A história da Pesca com Mosca
Por: Alejandro Antúnez (Índio) [email protected]
Provavelmente existam tantos motivos para pescar quanto o número de pescadores
espalhados pelo mundo. Mas quando falamos de pesca recreativa, podemos arriscar a
dizer que esta é uma atividade de lazer (ou hobby) praticada por aqueles que procuram
uma porta de escape para a pressão do dia a dia, principalmente pelas pessoas que
habitam nos grandes centros urbanos. Podemos afirmar que esta atividade de lazer vai
além da captura do peixe propriamente dita, dado que é praticada em ambientes
naturais abertos, de uma beleza única. Isto é particularmente válido na Pesca com
Mosca.
Também é verdade que a pesca nos reconecta mentalmente com o nosso passado,
quando dependíamos desta atividade para nossa sobrevivência.
Seja qual for o motivo, a pesca nos fornece um espaço para poder relaxar, desviando
nossa mente da rotina diária. É neste contexto que faremos uma recapitulação da
historia da pesca esportiva, particularmente da Pesca com Mosca. Como veremos, este
é um esporte com mais de 500 anos de história, que espero achem tão fascinante
quanto eu quando comecei a coletar o material e pesquisar sobre cada detalhe deste
artigo. Pensei inicialmente poder condensar a história da pesca com mosca em 2 ou
máximo 4 páginas, mas acabei escrevendo um artigo com mais de 20 páginas, que não
teria coragem de recortar sem omitir algumas informações relevantes. Mesmo assim
sinto que devo ter deixado de fora alguns fatos importantes que incluirei em futuras
revisões.
Origens da pesca com vara e anzol na antiguidade: 7000 A.C. - 300 D.C.
Ilustração Egípcia de aprox. 4,000 A.C. - É a imagem mais
antiga que retrata a pesca com uma vara.
Não sabemos a ciência certa quando
o homem começou a pescar, mas
sabemos através de alguns indícios
que esta atividade se remonta pelo
menos a uns 30,000 a 40,000 anos
A.C. junto com a aparição dos
primeiros anzóis. Ilustrações egípcias
que datam do anos 4,000 A.C.
representam claramente cenas de
pesca utilizando varas com uma linha
atada na ponta e um anzol.
Na sociedade egípcia, a pesca
esportiva era praticada pelos reis, príncipes e plebeus. Existem outras ilustrações sobre
a prática da pesca com fins recreativos nos túmulos de Saqqara pertencentes ao “Antigo
império” assim como em outros sítios do “Novo Império”. O museu do Cairo reúne uma
ampla coleção de objetos relacionados com a pesca, entre eles varas e anzóis em vários
formatos, que indicam o grau de sofisticação que atingiu este esporte no antigo Egito.
Foram os gregos, mas especificamente o poeta Theocrito (ou Teócrito), que no ano 300
A.C. escreve a primeira obra literária que descreve a pesca com uma vara e um anzol.
Ele relata um estilo de pesca “utilizando uma isca pendurada na extremidade da vara
que atraía enganosamente o peixe”, existem bons motivos para pensar que este relato
descreve à pesca como atividade de lazer já que a classe social à qual pertencia
Theocrito definitivamente não precisava pescar para sobreviver.
Ao redor do ano 200 A.C. os
chineses introduziram as
linhas de seda e anzóis
feitos em metal. Ao redor do
mesmo
século,
os
macedônios pescavam com
iscas artificiais feitas com
pêlos
e
penas,
cabe
ressaltar que os anzóis
feitos
em
metal
só
começariam a ser fabricados
na Europa três séculos
depois, durante da era de
ferro.
Mosaico descoberto em 1933 em Leptis-Magna próximo de Trípoli (Líbia)
Data do 100-200 D.C. Retrata uma cena de pesca com uma vara flexível.
Observe o desenho do ”copo” ou rede para a retirar o peixe da água.
Em 200 D.C. Claudius Aelianus, escritor e professor de retórica romano relatou no seu
livro “Natura Animalium” um estilo de pesca no rio Astracus praticado pelo povo da
Macedônia utilizando iscas artificiais feitas com lã e penas que imitavam um inseto
específico da região, outro fato interessante do relato é a descrição que faz dos peixes
capturados por estes pescadores como “motejados com pintas pretas no exterior”, o que
leva a pesar que os peixes fossem trutas. Este é um dos primeiros relatos de pesca com
ou uso de iscas artificiais. Alguns autores interpretam estas criações feitas em lã e
penas, como os precursores do que conhecemos hoje em dia como “jigs”. Já outros
vêm neste texto a primeira descrição de uma “mosca” e provavelmente um dos primeiros
relatos do estilo de pesca que conhecemos hoje em dia como “Pesca com Mosca”.
Na América do sul pré-colombiana,
por volta de 100 anos A.C. o povo
Moche, retratou nas suas cerâmicas
cenas de pesca com o uso de linhas
e anzóis. Cenas de pesca que ainda
podem ser presenciadas ao norte
do Peru, onde os pescadores
artesanais continuam empregando
Cena de pesca em embarcações com linhas de pesca e
anzóis. Imagem extraída de um vaso cerimonial da Cultura
as mesmas técnicas de pesca no
Moche (ou Mochica) 100 A.C. – 700 D.C.
mar em pequenas embarcações
feitas com juncos. Para o povo
Moche, a pesca estava longe de ser uma atividade recreativa, era sim uma importante
atividade econômica e de subsistência.
Ainda na América Latina, uma modalidade de pesca com vara chamada de “pindasiririca” (pindá-anzol e siririca-ficcão) era praticada pelos índios da Amazônia na pesca
do tucunaré, matrinxã e do apapá. A vara era feita com a madeira pindaíba, e a linha de
tucum trançado no extremo da qual se atava uma espécie de “streamer” feito com pena
de arara que revestia o anzol de osso ou madeira. A isca era arremessada n'água e
recolhida com toques, imitando um pequeno peixe ferido ou em fuga. Lamentavelmente
não existem documentos que nos permitam datar com precisão esta técnica de pesca,
mas o fato de ter sido praticado pelos indígenas da Amazônia nos leva a pensar que
esta modalidade de pesca com isca artificial existe no nosso continente desde a idade
da pedra polida1.
O surgimento da Pesca com Mosca - Europa da Idade-Média
Ao começo do século XIII, um romance germânico
escrito por Wolfram von Eschenbach menciona a
captura de trutas e graylings utilizando “um anzol
emplumado” (vederanglel). A partir de 1360 outros
manuscritos mencionam este estilo de pesca
como o preferido entre os plebeus.
Ao inicio do século XV, um segundo manuscrito
germânico mantido até hoje na abadia bávara de
Tegernsee, descreve pelo menos dez diferentes
tipos de moscas para capturar carpas, pike,
bagres, lota, salmão, trutas e grayling.
Primeira página do Tratado original escrito
pela freira Dama Juliana Bernes em 1496.
Um dos marcos mais importantes acontece na
Inglaterra, em 1425. Dame Juliana Berners
abadessa do convento beneditino em Sopwell
publica vários manuscritos, que seriam impressos
setenta anos mais tarde em 1496 sob o título “The
Boke of Saint Albans”. Este livro ensinava aos
cavalheiros da nobreza sobre alguns dos
passatempos reservados a eles, tais como a caça,
pesca o arco e falcoaria.
Um dos tratados deste livro, o “Treatyse of Fysshynge wyth an Angle” (Tratado sobre a
pesca com vara), é absolutamente decisivo para o desenvolvimento futuro não só da
pesca com mosca, mas de pesca esportiva em geral.
O tratado não estava voltado unicamente às técnicas e métodos de pesca, mas também
abordava questões sobre a relação do pescador com a natureza. Este documento
influenciou enormemente o desenvolvimento do esporte pelos seguintes dois séculos e
se tornou fonte de inspiração para os futuros escritores. O livro sugeria que o pescador
1
José Verissimo, A PESCA NA AMAZÔNIA, pag 106, LIVRARIA CLÁSSICA DE ALVES
esportivo deveria ser um admirador da natureza, filosofo e idealista. O esporte deveria
ser desenvolvido até atingir a perfeição e o verdadeiro pescador deveria fabricar seu
próprio material, incluindo varas, linhas e iscas. Quanto mais difícil for a captura do
peixe, maior seria a satisfação do pescador.
Um fato interessante, é que o livro descreve em detalhes como pescar truta e salmão
utilizando moscas artificiais. Dame Juliana Berners tinha descoberto, entre outras coisas,
uma regularidade sazonal dos insetos que habitavam os rios e lagos. Sua conclusão foi
que em grande parte os peixes escolhiam seu alimento em função da disponibilidade
destes insetos desenvolvendo doze padrões de diferentes “moscas”, uma para cada
mês do ano.
Outras provas apontam que esta pratica esportiva não estava limitada ao solo inglês.
Além dos manuscritos alemães dos séculos XIII e XV mencionados anteriormente,
temos dois importantes manuscritos espanhóis que datam do século XVI:
No primeiro, escrito em 1539 por Fernando
Basurto sob o titulo: “Diálogo dirigido ao Senhor
Don Pedro Martinez de Luna Conde da Morata”,
existe um pequeno tratado chamado “Tratadico
de la Pesca”. Nele se descrevem métodos de
pesca, receitas de atado e seu uso, bastante
diferentes aos expostos por Dame Juliana 50
anos antes, o que é um indicador de que a pesca
recreativa evoluiu simultaneamente em diferentes
partes do antigo continente. Curiosamente o
diálogo trata de um encontro entre um grupo de
caçadores e um velho pescador onde cada um
tenta convencer o outro que seu esporte é o mais
completo. Trata-se de um diálogo muito similar ao
que utilizaria 100 anos depois Izaac Walton. No
seu livro “The Complete Angler”.
O segundo, é o “Manuscrito de Astorga”, escrito
Cópia da primeira página do Manuscrito
por Juan Bergara em 1624. Esta é uma obra
de Juan Bergara - 1624
muito diferente ao ”Tratadico”, pois contem uma
Fonte: Club de pescadores Deportivos
lista de “moscas” e os insetos que elas imitam. As
rio Arga www.rioarga.org
33 receitas que formam parte do manuscrito
estavam organizadas por mês, e de acordo com a ordem cronológica de aparição dos
insetos durante o ano. O detalhe inclui a cor das penas, o corpo de seda, o “ribbing” de
seda para a segmentação do corpo e até a cabeça. As penas descritas podem ser
achadas até hoje na província de León (Gallos de León), região da Espanha com uma
grande tradição mosqueira.
Uma observação importante, é que nesta época a pratica esportiva da pesca está muito
relacionada com a igreja e a nobreza europeia. Provavelmente pelo caráter espiritual e
também pela questão de posse da terra e dos rios.
Europa do século XVII - Inglaterra
150 anos após a publicação do tratado de Dame Juliana Berners, a Inglaterra se tornou
de certa maneira o epicentro do desenvolvimento da pesca esportiva, e em particular da
pesca com mosca. Podemos de fato atribuir aos Ingleses o título de ter desenvolvido
muitos dos conceitos básicos sobre os quais se ergue o esporte: Além do
desenvolvimento técnico (o conceito de “casting”, carretilhas, atado das moscas, etc.) os
ingleses sentaram as bases do conjunto de valores que todo pescador com mosca
deveria respeitar: “A pratica esportiva da pesca, com o um veículo de crescimento
pessoal e em harmonia com a natureza”.
Um dos marcos acontece em 1653, com a publicação da primeira edição do livro de
Izaak Walton: “The Compleat Angler” 2 , com o subtítulo: “The Contemplative Man’s
Recreation” (O pescador completo – A recreação do homem contemplativo). Através da
conversa entre as duas personagens, o Sr. Piscator (o pescador) e o Sr. Venator (o
caçador), Izaak Walton nos passa uma boa visão de como era praticada à pesca com
vara na época. A tradição, definida anteriormente por Dame Juliana Berners é clara: A
pesca foi feita para diversão. Como outra mostra de clara da conexão com a obra de
Dame Juliana, a primeira edição do “The Complete Angler” incluía uma referência às 12
moscas do “Treatyse of Fysshynge wyth an Angle”
Primeira página da edição especial do livro “The Complete Angler”, 200 anos após a
publicação da primeira edição em 1653.
O livro “The Complete Angler” também pode ser chamado do primeiro “manual da
verdadeira pesca esportiva”. Ele descreve não só os hábitos alimentares de peixes e
seus locais de descanso, mas também como atraí-los utilizando diversos tipos de iscas,
e inclusive a forma de cozinhar e servir as capturas. Este livro já foi publicado em cerca
2
Veja o vídeo de James Prosek -­‐ "The Complete Angler" de 400 novas edições em várias línguas, e tornou-se um dos clássicos da literatura
sobre a pesca esportiva.
Em 1676, o livro original foi ampliado por Charles Cotton, para incluir uma seção
específica sobre pesca com mosca incluindo uma lista com mais de 65 moscas
exclusivas para a pesca da truta. Na época de Cotton, já tinham sido observadas
diversas variações regionais nos padrões dos insetos. Esta seção do livro foi
considerada até o século XIX, como um progresso significativo na diversificação da
pesca com mosca.
O equipamento de pesca do século XVII era ainda muito primitivo e não muito diferente
do empregado no século XV. As varas eram feitas de madeira, bastante longas e
desajeitadas para os padrões de hoje em dia. A linha de pesca era fabricada com crinas
de cavalo retorcidas e atadas geralmente na ponta da vara. Na década de 1660
começaram a surgir os primeiros anzóis fabricados com aço, mais resistentes e
temperados ao calor. Os artesãos que manufaturavam agulhas se instalaram em
pequenas cidades como Redditch, que se tornara um dos grandes centros na
manufatura de anzóis. A posterior industrialização, tornou possível a produção em
grande escala de anzóis mais finos e leves com uma qualidade homogênea. As guias de
metal das varas apareceram no final do século XVII, esta invenção permitia um melhor
controle da linha na hora de “trabalhar” o peixe fisgado, mas não tinha efeito nenhum na
distância do arremesso devido a má qualidade das linhas utilizadas. As guias eram
pouco confiáveis e acostumavam se desprender das varas sob pressão, motivo pelo
qual foram pouco adotadas no começo.
A evolução da pesca com mosca durante
o século XVIII
Apesar de que Dane Juliana e Walton/Cotton terem
mostrado grande interesse pelos insetos que servem
de alimento para os peixes, o primeiro livro dedicado
à arte do atado só foi publicado em 1747. ”The Art of
Angling” (A arte da pesca com vara) escrito por
Richard Bowlker . Ele não só enumera uma lista de
moscas (algumas desenhadas por ele), mas também
demonstra certo conhecimento sobre entomologia e
proporciona instruções básicas sobre o uso das
mesmas. Uma destas, é a primeira menção à técnica
de apresentação “rio acima”. Seu filho Charles
Bowlker continuou a obra do pai, chegado a publicar
um total de 16 edições até 1854.
O progresso no século XVII também ficou evidente no
material de pesca e na sua comercialização.
Vejamos por exemplo as varas, no final do século
XVII começaram a aparecer diferentes tipos de varas
Página do ”The Art of Angling” – Edição
de 1826 com ilustrações de moscas
Fonte: “Two Centuries of Soft-hackled Flies” Sylvester Nemes
assim como o material empregado na sua construção. Elas continuavam sendo muito
longas: Em geral entre 15 e 17 pés (aprox. entre 4.5 e 5 metros). A medida padrão era
de 12 pés (3.6 m) para as linhas feitas com crinas de cavalo que terminavam em dois ou
mais pelos. As varas de 9 pés (2.7 m) eram para as linhas mais finas que terminavam
num único pelo, elas eram feitas para à pesca com moscas “pequenas” e as de 17 pés
(5 m) para a pesca de salmão. O bambu começou a ser utilizado na construção das
ponteiras destas varas, especialmente das utilizadas na pesca do salmão.
Em relação às linhas de pesca, a revolução industrial favoreceu muito a produção em
massa, evitando que cada pescador tivesse que transar suas próprias linhas de pesca.
As novas linhas eram em formato cônico, permitido arremessos com maior precisão e
distância. Perto do fim do século começam a aparecer as primeiras linhas combinado
crinas de cavalo e seda. As linhas ainda eram caras e bastante frágeis, pois o atrito com
as guias as desgastava rapidamente.
Carretilha do final do século
XVIII - Com eixo central fino e
ação simples
As carretilhas só passaram a ser realmente úteis quando a
qualidade das linhas começou a melhorar. As primeiras
carretilhas eram utilizadas simplesmente para armazenar a
linha e eram chamadas de “wheel” (roda)
ou mais
comumente de ”winch” (guincho).
A carretilha foi
mencionada pela primeira vez em 1651 no livro de Thomas
Baker “The Art of Angling”. As ilustrações da época
mostravam uma carretilha com um desenho bizarro feita em
madeira muito utilizada na pesca do salmão na modalidade
de “trolling”.
Considerando o tamanho das trutas, a
utilidade de uma carretilha era discutível. Se ainda
consideramos a qualidade das linhas, deixar um peixe
tomar “linha” não era uma boa ideia, logo a técnica mais
utilizada para ”trabalhar” e “cansar” o peixe, era
simplesmente utilizar a capacidade de flexão da vara e ir
trabalhado o peixe da beira do rio, sob o risco da linha se
cortar a qualquer momento.
As primeiras carretilhas eram de péssima qualidade, o bronze geralmente empregado na
sua construção era pesado e frágil.
Em relação às moscas, no final do século XVIII muitos pescadores passaram a adquirilas nas lojas especializados, no lugar de atá-las eles mesmos. Se comparada com a
evolução das varas e linhas, as moscas eram praticamente as mesmas que utilizaram
Walton e Cotton, mas a inovação nesta área também não demoraria muito em chegar. O
comércio em geral evoluiu muito colocando todo tipo de material ao alcance dos
consumidores, a modo de exemplo, uma firma chamada Ustonson começou a fornecer
uma ampla lista de materiais, na sua lista de clientes encontrava-se o rei George IV da
Inglaterra.
Século IX- XVIII – Japão
Enquanto a pesca com mosca continuava seu desenvolvimento na Europa, em paralelo
(e praticamente de maneira isolada) a pesca com fins recreativos seguia seu próprio
curso isolado de desenvolvimento no Japão.
Já existiam desde a época feudal duas escolas de pesca com mosca em água doce:
Dobu (ou Korogashi) e Tenkara. Ambas utilizavam uma longa vara e uma linha atada no
extremo, da mesma maneira como era feito na Europa nos séculos XVI e XVII
A segunda escola Tenkara é a
forma tradicional de pesca com
mosca no Japão, A origem do
nome ( テ ン カ ラ , "vindo ou
caído do céu") tem várias
interpretações possíveis, a mais
aceita está relacionada com a
maneira delicada de apresentar
a mosca ou “kebari” na
superfície dá água (“ke”-pena e
“bari”–anzol). Vista desde a
perspectiva do peixe, a mosca
pareceria
estar
literalmente
”caindo do céu”. O termo
Suzuki Harunobu Cena de pesca do Período Edo 1768-69
Tenkara
ficou
popularizado
Fonte:Musem of Fine Arts -Boston
recentemente, mas o estilo
ainda continua sendo conhecido em algumas regiões do Japão como "kebari tsuri"
(literalmente: Pescando com “mosca”).
Mosca ou “kebari”
utilizada no Tenkara
O Tenkara tem uma longa historia apesar de ter sido muito pouco
documentada. Sabe-se que era praticada desde os séculos VIII e
IX por pescadores comercias na região das montanhas para a
pesca de trutas (Amago e Yamame), uma variante deste estilo era
praticada na zona das planícies para a pesca de Ayu pelos
senhores feudais como uma forma de passatempo e ensino do
Bushido durante os tempos de paz. Em 1878 temos a primeira
referência escrita ao Tenkara num livro titulado “Diário da
escalada do monte Tateyama” que inclui um relato de um
pescador de trutas yamame desta região.
O Tenkara foi originalmente concebido para a pesca de pequenas trutas (Amago e
Yamame) e do char (Iwana) em pequenos riachos de montanha onde eles raramente
atingem um tamanho superior a 40 cm. Dado que os peixes e os rios são relativamente
pequenos não há necessidade de fazer longos arremessos ou de usar carretilhas para
armazenar longas linhas de pesca. Uma vara comprida de bambu e uma longa linha
permitiam apresentar a mosca com extrema precisão em qualquer ponto do arroio.
Século XIX – A era Vitoriana e a chegada da pesca com mosca nos
Estados Unidos
A Pesca com Mosca continuou seu desenvolvimento na Inglaterra durante o século XIX
e em particular durante a era Vitoriana (1837-1901) com o surgimento dos clubes de
pesca e um número crescente de publicações sobre atado e técnicas de pesca. No sul
da Inglaterra a pesca com “mosca seca” começa a adquirir uma reputação elitista como
o único método aceito de pesca em águas calmas e claras do Rio Teste e os outros rios
calcários (chalk streams) concentrados nos condados de Hampshire, Surrey, Dorset e
Berkshire. Nestes rios, as algas crescem até a superfície, e era necessário desenvolver
uma técnica que mantivesse a mosca e a linha na superfície da água. Este conceito foi o
ponto de partida dos posteriores desenvolvimentos da pesca com mosca seca.
Frederick M. Halfrod (1844-1914) Em 1841 George Pulman publica o livro “Vade
Mecum of Fly-Fishing for Trout”. Em geral, Pulman
sempre tem recebido o crédito de ser o primeiro em
definir um método completo de pesca com mosca
seca. Anos depois, em 1886 Frederick M. Halfrod
consolida, define e argumenta a supremacia deste
método de pesca como o único aceitável e “ético de
pescar trutas nos “chalk streams” ingleses. Ele, mais
do que ninguém, ficou associado ao advento da
pesca com mosca seca e ao desenvolvimento e
atado das iscas próprias para esta modalidade. Seus
seis livros, combinados com sua poderosa
personalidade, tiveram uma enorme influência neste
período da história da Pesca com Mosca: “Floating
Flies and How to Dress Them” (1886), “Making a
Fishery” (1895), “Dry Fly Entomology” (1897), “Dry
Flyfishing in Theory and Practice” (1899), “Modern
Development of the Dry Fl”y (1910), e “The Dry Fly
Man's Handbook “(1913).
No entanto, não existia nada que impedisse o uso de
mocas molhadas (wets) nestes rios calcários como foi
comprovado posteriormente por George Edward
MacKenzie Skues. Antigo colaborador de Halford no
desenvolvimento dos métodos de pesca com mosca
seca, Skues desenvolveu as técnicas de pesca com
wets e ninfas. Para o espanto dos puristas, Skues
escreveu dois livros: Minor Tactics of the Chalk
Stream (1910) e The Way of a Trout with a Fly (1921),
ambos livros influenciaram significativamente o
desenvolvimento da pesca com moscas do tipo wet.
Edward MacKenzie Skues (1858–1949) Ao norte da Inglaterra e na Escócia muitos
pescadores preferiam a pesca com wets, um dos
grandes proponentes desta modalidade foi escocês W.C. Stewart, que escreveu em
1857 o livro “The Practical Angler”. Neste livro, Stewart também defendia a técnica de
pesca “rio acima” dado que oferecia várias vantagens, a primeira era a aproximação por
traz do peixe fora do ângulo de visão, a segunda vantagem era que permitia imitar
melhor a deriva do inseto rio abaixo, por último, uma vez capturado o peixe ele
“perturbaria” menos os outros peixes que poderiam se encontrar rio acima. Stuart
também opinava que o tamanho, formato e aparência da mosca eram mais importantes
do que a imitação perfeita do inseto.
Os colonizadores ingleses que chegaram ao continente norte-americano durante os
séculos XVIII e XIX trouxeram naturalmente com eles o conhecimento e interesse pela
pesca com mosca. O esporte já teria criado raízes firmes no final do século XVIII, e se
pensa que para então já tenham existido lojas especializadas na venda de material e
equipamentos para a Pesca com Mosca (ou simplesmente Fly). Devido ao espírito de
liberdade das ex-colônias as atitudes e métodos do Fly estavam longe de serem tão
rígidos quanto na Inglaterra, e os estilos de pesca com moscas secas e wets foram
ambos rapidamente adotados e adaptados as condições de pesca locais. Como
veremos na sequência, o espírito americano imprimiu um novo ritmo ao
desenvolvimento do esporte.
Durante o século XIX, a pesca com mosca passou por mudanças dramáticas no que se
refere ao desenvolvimento do equipamento, assim como pelo crescente interesse pela
entomologia e a criação de novos desenhos ou “padrões” de moscas. Criou-se se certa
maneira o misticismo que rodeia este estilo de pesca até hoje em dia. Grande parte do
desenvolvimento obedece ao crescente interesse dos americanos pelo esporte,
interesse que traria um grande impulso e daria origem a muitas inovações.
Em relação as varas, a tendência durante o século XIX continuou sendo a diminuição
do comprimento e a incorporação de novos materiais e técnicas de construção das
varas. Em 1845 um fabricante de violinos americano da Pensilvânia, Samuel Phillipe, fez
a primeira vara colando tiras de bambu (ou em inglês split cane). Esta técnica foi
inovadora, pois ela permitia através da construção melhorar as qualidades mecânicas do
material em termos de resistência e flexão. Anos depois, elas começaram a ser
produzidas em massa pelos americanos Charles Orvis e Hiram Leonard. Ao longo do
tempo, as varas de bambu foram adquirindo características superiores de arremesso e
peso, a tal ponto que na virada do século, os Ingleses passaram a importá-las dos
Estados Unidos. As varas inglesas da época eram longas, pesadas e rígidas, assim as
varas americanas vieram não só para substituir as inglesas, mas também para
preencher o espaço necessário para o desenvolvimento da pesca com ninfa. Anos
depois em 1872, os irmãos William e John James Hardy começaram a fabricar na cidade
inglesa de Alnwick varas de bambu nos mesmos padrões de qualidade.
Além do desenvolvimento do efeito “multiplicador”, o desenho das carretilhas tinha
mudado muito pouco desde a época de Walton e modelos do inicio do século XIX eram
bastante inadequado. O mercado era dominado por carretilhas com cilindros compridos
e o eixo fino. Acredita-se que seja o fabricante americano de relógios, George Snyder de
Paris, Kentucky quem tenha começado a produzir as primeiras carretilhas de qualidade
entre 1805 e 1810. Em 1891 a Hardy patenteia o “Perfect
Reel”. O desenho de Foster Hardy resistiria ao teste do
tempo e, embora tenha havido uma ou duas pequenas
alterações, o mesmo modelo básico é fabricado ainda hoje.
Ao longo de sua história, a Hardy foi responsável por alguns
dos importantes avanços no desenho de carretilhas tais
como introdução de rolamentos, e a carretilha com eixo
largo o ”Large Arbor” (1911).
Assim como aconteceu com as varas e carretilhas, as linhas
de pesca também tiveram uma rápida evolução com a
introdução das linhas de seda oleosas, elas permitiram
triplicar a distância do arremesso. A pesca com Mosca tal
como a conhecemos hoje em dia, estava começando a
tomar forma.
“Perfect Reel” da Hardy -1891
Em paralelo com a e evolução do material, a Pesca
com Mosca estava também se tornando uma
ciência. Alfred Ronald foi o primeiro autor a apontar
a importância de entender o ciclo de vida dos insetos
e a sua correspondência como fontes potenciais de
alimento para os peixes. Seu livro “Fly Fishers
Entomology” publicado em 1836 foi a primeira
descrição entomológica dos insetos na natureza e
seus equivalentes imaginários nas “moscas”. O livro
de Ronald preciosamente ilustrado despertou o
interesse pelo estudo dos insetos, e rapidamente os
pescadores passaram a se preocupar em imitar com
a maior precisão possível os insetos dos quais dos
peixes se alimentavam.
Página do Livro “Fly –Fisher Entomology”
de Alfred Ronald -Edição de 1836 com
ilustrações de insetos e suas imitações
Estados Unidos 1900-1945 – A era de Ouro americana - Escola Catskill
e a introdução da truta marrom
Por volta de 1850 O Fly começou a tomar relevância nos Estados Unidos principalmente
nas regiões orientais do país. Em 1887 foi publicado o livro “Fly Fishing and Fly-Making”
de John LI. Keene. O objetivo era mostrar que os Estados Unidos tinham atingido a um
nível de desenvolvimento superior do que os europeus poderiam imaginar e que, apesar
da sua entrada tardia na história da pesca, o refinamento das varas, carretéis e linhas
tinha sido levado por eles muito à frente da Europa, principalmente da Inglaterra. Este
notável conjunto de inovações deslocaria o centro de gravidade do desenvolvimento do
esporte para os Estados Unidos.
Os rios Neversink e Beaverkill localizados nas montanhas Catskill no estado de Nova
Iorque se tornaram o equivalente americano dos rios calcários ingleses, e são hoje em
dia os rios clássicos para a pesca com mosca nos Estados Unidos.
Na Europa e na Inglaterra os pescadores de Fly visavam como objetivo a truta marrom.
No entanto esta espécie não existia nos Estados Unidos, no seu lugar, os americanos
pescavam a truta de arroio (brook trout) nos estados do leste e o steel-head e a truta
cutthroat (garganta cortada) no lado oeste.
Com a crescente popularidade da pesca, os suprimentos de trutas declinaram em
particular o da truta de arroio. A necessidade marcou o início do desenvolvimento das
técnicas de introdução e manejo de espécies “estrangeiras” ou exóticas. Durante os
anos 1880 algumas trutas começaram a serem importadas da Europa para repovoar os
rios americanos, as primeiras trutas marrons foram importadas da Alemanha.
Na medida em que as trutas marrons, e posteriormente as arco-íris, eram introduzidas
nos rios americanos, a pesca se torna cada vez mais difícil. A técnica de pesca “rio
abaixo” usando moscas wets se tornou ineficiente. Estas “novas” trutas não eram fáceis
de enganar e os pescadores se viram obrigados a reavaliar seus equipamentos e
técnicas de pesca.
O escritor Theodore Gordon foi quem
sabe uma das pessoas que mais
contribuiu ao desenvolvimento da pesca
com mosca nos Estados Unidos. Ele
era uma pessoa solitária que por volta
de 1905 se estabeleceu em Neversink,
NY para poder atar suas moscas e
pescar tranquilo. Ele escrevia artigos
que publicados nas revistas Forest and
Stream (EUA) e Fishing Gazette
(Inglaterra) sob o pseudônimo de
“Badger Hackle”. Ele também se
correspondia
frequentemente
com
Halford e Skues. Através desta
correspondência com dois dos grandes
homens do Fly, ingleses lhe permitia se
manter
atualizado
sobre
o
desenvolvimento da pesca com mosca
na Inglaterra.
Theodore Gordon (1854-1915) No fim do século XIX, Gordon obteve umas 50 moscas de Halford atadas para às
condições dos rios ingleses. Como todo bom atador, Gordon começou a atar suas
próprias moscas utilizando as técnicas de Harlford, mas imitando as moscas dos rios
onde ele pescava. Gordon acabou criando muitos padrões únicos, entre os mais
famosos o “Gordon Quill”, ele também desenvolveu os chamados “bumble-puppies”.
Estas moscas foram os predecessores dos padrões “bucktail”.
Gordon sentou os alicerces da chamada Escola “Catskill” que acabou tendo um enorme
impacto no atado de moscas nos Estados Unidos. O fanatismo inglês pelas moscas
secas nunca chegou aos Estados Unidos, onde tudo pelo contrário, ouve sempre um
espaço aberto para experimentar novas possibilidades. Como resultado as moscas
americanas sempre foram mais “robustamente” atadas do que suas contrapartidas
britânicas.
Outro americano que adquiriu um lugar
de destaque na história do Fly é George
Michel Lucien LaBranche. Em 1914
publicou seu primeiro livro: “The Dry Fly
and Fast Waters”. Ele é considerado por
esta e outras razões como o homem que
popularizou a pesca com mosca seca
nas águas rápidas dos Estados Unidos.
Ele difere em vários aspectos das teorias
de Halford, que foram especificamente
criadas para os chalk stream ingleses.
A técnica de pesca de LaBranche diferia
em vários aspetos da Escola “Catskill”, a
principal diferencia estava no tamanho e
na aparência mais “cabeluda” da mosca,
que aumentava sua flutuação tornando-a
mais visível ao peixe. LaBranche
formava parte do grupo de pessoas que
desenvolveram as técnicas de pesca do
salmão utilizando moscas secas.
Da esquerda à direita: Lucien LaBranche (1875-1961) e
Edward Hewit (1866-1957) Em geral, nesta época surgiu nos Estados Unidos uma maior diversidade de tipos de
pesca e moscas do que na Inglaterra. A modo de exemplo, um tipo especial de moscas
wets, chamadas de bucktails e streamers, foram desenvolvidas nos Estados Unidos
durante os anos 1920 como refinamentos das wets clássicas. Os pescadores
americanos observaram que moscas wets com corpos dourados ou prateados eram
confundidas com presas. Gradualmente apareceu uma grande variedade de padrões de
bucktails (ou também como são chamadas hairwing flies) e de streamers (featherwing
flies) que de um jeito ou outro acabam imitando pequenos peixes de diferentes espécies
e em diferentes estágios de crescimento.
Outro americano, Edward Ringwood Hewitt também exerceu uma grande influência no
progresso da Pesca com Mosca no período entre as duas grandes guerras. Ele foi
contemporâneo de LaBranche e defendia o desenvolvimento da pesca com mosca (e do
pescador) em três fases: 1) Capturar tantos peixes quanto seja possível 2) Capturar o
maior peixe 3) A captura do Peixe mais difícil . Ele também defendia a importância da
“apresentação” da mosca, e sustentava que era sempre melhor carregar um número
reduzido de moscas e saber apresenta-las corretamente. Assim como Gordon , Edward
mantinha correspondência com Halford e Skues através da qual se mantinha atualizado
sobre os desenvolvimentos ingleses na pesca com moscas secas e ninfas,
respectivamente. Na obra escrita por Edward, ressaltam dois livros: A Trout and Salmon
Fisherman for Seventy-five Years (1948).
Mas este período entre as guerras não foi dominado
exclusivamente pelos americanos, alguns notáveis
ingleses contribuíram ao progresso do esporte. Um
deles, era o britânico Frank Sawyer, administrador de
um rio e inventor de moscas que são um marco
histórico no desenvolvimento do Fly, tais como, a
ninfa Pheasant Tail.
Outro pioneiro da Pesca com Mosca nos Estados
Unidos foi James E. Leisenring. Como os anteriores,
ele trocava correspondência com Skues e no período
da segunda guerra publicou o livro Tying the Wet Fly
(1941) apesar de ser um livro pioneiro em termos da
pesca com moscas wets e ninfas o autor e sua obra
só receberam o devido crédito muito tempo depois.
James introduz o conceito de flymph para representar
o estado de transição da ninfa para o adulto (ou
eclosão).
Frank Sawyer (1906 – 1980)
Os rios das montanhas Catskill continuaram
ocupando um lugar importante no desenvolvimento
da pesca com mosca nos Estados Unidos até o
final do século XX. Muitas pessoas contribuíram no
esforço para identificar os insetos e desenvolver
moscas para imitá-los. O trabalho desenvolvido
nesta região sentou as bases de toda escola de
imitação americana. Seguido de um processo de
aperfeiçoamento e otimização do número de
imitações
até
chegar
a
uma
lista
de
aproximadamente 10 padrões para o atado.
O período pós-guerra 1945-1960 James E. Leisenring
É precisamente neste momento que a história da
pesca com mosca, pode ser dividida em "antes e
depois". A Segunda Guerra Mundial traz consigo o surgimento de novos e
revolucionários materiais tais como o grafite, boro e as ligas ultraleves utilizadas na
indústria aeroespacial. Estes materiais iriam se juntar a outros já existentes para trazer
uma série de inovações no material de pesca. Estas inovações junto com a popularidade
alcançada pelo esporte colocariam os Estados Unidos numa posição privilegiada para
produzir importantes inovações.
Ao redor de 1946 a fibra de vidro irrompe na indústria das varas para Fly, as varas
fabricadas com este material eram confiáveis, econômicas e com um desempenho
muitas vezes superior as similares de bambu, sem contar que elas podiam ser
fabricadas em massa.
A fibra de vidro assim como as resinas
sintéticas já tinham sido descobertas ao início
dos anos 90. Mas estes materiais só
começaram a ser utilizados na construção de
varas posteriormente, e meio que por
acidente. O Dr. Arthur M. Howald era na
época diretor técnico de uma empresa e
estava trabalhando num projeto de canos de
fibra de vidro para o exército, mas ele
também era um grande aficionado à pesca.
Quando quebrou a ponteira de uma fina vara
de bambu, ele decidiu experimentar
substituindo-a por uma feita com fibra de
vidro, observando os incríveis resultados
partiu para um projeto de construção de uma
vara completa feita de fibra de vidro. Em
1946, o projeto foi parar na mesa da
Shakespeare Rod Co. Quem acabou lançado
pouco tempo depois o primeiro modelo
comercial chamado de “Wonder Rod”. O
processo de fabricação destas varas é ainda
conhecido como processo “Howald”.
Encarte de revista da “Wonder Rod - 1952
Mas as varas de pesca não foram as únicas em experimentar um vertiginoso
desenvolvimento. O Nylon que já tinha sido inventado em 1930 veio substituir os líderes
feitos com seda, oferecendo maior resistência e transparência. O Nylon também traçou o
caminho para a substituição das antigas linhas de pesca feitas com crinas de cavalo e
seda trançada. Nos anos 50 a Scientific Anglers de Midland, Michigan já fabricava uma
linha com um núcleo de Dacron e revestida por uma camada de poliamida. Este novo
tipo de linha não precisava dos cuidados extremos que requeriam as linhas de seda ao
mesmo tempo em que deslizavam melhor entre guias das varas de pesca. Os desenhos
foram sendo aprimorados para oferecer diferentes tipos de distribuição do peso ao longo
da linha.
Todo este desenvolvimento técnico e material esteve acompanhado de um crescente
interesse por entender a natureza. Como resultado deste processo, temos um período
de uma abundante produção de material bibliográfico. Os livros dedicados à entomologia
pretendiam dar explicações mais concretas sobre a natureza e comportamento dos
insetos, ao mesmo tempo em que as técnicas de
atado, arremesso e apresentação também eram
aperfeiçoadas.
Se abríssemos uma caixa de moscas dos anos
1950, viríamos um conjunto de padrões de uso
geral, não adaptadas as condições específicas de
pesca para as quais elas deveriam de servir. Por
aquela época, muitos dos aspetos da vida dos
insetos ainda eram desconhecidos assim como a
arte de imitá-los através do atado. A literatura
viria
para
preencher
esta
lacuna
no
conhecimento:
•
Em 1947 Art Flick publica seu livro mais
importante “Stream-side guide to naturals
and their imitations” nele descreve vários
tipos de “Mayflies” naturais e os modelos
para imitá-las.
Capa da revista Field & Stream dos anos 50.
As publicações passam a promover destinos
de e bens de consumo voltados para a pesca
•
Em 1950 Vincent Marinaro publica “A
Modern Dry Fly Code” e posteriormente em 1976 “In the Ring of the Rise”.
Ambos livros tiveram um tremendo impacto conceitual. O primeiro livro abria um
novo panorama para imitação de iscas incorporando os insetos terrestres e suas
imitações. Estes insetos constituíam uma parte importante da dieta das trutas
nos rios do centro-sul da Pensilvânia nos quais Vincent pescava frequentemente.
O segundo livro trouxe o conceito da ”Janela de Visão” que influenciou muitas
das técnicas de apresentação da época. Marinaro insistiu na importância da
“silhueta” da mosca criando as chamadas asas “torácicas” muito utilizadas hoje
em dia.
•
Em 1952 foi publicado na Inglaterra o livro “Angler’s Entomology” escrito por
John Robert Harris, este livro continha uma descrição moderna e muito bem
ilustrada de todos os insetos que serviam de alimentos para as trutas nas ilhas
britânicas.
•
Em meados dos anos 50, aparece o primeiro livro que tratava das eclosões de
insetos dentro de um determinado ecossistema. Ernest George Schwiebert
publica em 1955 seu livro “Matching the Hatch” contendo com uma descrição
sistemática e precisa dos insetos que habitam as águas americanas. Este
famoso estudo estava muito à par dos livros publicados na Inglaterra e Irlanda.
Entre 1950 e 1954 o centro de atenção da Pesca com Mosca nos Estados Unidos
começa a mudar das montanhas Catskill para o vale Cumberland na Pensilvania. E
posteriormente para o oeste aos estados de Montana e Califórnia, onde se desenvolve
uma nova cultura mais eclética e irreverente. Os atadores do oeste Americano
começaram a desenvolver os grandes attractors, wets e moscas secas que longe de
imitar o alimento natural dos peixes exploravam o instinto impulsivo de alimentação dos
peixes.
Os mosqueiros de San Francisco desenvolveram durante este período as linhas de
pesca shooting-head, mais apropriadas para arremessar iscas maiores a grandes
distâncias nos rios mais largos do oeste americano.
Tempos modernos 1970-2000
A teoria, pratica e equipamento sofrem uma tremenda influencia das ilhas Britânicas, de
certa maneira o esporte volta a suas origens, na Inglaterra.
Em 1973, aconteceria um novo salto tecnológico na construção das varas com a entrada
do grafito. A Fenwick Rod Co. de Wetminster, Califórnia fez o primeiro protótipo e
lançamento comercial. Estas varas eram extremamente rápidas, confiáveis e resistentes,
causando um profundo efeito no mercado que perdura até hoje. Mesmo com a posterior
entrada das varas de boro em 1980, as varas de grafito continuaram se aperfeiçoando
passado a serem fabricadas em diferentes “graus”.
Como acontece com a entrada de qualquer nova tecnologia, a anterior não é
completamente substituída ou abandonada. Assim, nos anos 80 temos um
ressurgimento do espírito dos anos 60 e muitos pescadores passam a apreciar
novamente as finas varas fabricadas a mão com o bambu Tonkin (Arrundalia amabilis)
segundo o método “split-cane” e alguns outros ainda preferem a antiga e nobre vara
fabricada com fibra de vidro.
Nos anos 80 também testemunhamos
uma explosão da Pesca com Mosca
como um esporte global, praticado em
qualquer lugar e época do ano. Este
apelo de marketing provoca um
intenso desenvolvimento comercial,
não só do equipamento mas também
da demanda por serviços de turismo e
do surgimento de guias profissionais.
A pesca em água salgada também se
desenvolve rapidamente e se torna
extremamente popular com turistas
procurando troféus em destinos
turísticos tais como México, Costa
Rica, Cuba e Venezuela.
Marlim de 52 kg capturado no “Fly “na Bahia de Magdalena,
México
Entre os anos 80 e 90 e como resultado de um processo de seleção genética, os
atadores de moscas podem contar pela primeira vez na história com uma abundante
oferta de materiais de primeira qualidade, especialmente dos colares ou hackles de
galos. Começa também o surgimento de uma nova geração de materiais de atado
sintéticos que abrem novas perspectivas na elaboração de iscas.
Mas o esporte também começa a adquirir um apelo cada vez mais forte em prol da
conservação. A famosa frase de Lee Wulff dos anos 40: “Os peixes são demasiado
valiosos para ser capturados uma vez só” começa a tomar força e o lema de “catch and
release” (Pesque e solte) se torna cada vez mais frequente entre os pescadores
esportivos e vira o lema dos pescadores do século 20 como um meio para reduzir a
depredação de algumas espécies esportivas.
No final de século 20, o esporte já se tornou global ultrapassando as fronteiras das ilhas
Britânicas e dos Estados Unidos. Os pescadores passam a procurar não só destinos
mais longínquos mas também espécies de cada vez mais exóticas. Novos
equipamentos, técnicas e literatura foram desenvolvidas criando um novo universo da
Pesca com Mosca em expansão.
Origens da pesca com mosca na América Latina
O surgimento da Pesca com Mosca no nosso continente está intimamente relacionado
com a introdução e adaptação dos salmonídeos. As primeiras introduções ocorreram ao
início do século XX na Argentina (1904) e no Chile (1905) e posteriormente na
Colômbia, Equador e Peru em 1920, Venezuela (1930), Bolívia (1940) e Brasil (1949).
Após esta primeira fase, a prática do Fly estendeu-se para outras espécies nativas de
água doce tais como o tucunaré, traíra, matrinxã e dourado, assim como para a pesca
de espécies de água salgada tais como o robalo, ubarana-rato (bonefish), atum e o
marlim. Sendo hoje em dia somos um dos continentes mais privilegiados em termos de
variedades de peixes para a pratica do Fly.
Introdução dos salmonídeos na América do Sul
Argentina e Chile – Entre 1850 e 1880 houveram varias iniciativas de imigrantes, donos
de estâncias, de empresa privada e dos governos argentino e chileno de introduzir
salmonídeos a partir de ovos trazidos diretamente do hemisfério norte. Dado o alto valor
comercial, o objetivo inicial era adaptar estas espécies para estabelecer populações
estáveis de trutas na patagônia, tanto para a pesca esportiva como para a alimentação.
Estas primeiras experiências foram basicamente um rotundo fracasso.
Entre 1883-1888 Dona Isidora Goynechea de Cousiño (Viúva do Industrial do carvão
Luis Cousiño) conseguiu realizar o sonho do marido instalando a primeira piscicultura de
trutas Fario no rio Chivilingo a partir de ovos trazidos diretamente da Europa. Utilizado a
assessoria técnica de um especialista escocês, eles conseguiram introduzir com êxito
algumas destas trutas nos rios do Golfo de Arauco. Lamentavelmente Dona Isidora
acabara falecendo em 1897 em Paris, sem puder apreciar os resultados da sua obra.
Durante suas varias expedições à Patagônia, o
argentino Francisco Pascasio (Perito) Moreno teria
sido o primeiro em avaliar a possibilidade de incorporar
estas espécies nos rios e lagos da região. Segundo os
registros oficiais argentinos, a primeira introdução com
êxito de trutas aconteceu em 1904 graças aos esforços
dos americanos John W. Titcomb e posteriormente
Eugene Tulián, ambos contratados pelo governo
argentino para realizar a visão de Perito Moreno. A
primeira introdução foi a partir de ovos de truta de
arroio (Salvelinus fontinalis), truta de lago (Cristovomer
namaycush), salmão encerrado (Salmo salar sebago)
e whitefish (Coregus clupeaformis) trazidas do estado
de Nova Iorque, USA. Os primeiros alevinos foram
soltos nos lagos Nahuel Huapi, Traful, Espejo e
Francisco Pascasio (Perito) Moreno
Gutierrez. Nos anos posteriores, houve outras
(1852-1919)
importações adicionais de ovos das mesmas espécies
vindos dos Estados Unidos, Canadá, França, Bélgica, Inglaterra e Alemanha, e foram
adicionadas novas espécies tais como: trutas arco-íris, marrons e algumas espécies de
salmões do pacífico e do atlântico.
Em 1905, quase que simultaneamente com a primeira introdução de sucesso na
Argentina, o governo chileno encomenda ao biólogo e conservacionista Federico Albert
Taupp e com o suporte dos piscicultores Rodolfo Wilde e Pedro Golusda a construção
de uma piscicultura no rio “Blanco”, um afluente do Aconcangua. Os primeiros ovos das
espécies salmão salar, salmo truta e irridens foram importados da Alemanha, os peixes
foram distribuídos em vários rios do sul do Chile. Em 1910 foram registradas as
primeiras capturas de exemplares vindos desta piscicultura, confirmado o êxito do
projeto. Após este primeiro sucesso o governo decidiu construir entre 1910 e 1914
outras pisciculturas nos rios Maullín, Cautín e Lautaro para expandir os alcances do
projeto para outros rios do Chile, sempre sob a assessoria de Pedro Golusda. Em 1924
o Chile começa a experimentar com a introdução de salmões provenientes do Alaska:
Orconchynchus tachsryscha, Orconchynchus nesca, Orconchynchus kisutch entre
outros.
Quase 100 anos após todos estes esforços, cinco espécies de salmonídeos estão
firmemente estabelecidas em todas as bacias fluviais da Patagônia, com populações
residentes que completam 100% dos seus ciclos de vida em água doce. As espécies
mais comuns são a Arco-Íris, a Marrom e a truta de Arroio. As outras duas: O Salmão
encerrado e a Truta de Lago, existem em áreas mais restritas.
Já as espécies anádromas 3 tais como o salmão Chinook, o Coho e o do Atlântico
connseguiram de adaptar às bacias chilenas. Originalmente introduzidas para a criação
3
Wikipedia: (Anádroma) Anádromos são os peixes ou outros animais aquáticos que se reproduzem em água doce
mas se desenvolvem até à forma adulta no mar
em cativeiro, alguns exemplares conseguiram escapar ocupando alguns rios de água
doce (Corcovado, Pico e Futaleufú na província de Chubut) e inclusive migraram através
do estreito de Magalhães chegando até a bacia do rio Santa Cruz. Neste rio, tem sido
identificada uma espécie anádroma da truta Arco-Íris chamada de Stealhead. cuja
origem se remonta as primeiras introduções de trutas Arco-Íris provenientes da
California, USA. As correspondentes espécies anádromas da truta Marrom (ou Sea
Trout) sustentam as pesca esportiva nos Rios Gallegos, Santa Cruz e Rio Grande no
extremo sul da patagônia conhecida como a “Tierra del Fuego”.
A introdução da truta no Brasil - A introdução de salmonídeos no Brasil teve como
objetivo o incremento da pesca esportiva e do turismo, justificadas principalmente, pela
ausência de espécies ícticas nativas nas regiões de montanha. Cabe ressaltar, que a
diferença dos outros países, no Brasil a introdução sempre esteve limitada à truta arcoíris.
Após concluídos os estudos de viabilidade, o
médico veterinário Dr. Ascânio de Faria
recebeu em 1949 o primeiro lote de ovos
embrionados de truta arco-íris, provenientes
da Dinamarca. O local escolhido para a
primeira soltura de alevinos foi o Planalto do
Sertão da Bocaina, Bacia do Rio Bracuí,
município de Bananal, SP. Dos 5.000 ovos
embrionados
importados
inicialmente,
apenas metade sobreviveram e foram
introduzidos nos rios Jacu Pintado e Bonito
(formadores do rio Bracuí). No ano seguinte,
Estação experimental de Salmonicultura em
1950, foi criado o Posto de Biologia e de
Campos do Jordão - SP
Criação de Trutas, à margem do rio Jacu
Pintado. Em maio do mesmo ano, foram recebidos mais ovos embrionados da
Dinamarca, que foram incubados nas instalações deste posto e os alevinos liberados em
alguns rios das bacias do Bracuí e Mambucaba, ambos na vertente Atlântica da Serra
da Bocaina.
O Sucesso da aclimatação da truta na Serra da Bocaina incentivou pesquisas para sua
introdução em outras regiões do país. Em 1952 se iniciaram os trabalhos de introdução
da truta no Rio Macaé (RJ) e em 1953 pesquisadores da Ex-Divisão de Proteção e
Produção de Peixes e Animais Silvestres iniciaram pesquisas da qualidade da água em
alguns rios da região de Campos do Jordão (SP). Posteriormente em 1983, se iniciaria o
povoamento de rios no Estado do Rio Grande do Sul, novamente com o intuito de
incentivar a pesca esportiva e o turismo a região.
O posterior interesse comercial incentivou a introdução das trutas em ambientes de
cativeiro, hoje em existem no Brasil arredor de 120 truticulturas distribuídas nos estados
do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro
e Espírito Santo, e duas estações de pesquisa experimentais: a Estação Nacional de
Truticultura, em Lajes (SC); e a Estação Experimental de Salmonicultura “Dr. Ascânio de
Faria” do Instituto de Pesca da Secretaria de Agricultura de São Paulo, localizada em
Campos do Jordão (SP).
Dos primeiros pescadores ao apogeu da pesca com mosca no hemisfério sul
No inicio do século XX já era possível encontrar pescadores com mosca nos rios e lagos
andinos. Não é de surpreender que os primeiros pescadores desta disciplina fossem os
Ingleses e seus descendentes radicados no Chile e na Argentina.
Nestes primeiros anos, a técnica preponderante de pesca era ainda o “bait”, no entanto
uma geração importante de pescadores, principalmente argentinos e americanos, iriam
provocar uma mudança radical que acabaria tornando a patagônia um dos principais
destinos mundiais da Pesca com Mosca.
José Evaristo (Bebé) Anchorena e seu
inseparável companheiro de pesca Jorge
Dónovan foram os primeiros pioneiros na
pesca com mosca na Argentina. Mas ela
só adquiriu proporções internacionais
após 1955 com a visita dos americanos
Joe Brooks e Charles Radziwill que
trouxeram na bagagem toda uma nova
geração de equipamentos, moscas e
técnicas que serviram como base para o
desenvolvimento da Pesca com Mosca
neste país. Assim como os americanos 50
anos antes, os Argentinos absorveram e
adaptaram estas técnicas e as moscas a
suas condições particulares de pesca nos
rios e lagos Patagônicos.
Da esquerda à direita: “Bebé” Anchorena, Jorge
Dónovan, Joe Brooks e Charles Radziwil
Na bagagem Brooks e Radziwil trouxeram
a primeira mosca “blonde” que em março
de 1961 “Bebé” utilizaria para fisgar na
boca do Rio Chimehuín a famosa truta de
11 quilos que criou a famosa “Febre da
Boca” e alimentaria aquela corrida pela
pesca dos grandes peixes na Patagônia.
Posteriormente,
outros
importantes
convidados, entre eles Mel Krieger (1928- “Bebe” Anchorena e a famosa “La de los once” o recorde
2008),
iriam promover ainda mais a mundial capturado no dia 2 de março de 1961 na Boca do
Rio Chimehuín
patagônia argentina e chilena como um
dos principais destinos mundiais da Pesca
com Mosca ao mesmo tempo que contribuíram ao desenvolvimento sustentável desta
atividade esportiva.
Os pioneiros da Pesca com Mosca no Brasil–
No Brasil o Paulo César Domingues da Silva é apontado como um dos primeiros
Pescadores com Mosca do nosso país. Conforme entrevista concedida ao site
www.pescacommosca.com.br Paulo César indica que ele começou a ter conhecimento
desta modalidade de pesca por volta do final dos anos 40 através de publicações
americanas como a Outdoor Life, Sports Afield e Field & Stream. Além dos livros
“Pescando com Mosca” e Histórias de um Pescador”, Paulo César publicou em 1993 um
vídeo chamado “O ABC do Fly” que foi um grande marco de divulgação desta prática no
Brasil.
Paulo César junto com Carlos Roberto “Beto” Saldanha talvez tenham sido dois dos
grandes percursores da pesca com mosca no nosso país. Beto Saldanha em conjunto
como o Karkour Seyoufi (mais conhecido como “Gregório”) são hoje em dia os dois
consagrados “rodmakers” do Brasil, como são chamados os construtores de “caniços”
ou varas de bambu.
Em nossas pescarias, Beto nos acostuma deleitar com suas histórias sobre a introdução
deste esporte no Brasil. Segundo o Beto, o interesse por esta modalidade de pesca
apareceu por volta do ano de 1962, quando caiu nas suas mãos uma edição da revista
Field & Stream (Publicação americana, fundada em 1895) com um artigo sobre a pesca
com mosca. Em 1968 ele conseguiu comprar o primeiro equipamento para a pesca com
mosca de um americano que estava de volta para seu pais de origem. Já tendo
observado a adaptação e disponibilidade da truta no Macaé de Cima ele partiu para sua
primeira aventura com um mínimo de conhecimento sobre a pesca com Fly.
Mais recentemente, Rubens de Almeida, o “Rubinho”, trouxe para TV a pesca com
mosca e foi um grande vetor de desenvolvimento e divulgação deste esporte.
Ainda há muitos pescadores, instrutores e “atadores de moscas” que foram
fundamentais para o esporte no Brasil, entre os quais ressaltar além dos já
mencionados: Adalberto Francisco de Oliveira “Betinho”, Gustavo dos Reis Filho “Gugu”,
Luiz Fernando Pinheiro (†9 de Maio, 2011), Marco Valério da Costa e Gerson Kavamoto,
entre outros.
Com base nas informações de emissão de licenças de pesca amadora no Brasil, estimase que hoje em dia existam entre 10 e 12 mil praticantes de Fly no Brasil. Um numero
ainda reduzido se comparado com o total de pescadores estimado em 287 mil4. Mas é
um segmento que ano após ano vem conquistando cada vez mais adeptos.
4
Total de licenças de pesca amadora entre Maio de 2010 e Junho 2011, Fonte: Ministério de Turismo e Ministério
da Pesca e Aquicultura (MPA). A Pesca com Mosca hoje em dia
A Pesca com Mosca é hoje em dia um esporte amplamente difundido em todos os
continentes: Desde a antiga Europa ao continente Asiático, as Américas e inclusive o
continente Africano. Esta é uma modalidade com mais de 500 anos de historia, que
ainda está em constante evolução onde novos materiais técnicas de pesca e atado são
descobertos a cada ano, mas sempre mantendo suas tradições e origens trazendo de
volta as formas clássicas de pesca com vara de bambu ou a modalidade de pesca
japonesa, o Tenkara.
Cena moderna de pesca, novas gerações estão começando a descobrir io esporte – Pesca com Fly no Rio
Chimehuín Alto – Província de Neuquén, Argentina
A Pesca com Mosca também está abandonando aos poucos seu caráter elitista,
permeando uma ampla variedade de peixes além dos clássicos salmonídeos como a
truta, o grayling e o salmão. Mas ela ainda conserva o espírito esportivo e o caráter
conservacionista inspirado nos primeiros textos escritos por Dame Juliana Berners.
A evolução da pesca com mosca: Além da Truta e do Salmão – A partir de 1993,
começou-se a descobrir que existiam uma variedade incrível de peixes de água doce
que atacavam streamers , imitações de formigas, içás, gafanhotos e outros insetos.
Desde então, muitas outras espécies de peixes presentes na América do sul são
pescadas utilizando moscas, entre eles: Dourados, tucunarés, matrinxãs, piabanhas,
piraputangas, bass, pirapitinga, bicudas, cachorras, corvinas, jatuaranas, aruanãs,
apaiarís, lambaris, tilápias, pacus, tabaranas, trairas, trairões, jacundás e até surubins. E
hoje em dia podemos afirmar que o esporte está em pleno processo de
desenvolvimento, incluindo o desenho de novas iscas para todos esses peixes nativos
de água doce.
Com o passar dos anos descobriu-se que a pesca com mosca se adapta também à
captura de muitos peixes esportivos de água salgada e logo se verificou que eles
superavam em tamanho, força, violência e rapidez os peixes de água doce. Descobriuse peixes tanto nas baías, praias, lagoas e oceano que mordiam um streamer ou popper
com voracidade e que testavam o equipamento e perícia do mosqueiro ao máximo.
Robalos, ubaranas, guaibiras, enchovas, cavalas, xaréus, ubaranas-rato (bonefish),
marlim, tarpão e cernambiguaras entre outros, eram adversários que o pescador de
água doce nunca imaginou encontrar.
Novos equipamentos, moscas, nós e técnicas para enfrentar também os gigantes de alto
mar tiveram que ser inventados e desenvolvidos. Hoje em dia, peixes muitas vezes
pesando acima de 50 kg são apanhados no mar com equipamento de mosca.
Exemplos de outras espécies de água doce capturadas no Fly – No Sentido horário: Dourados e Piraputangas (Paso
de la Pátria– Rio Paraná) , Pirapitinga (Goiás ) e Tucunaré (Rio Negro, Amazonas)
Fontes bibliográficas e outros documentos de consulta
-­‐
A Flyfishing History – Dr. Andrew Herd: www.flyfishinghistory.com
-­‐
Bibliografía da Pesca com Mosca: www.thefullwiki.org/Bibliography_of_fly_fishing
-­‐
Museu britânico da Pesca com Mosca: www.fishingmuseum.org.uk
-­‐
Museu americano da Pesca com Mosca: www.amff.com
-­‐
História da la pesca con Mosca en Chile: www.chileoutfitters.cl
-­‐
Historia de la pesca con Mosca en Argentina:
www.pesca-con-mosca.com/mayo/bebe.asp
www.aapm.org.ar
-­‐
Aux origines de la Pêche à la Mouche – Joan Michel:
http://peche-mouche-seche.com/origines.htm
-­‐
The History of Fishing for Trout with Artificial Flies in Britain and America: A Chronology
of Five Hundred Years, 1496 to 2000. - Gordon M. Wickstrom
-­‐
História da truta no Brasil: http://forellenhof.com.br/truta/historia.php
-­‐
Histórico de la introducción de Salmonídeos en Argentina:
www.linea4.com.ar/articulos/historicos/sueno.htm
-­‐
Pescando com Mosca - Paulo César Domingues da Silva.
-­‐
A Pesca na Amazônia – José Verissimo – Livraria Clássica de Alves
-­‐
Plumas, Seda y Acero – Las Moscas del Manuscrito de Astorga – José Luis García
Gonzalez
-­‐
“Two Centuries of Soft-hackled Flies” - Sylvester Nemes
-­‐
Introdução da truta no Brasil e na Bacia do RIo Macaé, estado do Rio de Janeiro:
Histórico, legislação e Perspectivas – Henrique Lazzarotto & Érica Péllegrini Caramaschi
(Dezembro - 2009)
-­‐
A trajetória da truticultura no estado de São Paulo no período de 1949-1999 – Hélio
Ladislau Stempniewski (Maio - 2009)
Entre em contato: [email protected]
www.moscanagua.com.br
© Mosca N’água
São Paulo, Versão 5.1 - Abril de 2013
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Historia da Pesca com Mosca