FUNDACAO GETULIO VARGAS ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO IRIS SILVA DE OLIVEIRA IMPACTO DAS REGULAMENTAÇÕES NO SISTEMA FINANCEIRO Uma análise sobre Basiléia e seus custos implicitos no Brasil SÃO PAULO 2014 IRIS SILVA DE OLIVEIRA IMPACTO DAS REGULAMENTAÇÕES NO SISTEMA FINANCEIRO Uma análise sobre Basiléia e seus custos implicitos no Brasil Dissertação apresentada à Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Economia Campo de conhecimento: Macroeconomia Financeira Orientador: Prof. Dr. Paulo Tenani SÃO PAULO 2014 Oliveira, Iris S.. IMPACTO DAS REGULAMENTAÇÕES NO SISTEMA FINANCEIRO Uma análise sobre Basiléia e seus custos implicitos no Brasil / Iris Silva de Oliveira. - 2014. 52 f. Orientador: Paulo Sérgio Tenani. Dissertação (MPFE) - Escola de Economia de São Paulo. 1. Basileia III (2010). 2. Ciclos econômicos. 3. Instituições financeiras – Brasil – Regulamentação. 4. Mercado financeiro – Brasil. I. Tenani, Paulo Sérgio. II. Dissertação (MPFE) - Escola de Economia de São Paulo. III. Título. CDU 336.76(81) IRIS SILVA DE OLIVEIRA IMPACTO DAS REGULAMENTAÇÕES NO SISTEMA FINANCEIRO Uma análise sobre Basiléia e seus custos implicitos no Brasil Dissertação apresentada à Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Economia Campo de conhecimento: Macroeconomia Financeira Data de aprovação: __/__/__ Banca Examinadora _______________________________ Prof. Dr. Paulo Tenani (Orientador) FGV-EESP _______________________________ Prof. Dr. Ricardo Rochman FGV-EESP _______________________________ Prof. Dr. John Welch CIBC – Macro Strategy Dedicado à minha mãe AGRADECIMENTOS Agradeço imensamente e primeiramente à minha mãe, quem de fato estimulou toda essa jornada acadêmica e de dedicação com cada simples cuidado. Sempre sendo um exemplo no que diz respeito à dedicação e à responsabilidade com relação às decisões. Ela sabe desde os primórdios todas as batalhas que enfrentei e enfrento e me dá forças e suporte para seguir e continuar acreditando em um propósito maior. Um agradecimento especial ao Eric Vargas cujas discussões e comentários sempre foram de alto valor, não somente na dissertação como em muitos outros desafios desde 2008, quando por acaso ou destino fui me dedicar profissionalmente em instituições bancárias. Também ao Wilson Lira Cardoso cujas revisões, discussões, dicas de aulas, cursos, livros e críticas me permitiram evoluir não somente no projeto de dissertação como na acuracidade com que preciso me desenvolver enquanto individuo. À minha irmã Adriana Oliveira, quem me alfabetizou e cujas revisões nos períodos iniciais foram de grande valor. Jessica Camargo, amiga de longa data, irmã de vida que desde o início da graduação acrescenta luz imensamente na minha vida e em discussões sobre metodologia e vida. À Aline Sobrinho e ao Paulo Caproni por me suportarem no dia a dia, levando café, remédio, alegria e todos os bons sentimentos, ainda que hoje longe geograficamente, sempre se fazem presentes, pelo seu apoio desde as infinitas listas ate como a compreensão em todas as boas noites que precisei sair para estudar. Aos amigos porteiros do prédio Post Towers (Sid, Mamadoud, Jose, Anur e Omar), onde moro hoje, que sempre falam que o dia está lindo e seria ótimo ir ao Central Park, mas até me dão café para suportar dias longos de leitura, porque digo que preciso estudar e até cumprir essa meta não estou apta a conhecer nada muito além do caminho casa-trabalho. À família Kokubo cujo suporte espiritual é sempre de luz, amor e paz. Feliz o dia em que pude começar a compartilhar a caminhada do viver com eles. Aos amigos do CEFET-SP, onde estudei no colégio, que até hoje se fazem presentes, bem como aos presentes amigos que estão em minha vida do IF-USP. A quem descobriu o poder da modafilina e seu potencial para estudantes com pouco tempo, muito trabalho e infinitos artigos para ler, conclusões e a cotidiana necessidade imensa de ser rápido e eficiente. Neste período do mestrado diversos foram os desafios e difícil seria citar nome a nome, mas agradeço a todos os que estão de fato presentes, compreendendo e dando apoio em todos os momentos de desafio. E finalmente ao meu orientador Prof. Paulo Tenani, à Prof. Laura Carvalho e ao Professor Ricardo Rochman. Ao Prof. Clemens Nunes pelos valiosos comentários. RESUMO Oliveira, I.S. As regulamentações impactam no sistema financeiro? Uma análise sobre as regras de Basileia implementadas no Brasil. 2014. Dissertação (Mestrado) – Escola de Economia, Fundação Getulio Vargas, 2014. A pesquisa visa entender o impacto das regulamentações no sistema financeiro considerando as teorias sobre ciclos econômicos e contextualizando para a implementação de Basileia 3 no mercado brasileiro em 2013. Para desenvolver foram analisados modelo teórico e teste via simulação no programa NETLOGO, considerando-se o numero de instituições financeiras no mercado brasileiro alterando as restrições e colhendo os resultados gráficos. A abordagem teórica para melhor entender os impactos das regulamentações foi feita através da análise da bibliografia disponível sobre Hipótese da Instabilidade Financeira. Em linha com a literatura abordada, há evidências do impacto negativo das regulamentações em sistemas que apresentam choques negativos de produtividade, ainda levando-se em consideração a capacidade das instituições financeiras, no que diz respeito a estrutura de seus balanços para suportarem tais eventos. Palavras chave: 1. Basileia III (2010). 2. Ciclos econômicos. 3. Instituições financeiras – Brasil – Regulamentação. 4. Mercado financeiro – Brasil ABSTRACT Oliveira, I.S. Do the regulations impact on financial system? An analysis of Basel Rules implemented in Brazil 2014. Thesis – School of Economics, Fundação Getulio Vargas, São Paulo, 2014. The research aims to understand the impact of regulations on the financial system, considering the theories of business cycles and contextualized for the implementation of Basel 3 in the Brazilian market in 2013. To develop this study was analyzed a theoretical model and a simulation in NetLogo program, considering the number of financial institutions in the Brazilian market by changing the restrictions and reaping the graphical results. The theoretical approach to better understand the impacts of regulations was made through the analysis of literature available on the Financial Instability Hypothesis. In line with the literature discussed, there is evidence of the negative impact of regulations on systems that have negative productivity shocks, even taking into account the ability of financial institutions, regarding the structure of their balance sheets to withstand such events. Keywords: 1. Basileia III (2010). 2. Business Cycles. 3. Financial Institutions – Brazil – Regulation. 4. Financial Market – Brazil LISTA DE FIGURAS Figura 1: Frequência de Crise (1997-2007)..................................................................... 6 Figura 2: Diagrama de Distribuição entre Dinheiro e Crédito nos Balanços ................. 8 Figura 3: Gráfico da Captação Líquida dos Fundos em 2012 ....................................... 11 Figura 4: Participação de Mercado conforme Tamanho das Instituições nos EUA ...... 12 Figura 5: Dinâmica do Capital (K) e do Patrimônio Líquido dos Bancos ..................... 19 Figura 6: Taxa de Atividade no Brasil nas Regiões Metropolitanas (2002-2014) ......... 20 Figura 7: Efeito de Choque Negativo de Produtividade sem Regulamentações ............ 20 Figura 8: Efeito de Aumento do Ambiente Regulatório com um Choque Negativo de Produtividade ................................................................................................................. 21 Figura 9: Parametrização do número de agentes (instituições regulamentadas no sistema) .......................................................................................................................... 25 Figura 10: Parametrização da taxa de mutação dos agentes, ou capacidade de adaptação a restrições impostas ao Sistema. ................................................................................... 26 Figura 11: Taxa de replicação e capacidade de reposição dos agentes no Sistema Fonte: NETLOGO ..................................................................................................................... 26 Figura 12: Parametrização com 10 agentes no ambiente e com 1000 agentes ............... 27 Figura 13: População sujeita a restrições com quantidade inicial de 10 agentes. .......... 27 Figura 14: População sujeita a restrições com quantidade inicial de 1000 agentes. ...... 27 Figura 15: População sujeita a restrições com quantidade inicial de 10000 agentes. .... 28 Figura 16: Distribuição dos agentes que apresentam maior capacidade de adaptação e menor adaptação (ofensivos e defensivos) e contagem de espécies ou de tipos de instituições...................................................................................................................... 29 Figura 17: População resposta a simulação com 100 agentes e 0% de mutação ........... 29 Figura 18: Especiação resposta a simulação com 100 agentes e 0% de mutação .......... 29 Figura 19: População resposta a simulação com 100 agentes e 1% de mutação. .......... 30 Figura 20: Especiação resposta a simulação com 100 agentes e 1% de mutação. ......... 30 Figura 21: População resposta a simulação com 100 agentes e 10% de mutação com redução da velocidade. ................................................................................................... 31 Figura 22: Especiação resposta a simulação com 100 agentes e 10% de mutação com redução da velocidade. ................................................................................................... 31 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Agenda de Implementação de Basileia 3 ......................................................... 9 Tabela 2: Classificação de Fundos Multimercado ou de Cobertura ............................. 10 Tabela 3: Retornos e Probabilidades de cada Projeto................................................... 15 Tabela 4: Reações a Choque de Produtividade e na Regulamentação .......................... 19 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 2 1 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 3 1.1 Minsky – Hipótese da Instabilidade Financeira ................................................ 5 1.1.1 Shadow Banks .............................................................................................. 7 1.1.2 Ambiente não Regulamentado ..................................................................... 9 2 MODELO TEORICO – MIYAKE E NAKAMURA................................................ 14 3.1 Características do Modelo ................................................................................ 14 3.2 Modelo – Aplicação ao Caso Brasileiro ........................................................... 18 3 5 SIMULACAO ........................................................................................................... 23 3.1 NetLogo........................................................................................................... 23 3.2 Modelo Echo – Biologia/Evolução ................................................................. 23 3.3 Especificação das Variáveis ............................................................................ 25 3.4 RESULTADOS ............................................................................................... 33 CONCLUSOES......................................................................................................... 35 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 37 INTRODUÇÃO “In theory, theory and practice are the same. In practice, they are not.” Albert Einstein Todo o ambiente de regulamentação, desde a mais recente crise do subprime, tem se tornado mais forte com a finalidade de prevenir possíveis eventos relacionados a crises financeiras e econômicas. A relação das regras aplicadas e as políticas macroeconômicas são abordadas por Aghion e Kharroubi (2013), cujo foco é a análise das políticas contra-cíclicas monetárias e fiscais vis-à-vis um ambiente com menos grau de liberdade, dadas as regras. Vale ressaltar o destaque dado à importância de uma maior governança, requisições mais atuais do BIS, para consolidação dos dados e estrutura das áreas a fim de reduzir esse risco de assimetria de informações entre as IF (instituições financeiras) e reguladores. Nesta realidade imposta ao sistema financeiro, com custos para implementação de novas práticas para se adequar às regras, é crescente o número de instituições no conjunto denominado como não regulamentado. A materialidade deste grupo em termos de montante de capital e em qualidade de informação ainda é um fator que restringe os estudos de seu impacto no sistema financeiro. McCulley (2009), em seus estudos sobre Minsky, assim como Mehrling (2014) citam a crescente importância de shadow banking em processos de crises e na migração de capitais para ambientes menos regulamentados e que, em sua grande maioria, concentram mais riscos. Considerando o sistema financeiro atual, em constante aprimoramento das regras que visam proporcionar um mercado cada vez mais seguro e com mecanismos para suportar crises, alguns fatos são relevantes: cenários de estresse baseados em crises passadas tornam o ambiente mais controlável, no entanto as crises não são eventos previsíveis; o fluxo de capital para meios não regulamentados é crescente, o que dificulta os órgãos responsáveis em mensurar possíveis novos eventos gatilho de crises financeiras, como as recentes. Buscando validar essas afirmações, o objetivo deste trabalho será analisar o impacto das regulamentações no sistema financeiro, com as mais recentes regras de Basileia, de modo a testar a hipótese de que este ambiente influencia no sistema financeiro e na economia, positivamente ou negativamente conforme os fundamentos. Portanto, esta é uma análise dos impactos das regras no o sistema financeiro. Dessa forma, estruturaremos o trabalho em quatro partes: um capitulo de revisão da literatura, destacando a teoria econômica que abrange a Hipótese de Instabilidade Financeira de Minsky, breve descritivo das instituições não regulamentadas no item de shadow banks. Um item sobre a revisão de modelo teórico macroeconômico dinâmico, verificando sua aplicabilidade ao contexto brasileiro recente, com a implementação de Basileia 3. Um capitulo para a simulação com a metodologia e dados, onde serão destacados o mecanismo adotado, bem como a descrição dos dados e resultados obtidos. Um capitulo com as conclusões da analise sobre impactos da implementação de regras no sistema financeiro. 2 1 REVISÃO DA LITERATURA Os autores selecionados para a revisão literária tem como foco entender o impacto da implementação de novas regras no sistema financeiro, sendo que cada um com diferentes abordagens. A abordagem do ponto de vista das politicas macroeconômicas em consonância com demais medidas tomadas pelos Bancos Centrais e demais jurisdições permite entender sua real aplicabilidade para diferentes contextos. Gambacorta (2013) estuda os impactos da implementação de regras estabelecidas em mercados desenvolvidos e como o fato de o sistema financeiro estar sujeito a regras tem implicações na forma da sua organização. O sistema financeiro de acordo com o autor tende a se reorganizar como reflexo das maiores regras impostas. Na busca do entendimento dos diversos impactos de mais restrições via regras ao mercado, o BIS (Bank of International Settlements) continuamente publica estudos, dentre os quais seus relatórios trimestrais que apresentam um apanhado analítico das condições econômicas em diversas das jurisdições que adotam suas regras. Neste documento também consta seção dedicada aos mercados emergentes, que nos permite aqui ampliar o entendimento da implementação de Basileia 3 no Brasil. Uma análise específica sobre os mercados emergentes e sobre o Brasil também tem sido tema de estudo de alguns outros autores. No entanto, com foco nas medidas macroprudenciais aplicadas pelo Banco Central. No caso especifico dos mercados emergentes, um fator a ser melhor compreendido é a influencia do fluxo de capitais globais, sendo que na busca de melhores retornos, diversos investidores migram seus recursos para países com altas taxas de juros, porem com foco especulativo. Desta forma a atuação do Banco Central brasileiro tem bastante relevância na aplicação das regras globais de maiores controles do sistema financeiro, mas também na forma e na assertividade em que demais politicas e medidas são aplicadas para evitar danos a economia local. Na óptica da regulamentação do pós-crise de 2008 fez-se necessário entender qual o papel dos bancos centrais no processo de implementação de tais regras e no controle das atividades financeiras. Mohanty (2014) em artigo recente faz uma análise bastante ampla para diversas regiões e considera a relação entre medidas econômicas e financeiras no papel da estabilidade, sendo o documento por ele consolidado com enfoque nas recentes transformações do sistema financeiro no continente africano. Kim (2013), por sua vez, estuda o papel das regulações financeiras e das mais recentes inovações na crise financeira, com foco no entendimento das restrições causadas pelas regulamentações nas atividades dos bancos com um aumento da importância do papel dos reguladores em conter possíveis impactos maiores na crise. Os autores deste estudo fizeram uma analise empírica com 132 países, em que puderam concluir que as restrições impostas ao sistema cumprem seu papel em amenizar nos impactos negativos de crises bancarias, porém o aumento da requisição de capital poderia aumentar os riscos de crises cambiais. Aghion e Karroubi (2013) fizeram um análise da relação entre as políticas macroeconômicas contra-cíclicas adotadas em comparação as regulamentações no sistema financeiro e crescimento econômico. Foram utilizados dados de cross country para desenvolvimento do estudo, o que permite verificar a fluidez global de recursos. Os resultados obtidos indicam que as medidas contra-cíclicas fiscais e monetárias implicam em maiores restrições de credito e de liquidez às empresas, enquanto que o aumento das requisições de capital aos bancos podem impactar numa menor eficácia destas mesmas politicas, mesmo considerando que contribuem conjuntamente para uma maior estabilidade do sistema. 3 Myiake e Nakamura (2007) elaboraram um modelo teórico macroeconômico levando em consideração um modelo anterior de Holmstrom e Tirole (1997), cujo foco é entender o impacto das regulamentações na economia. Esta análise permite entender casos como o do Brasil, ainda que o artigo tenha sido desenvolvido para uma análise dinâmica da situação do Japão no início da década de 1990. A abordagem dos autores através de um modelo macroeconômico permite relacionar com diversas variáveis da economia real, ainda dentro de uma abordagem teórica influenciada pelas ideias de ciclos econômicos. Os autores referência para o estudo fazem análises estatísticas, metodológicas e teóricas sobre os impactos das regulamentações, sendo então objetivo entender o impacto de Basileia 3, num contexto em que são dadas as medidas macroeconômicas, e os impactos no sistema financeiro brasileiro. Demais efeitos do aumento de regras no sistema financeiro também são analisados sob a ótica da implementação de um ambiente capaz de prover dados com o nível de confiabilidade exigidos, a forma como os bancos reportam seus dados e os impactos de moral-hazard que podem haver são abordagens que conjuntamente com os demais estudos visa entender o conjunto de impactos. No entanto estas abordagens não fazem parte do foco do presente estudo, ainda que tenham sua relevância no entendimento amplo das respostas dos agentes do sistema a maiores restrições. Entender como as regras impactam no sistema com a utilização das métricas solicitadas permite interpretar melhor sua eficácia como mecanismo de controle. As possibilidades criadas com as regulamentações de gerar assimetria de informações entre os reguladores e as instituições, no contexto global de fluidez do capital, também corroboram para buscar entender os impactos dessas regras no sistema financeiro. Os autores supracitados foram utilizados com maior destaque pela consonância com a pergunta do estudo, que diz respeito aos impactos da implementação no Brasil de Basiléia 3. Ainda dentro de um contexto teórico, esta abordagem nos permite delimitar sob qual ótica é feita a análise para responder ao questionamento central, considerandose então a teoria de ciclos econômicos e a hipótese de instabilidade financeira. Ao restringir o escopo, busca-se também entender qual poderia ser a importância de fatores trazidos pela própria teoria, mas que não estão presentes no modelo e na simulação adotados, tais como shadow banks e o ambiente não regulamentado. 4 1.1 Minsky – Hipótese da Instabilidade Financeira Os ciclos econômicos são definidos pelo fato de crises serem explicadas por choques reais na economia, tais como choque de produtividade e de preferência de alocação trabalho-lazer. São medidos através do PIB caracterizando períodos de contração e expansão da economia. A ideia de ciclos econômicos se opôs às teorias de que a economia tende ao equilíbrio. De acordo com a teoria Keynesiana, as políticas monetárias e fiscais teriam como objetivo amenizar as flutuações nestes ciclos. A discussão teórica, com relação aos ciclos serem influenciados por fatores endógenos ou exógenos, é bastante ampla, sendo que uma das abordagens é a Hipótese da Instabilidade Financeira, de Minsky. Considerando os indicadores atuais e o tipo de medidas tomadas por parte dos bancos centrais, faz-se necessário traçar uma linha econômica com a qual se pretende ter foco para as análises com relação aos impactos das regulamentações no sistema financeiro. Entender o papel dos bancos centrais e das instituições financeiras regulamentadas sob a óptica das teorias macroeconômicas, sem que esta, por sua vez, seja o foco da discussão. No recente contexto econômico, especialmente pós-crise, teóricos como Hyman Minsky ganharam maior destaque, ainda que ele próprio inicialmente tenha interpretado seus trabalhos como uma leitura da visão Keynesiana, então dominante no mercado. Nesta abordagem as crises bancárias são entendidas como fenômenos cíclicos, de forma que períodos de crescimento fazem com que as empresas tenham expectativas muito otimistas sobre o retorno dos seus projetos. Como assumem alto nível de alavancagem, se a lucratividade não se realiza, há inadimplência que pode implicar numa crise do sistema bancário. Calderon (2014) em seu estudo sobre ciclos econômicos faz uma análise a respeito de como estes ciclos têm se alterado ao longo do tempo, destacando também a característica de frequência do tipo de deflagrador das mais recentes crises e dos seus impactos nas economias desenvolvidas e emergentes. 5 Figura 1: Frequência de Crise (1997-2007) Fonte: Calderon (2014) Como desta forma é definida a importância do sistema bancário na economia e, também compreendido como possível fator para crises sistêmicas, o papel dos reguladores passou a ser mais relevante, conforme Paul McCulley (2009) em seus estudos sobre Minsky ao citar a relação dos reguladores nestes eventos cíclicos. Minsky (1992), em seu famoso artigo sobre a Hipótese da Instabilidade Financeira, argumenta que existem fatores empíricos e teóricos que implicam na ciclicidade do sistema financeiro. As economias capitalistas possuem períodos de maior ou menor inflação que podem sair do controle, sendo que as reações a esses eventos podem ampliar os impactos, o que torna importante as intervenções do governo para conter a deterioração, como verificado em diversos momentos históricos. As intervenções mostram que não necessariamente o mercado funciona conforme a percepção clássica de Smith, segundo a qual a economia estaria sempre buscando atingir o equilíbrio. As mais recentes teorias econômicas adicionam ao seu escopo novos mecanismos decorrentes da evolução do próprio sistema financeiro. Um item bastante citado é a relação das trocas monetárias de valor presente por valor futuro, ou seja, com relação à expectativa dos lucros referentes aos investimentos nos projetos atuais, reflexo do ganho das firmas1. O aumento da complexidade das estruturas financeiras, em que as análises de retorno não se restringem à verificação das estruturas dos passivos e dos fluxos de caixa dos agentes, também é percebido por um grande envolvimento dos governos como refinanciadores das instituições financeiras e acesso crescente de crédito a diversas camadas da população, bem como aumento de diferentes estruturas como intermediários financeiros. A classificação dos agentes econômicos como hedge, especulativo e Ponzi leva em consideração a forma como cada grupo consegue equilibrar seus ativos e passivos no balanço: 1 O ganho das firmas e o reflexo nas expectativas levam em consideração a utilização dos recursos para investimentos que resultem em aumento de produtividade. 6 - Hedge: cumprem as obrigações de pagamento utilizando-se do próprio fluxo de caixa. - Especulativo: cumprem as obrigações do pagamento dos juros, refinanciando o principal. - Ponzi: o fluxo de caixa não é suficiente para pagar nem os juros nem o principal, sendo recurso vender os ativos ou tomar empréstimos. A forma como os agentes se distribuem no sistema é fator determinante para sua organização, sendo que, de acordo com a hipótese de Minsky, podem ser segregados em dois teoremas. O primeiro em que a economia tem regimes sob financiamento estável e sob financiamento instável e o segundo teorema de que após períodos de prosperidade a economia transite de relações de financiamentos estáveis para financiamentos instáveis. Ressalta-se que esta hipótese é um modelo que não depende de choques exógenos para gerar estes ciclos. Os pilares essenciais são de que os ciclos dependem da dinâmica interna das economias e das intervenções e regulamentações para se manter dentro de limites razoáveis. 1.1.1 Shadow Banks O termo shadow banking system é atribuído a um documento do FED de 2007 e pode ser entendido como o conjunto de instituições que se financiam com recursos sem seguro no curto prazo, podendo ou não ser suportados por linhas de liquidez dos bancos regulamentados. Hannoon (2008) cita que os bancos de investimentos e os bancos comerciais podem conduzir seus recursos pela forma como lidam com o sistema não regulamentado. Fein (2013), por sua vez, coloca as instituições regulamentadas como as maiores instituições não regulamentadas. Ainda que aparentemente paradoxal, esta ultima definição leva em consideração a maneira como os ativos fluem de um conjunto para o outro como recurso para equilibrar os balanços das instituições regulamentadas com o objetivo de cumprir as requisições para alocação de capital. McCulley (2009), para descrever as diferenças entre os dois grupos – regulamentado e não regulamentado – e explicar o aumento do último, utiliza-se da teoria keynesiana2, cujo argumento base é a necessidade de manter as instituições financeiras operantes, ainda que nas economias capitalistas sejam, em grande parte, bancos privados. De certa forma, o fato de as instituições não serem públicas, de acordo com o autor, possibilita a chance do aumento de bancos privados, em especial os não regulamentados. Minsky (1992) na sua interpretação sobre a Teoria Geral de Keynes, ao classificar os agentes conforme suas possibilidades de financiamento e sua capacidade de impactar na estabilidade e instabilidade da economia, permitiu entender que após períodos prolongados de estabilidade a economia tende a aumentar o número de agentes especulativos e Ponzi. Os agentes tendem a fluir de um grupo para outro conforme os fundamentos macroeconômicos, sendo que num ambiente de alta inflação, por exemplo, em que os 2 Um dos pilares da teoria Keynesiana é o fato de o Estado ser agente indispensável de controle da economia. De acordo com a argumentação de McCauley, a visão Keynesiana do sistema financeiro, em que o Estado tem a possibilidade de intervir para buscar o equilíbrio, implicaria então em um maior controle, dificultando o surgimento de instituições que podem aumentar o desequilíbrio do sistema. 7 reguladores aplicam medidas monetárias para conter esse avanço, as unidades especuladoras tornam-se Ponzi e as antigas unidades Ponzi tendem a desaparecer. A Hipótese da Instabilidade Financeira é condizente com o fato de as instituições num sistema capitalista buscarem sempre otimizar seus ganhos, o que pode fazer com que para cumprir este objetivo tomem mais riscos, aumentando a instabilidade. Períodos de crescimento fazem com que as empresas tenham expectativas otimistas sobre o retorno dos seus projetos, assumindo altos níveis de alavancagem. Se esta lucratividade não se realiza, há a inadimplência, que pode decorrer em uma crise do sistema. Ao considerar os ciclos de mudanças da predominância dos agentes, na classificação de Minsky, instituições não regulamentadas tendem a aumentar num contexto em que haja maior apetite por risco. Com a crise do subprime, a abordagem teórica de Minsky e a atenção para o shadow banking estiveram em maior evidência, pela sua possibilidade de explicar, por meio de seu modelo teórico, crises bancárias como um fenômeno cíclico. A forma como as diferentes instituições têm seus balanços organizados com finalidade de liquidez difere claramente, sendo os shadow banks caracterizados por ativos e passivos que lidam com a expectativa de retornos futuros ou, ainda na classificação de Mehrling, com crédito e não com dinheiro, definição esta simplicada da forma mostrada abaixo. Figura 2: Diagrama de Distribuição entre Dinheiro e Crédito nos Balanços Fonte: Adaptado de notas de aula Economics of Money and Bank – Perry G.Mehrling, Barnard College – Columbia University Nesta descrição, o que se pode entender é que os shadow banks teriam então uma maior diversificação de seus balanços conforme a possibilidade de reter ativos e passivos que lidam com crédito ou com a expectativa de recebimento futuro, mecanismos mais facilmente encontrados nas economias desenvolvidas por terem mais demanda para uma gama de produtos de proteção com relação a perdas, sujeitos a classificações de crédito, bem como as falhas desses processos, que são identificados como um aumento do risco do sistema. 8 1.1.2 Ambiente não Regulamentado As regras propostas por Basileia e por demais reguladores locais abrangem os conglomerados bancários, ou seja, tudo o que não está nesse conjunto está fora das requisições de alocação de capital, governança e de controles para reportar seus dados referentes a risco, resultado e consequentemente de retorno. O conglomerado financeiro, no entanto, hoje abrange mais do que os bancos em suas diversas classificações3·. Aqui citaremos os hedge funds e cooperativas de crédito. Os fundos de investimento, embora muitas vezes ligados a recursos provenientes das instituições bancárias, não estão cobertos pelas mesmas regulamentações. Já as cooperativas de crédito possuem em seu cerne diferente concepção, define-se por uma associação com objetivos comuns a todos os participantes sem fins lucrativos. Ainda considerando somente o ambiente regulamentado (em algum nível) 4, a fluidez dos recursos no período pós-crise para os mercados emergentes Ghosh (2011) pode ser constatada, oque indica que um nível de regulamentação menor não foi fator impeditório para os investidores migrarem seus recursos. As regiões com menor nível de requisição de capital e de controles, em sua grande maioria, estão relacionadas ao fato de possuírem sistemas financeiros com menor grau de desenvolvimento, em termos de produtos e de mecanismos capazes de efetuar toda a cadeia das operações financeiras5. Abaixo, a sequência cronológica de implementação das requisições de capital e regulamentação de Basileia 3. Tabela 1: Agenda de Implementação de Basileia 3 Fonte: http://www.bis.org/bcbs/implementation/l2.htm Pela agenda é possível destacar que os principais meios globais estão seguindo as mais recentes regras. No entanto, diversos são os países cujo nível de investimento e de fluidez de recursos encontram-se fora da agenda, tais como Índia e Rússia, por exemplo. Vale ressaltar que estes dois últimos encontram-se também classificados como mercados emergentes, ou seja, no pós-crise receberam uma onda de investimento, conforme Mcauley (2012), em documento do BIS. Na sequência descreveremos sistemas não cobertos pelas regras globais, destacando seu crescente papel na economia e na própria concepção das trocas 3 Bancos comerciais, bancos de investimento, banco de desenvolvimento, banco misto (bancos de credito e de poupança). 4 Conforme agenda de implementação do BIS, países da Ásia estão sob Basileia 1. 5 Sistemas de liquidação das operações financeiras hoje também são pauta dos regulamentadores, pois implica na capacidade de fluidez global dos recursos e investimentos. 9 financeiras, da importância dos bancos na economia e da fluidez dos capitais para meios não regulamentados ou menos regulamentados. Hedge Funds Alfred W. Jones foi a primeira pessoa reconhecida como autora do termo hedge fund, assim como de primeiro criar esta estrutura em 1949 Ubide (2006) Este termo é usado para descrever investimentos de alto risco com a mudança das variáveis de mercado. Em linhas gerais, os fundos de investimento são instituições que permitem aos investidores possuírem cotas de cada tipo de investimento, este por sua vez, caracterizada o tipo de fundo. Os fundos multimercado, ou de cobertura (hedge funds), são reconhecidos como de alto risco, com poucas restrições e altamente especulativos Robert (2003). A combinação de investimentos de curto e de longo prazo na carteira também é característica relevante. No Brasil, os fundos, conforme classificação da Anbima, são os seguintes: Tabela 2: Classificação de Fundos Multimercado ou de Cobertura Fonte: Anbima A regulamentação, não somente dos fundos multimercado, mas de todos os disponíveis no mercado, é tema amplo de pesquisa e discussão em diversos setores, isto porque o impacto econômico6 foi bastante relevante nas últimas crises, também estas instituições, com o passar do tempo, ganharam cada vez mais relevância, dados seus altos níveis de rentabilidade. Gupta (2005) em seu artigo busca entender se estes fundos possuem capital suficiente a partir de uma visão de risco. A adequação de capital e mensuração dos dados seja de retorno e risco são feitas de acordo com as regras dos próprios fundos, o que dificulta análises mais profundas. Em documento consultivo de outubro de 2013, o BIS coloca em pauta a possibilidade de requisição maior de dados e de requisição de capital para investimentos em fundos por parte dos bancos. Percebe-se que a discussão com relação a novos possíveis controles é recente e sem conclusões aparentes. No entanto, o fato inegável é o alto impacto destes capitais distribuídos pelos fundos: em 2012 somente os fundos multimercado captaram 6 Com Basiléia 3 os bancos passaram a reportar suas exposições também nos fundos, o que possibilitou aumentar o conhecimento sobre a composição dos capitais desses fundos e de certa forma gerenciar suas possíveis perdas. 10 R$20,61bilhões, conforme gráfico abaixo. O total do patrimônio líquido dos fundos foi de R$2,3 trilhões. Figura 3: Gráfico da Captação Líquida dos Fundos em 2012 Fonte: Anbima A indústria de fundos como um todo, com baixa regulamentação e crescente participação no total de ativos no mercado, neste contexto de mapeamento dos riscos das instituições, apresenta inclusive dificuldades com relação às métricas utilizadas e na marcação de seus ativos. Nos EUA, desde 2005, os fundos passaram a ter um maior nível de requisições das informações, em especial considerando-se o alto índice de fraudes que ocorreu anteriormente7. Os esforços para melhor a qualidade dos dados, de apreçamento e de regulamentação são parte de discussão da agenda de diversos bancos centrais e, conforme já citado, também do BIS. Sob a óptica da redução de riscos e de um ambiente que possibilite menos quebras sistemáticas, faz-se importante verificar as possibilidades dentro de um meio cujo capital movimentado em todo o mundo é bastante relevante, não somente dos bancos, mas diretamente de diversos investidores, que em busca de melhores rentabilidades não têm ciência plena dos possíveis riscos. Não é foco do trabalho identificar claramente uma migração do capital dos bancos para meios não regulamentados, a exemplo dos hedge funds, porém esta é uma análise bastante rica e que engloba o caráter benéfico das regulamentações. Credit Unions As cooperativas de crédito datam do século XVIII na Alemanha, conforme Moody (1984), com características bastante semelhantes às atuais, ou seja, sem 7 http://www.sec.gov/rules/final/ia-2333.htm#IA. 11 finalidade lucrativa, composta por associados e com uma gama de produtos simplificado, dentre os quais empréstimos. A participação em mercados desenvolvidos, comparativamente com os grandes bancos, é bastante reduzida. No entanto, verifica-se um aumento consistente, conforme gráfico abaixo, no caso dos Estados Unidos. Figura 4: Participação de Mercado conforme Tamanho das Instituições nos EUA Fonte: Anbima O aumento mais consistente foi na década de 1990, conforme estudo de Goddard (2001), cujas características de portfólio proporcionavam uma nova perspectiva aos pequenos investidores. Weelock (2012) também cita o aumento das cooperativas de crédito nos EUA já com foco na eficiência e no custo de produtividade. As análises sobre as cooperativas ao redor do mundo fica bastante difícil em função da própria falta de regulamentação clara e dos requisitos de qualidade dos dados. A conclusão dos autores demonstra uma convergência com a própria ideia da necessidade de controles para um ambiente capaz de oferecer mais vantagens, o que ainda deixa as instituições bancárias em vantagem com relação às outras tentativas de sistemas de trocas financeiras. Num contexto de requisições de capital e de um ambiente com governança e políticas claras, as cooperativas de crédit0,o em boa parte dos países, estão fora dessa esfera, sendo tema de estudo. Forker (2012) que faz uma análise da autorregulação das cooperativas, com foco nas cooperativas do norte da Irlanda. Para corroborar com argumentação teórica foram escolhidos dois tipos de abordagem, sendo a abordagem teórica feita através de modelo macroeconômico dinâmico Miyake (2005), um modelo de simulação ecológica Echo – NetLogo. A abordagem teórica visa enfatizar o impacto das regulamentações considerando-se determinado ambiente econômico, os autores Miyake e Nakamura tiveram embasamento no modelo de Holmstrom e Tirole (1997) O enfoque foram os impactos das regras de Basileia adotadas no Japão, num período de baixo crescimento. Esta abordagem leva em consideração a importância das instituições financeiras como 12 agentes participantes da economia e capazes de a impactarem, dependendo das suas disponibilidades em manter níveis de empréstimos e investimentos. Com a utilização da ferramenta NetLogo foi levado em consideração um modelo ecológico, que visa entender através de simulação o impacto de restrições num ambiente, tendo em vista sua possibilidade de combinação de elementos, comparável então com as fusões dos elementos no sistema financeiro, maiores ou menores restrições comparáveis à disponibilidade ou não de capital nas instituições e no ambiente. 13 2 MODELO TEORICO – MIYAKE E NAKAMURA A modelagem teórica adotada é baseada no artigo desenvolvido por Miyake (2007), em que é possível relacionar o impacto das regulamentações vis-à-vis a estrutura macroeconômica. O estudo conta com o embasamento do modelo de Holmstrom e Tirole (1997), que analisa a maximização dos lucros das instituições financeiras neste ambiente de regulamentações. Conforme os bancos precisam se adequar às requisições de capital são analisadas no curto e no longo prazo os impactos macroeconômicos. Um aumento de requisição implica numa corrida por acumulação de capital, o que pode levar a economia a um processo recessivo no curto prazo. Entender a aplicação das regras dado o cenário econômico possui impacto em quê, já que em momentos de produtividade negativa a implementação de mais regras pode agravar a situação como um choque negativo. Holmstrom e Tirole (1997) apresentaram um modelo em que mostravam que o patrimônio líquido dos bancos tem impacto na economia real e nominal. Uma maior restrição de capital aos bancos, tais como requisições de capital e colateral, impacta numa redução dos investimentos. No entanto, o modelo por eles apresentado responde a choques de taxas de juros, que não são completamente absorvidos pelas instituições, considerado também um modelo estático no que diz respeito às considerações do dinamismo dos balanços das instituições. A partir deste trabalho, Miyake e Nakamura desenvolveram um modelo dinâmico, com o objetivo de analisar os impactos das regras de BIS no Japão pósdécada de 1990. A literatura de modelos que analisam o impacto nos balanços dos bancos, dadas as regulamentações e sua relação com os impactos na economia. Com foco no papel dos bancos como instituições que permitem maximizar os recursos dos intermediadores financeiros, considerando o impacto no patrimônio das próprias instituições, e tendo seus depósitos como recursos para empréstimos. Uma análise importante com relação aos depósitos e empréstimos feita pelos autores diz respeito ao papel do diferencial entre esses ativos e passivos em maximizar os lucros das instituições considerando o nível de taxa de juros tanto para os depósitos como para os empréstimos. 3.1 Características do Modelo Os autores consideram uma sobreposição de gerações, dois tipos de agentes na economia: empresas e famílias. A economia também apresenta produtores de bens de consumo e bancos, sendo a função de produção de bens de consumo: 1 Onde At é o parâmetro de tecnologia agregada, Kt é o estoque de capital e Lt força de trabalho no tempo t. A geração mais nova gera um acréscimo de mão de obra para geração anterior, que supre o estoque de capital. Considerando-se uma depreciação no período, os bens de produção podem ser consumidos ou utilizados como entrada para um projeto. Num equilíbrio competitivo, com salários wg e empréstimos como qt 14 2 3 Sendo os salários função da produtividade de cada elemento da força de trabalho. Com o excedente wwt para cada indivíduo consumidor, este montante pode ser utilizado em investimentos em projetos It, a restrição é que estes recursos externos são limitados por no máximo It-wwt. Os consumidores podem escolher entre investir seus recursos excedentes diretamente nas empresas ou indiretamente, através dos bancos, ou seja, colocando em depósitos bancários. Tabela 3: Retornos e Probabilidades de cada Projeto Fonte: Adaptado de Miyake (2007) Os tipos de projetos a serem investidos são caracterizados como de alto e baixo risco, sendo que para investimentos diretos os consumidores preferem os investimentos de baixo risco e os de alto risco concentram-se nas instituições bancárias pela capacidade das instituições de analisar as possíveis chances de default. A premissa da forma como os consumidores realizam seus investimentos e caracterizam seu consumo também tem peso, pois dependem das características de cada país, os autores definem que cada agente esta interessado no consumo da geração anterior, quando jovens8, utilizando seus recursos para investimentos e empréstimos, a forma como investem os caracteriza como empresas ou consumidores O estudo da otimização feito para cada um dos agentes até então considerados 4 o que implica em 5 Sendo a expectativa do operador, o consumo relativo aos consumidores, os empréstimos e os depósitos. Maximizando a função para as empresas, tem-se 8 Os autores consideram o artigo de Kiotaki e Moore (1997), que definem que os agentes são ativos participantes por dois períodos de tempo. 15 6 o que implica em 7 Onde é o consumo das empresas e suas obrigações no que diz respeito à custos, ou seja, é um valor negativo. Considerando os financiamentos diretos tem-se ̅ como o nível mínimo que os tomadores de empréstimos podem ter, tendo seu patrimônio, através do financiamento direto. ̅ [ ̅ 8 ] Os financiamentos indiretos são feitos através dos bancos, que têm a capacidade de monitorar os tomadores de empréstimos, cobrando para tal uma taxa por unidade de bem de consumo final. Assumindo como a taxa de empréstimo repassada, tal que consiga suprir os custos de atendimento e realização das operações, seguindo então a restrição: [ ( ) ] 9 Os consumidores, conforme sua produtividade, têm seus salários com mais ou menos excedentes, o que implica em disponibilizar esses recursos para investimentos ou não, ou seja, disponibilizar para depósitos nos bancos ou para investimento direto. No caso dos investimentos indiretos, é importante entender o papel dos bancos. Considerando-os com um patrimônio líquido , tendo como premissas que o setor bancário tem uma competição monopolística e que as instituições têm algum poder para controlar as taxas de empréstimos e as taxas de depósitos. Com o objetivo de simplificar a análise, os autores definem que os bancos não têm poder sobre as taxas de depósitos9, pois isto implicaria numa possível arbitragem entre investimento direto e depósitos nos bancos, ou seja, taxa de depósito é igual ao investimento direto. Adicionalmente é considerada uma requisição de capital por parte dos reguladores η, o que faz com que os bancos organizem seus balanços de forma a ter um maior patrimônio líquido, esta requisição no modelo também é comparável a exigências como o compulsório no Brasil. Considerando que os bancos tenham a disponibilidade de emprestar do seu próprio capital ηt para as empresas. Então, a função de otimização dos bancos é dada por 9 A taxa dos depósitos não ser controlada pelos bancos plenamente é condizente com o cenário brasileiro, em que os maiores depósitos em bancos (poupanças) têm remuneração determinada pelo Banco Central. 16 ∏ ( [ ̅̅̅̅ ∫ ) ̂ ̂ ∫ [ ̅ ( ) 1 0 ] ] ̅ o que implica que 11 ∫ ⁄ ⁄( onde ̂ [ )], tomando o limite do retorno e da probabilidade de retorno. Este é um limiar onde o tomador de empréstimo pode pagar suas obrigações sem dar default, ou perda total por decorrência de um projeto não bem-sucedido. As instituições têm a possibilidade de alocar seus recursos todos em empréstimos e esta é uma situação limítrofe. Os retornos dos bancos podem ser então caracterizados em função do capital alocado e do capital disponível, tendo como seu lucro máximo, sua equação diferencial pode ser descrita como: 12 onde c(>0) é definido como custo de manutenção do balanço da instituição. Com as equações para os agentes definidas, Miyake e Nakamura fazem a análise entre oferta e demanda no equilíbrio, considerando o mercado de crédito. A esquerda tem-se a demanda e a direita a oferta de recursos financeiros para financiar os agentes. ⁄ ∫ 13 ∫ ∫ ⁄ Através da condição de primeira ordem dos bancos, que são o terceiro fator de demanda da economia Nt, obtêm-se as taxas de empréstimo e de depósito e ̅ . Considera-se ainda que o próximo período de estoque de capital é igual ao número de empresas multiplicado pela expectativa de retorno dos projetos, também que a mão de obra é constante ao longo do tempo. Dadas a oferta e a demanda, mão de obra e os recursos reescreveu-se a equação de salário e custo de capital da seguinte forma: 17 14 [ 15 ] de onde vem que [ ( ( com as restrições ) ]) e 16 ∫ As equações e , juntamente com as condições iniciais e permitem analisar a transição e os estados estacionários, que são foco do trabalho dos autores. Miyake (2007) faz a análise em diversas transições, mas, dada a finalidade deste trabalho, iremos apresentar somente as análises num mercado não regulamentado e num mercado com características semelhantes às do Brasil. 3.2 Modelo – Aplicação ao Caso Brasileiro No estado estacionário tem-se as seguintes condições que a variação do é zero bem como do patrimônio em função do capital, o que implica que ( [ ]) 17 18 O estudo parte da consideração na intersecção de e . Os autores citam que este modelo é válido tendo em mente um modelo neoclássico, ou seja, verificando a oferta e demanda dos mercados para entender os impactos em preço, produção e distribuição de renda. A economia apresenta dois equilíbrios, um dinâmico e um estável, sendo que inicialmente verificar o que ocorre no equilíbrio estático permite entender a relação com o estoque de capital e a participação das instituições financeiras neste equilíbrio, conforme o gráfico abaixo tem-se e , sendo o equilíbrio de estoque de capital sem intermediação financeira. Considerando a maximização do patrimônio liquido, então aumenta, o que faz também com que as instituições aumentem sua capacidade de emprestar recursos, as firmas passem a ter um maior capital , o que também aumenta seus lucros. De acordo com o modelo, se o lucro dos bancos aumenta, em tese o lucro das empresas também aumenta, pois existe aumento de recursos disponíveis para investimentos. A seguir, o gráfico apresenta os pontos citados de equilíbrio: 18 Figura 5: Dinâmica do Capital (K) e do Patrimônio Líquido dos Bancos Fonte: Miyake (2007) Onde e são referentes respectivamente às requisições de capital em vigor e não requisição de capital pelos reguladores. A tabela abaixo representa os impactos dados choques em produtividade, considerando um ambiente com e sem regulamentação bancaria. Tabela 4: Reações a Choque de Produtividade e na Regulamentação Fonte: Adaptado de Miyake (2007) No caso brasileiro, considerando os mais recentes dados de taxa de atividade, é possível verificar uma redução, o que poderia ser interpretado neste modelo como um choque negativo. Esta análise, assim como o modelo, não leva em consideração investimentos especulativos, cujo objetivo não está ligado ao aumento da produtividade ou de investimentos no qual o foco não esteja relacionado com a atividade. A flecha indicativa no gráfico a seguir também destaca um período de implementação de maiores regras no sistema financeiro: 19 Figura 6: Taxa de Atividade no Brasil nas Regiões Metropolitanas (2002-2014) Fonte: Adaptado de IPEA Data Ainda vale destacar que, mesmo considerando-se a redução desde 2012 na taxa de atividade, este nível é maior do que em 2002. Identificando, desta forma, como um choque negativo e num ambiente com maior regulamentação, dentro das considerações do modelo de Miyake e Nakamura, tem-se o seguinte comportamento. O efeito de um choque negativo de produtividade sem regulação do sistema bancário, ou regulamentação para requisição de alocação de capital, tem o seguinte comportamento neste modelo: Figura 7: Efeito de Choque Negativo de Produtividade sem Regulamentações Fonte: Miyake (2007) Num cenário em que não há exigência de capital às instituições, um choque negativo de produtividade implica em uma redução das taxas de depósito e de empréstimo, sendo que a queda das taxas dos empréstimos é maior do que as taxas dos 20 depósitos. Este comportamento implica numa redução dos lucros dos bancos e do seu patrimônio liquido. Num choque negativo, a economia desacelera até o ponto , já que as instituições podem ter uma maior concentração de empréstimos de clientes que não possuam capacidade de honrar com suas dívidas, o que faz com o a economia atinja um novo estado estacionário mais à esquerda e abaixo do ponto anterior. Já num ambiente em que há o choque negativo e um aumento das regras para requisição de capital, o efeito sob os bancos pode ser minimizado, caso estes tenham um patrimônio líquido elevado, o que reduz os efeitos sob a economia real somente em decorrência desta restrição. No entanto, existe a possibilidade de que com o aumento da regulamentação os bancos façam com que se atinja um novo estado estacionário, já que as instituições reduziriam progressivamente seus empréstimos, para satisfazer as requisições. O impacto nas taxas de depósitos é de redução, na contramão das taxas de empréstimos. Esses ganhos provenientes dos recursos referentes a mudanças nas taxas de empréstimos e depósitos10 fazem com que se atinja um novo estado estacionário . A conclusão é de que estes choques impactam no curto prazo numa redução da produtividade, no entanto um crescimento no longo prazo, conforme o gráfico abaixo. Figura 8: Efeito de Aumento do Ambiente Regulatório com um Choque Negativo de Produtividade Fonte: Miyake (2007) O caso brasileiro aproxima-se do caso japonês no início da década de 1990 no que diz respeito à diminuição da produtividade concomitantemente com um aumento progressivo de requisições e regulamentações, do modelo entende-se que os impactos dos dois choques simultâneos tendem a ser severos na economia real. Com a implementação de Basiléia 3 em 2013 num contexto de redução continua dos indicadores de produção, o modelo teórico adotado apresenta aderência para responder a pergunta com relação aos impactos da regulamentação no sistema 10 O impacto sob as taxas dos bancos também está atrelado a mudanças nas taxas de juros aplicadas, neste caso no Brasil. 21 financeiro. Indicando que há uma reorganização, atingindo um novo estado estacionário no curto prazo, bem como um impacto na economia. Paralelamente, no que diz respeito às instituições, o que se percebe é um aumento do patrimônio líquido, ainda que com reduções progressivas das ofertas de empréstimos. O fato de os bancos públicos serem mecanismos para transmitir taxas competitivas de depósitos e de empréstimos faz com que as demais instituições, em busca de competividade, tenham um papel importante no equilíbrio econômico. Ainda conforme o modelo apresentado, é possível retomar os parâmetros que permitiram chegar ate a relação entre capital e patrimônio das instituições e verificar os impactos nas demais variáveis do modelo e sua aderência com a realidade brasileira depois da implementação de Basiléia 3. Pela figura 8 ainda pode-se verificar que o novo estacionário indica um maior nível do patrimônio liquido das instituições, relacionando este gráfico com a equação 15, em que é descrita a forma como o fator de tecnologia e mão de obra são adotados nesse modelo, temos algumas possíveis interpretações condizentes com o mercado brasileiro. Com relação a mão de obra no Brasil11, ainda que com diminuição de investimentos em tecnologia, houve aumento considerável. Parcela da diminuição da taxa de desemprego se deve ao aumento da formalização da mão de obra, ponto também condizente com o modelo já que ainda que o fator de tecnologia se mantivesse nos mesmos níveis, o fator do trabalho influenciou num aumento do nível de capital disponível e na possibilidade das instituições financeiras terem também este como fator capaz de influenciar no aumento do patrimônio. Já verificando exclusivamente o aumento do nível de patrimônio liquido das instituições, mesmo com um aumento das regulamentações, diversos podem ser os fatores que permitem esse comportamento, dentre os quais os destacados pelos autores, a exemplo dos aumentos das taxas aplicadas, mas também vale verificar sua relação no caso brasileiro ao aumento do fluxo de capitais estrangeiros. Como citado anteriormente, os mercados emergentes no processo pós-crise de tiveram um aumento do fluxo de capitais estrangeiros, ainda que com regras do sistema financeiro levemente menos rigorosas. O Brasil neste cenário foi um dos mercados mais influenciados por esta onda, já que dentre os mercados emergentes apresenta um sistema de regras bastante desenvolvido, bem como níveis altos de taxas de juros para remunerar seus investidores. O Banco Central brasileiro agiu com diversas medidas para conter o fluxo puramente especulativo, tal como o IOF sobre as operações de câmbio, bem como diversas regras para o sistema bancário e financeiro locais, a fim de aumentar a capacidade do suportar eventos adversos da economia local e global. 11 http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2014/06/pnad-mostra-queda-na-taxa-de-desemprego-dopais 22 3 SIMULACAO Neste capitulo descreveremos a metodologia adotada para verificar os impactos da implementação de regras no sistema financeiro, as características do programa utilizado para as simulações, o modelo escolhido para desenvolver as analises, as definições adotadas para as variáveis e sua consistência. Por fim os resultados obtidos e sua aderência a pergunta apresentada no trabalho. 3.1 NetLogo NetLogo12 é uma ferramenta de simulação criada em 1999, baseada na linguagem de programação Logo, desenvolvida em 1967, com o objetivo de ser uma sintaxe didática, cujos comandos produzissem gráficos. Por ser uma linguagem aberta, é possível ter acesso via web ao seu compilar, com alguns modelos já em sua biblioteca. Estes modelos são desenvolvidos por diversos grupos de estudo e os códigos são abertos e colaborativos, permitindo ajustes aos modelos selecionados. Possuindo modelos em diversas áreas de conhecimento, tais como biologia, artes, designer, ciência da computação e química. Parte dos modelos desenvolvidos em biologia de populações é amplamente utilizada em outras grandes áreas de conhecimento. Neste trabalho, com a ajuda da ferramenta de simulação, foi selecionado um modelo de evolução ecológica para estudar possíveis caminhos dos fluxos de capital num ambiente mais rígido, ou mais regulamentado. 3.2 Modelo Echo – Biologia/Evolução O modelo selecionado entender a evolução de um meio, dadas algumas características adaptáveis. É baseado no livro de John Holland (Hidden Order), de 1995. É utilizado para facilitar uma série de experiências de uma variedade de domínios em que a aptidão do agente varia conforme o contexto. Haldane e May (2011) em seu artigo argumentam sob as perspectivas que analisar o sistema financeiro sob a ótica de sistemas ecológicos e de redes de doenças infecciosas podem proporcionar aos estudos em economia. Neste documento são citados a forma como os novos instrumentos financeiros e o contagio negativo no sistema financeiro sob a ótica da biologia, mais precisamente de um modelo ecológico e em como entende-los poderia permitir visionar medidas para amenizar riscos de crises sistêmicas. A utilização de modelos ecológicos na economia é de ampla utilização, no entanto com o objetivo de entender como as características num sistema ecológico reagem a alterações no meio. O enfoque mostra-se então diferente da abordagem aqui adotada, por se utilizar de um modelo ecológico como forma de caracterizar a organização deste meio dadas alterações por fatores externos. Tal que o sistema foco é o sistema financeiro e as alterações são provenientes de medidas externas, que neste caso dizem respeito aos reguladores. 12 http://ccl.northwestern.edu/netlogo/index.shtml. 23 Ao se caracterizar o sistema financeiro com comportamento de um sistema ecológico são destacadas alguns fatores relevantes, como a forma como os agentes se redistribuem, com maiores ou menores restrições. Os sistemas ecológicos buscam analisar o impacto em populações com restrições no ambiente e mudança na teiaalimentar. Alguns outros fatores sociais via simulação são mais dificilmente identificáveis, tais como a forma como os agentes tendem a se unir, ou de preservação de espécie, que neste estudo diz respeito a forma como as instituições vão se reorganizar em fusões ou compras de outras instituições conforme seus objetivos. Os objetivos dos agentes são dificilmente capturados por esta simulação ecológica, já que também exigiriam um outro conjunto de variáveis ecológicas não presentes no modelo de Holland. Em sistemas ecológicos podemos dividir conforme a atividade - Baixa: analise somente dos organismos, ou de cada um dos agentes - Media: analise de um tipo de população - Alta: analise de populações com reservas Na segregação acima temos que o modelo de Holland enquadra-se em de alta atividade, isto porque estamos aqui com o objetivo de entender o comportamento dos agentes conforme as restrições das reservas, ou de capital, no caso dos bancos. As demais classificações permitiriam então abordar o comportamento, baseado em características biológicas de um tipo de instituição e de um conjunto de instituições com as mesmas características. A maior ou menor disponibilidade de recursos para os agentes permite extrair conclusões com relação a forma como estes agentes se reestruturam. Vale também ressaltar que considerando-se este modelo ecológico, existe uma abordagem teórica de como o autor do modelo tem de evolução deste sistema. John Holland concentrou seus estudos em algoritmos genéticos, o que permitiu ter uma visão sobre diversos sistemas sob a ótica da utilização de adaptação de sistemas complexos. O modelo Echo utiliza estes sistemas para verificar a diversidade e processamento de informações em sistemas compostos por vários agentes interagem de forma adaptativa. As estratégias dos agentes no modelo adotado são de combate, troca e acasalamento para garantir a sobrevivência em ambientes com limitações de recursos. Numa simulação usual as populações passam a interagir em redes, assemelhando-se a sistemas ecológicos. Quando há redução do numero de agentes pode indicar que estes não possuíram a capacidade de replicar seu genoma ou de que migraram para outro meio onde possam achar os recursos necessários a sua sobrevivência. O objetivo deste modelo foi codificar intuições sobre sistemas adaptativos complexos em um modelo mais rigoroso, inspirado por noções de pesquisa de mudança em dinâmica populacional num determinado ecossistema, tal que esta dinâmica proporcionaria a criação de novos nichos e a destruição de alguns já existentes. Neste modelo, nichos diferentes são criados e criaturas podem consumir transformar e trocar recursos, sendo este modelo também utilizado quando surgem novos mercados, ainda mais levando-se em consideração a flexibilidade da ferramenta em ajustar todos os parâmetros. A utilização de modelos de sistemas biológicos em economia é de longa data, sendo que o modelo selecionado visa entender os impactos da regulamentação lidando com o sistema financeiro como num sistema ecológico adaptativo, em que os indivíduos são as instituições regulamentadas, sujeitas as restrições no ambiente, tidas como as regulamentações impostas. 24 A forma como este sistema se organiza permite entender se há ou não impacto ao impor maiores restrições ao ambiente, ou ao sistema financeiro. A seguir definiremos como as variáveis do sistema complexo ecológico podem ser interpretadas dentro do universo de analise de um sistema financeiro, para então efetuar as simulações e interpretar seus resultados. 3.3 Especificação das Variáveis O modelo permite os ajustes de número de participantes, que, no caso estudado, diz respeito ao número de instituições financeiras. Possibilidades de agregação, ou seja, de fusão de instituições ou não, sendo esta uma variável binária. Chance de replicar e taxa de replicação, ou de aumentar o número de instituições agregadas a um mesmo grupo bem como a taxa de replicação. Velocidade de abastecimento, ou velocidade com o qual o sistema recebe recursos externos. E velocidade de mudança, ou, neste caso, a capacidade de adaptação às regras implantadas no sistema, bem como a novos competidores. As variáveis são ajustáveis, bem como a forma como são representadas graficamente. A programação é simples, comparativamente com outros mecanismos de simulação preditiva, tais como módulos do MatLab, Octave e demais simuladores programáveis. A técnica utilizada para fazer as simulações foi de segregar a quantidade de instituições no Brasil em diversos cenários e alterar as variáveis que impactam seu comportamento, tais como restrições, neste trabalho tratadas com as regulamentações (mudanças no meio). Tendo como base documento do IPEA13 para analise de modelos e testes das hipóteses, foram adotados a analise de consistência do modelo , que tem como objetivo verificar assertivas “se-então”, ou seja, verifica a consistência do encadeamento logico dos componentes do modelo. Ao se alterar os parâmetros para diferentes níveis se as repostas proporcionam respostas que não estejam dentro das propostas pelo próprio modelo e principalmente se estes resultados para níveis intermediários levam ao resultado final. O teste de consistência estatístico foi baseado na analise do comportamento do modelo ao alterar-se a quantidade de indivíduos de pequena para larga escala, verificando assim se a simulação mantinha as mesmas características. A figura a seguir mostra a forma como são parametrizadas as variáveis. Figura 9: Parametrização do número de agentes (instituições regulamentadas no sistema) Fonte: NETLOGO 13 http://www.ipardes.gov.br/pdf/multissetorial/nota_tecnica_IPEA.pdf 25 Os números de agentes dizem respeito à quantidade de instituições regulamentadas no mercado brasileiro. A base para comparação utilizada foram as instituições que fazem parte da Febraban, isto porque são também as instituições consultadas nas implementações e decisões de regras para o sistema bancário. Figura 10: Parametrização da taxa de mutação dos agentes, ou capacidade de adaptação a restrições impostas ao Sistema. Fonte: NETLOGO A taxa de mutação dos agentes, para o estudo do trabalho diz respeito a capacidade que as instituições possuem de se adaptar a diversas condições impostas no sistema, especificamente aqui à restrições estabelecidas em função de aumento nas regulamentações. A taxa de reposição dos agentes e a chance de se replicarem foram consideradas zero, ou seja, não surgem novas instituições ao longo do período de adaptação as regras, isto para efeito de simplificação da aplicabilidade do modelo, já que se consideradas novas instituições o sistema tende a se reorganizar, ainda considerando-se o tamanho destes novos agentes, no que diz respeito ao total de patrimônio liquido. O patrimônio liquido das instituições é a medida base para entender a capacidade de suportar à modificações no sistema com mais ou menos efeitos negativos a seu balanço. Figura 11: Taxa de replicação e capacidade de reposição dos agentes no Sistema Fonte: NETLOGO Para uma velocidade normal de adaptação dos agentes a restrições no ambiente, tem-se os seguintes gráficos para um pequeno numero de agentes e para um numero 100 vezes maior, para verificar a consistência do comportamento. Sendo ambos os testes sem que os agentes tenham a possibilidade de se combinar, ou seja, sem a capacidade de fusões ou aquisições dentro do sistema. 26 Figura 12: Parametrização com 10 agentes no ambiente e com 1000 agentes Fonte: NETLOGO As respostas do programa, utilizando os parâmetros definidos são as seguintes para os dois cenários da figura 12. Figura 13: População sujeita a restrições com quantidade inicial de 10 agentes. Fonte: NETLOGO Figura 14: População sujeita a restrições com quantidade inicial de 1000 agentes. Fonte: NETLOGO O comportamento em ambos os casos mostra-se semelhante, ou seja, no curto prazo sofre uma redução mais acentuada do numero de agentes e tende a se estabilizar no longo prazo. O que demonstra a consistência do modelo no que diz respeito a variação do numero de agentes, estatisticamente. Ainda para verificar a aderência, alteramos este mesmo parâmetro para 1000 vezes acima a quantidade inicial, obtendo a seguinte resposta. 27 Figura 15: População sujeita a restrições com quantidade inicial de 10000 agentes. Fonte: NETLOGO Desta forma, alterando-se o numero de agentes no sistema e verificando a distribuição da população sujeita às mesmas restrições, pode-se concluir que apresenta o mesmo tipo de comportamento no modelo Echo. As mudanças verificadas dizem respeito a forma como a população se distribui ao longo do tempo, entre as espécies e a nova estabilidade. No teste demonstrado na figura 15 o que se verifica é uma curva mais suave com relação à diminuição da quantidade de agentes, indicando que desta forma tendem a estabelecerem relações que os permitam perpetuar ao longo do tempo. Com um numero menor de agentes o que se identifica no curto prazo é uma distribuição menos suave das populações, ou seja, as espécies existentes tendem a demonstrar relações de menor cooperação, apresentando alterações entre os tipos de população dominante. Conforme a descrição do modelo Echo o que sabemos é que os agentes podem estabelecer diversos tipos de relações quando submetidos a uma menor oferta de recursos, pelo teste realizado verificou-se que com um menor numero de agentes essas relações tendem a serem menos determinantes do que quando com muitos agentes, no sentido de possibilidades de mudanças ate se atingir um novo equilibro com as novas restrições. O fator observado é que independente do numero de agentes a população sofre alterações e apresenta diferentes formas de se relacionar até estabelecer um nova distribuição destes agentes. Os fatores que são influenciados pelo mudança de agentes, ou seja, a vulnerabilidade do modelo dizem respeito a forma como são estabelecidas as relações dinamicamente, já que alterando-se o numero de instituições no modelo, os demais fatores se ajustam a essas novas condições, tais como taxas de mutação, adaptabilidade e as relações entre os agentes. Outra vulnerabilidade diz respeito a não possibilidade de identificar o tipo de extermínio causado, com a redução da população, podendo ser um processo migratório para demais meios ou a formação de espécies mais preparadas a níveis maiores de escassez. Ainda considerando as maiores instituições do Brasil14, que participam da Febraban, temos um total de 124 instituições, este então foi o parâmetro utilizado para entender o comportamento do sistema, com maiores restrições. 14 http://www.febraban.org.br/bancos.asp 28 Figura 16: Distribuição dos agentes que apresentam maior capacidade de adaptação e menor adaptação (ofensivos e defensivos) e contagem de espécies ou de tipos de instituições Fonte: NETLOGO Os tipos de instituições, ou seja, a contagem de espécies e o tipo de comportamento adotado (ofensivo ou defensivo) são determinados pelo modelo e não parametrizáveis. Considerando essa restrição do modelo e conforme a figura acima temos que a distribuição de comportamento inicial é semelhante, o que significa que o numero de instituições com caráter defensivo ou ofensivo para alteração e adaptação dos seus balanços é praticamente o mesmo. Já com relação aos tipos de instituições, tem-se diversos níveis, sendo que os que possuem maior capacidade de adaptação, ou maior nível de patrimônio são representados no gráfico de populações. Figura 17: População resposta a simulação com 100 agentes e 0% de mutação Fonte: NETLOGO Figura 18: Especiação resposta a simulação com 100 agentes e 0% de mutação Fonte: NETLOGO Pelos gráficos acima podemos concluir que os agentes sofrem com as restrições, claramente muito mais no curto prazo, sendo que os tipos de instituições tendem a se comportar semelhantemente, destacando-se somente as instituições mais ofensivas no curto prazo. Para um nível zero de capacidade de mutação dos agentes, a população decresce rapidamente, assim como a quantidade de espécies disponíveis. 29 A população dos agentes aqui indicando as instituições e no teste acima sem chance de mutação ou de adaptação do seu balanço a ponto de estar condizente com as restrições impostas pelo ambiente. Sendo que no que diz respeito à especiação, é possível identificar uma redução das espécies e a sobreposição do tipo ofensivo no curto prazo. Um ambiente com baixa ou nula possibilidade de adaptação dos seus agentes, no problema analisado, indicaria a falta de capacidade dos bancos de alterarem a composição de seus balanços. As instituições no Brasil costumeiramente estão organizando seus balanços conforme as requisições de capital, ou de recursos por parte dos reguladores, mas também conforme os objetivos estratégicos de cada uma das instituições. Ainda que o mercado não apresente liquidez o bastante para realizar essas mudanças nos ativos e passivos com bastante frequência, esta é uma técnica bastante utilizada pelos estrategistas e gestores dos bancos para buscarem consonância regulamentar vis-à-vis os retornos esperados por parte dos seus acionistas ou dos participantes do negocio. Alterando os parâmetros tal que as instituições possuam maior capacidade adaptativa, para um nível de mutação ou de adaptação de 1%, o que em termos práticos do problema, representa a capacidade dos bancos adaptarem seus balanços para cumprir as requisições de capital feita pelos reguladores. Figura 19: População resposta a simulação com 100 agentes e 1% de mutação. Fonte: NETLOGO Figura 20: Especiação resposta a simulação com 100 agentes e 1% de mutação. Fonte: NETLOGO Com uma pequena alteração na capacidade de mutação dos agentes, já é possível verificar que o gráfico de especiação à 1% tem curva mais suave do que a 0%, ou seja, os agentes com uma maior capacidade de mutação possibilitam ao meio aumentar o nível de especiação ou, dadas as restrições, mantê-lo por mais tempo do que sem essa capacidade. Reduzindo a velocidade do sistema, como um fator externo ao sistema financeiro, o que tem seu paralelo à choques na economia real, como de redução de 30 produtividade ou da alocação da preferencia trabalho-lazer, temos o seguinte comportamento. A velocidade com a qual os agentes se adaptam às restrições no sistema permite verificar ao longo do tempo a distribuição da população e da especiação considerando fatores externos. Num sistema financeiro os bancos tendem a se reorganizar conforme as requisições e suas estratégias conforme a liquidez do mercado e a disponibilidade de produtos que os permitam reajustar seus balanços. Em ambientes com maior liquidez a velocidade com a qual as instituições se adaptam à restrições é muito maior do que sem essa possibilidade. Um outro fator considerando uma maior velocidade de adaptação, dentro do contexto de fluxo global de recursos é a possibilidade de migração de sistemas. Em ambientes com maiores restrições instituições globais ou demais agentes se utilizam de mecanismos que os permitam migrar seus investimentos para outras jurisdições com mais mecanismos de adaptabilidade, neste sentido economias desenvolvidas se destacariam, já que oferecem aos seus agentes diversos meios de se reorganizarem quanto à estrutura de seus balanços e por, em geral, oferecerem maior liquidez. Figura 21: População resposta a simulação com 100 agentes e 10% de mutação com redução da velocidade. Fonte: NETLOGO Com uma maior taxa de mutação o que é possível identificar é que o nível de competição entre as espécies acaba sendo menor, ainda que ocorra redução da população sob este nível de restrição do ambiente. Ressaltando a possibilidade de migração para outros ambientes dos agentes, já que o nível de competição acaba sendo menor dentro do sistema analisado. Essa sugestão não é possível inferir somente pela redução da competição, mas também pela redução continua da população, que já começa em níveis menores do que com maiores velocidades de adaptação. Figura 22: Especiação resposta a simulação com 100 agentes e 10% de mutação com redução da velocidade. Fonte: NETLOGO 31 O nível de especiação das espécies é menor, o que indica que as instituições com uma maior capacidade de mutação ou de adaptação às regras impostas pelo ambiente, tendem a ter uma menor especiação ao longo de todo o período, sendo que desde o inicio do teste o nível é menor 39,6 e a 1% de taxa de mutação o valor inicial é de 41,8, conforme a figura 20. Há 10% de taxa de mutação também percebe-se que além de uma menor especiação tem-se um amortecimento menor do que com uma taxa menor, indicando que num ambiente com maior capacidade de adaptabilidade as instituições se reorganizam no curto prazo mais rapidamente e reduzem bruscamente após atingir um novo equilíbrio entre os agentes ofensivos e defensivos, ponto este destacado pela flecha do gráfico da figura 22. Para um maior nível de adaptação dos agentes, tem-se como resposta uma curva menos acentuada no que diz respeito a resposta da população e especiação para o curto prazo. O que pode demonstrar que com maiores possibilidades de adaptação os agentes tendem a suportar com maior facilidade restrições no sistema no curto prazo. 32 3.4 RESULTADOS Considerando-se a quantidade de instituições atual como 100, com base nos dados da Febraban de bancos cadastrados na federação e que também possuem participação no processo decisório de implementação de novas regras no sistema, foram realizados testes alterando-se o nível de adaptação dessas instituições num sistema restritivo. A adoção do modelo Echo (ecológico) para conseguir entender os impactos das regulamentações ou restrições no ambiente mostrou-se limitado por não permitir influências de outros sistemas ecológicos ou financeiros, fator importante numa economia global, no entanto demonstrou sua eficácia no que diz respeito a interpretação dos impactos no sistema por si só, ou seja, em analisar o comportamento das instituições neste ambiente mais restritivo. A verificação da consistência do modelo se deu através da verificação da manutenção do comportamento da população e da especiação para diversos números de agentes. Conforme os testes realizados o modelo manteve sua consistência e então foi possível parametrizar o sistema com o objetivo de capturar as respostas para um nível de numero de instituições compatível com a realidade atual no Brasil. Dos resultados obtidos na simulação pode-se concluir que as instituições tendem a sofrer no curto prazo, caso não apresentem capacidade adaptativa, sendo que o sistema como um todo passa a se reorganizar e reduzir de tamanho. Já considerando uma maior capacidade adaptativa o sistema como um todo resiste muito melhor às restrições no curto e no longo prazo. As restrições ao sistema financeiro e bancário são impostas pelo Banco Central local, assim como pelas influencias de fatores internacionais. No caso do Brasil, com a implementação de Basileia 3 em 2013, bem como das regras impostas ao sistema a fim de reduzir os impactos dos fluxos externos puramente especulativos, medidas estas que ocorreram concomitantemente com os impactos causados por uma redução nos investimentos num cenário global de incertezas. De acordo com os autores adotados e citados na revisão de literatura, vale ressaltar a importância do papel dos bancos centrais não somente em aumentar ou diminuir as restrições ao sistema financeiro, mas também na forma como aplicam tais regras combinadas às medidas macroeconômicas. Conforme o modelo teórico adotado num ambiente com um choque negativo de produtividade as instituições tendem a impactar negativamente em todo ambiente, partindo desses dados a simulação realizada não permite identificar choques na economia real, a exemplo da mudança no nível de produtividade. Desta forma tem-se que a simulação permite verificar o impacto no sistema financeiro sem permitir identificar demais fatores exógenos. Ao analisar a capacidade de adaptação através da mudança da variável de mutação do modelo foi possível verificar a forma como as instituições se organizam e a redução da população também indicam um comportamento do sistema financeiro no que diz respeito a redução do numero de instituições ou a uma maior concentração num menor numero de bancos, por sua vez, não permite criar uma relação direta com os impactos dessas regulamentações com o ambiente não regulamentado. O universo das instituições não coberto por regras não faz parte do modelo de simulação, mas a redução do numero de instituições verificada poderia indicar um fluxo para outros tipos de meios para efetuar operações financeiras. Ainda que esta conclusão não seja possível, fica valido ressaltar as restrições do modelo adotado e dos resultados 33 dentro do universo regulamentado adotado, observando a relação desta abordagem com os tópicos de shadow banks e ambiente não regulamentados citados na revisão literária. Utilizando, conforme o modelo teórico, uma menor velocidade de adaptação do sistema, como fator exógeno, as respostas indicam que há convergência com a simulação realizada, indicando um impacto no curto prazo e uma reorganização do sistema no longo prazo num ambiente com mais restrições. 34 5 CONCLUSOES O impacto na estabilidade do sistema financeiro em 2008 ressaltou a já consistente busca dos reguladores locais e globais por medidas capazes de amenizar efeitos no caso de riscos sistêmicos. O sistema financeiro concentra papel importante no desenvolvimento das economias, mas também é impactado por elas. Isso serve tanto para economias em desenvolvimento quanto para aquelas que possuem sistemas financeiros com alta capacidade de gerenciar seus riscos. Considerando-se a Hipótese da Instabilidade Financeira, o sistema é vulnerável em períodos de maior expansão e contração e o Banco Central é o responsável por tomar medidas para buscar amenizar os efeitos da recessão. As análises sobre regulamentação e sobre sistema financeiro em períodos de crise, em sua grande maioria, não levam em consideração estruturas denominadas como shadow banks pelo FED, que são o conjunto de estruturas não regulamentadas. Elas impactam na forma como o fluxo de capital é direcionado, assim como no aumento do risco do sistema, porque concentram em seus balanços, em grande parte dos casos, expectativas de recebimento ou de cumprimento de obrigações e não de recursos financeiros líquidos. Por sua vez, as instituições regulamentadas, que estão sujeitas a níveis cada vez maiores de requisições, ficam vulneráveis a diversos problemas com relação à modelagem, consolidação dos dados e até mesmo de moral hazard, de acordo com à forma como reportam suas informações aos reguladores. O modelo dinâmico utilizado neste trabalho mostra que, considerando uma economia com restrições e com maior requisição por parte dos reguladores, os impactos no curto prazo são de contração. Todavia, considerando a taxa de crescimento do PIB no Brasil em comparação com as regulamentações implantadas, não é possível destacar que o sistema sofreria contração ou estagnação em um ambiente com mais regras. A análise via simulação, por sua vez, indica que, em um ambiente com mais restrições, o conjunto tende a ter sua estrutura alterada no curto prazo e reestabelecer o crescimento de todo o sistema no longo prazo. O modelo de Miyake (2007), não inclui capital especulativo. O Brasil, como mercado emergente, recebeu no período pós-crise do subprime um grande volume de recursos que não estavam direcionados a investimentos. O governo brasileiro tomou algumas medidas para controlar esse fluxo de capitais nos anos seguintes, tais como aumento de impostos para operações financeiras de câmbio, porém o resultado observado nos balanços dos bancos foi de retenção destes recursos, aumentando o número de depósitos. A simulação consegue demonstrar de forma simplificada os impactos de maiores ou menores restrições no crescimento e desenvolvimento do sistema, considerando os agentes como num sistema ecológico, sem levar em conta as medidas que possam vir a reverter determinados comportamentos, como as políticas fiscais e monetárias na economia real. Uma sugestão de avanços neste estudo é incluir demais choques em diversos cenários de simulação que possam levar em consideração variáveis externas ao sistema analisado (financeiro) para lidar com as restrições (regulamentações) bem como a relação entre diversos sistemas ecológicos, sob restrições ou não. Sendo que ao adicionar demais sistemas seria permitido entender os impactos de outras jurisdições com mais ou menos regras do que o ambiente a ser estudado, assim como entender o impacto de sistemas que não possuem restrições, a exemplo das instituições não regulamentadas. 35 Portanto, considerando a teoria relacionada a ciclos econômicos, lidando com os efeitos endógenos e exógenos, utilizando os modelos para entender se um aumento de regulamentação tem efeito no sistema financeiro e na economia, pode-se concluir que o modelo macroeconômico e a simulação ecológica mostram-se aderentes por conseguir relacionar, no curto prazo, o impacto de implementação de regulamentações ou restrições no sistema. As possíveis melhorias nos modelos selecionados referem-se à inclusão do conjunto denominado como shadow banks ou o capital não regulamentado, pois de acordo com os bibliografias pesquisadas, o conjunto não regulamentado tem ganhado bastante importância no sistema financeiro. Assim como a inclusão de outros sistemas com diferentes níveis de regras para simular o impacto de outras economias no sistema financeiro local. 36 REFERÊNCIAS Aghion, Philippe; Kharroubi, Enisse. 2013. Cyclical macroeconomic policy, financial regulation and economic growth. BIS Working Papers No 434, Dezembro 2013. Angelini, L.Clerc; Curdia, V.;Gambacorta, L.; Gerali, A.; Locarno, A.; Motto, R; Roeger, W.;Heuvel, S. Van Den; Vicek, J. 2011. Basel III: Long-term impact on economic performance and fluctuations. BIS Working Papers - Monetary and Economic Department No 338, Fevereiro 2011. Barros, Carlos Pestana; Wanke, Peter. 2014. Banking efficiency in Brazil. Journal of International Financial Markets, Institutions & Money 28 (2014) 54-65. Bhimani, Alnoor. 2008. The role of a crisis in reshaping the role of accounting. Journal of Account Public Policy 27 (2008) 444-454. BACEN- Banco Central do Brasil. 2014. Relatório de Estabilidade Financeira. BIS Working group. 2012. 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