De Moto pelas Américas
Cabra das
montanhas –
esses belos
animais das
montanhas
geladas do
Alasca foram o
primeiro motivo
para que eu
partisse nesta
viagem. Norte
do Canadá.
Após exaustivo planejamento para estudo e elaboração do roteiro, parti rumo
a um antigo sonho: percorrer as três Américas, desde o Círculo Polar Ártico
no Alasca até São Paulo, onde vivo, tudo de motocicleta. Escolhi a cidade de
Los Angeles - Califórnia - para o início desta aventura.
A fenda do Grand Cannyon nos lembra a dimensão do
Grande Criador. EUA.
De lá fui a Las Vegas, depois ao árido
Vale da Morte. Este nome se deve ao
fato de este local estar a 70 metros
abaixo do nível do mar e mesmo assim
não ter água. Nas montanhas Rochosas
o cenário vai variando entre o belo e o
incrível com tamanha velocidade que
por muitas vezes nem a neve caindo
me atrapalhava.
Já no Canadá, percorri os parques de
Banff e Jasper. São
aproximadamente 290 Km de pura
natureza em uma das rodovias mais
belas do planeta. Ao norte da cidade
de Jasper iniciou-se um dos
momentos mais esperados da
viagem: o encontro com ursos em
seu habitat natural.
O risco de fotografar animais
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Um dos momentos aonde o frio se confundia com a alegria de
continuar seguindo em frente rumo ao Alasca.
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selvagens é sempre um item que devemos
levar em consideração, porém com cautela e
uma dose de sorte, foi possível conseguir
realizar estas fotografias.
Na medida em que eu rumava ao norte, ao
Alasca, os dias iam ficando mais frios e mais
longos.
Depois de tanto sonhar fotografá-lo em seu
habitat natural, lá estava ele. Jasper – Canadá.
Em determinado dia, próximo a cidade de
Iskut, já passava das 22:30 hs quando
percebi que o dia não ia embora e resolvi
parar para dormir. A partir da parte norte da
província de Yukon as estradas
pavimentadas acabaram e o cascalho solto
passou a ser uma constante durante os
longos dias.
Pouco mais de 22:30 horas e o dia claro. Estava
enfim me aproximando do Alasca.
Ao total foram 3200 Km (entre ida e volta) de estradas ruins, em conserto ou
em abandono total. A Alaska Highway é o único meio possível, por terra, de
se chegar ou sair do Alasca e no inverno, que lá é demasiado rigoroso, a
neve se encarrega de destruir a pavimentação da rodovia.
Esta faixa levei para fazer uma homenagem ao meu pai.
Quando entreguei a foto ele ficou em silêncio e, após
aproximadamente 30 segundos, falou somente “Bacana...”.
Neste momento, entre lágrimas, nos abraçamos. Círculo
Polar Ártico – Alasca.
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Chegar ao Alasca foi uma emoção à
parte. Após cruzar o Círculo Polar
Ártico, virando a bússola, o destino
estava distante: São Paulo - Brasil.
Não sem antes atravessar as regiões
da América Central e do Sul,
sobretudo com a preocupação de
encontrar os guerrilheiros em
algumas partes.
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Atravessei o México pela região mais histórica na tentativa de saber um
pouco mais sobre o país que, ao brasileiro, se faz por demais acolhedor.
Cidades como Zacatecas, Chiuahua, Guadalupe, entre outras, não podiam
estar fora de meu roteiro. Na cidade do México, o caos urbano fez-me
lembrar a superpopulação de minha cidade. Visitei as ruínas de Teotihuacán,
a cidade dos deuses, onde, segundo a lenda, o ano era composto de 360 dias
e mais 5 dias sagrados. As crianças nascidas nos 5 dias sagrados teriam a
honra de, após 5 ou 6 anos, serem sacrificadas e oferecidas ao deus sol para
que o mesmo não parasse de brilhar e continuasse dando vida aos homens.
Quase no Estado de Chiapas, o mais pobre do país, um frentista de posto de
gasolina alertou-me: "Brasileiro, você é louco? Aqui eles atiram de verdade,
depois é que perguntam alguma coisa. Vá por outro caminho se deseja
continuar vivo...".
Na Guatemala fui conhecer as ruínas de Tikal, um exemplo de preservação
da civilização Maia. Depois El Salvador e Honduras. Muitos haviam falado
dos riscos destes países da América Central, mas foi ali que encontrei um
dos povos mais hospitaleiros e acolhedores de todo o percurso. Algumas
passagens ficaram gravadas para sempre em minha memória como gente
simples e boa.
Um dos momentos mais tensos desta
viagem aconteceu na Nicarágua, onde fui
abordado por guerrilheiros.
O pior foi que eu estava em um trecho de
rodovia onde há mais de 40 minutos eu não
via nenhuma alma viva. A solidão fez
daquele momento terrível. Depois de
alguns minutos sendo só observado, no
mais perfeito silêncio, o que aumentava
meu medo, um deles perguntou de onde eu
era.
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A fronteira mais difícil de um país aonde encontrei
guerrilheiros que, amistosamente, permitiram
minha passagem. Nicarágua.
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Foi minha salvação já que, quando respondi "brasileiro", ele logo falou de
Romário, Bebeto, Ronaldo, Futebol e Carnaval. Graças a Deus. Depois que
saí dali, ou seja, fui liberado, minhas pernas começaram a tremer
amolecidas.
No Panamá visitei o complexo do Canal de Panamá, que faz a ligação entre
os oceanos Atlântico e Pacifico. Diante de tão grandiosa obra, obra esta feita
a custa de muitas vidas, chego a pensar em como há força para melhorarmos
a condição de vida no planeta. Em Colón um pouco de música, cerveja e o
modo caribenho de viver. Colômbia é um país de incontáveis belezas.
Zipaquirá, a catedral de sal é uma visita imperdível para quem vai a Bogotá.
Mais ao sul, próximo a Ipiales, uma
das igrejas mais impressionantes que
já vi, senão por seu tamanho, mas
pela ousadia de sua construção, já
que foi literalmente apoiada nas duas
paredes de um vale. Trata-se da
Catedral de Las Lajas.
Ao sul da Colômbia uma obra magnífica apoiada em um vale.
Catedral de Las Lajas. Ipiales.
Equador foi outro país que eu
poderia classificar como dos mais
hospitaleiros.
Na cidade de Quito passa a linha do Equador, que divide o planeta em dois
hemisférios: norte e sul. Ali conheci o senhor Humberto Vera, historiador
que já esteve em todos os monumentos à linha do Equador, em todo o
planeta. Aliás foi ele o responsável pela construção do monumento que
existe em Quito. Foram várias horas de bom bate papo e troca de
informações e experiências.
Em Quevedo não posso deixar de citar a hospitalidade do povo, além do
melhor hotel de todo percurso, o hotel Internacional que, por apenas 22
dólares, oferece piscina olímpica, quarto enorme, banheira grande,
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restaurante, bar, boate, garagem, tudo que um grande hotel pode oferecer.
No Peru o agente da aduana disse
que só daria permissão para que eu
permanecesse no país durante sete
dias. Depois de eu pedir um pouco
mais ele respondeu: "-Vocês nos
meteram sete e por isso agora
somente darei sete dias..." e sorriu.
Foi aí que percebi que ele estava se
referindo a uma partida que tinha
ocorrido alguns dias antes, quanto o
Brasil derrotou o Peru por 7x0. No
final ele me deu 90 dias de visto.
4800 metros de altitude, 10º C abaixo de zero no único ponto
de hospedagem que conseguimos naquele dia. Cordilheira
dos Andes – Peru.
A beleza e a solidão de um dos desertos mais secos do planeta.
Deserto de Sechura – Peru.
Subindo a cordilheira, desde
Arequipa, a temperatura variou de
40º C até 0º C em apenas quatro
horas e meia. Mais tarde, neste
mesmo dia, a temperatura chegou a 10º C, o que fez um total de 50 graus
de variação. Ufa, haja frio... Nesta
noite a solução foi dormir na casa de
uma família andina de origem
quéchua.
A senhora preparou um frango ensopado e muito mate de coca, o que valeu
para dar uma esquentadinha. O mate de coca é utilizado para equilibrar as
pressões interna e externa no corpo e para melhorar o mal estar provocado
pelo soroche (o mal das alturas), que assola quem se aventura em grandes
altitudes. O quarto, único disponível, não fechava a porta direito, além de ter
um buraco enorme no teto, o que fazia o vento entrar e sair durante toda
noite. O lado bom foi poder olhar a noite andina dos 4.500 metros de
altitude, bem pertinho das estrelas, mesmo pensando que o frio pudesse me
vencer. Creio ter sido a noite mais longa de minha vida.
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Macchu Picchu e o Vale Sagrado dos
Incas merece um capítulo a parte em
virtude da história que esconde-se por
detrás de cada uma daquelas pedras. Vale
dizer que a importância das ruínas de
Macchu Picchu se deve ao fato de esta
manter-se 80% ainda preservada.
Vale Sagrado dos Incas. Peru.
Em suas vestes típicas andinas esta pequena índia quéchua posa para uma foto.
De volta à estrada, Puno e o Lago
Titicaca, o mais alto lago navegável
do planeta, onde pequenas
embarcações de junco, os Totora,
cruzam as águas rumo às ilhas do Sol
e da Lua. Na Bolívia, a capital
folclórica das Américas, estradas
difíceis foram uma constante.
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Casebres do altiplano andino. Peru.
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Logo de cara um atoleiro de areia apresentava algumas bifurcações que, caso
fosse escolhido o lado errado, só depois de uns 200 ou 250 metros, dava para
perceber devido a presença de uma barreira de mata à frente. E toca a voltar
tudo no areião. La Paz é uma cidade linda, rodeada por picos nevados cujo
maior é o Ilimani. Ali consegui comer algo tão típico em Sampa e tão difícil
nesta viagem, um Hot Dog.
Ponto mais alto da rodovia que cruza a cordilheira na Bolívia.
É, parece esquisito, mas as coisas
mais simples podem nos provocar
saudades. Em Santa Cruz de La
Sierra, a opção foi o Trem da
Morte. Mal sabia eu que ao descer
em Roboré no dia seguinte, levaria
mais dois dias para percorrer
somente 75 Km, devido a um
atoleiro intenso de areia chamado
fesh-fesh. É o lado boliviano de
nosso pantanal.
No primeiro dia, após 32 Km, cheguei a Águas Calientes. Como o próprio
nome sugere, ali passa um rio de água quente onde as pessoas entram para se
banhar e relaxar. O dono de uma casa tinha acabado de abater um boi e
aproveitei para fazer uma boa e barata refeição. Ali fiquei no hotel mais
natural de todo o percurso, ou seja, fiquei tão próximo da natureza quanto
qualquer pessoa pode, ou sonha, ficar. Em outras palavras, parei a
motocicleta e dormi ao lado dela.
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No lado boliviano os arenais chegam a ter até 70 cm de profundidade
e se chamam fesh-fesh. Bolívia.
No dia seguinte rodei 45 Km até
um povoado de nome Naranjo,
sempre enfrentando o tal do
fesh-fesh. A chuva veio e a
única saída era esperar um novo
trem que viria somente no outro
dia. Dormi na estação próximo à
moto. O senhor Juan, que
cuidava do local, acabou me
arranjando uma rede e disse
para que eu dormisse dentro da
estação e que ele a deixaria aberta para o caso de eu querer sair durante a
noite. Neste momento eu pensei comigo: "Mas sair para aonde?"
Peguei o trem e vim agarrado em
uma coluna de ferro até Yacuse, de
onde parti rumo a Corumbá, já no
Brasil. De Corumbá (MS) até São
Paulo foram 1500 Km de quase
relaxamento, com boas estradas e
pouco trânsito. Só próximo a São
Paulo é que a quantidade de veículos
aumentou. Em casa havia uma placa
onde eu pude ler: "Welcome back
from Alaska".
Tucano. Pantanal matogrossense – Brasil.
Exausto mas cheio de histórias na bagagem, percebi mais uma vez que viver
vale a pena. A festa varou a madrugada."
NOTA: O livro "Uma Aventura às Três Américas" pode ser encontrado
na Livraria Cultura, Fnac, Nobel, entre outras.
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No litoral brasileiro, cenários belos e encantadores. Praia de Canoa
Quebrada – Ceará – Brasil.
Inicio da Rodovia Transamazônica – aqui o
começo de um sonho que se realizaria por
completo no ano de 2005. Paraíba – Brasil.
Do Autor de…
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