OPINIÃO31
DOMINGO, 12 DE JULHO DE 2015 A GAZETA
Angelo Passos
É jornalista e escreve aos domingos neste espaço
E-mail: [email protected]
Arlindo Villaschi
É professor de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)
A inspiração do Programa de Proteção ao Emprego Dadas a intensidade e a escala da crise das
finanças mundializadas, que se agrava desde 2007,
deve ter vindo de lei da ditadura, diz Pazzianotto.
Além disso, é retrô. Tem subsídio e é patrimonialista é importante examinar caminhos de saída dela
Forte cheiro
do passado
Justamente agora, quando a presidente
fala em golpe e retrocede ao período
militar (veja o editorial "A fantasia do
golpe", na página ao lado), ela lança o
Programa de Proteção ao Emprego (PPE),
por meio da medida provisória 680.
Sim, há ligação entre uma coisa e
outra. A inspiração desse programa "deve ter vindo da lei 4.923, de
23/12/1965, também conhecida como
“lei da crise”, por haver sido aprovada
com objetivos semelhantes: reduzir o
impacto da recessão sobre o mercado de trabalho", assinala o ex-ministro do Trabalho, Almir Pazzianotto Pinto,
em excelente artigo. No
mesmo escrito ele ressalta: "Não deixa de ser
paradoxal que lei aprovada em pleno regime
militar, sancionada pelo
presidente
Castello
Branco, a época bastante acusada e combatida
pelos sindicatos dos trabalhadores e movimentos de esquerda, hoje,
sob o governo do PT, se
constitua em modelo para a edição de
medida provisória".
Ora, com a permissão de Pazzianotto,
convém observar que o PPE tem DNA
tipicamente autoritário. É intervenção
do governo nas relações privadas. Além
disso, contempla só os setores escolhidos ao talante das eminências do
Planalto (prática levada à exaustão no
reinado de Mantega). Longe da impessoalidade, o novo programa paternal
fortalece o patrimonialismo na administração pública, e nisso também contraria
ideais democráticos e republicanos.
O PPE é um arranjo bizarro. Visa a
diminuir o desembolso das empresas
com empregados mas se choca com a
proposta do governo de aumentar os
impostos da folha de pessoal. O PPE
também dribla o ajuste fiscal. Eleva subsídio ao setor privado,
levantando no ar um
forte cheiro do passado.
Cria gasto não previsto
no Orçamento para
bancar até 15% dos salários dos empregados.
Quanto à eficácia, o
PPE pode servir para
mostrar que qualquer
coisa pode fazer pouca
diferença do nada.
Principalmente quando a situação é crítica.
Emergência – como é o
caso do forte avanço
do desemprego -, exige
tratamento esmerado.
Aprendendo
com a história
A crise continuada da economia mundial precisa ser examinada com a ajuda
da história. Ainda que diferentes em
dimensão e abrangência, é possível ver
paralelos entre a instabilidade que resultou da quebra da bolsa de Nova
Iorque, em 1929, e a que emergiu com o
estouro da bolha imobiliária em 2007.
Ambas desencadearam processos de
ajustes com fortes consequências. É reconhecido que um dos desdobramentos
do acontecido em 1929 foi um conflito
armado que acabou por remodelar a
geopolítica e a economia mundiais.
Dele resultaram, dentre outros: a afirmação da liderança americana e a emergência do bloco soviético em sua oposição;
a industrialização tardia mas bem sucedida
de países como a Coreia do Sul e o Brasil;
a descolonização relativa de países da Ásia
e África. Destaque também para a continuada construção de novo pacto político
e econômico entre países da Europa.
Dadas a intensidade e a escala da crise
das finanças mundializadas, que se agrava desde 2007, é importante examinar
caminhos de saída dela. Já se sabe que é
falso imaginar que um deles passe por
soluções que busquem acalmar o mercado. Onde elas foram tentadas, o fra-
casso teve altos custos econômicos –
baixas taxas de crescimento – e sociais –
desemprego, instabilidade política.
A solução pela demanda ampliada por
guerra ou por programas de recuperação - como aconteceu na crise de 1930
– além de indesejadas são sabidamente
inefetivas, à luz dos desafios que se
colocam diante na humanidade neste
século XXI. Esses indicam que as oportunidades estão mais no campo do novo
– a sustentabilidade ambiental, econômica, social.
A saída para a crise mundial passa,
necessariamente, pela busca de oportunidades para a construção de um
modelo civilizatório diferente. O novo
está em mudanças no relacionamento
entre os humanos – para além do individualismo exarcebado – e entre esses
e os demais seres viventes, parte fundamental do bem comum.
Sob essa perspectiva, aumentam as
janelas de oportunidades para que países como o Brasil liderem novas trajetórias. Mais do que se vangloriar de
ser celeiro do mundo – a partir de
práticas predatórias de produção de
commodities – o país precisa assumir a
vanguarda na valorização de sua gente
e de seus ativos naturais.
A vanguarda está longe e em sentido
oposto a ajustes como os praticados pela
equipe econômica do governo, que impõem retrocesso social e baixo crescimento econômico; está distante do
posto na agenda política nacional, por
agentes do atraso.
Anderson de Souza Sant’Anna
É professor e coordenador do Núcleo de Desenvolvimento de Pessoas e Liderança da FDC
O fator de diferenciação estará na capacidade de liderar com pessoas, incluindo lidar com sua subjetividade
Líderes: uma espécie
em extinção?
Levantamento recente sobre as prioridades das empresas em gestão de
pessoas, conduzido junto ao Observatório de Liderança FDC (Fundação Dom
Cabral), aponta o “desenvolvimento de
liderança” como principal preocupação.
A competência é apontada como chave
por empresas de diferentes setores, controles acionários e países.
Se tomarmos como premissa a afirmativa do psicanalista francês Jacques
Lacan de que desejamos exatamente
aquilo que nos falta, a análise do resultado deveria partir do questionamento
de porquê esse item é tema de preocupação na alta cúpula das empresas.
A partir deste estudo inicial, foi produzido um novo estudo, também pela
FDC, questionando um público mais
sênior sobre o mesmo ponto: qual a
prioridade humana para sua empresa?
O resultado traz como causa desta
priorização o intenso processo de aposentadoria da geração pós-guerra, levando à necessidade de maior compreensão dos valores, expectativas e comportamentos dos sucessores e formas de
aceleração de seu desenvolvimento. Em
seguida, vem a necessidade de preparar
quadros que permitam a sustentação de
processos futuros de expansão e crescimento das organizações.
Pelos relatos obtidos, a construção de
ambientes de alto desempenho deverá se
dar cada vez menos por competências
gerenciais baseadas em lideranças controladoras, em particular com novas gerações. Ao contrário, o fator de diferenciação estará na capacidade de liderar
com pessoas, incluindo lidar com sua
subjetividade - desejos, sonhos, ambições.
De fato, particularmente em setores mais
competitivos e dinâmicos da economia,
pressões por maior flexibilidade, inovação e
agregação de valor, tendem a produzir
esforços maiores no desenvolvimento de
estilos de liderança mais voltados a pessoas;
e assim, a maiores estímulos à construção de
ambientes organizacionais que viabilizem
resultados a partir do mais humano do
humano: sua criatividade, suas singularidades e capacidade de engajamento.
O risco é que nessa transição, a ênfase
em competências gerenciais centradas
de forma radical em tarefas e metas,
levem setores importantes da economia
atual, a perderem terreno na atração,
desenvolvimento e retenção de estilos
de liderança mais afins ao novo padrão
de competitividade que se impõe.
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