1 ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICO-CULTURAIS DO AGRONEGÓCIO NO PIAUÍ Poliana da Silva Tavares (Bolsista PIBIC/CNPq),Marlúcia Valéria da Silva (Orientadora do Depto. de Serviço Social –UFPI) INTRODUÇÃO Este resumo apresenta as atividades de Iniciação Científica desenvolvidas de agosto de 2013 a agosto de 2014 no âmbito da pesquisa “Ruralidades piauienses, identidades juvenis e reprodução social nas localidades de Jenipapo e Vereda dos Tinguis, Sebastião Leal-PI”, coordenada pela ProfªDrªMarlúcia Valéria da Silva. Esta pesquisa visa compreender quais as mediações que os processos identitários juvenis rurais estabelecem com as novas realidades do agronegócio no campo piauiense no que se refere às possibilidades de reprodução ou não da vida ancorada nos parâmetros da agricultura familiar vigente nas localidades de Jenipapo e Vereda dos Tinguis – Sebastião Leal-PI. O plano de trabalho da bolsista incidiu sobre os aspectos sócio-econômico-culturais do agronegócio no Piauí, visando atender os seguintes objetivos: traçar breve histórico das empresas sediadas no sudoeste, com destaque para aquelas de presença mais relevante na região; proceder omapeamento da localização, dimensão, produção e produtividade das empresas; levantar as questões de natureza socioambientais implicadas nas práticas produtivas do agronegócio e apontar impactos culturais para as populações locais. METODOLOGIA Para consecução dos objetivos propostos, a pesquisa ocorreu em dois momentos: agosto de 2013 a fevereiro de 2014 e de fevereiro a agosto de 2014. Primeiramente, foi realizada –de modo mais intenso - a revisão de literatura concernente ao agronegócio e a fim de consolidar uma apropriação do tratamento teórico acerca dos interesses do plano de trabalho, realizou-se a leitura das entrevistas já transcritas, atinentes à pesquisa da orientadora, realizada em Sebastião Leal-PI. E como colaboração para preparo de material para pesquisa realizou-se transcrições de entrevistas com atores presentes no agronegócio do Sudoeste do Piauí. No segundo momento foram realizadas visitas de campo visando à coleta de dados documentais concernentes a realidade do agronegócio no Piauí. RESULTADOS E DISCUSSÃO O cerrado piauiense é considerado a última fronteira agrícola do Brasil, tendo em vista o avanço da produção de grãos no estado, principalmente a soja, que é um dos pontos fortes da produção agrícola. Nessa região do estado vem crescendo a instalação de empreendimentos do agronegócio, como as fazendas produtoras e as indústrias de processamento de grãos. O cerrado do Piauí é composto por 25 municípios, segundo a Lei Estadual Nº 5.966 de 13 de janeiro de 2010, que dispõe sobre a regularização fundiária do Cerrado Piauiense, que regulamenta como parte dessa área os municípios: Alvorada do Gurguéia, Antônio Almeida, Bertolínia, Bom Jesus, Baixa Grande do Ribeiro, Barreiras do Piauí, Currais, Corrente, Colônia do Gurguéia, Cristino Castro, Elizeu Martins, Gilbués, Marcos Parente, Monte Alegre, Manoel Emídio, 2 Porto Alegre do Piauí, Palmeira do Piauí, Pavussu, Parnaguá, Ribeiro Gonçalves, Redenção do Gurguéia, Santa Filomena, São Gonçalo do Gurguéia, Sebastião Leal, Uruçuí (INTERPI, 2014). Os dados do INCRA sobre a estrutura fundiária do Piauí, considerando os registros de imóveis a partir do ano de 1992 ao ano de 2012, apontam os municípios que se destacam pela quantidade de grandes propriedades (500 a mais ha). São eles: Sebastião Leal com total de 30 propriedades, Redenção do Gurguéia com 50,Bom Jesus com a quantidade de 55,Gilbués com 56,Barreira do Piauí com 60, Ribeiro Gonçalves com o total de 63, Santa Filomena com 63, Baixa Grande do Ribeiro com um total de 68 propriedades e Uruçuí com um total de 171, sendo o município como maior destaque no número de estabelecimentos considerados enquanto grandes propriedades. Os municípios com destaque no número de grandes propriedades produtivas sãoMonte Alegre do Piauí com o total de 10, Barreiras do Piauí com 15,Antônio Almeida com o total de 17, Baixa Grande do Ribeiro com 18 e o município de Uruçuí com o total de 20. Quanto às propriedades de agronegócio no cerrado do Piauí, levantamento realizado no Instituto de Terras do Piauí (INTERPI), mostra a distribuição de algumas das fazendas instaladas no cerrado, com seus respectivos municípios de localização: Serra das guaribas (Santa Filomena); Fazenda Maringá (Baixa Grande do Ribeiro); Fazenda Boa Esperança (Uruçuí); Serra do Uruçuí I (Currais); Fazenda Canaã (Corrente); Serra do Uruçuí II (Currais); Fazenda Chapadão (Manuel Emídio); Fazenda Mundo Novo (Manuel Emídio); Chapada da fortaleza (Santa Filomena); Nova esperança (São Francisco do Piauí); Chapada do Brejo (Regeneração) e Fazenda Boa Esperança (Barras). Com relaçãoao crescimento do cultivo de grãos na área de domínio dos cerrados piauienses, com destaque da cultura da soja que vem ganhando espaço na economia do estado, fruto dos grandes projetos agrícolas do sudoeste do Estado nos municípios de Sebastião Leal, Uruçuí, Baixa Grande do Ribeiro, Ribeiro Gonçalves e Bom Jesus (CEPRO, 2014). Desses municípios destacam-se o de Bom Jesus e Uruçuí, o primeiro tem o maior produtor de soja do Piauí (Serra do Quilombo), bem como se destaca no comercial de maquinários e serviços, o segundo município também é um grande produtor agrícola e detentor de centro comercial, onde está instalada a indústria multinacional Bunge Alimentos (CEPRO, 2014). O avanço do agronegócio no cerrado piauiense deu-se principalmente com a instalação de empreendimentos produtores de grãos e também de processamento. Embora a atividade do agronegócio tenha gerado o crescimento econômico do estado, a chegada dos grandes proprietários em regiões buscando o desenvolvimento econômico vem acompanhada de suas culturas, o que também repercute nos modos de vidas das pessoas que vivem no entorno dos grandes empreendimentos do cerrado. Além disso, tais proprietários apresentam pontos de vistas e concepções que embasam o direcionamento das atividades agrícolas que administram, em quase tudo diverso daquilo que dá estofo aos modos de vida locais. O que se nota com a chegada dos grandes empreendimentos do agronegócio nos locais de instalação são transformações ambientais, econômicas e principalmente nos modos de vida, não somente pelo afrouxamento dos vínculos familiares em torno do trabalho agrícola, mas esses empreendimentos geram uma lógica do assalariamento e de ampliação do consumo. Além disso, a 3 força de trabalho, até então ocupada na agricultura familiar, se encontra colocada à disposição dos interesses dos grandes produtores. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nota-se que a presença do agronegócio no cerrado piauiense vem avançando principalmente com a produção de grãos, com destaque para a cultura da soja e do milho. Assim, o estado se destaca no mercado comercial de grãos, o que vem contribuindo para o seu crescimento econômico. Embora a atividade do agronegócio tenha gerado o crescimento econômico do estado, a chegada dos grandes proprietários em regiões buscando o desenvolvimento econômico vem acompanhada de suas culturas, o que também repercute nos modos de vidas das pessoas que vivem no entorno dos grandes empreendimentos do cerrado. Assim, o processo de instalação de tais empreendimentos tem gerado impactos nas regiões em que se situam, sendo esses impactos ambientais, econômicos, sociais e nos modos de vida local. A realidade passa por transformações, principalmente quanto à dinâmica produtiva, social e cultural. A agricultura familiar que antes predominava nas regiões vem perdendo espaço para agricultura em larga escala; assim, uma das conseqüências é que as relações entre pais e filhos que cercavam o trabalho na roça começam a se fragilizar, os vínculos em torno de um interesse de produzir para a manutenção da família passa por transformações, o que tem contribuído para construção de novas dinâmicas no entorno do agronegócio. Palavras-chave: Agronegócio. Cerrado piauiense. Transformações locais. APOIO: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/ CNPq. REFERÊNCIAS AGUIAR, Teresinha de Jesus Alves de; MONTEIRO, Maria do Socorro Lira. Modelo agrícola e desenvolvimento sustentável: a ocupação do cerrado piauiense. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/asoc/v8n2/28610.pdf>. Acesso em: 05 de maio de 2014, 10:30:30 ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. 2. Ed. São Paulo/Campinas: Hucitec e Unicamp, 1998. ALTIERI, Miguel A. agroecologia, agricultura camponesa e soberania alimentar. In: Revista NERA. Presidente Prudente, ano 13 nº 16. p. 22-32. Jan- Jun./2010. BRUNO, Regina. Agronegócio e novos modos de conflituosidade. In: FERNANDES, BernadoMançano. Campesinato e agroecologia na América latina: a questão agrária atual. São Paulo: Expressão Popular, 2008, p. 83-105. BRUNO, Regina. Agronegócio, palavra política. In. BRUNO, Regina (org.). Um Brasil ambivalente: agronegócio, ruralismo e relações de poder. Rio de Janeiro: Mauad X; Seropédica: EDUR, 2009, p.112-129. CEPRO. Cerrados piauienses: estudo e análise de suas potencialidades, impacto da exploração da riqueza sobre a população da região. Teresina: Fundação CEPRO, 2014. 4 HEREDIA, Beatriz; PALMEIRA, Moacir e LEITE, Sérgio Pereira. 2009. Sociedade e Economia do “Agronegócio” no Brasil. In. 33º Encontro Anual da ANPOCSGT 41: Transformações Sociais e Projetos Políticos em Concorrência: Reflexões a partir do rural. Caxambu: 26 a 30. out.