev 1,920 N 37 AD 2,579 P-Value <0,005 idadeclass Mean 2,892 StDev 0,6139 N 37 AD 4,158 P-Value <0,005 nummorclass Mean 2,676 StDev 0,8183 N 37 AD 3,537 P-Value <0,005 1 2 3 nummosclass Mean 2,649 StDev 1,006 N 37 Ilustração 12. Análise de probabilidades dos factores avaliados no sexo grupo 1, após homogeneização. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 51 Ilustração 14. Criação do porco no “chiqueiro” no quintal. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. Ilustração 15. Criação de vários ruminantes (cabras e ovelhas) na rua ao redor da casa. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 52 VI. Discussão Fica clara a constatação da necessidade de medidas sanitárias urgentes, também acredita-se na necessidade do uso de insecticidas. Contudo, a população deverá ser esclarecida sobre medidas eficientes que poderão ser usadas na destruição das larvas ou seus criadouros e as moscas adultas, e sobre a importância do saneamento básico na manutenção da saúde colectiva. Os resultados também demonstraram a necessidade de abordagem do problema de forma diferenciada entre os diferentes grupos detectados, isto sem deixar de considerar que a maioria das famílias inquiridas depende deste sistema como mais uma fonte de renda. É importante destacar que em alguns casos, os resultados indicaram a necessidade de trabalhos de educação a médio e a longo prazo, pois o problema principal radica nas pessoas de maior idade, principalmente do sexo feminino; que a criação de pequenos animais, como por exemplo aves e coelhos, pode ser recomendada; que em alguns casos, a diminuição do número de animais também poderá ajudar; que há necessidade da construção e da conscientização do uso de latrinas e que a criação de herbívoros e pequenos ruminantes também pode ser preconizada desde que usada a ração como alimento. Entretanto, a melhoria do quadro só alcançara a taxa dos 20%, aproximadamente, usando os factores avaliados. Isto significa, que provavelmente resultados mais satisfatórios poderão ser atingidos caso houver colaboração intersectorial entre as autoridades de saúde, municipais e a própria população, uma vez que diagnóstico, vigilância, prevenção e controle são condições fundamentais para a manutenção de condições sanitárias adequadas visando a prevenção de doenças e a promoção da produtividade e da saúde. 53 Ilustração 16. Criação de ruminantes na rua ao redor da casa. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. Ilustração 17. Criação de porcos em cima da casa. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 54 VII. Conclusões Sabendo-se que existe uma relação inversa entre a condição sanitária de um local e o número de moscas pode ser concluído que: A maior parte das famílias mantém uma condição sanitária precária e esta se relaciona principalmente com número de animais/família, as espécies criadas e o uso de latrinas. O grande número de pessoas por agregado e o grande número de vectores possibilita o desenvolvimento acentuado de doenças de transmissão vectorial. O problema da educação sanitária actualmente se relaciona com indivíduos do sexo feminino de 39 a 56 anos de idade, que criam sem os conhecimentos necessários um grande número de animais, principalmente porcos e aves no quintal. As recomendações devem ser direccionadas para evitar a criação de porcos e o tipo de alimentação, entretanto, as abordagens estratégicas deverão considerar o problema com latrinas e a criação de outras espécies como, por exemplo, aves, de acordo aos grupos identificados para poder contornar o problema. 55 Ilustração 18. Criação de ruminante no quintal. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. Ilustração 19. Criação de aves soltas em cima da casa. Trabalho realizado na localidade de Salina, Santa Cruz, Santiago no período de Janeiro a Julho de 2006. 56 VIII. Referências bibliográficas ALEIXO, R.C.; LIMA, S.L.; AGOSTINHO, C.A.(1984), Criação da mosca doméstica para suplementação alimentar de rãs. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 11 p. (Informe Técnico, 46). In www.scielo.br EHLERS, E. (1999), Agricultura Sustentável, Ed. Agropecuária, p. 52 a 56. In www.aao.org.br Forattini, O. P. (1986), Epidemiologia Geral. 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