1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia Departamento de Matemática Um olhar sobre a prática docente do professor de Matemática: enfocando Área e Volume de sólidos geométricos Disciplina: Trabalho de Graduação Professor responsável: Artur Darezzo Aluna: Luciana Xavier Ribeiro Orientadora: Profª Ms. Eliane Portalone Crescenti São Carlos Dezembro de 2003 2 Introdução A Matemática, disciplina pertencente às grades curriculares do Ensino Fundamental e Médio, tem muitas vezes sido ensinada de uma maneira abstrata, distanciada da vivência cotidiana do aluno. Faz-se necessário aproximá-la da realidade dos alunos uma vez que essa área do conhecimento surgiu da necessidade da formalização do conhecimento matemático já existente na vida diária de muitos povos. Uma maneira de aproximar a Matemática da realidade dos alunos é a resolução de problemas do cotidiano. E uma área que pode contribuir com essa proximidade é a Geometria, que relacionada a Medidas, contribui muito no desenvolvimento da habilidade de resolver problemas pelos alunos. Durante a minha escolaridade básica (Ensino Fundamental e Médio), realizada em escola pública, pouco aprendi sobre Área e nada aprendi sobre Volume de sólidos geométricos. Ao ingressar no curso de Matemática, algumas inquietações surgiram ao perceber que tanto eu quanto vários de meus colegas licenciandos vivemos a mesma situação escolar. Como eu, eles também se questionam como, futuros professores, ensinarão Área e Volume de sólidos geométricos, sendo que temos dificuldades com os mesmos. Destas inquietações, surgiu um questionamento a respeito do ensino deste tópico da Matemática: Como os professores que lecionam Matemática em escolas públicas tratam o ensino de Área e Volume de sólidos geométricos no Ensino Médio? Busco com este trabalho, analisar como os professores de Matemática vêem e desenvolvem o ensino de Área e Volume nas escolas públicas de Ensino Médio. Esta investigação teve como objetivo detectar com quais dificuldades e/ou habilidades e conhecimentos geométricos os professores ensinam Área e Volume. 3 1. A Matemática e a Geometria no currículo escolar Muitos professores ensinam Matemática como se esta não fizesse parte da realidade, ou seja, sem relacioná-la com as necessidades do aluno, o que muitas vezes pode desmotivá-lo. O modo de ensinar Matemática enfatizando regras, demonstrações e fórmulas “soltas”, funcionou em outras épocas, nas quais a sociedade era muito diferente da realidade de hoje. Faz-se necessário utilizar em aula, atividades que contribuam para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de habilidades inerentes ao ensino de Matemática, como criatividade, iniciativa e reflexão, além de todo o conhecimento matemático que o aluno necessita deter. Dessa forma, a Matemática não deve ser considerada pelos professores como uma disciplina a mais a ser ensinada, mas como aquela que pode contribuir para o desenvolvimento intelectual, pessoal e social dos alunos. Dentro da Matemática está a Geometria, a qual sempre esteve presente em nosso cotidiano. Ela é utilizada para compreendermos o mundo em que vivemos, no qual temos necessidade de medir, desenhar, representar formas dos objetos. Embora muitos não considerem, a Geometria é importante e necessária para a vida cotidiana das pessoas. Apesar da importância da Geometria na vida cotidiana das pessoas, nas últimas décadas tem-se observado o abandono desta nas aulas de Matemática. Neste trabalho, nossa preocupação concentra-se nos conteúdos de Área e Volume de figuras geométricas espaciais desenvolvidos no Ensino Médio. O aluno que se encontra neste nível de ensino, deve ter estudado os conteúdos relativos a Geometria e Medidas no Ensino Fundamental (desenvolvido como descrevemos anteriormente). E no Ensino Médio, será que são desenvolvidos os conceitos de Área e Volume de sólidos Geométricos? Como é feito o desenvolvimento desses conceitos para aluno desse nível de ensino? Procuramos, então, verificar como se encontra o ensino de Área e Volume de Figuras Geométricas espaciais no Ensino Médio na ótica dos professores de Matemática. 4 2. Metodologia: em busca de caminhos Visto que a Geometria tem sofrido um grande abandono de uns tempos para cá, buscamos com este trabalho, analisar, na visão dos professores de Matemática do Ensino Médio das escolas públicas, como se encontra o Ensino de um conteúdo específico de Geometria muito importante para a vida cotidiana: Área e Volume de figuras geométricas espaciais. Dessa forma uma questão que orientou o estudo foi: como os professores que lecionam Matemática em escolas públicas tratam o ensino de Área e Volume de Sólidos Geométricos no Ensino Médio? Para tanto, o principal objetivo a ser alcançado ao longo do estudo foi definido: caracterizar e analisar como os professores que lecionam Matemática em escolas públicas tratam o ensino de Área e Volume de sólidos geométricos no Ensino Médio. O trabalho foi desenvolvido em duas etapas. Para desenvolvermos a primeira etapa do trabalho foram selecionados oito professores, devido a dificuldade em encontrar professores dispostos a responder o questionário, no qual a maioria dos professores alegou que está com muitas aulas e sem tempo disponível, também a maior parte demorou em média duas semanas para responder o questionário. Escolhemos o Ensino Médio em virtude do conteúdo de Área e Volume de sólidos geométricos estar contemplado neste nível de ensino, segundo Proposta Curricular Estadual para o Ensino de Matemática. A primeira parte possibilitou, através da utilização de um questionário, conhecer melhor esses informantes para que possamos compreender melhor suas respostas. Na segunda etapa do estudo, Trabalho de Graduação B, buscamos aprofundar questões contempladas no questionário, tendo por base a prática docente nas aulas de Matemática referentes ao conteúdo de Área Volume de sólidos geométricos. Para desenvolvermos esta segunda etapa, assistimos aulas de dois dos oito professores que participaram da primeira etapa do trabalho. 5 3. O ensino de área e volume de sólidos geométricos na ótica dos professores de Matemática do Ensino Médio 3.1. Caracterização dos professores investigados Os professores participantes desse estudo, como discutido no capítulo de Metodologia foram oito professores que lecionam no Ensino Médio em escolas públicas. Dentre os professores participantes cinco são mulheres e três são homens. Possuem idade compreendida entre 28 e 50 anos. A maioria dos professores cursaram o Ensino Médio em escolas públicas, no período diurno, três professores cursaram o primeiro e segundo colegial em escolas particulares no período diurno, sendo que no terceiro colegial, dois destes professores se mantiveram em escolas particulares no período diurno, enquanto o outro mudou para o terceiro colegial em escola pública, no período noturno. Observamos que dos oito professores analisados, um estudou em faculdade particular e sete em pública, sendo que dentre estes sete um cursou Biologia e tem habilitação para dar aulas de Matemática. Nota-se também que os professores que estudaram em faculdades públicas demoraram mais tempo para completar a graduação. Desses professores que cursaram a graduação em escolas públicas, três demoraram seis anos para concluí-la, dois demoraram cinco anos e dois concluíram em quatro anos. Já o professor que cursou a graduação em faculdade particular demorou três anos apenas para concluila. Dentre as escolas onde os professores lecionaram Matemática, sete são públicas e cinco são particulares. Dentre as escolas em que os professores lecionaram Matemática no Ensino Médio, seis são públicas e duas são particulares. Apenas três professores lecionaram e lecionam em escolas particulares no Ensino Médio e também notamos que a maioria dos professores começou a ensinar geometria nos últimos anos e um dos professores analisados não ensina tal conteúdo. 6 Um dos professores disse que não é todo ano que ensina Área e Volume na segunda série do Ensino Médio, pois cada ano o tempo para ensinar este conteúdo é indefinido, ou seja, este conteúdo é ensinado se houver tempo disponível. 3.2. O Ensino de Área e Volume na visão dos professores Os conceitos de Área e Volume de sólidos geométricos, apesar de estarem contemplados no Bloco Temático Medidas, Segundo a Proposta Curricular Paulista para o Ensino de Matemática, e Grandezas e Medidas, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - Matemática, ambos para o Ensino Fundamental, muitos professores, senão a maioria ou a sua totalidade, os consideram como conteúdos geométricos. Para enfocarmos Área e Volume buscamos primeiramente saber dos professores a visão que possuem da geometria, para então enfocarmos os conceitos de Área e Volume. Foi perguntado aos professores se eles ensinam Geometria. Sete professores responderam que lecionam Geometria e um respondeu que não leciona este conteúdo no Ensino Médio. Veja tabela 1, abaixo. TABELA 1: Ensino de Geometria no Ensino Médio Ensina Geometria Freqüência Sim Não Total 7 1 8 Dos oito professores, um não ensina Geometria. Segundo ele, o motivo pelo qual não ensina este conteúdo consiste no fato de só trabalhar com as “séries iniciais”, primeiro e segundo colegial, seguindo o essencial da proposta curricular do Ensino Médio. A maioria dos professores disse que “Área e Volume” é ensinado na terceira série. A maioria dos professores respondeu que Área e Volume de Sólidos Geométricos é ensinado no final do ano letivo. 7 O professor F disse que este conteúdo sempre é deixado para o fim do bimestre e que muitos professores acabam não conseguindo ensiná-lo. Perguntamos aos professores se eles aprenderam bem os conceitos de Área e Volume em sua escolaridade Básica (Ensino Fundamental e Ensino Médio). TABELA 2: Aprendizagem dos professores em relação a Área e Volume Aprendeu bem Sim Não Total Freqüência 3 5 8 Freqüência (%) 37,5 62,5 100 Perguntamos aos professores que responderam “sim”, onde que eles aprenderam bem este conteúdo. Um deles respondeu que aprendeu bem no terceiro colegial (escola particular), outro disse que foi no Ensino Fundamental em escola pública (8ª série) e no Ensino Médio em escola particular (1º e 2º colegial) e o terceiro professor respondeu que aprendeu bem ensinando o conteúdo, segundo ele “quando se ensina é que realmente se aprende”. Perguntamos, também se eles sentem dificuldades em ensinar este conteúdo, 37,5% dos professores disseram que sim e 62,5% dos professores disseram que não sentem dificuldades em ensinar Área e Volume. Nosso questionário, também possuía uma questão aberta, a qual pedia aos professores para que discorressem sobre a importância em ensinar Área e Volume. Praticamente, todos os professores reforçaram a importância do ensino deste conteúdo, por estar diretamente ligado a vida cotidiana, porém as respostas foram muito amplas, sem pontuar a importância, demonstrando que mesmo o professor apresenta dificuldades em indicar onde especificamente esses conceitos são importantes. 8 4. Prática docente e utilização de recursos didáticos no desenvolvimento de Área e Volume de Sólidos Geométricos 4.1. Observando as aulas de Matemática: um olhar sobre a prática docente As escolas que contribuíram para a execução da Segunda Parte deste Trabalho foram: E.E. Prof. José Juliano Neto e E.E. Jesuíno de Arruda. Foram observadas as aulas dos professores A e E, os quais participaram da Primeira Parte deste Trabalho. A professora A leciona na Escola Estadual Prof. José Juliano Neto e o professor E leciona na Escola Estadual Jesuíno de Arruda. No Trabalho de Graduação A, pudemos observar, através do questionário, que a professora A é graduada em Matemática (licenciatura) pela USP São Carlos, concluindo a graduação em 1997. Já o professor E, é graduado no curso de Matemática (Ciências Física e Matemática) pela UFSCar - São Carlos, tendo concluído a graduação em 1983. Em relação ao tempo lecionando Geometria, a professora A leciona há 5 anos, enquanto o professor E leciona Geometria há 3 anos. 4.1.1 Prática docente da professora A Nas aulas observadas na escola Juliano Neto com a professora A, no período diurno (manhã), pudemos observar que todos os alunos possuem o livro didático, comprado na primeira série do Ensino Médio. O livro utilizado pela professora é “Matemática, Série Novo Ensino Médio”, Marcondes, Gentil e Sérgio, Editora Ática, (Volume Único), cuja finalidade de uso consiste apenas como apoio para ela e para os alunos fazerem exercícios. 9 Todas as aulas foram expositivas, sendo desenvolvidas sempre da mesma forma. A professora não relaciona a matéria ensinada com a realidade. Analisamos a prática docente da professora A quanto a 3 aspectos: conhecimento pedagógico, conhecimento do conteúdo e relacionamento pessoal com os alunos. Quanto ao conhecimento pedagógico pode-se notar que a professora: - possui uma seqüência fixa para dar suas aulas; - ensina de forma centrada no professor, demonstrando uma prática pedagógica tradicional, embora utilize grupos em sala de aula; - pouco se serve das habilidades de ensino1 para enriquecer suas aulas: Organização do contexto da aula: não explicita o objetivo de estudo; não localiza historicamente o conteúdo; não estabelece relações do conteúdo com outras áreas do saber, não apresenta o roteiro da aula; não referencia materiais de consulta. Incentivo à participação do aluno: formula perguntas, porém detémse nos níveis cognitivos mais simples (conhecimento e compreensão); valoriza o diálogo; não provoca os alunos para fazerem suas próprias perguntas; não transfere indagações de um aluno para outro ou para a sala; não aproveita respostas dos alunos para continuar a sua aula; não solicita as experiências cotidianas dos alunos. Valorização de estímulos: não utiliza recursos audiovisuais; não estimula a divergência e a criatividade; não se preocupa em instalar/provocar dúvidas durante as aulas. Uso da linguagem: possui clareza nas explicações com o emprego de vocabulário adequado, possui tom de voz audível, porém não emprega entonação de voz variada e nem pausas e silêncio durante a explicação. Utilização de recursos didáticos: apenas o livro didático como apoio e para a resolução de exercícios pelos alunos. Quanto ao conhecimento do conteúdo, pode-se notar que: - é pobre em conceitos; 10 - não demonstra de onde provém as fórmulas; - não faz analogias; - não vincula a teoria com a prática; - utiliza exemplos simples; - não utiliza exercícios diferentes do livro; - não utiliza situações-problemas. Quanto ao relacionamento com os alunos, pode-se observar que: - mantém bom relacionamento com os alunos; - gosta dos alunos; - preocupa-se com a aprendizagem dos alunos; - procura ser amiga dos alunos; - preocupa-se com o bem estar pessoal dos alunos. A professora A, apesar de ter muitos pontos falhos em sua prática pedagógica, demonstra interesse em desenvolver um trabalho diferenciado, porém falta-lhe tempo, como ela mesma ressalta, para buscar formas diferenciadas de ensinar os conteúdos matemáticos. 4.1.2 Prática docente do professor E A prática pedagógica do professor E foi observada durante as aulas, no período noturno, na Escola Estadual Jesuíno de Arruda. Pudemos observar que este professor desenvolve suas aulas de forma diferente da professora A. Ele prioriza a participação dos alunos, utilizando como metodologia o ensino da Matemática através da Resolução de Problemas. As aulas observadas foram expositivas e dialogadas, não somente o professor falando, mas proporcionando uma interação entre professor-aluno e aluno-aluno, por meio de perguntas que ele faz. O professor procura sempre relacionar o conteúdo com o cotidiano. 1 CUNHA, 1992, p. 164-166 11 Analisamos a prática docente do professor E também sob os três aspectos considerados para a professora A: conhecimento pedagógico, conhecimento do conteúdo e relacionamento pessoal como os alunos. Quanto ao conhecimento pedagógico pode-se notar que o professor: - não possui sempre a mesma seqüência para dar suas aulas, usando a criatividade para desenvolvê-las. - não ensina de forma centrada no professor, seu foco é o aluno, demostrando uma prática pedagógica Empírico-Ativista. - serve-se de algumas das habilidades de ensino2 para enriquecer suas aulas: Organização do contexto da aula: explicita o objetivo de estudo; localiza historicamente o conteúdo; estabelece relações do conteúdo com outras áreas do saber, apresenta o roteiro da aula; não referencia materiais de consulta. Incentivo à participação do aluno: formula perguntas com níveis cognitivos mais complexos (aplicação, análise, avaliação); valoriza o diálogo; provoca os alunos para fazerem suas próprias perguntas; transfere indagações de um aluno para outro ou para a sala; aproveita respostas dos alunos para continuar a sua aula; solicita as experiências cotidianas dos alunos. Valorização de estímulos: utiliza recursos audiovisuais (utilizou videocassete); estimula a divergência e a criatividade; se preocupa em instalar/provocar dúvidas nos alunos durante as aulas. Uso da linguagem: possui clareza nas explicações com o emprego de vocabulário adequado, possui tom de voz audível, emprega entonação de voz variada e pausas e silêncio durante a explicação. Utilização de recursos didáticos: Utiliza uma apostila de onde retira alguns exercícios para propor aos alunos. Quanto ao conhecimento do conteúdo, pode-se notar que: 2 - é razoável em conceitos; - não demonstra de onde provém as fórmulas; - faz analogias; CUNHA, 1992, P.164-166 12 - vincula a teoria com a prática; - utiliza exercícios com nível médio de dificuldade. - Utiliza exercícios diferentes da apostila. - Utiliza situações-problemas. Quanto ao relacionamento com os alunos, pode-se observar que: - mantém bom relacionamento com os alunos; - gosta dos alunos; - preocupa-se com a aprendizagem dos alunos; - procura ser amigo dos alunos; - preocupa-se com o bem estar pessoal dos alunos. O professor E demonstrou ser um “bom professor”, conduzindo seus alunos a um aprendizado efetivo do que se propõe ensinar. Por ser ensino público e noturno, pode-se conjecturar um ensino fraco, porém este professor busca, com os recursos que dispõe, realizar um trabalho significativo para seus alunos, de forma a conduzi-los ao aprendizado dos conteúdos, particularmente neste caso, geométricos. 4.4. A utilização de material didático no ensino de Área e Volume de sólidos geométricos Essa experiência consistiu em fornecer aos alunos o significado das fórmulas para calcular o volume de prismas, pirâmides, cilindros, cones e esferas. Foi realizada na Escola Estadual Prof. José Juliano Neto, na terceira série do Ensino Médio, no período diurno (manhã), com duração de duas horas. Desenvolvemos a aula seguindo a orientação da Proposta Curricular Estadual de Matemática para o Ensino Médio (1992). O material didático utilizado foi: - Material dourado; - Planificações dos sólidos (prismas, pirâmides, cilindros e cones) feitas de papel cartão e papel color set; 13 - Esfera de isopor; - Sólidos de vidro (pirâmide e prisma); - Bolinhas de isopor. Proposta Curricular de Matemática3, “Volumes de sólidos como PRISMAS e CILINDROS podem ser caracterizados como pilhas de placas idênticas. Para calcular o volume deve-se determinar quantos cubinhos de aresta 1 unidade de comprimento, cabem no sólido; e para isso são necessárias várias etapas: determinar a área da base, o que corresponde a verificar quantos cubinhos cabem apoiados na base, - determinar a altura, o que corresponde a verificar quantas camadas idênticas de cubinhos são necessárias para preencher completamente o sólido. A partir da área da base e altura, resulta o volume ( V = AB . h)”. Com o auxilio dos alunos, calculei quantos cubinhos eram necessários para preencher o sólido, como sugerido pela Proposta Pedagógica. Para o cálculo volume do prisma e do cilindro, utilizamos a mesma idéia, imaginando-o como pilha de placas idênticas4. A classe foi dividida em seis grupos de três alunos e dois grupos de dois alunos. Entreguei a eles a planificação do prisma e da pirâmide, cola, tesoura e durex, e pedi para que recortassem, dobrassem e colassem os sólidos (o prisma e a pirâmide possuíam a mesma base e mesma altura). Feito isso, pedi aos alunos para que realizassem a seguinte experiência: calculassem quantas vezes era necessário encher a pirâmide para encher um prisma. Os alunos realizaram a atividade, utilizando bolinhas de isopor e observaram que são necessários três “volumes” da pirâmide para preencher o prisma, ou seja, o volume do prisma é igual a três vezes o volume da pirâmide. Vpirâmide = 1 (Vprisma). 3 Os alunos compeendiam, então, o porquê de utilizar esta fórmula para calcular o volume da pirâmide. Também realizei a mesma experiência, mas com sólidos de vidro e líquido colorido, o que mostrou que o volume do prisma é exatamente 3 vezes o volume da pirâmide. 3 4 Proposta Curricular Estadual de Matemática para o Ensino Médio, 1992 como ressalta a Proposta Pedagógica para o Ensino Médio (1992) 14 Analogamente ao prisma e à pirâmide, foi feito com o cone e o cilindro. Após a experiância para o cilindro e o cone, procurei demonstrar a fórmula para o volume da esfera V = 4 (π r3). 3 Para demosntrar a fórmula segui o que é sugerido pela Proposta Curricular de Matemática para o Ensino Médio (1992). Expliquei o volume da esfera, a partir da comparação entre os volumes de um hemisfério de raio r, de um cilindro e de um cone de raio da base r e altura r (raio da base igual a altura). Mostrei aos alunos através de uma experiência, utilizando bolinhas de isopor, que o volume de “metade da esfera” é igual ao volume do cilindro menos o volume do cone. Os alunos conseguiram compreender a experiência. Após a experiência formalizei na lousa a teoria: (V esfera ) 2 = Vcilindro – Vcone = π . r2 . h – 1 3.π .r.2 h − π .r 2 .h π . r2 . h = 3 3 Vimos que a altura do cilindro e do cone é igual a r, então: (V esfera 2 ) 1 = 2πr2. h = 3 2 3 πr 3 Logo, 4 2 Vesfera = 2 . π r3 = π r3 3 3 Ao término, foi feita uma avaliação junto aos alunos sobre a opinião de cada um a respeito da aula. Alguns disseram que gostaram da aula; um aluno disse que da forma como foi ela desenvolvida ele conseguiu entender o porquê de se utilizar tais fórmulas e de onde elas vêm. A professora desta classe, que é a professora A observada, manifestou-se positivamente quanto à aula, ressaltando que dessa forma os alunos conseguem interpretar as fórmulas e também fixá-las com mais facilidade. Ela me pediu as planificações dos sólidos utilizados na aula, para que possa aplicar nas séries em que ensinará este conteúdo, nos próximos anos. 15 Avalio esta experiência como positiva tanto para o aprendizado dos alunos, e para a formação docente da professora A, quanto também para a minha formação, podendo constatar assim que a utilização de recursos didáticos auxiliam de maneira satisfatória no aprendizado da Geometria. Acredito que as contribuições que esta aula pôde trazer tanto para mim, como futura professora, quanto para a professora A, como professora experiente, foram enriquecedoras e que estarão presentes em nossas práticas pedagógicas futuras. 5. Considerações Finais A literatura nos mostra que a Geometria sofreu um grande abandono por parte dos professores, mas observamos que esta área da Matemática está sendo resgatada tanto nas Propostas Oficiais para o ensino de Matemática como por parte de alguns professores que reconhecem a importância do ensino da Geometria. Entretanto, ainda há algumas deficiências no ensino desta área, que, muitas vezes, encontra no professor a causa de sua ausência nas salas de aula, ou porque o mesmo não tem segurança para ensinar Geometria (em virtude de sua formação) ou porque enfatiza mais as outras áreas da Matemática (Aritmética ou Álgebra). Para desenvolver a segunda etapa deste trabalho buscamos observar a prática docente referente ao ensino de Área e Volume de sólidos geométricos. Durante a procura por professores que ensinam e estavam ensinando este conteúdo, pudemos notar que várias escolas públicas não ensinam tal conteúdo. Porém, algumas escolas desenvolvem o conteúdo de Área e Volume, sendo duas delas as escolas onde lecionam a professora A e o professor E, participantes da primeira e da segunda etapa do nosso trabalho. Através da observação das aulas pudemos notar que estes professores desenvolvem práticas bem diferenciadas. Comparando o que foi dito pelos professores na primeira etapa deste trabalho com a observação de suas prática docentes em relação ao ensino de Área e Volume de sólidos geométricos, pudemos observar que a professora A não desenvolve a aula como havia descrito na primeira etapa do trabalho, pois quando pedimos para descrever como desenvolve suas aulas sobre de Área e Volume de 16 sólidos geométricos ela disse: “Primeiramente apresento (visualmente) os sólidos e após planificamos e usamos as fórmulas de áreas já vistas anteriormente”, porém observando suas aulas pudemos notar que a professora não apresenta sólidos e planificações dos mesmos aos seus alunos, o que contradiz a sua descrição da aula. A professora A possui uma seqüência fixa para dar suas aulas, demonstrando uma prática pedagógica tradicional, e não relaciona a matéria com a vida cotidiana dos alunos. A professora A, apesar de ter apresentado muitos pontos a serem trabalhados e aperfeiçoados em sua prática pedagógica, demonstra interesse em desenvolver um trabalho diferenciado, porém falta-lhe tempo, como ela mesma ressalta, para buscar formas diferenciadas de ensinar os conteúdos matemáticos. Já o professor E, relatou que para ensinar volume, procura relacionar com sólidos que os alunos têm contato. Realmente foi o que notamos durante as observações das aulas: o professor faz com que o próprio aluno relacione a matéria com o seu cotidiano. Esse professor demonstrou ser um “bom professor”, conduzindo seus alunos a um aprendizado efetivo com relação ao que se propõe ensinar. Ele, apesar de dispor de poucos recursos, realizar um trabalho significativo para seus alunos, de forma a conduzi-los ao aprendizado dos conteúdos geométricos. Talvez essa diferença entre as práticas dos professores A e E possa ser explicada pela experiência, pois a professora A leciona Matemática há cinco anos em escola pública e há quatro anos em escola particular, enquanto o professor E leciona Matemática há dezessete anos em escola pública e há dez anos em escola particular. Outro ponto a ser considerado nas respostas dadas pelos professores na primeira etapa do nosso trabalho, foi a falta de material para desenvolver o conteúdo Área e Volume, como indica um professor (F) que disse que este conteúdo seria melhor interpretado pelos alunos se desenvolvido com atividades práticas, e estas, segundo ele, são quase impossíveis, devida a indisciplina dos alunos. Outros apontam a falta de recursos por parte da escola, ou seja, que faltam recursos para trabalharem essa área da Matemática, os quais não são providenciados pelas escolas. Pudemos constatar, através das aulas do professor E e pela aula que desenvolvi que é possível realizar um ensino de Área e Volume utilizando materiais didáticos, tornando assim o seu ensino mais interessante e eficaz.. Com o intuito de auxiliar o professor a desenvolver o conteúdo de Área e Volume de sólidos geométricos, desenvolvemos, na segunda etapa do nosso 17 trabalho, materiais didáticos, que foram relatados na seção 4.4 (p. 75). Esta experiência foi bastante gratificante, pois contribuiu positivamente tanto para o aprendizado dos alunos, quanto para a formação docente da professora A e, principalmente, para a minha formação. Pudemos constatar assim que a utilização de recursos didáticos auxiliam de maneira satisfatória no aprendizado da Geometria e que são possíveis de serem realizados, basta que os docentes busquem desenvolvêlos e que as escolas os apoiem. 18 Referências Bibliográficas BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. 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