PESQUISA
TESTE
Tabagismo
Cadeiras infantis
Resposta dos fabricantes
O
importador da marca Renolux,
Pascher Indústria e Comércio Exportação e Importação Ltda., colocouse à disposição para que, em conjunto,
os resultados fossem reavaliados. A empresa questionou o teste, especialmente
por causa da “discrepância dos resultados obtidos em laboratórios credenciados no exterior e os resultados aqui
encontrados”.
O fabricante Hecar Indústria de
Carrinhos Ltda., da marca Hércules
Capri, informou que providenciaria, para o lote seguinte, etiquetas com as marcações
necessárias e as melhorias
das identificações com
adesivos.
A Hi-Care Indústria
e Comércio Ltda., fabricante da marca Vista by Cosco, afirmou
que “a empresa já havia iniciado os testes
estáticos para a sua aprovação na norma
brasileira”, e que as alterações das rotulagens adesivas e a inclusão de alguns
itens no manual para a adequação nos
requisitos normativos já foram feitas.
O fabricante Brinquedos Bandeirante
S.A. comunicou que não fabrica mais a
cadeira Baby Segura e que está à disposição dos consumidores através do
Serviço de Atendimento ao Consumidor
para diminuir ou resolver “eventuais
dúvidas e adequações quanto a este e
outros produtos que fazem ou fizeram
parte” da sua linha.
A resolução do Inmetro foi incluir a
cadeira infantil no Plano de Ação
Quadrienal 2004-2007, que no âmbito
do Sistema Brasileiro de Avaliação de
Conformidade (SBAC) abarca os produtos que podem ser alvos de Programas
de Avaliação de Conformidade.
Tabaco e filhos,
uma mistura letal
“Q
De acordo com a norma da ABNT, algumas marcações são
obrigatórias para a correta instalação dos dispositivos:
● Deve ser fixado na cadeira um desenho ou ilustração que
demonstre como fazer a acomodação no veículo. O consumidor
deve distinguir facilmente, nesses desenhos, a parte sub-abdominal e a parte do ombro do cinto de segurança. Essas informações devem estar visíveis.
● Quando a cadeira for utilizada por crianças de até 1 ano ou
com peso aproximado de 13 kg, ela deve estar de frente para o
vidro traseiro do veículo. Essa informação é importante, pois
nessa faixa etária a criança tem a junção do pescoço ao tronco
muito frágil e não suporta acelerações ou freadas bruscas.
A cadeira infantil deve conter instruções de instalação em
português, e é obrigatório que as seguintes informações estejam sempre visíveis:
● Este é um dispositivo de retenção para crianças da categoria “universal”. Ele é aprovado para uso geral em veículos e
22
Revista do Idec | Abril 2005
se adapta à maioria, mas não a todos os assentos de carros.
● Sua correta adaptação é possível se o fabricante do veículo
declarar no manual que o veículo aceita um dispositivo de
retenção para crianças do tipo “universal”.
● A instalação será adequada se o veículo estiver equipado
com cinto de segurança (é necessário especificar se o cinto é
sub-abdominal/três pontos/estático/com retrator).
● Em caso de dúvida, consulte o fabricante do dispositivo de
retenção para crianças ou o revendedor.
● Se a cadeira infantil for utilizada com o encosto voltado
para trás, o consumidor deve ser avisado para não usá-la onde houver air-bag instalado, por representar um perigo para as
crianças.
Todas as marcas e modelos analisados foram considerados
“não conformes” pelo Inmetro, pois não apresentavam as marcações obrigatórias completas e não continham as informações
e advertências exigidas pela norma.
PHOTOS.COM
Marcações e instruções obrigatórias
Pesquisa da USP
revela como é a relação
entre pais fumantes e
seus filhos, sabendo-se
que o tabagismo
passivo é a terceira
maior causa de morte
evitável no mundo
uando a pessoa está fumando faz um monte de
tempo, ela morre. Esse é o caso da
minha mãe.” “É ruim, porque eu
sei que está fazendo mal para o
meu filho e mesmo assim estou
cometendo o erro.”
Frases significativas como estas
são a base da pesquisa “Criança:
fumante passivo sem opção”, desenvolvida pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São
Paulo durante seis meses em 2003,
que procurou entender como funciona a dinâmica familiar entre pais
e filhos em lares com pais fumantes. O estudo partiu da premissa de que o tabagismo passivo é
hoje a terceira maior causa de
morte evitável no mundo e quis
compreender a percepção que os
pais têm da deterioração da saúde
dos filhos. Também verificou como
as crianças se percebem enquanto
fumantes passivas e como se relacionam com o universo familiar
onde o tabaco está presente.
Não é segredo algum o fato de
que o tabagismo faz mal à saúde,
tanto para aquele que fuma como
para aqueles que estão ao seu
lado, os chamados fumantes passivos. Porém, o número de consumidores de cigarro no mundo e
no Brasil, o de fumantes passivos
e o de casos de morbidade e mortalidade em função do tabagismo
assusta por sua grandeza e atesta o grave quadro de saúde públi-
ca em função do vício de fumar.
De acordo com a pesquisa elaborada pela USP – coordenada pelos
professores Fernando Lefèvre, Ana
Maria Cavalcanti Lefèvre e desenvolvida pelos professores Isabel
Bicudo Pereira, Glacilda Menezes
Stevien e Antonio Pedro Mirra –,
existem hoje no mundo cerca de
1,26 bilhão de fumantes, sendo só
no Brasil mais de 30 milhões de pessoas acima de 15 anos. Quanto ao
consumo, são 7,3 trilhões de cigarros/ano consumidos no mundo; no
Brasil há um consumo de 149 bilhões de cigarros/ano.
Outro dado alarmante é quanto
à mortalidade: o tabaco mata no
mundo um em cada dez adultos,
além de ser o responsável por 2,6%
da mortalidade total da humanidade. No ano de 2002 a mortalidade total decorrente do tabagismo
foi de 5 milhões de pessoas, sendo
3,5 milhões nos países em desenvolvimento e 1,5 milhão nos países
desenvolvidos. No Brasil, estima-se
que 200 mil pessoas morram por
ano devido a doenças relacionadas
ao consumo de cigarro. O mal causado aos fumantes passivos também é enorme: o fumante inala
25% da fumaça do seu cigarro e o
restante permanece no ambiente,
sendo inalado pelos não fumantes,
com o agravante de que estes, os
passivos, não contam com a barreira representada pelo filtro existente em várias marcas de cigarros.
Revista do Idec | Abril 2005
23
PESQUISA
PESQUISA
Tabagismo
Tabagismo
Segundo a pesquisa, o tabagismo passivo é considerado a terceira maior causa
de morte evitável no mundo, atrás apenas
do tabagismo ativo e do consumo excessivo de álcool. Estima-se que hoje existam 2 bilhões de fumantes passivos no
mundo, sendo que no Brasil esse número
é por volta de 15 milhões de pessoas.
VÍCIO PERSISTENTE
Devido à pressão social e
conscientização da população, há hoje no mundo
vasta legislação de combate
ao tabagismo, além de campanhas contra o cigarro e
informações sobre seus malefícios à saúde pública. Todavia, tanto o conhecimento
científico como a legislação
não impedem que as pessoas
fumem.
“O próprio comportamento e a vontade de fumar são
os principais obstáculos para
que a pessoa não abandone o cigarro.
Mesmo sabendo dos prejuízos causados
pelo fumo tanto para si como para os que
vivem ao seu lado, além de, com freqüência, ter a intenção de largar o vício, o
fumante, no momento de concretizar essa
intenção, não o faz, devido a outros fatores”, argumenta o professor Lefèvre. Essa
contradição interior torna-se ainda mais
complexa quando a relação fumante e não
fumante se concretiza no lar, entre pais e
filhos, completa ele.
“Nossa pesquisa foi realizada com a
intenção de entender a percepção que os
pais têm enquanto atores principais no
processo de deterioração da saúde dos filhos, e também como as crianças se
percebem enquanto fumantes passivas e
como se relacionam com o universo familiar, onde o tabaco está presente. Esta
pesquisa é quali-quantitativa, uma soma
de depoimentos e dá voz tanto às crianças
como aos pais, mostrando os meandros
dessa realidade”, esclarece a professora
Ana Maria Lefèvre.
Pais têm consciência do mal causado
F
inanciada pela Secretaria de Estado da
Saúde e desenvolvida pela Faculdade
de Saúde Pública, a pesquisa entrevistou
41 crianças com idades que variavam entre
10 e 15 anos, sendo 48,8% de garotos e
51,2% de meninas; os entrevistados também estavam assim distribuídos, segundo a
aceitação em participar da pesquisa: 85,4%
de escolas públicas e 14,6% de escolas
particulares. A porcentagem de pais fumantes foi de 48,8%; a de mães, de 24,4%;
e a de pais e mães fumantes, de 26,8%.
Foram entrevistados 22 pais, sendo que
81,8% eram mães e 18,8% pais, com idades que variavam entre 36 e 58 anos.
A primeira questão para a criança foi
sobre a possibilidade de ela vir a fumar. A
grande maioria, 59,01%, respondeu que
não pretende fumar, e as razões mais freqüentemente apontadas estão ligadas ao
24
Revista do Idec | Abril 2005
medo de doenças e ao medo da morte,
como ilustra a fala apreendida das entrevistas: “Em alguns casos, quando a pessoa
já está fumando faz um monte de tempo,
ela morre. Esse é o caso da minha mãe”.
Segundo os responsáveis pelo estudo,
as crianças parecem estar influenciadas
pelas campanhas realizadas na escola e na
mídia, fantasiando, inclusive, alguns efeitos do fumo, como se verifica em outra
frase: “As pessoas que fumam perdem a
inteligência e perdem a consciência do
que é certo e do que é errado”.
Sobre o fato de os pais fumarem na
frente delas, 43,9% das crianças declaram
que os pais fumam em sua presença e se
revelam incomodadas com isso, além de
sentirem mal-estar com fumaça e cheiro de
cigarro. “Eu não fico perto deles, porque
não gosto da fumaça.” Elas também têm
consciência de serem fumantes passivas
(“mãe, pára de fumar perto de mim,
porque você está fazendo eu fumar junto
com você”) e têm medo de se viciar: “A
fumaça vai entrar em mim e pode me dar
vontade de querer fumar também”.
Há ainda 24,39% das crianças que
dizem que os pais não fumam em sua presença, porém descrevem com riqueza de
detalhes os locais onde os pais fumam, o
que, de acordo com os pesquisadores,
parece indicar a preocupação, tanto dos
pais em poupar as crianças (“minha mãe
só fuma no quarto dela”), quanto destas
ao saber quando e onde os pais fumam
(“ele não fuma dentro de casa, ele vai lá
fora, na garagem”).
Nas entrevistas com os adultos, a
primeira questão levantada foi sobre se
eles fumam no local onde os filhos estão.
Para os pesquisadores, é relativamente
pequeno (22%) o número de pais que
declaram fumar na frente dos filhos, o que
denota uma sensibilização pelas campanhas antifumo e pelo próprio apelo dos
filhos. Percebe-se, na maioria, uma preocupação em poupar as crianças da fumaça
e uma consciência dos males para o fumante passivo, como revelam as frases: “É
ruim porque eu sei que está fazendo mal
para ele e mesmo assim estou cometendo
o erro”. A maioria dos pais tem consciência de que os filhos não suportam o cheiro
do cigarro e não gostam que eles fumem:
“Geralmente meu filho é que sai de perto
de mim, tem ódio mortal de cigarro”.
Porém, os adultos reconhecem a força do
vício e parecem saber que estão prejudicando os filhos. Grande parte dos discursos dos pais versa sobre o esforço em
fumar em locais específicos, visando
poupar seus filhos (“Eu vou para a sacada,
fecho a porta e lá eu fumo”). Há, por último, os que declaram fumar exclusivamente fora de casa: “Não, eu fumo fora,
estou me prejudicando, não vou prejudicar meus filhos”.
Outra questão apresentada aos adultos
foi sobre o que eles pensam da possibilidade de o filho vir a fumar. De acordo
com os pesquisadores, a maior parte dos
Mudar o enfoque das campanhas
Os professores responsáveis
pela pesquisa alertam que o estudo revela um quadro cheio de fantasias, de terror, de culpa, de
desinformação, tanto por parte dos
alunos como de seus pais, que
reflete uma dificuldade cultural de
enfrentar a questão do fumante
passivo, seus desdobramentos,
conseqüências e solução: “A pesquisa, com sua metodologia, revela os discursos tanto das crianças como dos pais, e é a base,
o patamar para reverter a realidade. Temos condições de melhorar as campanhas educativas, tornando-as menos autoritárias. O
terror não é educativo. Precisamos
mudar o enfoque das campanhas
antitabagistas. Precisamos dialogar com a população”, argumenta
Fernando Lefèvre, que tem algumas proposições, como a de apresentar os resultados da pesquisa
para a coletividade entrevistada.
Dessa forma, segundo o professor,
se a população tiver a chance de
se reconhecer nas respostas dadas, por meio de debates e discussões, pode apresentar soluções
inovadoras.
“A produção de conhecimento
da universidade é grande, mas fica
restrita ao meio acadêmico. É
necessário ultrapassar os nossos
muros. Uma das formas para isso é
a audioteca que estamos implantando na Faculdade de Saúde Pública. Assim, os conhecimentos
científicos produzidos aqui receberão outros tratamentos, como
spots de rádio, radionovelas, raps,
vídeos, além dos tradicionais artigos científicos e livros. Esta pesquisa, por exemplo, poderá voltar
para a coletividade e virar um programa de rádio”, conclui o professor
Fernando Lefèvre.
pais (50%) diz que seus filhos não deverão fumar (“Não, porque eu ensino. É
um vício que é difícil de tirar”) e 18,1%
dizem que esperam que seus filhos não
venham a fumar (“Meu filho faz campanha para que eu pare de fumar, é consciente de que o fumo é ruim. Então espero que ele não fume”).
Entretanto, os pesquisadores verificaram uma contradição entre as respostas
dos filhos e dos pais: se pelo lado das
crianças muitas declaram que poderão vir
a fumar por influência dos pais, por imitação, pelo lado dos adultos, os pais
acreditam que seus filhos não seguirão
seu vício. Existe ainda uma porcentagem
pequena (9%) de pais que, embora não
gostando, reconhece a sua influência
sobre a possibilidade concreta de o filho
se tornar um fumante.
Serviço
Para ter acesso à versão
integral da pesquisa, procure na internet o link
(http://www.cve.saude.sp.
gov.br/agencia/bepa8_
crianca.htm).
Revista do Idec | Abril 2005
25
Download

Tabaco e filhos, uma mistura letal