Estudo da interacção de um campo magnético com uma partícula confinada a um
poço de potencial esférico.
David Tavares 62818
Marta Farracho 62845
Física Quântica da Matéria
Instituto Superior Técnico
Abril, 2010
Resumo
Neste trabalho foi estudada a perturbação causada por um campo magnético uniforme, numa
partícula sem spin, de massa m e carga e, confinada a um poço de potencial esférico. O efeito foi estudado
em duas condições: supondo o campo fraco e supondo o campo forte. Utilizando a teoria das perturbações
independente do tempo, foi obtida a energia do estado fundamental para um campo fraco e para o campo
magnético de forte intensidade foi feita uma analogia com um potencial de oscilador harmónico
bidimensional.
Dos resultados obtidos concluiu-se que a presença do campo magnético eleva a energia do estado
fundamental da partícula e que para campos magnéticos de forte intensidade o comportamente do sistema
apresenta fortes semelhanças a um oscilador.
Introdução
O objectivo deste trabalho é analisar os
efeitos da aplicação de um campo magnético
Ξ¨ π‘Ÿ, 𝑑 = πœ“π‘› (π‘Ÿ)𝑒 βˆ’π‘–
𝐸𝑛 𝑑
ℏ
(2)
π»πœ“ = πΈπœ“
(3)
fraco e de um campo magnético forte a uma
partícula sem spin, de massa m e carga e,
confinada a uma esfera de potencial
0, π‘Ÿ < 𝑅
𝑉 π‘Ÿ =
,
∞, π‘Ÿ > 𝑅
Para uma partícula normal, o hamiltoneano
é dado por:
(1)
𝑝2
ℏ2 2
𝐻=
+𝑉=βˆ’
βˆ‡ +𝑉
2π‘š
2π‘š
calculando a energia do estado fundamental em
ambos os casos.
O interesse do problema resulta da
ℏ2
βˆ’ 2π‘š βˆ‡2 πœ“ + 𝑉 πœ“ = πΈπœ“
(4)
utilização de diversas componentes da matéria
Que em coordenadas esféricas (πœ“(π‘Ÿ, πœƒ, πœ™))
deste curso, servindo como paradigma que pode
ser utilizado na resolução de muitos outros
se escreve:
exercícios.
ℏ2
βˆ’ 2π‘š
Desenvolvimento do Problema
Partindo da equação de Schröedinger
1 πœ•
π‘Ÿ 2 πœ•π‘Ÿ
πœ• 2πœ“
1
π‘Ÿ 2 sin
πœƒ2
πœ•πœ™ 2
π‘Ÿ2
πœ•πœ“
πœ•π‘Ÿ
1
πœ•
πœ•πœ“
+ π‘Ÿ 2 sin πœƒ πœ•πœƒ sin πœƒ πœ•πœƒ +
+ 𝑉 πœ“ = πΈπœ“
independente do tempo, tem-se que:
uma vez que o Laplaciano é dado por:
(5)
1 πœ•
πœ•
1
πœ•
πœ•
βˆ‡2 = π‘Ÿ 2 πœ•π‘Ÿ π‘Ÿ 2 πœ•π‘Ÿ + π‘Ÿ 2 sin πœƒ πœ•πœƒ sin πœƒ πœ•πœƒ +
1
πœ•2
π‘Ÿ 2 sin πœƒ 2
πœ•πœ™ 2
π‘˜β‰‘
No estado fundamental, 𝑛 = 1 e 𝑙 = 0.
angular, temos:
Substituindo:
𝑑2 𝑒
𝑑π‘₯2
πœ“ π‘Ÿ, πœƒ, πœ™ = 𝑅 π‘Ÿ π‘Œ(πœƒ, πœ™)
ℏ2
π‘Œ 𝑑
πœ•π‘…
𝑅
πœ• 2π‘Œ
π‘Ÿ 2 sin πœƒ 2
πœ•πœ™ 2
1 𝑑
𝑅
πœ•
πœ•π‘Œ
+π‘‰π‘…π‘Œ =πΈπ‘…π‘Œ
𝑑𝑅
π‘Ÿ 2 π‘‘π‘Ÿ βˆ’
1
1
+π‘Œ
πœ•
π‘Ÿ 2 sin
(13)
(7)
(8)
Dividindo por π‘Œ 𝑅 e multiplicando por βˆ’
𝑅 π‘‘π‘Ÿ
= βˆ’π‘˜ 2 𝑒 β‡’ 𝑒 π‘Ÿ = 𝐴 sin π‘˜π‘Ÿ + 𝐡 cos(π‘˜π‘Ÿ)
π‘Ÿ 2 πœ•π‘Ÿ + π‘Ÿ 2 sin πœƒ πœ•πœƒ sin πœƒ πœ•πœƒ +
π‘Ÿ 2 π‘‘π‘Ÿ
(12)
ℏ
(6)
Separando as variáveis na parte radial e
βˆ’ 2π‘š
2π‘šπΈ
2π‘š
ℏ2
ℏ2
π‘Ÿ2 :
π‘Ÿ2 𝑉 π‘Ÿ βˆ’ 𝐸
πœ•π‘Œ
πœƒ πœ•πœƒ
2π‘š
1
sin πœƒ πœ•πœƒ + π‘Ÿ 2 sin πœƒ 2
No entanto 𝑅 π‘Ÿ =
𝑒 π‘Ÿ
π‘Ÿ
e limπ‘ŸβŸΆ0
πœ•πœ™ 2
=0
π‘Ÿ
=
∞, ou seja, B terá que ser igual a 0.
Considerando
a
condição
fronteira
𝑒(𝑅) = 0, obtém-se para a energia:
sin π‘˜π‘… = 0 β‡’ π‘˜π‘… = π‘›πœ‹ ⟺ π‘˜ =
πœ• 2π‘Œ
cos π‘˜π‘Ÿ
𝐸𝑛 =
𝑛 2 πœ‹ 2 ℏ2
2π‘š 𝑅 2
π‘›πœ‹
(14)
𝑅
πœ‹ 2 ℏ2
, 𝑛 = 1,2,3, …
𝐸1 = 2π‘š 𝑅 2
(15)
(9)
Para a
Uma vez que o primeiro termo só depende
função
de onda do
estado
fundamental (𝑛 = 1, 𝑙 = 0, π‘š = 0):
de r e o segundo só depende de πœƒ e de πœ™, têm que
ser constantes. Igualando ambos a 𝑙(𝑙 + 1), da
𝑅1 π‘Ÿ =
𝐴 sin
πœ‹π‘Ÿ
𝑅
𝑒 π‘Œ0 0 =
π‘Ÿ
dependência angular obtêm-se as harmónicas
1
(16)
4πœ‹
esféricas já estudadas e da equação radial obtémQue normalizando (𝐴 =
se, fazendo 𝑒 π‘Ÿ ≑ π‘Ÿπ‘…(π‘Ÿ) e simplificando:
ℏ2
𝑑2 𝑒
ℏ2
βˆ’ 2π‘š 𝑑 π‘₯ 2 + 𝑉 + 2π‘š
𝑙(𝑙+1)
π‘Ÿ2
𝑒=𝐸𝑒
(10)
Para π‘Ÿ > 𝑅 tem-se 𝑉 = ∞ logo, 𝑒(π‘Ÿ) = 0.
No caso de π‘Ÿ < 𝑅, tem-se 𝑉 = 0 logo,
ℏ2 𝑑 2 𝑒
ℏ2 𝑙(𝑙+1)
βˆ’ 2π‘š 𝑑 π‘₯ 2 + 2π‘š
𝑑2 𝑒
𝑑π‘₯2
=
𝑙(𝑙+1)
π‘Ÿ2
onde
π‘Ÿ2
βˆ’π‘˜
2
1
πœ“1 =
𝑒
(17)
π‘Ÿ
Na presença de um campo magnético, o
Hamiltoniano passa a ser dado pela expressão [2]:
1
𝑒=𝐸𝑒
):
πœ‹π‘Ÿ
𝑅
sin
2πœ‹π‘…
2
𝑅
(11)
𝐻 = 2π‘š
(13)
𝑝𝑧 βˆ’
𝑝π‘₯ βˆ’
𝑒 𝐴𝑧 2
𝐢
𝑒 𝐴π‘₯ 2
𝐢
+𝑉
+ 𝑝𝑦 βˆ’
𝑒 𝐴𝑦 2
𝐢
+
(18)
Em que 𝐴𝑖 é a componente do potencial
vector do campo magnético segundo a direcção i.
Obtém-se assim o Hamiltoneano:
1
2
2
𝐻 = 2π‘š 𝑝2 + 𝑒 𝐡2
4𝐢
π‘₯2 + 𝑦2
+𝑉
(27)
Dado que:
𝐡 = 𝐡 𝑒𝑧
Sendo B um campo fraco, é possível usar o
𝑒 𝐡 = βˆ‡×𝐴
(19)
Hamiltoneano normal considerando a parcela
𝑒 2 𝐡2
Calula-se o potencial vector (por questão
4𝐢 2
π‘₯ 2 + 𝑦 2 como uma perturbação. Assim:
se simplicidade foi escolhido o potencial vector tal
𝐻 = 𝐻0 + 𝐻′
que βˆ‡. 𝐴 = 0):
(28)
𝑝2
𝐻0 = 2π‘š + 𝑉
𝐡
𝐴π‘₯ = βˆ’ 2 𝑦
𝐻′ =
𝐡
(20)
𝐴𝑦 = 2 π‘₯
𝐴𝑧 = 0
de
𝐻 = 2π‘š
𝑝π‘₯ +
π‘₯2 + 𝑦2
8π‘š 𝐢 2
(30)
De acordo com a teoria das perturbações
Substituindo em (18):
1
𝑒 2 𝐡2
(29)
𝑒𝐡𝑦 2
2𝐢
+ 𝑝𝑦 βˆ’
𝑒𝐡π‘₯ 2
2𝐢
primeira
ordem,
aplicada
ao
estado
fundamental:
+ 𝑝𝑧 2 + 𝑉
(21)
𝐸1 = 𝐸10 + 𝐸11
(31)
𝐸11 = πœ“10 𝐻′ πœ“10
(32)
Recuperando as fórmulas (15) e (17), e
Dado que 𝑝π‘₯ , 𝑦 = 𝑝𝑦 , π‘₯ = 0,
transformando π‘₯ e 𝑦 em coordenadas esféricas:
1
𝐻 = 2π‘š
𝑒𝐡
𝑝π‘₯ 2 + 𝑦 𝑝π‘₯
2
𝑝𝑦 βˆ’ π‘₯ 𝑝𝑦
𝐢
𝑒𝐡
𝐢
+
+
𝑒 2 𝐡2
𝑦2 +
4𝐢 2
2
𝑒 𝐡2 2
π‘₯
4𝐢 2
+ 𝑝𝑧
2
+𝑉
π‘₯ = π‘Ÿ sin πœƒ cos πœ™ , 𝑦 = π‘Ÿ sin πœƒ sin πœ™ , 𝑧 = π‘Ÿ cos πœƒ
(33)
(22)
𝐻′ =
Sabendo que
𝑝 = 𝑝π‘₯ 2 + 𝑝𝑦 2 + 𝑝𝑧 2
𝐻′ =
𝑙𝑧 = π‘₯ 𝑝𝑦 βˆ’ 𝑦 𝑝π‘₯
𝐻 = 2π‘š 𝑝2 βˆ’
π‘Ÿ 2 sin2 πœƒ cos 2 πœ™ + π‘Ÿ 2 sin2 πœƒ sin2 πœ™
𝑒 2 𝐡2
8π‘š 𝐢 2
π‘Ÿ 2 sin2 πœƒ
(35)
(24)
Assim:
tem-se:
1
8π‘š 𝐢 2
(34)
(23)
e
𝑒 2 𝐡2
𝑒𝐡
𝐢
𝑙𝑧 +
𝑒 2 𝐡2
4𝐢 2
π‘₯2 + 𝑦2
+𝑉
(25)
𝐸11 =
βˆ—
πœ“10 𝐻′ πœ“10 π‘Ÿ 2 sin πœƒ π‘‘πœƒ π‘‘πœ™ π‘‘π‘Ÿ
𝑅 2πœ‹ πœ‹
0 0
0
𝐴 π‘‘πœƒ π‘‘πœ™ π‘‘π‘Ÿ
(36)
(37)
em que
No nível fundamental:
𝑙𝑧 𝑙 π‘š = β„π‘š 𝑙 π‘š β‡’ 𝑙𝑧 0 0 = 0
∞
0
𝐸11 =
(26)
𝐴=
1
2πœ‹π‘…
sin
πœ‹π‘Ÿ
𝑅
π‘Ÿ
𝑒2 𝐡2 2 2
π‘Ÿ sin πœƒ
8π‘šπΆ 2
1
2πœ‹π‘…
sin
πœ‹π‘Ÿ
𝑅
π‘Ÿ
π‘Ÿ 2 sin πœƒ
(38)
𝐸11 =
Analisando
1 𝑒 2 𝐡 2 𝑅 2πœ‹ πœ‹
0
2πœ‹π‘… 8π‘š 𝐢 2 0 0
1 𝑒 2 𝐡2
2
⇔ 𝐸11 = 2πœ‹π‘… 8π‘š 𝐢 2
𝑒2
𝐡2 𝑅2
72π‘š 𝐢 2
2βˆ’
πœ‹π‘Ÿ
sin2
é
possível
maior do que zero, conclui-se que a presença de
3
2 βˆ’ πœ‹ 2 πœ‹π‘…3 =
9
resultado,
observar o efeito do campo magnético. Como 𝐸11 é
π‘Ÿ 2 sin3 πœƒ π‘‘πœƒ π‘‘πœ™ π‘‘π‘Ÿ
𝑅
o
um campo magnético leva ao aumento da energia
3
(39)
πœ‹2
do estado fundamental da partícula. É de notar
ainda que o efeito do campo é proporcional ao
No caso de um campo magnético forte, o
quadrado da sua intensidade.
Observando agora o resultado obtido em
seu efeito já não poderá ser considerado uma
(44),
perturbação:
1
2
2
𝐻 = 2π‘š 𝑝2 + 𝑒 𝐡2
4𝐢
π‘₯2 + 𝑦2
No
é
𝑒2
𝐡2
8π‘š 𝐢 2
entanto,
π‘₯2 + 𝑦2
+𝑉
possível
(40)
como
aproximação
para
a
energia
fundamental da partícula sob o efeito de um
campo forte, é possível concluir que a energia é
notar
que
tem a forma do potencial do
directamente proporcional a B multiplicado por
uma constante.
oscilador harmónico bidimensional segundo x e y
1
Conclusões
(𝑉 = 2 π‘šπœ”2 π‘₯ 2 + 𝑦 2 ), cuja solução é:
Podemos assim concluir que é possível
𝐸𝑛 π‘₯ 𝑛 𝑦 = β„πœ” 𝑛π‘₯ +𝑛𝑦 + 1
(41)
obter boas aproximações para o efeito de campos
magnéticos fortes e fracos. No entanto, este
resultado
Em que a energia do estado fundamental é
dado com 𝑛π‘₯ = 𝑛𝑦 = 0,
não
pode
ser
generalizado
para
intensidades intermédias uma vez que, nesse caso,
seria necessário recorrer a outras aproximações.
𝐸0 0 = β„πœ”
(42)
Este estudo é de grande importância no
Fazendo a analogia entre o oscilador
âmbito do programa da disciplina já que faz a
harmónico e o Hamiltoneano obtém-se a equação:
síntese de vários tópicos importantes e pode servir
𝑒2
𝐡2
8π‘š 𝐢 2
𝑒2
1
𝐡2
𝑒𝐡
= 2 π‘šπœ”2 ⇔ πœ”2 = 4π‘š 2 𝐢 2 ⇔ πœ” = 2π‘šπΆ
de base para a elaboração de outro tipo de
(43)
Finalmente
a
energia
do
exercícios.
estado
Bibliografia
fundamental será:
𝑒𝐡ℏ
𝐸0 0 = 2π‘šπΆ
(44)
[1] Introduction to Quantum Mechanics, 2nd
Edition, David Griffiths, 2005, Pearson
International Edition, Pearson Prentice Hall
Resultados e Discussão
[2] Classical Mechanics, 20th Edition, Herbert
Utilizando os resultados das equações (15),
(31) e (39) obtemos a expressão final para a
energia perturbada:
πœ‹ 2 ℏ2
𝐸1 = 2π‘š 𝑅 2 +
𝑒 2 𝐡2 𝑅2
72π‘š 𝐢 2
3
2 βˆ’ πœ‹2
(45)
Goldstein, 1950, Addison Wesley
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