VIII Semana Acadêmica e VIII Expedição Geográfica:
Ensino, práticas e formação em Geografia
04 a 06 de setembro de 2013
A TRILHA SENSITIVA: UM TRABALHO DE CAMPO DIFERENCIADO NO
ENSINO DA GEOGRAFIA.
Aline Kammer, bolsista do PIBID,
membro do ENGEO, acadêmica de Geografia.
Aline Inês Dierings, bolsista do PIBID,
membro do ENGEO, acadêmica de Geografia.
Lia Dorotéia Pfluck, professora coordenadora do PIBID,
membro do ENGEO, professora doutora da Unioeste.
Introdução
O presente artigo tem como objetivo evidenciar a importância dos trabalhos de
campo e demonstrar que é possível usar além do sentido da visão os demais sentidos
nos trabalhos de campo “desatrofiando-os”, por fim demonstrar as dificuldades e as
formas diferenciadas de percepção de mundo e de paisagens que pessoas portadoras de
necessidades especiais têm em sua vida cotidiana. A atividade com Trilha Sensitiva
proporciona excelente aproximação entre alunos e turmas participantes. É importante
frisar que a atividade tem baixo custo, pois há apenas o uso de uma venda para os olhos.
Para escolas que tem dificuldade na locomoção de seus alunos para campo pode-se usar
essa atividade no entorno da escola, para se perceber esse espaço. Com uso de
transporte podem se trabalhar diferentes espaços e conteúdos, diferenças de agráriourbano, preservação ambiental, diferenças de relevo e declividade, aspectos físicos e sua
relação com aspectos humanos, o educador deve usar sua criatividade para imbricar
com essa atividade.
Desenvolvimento
A atividade Trilha Sensitiva, foi realizada no dia nove de abril 2013 em
Marechal Cândido Rondon-PR, sendo concretizada pelos alunos do PIBID e coordenada
pela Professora Dra. Lia Dorotéia Pfluck em uma Aula de Campo envolvendo os
acadêmicos do curso de Geografia. Na atividade participaram 42 alunos, formando 21
duplas, que fizeram uma trilha por meio de terrenos diferenciados (área florestal, blocos
rochosos, passando por obstáculos vegetais, cerca, água e degraus). Para o inicio da
atividade, formaram-se duas colunas de acadêmicos, em que um integrante da dupla era
vedado (visão bloqueada) – o “cego”, e o outro fazia o papel de “surdo”, logo o surdo
era responsável por guiar o “cego” em uma trilha e esse não poderia falar, seria um
“guia mudo”.
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Segundo Azambuja (2007 p. 127) “Para o ensino de Geografia, a realização de
trabalhos de campo tem como finalidade ser uma atividade de pesquisa, um momento
de estudo. Nesse sentido, é uma das atividades de instrumentalização, de busca de
informações relacionadas com a temática em investigação”. Para Kaercher (1999, p. 78.
grifos do autor) “Enfim, os conceitos e vivências espaciais (geográficas) são
importantes, fazem parte de nossa vida a todo o instante. Em outras palavras: Geografia
não é só o que está no livro ou o que o professor fala. Você a faz diariamente”.
O trabalho de campo é a observação e a aplicação dos conteúdos trabalhados em
sala de aula, relacionando e percebendo, usando principalmente a nossa visão, e por que
não estimular outros sentidos? A Trilha Sensitiva busca estimular também os outros
sentidos, que muitas vezes parecem estar atrofiados, bem como mostrar as dificuldades
que pessoas portadoras de necessidades especiais têm com atividades que para muitos
alunos parecem normais.
Como a atividade foi realizada em duplas, ela auxilia na integração da turma,
pois o aluno vedado terá a necessidade de confiar plenamente em seu (a) acompanhante
que não poderá usar a fala, o que os trás a realidade de uma pessoa com perda total da
fala ou da visão. A trilha começou em fila indiana. As duplas se organizaram com um
guia apontando onde deveriam passar. Em um primeiro momento, passou-se em um
terreno plano com pedriscos sem vegetação, foi uma tarefa sem dificuldades
observadas. Após alguns metros, a fila entrou em uma área florestal com diferenças de
altitude, podendo ser notado a declividade e diferenças no relevo da área, com
percepções de um novo solo e ainda tatear a vegetação sentindo também o cheiro das
diferentes plantas presentes no decorrer do percurso. Nessa área o guia-mudo da dupla
teve que ser extremamente atencioso com seu acompanhante, pois, além das diferenças
de declividade apareciam pedras, árvores e galhos que precisaram ser desviados ou
escalados. Também, encontraram-se áreas de açudes secos com blocos rochosos e
presença de solo hidromórfico, onde o “cego” podia perceber também a diferença dos
terrenos e da paisagem, novos cheiros e declividades. Para sair dessa área de açudes, foi
necessário subir degraus de tijolos, chegando ao fim da Trilha Sensitiva.
Os acadêmicos ao fim da Trilha relataram o quão difícil foi percorrer todo esse
trajeto com os olhos vendados, e da confiança que precisaram ter em seu parceiro para
obter sucesso em sua caminhada. Já nos principais casos de insucesso a falta, de
confiança foi o principal fator de quedas, esbarrões e sujeira na roupa. Ainda o aguçar
dos sentidos foi descrito como algo satisfatório, cheiro de limão, cheiro de mata ou
cheiro de peixe foram percebidos. O afundar dos calçados na lama, a descida e a subida
em diferentes declives e aclives, tudo isso foi sentido em seus pés e suas pernas. O
tatear de folhas e troncos percebendo diferentes texturas sem as estar vendo.
Conclusão
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Segundo Kaercher (1999, p. 95), “O homem não é um fantoche sobre um palco
imutável. Então, reeducar o professor e aluno é uma tarefa importante para
qualificarmos e humanizarmos nossa escola e nossa sociedade”. A importância dos
trabalhos de campo para o ensino de Geografia é promover nos/aos alunos a realização
do apreender, conectando a teoria à prática.
A “Geografia-espetáculo” é minimizada e sobreposta pelo estímulo de novos
sentidos o aluno não fica apenas fascinado pelas imagens e filmes que muitas vezes
afasta-o da Geografia, pelo fato desse aluno acreditar que ela só existe em lugares
distantes, em montanhas ou nas paisagens que a mídia lhe mostra sendo que a disciplina
está junto com ele no seu dia-a-dia.
Para os acadêmicos no dia fatídico se teve a proposta de trazer novas práticas no
fator da inclusão de alunos especiais e o sentir como é essa inclusão quando se é um
aluno portador de necessidade especial, pois se formarão a partir dessas os novos
educadores da Geografia e nas salas de aula teremos todos os tipos alunos e nos caberá a
função de entendê-los e de proporcionar o apreender Geografia.
Referências
KAERCHER, André N. Desafios e utopias no ensino de geografia. Santa Cruz do SulRS: Editora Edunisc, 1999.
AZAMBUJA, Leonardo. A geografia na formação de professores indígenas: Projeto
Vãfy. In: REGO Nelson; CASTROGIOVANNI, Carlos Antonio; KAERCHER, André
N. (Org.). Geografia. Porto Alegre: Editora Artmed, 2007.
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