De Moto pelas Américas Cabra das montanhas – esses belos animais das montanhas geladas do Alasca foram o primeiro motivo para que eu partisse nesta viagem. Norte do Canadá. Após exaustivo planejamento para estudo e elaboração do roteiro, parti rumo a um antigo sonho: percorrer as três Américas, desde o Círculo Polar Ártico no Alasca até São Paulo, onde vivo, tudo de motocicleta. Escolhi a cidade de Los Angeles - Califórnia - para o início desta aventura. A fenda do Grand Cannyon nos lembra a dimensão do Grande Criador. EUA. De lá fui a Las Vegas, depois ao árido Vale da Morte. Este nome se deve ao fato de este local estar a 70 metros abaixo do nível do mar e mesmo assim não ter água. Nas montanhas Rochosas o cenário vai variando entre o belo e o incrível com tamanha velocidade que por muitas vezes nem a neve caindo me atrapalhava. Já no Canadá, percorri os parques de Banff e Jasper. São aproximadamente 290 Km de pura natureza em uma das rodovias mais belas do planeta. Ao norte da cidade de Jasper iniciou-se um dos momentos mais esperados da viagem: o encontro com ursos em seu habitat natural. O risco de fotografar animais ASSUNTO: De moto pelas Américas 07-09-05 Um dos momentos aonde o frio se confundia com a alegria de continuar seguindo em frente rumo ao Alasca. Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com Autor: Wilton de Almeida ([email protected]) Pág. 1 selvagens é sempre um item que devemos levar em consideração, porém com cautela e uma dose de sorte, foi possível conseguir realizar estas fotografias. Na medida em que eu rumava ao norte, ao Alasca, os dias iam ficando mais frios e mais longos. Depois de tanto sonhar fotografá-lo em seu habitat natural, lá estava ele. Jasper – Canadá. Em determinado dia, próximo a cidade de Iskut, já passava das 22:30 hs quando percebi que o dia não ia embora e resolvi parar para dormir. A partir da parte norte da província de Yukon as estradas pavimentadas acabaram e o cascalho solto passou a ser uma constante durante os longos dias. Pouco mais de 22:30 horas e o dia claro. Estava enfim me aproximando do Alasca. Ao total foram 3200 Km (entre ida e volta) de estradas ruins, em conserto ou em abandono total. A Alaska Highway é o único meio possível, por terra, de se chegar ou sair do Alasca e no inverno, que lá é demasiado rigoroso, a neve se encarrega de destruir a pavimentação da rodovia. Esta faixa levei para fazer uma homenagem ao meu pai. Quando entreguei a foto ele ficou em silêncio e, após aproximadamente 30 segundos, falou somente “Bacana...”. Neste momento, entre lágrimas, nos abraçamos. Círculo Polar Ártico – Alasca. ASSUNTO: De moto pelas Américas 07-09-05 Chegar ao Alasca foi uma emoção à parte. Após cruzar o Círculo Polar Ártico, virando a bússola, o destino estava distante: São Paulo - Brasil. Não sem antes atravessar as regiões da América Central e do Sul, sobretudo com a preocupação de encontrar os guerrilheiros em algumas partes. Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com Autor: Wilton de Almeida ([email protected]) Pág. 2 Atravessei o México pela região mais histórica na tentativa de saber um pouco mais sobre o país que, ao brasileiro, se faz por demais acolhedor. Cidades como Zacatecas, Chiuahua, Guadalupe, entre outras, não podiam estar fora de meu roteiro. Na cidade do México, o caos urbano fez-me lembrar a superpopulação de minha cidade. Visitei as ruínas de Teotihuacán, a cidade dos deuses, onde, segundo a lenda, o ano era composto de 360 dias e mais 5 dias sagrados. As crianças nascidas nos 5 dias sagrados teriam a honra de, após 5 ou 6 anos, serem sacrificadas e oferecidas ao deus sol para que o mesmo não parasse de brilhar e continuasse dando vida aos homens. Quase no Estado de Chiapas, o mais pobre do país, um frentista de posto de gasolina alertou-me: "Brasileiro, você é louco? Aqui eles atiram de verdade, depois é que perguntam alguma coisa. Vá por outro caminho se deseja continuar vivo...". Na Guatemala fui conhecer as ruínas de Tikal, um exemplo de preservação da civilização Maia. Depois El Salvador e Honduras. Muitos haviam falado dos riscos destes países da América Central, mas foi ali que encontrei um dos povos mais hospitaleiros e acolhedores de todo o percurso. Algumas passagens ficaram gravadas para sempre em minha memória como gente simples e boa. Um dos momentos mais tensos desta viagem aconteceu na Nicarágua, onde fui abordado por guerrilheiros. O pior foi que eu estava em um trecho de rodovia onde há mais de 40 minutos eu não via nenhuma alma viva. A solidão fez daquele momento terrível. Depois de alguns minutos sendo só observado, no mais perfeito silêncio, o que aumentava meu medo, um deles perguntou de onde eu era. ASSUNTO: De moto pelas Américas 07-09-05 A fronteira mais difícil de um país aonde encontrei guerrilheiros que, amistosamente, permitiram minha passagem. Nicarágua. Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com Autor: Wilton de Almeida ([email protected]) Pág. 3 Foi minha salvação já que, quando respondi "brasileiro", ele logo falou de Romário, Bebeto, Ronaldo, Futebol e Carnaval. Graças a Deus. Depois que saí dali, ou seja, fui liberado, minhas pernas começaram a tremer amolecidas. No Panamá visitei o complexo do Canal de Panamá, que faz a ligação entre os oceanos Atlântico e Pacifico. Diante de tão grandiosa obra, obra esta feita a custa de muitas vidas, chego a pensar em como há força para melhorarmos a condição de vida no planeta. Em Colón um pouco de música, cerveja e o modo caribenho de viver. Colômbia é um país de incontáveis belezas. Zipaquirá, a catedral de sal é uma visita imperdível para quem vai a Bogotá. Mais ao sul, próximo a Ipiales, uma das igrejas mais impressionantes que já vi, senão por seu tamanho, mas pela ousadia de sua construção, já que foi literalmente apoiada nas duas paredes de um vale. Trata-se da Catedral de Las Lajas. Ao sul da Colômbia uma obra magnífica apoiada em um vale. Catedral de Las Lajas. Ipiales. Equador foi outro país que eu poderia classificar como dos mais hospitaleiros. Na cidade de Quito passa a linha do Equador, que divide o planeta em dois hemisférios: norte e sul. Ali conheci o senhor Humberto Vera, historiador que já esteve em todos os monumentos à linha do Equador, em todo o planeta. Aliás foi ele o responsável pela construção do monumento que existe em Quito. Foram várias horas de bom bate papo e troca de informações e experiências. Em Quevedo não posso deixar de citar a hospitalidade do povo, além do melhor hotel de todo percurso, o hotel Internacional que, por apenas 22 dólares, oferece piscina olímpica, quarto enorme, banheira grande, ASSUNTO: De moto pelas Américas 07-09-05 Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com Autor: Wilton de Almeida ([email protected]) Pág. 4 restaurante, bar, boate, garagem, tudo que um grande hotel pode oferecer. No Peru o agente da aduana disse que só daria permissão para que eu permanecesse no país durante sete dias. Depois de eu pedir um pouco mais ele respondeu: "-Vocês nos meteram sete e por isso agora somente darei sete dias..." e sorriu. Foi aí que percebi que ele estava se referindo a uma partida que tinha ocorrido alguns dias antes, quanto o Brasil derrotou o Peru por 7x0. No final ele me deu 90 dias de visto. 4800 metros de altitude, 10º C abaixo de zero no único ponto de hospedagem que conseguimos naquele dia. Cordilheira dos Andes – Peru. A beleza e a solidão de um dos desertos mais secos do planeta. Deserto de Sechura – Peru. Subindo a cordilheira, desde Arequipa, a temperatura variou de 40º C até 0º C em apenas quatro horas e meia. Mais tarde, neste mesmo dia, a temperatura chegou a 10º C, o que fez um total de 50 graus de variação. Ufa, haja frio... Nesta noite a solução foi dormir na casa de uma família andina de origem quéchua. A senhora preparou um frango ensopado e muito mate de coca, o que valeu para dar uma esquentadinha. O mate de coca é utilizado para equilibrar as pressões interna e externa no corpo e para melhorar o mal estar provocado pelo soroche (o mal das alturas), que assola quem se aventura em grandes altitudes. O quarto, único disponível, não fechava a porta direito, além de ter um buraco enorme no teto, o que fazia o vento entrar e sair durante toda noite. O lado bom foi poder olhar a noite andina dos 4.500 metros de altitude, bem pertinho das estrelas, mesmo pensando que o frio pudesse me vencer. Creio ter sido a noite mais longa de minha vida. ASSUNTO: De moto pelas Américas 07-09-05 Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com Autor: Wilton de Almeida ([email protected]) Pág. 5 Macchu Picchu e o Vale Sagrado dos Incas merece um capítulo a parte em virtude da história que esconde-se por detrás de cada uma daquelas pedras. Vale dizer que a importância das ruínas de Macchu Picchu se deve ao fato de esta manter-se 80% ainda preservada. Vale Sagrado dos Incas. Peru. Em suas vestes típicas andinas esta pequena índia quéchua posa para uma foto. De volta à estrada, Puno e o Lago Titicaca, o mais alto lago navegável do planeta, onde pequenas embarcações de junco, os Totora, cruzam as águas rumo às ilhas do Sol e da Lua. Na Bolívia, a capital folclórica das Américas, estradas difíceis foram uma constante. ASSUNTO: De moto pelas Américas 07-09-05 Casebres do altiplano andino. Peru. Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com Autor: Wilton de Almeida ([email protected]) Pág. 6 Logo de cara um atoleiro de areia apresentava algumas bifurcações que, caso fosse escolhido o lado errado, só depois de uns 200 ou 250 metros, dava para perceber devido a presença de uma barreira de mata à frente. E toca a voltar tudo no areião. La Paz é uma cidade linda, rodeada por picos nevados cujo maior é o Ilimani. Ali consegui comer algo tão típico em Sampa e tão difícil nesta viagem, um Hot Dog. Ponto mais alto da rodovia que cruza a cordilheira na Bolívia. É, parece esquisito, mas as coisas mais simples podem nos provocar saudades. Em Santa Cruz de La Sierra, a opção foi o Trem da Morte. Mal sabia eu que ao descer em Roboré no dia seguinte, levaria mais dois dias para percorrer somente 75 Km, devido a um atoleiro intenso de areia chamado fesh-fesh. É o lado boliviano de nosso pantanal. No primeiro dia, após 32 Km, cheguei a Águas Calientes. Como o próprio nome sugere, ali passa um rio de água quente onde as pessoas entram para se banhar e relaxar. O dono de uma casa tinha acabado de abater um boi e aproveitei para fazer uma boa e barata refeição. Ali fiquei no hotel mais natural de todo o percurso, ou seja, fiquei tão próximo da natureza quanto qualquer pessoa pode, ou sonha, ficar. Em outras palavras, parei a motocicleta e dormi ao lado dela. ASSUNTO: De moto pelas Américas 07-09-05 Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com Autor: Wilton de Almeida ([email protected]) Pág. 7 No lado boliviano os arenais chegam a ter até 70 cm de profundidade e se chamam fesh-fesh. Bolívia. No dia seguinte rodei 45 Km até um povoado de nome Naranjo, sempre enfrentando o tal do fesh-fesh. A chuva veio e a única saída era esperar um novo trem que viria somente no outro dia. Dormi na estação próximo à moto. O senhor Juan, que cuidava do local, acabou me arranjando uma rede e disse para que eu dormisse dentro da estação e que ele a deixaria aberta para o caso de eu querer sair durante a noite. Neste momento eu pensei comigo: "Mas sair para aonde?" Peguei o trem e vim agarrado em uma coluna de ferro até Yacuse, de onde parti rumo a Corumbá, já no Brasil. De Corumbá (MS) até São Paulo foram 1500 Km de quase relaxamento, com boas estradas e pouco trânsito. Só próximo a São Paulo é que a quantidade de veículos aumentou. Em casa havia uma placa onde eu pude ler: "Welcome back from Alaska". Tucano. Pantanal matogrossense – Brasil. Exausto mas cheio de histórias na bagagem, percebi mais uma vez que viver vale a pena. A festa varou a madrugada." NOTA: O livro "Uma Aventura às Três Américas" pode ser encontrado na Livraria Cultura, Fnac, Nobel, entre outras. ASSUNTO: De moto pelas Américas 07-09-05 Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com Autor: Wilton de Almeida ([email protected]) Pág. 8 No litoral brasileiro, cenários belos e encantadores. Praia de Canoa Quebrada – Ceará – Brasil. Inicio da Rodovia Transamazônica – aqui o começo de um sonho que se realizaria por completo no ano de 2005. Paraíba – Brasil. Do Autor de… www.moto.com.br ASSUNTO: De moto pelas Américas 07-09-05 Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com Autor: Wilton de Almeida ([email protected]) Pág. 9