E N T R E V I S TA Entrevista: John Arena da Metro Pizza, Las Vegas, NV O CONCEITO DE PIZZA E PIZZARIA POR QUEM ENTENDE MUITO DOS DOIS ASSUNTOS L as Vegas, para muitos a cidade do pecado, para nós, do trabalho, da oportunidade, do conhecimento e do “Network” conquistado ao longo dos anos em torno do mercado da pizza. Foi lá que aconteceu a 31ª edição da Pizza Expo, a maior feira do mercado de pizza do mundo. Mais uma vez fomos recebidos pelas personalidades do mercado americano, desde os organizadores da feira, dos empresários de grandes pizzarias aos famosos pizza makers, que fazem do ofício uma paixão contagiante. Como de costume, o que para muitos já virou sagrado, fizemos uma visita à Metro Pizza. Premiada pela 9ª vez como a melhor pizzaria da cidade, charmosa e bem frequentada, tem John Arena na segunda geração da sua gestão e é responsável pela expansão da rede. Muito atencioso e receptivo, bateu um papo conosco. Ele falou principalmente sobre a característica do mercado que valoriza o “Conceito”. No caso da pizza, a arte de produzir e comercializar enfatizando sua origem, história e técnicas de como trabalhar com um produto tão popular agregando qualidade. John, você é uma das pessoas mais conceituadas nos EUA quando se fala em pizza. O que você considera ter feito para conquistar essa importância? A chave mais importante do sucesso é a IMERSÃO total. Você tem que estar disposto a se dedicar constantemente, aprimorando todos os aspectos do seu negócio. É vital que você continue sempre animado, com paixão por aprender e compartilhar ideias. Nosso negócio demanda muita dedicação, mas se você não evoluir o tempo todo, ele nunca compensará. Como você define a Metro Pizza para quem ainda não teve a oportunidade de visitá-la em Las Vegas? Consumidores americanos são muito bem informados sobre as tendências de pizza 8 PIZZAS&MASSAS Nº 17 - 2015 e suas variações. Nosso negócio é montado para oferecer uma variedade de pizzas populares e com serviço e ambiente extremamente familiar. Nos esforçamos para criar uma experiência completa, não simplesmente para ser um lugar que serve pizza. Todos os detalhes são cuidadosamente selecionados, desde as cores do local, até a música e o desenvolvimento das receitas. Em 2013, mais de 40 empresários brasileiros assistiram a uma aula sua na Universidade de Nevada sobre a história da pizza. Para você, qual a importância do conceito em uma pizzaria? Entender de onde viemos é uma parte importante para prever o futuro. Conhecer o que moldou nosso passado nos permite julgar quais são as forças que vão impactar nosso negócio no anos seguintes. Estudar e respeitar a história de nosso setor também reforça o valor de nossa cultura. No Brasil, pelo menos até hoje, habitualmente não se coloca “conceito” na criação de uma pizzaria. Qual a importância do “conceito” para uma pizzaria ter sucesso? Desenvolver e manter um conceito identificável separa seu negócio da competição e faz com que todas as decisões sejam bem mais simples. Em toda oportunidade, você deve se perguntar se uma mudança ou adição de alguma coisa vai mexer ou mudar o seu principal, o conceito. O conceito certo e bem Por Carlos Zoppetti, colaboração Erik Momo John Arena e Carlos Zoppetti executado é a base de se ter uma marca real e não somente uma loja de pizza. Muitos empresários, até bem sucedidos em suas pizzarias, nunca colocaram a mão na massa, o que você acha disso? É uma diferença cultural. Parece que a segunda geração de donos de pizzaria no Brasil estão relutantes em ultrapassar paradigmas entre equipe e gerencia. Isso pode ser valioso até um ponto, mas pode também ser negativo. Minha experiência é que a cozinha funciona como uma unidade militar, como soldados em um campo de batalha. Assim como soldados sempre tem um respeito maior por seu líder, por ele ser um verdadeiro guerreiro. Eu sinto que todas as minhas decisões tem mais validade por causa da minha experiência como um pizza maker. Por trabalhar constantemente para ampliar minhas habilidades e conhecimento, eu posso inspirar minha equipe e liderar pelo EXEMPLO. Até porque, fazer pizza é divertido! Outra particularidade do Brasil é que as pizzarias trabalham somente com pizza e às vezes com um único tipo de pizza. No seu restaurante tivemos a oportunidade de degustar vários estilos de pizzas e produtos, quais os benefícios dessa variedade para o negócio? Os clientes modernos se veem como indivíduos com gostos únicos e preferências específicas. Minha estratégia é a de ter uma grande rede oferecendo estilos e produtos que vão apetecer uma diversidade maior de grupos quando eles estão escolhendo um restaurante. que poderíamos fazer para mudar isso? Eu vejo isso como a maior oportunidade no Brasil, mas isso vai exigir a locação exata e muita, muita dedicação. No passado, pizza era uma comida da noite na Itália, mas isso está mudando. Pizza romana com base em lojas de “pedaços” estão introduzindo os italianos à ideia de pizza como uma alimentação deliciosa e acessível para o almoço. Isso está começando mais entre os mais novos, que estão mais abertos a aceitarem a ideia de pizza para uma refeição de dia. Transforme a pizza em algo DIVERTIDO e ESTILOSO, e as pessoas vão aceitar. A pizza é muito adaptável para almoço, café da manhã, QUALQUER HORARIO! Por que não? Recentemente, um grupo de empresários brasileiros foi recebido em uma de suas pizzarias e comentaram sobre a experiência que tiveram na área de produção. Fizeram algumas pizzas e enfatizaram sobre a técnica de abrir a massa sem rolo, muito mais difundida nos EUA do que no Brasil. Quais as vantagens desta técnica para a qualidade da pizza? Tratamos a massa como se estivesse viva. Usando nosso senso de tato, nós trazemos a mais delicada e sutil qualidade para a massa. Nosso objetivo é o de ter uma ligação espiritual e física entre as mãos do “pizza maker” e o consumidor. No Brasil, o empresário sofre com a elevada e confusa carga tributária, além da falta de mão de obra especializada. Nos EUA, quais são as principais dificuldades que um empresário de pizzaria encontra? São as mesmas dificuldades no mundo todo. Políticos não entendem a economia do nosso negócio, que tem um alto custo com mão de obra e baixas margens de lucro. Temos que nos manter envolvidos com o processo político ou o governo vai nos taxar mais. Nosso próximo maior desafio é MANTER os empregados de qualidade e isso só será conseguido evoluindo constantemente e oferecendo oportunidades para os membros mais valiosos da equipe. Em 2014, você teve a oportunidade de visitar o Brasil no 1º Congresso Internacional da Pizza. Nessa breve visita, o que você achou do país? Para mim, ir ao Brasil foi como ir para casa. Minha avó nasceu em São Paulo, de uma linhagem italiana. Ela se sentia muito orgulhosa de sua terra natal e falava muito de lá. As pessoas, as vozes e os rostos foram como velhos amigos. E da pizza? A pizza foi única e de altíssima qualidade. A pizza chegou no Brasil mais ou menos na mesma época em que veio para os EUA, com a onda de imigrantes do Sul da Itália. É fascinante ver como um produto com as mesmas origens pode se desenvolver e mudar, influenciado pelas diferentes condições sociais, clima, insumos e influencias étnicas. Eu senti que em algumas áreas a pizza é mais variada do que nos EUA, mas os brasileiros são mais avançados em embalagens e finalização na apresentação. Mas no final, somos todos irmãos de pizza e compartilhamos um amor comum por ela, como a maior e mais democrática comida do mundo, que nos une! E isso é mais importante do que as diferenças. Ainda falando em particularidades do Brasil, o hábito de comer pizza aqui é somente noturno, já nos EUA come-se em qualquer momento. O que você acha 2015 - Nº 17 PIZZAS&MASSAS Erik Momo e John Arena 9