Saúde Coletiva ISSN: 1806-3365 [email protected] Editorial Bolina Brasil Rodrigues Vaz, Maria José Sífilis Congênita: critérios de notificação Saúde Coletiva, vol. 5, núm. 25, novembro-dezembro, 2008, pp. 199-205 Editorial Bolina São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84225503 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto doença transmissível Vaz MJR. Sífilis Congênita: critérios de notificação Sífilis Congênita: critérios de notificação A sífilis congênita, um grave problema de saúde pública, pode ser totalmente evitada com o diagnóstico e tratamento de grávidas infectadas, mas, ainda que diversas medidas tenham sido adotadas, o que se observa é o aumento do número de casos notificados. Este artigo faz uma breve descrição e propõe diálogo sobre os critérios de notificação de sífilis congênita no Brasil. Descritores: Sífilis, Sífilis congênita, Assistência pré-natal. Congenital syphilis, a serious public health problem, can be completely avoided with diagnosis and treatment of infected pregnant women. Despite of measures have been adopted, it is observed an increase in the number of reported cases. This article describes briefly the case and proposes a dialogue about notification criteria of congenital syphilis in Brazil. Descriptors: Syphilis, Congenital syphilis, Prenatal care. La sífilis congénita, un problema serio de salud pública, puede evitarse por completo con el diagnóstico y el tratamiento de las mujeres embarazadas con la infección, a pesar que se han adoptado diversas medidas lo que se observa es el aumento del número de casos notificados. Este trabajo hace una breve descripción y propone dialogo a cerca de los criterios para notificación de la sífilis congénita en Brasil. Descriptores: Sífilis, Sífilis congénita, Atención prenatal. Maria José Rodrigues Vaz: Enfermeira da UNIFESP. Doutora em Enfermagem. Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e da Família(NESCOF). Docente da Universidade Nove de Julho. [email protected] Recebido: 10/06/2008 Aprovado: 27/11/2008 INTRODUÇÃO sífilis é uma doença infecciosa grave, de transmissão essencialmente sexual e perinatal. É também muito antiga, com mais de 500 anos de existência, mas, o Treponema pallidum - agente etiológico da sífilis - foi descrito apenas em 1905. A terapêutica efetiva foi estabelecida depois de quatro décadas, em 1943, quando comprovado o efeito da penicilina para o tratamento da infecção1. Passados mais de 50 anos da descoberta da cura da sífilis, a infecção é ainda um desafio para a saúde pública mundial em função do elevado número de casos, o que remete ao cuidado pré-natal, pois, também a sífilis congênita – que pode ser totalmente evitada – apresenta aumento de notificações nos primeiros anos do século XXI1. No Brasil o quadro não é diferente. Na década de 1990 observa-se a implementação de estratégias de redução das taxas de transmissão vertical do HIV e da sífilis - quando a gestante A infectada transmite a infecção para o concepto. Todavia, mesmo que sejam patologias cujo diagnóstico e medidas preventiva e/ ou curativa se estabeleçam durante o pré-natal, os resultados da transmissão de cada patologia tem se mostrado diferente, com redução das taxas de transmissão vertical do HIV e aumento dos casos de sífilis congênita. A meta do Ministério da Saúde - estabelecida em 1993 em acordo firmado com a Organização Pan-Americana de Saúde - de menos de um caso de sífilis congênita por 1000 nascidos vivos para o ano 2000 está longe de ser alcançada2. Se em 1998 a taxa de incidência de sífilis congênita/1000 nascidos vivos foi de 0,9, em 2007 situou-se na taxa de 2,13. Estima-se que cerca de 1,1% da população brasileira - em torno de 937 mil pessoas - é infectada pela sífilis todos os anos e aproximadamente 1,6% das mulheres grávidas são portadoras da infecção. Assim, a estimativa de sífilis congênita é de 12 mil casos por ano4. Apesar dos índices elevados, é preciso considerar a sub notificação da sífilis congênita, que é de notificação compulsória desde 1986, de acordo com definição de caso estabelecida e revisada periodicamente. A notificação da sífilis na gestação, obrigatória desde 2005, justifica-se pelas elevadas taxas de prevalência e de transmissão vertical4. NOTIFICAÇÃO DE SÍFILIS CONGÊNITA Diferente do que já se acreditou - que o T. palllidum não atravessaria a barreira placentária antes da 20ª semana de gravidez - sabese que a infecção pode atingir o concepto em qualquer estágio da doença. Em 1951 Grecco já apontava os efeitos da sífilis não diagnosticada em gestantes, apresentando as complicações para o concepto de acordo com a fase da infecção materna5. Saúde Coletiva 2008;05 (22):199-205 199 doença transmissível Vaz MJR. Sífilis Congênita: critérios de notificação A transmissão vertical é maior em estágios iniciais da doença, varia de 70 a 100% na sífilis primária e secundária, 40% na sífilis latente recente e 10% na latente tardia. A infecção do concepto pode acarretar abortamento, óbito fetal e morte neonatal. São assintomáticos ao nascer em torno de 50% dos recém-nascidos infectados6 , o que pode retardar o diagnóstico da criança e piorar seu prognóstico, pois, estando infectadas desenvolverão seqüelas graves nos primeiros meses de vida, se não tratadas. O diagnóstico da sífilis congênita depende da análise de uma série de dados clínicos, sorológicos e radiológicos, todavia, para notificação de sífilis congênita tem-se entre outros critérios epidemiológicos de definição de caso7 - adotados em 1993 e atualizados em 1999 e 2004 – o seguinte: Será considerado caso de sífilis congênita para fins de vigilância epidemiológica e assim deverá ser notificado: Toda criança, ou aborto, ou natimorto de mãe com evidência clínica para sífilis e/ou com sorologia não treponêmica reagente para sífilis com qualquer titulação, na ausência de teste confirmatório treponêmico, realizada no pré-natal ou no momento do parto ou curetagem, que não tenha sido tratada ou tenha recebido tratamento inadequado. Em relação ao tratamento é preciso esclarecer que é considerado4: 200 Tratamento adequado da sífilis na gestante: - é todo tratamento completo, adequado ao estágio da doença, feito com penicilina e finalizado pelo menos 30 dias antes do parto, tendo sido o parceiro tratado concomitantemente. Tratamento inadequado para sífilis na gestante: - é todo tratamento realizado com qualquer medicamento que não a penicilina; - tratamento incompleto, mesmo tendo sido feito com penicilina; - tratamento inadequado para a fase clínica da doença; - a instituição do tratamento com menos de 30 dias antes do parto; ou - ausência de documentação de tratamento anterior; ou - ausência de queda dos títulos (sorologia não treponêmica) após tratamento adequado; - parceiro não tratado ou tratado inadequadamente ou quando não se tem a informação disponível sobre o seu tratamento. Como se vê, o diagnóstico e tratamento adequado, incluindose o parceiro, tornariam possível eliminar a sífilis congênita como problema de saúde pública. No pré-natal é recomendada a triagem sorológica na primeira consulta e no início do terceiro trimestre, bem como na maternidade - no momento da internação para o parto ou curetagem. Detectada a sífilis na gestação, o tratamento deve Saúde Coletiva 2008;05 (25):199-205 doença transmissível Vaz MJR. Sífilis Congênita: critérios de notificação ter início imediato e o parceiro sexual ser tratado concomitante, mesmo que este último não tenha o diagnóstico sorológico8. Apesar do aumento da cobertura de pré-natal no nosso país, com freqüência verifica-se a não realização da rotina preconizada, o que permite questionar a qualidade da assistência prestada à gestante. De acordo com dados do “Estudo Sentinela Parturiente” somente 75,1% das grávidas realizaram o primeiro teste de sífilis no pré-natal e apenas 14% delas realizaram os dois testes e um teste na hora do parto. Vale ressaltar que 0,4% das mulheres com resultado negativo no primeiro teste passaram a ser positivas no segundo - adquiriram a sífilis na gravidez - colocando em risco o concepto9. Em outubro de 2007 foi lançado o “Plano Nacional de Redução da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis” que tem como meta, juntamente com estados e municípios, a redução das taxas de transmissão vertical dessas infecções até 20119. Para tanto, além de ampliar a cobertura dos testes sorológicos de HIV e sífilis durante o pré-natal, é necessário que os resultados estejam disponibilizados em tempo hábil, para que os profissionais possam implementar medidas preventivas da transmissão vertical. Nesse sentido, na rede pública do município de São Paulo, desde 2007, os laboratórios devem enviar os resultados para as unidades em até sete dias10. Em relação à sífilis o treinamento de recursos humanos é fundamental para assistência pré-natal de qualidade, pois o tratamento é fácil, simples e de baixo custo, mas a compreensão e diagnóstico da infecção nem sempre é tão clara. O curso natural da sífilis pode levar décadas, sendo a conduta, em geral, baseada no diagnóstico sorológico - que pode ter diversos diagnósticos diferenciais - e não no clínico, pois o indivíduo infectado apresenta poucas ou nenhuma queixa5. A doença apresenta evolução com períodos de atividade, cujas características clínicas, imunológicas e histopatológicas são distintas - sífilis primária, secundária e terciária, e períodos de latência - sífilis latente. É ainda dividida em sífilis recente, quando o diagnóstico é feito em até um ano depois da infecção, e sífilis tardia, quando o diagnóstico é realizado após um ano6. Este quadro não é diferente na gestação, o que pode dificultar a identificação de grávidas infectadas. A pesquisa laboratorial da infecção é geralmente feita a partir de testes não específicos - VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) ou o RPR (Rapid Plasma Reagin) e específicos o FTA-Abs (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption), o TPHA (Treponema Pallidum Hemagglutinatio Test) e o teste imunoenzimático (ELISA). A prova do VDRL positiva-se entre cinco e seis semanas após a infecção e entre duas e três semanas após o surgimento do cancro, assim, pode estar negativa na sífilis primária. Já na sífilis secundária apresenta sensibilidade alta (100%), que se reduz a 70% nas formas tardias8. O VDRL apresenta resultado qualitativo e quantitativo, muito útil para o acompanhamento da infecção e tratamento. Os títulos do VDRL são positivos até 1/16 ou superiores. Títulos inferiores são considerados falso-positivos quando os testes treponêmicos forem negativos. Os testes específicos são qualitativos, nos quais se emprega o antígeno do T. pallidum e se tornam positivos a partir da segunda semana após o aparecimento do cancro sifilítico, assim se mantendo em todas as fases evolutivas da sífilis, não sendo indicados para o acompanhamento pós-tratamento da doença11. O screenning com teste VDRL na gestação, muitas vezes é o único método sorológico disponível, mas, considerando que os testes não treponêmicos podem ser positivos em outras condições e permanecer com títulos muito baixos durante longos períodos mesmo após o tratamento, torna-se fundamental o levantamento da história pregressa da gestante, em relação ao conhecimento de ter tido infecção e/ou realizado tratamento. Como se observa no item dos critérios de notificação a presença de um VDRL com qualquer titulação, durante a gravidez, sem teste confirmatório e sem tratamento ou tratamento inadequado é critério de notificação de sífilis congênita. Quanto ao tratamento - na gestação somente é considerado tratamento adequado se feito com penicilina benzatina, deve ser ministrado antes de 30 dias da ocorrência do parto e tratar o parceiro sexual. Nos casos de reação alérgica ou anafilaxia comprovada pode-se tratar com estearato de eritromicina não sendo tratamento considerado adequado, pois não trata o feto. Após o tratamento a gestante deve realizar controle mensal com teste de VDRL 4 e novo tratamento instituído no caso de reinfecção ou aumento dos títulos no VDRL. Justificada pela possibilidade de eventos adversos, entre os quais a reação anafilática, a administração da penicilina nem sempre é feita imediatamente. Assim é recomendação que a unidade de saúde contenha o material mínimo e pessoal treinado para o teste de hipersensibilidade à penicilina e assistência imediata à anafilaxia. Há que se observar que as reações anafiláticas fatais são raras, 1-2 casos/100.000 tratamentos, sendo que o relato de reações pela população se refere, na verdade, aos distúrbios neurovegetativos (ansiedade, medo, sudorese) associados à dor ou possível dor com a administração da medicação12. Outro item perfeitamente controlável pelos profissionais é a documentação do tratamento da gestante e do parceiro, pois mesmo que tenha sido realizado adequadamente se não for devidamente registrado será um critério de notificação de sífilis congênita. Em 2005, entre as mães que fizeram pré-natal, 56,2% tiveram a sífilis diagnosticada durante a gravidez, entretanto 65,1% das mesmas não tiveram seus parceiros tratados3. Também neste aspecto, há de se refletir sobre as dificuldades de se fazer o tratamento no parceiro sexual, que muitas vezes não comparece à unidade ou não faz o tratamento quando prescrito, cabendo aos profissionais esgotar as possibilidades para tratamento, por exemplo, com visita domiciliar. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos critérios apresentados para notificação de sífilis congênita, considera-se que algumas crianças não infectadas podem ser incluídas na notificação de caso, por outro lado tais critérios permitem reconhecer todas as crianças que ao nascer apresentem algum risco de ter adquirido a sífilis, o que claramente facilita o diagnóstico e tratamento, evitando-se complicações decorrentes da infecção na criança. Dada a importância da prevenção da sífilis congênita, foram desenvolvidas estratégias de diagnóstico e tratamento para gestantes, bem como critérios para a notificação. Os profissionais que atuam no pré-natal devem ter conhecimento de tais recomendações, para atingir resultados de qualidade de assistência – considerando o diagnóstico, tratamento e documentação - que permitam erradicar a sífilis congênita em todos os municípios brasileiros. Saúde Coletiva 2008;05 (22):199-205 201 doença transmissível Vaz MJR. Sífilis Congênita: critérios de notificação Referências 1- Singh AE, Romanowski B. Syphilis: review with emphasis on clinical, epidemiologic, and some biologic features. Clin Microbiol Rev. 1999;12:187-209. 2- Brasil. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Controle de DST e Aids. Bases técnicas para eliminação da sífilis congênita. Brasília: Ministério da Saúde; 1993. 3- Brasil. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Controle de DST e Aids. Boletim Epidemiológico AIDS - Ano IV nº 1 - julho a dezembro de 2006/janeiro a junho de 2007, Ano IV nº 01 - 27ª a 52ª semanas epidemiológicas [Internet]. [citado 2008 Set 15]. Disponível em: http://www.aids.gov.br/data. 4- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis. Brasília: Ministério da Saúde; 2007. 5- Campos JEB. Significado laboratorial dos baixos títulos do VDRL para sífilis em gestantes, à luz das provas treponêmicas [tese]. Rio de Janeiro: Fundação Osvaldo Cruz; 2006. 6- Avelleira JCR, Giuliana B. Sífilis: diagnóstico, tratamento e controle. An Bras Dermatol. 2006;81:111-26. 7- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Nota técnica: definição de caso de sífilis congênita [Internet]. 2004 [citado 2008 Set 03]. Disponível em : http://www.saude. ms.gov.br/controle. 8- Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo Resol. SS-SP 41 (24/03) [Internet]. [citado em 2008 Set 03]. Disponível em: http://www. cremesp.org.br/. 9- Brasil. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Controle de DST e Aids. Transmissão vertical: saúde lança plano para reduzir infecção por HIV e sífilis em recém-nascidos [Internet]. 2007. [citado 2008 Set 05]. Disponível em: http:// www.aids.gov.br/data/Pages/. 10- São Paulo. Secretária Municipal de Saúde. Portaria 1657/2007/SMS [Internet]. [citado 2008 Set 05]. Disponível em: http://portal.prefeitura. sp.gov.br/secretarias/saude/vigilância. 11- Nadal SR, Framil VMS. Interpretação das reações sorológicas para diagnóstico e seguimento pós-terapêutico da sífilis. Rev Bras Coloproct. 2007;27(4):479-82. 12. São Paulo. Secretaria Municipal de Saúde. Coordenação de desen volvimento da Gestão Descentralizada – COGEST. Instrução técnica para a prescrição e a utilização de penicilinas e prevenção da sífilis congênita. São Paulo: Secretaria Municipal da Saúde; 2004. Diálogos sobre o artigo: Diagnóstico e Tratamento no Pré-Natal Rosely Erlach Goldman - Enfermeira Obstetra. Mestre e Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo. Professora Adjunta da Disciplina Enfermagem Obstétrica da Universidade Federal de São Paulo. A erradicação da sífilis congênita ou, no mínimo, a redução significativa da transmissão vertical parecia ser inevitável quando, em 14 de outubro de 1944, Lentz e colaboradores publicaram o uso de penicilina no tratamento da sífilis na gestante e no recém-nascido com sífilis. O mais interessante é que, apesar da modificação no conceito de dose terapêutica, o tratamento eficaz com a penicilina permanece inalterado, sem casos de resistência ao Treponema pallidum a essa droga1. É verdade que houve uma diminuição na prevalência da infecção pelo Treponema pallidum ao longo das décadas, principalmente, na década de 1980. Porém, verifica-se um recrudescimento da sífilis entre a população em geral e, de forma particular, dos casos de sífilis congênita neste início de milênio, não somente no Brasil, mas em escala mundial. Tal fato não deveria ocorrer, pois, conforme a autora expõe no artigo, existe teste diagnóstico bem confiável, de fácil realização, com custo baixo e aceitável para a política de saúde do governo. Porém, a sífilis congênita continua sendo um sério agravo à saúde pública, fator importante de morbidade e mortalidade perinatal. Para essa situação, diversos fatores de risco ainda contribuem para o aumento da prevalência de sífilis congênita, como: nível socioeconômico desfavorável, baixa escolaridade, promiscuidade sexual, uso de drogas ilícitas, falta de assistência à saúde e, sobretudo, falta de cuidado pré-natal 2. É necessário que a equipe responsável pelo atendimento à gestante esteja preparada para o diagnóstico e adequado tratamento. Conforme cita a autora, a transmissão vertical do Treponema pallidum pode ocorrer em qualquer período da gestação, por via transplacentária; mostra-se, entretanto, 202 mais comum após o quarto mês de gestação, com a atrofia fisiológica das células de Langerhans no trofoblasto 1. A contaminação perinatal secundária no contato fetal com lesões infectantes maternas ou na ingestão de líquido amniótico, não deve ser esquecida, embora menos freqüente, justificando manifestação tardia da sífilis congênita meses após o parto de crianças que se mostraram soro negativas2. Na prevenção da sífilis congênita, o diagnóstico precoce da infecção materna através da sorologia é fundamental. Entretanto, verifica-se muitas vezes dificuldades na análise dos resultados obtidos. O diagnóstico laboratorial da sífilis e a escolha dos exames laboratoriais mais adequados deverão considerar a fase evolutiva da doença. As provas sorológicas com os testes não-treponêmicos são úteis para triagem em grupos e monitorização do tratamento, enquanto os treponêmicos são utilizados para confirmar o diagnóstico. Todavia, existe a possibilidade de resultados falso-positivos e falso-negativos. A dificuldade de análise aumenta quando se observa que, no neonato, qualquer teste treponêmico pode ser reagente devido à possibilidade de transferência passiva de anticorpos da classe IgG da mãe para o feto por via transplacentária. Nesse caso, a dosagem da fração IgM específica é fundamental para o diagnóstico de infecção ativa, caso seja positiva. Porém, não se pode esquecer que o resultado poderá ser negativo até o 3o mês de vida do concepto, principalmente na situação de infecção materna durante o final da gravidez. Apesar de todas as técnicas utilizadas no diagnóstico da sífilis congênita envolver basicamente a pesquisa de anticorpos, no início dos anos 1990 foi proposto o uso de testes que detectem especificamente o antígeno Saúde Coletiva 2008;05 (25):199-205 doença transmissível Vaz MJR. Sífilis Congênita: critérios de notificação treponêmico, como, a reação de polimerase em cadeia (PCR polymerase chain reaction) 3. Os testes rápidos treponêmicos auxiliam o diagnóstico devido à leitura imediata, sendo a especificidade do teste de 93,7%, no entanto, não deve ser usado como critério exclusivo no diagnóstico da infecção pelo T. pallidum 4. Estudos mostram que o desconforto gerado pela aplicação intramuscular da penicilina benzatina pode influenciar a adesão ao tratamento, portanto, outras drogas foram testadas como alternativa e concluiu-se que a azitromicina é equivalente à penicilina, ambas eficazes e seguras para o tratamento da sífilis recente ou latente precoce 4,5. Considerando toda essa situação, é evidente a necessidade de um planejamento estratégico com treinamento efetivo e capacitação contínua na detecção e no tratamento precoce e adequado da gestante e do parceiro, ou parceiros. É necessária, uma atenção especial voltada à prevenção de novos casos, tendo como estratégia principal a informação para a população geral e, especialmente, para as populações mais vulneráveis. Referências 1. De Lorenzi DRS, Madi JM. Sífilis congênita como indicador de assistência pré-natal. Rev Bras Ginecol Obstet. 2001;23:647-52. 2. Santos AMN, Senise VLF. Infecções congênitas e perinatais. In: Rugolo LMSS. Manual de neonatologia. São Paulo: Revinter; 2000. 3. Ramos Jr NA, MatidaL H, Saraceni V, Veras MASM, Pontes RJS. Controle da transmissão vertical de doenças infecciosas no Brasil: avanços na infecção pelo HIV/AIDS e descompasso na sífilis congênita. Cad Saúde Pública. 2007;23(Suppl 3):S370-S378. 4. Avelleira JCR, Bottino G. Sífilis: diagnóstico, tratamento e controle. An Bras Dermatol. 2006;81(2):111-26. 5. Passos MRL, Benzalen AS, Coelho IVB, Rodrigues GHS, Dutra Junior JC, Varella RQ, et al. Estudo da equivalência entre azitromicina e penicilina G benzatina no tratamento da sífilis. DST - J Bras Doenças Sex Transm. 2004;16(1):52-66. Sífilis como Endemia Anderson Sena Barnabé - Biólogo. Especialista em Saúde Pública. Mestre e Doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Professor de Epidemiologia e Saúde Coletiva da Universidade Nove de Julho-SP. Membro do NESCOF. Os argumentos muito bem citados pela Prof. Dr.ª Maria José R. Vaz nos fazem refletir sobre um real, porém muitas vezes negligenciado problema de saúde pública. Antes de tudo, devemos expor que a sífilis e as outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), voltaram a ter relevância social na década de 1980 com a emergência do HIV 1. Wasselteit 2 em pesquisas retrospectivas constatou que as ISTs e HIV comungam além das formas de transmissão o agravamento e a morbimortalidade. Mas mesmo antes desta transição epidemio-patológica, as ISTs representavam grave endemia despercebida há séculos. Dentre os levantamentos efetuados, verificamos concordância com um fator corroborando sempre a mesma implicação sanitária, a “subnotificação de casos”. Acreditamos que essas divergências epidemiológicas possam estar associadas às distintas manifestações clinicas da sífilis, a falta de um diagnóstico diferencial e a falta de uma atenção biomédica em relação a sua prevenção secundária, em que se observa uma atenção clínico, laboratorial e epidemiológica ainda frágil em relação ao exame pré-natal e ao recém nascido3. Donalisio, 20073 aborda que 77% das crianças nascidas com sífilis eram assintomáticas o que dificulta uma atenção mais relevante ao diagnóstico precoce o que corrobora a idéia defendida por Vaz de que crianças mesmo não infectadas podem ser incluídas nos critérios de notificação. Para o agravamento da endemicidade da sífilis, se referencia também uma cultura machista onde a saúde da mulher fica em segundo plano, a coexistência da infecção no parceiro é implicada como assunto de difícil abordagem, tanto dentro das residências, como junto aos serviços médicos ambulatoriais. Sífilis e sífilis congênita têm como melhor ferramenta de diminuição da prevalência e incidência, medidas de tratamento dos portadores e prevenção primária educacional. A falta de tratamento dos parceiros é um fator que põe em risco a saúde do concepto e a saúde feminina. Se há falta de uma concordância em relação ao número de casos de sífilis e sífilis congênita, a falta de dados sobre a fuga do tratamento dos parceiros e a perda desse segmento é mais complexo ainda. Não há estudos concretos e de ampla distribuição em relação ao não tratamento do parceiro, porém estudos isolados feitos na região de Sumaré, Estado de São Paulo, mostra que 95% dos parceiros de gestantes sifilíticas não procuraram atendimento médico para tratamento conjunto 3. Esse número mostra mais que falta de educação em saúde, reflete concepções sociais retrógradas que dificultam o controle e oneram o Sistema Único de Saúde devido às vastas complicações tardias, entre elas, as conjugadas com problemas mentais e sífilis terciária. Além da problemática aqui discutida em relação às dificuldades de diagnóstico, acesso aos serviços e a subnotificação, deve-se lembrar também que essa doença não deve ficar só nos planos microbiano, patológico e epidemiológico. A sífilis e a sífilis congênita estigmatizamse como endemia social. A pobreza, a falta de acesso à escolarização e a promiscuidade sexual são fatores importantes que devem compartilhar todos os argumentos a respeito do assunto citado. Saúde Coletiva 2008;05 (22):199-205 203 doença transmissível Vaz MJR. Sífilis Congênita: critérios de notificação Referências 1. Tenorio T, Godoi JTAM, Jucá A, Ribeiro L, Albuquerque SMC, Hinrichesen SL. Infecções sexualmente transmissíveis. In: Hinrichesen SL. Doenças infecciosas e parasitárias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. 2. Wasselteit J. Epidemiology sinergy: interrelationship between HIV and others STD. Sex Transm Dis. 1992;19:61-7. 3. Donalísio MR, Freire JB, Mendes ET. Investigação da sífilis congênita na microrregião de Sumaré, Estado de São Paulo, Brasil: desvelando a fragilidade do cuidado à mulher gestante e ao recém-nascido. Epidemiol Serv Saúde. 2007;16:165-73. Resultados de um Serviço de Pré-natal Francisca das Graças Salazar Pinelli - Doutora em Enfermagem Materno-infantil. Docente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Gislaine Santos- Enfermeira. Graduada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Quando se fala de Sífilis congênita, imediatamente se pensa à gestante com diagnóstico de sífilis. Isto remete à questão da qualidade da assistência pré-natal, por se tratar de oportunidade ímpar para o diagnóstico e tratamento da gestante e pai do futuro bebê. Neste sentido, pesquisa recente1, realizada com o objetivo de identificar a ocorrência de adesão ao tratamento adequado da sífilis no período gestacional, revelou algumas situações que merecem reflexões, no que diz respeito, a captação das gestantes ao pré-natal, continuidade da assistência, e adesão ao tratamento. Foram estudados retrospectivamente 183 prontuários de puérperas que realizaram o parto no Hospital Central da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, no período de 2000 a 2003. Os dados foram disponibilizados pelo Núcleo de Epidemiologia da referida instituição. O estudo mostrou que 67,8% das gestantes tinham de 17 a 31 anos de idade, o que corresponde a uma faixa etária de mulheres sexualmente ativas, portanto com grande possibilidade de adquirir sífilis. Eram multigestas 40,4%, com uma predominância de multíparas 30,0%. Foram identificadas 28,4% mulheres com abortamentos prévios, numa distribuição de um a três abortos e 4,9% tinham entre um e dois natimortos. Segundo dados do Centro de Controle do doenças (CDCEUA), em 40% dos casos de sífilis congênita, ocorre morte fetal (abortamento espontâneo, natimorto) ou morte neonatal precoce. Em dados do Estado de São Paulo, este percentual sobe para 50%2. Dados referentes à realização de pré-natal destas mulheres, mostrou que, 26,0% (48) não fizeram pré-natal e para 2,94% não havia informação. Quanto ao número de consultas, houve uma ocorrência de 27,9%, que não realizaram nenhuma consulta pré-natal. Dentre as mulheres, 32.2% realizaram menos de seis consultas, o que contribui para adesão inadequada ao tratamento, justificado pelo fato de que 58,4% realizaram algum esquema de tratamento, 20,8% não haviam realizado nenhum tipo de tratamento e em 20,0% esta informação era ignorada. Outro fato importante refere-se à informação da idade gestacional na primeira consulta, declarada como não conhecida em 60,0%. Somente 15,0% iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre da gestação. Esta situação contribui para o diagnóstico tardio da infecção materno fetal pelo treponema3. Tiveram diagnóstico confirmado no pré-natal, 28 (15,3%), as demais foram diagnosticadas durante o atendimento ao parto. Ao se analisar estes resultados, é necessário considerar que a região de procedência das mulheres tem uma peculiaridade própria, por se tratar de uma área com alto índice de profissionais do sexo que possivelmente contribuiu para estes resultados, mesmo que o estudo não buscou esta informação. Estudos têm questionado a qualidade da assistência pré-natal oferecida às gestantes na rede pública de saúde, devido a subnotificação de informações nos prontuários, situação que inviabiliza reconhecer os critérios epidemiológicos para a definição de caso, o que leva à notificação de casos de crianças que podem não estar infectadas2. Entende-se que é necessário repensar as formas de captação precoce de gestantes sem perder de vista o perfil sócioeconômico, grau de escolaridade e aspectos psicológicos e familiares da clientela. Desta forma, percebe-se a necessidade de capacitação dos profissionais envolvidos na prevenção da sífilis congênita, visando a adoção de critérios desenvolvidos pelo Ministério da Saúde, no que se refere ao período de captação da gestante para o seguimento pré-natal, realização do diagnóstico da sífilis e tratamento em tempo hábil, bem como o registro das informações referentes ao diagnóstico, tratamento e sorologia, para que haja maior fidedignidade dos casos notificados. Referências 1.Santos G, Pinelli FGS. Sífilis gestacional: estudo retrospectivo relacionado à adesão ao tratamento. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem. Bolsa PIBIC/Cnpq. 2008. 2.Lorenzi ORS, Madi JM. Sífilis congênita como indicador da assistência pré- 204 natal. Rev. Bras. Ginec. Obst, 2001; 23(10). 647-52. 3.Lorenzi DRS, Araújo BT, Grazziotim Basso E. Prevalência de sífilis congênita no Hospital Geral de Caxias do Sul-RS no período de 1998-2002. DST – Jornal Bras. Doenças Sex. Transm, 2005; 17(1): 5-9. Saúde Coletiva 2008;05 (25):199-205 doença transmissível Vaz MJR. Sífilis Congênita: critérios de notificação O autor responde: Sífilis Congênita: é preciso conscientização. Maria José Rodrigues Vaz - Enfermeira da UNIFESP. Doutora em Enfermagem. Pesquisadora do NESCOF. Docente da Universidade Nove de Julho. O combate à sífilis congênita é uma das prioridades da assistência pré-natal, tendo o Ministério da Saúde elaborado diversas estratégias de combate à doença. O que se pretende é a melhora da qualidade da assistência pré-natal, já que a sífilis congênita é um dos indicadores dessa qualidade, portanto, profissionais que atuam diretamente com as gestantes precisam de preparo técnico e responsabilidade profissional, de forma consciente do seu papel para minimizar um risco totalmente evitável, por meio do diagnóstico precoce, tratamento e educação em saúde de gestantes e seus parceiros. Por ser uma doença de transmissão predominantemente sexual com evolução apresentando períodos sintomáticos e assintomáticos e de fácil tratamento, pode não receber a devida atenção dos profissionais, devemos lembrar que a evolução da doença pode trazer conseqüências graves para o indivíduo. A sífilis na gestação, sem dúvida, acarreta um risco de grandes dimensões para a saúde e viabilidade do feto e recém-nascido. Os custos da falta de diagnóstico e tratamento de gestantes infectadas são de grande monta, sejam eles emocionais, sociais ou econômicos. Outro aspecto que não se pode deixar de citar é a pequena ou mesmo ausente participação ativa da gestante no autocuidado. Claro que a falta de informação pode contribuir, mas o conhecimento da sífilis e suas conseqüências nem sempre motivam a grávida a exigir a realização do teste, questionar o resultado e realizar o tratamento quando necessário. Também falta conscientização dos parceiros, o que pode ser um problema e não se esquecendo que eles têm responsabilidade com a saúde da criança que vai nascer. Portanto os profissionais devem esgotar todas as possibilidades de diagnosticá-lo e tratá-lo. Os critérios de notificação de sífilis congênita são amplos, mas certamente permitem identificar situações de risco para estabelecer as devidas providências. Superar o obstáculo da carência de pessoal capacitado para o combate à sífilis no nosso país é ainda um desafio e pretende-se com este artigo alertar os profissionais sobre o tema, que necessita um olhar multi e interdisciplinar tendo em vista a complexidade diagnóstica e assistencial. Normas para publicação saúdecoletiva A revista Saúde Coletiva tem por objetivo ser um veículo de divulgação de assuntos de Saúde Coletiva e áreas afins, buscando expansão do conhecimento. Assim, recebe artigos de pesquisa, dialogados (debates), de atualização, de relatos de experiência, de revisão, de reflexão, de estudos de caso e ensaios em Saúde Coletiva. Abaixo as normas para publicação: 01 Deve vir acompanhado de solicitação para publicação, por escrito, feita pelo autor. 02 Um dos autores deverá ser da área de Saúde Coletiva 03 Não ter sido publicado em nenhuma outra publicação ou revista nacio nal. 04 Ter, no máximo, 27.000 toques por artigo incluindo resumo (português, inglês e espanhol) com até 700 toques, ilustrações, diagramas, gráficos, esquemas, referências bibliográficas e anexos, com espaço entrelinhas de 1,5, margem superior de 3 cm, margem inferior de 2 cm, margens laterais de 2 cm e letra tamanho 12. Os originais deverão ser encaminhados em CD-ROM, no programa Word for Windows e uma via impressa. 05 Caberá à redação julgar o excesso de ilustrações, suprimindo as redun dantes. A ela caberá também a adaptação dos títulos e subtítulos dos tra balhos, bem como o copidesque do texto, com a finalidade de uniformizar a produção editorial. 06 As referências deverão estar de acordo com os requisitos uniformes para manuscritos apresentados à revistas médicas elaborado pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (Estilo Vancouver Sistema Numérico de Entrada). 07 Evitar siglas e abreviaturas. Caso necessário, deverão ser precedidas, na primei ra vez, do nome por extenso. Solicitamos destacar frases ou descritores. 08 Conter, no fim, o endereço completo do(s) autor(es) e telefone(s), e-mail e, no rodapé, a função que exerce(m), a instituição a que pertence(m), títulos e formação profissional. 09 Não será perm it id a a inclus ão no texto de nomes comerc iais de quais quer produt os. Quando necessário, citar apen as a denom inaç ão químic a ou a design aç ão cient ífic a. 10 O Conselho Científico pode efet uar eventuais correç ões que julg ar necess árias, sem, no entant o, alterar o cont eúdo do artig o. 11 O origin al do artigo não aceit o para public aç ão será devolv id o ao autor indicado, acomp an had o de just ific at iva do Conselho Científico. 12 O cont eúdo dos artigos é de exclusiva resp ons ab ilid ad e do(s) autor(es). Os trabalhos public ad os terão seus direit os autor ais resg uard a dos por Editorial Bolina Brasil e só poderão ser reprod uzid os com autor i zação desta. 13 Os trab alhos deverão pres erv ar a confid enc ialid ad e, respeitar os prin cípios éticos e trazer a aceit aç ão do Comitê de Ética em Pesquisa (Resolução CNS – 196/96) quando for pesquisa. 14 Os trab alhos, bem como qualquer correspond ência, deverão ser envia dos para a revista: Saúde Coletiva – A/C CONS ELHO CIENTÍFICO, Al. Pucuruí, 51/59 - Bl.B - 1º andar - Cj.1030 - Tamboré - Barueri - SP CEP: 06460-100 - E-mail: [email protected]. Saúde Coletiva 2008;05 (22):199-205 205