EM FOCO – GESTÃO DO TALENTO OPINIÃO: MARIA MANUEL SEABRA DA COSTA ‘Do you have talent?’ © PwC A produtividade da economia portuguesa é cerca de 50% da média dos países mais desenvolvidos, e nos últimos 30 anos não houve qualquer evolução positiva deste indicador.(1) A produtividade é a relação entre o resultado útil de um processo produtivo e a utilização dos factores de produção. Quando consideramos como factor o traMaria Manuel Seabra da Costa é balho, a produtividade do ‘director’ de Human Capital Advisory trabalho será a quantidade Services da PricewaterhouseCoopers de produto produzida por unidade de trabalho. Esta produtividade depende não apenas do capital investido mas também da capacidade de o trabalho produzir bens de forma cada vez mais eficiente É esta capacidade de alcançar resultados que podemos designar por talento. Os resultados referentes à economia portuguesa, atrás referidos, dizem respeito à produtividade de todos os factores de produção, nos quais se inclui o trabalho – e também neste contexto as conclusões não são animadoras. Ao associar esta má performance ao aumento significativo do custo deste factor – aumento de salários, benefícios e encargos sociais –, estamos perante parte da explicação da falta de competitividade da economia portuguesa. Produzimos pouco por cada unidade de trabalho, que por sua vez está cada vez mais cara. De que depende então o talento? O talento depende, por um lado, do nível de conhecimento – educação – e da capacidade de o colocar em prática – experiência. Mas, por outro lado, este talento necessita de estar devidamente enquadrado pela cultura e pela estrutura da organização, que se espera tenha também em atenção um contexto que lhe seja favorável. Não se pode assim falar de talento com carácter uniforme. Cada empresa, ao definir a estratégia e o contexto onde opera, torna específico o talento de que necessita, especificidade que se altera com o tempo. Actualmente, as organizações consomem mais talento do que aquele que produzem – o conhecimento e a experiência que propiciam ao trabalho associado à evolução da organização não são suficientes para satisfazer as suas necessidades de recursos. Por outro lado, a constante evolução dos mercados torna difícil comprar talento fora. São disso exemplo empresas que iniciam processos de internacionalização sem contarem entre os seus quadros com quem possua experiência diversificada e com autonomia para assumir projectos longe da estrutura central; ou organizações que vêem o seu modelo de negócio mudar e não dispõem de pessoas capazes de pensar fora do modelo corrente. Os últimos tempos têm provado que, ainda que estes desafios tenham surgido inesperadamente, teria sido possível antever esta necessidade e prepararmo-nos para desenvolver o talento de que precisamos. Assegurar que em cada momento a organização tem o talento de que precisa – em quantidade e especificidade – é garantir parte significativa da sua competitividade e, desta forma, a sua sustentabilidade. A gestão do talento é encarada no Banco Santander Totta como «um compromisso estruturado e transparente para com os quadros e como um factor de motivação para o crescimento profissional», explica Isabel Viegas. Fonte: «Economia Portuguesa, as últimas décadas», Luciano Amaral (ed. Fundação Francisco Manuel dos Santos) (1) fevereiro 11 © Paulo Gonçalves ternacional e de igualdade de género, para garantir o desenvolvimento do talento; a política de avaliação, visando avaliar o contributo de cada um, com foco no mérito; e a política de compensação, para garantir que temos os melhores sistemas de reconhecimento do contributo de cada colaborador e das equipas». Segundo Isabel Viegas, os objectivos presentes nesta estratégia são «garantir a melhor equipa de banca a operar em Portugal e ser um empregador de referência no mercado de trabalho». Esta é a visão para a gestão das pessoas no banco, «em especial para o garante do talento, algo a que damos corpo através das condições que oferecemos a cada um dos colaboradores, em termos de desenvolvimento, de conciliação ou de evolução profissional», assinala ainda a responsável. Quanto a iniciativas concretas, destaque para os comités de desenvolvimento e mobilidade (CDM) e os comités de selecção interna de directivos (SID), que tiveram grande impacto no modelo de gestão de talento do banco. Os CDM são reuniões regulares, com membros da Comissão Executiva, onde são apreciadas as trajectórias profissionais de cerca de 20 quadros em cada comité e se definem orientações para os dois anos seguintes. Dar ‘feedback’ a cada um destes quadros após cada comité e gerir a execução das orientações que saem dessas reuniões de análise tem garantido a gestão das carreiras dos quadros de elevado talento. Já os SID resultaram da operacionalização dos CDM: «se existe um mecanismo para seguir os percursos dos talentos, não faz sentido ir ao exterior recrutar directivos», afirma Isabel Viegas, explicando que «estes devem surgir dos melhores apreciados, com perfil para evoluírem para funções de maior responsabilidade». É nestes comités SID que são apreciadas as vagas que existem e cruzadas com os resultados dos CDM. Isabel Viegas refere ainda: «Na área de recursos humanos temos dado uma importância acrescida à comunicação das políticas e sobretudo das nossas práticas de gestão de pessoas. Hoje faz parte das funções dos directivos do banco conhecerem as políticas de recursos humanos, serem, entre aspas, embaixadores junto das suas equipas. E os indicadores que temos de satisfação interna, que medimos regularmente através de uma empresa exter- 43