Catalisadores de Ni suportados para produção de H2 a partir da reforma do ácido acético 1,2 1 2 Vanessa Monteiro Ribeiro ; Raimundo Crisóstomo Rabelo Neto ; Fabio Barboza Passos ; 1 Fabio Bellot Noronha * 1 Instituto Nacional de Tecnologia-INT, Av. Venezuela, n˚ 82, Saúde, Rio de Janeiro, RJ. Universidade Federal Fluminense, Departamento de Engenharia Química e de Petróleo; Rua Passo da Pátria, 156 - Bloco E - sala 231; São Domingos; Niterói, RJ. * [email protected] 2 Resumo-Abstract Neste trabalho, foi estudado o comportamento de catalisadores de Ni suportado em MgO, CeO2, e Y2O3 na reforma do ácido acético. Os materiais foram caracterizados por difração e fluorescência de raios X e redução a temperatura programada. Para investigar o efeito da natureza do suporte na reação e adsorção do ácido acético foi utilizada a técnica de espectroscopia na região do infravermelho acoplada a uma célula de DRIFTS, foi feito ainda um estudo do mecanismo da reação através do monitoramento in situ da dessorção do ácido acético seguido da técnica de espectrometria de massa. O catalisador Ni/MgO apresentou uma melhor adsorção de ácido acético. O espectro de massa revelou uma significativa formação de H2, CH4, CO2 e CO durante o aquecimento até a temperatura de 400°C. A formação de CH4 e CO2 na corrente gasosa indica que as espécies acetato sofreram oxidação, produzindo metano e espécies carbonato, seguida da sua decomposição com a evolução de CO2. Palavras-chave: ácido acético, reforma, níquel, produção de hidrogênio. In this work, we studied the behavior of Ni catalysts supported on MgO, CeO2, Y2O3 in the reforming of acetic acid. The materials were characterized by X-ray diffraction and fluorescence and temperature programmed reduction. To investigate the effect of the nature of the support in the reaction and adsorption of acetic acid was used the technique of spectroscopy of the infra-red coupled to a DRIFTS cell, a study of the reaction mechanism by in situ monitoring of the desorption acetic acid followed by mass spectrometry was also performed. The Ni / MgO catalyst showed better adsorption of acetic acid. The mass spectrum revealed a significant formation of H2, CH4, CO2 and CO when heated to 400° C. The formation of CH4 and CO2 in the gas stream indicates that the species suffered acetate oxidation, producing methane and carbonate species, followed by its decomposition with evolution of CO2. Keywords: acetic acid, reforming, nickel, hydrogen production. Introdução bio-óleo ou compostos modelo, tais como, acetol, ácido acético, acetona, hidroxiacetaldeído (2). Um dos principais problemas da reforma catalítica do bio-óleo é a formação de depósitos carbonáceos, que levam a desativação dos catalisadores. Diversos estudos têm procurado desenvolver catalisadores adequados para a reforma do bio-óleo porem ainda não foi obtido um material que seja estável nas condições da reação. Este trabalho tem como objetivo a caracterização de catalisadores de Ni suportado em MgO, CeO2 e Y2O3 visando a reforma do acido acético, molécula representativa do bio-óleo. A técnica de espectroscopia na região do infravermelho acoplada a uma célula de A utilização do hidrogênio como um vetor energético é uma opção promissora para a geração sustentável de energia, já que contribui para a redução das emissões globais dos gases causadores do efeito estufa. Uma das alternativas para a produção de hidrogênio é o processo que envolve a pirólise rápida da biomassa para gerar um produto líquido, o bio-óleo. A reforma do bio-óleo tem como produto uma fase gasosa rica em hidrogênio (1). Entretanto, como o bio-óleo é constituído por uma mistura complexa de compostos oxigenados, a maioria dos estudos sobre a reforma utiliza a fração aquosa do Anais do 16o Congresso Brasileiro de Catálise 1733 monitoramento in situ da dessorção do ácido acético. As análises foram realizadas com resolução de 4 cm-1, tendo sido acumulados 256 scans. A análise da fase gasosa foi acompanhada através de um espectrômetro de massa (Balzers, Omnistar) acoplado ao espectrômetro FT-IR. A pressão no interior da câmara foi mantida em torno de 10-6 mbar. Para todos os experimentos foram acompanhados os sinais relativos a razão m/z iguais a: 2 (H2); 4 (He); 15 (CH4); 28 (CO); 44 (CO2); 58 (CH3)2CO e 60 (CH3COOH). As amostras foram previamente reduzidas e passivadas como descrito anteriormente. Após esta etapa, as amostras foram transferidas para o reator e novamente reduzidas sob fluxo de H2 (30 mL/min) a uma temperatura de 500° C, por 1 h. Em seguida, a célula foi resfriada sob fluxo de He até a temperatura de 40° C. Depois, foi iniciada a adsorção através da passagem de He (30 mL/min) por um saturador contendo ácido acético (Sigma Aldrich) mantido à 42° C durante 30 minutos. A dessorção foi acompanhada pelo espectrômetro de massa, onde os perfis foram registrados continuamente durante o aquecimento e após a estabilização das temperaturas em 40, 100, 200, 300, 400 e 500˚ C. DRIFTS foi usada para investigar o efeito da natureza do suporte na adsorção e reação do acido acético. Foi possível fazer um estudo do mecanismo da reação através do monitoramento in situ da dessorção do ácido acético seguido da técnica de espectrometria de massa. Experimental - Preparo dos suportes Os suportes foram preparados a partir da calcinação a 800 ºC (10º C/min) em mufla por 1 h dos nitratos de ítrio Y(NO3)3·6H2O (Aldrich), de magnésio Mg(NO3)2·6H2O (Merck) e de cério (NH4)2Ce(NO3)6 (Fluka). Os catalisadores foram sintetizados pela impregnação seca dos suportes com Ni(NO3)2·6H2O (VETEC) de modo a se obter um teor metálico em torno de 15% em peso de Ni (3). Em seguida, os materiais foram secos em estufa à 120º C, por 24 horas, e calcinados em um reator sob fluxo de ar sintético (50 mL/min), à 400 ºC, por 1 h (5º C/min). - Caracterização A área específica das amostras foi determinada pelo método BET, através da adsorção de N2 a 77 K utilizando um equipamento ASAP 2020 (Micromeritics). A composição química dos catalisadores foi determinada utilizando a técnica de espectrometria de fluorescência de raios X, em um equipamento Rigaku, modelo RIX-3100, usando o método de varredura semiquantitativa. A análise de difração de raios X (DRX) foi realizada em um equipamento RIGAKU modelo Miniflex, utilizando radiação Cu (1,540 Å) com passo de 0,02°. O tamanho de cristalito foi determinado usando a equação de Scherrer (4). Para obter o diâmetro de cristalito do níquel metálico (Ni°), as amostras foram reduzidas sob fluxo de H2 (30 mL/min) a 750˚ C, por 1 h, e posteriormente resfriadas a 25° C sob fluxo de N2. Em seguida, foram passivadas sob fluxo de uma mistura contendo 5% O2/N2 (65 mL/min), por 1 h à -70° C e 1 h à temperatura ambiente. As medidas de redução a temperatura programada (TPR) foram realizadas em um equipamento convencional acoplado a um detector de condutividade térmica (TCD). Inicialmente, as amostras foram pré-tratadas a 400° C (10° C/min), por 1 h, sob fluxo de ar sintético (50 mL/min) e por 30 min sob fluxo de N2 (50 mL/min). Em seguida, as amostras foram aquecidas até 1000° C (10° C/min) sob fluxo de uma mistura 2% H2/N2. - Dessorção a temperatura programada (TPD) do acido acético acompanhada por espectroscopia na região do infravermelho (DRIFTS) e espectrometria de massa. As análises de TPD foram realizadas em um espectrômetro FT-IR Bruker Vertex 70 equipado com um detector (LN-MCT), um acessório de reflectância difusa com geometria Praying Mantis e uma câmara com janelas de ZnSe da Harrick. Esta câmara permitiu o Resultados e Discussão A Tabela 1 apresenta os resultados de área específica e da composição química dos catalisadores. Tabela 1. Valores de área específica dos catalisadores e teor de Ni presente Amostras Área (m2/gcat) Teor de Ni (%peso) Ni/MgO <10 12,5 Ni/Y2O3 13 13,4 Ni/CeO2 <10 14,8 Todos os catalisadores apresentaram baixos valores de área específica, em torno de 10 m2/gcat, característicos de materiais não porosos. O teor de níquel ficou abaixo do valor desejado para os catalisadores Ni/MgO e Ni/Y2O3, e muito próximo ao valor nominal no Ni/CeO2. Os resultados de DRX dos catalisadores estão apresentados na Figura 1. No difratograma do Ni/MgO foram verificadas as linhas em 36,9°, 42,9°, 62,2°, 74,7° e 78,5° típicas do MgO de estrutura cúbica, Fm3m (JCPDS 45-0946). Entretanto, não foi observada a presença de linhas características do NiO. Segundo Requies et al. (5) e Furusawa et. al. (6), o não aparecimento das linhas do NiO seria atribuído a formação de uma solução sólida MgNiO2 (JCPDS 24-0712), cujas linhas são bem próximas a do MgO. As identificação desta fase é melhor visualizada na região de maior ângulo pelo aparecimento dos ombros em 75,09° e 79,05° como ilustrado no zoom da Figura 1. Anais do 16o Congresso Brasileiro de Catálise 2 1734 Figura 1. Difratograma dos catalisadores (a) Ni/MgO; (b) Ni/Y2O3 e (c) Ni/CeO2 Figura 2. Perfil de TPR dos catalisadores (a) Ni/MgO; (b) Ni/Y2O3 e (c) Ni/CeO2. O difratograma do Ni/Y2O3 apresenta somente as linhas em 2θ = 20,4°˚, 29,3°, 33,9°, 48,4° e 57,7° correspondentes ao Y2O3 de estrutura cúbica, Ia3 (JCPDS 41-1105). A ausência das linhas características do NiO pode ser um indicio da formação de uma solução sólida entre o níquel e o suporte (NiYO3). Alguns trabalhos observaram a formação das soluções sólidas RhYO3, PtYO3 e PdYO3 em catalisadores de Rh, Pt e Pd suportados em ítria (7-9) Para o catalisador Ni/CeO2 (Figura 1c), verifica-se a presença de duas fases, uma característica do CeO2 com estrutura cúbica, Fm3m (2θ = 28,6°, 33,0°, 47,5°, 56,3°, 59,0°, 69,4°, 76,8°, 79,1° e 88,5°) (JCPDS 34-0394) e outra do NiO de estrutura cúbica, Fm3m (37,3°, 43,3°, 62,9°) (JCPDS 47-1049) Na Tabela 2 estão listados os valores os diâmetros de cristalitos calculados usando a equação de Scherrer para os suportes, NiO e níquel metálico. O catalisador Ni/Y2O3 apresentou um pico de redução em 348˚ C, correspondente a redução do NiO mássico, e em 586˚ C que segundo Costa et.al. (9), pode estar associado à redução de uma fase em forte interação com o suporte, possivelmente NiYO3. Foram observados três picos de redução para o catalisador Ni/CeO2 em 408, 520 e 913˚ C. Fajardo et. al. (11) observaram três picos no perfil de TPR do Ni/CeO2. O consumo de H2 a baixa temperatura foi atribuído a redução das partículas livres de NiO, as quais se agregam na superfície do CeO2. Já o segundo pico corresponde a redução do NiO em forte interação com o suporte. Entretanto, este segundo pico também pode ser atribuído a redução parcial do CeO2 superficial promovida pelo Ni0. A alta temperatura, o pico é característico da redução do CeO2 mássico a Ce2O3. Os catalisadores Ni/MgO e Ni/Y2O3 apresentaram diâmetro de cristalito do Ni0 semelhantes e em torno de 11 e 12 nm (Tabela 2). Já o catalisador Ni/CeO2 mostrou um tamanho de cristalito 3 vezes maior do que os outros catalisadores. O menor tamanho de cristalito do Ni0 nos catalisadores suportados em MgO e Y2O3 poderia ser atribuído a presença das fases NiMgO e NiYO3 identificadas pelas analises de TPR. A redução a alta temperatura levaria a destruição destes compostos com a formação de partículas bem dispersas de Ni sobre os suportes MgO e Y2O3. Já o catalisador Ni/CeO2 seria constituído por grandes partículas de NiO, cuja redução corresponderia ao grande consumo de H2 com máximo em 408º C. Estas partículas de NiO foram detectadas no difratograma de raios X e a sua redução levou a formação de grandes partículas de Ni metálico. A Figura 3A mostra os espectros de DRIFTS do ácido acético adsorvido a diferentes temperaturas no catalisador Ni/MgO. O espectro a 40° C exibe bandas que correspondem aos modos vibracionais ν(C-O) (1023 e 1046 cm-1) e ν(C=O) (1710 cm-1) do ácido acético Tabela 2. Cálculo do diâmetro de cristalito do NiO nas diferentes amostras. Catalisadores Suporte Ni/MgO Ni/Y2O3 Ni/CeO2 38,3 25,3 30,8 NiO (nm) (200) 40,9 Ni0 (nm) (111) 11,1 12,6 36,6 Não foi possível calcular os diâmetros de cristalito do NiO para os catalisadores Ni/MgO e Ni/Y2O3 devido a sobreposição com as linhas dos suportes. A Figura 2 apresenta os perfis de TPR dos catalisadores estudados. Para o Ni/MgO observou-se a presença de dois picos de redução em 416˚C e em 693˚ C. O pico a 416° C pode ser atribuído a redução NiO mássico e o segundo pode ser atribuído a redução do Ni2+ com forte interação co o suporte, sugerindo a presença de uma solução sólida NiMgO2 de acordo com os resultados de DRX (6,10). Anais do 16o Congresso Brasileiro de Catálise 3 1735 carbonato no espectro de DRIFTS enquanto que a intensidade dos sinais do H2 e CO aumentam e do CO2 e do CH4 diminuem no espectro de massas. Estes resultados indicam que a reação da reforma do metano formado com CO2 estaria ocorrendo nesta faixa de temperatura, com formação de H2 e CO. adsorvido através da dissociação da ligação O-H da hidroxila do grupamento carboxila. Nota-se, também, a presença de bandas em 1599 cm-1 (νas(OCO)), 1423 cm-1 (νs(OCO)) e 1343 cm-1 (δs(CH3)) atribuídas às espécies acetato. As bandas relativas às vibrações ν(CH) do ácido acético e do acetato são observadas em 2930 e 3014 cm-1. A adsorção de ácido acético em Pd/CeO2 levou ao aparecimento de bandas em 1560 – 1540 cm-1 (νas(OCO)), 1451 cm-1 (δas (CH3)), 1400 cm-1 (νs(OCO)) e 1340 cm-1 (δs(CH3)) que foram associadas a formação de espécies acetato (12). Hasan et al. (13) estudaram a adsorção de ácido acético em Al2O3, TiO2 e CeO2 através da espectroscopia no infravermelho (IV). O espectro de IV do ácido acético adsorvido a temperatura ambiente nos diferentes óxidos apresentou as bandas características da adsorção das moléculas de ácido acético ligadas através do H e das espécies acetato. Portanto, os nossos espectros de DRIFTS a temperatura ambiente no catalisador Ni/MgO revelam a presença da molécula de ácido acético adsorvido e das espécies acetato formadas. O aquecimento a 100º C provocou o desaparecimento da banda a 1710 cm-1 atribuída ao ácido acético adsorvido. O espectro de massa (Fig. 3B) não detectou a formação de nenhum fragmento característico do ácido acético, indicando que não houve a sua dessorção. Na realidade, observa-se um pequeno aumento das intensidades das bandas atribuídas às espécies acetato, sugerindo que as moléculas de ácido acético adsorvido foram convertidas em acetato nesta faixa de temperatura. As intensidades das bandas correspondentes às espécies acetato permaneceram inalteradas até 200º C. Estes resultados estão de acordo com os perfis do espectro de massa que não detectaram a presença de nenhum composto na fase gasosa. Após aquecimento a 300º C, observa-se uma pequena diminuição da intensidade das bandas relativas às espécies acetato simultaneamente ao inicio da formação de H2, CO2 e metano (Fig. 3B). Uma forte diminuição na intensidade das bandas atribuídas às espécies acetato na superfície do catalisador é observada no espectro de DRIFTS a 400° C. Além disto, o desaparecimento das bandas correspondentes às vibrações ν(CH) do acetato (2937 e 3009 cm-1) sugere a conversão das espécies acetato em carbonato. O espectro de massa revelou uma significativa formação de H2, CH4, CO2 e CO durante o aquecimento até esta temperatura. A formação de CH4 e CO2 na corrente gasosa indica que as espécies acetato sofreram oxidação, produzindo metano e espécies carbonato, seguida da sua decomposição com a evolução de CO2, que pode ser constatado no espectro através da presença das bandas entre 2300-2400 cm-1. Não pode ser também excluída a possibilidade de decomposição da espécie acetato com a formação de CH4 e CO. A 500º C nota-se a presença de bandas de fraca intensidade das espécies (A) (B) Figura 3. Espectros de DRIFTS (A) e massas (B) da dessorção do ácido acético a diferentes temperaturas no catalisador Ni/MgO. Os espectros a 40° C dos catalisadores a Ni/Y2O3 e Ni/CeO2 (Figuras 4 e 5) foram bastantes semelhantes ao dos catalisador Ni/MgO. Porém, a intensidade da banda correspondentes ao ácido acético adsorvido e as espécies acetato foram mais fracas, seguindo a ordem Ni/Y2O3 > Ni/CeO2. O aquecimento até 200° C levou a conversão do ácido acético adsorvido às espécies acetato. Após o aquecimento até 300º C, nota-se uma pequena diminuição da intensidade das bandas relativas às espécies acetato no catalisador Ni/Y2O3, como também foi observado no catalisador Ni/MgO. Porém, estas bandas sofreram uma forte diminuição na intensidade no espectro do catalisador Ni/CeO2. Estes resultados estão de acordo com a análise de espectrometria de massa onde não é verificada a presença de nenhum composto na fase gasosa para o Anais do 16o Congresso Brasileiro de Catálise 4 1736 catalisador Ni/Y2O3. Simultaneamente, nota-se uma diminuição continua dos sinais relativos ao H2, CO, CH4 e CO2 no espectrômetro de massa. catalisador Ni/Y2O3. No caso do catalisador Ni/CeO2, observa-se a formação de H2, CH4, CO2 e CO a 260° C, sugerindo que as espécies acetato monodentados sofreram decomposição a CO e CH4, enquanto o CO2 seria proveniente da decomposição das espécies carbonato formadas. Estes resultados mostram que a decomposição das espécies acetato e carbonato foram favorecidas no catalisador Ni/CeO2. (A) (A) (B) (B) Figura 5. Espectros de DRIFTS (A) e massas (B) da dessorção do ácido acético a diferentes temperaturas no catalisador Ni/CeO2. Entretanto, no catalisador Ni/CeO2, apesar de não serem mais observadas bandas no espectro a 500º C, ocorre o aumento dos sinais de H2 e CO. Como no caso do catalisador Ni/MgO, o metano e o CO2, formados a partir da decomposição das espécies acetato reagem produzindo H2 e CO no catalisador Ni/CeO2. Esta reação não estaria ocorrendo de forma completa no catalisador Ni/Y2O3 e, consequentemente a formação de CH4 e CO2 seria menor. Além disso, os testes da reforma do metano com CO2 (não apresentados) revelaram que o catalisador Ni/Y2O3 apresentou uma atividade bem maior do que os catalisadores Ni/CeO2 e Ni/MgO. Isto levou a uma maior formação de carbono no catalisador suportado em Y2O3 e, consequentemente, uma maior desativação, diminuindo a formação de H2 e CO. A partir dos resultados de DRIFTS e de espectrometria de massa da fase gasosa, pode-se propor o seguinte mecanismo (Figura 6). A molécula de ácido acético adsorve dissociativamente em um sítio de ácido de Lewis, gerando uma hidroxila e espécies acetato mono e Figura 4. Espectros de DRIFTS (A) e massas (B) da dessorção do ácido acético a diferentes temperaturas no catalisador Ni/Y2O3. Durante a elevação de temperatura ate 400º C, nota-se uma grande formação de H2, CO, CH4 e CO2 nos catalisadores Ni/Y2O3 e Ni/CeO2. Nesta faixa de temperatura, observam-se dois máximos da taxa de formação do H2 no catalisador Ni/Y2O3 em 340 e 400º C enquanto que no catalisador Ni/CeO2 há apenas um máximo em 400º C. Estes resultados são acompanhados por uma forte diminuição da intensidade das bandas associadas as espécies acetato no Ni/Y2O3 e ao completo desaparecimento destas bandas no catalisador Ni/CeO2. Este segundo máximo de formação do H2 no Ni/CeO2 corresponderia a decomposição das espécies acetato bidentado. No caso do catalisador Ni/Y2O3, estes dois máximos na taxa de formação do H2 seriam devido a decomposição das espécies mono e bidentado. O aquecimento ate 500º C provocou uma diminuição adicional da intensidade das bandas da espécie acetato no Anais do 16o Congresso Brasileiro de Catálise 5 1737 Ni/MgO e Ni/CeO2, na faixa de temperatura até 500˚ C ocorreu aumento dos sinais de H2 e CO indicando que a reação da reforma do metano formado com CO2 estaria ocorrendo neste intervalo de temperatura. Agradecimentos CNPQ e FAPERJ pelas bolsas concedidas e ao NUCAT-UFRJ pelas análises de FRX. bidentado. A quantidade de espécies acetato formadas depende da natureza do suporte, seguindo a mesma ordem de basicidade destes materiais - Ni/MgO > Ni/Y2O3 > Ni/CeO2(14). As espécies acetato podem reagir através de duas rotas – (i) as espécies acetato mono e bidentadas podem sofrer decomposição, produzindo CO e espécies CH3; (ii) as espécies acetato podem também ser convertidas em carbonato e espécies CH3. Estas espécies CH3 formadas nas duas rotas podem se recombinar com o H das hidroxilas formadas gerando CH4 ou podem sofrer desidrogenações adicionais, formando carbono e H2. CH3* → CH2* + H*→ CH* + H*→ C* + H* Referências 1. F. Bimbela, M. Oliva, J. Ruiz, L. Garcıa , J. Arauzo. J. Anal. Appl. Pyrolysis 2007 79 , 112–120G.B. Sun, K. Hidajat, X.S. Wu, S. Kawi. Applied Catalysis B: Environmental. 2008, 81, 303-312. (1) O metano liberado, em alta temperatura, pode reagir com o CO2 formado produzindo CO e H2. Finalmente, o carbonato pode sofrer decomposição levando a formação de CO2. A decomposição das espécies acetato foi favorecida no catalisador Ni/CeO2 provavelmente devido a maior fração de Ni reduzido, já que esta reação acontece na fase metálica. 2. A.C. Basagiannis, X.E. Verykios. Applied Catalysis A: General. 2006, 308, 182-193. 3. A. P. M. G. Barandas, Tese de Doutorado, Universidade Federal Fluminense, 2009. 4. A. L. Patterson. Physical Review. 1939, 56, 978-982 5. J. Requies et al. / Applied Catalysis A: General. 2005, 289, 214-223 6. T. Furusawa, H. Sato, Y. Sugito, Y. Miura, M. Ishiyama, N. Sato, N. Itoh, N. Suzuki, International Journal of Hydrogen Energy . 2007, 32, 699-704. 7. E. Ruckenstein and H. Wang, J. Catal. 2000, 190, 32-38. 8. F.B. Passos, E.R. Oliveira, L.V. Mattos and F.B. Noronha, Catal. Lett. 2006, 110, 261-267. 9. L. O. O. Costa, A. M. Silva, L. V. Mattos, L. E. P. Borges, F. B. Noronha, Catalysis Today, 2008, 138, 147-151. 10. F. Frusteri, S. Freni, V. Chiodo, S. Donato, G. Bonura, S. Cavallaro, International Journal of Hydrogen Energy. 2006, 31, 2193– 2199. Figura 6. Mecanismo das reações relativas a adsorção do ácido acético 11. H. V. Fajardo, L. F. D. Probst, N. L. V. Carreño, I. T. S. Garcia, A. Valentini. Catal Lett, 2007, 119:228– 236. Conclusões Os resultados de caracterização dos catalisadores estudados sugerem que o suporte afetou a natureza das espécies de níquel presentes no catalisador, após calcinação. No catalisador suportado em CeO2, o níquel esta sob a forma de NiO, enquanto que nos catalisadores Ni/MgO e Ni/Y2O3 ocorre a formação de uma solução sólida MgNiO2 e NiYO3. Nos espectros de DRIFTS, a intensidade das bandas correspondentes as espécies acetato segue a ordem de basicidade dos suportes. A intensidade das bandas associadas as espécies acetato diminuiu para todos os catalisadores a partir de 300˚ C. Os catalisadores apresentaram formação de H2, CH4, CO2 e CO quando a temperatura foi elevada até 400˚ C, correspondente a decomposição das espécies acetato e carbonato. Para 12. H. Idriss, C. Diagne, J. P. Hindermann, A. Kiennemann, M. A. Barteau. J. Catal. 1995, 155, 219-237. 13. M. A. Hasan, M. I. Zaki, L. Pasupulety. Applied Catalysis A: General.2003, 243, 81-92. 14. F. Liyong, X. Weiguo, LUShaojie, Q. Fali. Science in China.2000, 43, 154-161. Anais do 16o Congresso Brasileiro de Catálise 6 1738