Reprolatina na luta contra a homofobia e a favor de uma
educação sexual não machista
Entre os projetos desenvolvidos pela Reprolatina está o “Estudo qualitativo sobre homofobia
na comunidade escolar em 11 capitais brasileiras”. Trata-se de uma pesquisa que foi parte
integrante do projeto Escola sem Homofobia, coordenado pela Pathfinder do Brasil, em
parceria com a Reprolatina, ABGLT, ECOS e SECAD. A pesquisa teve como objetivo conhecer a
percepção das autoridades educacionais, equipes docentes e alunos do 6° ao 9° ano de ensino
fundamental da rede pública de ensino sobre a situação da homofobia no ambiente escolar,
para dar subsídios ao Programa Brasil sem Homofobia de combate à violência e à
discriminação contra LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros)
lançado em 2004.
Uma escola homofóbica
Os resultados obtidos no estudo revelaram que existe um grande desconhecimento dos
conceitos de sexualidade, identidade de gênero, orientação sexual e diversidades sexuais.
Embora os discursos tivessem sido, muitas vezes, de tolerância e aceitação da diversidade, a
maioria das pessoas rejeitava a homossexualidade e a considerava pecado, desvio, perversão
ou, pelo menos, anormalidade. Embora a homossexualidade já não seja considerada uma
doença e não apareça nos códigos internacionais de doenças, muitas pessoas afirmaram que o
homossexual é um doente. A pesquisa também mostrou que a população LGBT é invisível nas
escolas, e essa invisibilidade é maior com as lésbicas do que com os gays e não há travestis e
transsexuais nas escolas.
Embora muitas pessoas não conhecessem o conceito de Homofobia e nunca tivessem pensado
nem falado sobre o assunto, muitas respostas foram muito próximas do conceito utilizado na
pesquisa. A pesquisa mostrou que existe homofobia na escola mas ela, de certa maneira, é
negada primeiro pelo discurso que nega a existência de estudantes LGBT na escola e, em
segundo lugar, porque as expressões de homofobia são muitas vezes minimizadas ou
naturalizadas. Os mesmos que reconhecem a importância da homofobia, a minimizam na
tentativa de torná-la mais ou menos invisível, para não entrar em conflito com os costumes
tradicionais da sociedade dominada pelas doutrinas morais e/ou religiosas, que condenam a
homossexualidade.
“....ser homossexual é um direito de cada qual, mas tenho que reconhecer que beijo na boca de
homem com homem não é normal nem natural e beijo de mulher com mulher é bem nojento....”,
professor(a).
O estudo mostrou também que houve consenso de que a homofobia é um problema muito
importante, que merece toda a atenção, não somente das autoridades educacionais, mas de
toda a sociedade. Entre as causas da homofobia está a construção sócio-histórica da
heteronormatividade, reconhecida como um fenômeno construído e reforçado pelos valores e
pela educação nas famílias ao longo do tempo. Um dado que chamou a atenção foi o
reconhecimento, por parte das pessoas entrevistadas, das consequências da homofobia,
incluindo tristeza, depressão, baixa autoestima, perda de rendimento escolar, evasão escolar,
violência e até suicídio.
Por fim, a pesquisa apontou que há uma grande distância entre a teoria e a prática em relação
às políticas de educação sexual e os professores. Estes disseram se sentir despreparados para
atuar na área das diversidades sexuais e da homofobia. Para agravar ainda mais esta situação,
também foi falado que a própria família dos estudantes se opõe a esse tipo de trabalho. Além
disso, os educadores afirmaram que não têm tempo para incorporar a educação sexual como
tema transversal porque estão sempre muito sobrecarregados.
O estudo envolveu um total de 1.406 participantes (autoridades de ensino, professores/as do
6º ao 9º ano, estudantes do 6º ao 9ºano e funcionários/as) de 44 escolas públicas estaduais e
municipais em onze capitais: Manaus, Porto Velho, Natal, Recife, Cuiabá, Goiânia, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
Mais informações sobre a pesquisa contatar: Margarita Díaz, Magda Chinaglia, Juan Díaz,
pesquisadores da Reprolatina.
Site:
www.reprolatina.org.br
email: [email protected]
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