OS EFEITOS DAS DECISÕES DE INVESTIMENTO DAS EMPRESAS SOBRE OS PREÇOS DE SUAS AÇÕES NO MERCADO DE CAPITAIS Jairo Laser Procianoy e Marco Aurélio Antunes PPGA/EA/UFRGS PPGEP/UFRGS RESUMO: Este trabalho fornece evidências do impacto das decisões de investimento das empresas nos preços das ações no mercado de capitais. Com base no método de estudos de evento, foi realizado um estudo exploratório no mercado brasileiro. A variação do ativo permanente foi considerada como uma sinalização onerosa das decisões de investimento e investigou-se os efeitos destes sinais na motivação de uma reavaliação das expectativas do mercado acionário. Os resultados indicam que existe relação entre a variação do ativo permanente e a variação do valor da ação da empresa no mercado. Conclui-se que os mesmos estão de acordo com as evidências empíricas e com o que é previsto pela teoria da decisão de investimento. 1. INTRODUÇÃO A teoria de finanças corporativas prevê que as empresas estão envolvidas principalmente com três classes de decisões: investimento, financiamento e dividendos. As duas últimas já foram abordadas por um grande número de estudos. No entanto, com exceção de aquisições intercorporativas, existem relativamente poucas evidências do impacto das decisões de investimento no valor de mercado das empresas. Segundo McConnell & Muscarella (1985), a escassez de estudos é motivada pela pressuposição, com aceitação quase universal, de que as forças de mercado compelem os dirigentes a seguirem a regra da maximização do valor de mercado. Mesmo existindo o consenso quase unânime quanto ao objetivo da empresa de gerar valor aos proprietários, por meio de decisões que maximizam o valor da empresa, ainda permanece o interesse em avaliar e conhecer os efeitos das decisões de investimento sobre o valor das ações. Para Lerner (1971), os gestores não possuem o controle sobre o preço de mercado de suas ações, mas são suas decisões de investimento um dos mais importantes fatores para determinar o valor da empresa a longo prazo. Segundo Fama (1991), o preço da ação, no mercado de capitais eficiente, é ajustado no exato momento em que informações relevantes (que afetam o fluxo de caixa futuro da empresa) tornam-se publicamente disponíveis. Assim, quando os dirigentes comunicam suas decisões de investimento ao mercado, o preço da ação ajusta-se imediatamente, capitalizando o valor associado ao conteúdo da nova informação. No entanto, a presença de ineficiências no mercado, assimetria informacional e conflitos de agência, podem interferir na relação entre o anúncio e a reação do mercado ao fato tornado público. Em Chan, et alli. (1995) encontramos que as evidências da literatura apresentam uma situação enigmática, pois algumas decisões de investimento, divulgadas por anúncios, resultam em reações negativas do mercado, enquanto outras resultam em reações positivas. Além disso, com base nos resultados empíricos de seu trabalho, Schiehll (1996) conclui que a divulgação das demonstrações 1 financeiras (anuais e trimestrais) é um evento relevante no mercado brasileiro, produzindo efeitos significativos nos preços das ações. As demonstrações financeiras fornecem uma visão da situação da empresa sendo que o balanço patrimonial mostra a posição financeira em uma determinada data. Como o ativo permanente agrega as contas de investimentos, de imobilizado e de diferido, uma análise de balanços permite observar os dispêndios de capital efetivamente realizados no período entre dois balanços sucessivos. As aplicações de recursos na aquisição desses ativos procuram gerar benefícios adicionais aqueles oferecidos pela estrutura produtiva e operacional anteriormente existente. No presente estudo, a Variação do Ativo Permanente (VAP) foi considerada como um sinal oneroso das decisões de investimento das empresas, com a intenção de investigar os efeitos dos sinais na motivação de uma reavaliação das expectativas do mercado (em relação aos fluxos de caixa futuros). De acordo com Lamb (1993), devido ao caráter de irreversibilidade, o custo de oportunidade de imobilizar recursos é um custo real e permite sugerir o investimento como uma sinalização onerosa da existência de oportunidades de crescimento da empresa. O mercado percebe as informações reveladas pelas empresas (nos seus demonstrativos financeiros) e ajusta as expectativas de lucratividade futura das respectivas ações. Este estudo, portanto, tem por objetivo investigar a influência das decisões de investimento sobre o valor da empresa, analisando se as variações (do ativo permanente, como um todo, e do imobilizado, em especial, verificadas nas demonstrações financeiras) afetam o preço das ações negociadas na bolsa de valores. As variações positiva (VAP>0) e não positiva (VAP≤0) não apenas indicam que houve aquisição ou redução de ativos, respectivamente, mas também podem ser percebidas como evidências das decisões de investimento das empresas. Do mesmo modo, foi utilizada a Variação do Imobilizado (VImob) para avaliar as decisões de investimento envolvendo especificamente imobilizações em ativos fixos. Uma revisão da literatura, abordando decisões de investimento na empresa, mercado de capitais, valor da ação, assimetria informacional, sinalização de mercado e evidências empíricas, é apresentada a seguir. Após a descrição da metodologia no item três, a qual inclui o método de estudos de evento, seleção e segmentações da amostra, são apresentados, no quarto item, os resultados e a discussão dos mesmos. No quinto item são relatas as conclusões. 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. DECISÃO DE INVESTIMENTO NA EMPRESA O teorema de separação mostra que a decisão de investimento, nos modelos sob condições de certeza e de incerteza, pode ser dividida em duas etapas. A primeira não depende das preferências pessoais e o investidor pode delegar a alguém as decisões de investimento em oportunidades produtivas. A separação entre propriedade e controle nas empresas possibilita aos acionistas, na condição de proprietários, escolherem os seus agentes (os gestores) e delegarem a estes as decisões de investimentos. Na segunda, temos uma dependência das preferências individuais do decisor quando a delegação fica quase impossível sem que existam custos adicionais. Neste contexto, os gestores devem investir nas oportunidades produtivas que possuem rendimento superior ao custo de capital da empresa levando em consideração o risco associado. Este procedimento, que conduz a maximização do valor da ação, produz rendimentos que são utilizados pelos acionistas para ajustar seu padrão de consumo (emprestando ou tomando emprestado recursos no mercado financeiro). Assim, se os gestores decidirem pela distribuição dos 2 lucros na forma de dividendos, os acionistas utilizam esses recursos para estabelecer seu padrão de consumo no presente. Por outro lado, se decidirem pela retenção dos lucros para investimentos em oportunidades de produção, os acionistas esperam receber no futuro, na forma de dividendos e ganhos de capital, os rendimentos dos novos projetos que devem possuir (para um risco associado equivalente) um valor presente superior ao montante atual dos dividendos não distribuídos. Mesmo quando, os acionistas são unânimes quanto a regra de decisão que deve ser seguida por seus agentes, podem existir conflitos de agência, sendo necessário fornecer incentivos e monitorar o comportamento dos gestores (produzindo os chamados custos de agência). Nas decisões de investimento em condições de certeza, maximizar a riqueza do acionista eqüivale a maximizar o Valor Presente Líquido (VPL) da carteira de projetos da empresa, pois a técnica do VPL é sempre consistente com o objetivo da empresa. Agora, quando são considerados a incerteza e o risco, não apenas podem ser utilizadas outras técnicas em conjunto com o VPL, tais como árvores de decisão, análise de sensibilidade e análise de cenários, como também é possível aplicar a teoria de opções. (Copeland & Weston, 1988; Ross, et. alli, 1996) A teoria da decisão de investimento supõe que: (1) os dispêndios de capital em projetos com VPL positivo proporcionam uma reação positiva do mercado, elevando o valor das ações e (2) os dispêndios de capital em projetos com VPL negativo proporcionam uma reação negativa do mercado, com uma conseqüente redução do valor das ações. 2.2. MERCADO DE CAPITAIS 2.2.1. Valor da Ação A aquisição de uma ação concede ao investidor uma participação no fluxo de caixa futuro da empresa em troca dos recursos do investidor. Ela é um tipo de título que representa o compromisso por parte da empresa de pagar periodicamente dividendos ao seu portador na quantia que o conselho de administração julgar apropriada. Entretanto, como está sujeito ao prejuízo máximo equivalente ao custo de aquisição das ações, em caso de falência, o investidor (que possui ações ordinárias) tem o direito de escolher os membros do conselho de administração. (Sharpe, et. alli, 1995) A emissão e a venda de ações no mercado primário permite que as empresas captem os recursos financeiros necessários aos investimentos produtivos. Quando compram ações, os investidores adquirem os direitos sobre os ativos e tornam-se os proprietários da empresa, onde a participação na propriedade é definida pela quantidade das ações de cada acionista. No entanto, eles possuem um direito contingente no valor total da empresa e recebem, em caso de liquidação, somente o que restar do valor total, após o ressarcimento de todos os outros credores. No modelo de avaliação, o valor de mercado de uma empresa é a soma de dois termos. O primeiro, é o valor presente de um fluxo de caixa gerado pelos resultados futuros dos ativos atuais em uso na empresa (representando uma empresa que não está crescendo e não realiza novos investimentos). O segundo termo é o valor presente do fluxo de caixa gerado pelos resultados esperados das novas oportunidades de investimento (valor presente das perspectivas de crescimento futuro da empresa). (Copeland & Weston, 1988; McConnell & Muscarella, 1985) O valor de uma ação deve ser igual ao valor presente dos rendimentos futuros fornecidos pela empresa e pode ser estimado utilizando-se algum dos vários modelos de avaliação. Estes modelos avaliam principalmente o nível de lucro por ação, o crescimento esperado no lucro por ação, o risco e o pagamento de dividendos. A taxa de desconto deve refletir não só o valor da moeda no tempo, mas também o risco do fluxo de caixa futuro, sendo apropriado utilizar a taxa de retorno livre de risco acrescida de um prêmio de risco. (Lorie, et alli, 1985; Sharpe, et alli, 1995) 3 BROWN, Stephen J. and WARNER, J. B.. Measuring Security Price Performance. Journal of Financial Economics, v. 8, p. 205-258, 1980. 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