UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
VALÉRIA DA SILVA FARIA
RESULTADOS ALCANÇADOS E DESCRITOS POR
SUJEITOS COM DEPENDÊNCIA QUÍMICA EM COCAÍNA QUE ESTÃO OU
ESTIVERAM EM PROCESSO PSICOTERÁPICO
Palhoça
2009
1
VALÉRIA DA SILVA FARIA
RESULTADOS ALCANÇADOS E DESCRITOS POR
SUJEITOS COM DEPENDÊNCIA QUÍMICA EM COCAÍNA QUE ESTÃO OU
ESTIVERAM EM PROCESSO PSICOTERÁPICO
Pesquisa apresentada na disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso II,
como requisito parcial para obtenção do
título de Psicólogo.
Orientador (a): Profª. Maria do Rosário Stotz, Dra.
Palhoça
2009
2
Dedico este trabalho ao meu marido Aldo
e a meus filhos Eduardo e Gustavo pela
compreensão, incentivo e amor.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço em especial aos meus pais Jonas e Marisa pelo exemplo e
amor.
Ao meus irmãos Evandro pelos momentos de descontração e Rafael pelo
exemplo de perseverança.
A família Faria, representada aqui pelas minhas queridas tias Ana, Jandira
e Maria de Lourdes. A família Silva, representada aqui pela minha adorada tia
Moema.
A família Martins pelo carinho dispensado.
As minhas grandes amigas Helena Maria, Maria Emília, em especial, a
Kátia Regina pela disponibilidade em me ouvir e ajudar.
A CODESC que acreditou em minha capacidade e investiu em minha
formação acadêmica.
Aos meus queridos amigos de trabalho Bogoni, Tavares, Patrícia e Alaor,
pelo apoio.
Ao meu analista Oscar pela escuta que aliviou muitas vezes minhas dores
e me fez seguir em frente.
As minhas colegas de faculdade pela convivência diária e gratificante, em
especial, a Sílvia de Arruda Cunha pelos vários momentos de reflexão.
Ao projeto de extensão Time da Mente pela oportunidade.
E a todos que me auxiliaram direta e indiretamente, na minha formação
acadêmica, em especial, a minha orientadora Maria do Rosário Stotz, por
compartilhar seus conhecimentos com tanta dedicação.
4
RESUMO
Esta pesquisa apresenta como tema central a dependência química de cocaína e a
psicoterapia em pacientes atendidos nos vários níveis de atenção à saúde. Tem
como população de pesquisa 5 (cinco) usuários que recebem ou receberam
tratamento para dependência química no PSM do município de São José, no CAPS
AD, em Florianópolis e Intituto São José, localizado também no município de São
José, todos no Estado de Santa Catarina. O objetivo geral desta pesquisa é
identificar os resultados alcançados e descritos por sujeitos dependentes químicos
em cocaína que estão ou estiveram em processo psicoterápico. Os objetivos
específicos são: verificar quais os serviços, nos diferentes níveis de atenção à saúde
que prestam atendimento a sujeitos com dependência química em cocaína; verificar
quais são as expectativas que os dependentes em cocaína têm em relação ao
tratamento psicoterápico; identificar se os dependentes em cocaína foram ou estão
sendo submetidos a outra forma de tratamento; coletar dados junto a sujeitos com
dependência química em cocaína quais foram os resultados alcançados a partir do
processo psicoterápico. No marco teórico foram abordados os temas relacionados à
definição de droga e suas formas de classificação, informações e características
gerais sobre a cocaína, ação cerebral da mesma, sintomas gerais decorrentes do
uso e abuso da cocaína, transtornos mentais e de comportamento devido ao uso de
substâncias, especificamente da cocaína, sintomas físicos e psicológicos anteriores
ou decorrentes do uso de drogas, aspectos sociais e culturais envolvidos na
dependência química, o papel da família nesse processo e sua possível inclusão no
tratamento, bem como alguns tipos de tratamentos para dependentes que fazem uso
abusivo de drogas. Quanto à metodologia empregada, trata-se de uma pesquisa
exploratória, bem como de campo, de natureza qualitativa. O delineamento revela-se
um estudo de multi casos, e a coleta de dados foi efetuada por meio de uma
entrevista semi estruturada com usuários dos referidos serviços, sendo a coleta dos
dados realizada através de análise de conteúdo. Os principais resultados
alcançados através do processo psicoterápico são percebidos e descritos pelos
sujeitos com relação a melhora na qualidade de vida, nas relações interpessoais e
na aquisição de diferentes habilidades e comportamentos, que têm permitido evitar o
consumo e prevenir recaídas.
Palavras-chave: Dependência química. Tratamento. Psicoterapia. Resultados
alcançados.
5
LISTA DE SIGLAS
AA - Alcoólicos Anônimos
AVC - Acidentes Vasculares Cerebrais
BVS-PSI - Biblioteca Virtual em Saúde
CAPS - Centro de Atenção Psicosocial
CAPS AD - Centro de Atenção Psicosocial Álcool e Drogas
CID - Classificação Internacional de Doenças
CRPSC – Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina
DSM - Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais
ESF - Estratégia de Saúde da Família
NA - Narcóticos Anônimos
OBID - Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas
OMS - Organização Mundial da Saúde
PR – Prevenção de Recaídas
PSM - Programa de Saúde Mental
SNC - Sistema Nervoso Central
SRTs - Serviços Residenciais Terapêuticos
TCC – Terapia Cognitivo Comportamental
UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina
UNODC -Nações Unidas contra Drogas e Crimes
UPHG - Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................
7
1.1 TEMA..............................................................................................................
9
1.2 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA.............................................................
9
1.3 OBJETIVOS....................................................................................................
17
1.3.1 Objetivo geral............................................................................................
17
1.3.2 Objetivos específicos................................................................................
17
2 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................
18
2.1 TRATAMENTOS.............................................................................................
29
3 DELINEAMENTO DA PESQUISA....................................................................
36
3.1 MÉTODO........................................................................................................
36
3.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA.............................................................
36
3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA...........................................................................
38
3.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS.................................................
39
3.5 PROCEDIMENTO DE TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS.................
40
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS............................................
41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................
72
REFERÊNCIA.......................................................................................................
75
APÊNDICE A – Entrevista..................................................................................
78
7
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho de pesquisa é resultado da articulação entre as
disciplinas Trabalho de Conclusão de Curso I e II, Núcleo Orientado em Psicologia
da Saúde I, II e III, e Estágio Específico em Psicologia da Saúde I e II, desenvolvido
no Programa de Saúde Mental (PSM) no Município de São José/SC. O Programa
está vinculado à Secretaria da Saúde do Município, tendo como principal objetivo
prestar assistência integral em saúde mental aos portadores de transtornos mentais,
alcoolistas, usuários de drogas lícitas e ilícitas, segundo os critérios definidos pelo
Ministério da Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde. (PORTELA, 2004).
O uso indevido de drogas constitui-se um problema de ordem
internacional, preocupando nações do mundo inteiro. É um tema amplo e complexo
que ameaça também a sociedade brasileira, afetando seus valores políticos,
econômicos, sociais e culturais. O Relatório Mundial de Drogas (2007), realizado
pelo UNODC (Nações Unidas contra Drogas e Crimes) em diversos países, incluindo
o Brasil, aponta que cerca de 200 milhões de pessoas, ou seja, 5% (4,8%) da
população mundial, entre 15 e 64 anos, usa drogas a cada ano. Mais da metade
consome pelo menos uma vez por mês, sendo que aproximadamente 25 milhões de
pessoas são dependentes químicos. Na América do Sul a cocaína é considerada a
droga que mais causa problemas e que mais leva os dependentes à busca de
tratamento. No Brasil há registros do aumento do uso de cocaína, portanto o assunto
deve ser tratado como uma questão de saúde pública, com vistas mais à prevenção
e oferecendo serviços de atendimento a quem busca tratamento. (UNODOC, 2007).
Diante disso, no que tange à dependência química e danos à saúde,
surgem demandas de atendimento também no PSM por parte de usuários de
drogas, fato que despertou interesse da pesquisadora em aprofundar estudos e
efetuar este trabalho. Cabe ressaltar, que o PSM tem como característica oferecer
um atendimento de atenção básica, pois está vinculado à Estratégia de Saúde da
Família (ESF), com o objetivo de fornecer suporte aos profissionais em relação ao
atendimento a pacientes portadores de algum transtorno mental e seus familiares.
Esse programa foi implantado em julho de 2004, é realizado na Unidade Básica de
Saúde do Bairro Bela Vista III e, atualmente, conta com uma equipe com duas
enfermeiras e dois médicos psiquiatras. (STOTZ; CAMPOS, 2006).
8
O PSM oferece atendimento ambulatorial de segunda à sexta-feira,
através de consultas de enfermagem e, na seqüência, consulta psiquiátrica. Os
retornos são agendados conforme a necessidade dos usuários que são
encaminhados pelo médico do ESF dos bairros do município, por meio de um
formulário onde consta o diagnóstico e o plano de atendimento realizado no
programa. Atualmente estão cadastrados 1280 pacientes com diagnósticos de
diversos transtornos mentais, que foram ou estão sendo atendidos pelo Programa.
Cabe ressaltar que a incorporação do cuidado à saúde mental básica torna possível
o atendimento de uma parcela da demanda dos pacientes com transtornos mentais.
(STOTZ; CAMPOS, 2006).
A inclusão da psicologia no referido programa se deu em agosto de 2006,
por meio de parceria com a Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL),
através do curso de Psicologia e Projeto de Extensão Time da Mente, formado por
professores e alunos, vivenciando assim a articulação entre a teoria e a prática a
partir da demanda identificada na comunidade. (STOTZ; CAMPOS, 2006). O Projeto
de Extensão tem como objetivo promover e/ou resgatar a saúde mental dos sujeitos
atendidos pelo PSM do município de São José. Inicialmente foi realizado um
diagnóstico institucional com a finalidade de mapear as características da população
atendida pelo Programa. De acordo com levantamento de dados efetuado pelos
alunos integrantes do Time da Mente, dentre os 795 prontuários pesquisados à
época, notou-se que 72,45% dos pacientes eram mulheres e 27,55% eram homens.
Assim sendo, 15,64% da população masculina apresenta transtornos devido ao uso
de álcool, e 6,75%, devido ao uso de outras substâncias psicoativas; já na
população feminina 2,52% apresentam transtornos devido ao uso de outras
substâncias psicoativas. Estes índices demonstram a importância de se pesquisar os
resultados terapêuticos que são alcançados junto aos pacientes dependentes
químicos que estão ou foram submetidos a processo psicoterápico, bem como,
subsidiar o desenvolvimento de estratégias de tratamento adequadas e eficientes às
necessidades da sociedade.
De acordo com Brasil (2005), o uso e abuso de substâncias psicoativas
não é um problema de determinadas localidades ou classes sociais. Pelo menos
10% da população dos grandes centros urbanos de todo mundo apresentam algum
tipo de envolvimento com drogas, o que acarreta agravos sociais e psicológicos
decorrentes do consumo.
9
Cabe ressaltar que órgãos ligados à saúde pública têm desenvolvido
mecanismos de prevenção e tratamento por meio de políticas públicas específicas
de atenção às pessoas que fazem uso de álcool e drogas. O Programa Nacional de
Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas reconhece a
necessidade de uma compreensão integral e dinâmica do problema, bem como a
promoção dos direitos e abordagem de redução de danos. (BRASIL, 2005).
Diante desse contexto, surgiu interesse em pesquisar de que forma a
psicologia tem contribuído na intervenção junto a pacientes com dependência
química, especificamente de usuários de cocaína, destacando os resultados
alcançados segundo discurso dos mesmos durante/após o processo psicoterápico,
sendo este considerado um dos temas relevantes na promoção da saúde.
Para tanto, este trabalho de pesquisa está estruturado a partir dos
seguintes tópicos: tema, problemática e justificativa; objetivos geral e específicos;
referencial teórico; delineamento da pesquisa; apresentação e discussão dos dados,
considerações finais; referências; anexos e apêndices.
1.1 TEMA: Dependência em cocaína e psicoterapia.
1.2 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA
Essa pesquisa justifica-se pelo fato das drogas serem um problema que
vem atingindo, indistintamente, homens e mulheres de todas as classes sociais e
econômicas, independente de idade, do nível de instrução e da profissionalização,
causando prejuízos físicos e uma série de problemas emocionais. O presente
trabalho tem como propósito estudar os resultados que podem ser atingidos por
meio do processo psicoterápico com pacientes dependentes de cocaína. No entanto,
antes de entrar propriamente na questão, serão apresentados alguns pontos
relevantes para contextualização do problema de pesquisa.
A atual política de assistência à saúde no Brasil, a partir da Reforma
Psiquiátrica (2001), propõe modificar como é vista e tratada a doença mental,
10
sugerindo a ruptura com o modelo biomédico, buscando aumentar a rede de apoio
aos pacientes psiquiátricos, tratando seu sofrimento e inserindo-o na sociedade.
A Reforma Psiquiátrica foi um movimento de caráter democrático e social
que visou a extinção progressiva dos manicômios, tentando assim, desmistificar a
loucura e socializá-la culturalmente. Contemporaneamente, há o abandono da visão
reducionista da saúde como ausência de doença e passa-se a considerar outros
fatores sociais, familiares e culturais que afetam a vida das pessoas. Essa nova
concepção dá um novo olhar à psiquiatria, ao campo da saúde mental, criando
novos modelos de atendimento e serviços oferecidos aos usuários, e aos familiares
(AMARANTE, 2003).
De acordo com o Ministério da Saúde, a política nacional de saúde mental
tem como objetivo:
[...] diminuir os leitos psiquiátricos, qualificar, expandir e fortalecer a rede
extra-hospitalar – Centros de Atenção Psicosocial (CAPS), Serviços
Residenciais Terapêuticos (SRTs) e Unidades Psiquiátricas em Hospitais
Gerais (UPHG) – incluir as ações da saúde mental na atenção básica,
implementar uma política de atenção integral a usuários de álcool e outras
drogas, implantar o programa “De Volta Para Casa”, manter um programa
permanente de formação de recursos humanos para reforma psiquiátrica,
promover direitos de usuários e familiares incentivando a participação no
cuidado, garantir o tratamento digno e de qualidade ao louco infrator
(superando o modelo de assistência centrado no Manicômio Judiciário) e
avaliar continuadamente todos os hospitais psiquiátricos por meio de um
Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares –
PNASH/Psiquiatria (BRASIL, 2007 a).
As propostas de serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos
configuram-se como principal estratégia para a atenção psicosocial que tem por
objetivo a diminuição das internações, a fim de proporcionar a reabilitação social dos
indivíduos, através do exercício de seus direitos civis, para fortalecer a rede de apoio
social e familiar, com o propósito de potencializar sua emancipação e autonomia.
Segundo Brasil (2005), para intermediar e potencializar este processo, a
política nacional de saúde mental incluiu a implementação de uma atenção integral
aos usuários de álcool e outras drogas, já que a saúde pública brasileira não vinha
se ocupando devidamente desse tema. Por um longo período, o Estado esteve
relativamente omisso em relação a essas questões, deixando-as a encargo das
instituições de justiça, segurança pública, pedagogia, benemerência e associações
religiosas, o que possibilitou a disseminação no país de serviços alternativos,
baseados em práticas médicas psiquiátricas ou religiosas, tendo como foco de
tratamento a abstinência. Os trabalhos dessas instituições são importantes, mas não
11
invalidam a participação mais contundente do Estado por meio de políticas públicas
claras e específicas com relação à prevenção e tratamento deste complexo
problema. (BRASIL, 2005).
O Estado deve ser um agente ativo neste processo, adotando novas
formas de intermediação, bem como desenvolver uma cultura mais responsável com
a participação de toda a sociedade, pois os impactos causados pelo uso indevido de
drogas lícitas e ilícitas, podem ser percebidos nos gastos crescentes com
tratamentos médicos e hospitalares, no aumento de morte prematura de usuários,
nos índices de acidentes de trânsito, de acidentes de trabalho e da violência urbana,
incluindo a perda da produtividade dos trabalhadores. (Brasil, 2008).
O Ministério da Saúde do Brasil ressalta que a cultura existente no país
em relação ao uso do álcool e outras drogas vem sendo associada à criminalidade e
práticas antisociais, colaborando com “tratamentos” que excluem os usuários do
convívio social. As implicações sociais, psicológicas, econômicas e políticas ligadas
ao tema devem ser consideradas de forma global, através de uma política de
alcance nacional no âmbito da saúde pública. Sendo assim, a partir da constatação
sobre a dimensão epidemiológica do consumo prejudicial e da complexidade em
relação à dependência das principais drogas no contexto brasileiro, o Ministério da
Saúde institui, no âmbito do SUS, o Programa Nacional de Atenção Comunitária
Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas (2002) e define “estratégias
específicas para a construção de uma rede de assistência aos usuários de álcool e
outras drogas, com ênfase na reabilitação e reinserção social.” (BRASIL, 2005).
O Programa Nacional de Atenção Integrada aos Usuários de Álcool e
outras Drogas (2002), propõe uma política focada em:
[...] organizar as ações de promoção, prevenção, proteção à saúde e
educação das pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas e
estabelece uma rede estratégica de serviços extra-hospitalares para esta
clientela, articulada à rede de atenção psicosocial e fundada na abordagem
de redução de danos. (BRASIL, 2005, p 5).
Neste contexto insere-se o Centro de Atenção Psicosocial (CAPS AD)
que é um dos dispositivos estratégicos baseados nos princípios da Reforma
Psiquiátrica e SUS, que tem como objetivo atender as necessidades de cada
paciente de forma integrada ao meio cultural e à comunidade em que estão
inseridos, utilizando a lógica ampliada de redução de danos. A proposta é
12
desenvolvida nos estados e municípios, por meio do Programa de Atenção Integral
recebendo incentivos para resgatar a rede de apoio social, bem como, disponibilizar
leitos em hospitais gerais para situações de urgência e emergência, além de outras
práticas de atenção comunitária como internação domiciliar e inserção comunitária
de serviços, de acordo com a população alvo do serviço. (BRASIL, 2005).
Com a implantação destas ações, o indivíduo que faz uso prejudicial de
álcool e outras drogas, poderá obter uma atenção direcionada para cada problema
em específico. A abordagem de redução de danos aplica-se aos indivíduos que, não
podendo, ou não querendo se abster, adotam práticas de risco ligadas ao uso de
drogas. Conforme Brasil (2005, p.5), esse é um dos
(...) eixos norteadores das ações no campo da saúde pública tendo como
objetivo reduzir os danos causados pelo abuso de drogas lícitas ou ilícitas,
resgatando o usuário em seu papel de auto-regulador, sem a exigência
imediata e automática da abstinência, e incentivando-o à mobilização social.
Esse aspecto preventivo em que se baseia a redução de danos é definido
por Brasil (2004) como um processo de planejamento, implantação e implementação
de múltiplas estratégias voltadas para a redução de fatores de risco específicos e
fortalecimento dos fatores de proteção. Tem como objetivo impedir uma escalada do
uso da substância psicoativa, minimizando as conseqüências globais do uso de
álcool e drogas, sem a exigência da abstinência como a única meta viável e possível
aos usuários do serviço.
Os elementos em que se baseiam as estratégias de prevenção,
contemplam o fornecimento de informações sobre o tema em questão, alternativas
de lazer e atividades livres de drogas, com a possibilidade de identificação de
problemas pessoais e o acesso ao suporte para tais problemas. É fundamental
ainda, intervenções no sentido de fortalecer os vínculos afetivos, o estreitamento dos
laços sociais e a melhora da autoestima. (BRASIL, 2004).
O CAPS AD oferece atendimento diário aos pacientes que fazem uso
prejudicial de álcool e outras drogas, fato que permite intervenções precoces e
planejamento terapêutico dentro de uma perspectiva individualizada de evolução
contínua, entre as quais atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de
orientação e outros), atendimento em grupos ou oficinas terapêuticas e visitas
domiciliares. Proporciona inclusive condições para repouso, bem como para a
desintoxicação ambulatorial de pacientes que demandam desse tipo de cuidado e
13
que não necessitam de atenção clínica hospitalar, minimizando assim o estigma
associado ao tratamento. (BRASIL, 2004).
Essa estratégia pragmática permite que os usuários dos serviços de
saúde sejam reconhecidos na sua singularidade, acolhidos pelos profissionais, sem
julgamento, conforme a necessidade específica de cada situação e de cada sujeito,
com o objetivo de oferecer-lhes o que é preciso e possível para estimular a
participação e engajamento efetivo na transformação da realidade apresentada em
defesa da vida. (BRASIL, 2005).
O consumo de substâncias psicoativas tem sido cada vez mais uma
característica comum da maioria das civilizações. De acordo com a OMS (2004), o
número de usuários no mundo no período de 2000 a 2001, foi de 14,1 milhões ao
ano. Segundo Gitlow (2008), nas classes privilegiadas o problema tem se tornado
freqüente, pois os sujeitos bem sucedidos social e profissionalmente, consomem
drogas com freqüência devido à disponibilidade financeira e facilidade de adquirir as
substâncias. No entanto, são os menos favorecidos que estão mais expostos à
violência decorrente da mesma. A dificuldade de recuperação é potencializada pela
sensação de invulnerabilidade proporcionada pela ingestão da droga que, associada
ao relacionamento psicológico da cocaína, por exemplo, com diversão e trabalho,
leva à negação do problema. (GITLOW, 2008).
A utilização de substâncias psicoativas nos diferentes segmentos da
sociedade, bem como as discussões que esse tema representa nas pautas de
políticas
públicas
de
saúde
e
nos
meios
científicos,
justificam-se
pelas
conseqüências que o uso destas acarreta às pessoas. O consumo das drogas pode
ocasionar sofrimento aos usuários, proporcionar diminuição da qualidade de vida,
prejudicar as relações com amigos, família, formação educacional e profissional,
bem como, causar problemas psicológicos ao indivíduo, fazendo com que o mesmo
não tenha mais o controle sobre suas ações. (COUTINHO; ARAÚJO; GONTIÈS,
2005). Entretanto, o uso da droga também pode ser o resultado da tentativa do
usuário de lidar com as questões de vida acima citadas, buscando encontrar
soluções alternativas dos problemas existentes por meio do consumo de cocaína.
Para que o individuo possa se recuperar, o papel do psicólogo é
fundamental, viabilizando que o usuário possa receber um tratamento direcionado e
adequado para o problema específico. Frente a estes aspectos, o psicólogo tem
como intervir junto ao paciente, possibilitando a compreensão de sua motivação para
14
o uso da substância e abstinência. Depois de compreendido, auxiliá-lo a desenvolver
habilidades para enfrentar as situações-problema que ocorrem na vida, sem que
seja necessária a utilização da droga. É importante que o tratamento seja executado
em conjunto com outros profissionais da área da saúde, pois o consumo de drogas
envolve aspectos psicológicos, sanitários, educativos, políticos, culturais e sociais.
Com isso é necessária uma integração de ações preventivas de controle e de
tratamento, de forma que possam atuar no pólo, da demanda com um trabalho de
prevenção
sócio-educativa,
desenvolvida
por
uma
equipe
multidisciplinar.
(COUTINHO; ARAÚJO; GONTIÈS, 2005).
O presente trabalho visa colocar em prática os conhecimentos adquiridos
pela pesquisadora na academia, bem como estudar a realidade de indivíduos com
dependência química que necessitam de ajuda por parte de profissionais, da
sociedade e da própria família. A relevância social do trabalho se dá principalmente
por pesquisar os discursos de sujeitos que necessitam de tratamento diferenciado,
atendidos nos vários níveis de atenção, que buscam uma reintegração ao convívio
social.
Diversas pesquisas já foram desenvolvidas sobre o tema em questão,
mas não foi possível identificar nenhum estudo que revelasse os resultados
alcançados e descritos pelos pacientes com relação ao tratamento psicoterápico.
Destaca-se a seguir breves considerações sobre os artigos disponíveis no Scielo,
Bireme, Psicologia on-line e na Biblioteca Virtual em Saúde (bvs-psi).
No artigo “Avaliando a motivação para mudança em dependentes de
cocaína”, os autores Orsi; Oliveira (2006) apresentam um estudo que se fundamenta
em uma pesquisa realizada junto a pacientes internados devido a problemas
relacionados à dependência de cocaína. Teve como objetivo identificar o grau de
motivação para a mudança em relação à questão da droga. Foi possível averiguar
que o fato dos pacientes buscarem tratamento não necessariamente quer dizer que
eles estejam motivados para alterar a situação. O trabalho ressalta a importância de
estratégias terapêuticas que conscientizem os dependentes do problema, por meio
de intervenções que os auxiliem a encontrar as suas próprias razões para evocar a
mudança e que estejam convictos delas. O artigo ainda salienta a importância de
uma avaliação individual aprofundada de cada paciente, com destaque para as
intervenções individuais focadas na motivação para mudança do indivíduo, levando
em consideração possíveis sintomas psiquiátricos e a gravidade da dependência.
15
O artigo “Comunidades terapêuticas como forma de tratamento para a
dependência de substâncias psicoativas”, apresenta como a dependência pode ser
tratada sob diversas formas nas comunidades terapêuticas, em pacientes que
buscam essas instituições e como eles lidam com o tratamento para a dependência
de substâncias psicoativas. (SABINO; CAZENAVE, 2008).
O artigo intitulado “Modelos de análise do uso de drogas e de intervenção
terapêutica: algumas considerações”, apresenta as propostas das últimas décadas
para usuários, focados em medidas educativas que poderão contribuir para a
ressocialização dos dependentes. (REZENDE, 2008).
A análise desses trabalhos científicos representou mais uma fonte de
motivação para realização deste estudo, pois não foram encontradas pesquisas
realizadas
sobre
resultados
psicoterapêuticos
alcançados
e
descritos
por
dependentes em cocaína.
A maior parte das abordagens psicoterápicas da dependência acredita na
abstinência da substância como um pré-requisito para o sucesso do tratamento,
desconsiderando, em alguns casos, a recaída como parte importante do processo
terapêutico. Mas é fundamental não encarar o uso de substância como um fenômeno
sem meios-termos. Estudos revelam um alto índice de recaídas nos indivíduos,
mesmo após tratamentos, e por isso a recaída deve ser concebida sob vários
aspectos. Quando se adota um enfoque mais pessimista, a recaída é considerada
como um fracasso do tratamento ou retorno ao estado de doença. Por outro lado,
essa pode ser vista como um deslize que faz parte do processo de recuperação. A
origem do termo recaída vem da palavra em latim relabi que quer dizer “deslizar, cair
para trás”, como nem todo lapso ocasiona numa recaída, existe a possibilidade de se
extrair benefícios desse evento, através de uma perspectiva mais otimista e
desafiadora na evolução do tratamento. (MARLATT E GORDON, 1993).
Na compreensão de Gabbard (1998), a psicoterapia com abusadores de
drogas baseada na abordagem psicodinâmica trata o problema da dependência
química sem enfocar na abstinência e nem se ater à possibilidade de recaída. Trata
das psicopatologias associadas, por meio de técnica psicoterapêutica dos distúrbios
subjacentes, como ansiedade, depressão, transtornos de personalidade, problemas
de autoestima ou deficiências do ego.
Para o autor, tratar a abstinência
isoladamente, não leva a mudanças em outras áreas da vida. Os dependentes
travam uma luta contra a vontade de usar a droga e com o luto por sua perda, por
16
isso, deve ficar claro que a utilização da substância é uma resposta adaptativa a seus
problemas frente à vida. A intervenção do terapeuta deve identificar os problemas
subjacentes de modulação de afeto, de regulação de autoestima e de relações
interpessoais para que o paciente encontre soluções alternativas para os mesmos.
Retomando ainda a temática da recaída que para Marlatt e Donovan
(2009), a recaída deve ser tratada por meio de técnicas para prevenir ou administrar
sua ocorrência. Nesse caso, busca-se identificar situações de risco em que o
indivíduo é vulnerável à recaída, estimulando a utilização de estratégias de
manutenção e enfrentamento cognitivos e comportamentais de prevenção. No
entendimento dos autores, a recaída é considerada comum no processo de
tratamento de problemas psicológicos. A maioria dos indivíduos que tenta mudar
qualquer tipo de comportamento, seja com que objetivo for, estarão sujeitos a lapsos
que frequentemente conduzem a recaída.
Desse modo, surgem questionamentos sobre a maneira através da qual a
psicologia tem contribuído nas abordagens feitas frente à dependência química.
Espera-se que essa pesquisa possa fornecer dados sobre os resultados alcançados
pelo trabalho psicoterápico segundo a percepção dos pacientes, bem como, gerar
discussão sobre conceitos que podem ser utilizados nas práticas futuras de
intervenção psicológica junto aos usuários de drogas e seus familiares, que
necessitam de atendimento nos vários níveis de atenção à saúde.
A pesquisa poderá ainda fornecer informações para que se possa efetuar
uma avaliação e planejamento de tratamento pertinente aos pacientes com
dependência química em cocaína que demandam intervenção psicológica. Dessa
forma, cooperar com a sociedade, com o meio acadêmico e científico, que poderá
conhecer os serviços desenvolvidos nos vários níveis de atenção que prestam
atendimento psicoterápico a pacientes que fazem uso de cocaína, desenvolver
estudos e servir como fonte de pesquisa ou mesmo de publicações acerca do uso de
substâncias psicoativas.
A relevância acadêmica se justifica por apresentar um estudo focado sob a
perspectiva dos pacientes, com isso contribuir para aplicação da psicologia em
campo prático, bem como, para o crescimento pessoal e profissional da acadêmica.
Com a realização do estágio, a pesquisadora pôde aplicar na prática os
conhecimentos adquiridos durante o curso, bem como contribuir com novas
17
experiências, na troca de informações com o paciente e suas relações com o
problema proposto.
Diante do exposto, apresenta-se o seguinte problema de pesquisa: Quais
os resultados alcançados e descritos por sujeitos com dependência química em
cocaína que estão ou estiveram em processo psicoterápico?
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo geral
Identificar os resultados alcançados e descritos por sujeitos dependentes
químicos em cocaína que estão ou estiveram em processo psicoterápico.
1.3.2 Objetivos específicos
a) Verificar quais os serviços, nos diferentes níveis de atenção à saúde
que prestam atendimento a sujeitos com dependência química em cocaína.
b) Verificar quais são as expectativas que os dependentes em cocaína
têm em relação ao tratamento psicoterápico;
c) Identificar se os dependentes em cocaína estão ou estiveram
submetidos à outra forma de tratamento.
d) Coletar dados junto a sujeitos com dependência química em cocaína,
acerca dos resultados alcançados a partir do processo psicoterápico.
18
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo pretende explanar sobre os pressupostos teóricos que
serviram de argumentação para responder ao problema de pesquisa. Serão
abordados temas relacionados à definição de droga; classificações; cocaína; ação
cerebral; sintomas gerais; transtornos; sintomas psicológicos; aspectos sociais;
família e tratamentos.
A Organização Mundial da Saúde – OMS (1981), há muito tempo ocupase da questão das drogas, definindo-as como qualquer substância que, não sendo
produzida pelo organismo, tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus
sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento (OBID, 2003). Uma droga
não pode ser considerada por si só boa ou má. Essa dualidade é contemplada nas
substâncias que são utilizadas com a finalidade de produzirem efeitos benéficos,
como os medicamentos, e outras que são utilizadas de forma inadequada
provocando malefícios à saúde, como os venenos ou tóxicos. Cabe destacar que
uma mesma substância pode funcionar como um medicamento em algumas
situações, e como tóxico em outras, mas a questão principal no que diz respeito às
drogas é o tipo de relação que cada indivíduo pode estabelecer com ela. (OBID,
2003).
A relação do indivíduo com cada substância passa pela motivação para
usá-la, podendo estar associada a pressões culturais e ambientais, somadas aos
efeitos positivos de prazer e necessidade de alívio de sensações desagradáveis
inerentes
à
condição
humana.
Mesmo
com
possível
aparecimento
das
conseqüências negativas, existe uma sensação de necessidade de uso da droga na
forma de compulsão ou fissura, que mantém o uso. Dependendo do contexto, pode
ser inofensiva ou apresentar poucos riscos, mas também é capaz de assumir
padrões de utilização disfuncionais, como prejuízos biológicos, psicológicos e
sociais. Face a isto, justifica-se a divulgação por diversas instituições ligadas à
Saúde Pública de informações a respeito dos danos que a droga acarreta, afetando
direta ou indiretamente a qualidade de vida do ser humano. (BRASIL, 2008).
A presente pesquisa trata especificamente de cocaína, que é uma droga
psicoativa. Segundo a OMS (1981 apud AZEVEDO, 2008, p. 25) as substâncias
psicoativas são aquelas
19
[...] que ao entrarem em contato com o organismo, sob diversas vias de
administração, atuam no sistema nervoso central produzindo alterações de
comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade
reforçadora sendo, portanto, passíveis de auto-administração.
Essas
substâncias
alteram
o
funcionamento
cerebral,
causando
modificações no psiquismo, de onde advém outro termo similarmente utilizado ao de
drogas psicotrópicas. (BRASIL, 2008). Braun (2007) alerta para o potencial de abuso
das substâncias com ações psicotrópicas e sua ação reforçadora, ou seja, usada
uma ou mais vezes, aumenta a probabilidade do sujeito usá-la novamente, bem
como a dificuldade de abandoná-la, apesar dos eventuais danos causados. Na
linguagem leiga fala-se em vício, e tecnicamente, denominam-se transtornos de
abuso e dependência. Graeff (1989) as define como um conjunto de medicamentos
psicoterapêuticos e de drogas psicoestimulantes e alucinogênicas, que atuam
principalmente alterando comportamento e as funções mentais. As drogas
psicotrópicas atuam seletivamente em certos mecanismos nervosos e não em
outros, possibilitando uma dissecção farmacológica do SNC.
Cabe ressaltar que, nem toda a substância tem a capacidade de causar
dependência, pois as alterações do estado mental não dependem somente do tipo
de droga ingerida, mas das condições físicas e emocionais da pessoa e do contexto
sócio-cultural, ambiental em que o uso se dá, bem como, das expectativas que o
usuário tem com relação à substância. (OBID, 2003).
Em relação as patologias associadas à droga, destaca-se que o Manual
de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais-IV (DSM-IV), conforme Kaplan
(1997), deixou de utilizar a terminologia substância psicoativa, anteriormente
utilizada, passando a usar somente substância e transtornos relacionados a
substâncias, no que diz respeito às drogas. O termo limitava-se às substâncias que
tinham como principal efeito uma atividade de ação cerebral, como acontece com a
cocaína, e desconsiderava substâncias químicas com a mesma propriedade, como
os solventes orgânicos, que podem ser ingeridos por acidente ou propositalmente.
Além disso, cabe salientar que não era possível separar também a utilização de
substâncias empregadas de forma distinta de sua finalidade original, como a morfina
e outras que não se destinam ao consumo humano como, por exemplo, cola de
avião.
20
Em contrapartida, na Classificação Internacional de Doenças, CID-10
(1993), o termo psicoativa persiste. As substâncias listadas pela CID-10 (1993), no
que se refere aos Transtornos Mentais e de Comportamento Decorrentes do Uso de
Substâncias Psicoativas incluem álcool, opióides (morfina, heroína, codeína,
diversas substâncias sintéticas), canabinóides (maconha), sedativos ou hipnóticos
(barbitúricos, benzodiazepínicos), cocaína, outros estimulantes (incluindo a cafeína),
alucinógenos, tabaco, solventes voláteis, uso de múltiplas drogas e de outras
substâncias psicoativas. Já o DSM –IV (2003), descreve as substâncias agrupadas
em onze classes: álcool; anfetamina ou simpaticomiméticos de ação similar; cafeína;
canabinóides; cocaína; alucinógenos; inalantes; nicotina; opióides; fenciclidina
(PCP) ou arilciclohexilaminas de ação similar; e sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos.
As classes seguintes compartilham aspectos similares: o álcool compartilha
características dos sedativos, hipnóticos e ansiolíticos, e a cocaína compartilha
características das anfetaminas ou simpaticomiméticos de ação similar. Inclui
também Dependência de Múltiplas Substâncias e Transtornos Relacionados a
Outras Substâncias ou Substâncias Desconhecidas (incluindo a maior parte dos
transtornos relacionados a medicamentos ou toxinas).
O DSM-IV (2003) esclarece que os Transtornos Relacionados a
Substâncias contemplam desde o consumo de drogas de abuso, incluindo o álcool,
até os efeitos colaterais de um medicamento e exposição a toxinas, sendo que são
basicamente semelhantes às mencionadas acima pela CID-10.
Os Transtornos Relacionados a Substâncias são subdivididos em dois
grupos: Transtorno por Uso de Substância (dependência e abuso) e Transtornos
Induzidos por Substâncias (intoxicação, abstinência, delirium induzido, demência
persistente induzida, transtorno amnestésico persistente induzido, transtorno de
humor induzido, transtorno de ansiedade induzido, disfunção sexual induzida,
transtorno do sono induzido). (DSM-IV, 2003).
21
Quadro comparativo DSM-IV e CID-10:
DSM-IV
Transtornos relacionados à substância:
Uso de Substância
Transtorno
Induzido
Dependência
CID-10
Transtornos mentais e de
comportamentos decorrentes do uso da
substância psicoativa:
Abuso
Síndrome de dependência
Uso Nocivo
Intoxicação
Abstinência
Intoxicação Aguda
Síndrome de Abstinência
Delirium
Demência
T. Amnéstico
T. Psicótico
Síndrome de Abstinência e Delirium
Síndrome Amnésica
Transtorno Psicótico e
Transtorno Psicótico Residual
T. de Humor
T. de Ansiedade
Disf. Sexual
T. do Sono
Além dos subsídios apresentados para a condução das diretrizes
diagnósticas, é fundamental a identificação da substância psicoativa usada ou
abusada pelo paciente, a freqüência com que é utilizada, outras drogas e álcool que
podem ou não estar associados, bem como, transtornos mentais concomitantes.
Essas informações podem ser fornecidas pelo paciente, através de exames de
sangue e urina, por meio de sinais clínicos ou até relatos de parentes ou amigos.
(CID-10, 1993).
Existem várias formas de classificação no que tange às drogas. Do ponto
de vista legal, elas podem ser consideradas ilícitas quando são proibidas por lei e as
lícitas quando podem ser livremente obtidas, enquanto que algumas são submetidas
a possíveis restrições, como as prescrições médicas. (BRASIL, 2008). As drogas
ainda podem ser classificadas também pelas suas ações sobre o sistema nervoso
central (SNC) e são apresentadas por Gitlow (2008), como depressoras,
estimulantes e perturbadoras, conforme as modificações observáveis na atividade
mental.
Dessa forma, como afirma Brasil (2008), a cocaína, foco deste trabalho, é
considerada uma droga ilícita, denominada de psicoativa, com características
22
estimulantes, pois acelera o funcionamento do cérebro causando danos e atuando
sobre o neurotransmissor de serotonina além da noradrenalina e da dopamina.
Gitlow (2008) salienta que estudos em humanos com relação aos danos causados
pelo uso contínuo de doses altas de estimulante não estão claros, mas sugerem
algum tipo de dano aos neurônios. Observa-se ainda que, em alguns casos, mesmo
após recuperação, persistem danos à cognição, incluindo sintomas psiquiátricos.
(GITLOW, 2008).
A cocaína é uma substância extraída de uma planta exclusiva da América
do Sul: a Erythroxylon Coca. Normalmente chega ao consumidor sob a forma de um
pó cristalino branco, podendo ser aspirado por via nasal ou dissolvido em água para
uso endovenoso, ou ainda sob a forma de uma pasta-base pouco solúvel em água,
mas que se torna volátil quando aquecida e pode ser fumada. O crack, como é
conhecida esta base, ocasiona maior intoxicação do que a utilização do pó.
(GITLOW, 2008). O uso de álcool é associado na maior parte dos casos,
potencializando e prolongando seus efeitos, já as combinações de maconha com
cocaína também são populares, pois elevam os efeitos eufóricos.
A CID-10 (1993) e o DSM-IV (2003) utilizam denominações semelhantes
às anteriormente apresentadas neste trabalho com relação aos transtornos
relacionados a substâncias, para do mesmo modo descrever cada uma das
substâncias a partir de suas especificidades.
No
quadro
abaixo
estão
os
aspectos
destacados
pela
CID-10
especificamente sobre os “transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de
cocaína” e em seguida o quadro dos “transtornos mentais relacionados à cocaína”
para o DSM–IV:
F14 - Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso
da cocaína
F14.0 - Intoxicação aguda
F14.1 - Uso nocivo para a saúde
F14.2 - Síndrome de dependência
F14.3 - Síndrome [estado] de abstinência
F14.4 - Síndrome de abstinência com delirium
F14.5 - Transtorno psicótico
F14.6 - Síndrome amnésica
F14.7 - Transtorno psicótico residual
23
F14.8 - Outros transtornos mentais ou comportamentais
F14.9 - Transtorno mental ou comportamental não especificado
Fonte: CID10 (1993).
Transtornos Relacionados à Cocaína
Transtornos por
uso de Cocaína
Dependência de Cocaína
Abuso de Cocaína
Intoxicação com Cocaína
Abstinência de Cocaína
Delirium por Intoxicação com Cocaína
Transtorno Psicótico Induzido por Cocaína, com
delírios
Transtornos
Induzidos por
Cocaína
Transtorno Psicótico Induzido por Cocaína, com
alucinações
Transtorno de Humor Induzido por Cocaína
Transtorno de Ansiedade Induzido por Cocaína
Transtorno Sexual Induzido por Cocaína
Transtorno do Sono Induzido por Cocaína
Transtorno Relacionado à Cocaína sem outras
especificações
Fonte: DSM – IV – TR (2003).
Quadro comparativo entre CID-10 e DSM - IV
CID-10
Transtornos mentais e comportamentais
devido ao uso da cocaína:
Intoxicação aguda
Uso nocivo para a saúde
Síndrome de dependência
Síndrome (estado) de abstinência
Síndrome de abstinência com delirium
Transtorno psicótico
Síndrome amnésica
DSM-IV
Transtornos relacionados à cocaína:
Transtorno por uso de cocaína
Transtornos Induzidos por cocaína
Intoxicação com cocaína
Abuso de cocaína
Dependência de cocaína
Abstinência de cocaína
Abstinência de cocaína
Delirium
Transtorno psicótico
24
Transtorno psicótico residual ou de
instalação tardia
Transtorno psicótico
Outros transtornos
Transtorno de humor
Transtorno de ansiedade
Disfunção sexual
Transtorno de sono
Transtorno mental ou comportamental não
especificado
Fonte: CID (1993); DSM (2003).
No
que
se
refere
aos
transtornos
mentais
e
comportamentais
relacionados ao uso de cocaína, a CID-10 (1993) explica a “intoxicação aguda”
devido ao uso de cocaína como um estado conseqüente ao uso da substância
psicoativa, contemplando alterações de consciência, cognição, percepção, afeto,
comportamento ou demais funções e respostas fisiológicas. Estas perturbações têm
relação com os efeitos da droga consumida, desaparecendo com tempo, salvo
quando surgir lesões orgânicas e outras complicações como traumatismo, aspiração
de vômito, delirium, convulsões e outras possíveis complicações médicas,
dependendo da substância consumida e seu modo de administração. Da mesma
forma, o DSM-IV (2003), comenta que a “intoxicação com cocaína” freqüentemente
começa com a sensação de “barato”, incluindo uma ou mais alterações psicológicas
e
comportamentais
acima
mencionadas,
geralmente
associadas
com
comprometimento ocupacional e social importante. A extensão das alterações
descritas pela CID-10 (1993), está em concordância com o DSM-IV (2003) quando
afirma que depende das características individuais do usuário, da dose consumida,
não sendo decorrentes de condição médica geral e nem explicados por outro
transtorno mental.
A CID-10 (1993) apresenta como “uso nocivo para a saúde” um modo de
consumo prejudicial da cocaína, com a possibilidade de complicações físicas ou
psíquicas. Já o DSM-IV (2003) denomina de “abuso de cocaína” e esclarece que
neste aspecto a intensidade e freqüência da utilização da cocaína são menores do
que
na
dependência.
Mesmo
assim, os
usuários
costumam
negligenciar
responsabilidades e compromissos familiares, sociais e de trabalho, tendo com
freqüência conflitos interpessoais e dificuldades legais que podem acontecer em
decorrência de porte ou uso da droga.
25
A “síndrome de dependência” de cocaína é fundamentada pela CID-10
(1993), como um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos
que se manifestam após o uso repetido, associado ao desejo de consumir a
substância com dificuldade de controle. Mesmo com conseqüências nefastas, a
droga é prioridade em detrimento de outras atividades e obrigações. Há um aumento
de tolerância e algumas vezes sintomas de abstinência física. Além dos mesmos
fenômenos colocados acima, o DSM-IV (2003) ressalta que os efeitos euforizantes
produzidos pela cocaína são potentes, com uma curta duração, levando os
indivíduos à dependência, caracterizada quando o sujeito sente dificuldade de
resistir a substância sempre que disponível. Na “dependência de cocaína” como é
intitulado pelo DSM-IV (2003), os sujeitos podem gastar quantias altas de dinheiro,
podendo envolver-se em furtos, prostituição ou até mesmo ao tráfico com objetivo de
custear a dependência. Com freqüência, intercalam o uso para descansar ou obter
mais dinheiro, negligenciando algumas vezes emprego ou cuidados com filhos. As
complicações psicológicas e físicas já mencionadas pela CID-10, são descritas pelo
DSM-IV (2003) como: ideação paranóide, comportamento agressivo, ansiedade,
depressão e perda de peso. A tolerância pode ocorrer com uso continuado, não
importando a via de administração, bem como, sintomas de abstinência e sinais de
dependência fisiológica da droga, já mencionadas acima. (DSM-IV, 2003).
Sob o ponto de vista da CID-10 (1993) a “síndrome de abstinência” da
cocaína é um conjunto de sintomas que o DSM-IV (2003), em concordância
conceitua como “abstinência de cocaína" que se desenvolvem a partir da cessão ou
redução do uso pesado ou prolongado. Os sintomas são observados por meio de
humor disfórico, com algumas alterações fisiológicas, causando sofrimento e
prejuízo funcional, social e ocupacional ou em outras áreas. Tendência de aumentar
a possibilidade de recaída e o desejo pela droga. Cabe ressaltar que uma grande
maioria de dependentes de cocaína, em algum momento durante o uso, teve sinais
de dependência fisiológica da droga, assim como, sintomas depressivos e ideação
suicida. Quando este estado é acrescido de delirium ou fatores orgânicos como
convulsões, a CID-10 (1993) define como “síndrome de abstinência com delirium”.
Conforme explanados pelo DSM-IV (2003) “outros transtornos induzidos
por cocaína” são sintomas em excesso sem caracterizar intoxicação ou abstinência
como delirium, transtorno psicótico, transtorno de humor, transtorno de ansiedade,
disfunção sexual, transtorno de sono. Já a CID-10 (1993) denomina, distintamente,
26
de “transtorno psicótico”, “síndrome amnésica”, “transtorno psicótico residual ou de
instalação tardia” e “outros transtornos mentais ou comportamentais”, relacionados
ao uso de cocaína, explicando-os de acordo com DSM-IV (2003), mas mantendo os
sintomas específicos correspondentes.
A ação da cocaína no cérebro quando consumida provoca em muitos de
seus usuários sensações de agitação psicomotora, rapidez na fala e elevação do
humor, acompanhados de insônia severa e falta de apetite. Alguns pacientes
relatam que os efeitos decorrentes do uso de cocaína fazem com que tenham a
sensação de maior energia, mesmo quando realizam esforços excessivos, o que
pode ser prejudicial. (GITLOW, 2008). Outras alterações relacionadas às
conseqüências do consumo associadas a doses tóxicas são capazes de serem
observadas nos pacientes e são salientadas por Kaplan (1997) como irritabilidade,
agressividade, concentração comprometida e comportamento compulsivo.
Podem ocorrer dificuldades médicas importantes para aqueles que fazem
uso de cocaína, da mesma forma que transtornos psiquiátricos podem aparecer
mais cedo e serem potencializados com a utilização da droga. Como afirma Gitlow
(2008), os usuários podem apresentar intoxicações correndo um risco significativo
de
danos
ao
septo
nasal,
infecções
pulmonares,
doenças
sexualmente
transmissíveis, infarto do miocárdio, morte repentina, falhas de condução ventricular,
arritmias e convulsões generalizadas, associadas à via de administração. Brasil
(2008) acrescenta que acidentes vasculares cerebrais (AVC) também tem
acontecido com freqüência em sujeitos relativamente jovens que fazem uso de
cocaína. Cabe ressaltar que as complicações médicas podem não só estar ligadas
ao uso ou abuso do estimulante, mas também às impurezas intencionalmente
acrescentadas ao produto. (GITLOW, 2008).
Freqüentemente os dependentes de cocaína e de outros estimulantes
associam algumas questões ligadas ao estilo de vida, como festas e outras reuniões
sociais, bem como, a melhora da atividade sexual, como desencadeantes para
estimular o uso da droga. Especificamente a relação entre sexo e cocaína torna-se
mais forte à medida que o uso aumenta, deixando os usuários desinibidos e
vulneráveis na escolha indiscriminada dos parceiros, correndo risco de adquirir
doenças sexualmente transmissíveis. Face a isto, a atividade sexual leva o
dependente ao desejo de cocaína e ao maior risco de recaída, portanto, durante o
27
processo de recuperação algumas mudanças no estilo de vida devem ser
repensadas. (GITLOW, 2008).
A partir do ponto de vista de Gabbard (1998), frente a uma visão
psicodinâmica, há possibilidade do usuário de drogas ilícitas ter tido experiências
adversas na infância e problemas no relacionamento com os pais, considerados
fatores preditivos significativos do abuso de drogas. A esse respeito Debled e Stotz
(2009) afirma que a passagem da infância para a vida adulta é uma fase repleta de
perdas importantes, onde é necessária a elaboração do luto. A criança perde o
corpo infantil para que se construa um corpo adulto, perde o amor incondicional dos
pais por um novo relacionamento entre iguais, além da expectativa do desconhecido
que está por vir. Na busca de sua identidade, tem urgência em separar-se dos pais
aproximando-se dos amigos como apoio nessa transição, contemplando uma etapa
de
descobertas
e
desenvolvimento,
ao
mesmo
tempo,
de
sofrimento
e
desestabilizações.
Essas vivências são fundamentais na vida do sujeito, mas é necessário
que ele esteja “instrumentalizado” para encará-las, pois algumas dessas
experiências podem ser frustrantes. Os jovens adultos demandam por liberdade e
querem ao mesmo tempo alguém que lhes prive. Envoltos num turbilhão de
emoções acabam por configurar, ou não, em crises generalizadas. Os pais, por não
saberem como lidar com elas podem abandonar seus filhos, que para restaurar a
atenção perdida, geralmente, respondem com rebeldia e transgressões, de onde
advém a hipótese do abuso de drogas como uma tentativa de fazer existir a lei.
Portanto, o acompanhamento dos pais é essencial em todas as etapas da vida dos
filhos, para que eles experimentem a vida com limites, que possam ouvir e ser
ouvidos, mas principalmente, que construam a sua história, assumindo a
responsabilidade pelos seus desejos. (DEBLED E STOTZ, 2009).
De acordo com Kalina e Kovadloff (1980) o uso de substâncias pode ser
uma prática de fuga ao sofrimento e frustração, o difícil é compreender que o uso
seja para aplacar uma dor causando outra. Percebe-se que a dor mais intolerável é
a dor da imprevisibilidade da vida, assim como a impossibilidade de manter tudo
sobre controle, como se o usuário tivesse resistência em aceitar a própria condição
humana. Na opinião do autor supracitado, as origens da dependência química estão
ligadas à fase oral do desenvolvimento infantil, mesmo no que diz respeito a
substâncias inaladas como a cocaína. Outro aspecto a ser considerado é a
28
impulsividade, ou seja, a incapacidade para suportar qualquer demora para atingir o
objeto almejado. Portanto, é fundamental que os usuários aprendam a dizer não,
que reconheçam as leis, os limites e suas consequências. Cabe ressaltar que a
droga produz uma inflação inútil do narcisismo e impede que seja percebido o
processo
de
autodestruição,
reativando
a
crença
do
paciente
em
sua
invulnerabilidade e imortabilidade.
Existe também a idéia de que a utilização de drogas pode servir como
“automedicação” associada a sintomas psiquiátricos surgidos anteriormente e/ou
que são desenvolvidos com a dependência química, como transtorno de
personalidade antisocial, transtorno de ansiedade, depressão, transtorno de déficit
de atenção, geralmente, precedendo o início do abuso de cocaína, transtornos
afetivos e abuso de álcool concomitante ao abuso de cocaína. OBID (2003, p. 2)
sustenta que
[...] a alta prevalência de transtornos psiquiátricos concomitantes e a
distinção diagnóstica entre os sintomas do uso da substância e outros
transtornos devem receber particular atenção e tratamento específico para
comorbidades deve ser providenciado.
Gabbard (1998) acrescenta que os efeitos proporcionados pelo uso da
droga podem levar à dependência, pois são considerados como uma tentativa de
compensar os déficits do funcionamento do ego, ou seja, obtém novamente a
sensação de poder, de desamparo e controles afetivos, diminuindo o prejuízo
narcisista.
Nesse sentido, os sujeitos com personalidade antisocial aparecem com
freqüência nas pesquisas de investigadores citadas por Gabbard (1998), como um
transtorno característico entre os abusadores de drogas, principalmente da cocaína.
Diferente dos abusadores de substâncias que não apresentam transtorno de
personalidade antisocial, os que possuem esse diagnóstico costumam ser mais
depressivos, impulsivos, isolados e normalmente estão insatisfeitos com suas
próprias vidas, por isso necessitam de uma abordagem individualizada quando
procuram tratamento. (GABBARD, 1998).
Na visão de Gabbard (1998), sujeitos que não tem recursos próprios de
enfrentamento, abusam de substâncias como mecanismos defensivos e adaptativos,
o que potencializa defesas do ego e revertem estados regressivos que atuam contra
afetos como raiva, vergonha e depressão. Além disso, os dependentes crônicos são
29
considerados, algumas vezes pelos estudiosos da psicodinâmica como hedonistas,
com tendência à autodestruição, pois apresentam dificuldade no julgamento sobre
os perigos decorrentes do abuso. Na concepção de Gabbard (1998), os
dependentes de drogas são inábeis para tolerar e regular a aproximação
interpessoal, bem como, são incapazes de manter a autoestima, adequar seus
afetos e controlar seus impulsos associados à intimidade, dificultando assim suas
relações objetais.
Ainda no que diz respeito a automedicação, é sustentada por Khantzian
(1985 apud GABBARD, 1998), como forma do dependente químico obter alívio de
estados dolorosos que são evitados, determinando a escolha de substâncias
específicas para obtenção de efeitos farmacológicos e psicológicos, conforme a
demanda de cada sujeito. No caso da cocaína, Gabbard (1998) coloca que o uso
alivia o sofrimento decorrente da depressão, hiperatividade e hipomania,
aparentemente diminuindo a sensação de raiva do usuário. Sentimentos como
desvalia, culpa, autocrítica e vergonha estão presentes e são combatidos pelos
dependentes. Sendo que a depressão é comandada pelo superego, por meio de
uma consciência extremamente crítica e rígida que os efeitos da droga aplacam.
(GABBARD, 1998). Após os subsídios relatados sobre aspectos relacionados à
cocaína, serão descritas a seguir algumas formas de tratamentos para dependentes
químicos.
2.1 TRATAMENTOS
Tratamento é a forma pela qual os indivíduos procuram obter ajuda frente
a algum tipo de doença ou problema com causa específica. No que diz respeito a
dependência química de cocaína, os tratamentos são os mais variados, na sua
maioria são de natureza psicosocial, combinando sessões de psicoterapia individual
e de grupo, participação em reuniões de 12 passos, prevenção de recaída,
educação familiar e apoio social durante algumas semanas. (GITLOW, 2008). O
autor supra citado apresenta este modelo de tratamento e afirma que o mesmo tem
contribuído para a redução do uso de estimulantes e que a inclusão da família no
tratamento tem diminuído o índice de recaída. A esse respeito, autores como
30
Gabbard, Gitlow e Kaplan, concordam que a indicação de psicoterapia como parte
do tratamento contribui substancialmente para a recuperação dos dependentes
químicos.
Gabbard (1998) salienta que os transtornos relacionados ao abuso de
substâncias apresentam um dos complexos problemas para os clínicos, pois com
freqüência os pacientes abandonam o tratamento e/ou acabam recaindo. Ainda no
que se refere ao tratamento, Kaplan (1997) reafirma que os usuários de cocaína não
costumam procurar tratamento voluntariamente, pois a experiência do uso costuma
ser positiva, enquanto os efeitos negativos são pouco observados e podem ser
relacionados com outras questões como problemas no trabalho e família. Destacase que, quando os usuários aceitam ser submetidos a terapia individual, a mesma
deve ser focada nos aspectos que levaram o usuário a consumir a substância, bem
como os aspectos positivos percebidos, com ênfase na possibilidade de encontrar
satisfação por outras vias. Entretanto, devem ser incluídos no programa terapêutico
enfoques sociais, psicológicos e biológicos, por meio de intervenções que envolvam
o paciente em diversos tipos de atendimentos como individual, de grupo e com
familiares.
De acordo com Gabbard (1998), alguns dependentes apresentam pouca
capacidade de reconhecer e identificar seus sentimentos internos, dificultando
algumas vezes o trabalho durante a sessão terapêutica. Portanto, a intervenção
deve se dar no sentido de identificar quais as experiências desagradáveis que
antecederam ao uso e que inicialmente levaram o sujeito a consumir drogas, na
tentativa de conduzí-lo à contemplação e tolerância dos afetos, descrevendo seus
estados internos, para que as ações que o levam à dependência sejam substituídas.
Face a isto, a psicoterapia individual, na concepção do autor supracitado, tem maior
probabilidade de sucesso no contexto de um programa abrangente.
Ainda assim, algumas pesquisas mencionadas pelo autor supracitado
sugerem que a psicoterapia contribui substancialmente para a recuperação dos
pacientes que aderem ao tratamento. Quando se trata de psicoterapia de orientação
psicodinâmica, o autor coloca que os dependentes químicos apresentam
considerável melhora nos sintomas psiquiátricos, retornando e mantendo com
sucesso aspectos relacionados ao trabalho.
Knapp (2004) aponta o avanço positivo da abordagem cognitivocomportamental no que diz respeito ao tratamento para dependentes químicos, com
31
a possibilidade de ser aplicada como psicoterapia individual, de grupo, terapia
familiar, bem como em hospitais, escolas e comunidades terapêuticas. Cabe
ressaltar que também pode ser utilizada como tratamento complementar associada a
outros métodos terapêuticos.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) apresenta um tratamento
estruturado que segue linhas previamente traçadas pelo terapeuta, com foco
principal nos pensamentos como origem das emoções e base do comportamento
disfuncional. O modelo cognitivo de dependência química e recaída, descrito por
(Aaron Beck apud Marlatt e Gordon, 1993), é utilizado como recurso de manutenção
da abstinência de substâncias psicoativas. Permite compreender e contribuir para
que sejam definidas as áreas de intervenções terapêuticas.
Marlatt e Donovan (2009) apresentam como fundamentos dessa
abordagem, suposições de que grande parte do comportamento humano é
aprendido, e que esses mesmos processos de aprendizagem que criam os
comportamentos problemáticos, podem ser utilizados para modificá-los. Além disso,
os pensamentos e sentimentos também podem ser alterados através da aplicação
dos princípios de aprendizagem. Portanto, é imperativo o engajamento genuíno em
novos comportamentos. Fatores contextuais e ambientais também são levados em
conta pelos autores como determinantes para essa mudança.
Aspectos relacionados à Prevenção de Recaídas (PR) salientam a
importância de que cada paciente seja considerado único, avaliado em seu contexto
particular. Para tanto, o tratamento inicia-se com a coleta, integração e síntese dos
dados sobre o paciente, que permitirá efetuar hipóteses com relação à origem das
crenças disfuncionais e possíveis sintomas. A partir do “perfil cognitivo” do paciente,
se realizará o planejamento do tratamento, contemplando a formulação cognitiva
que poderá ser alterada ao longo do processo terapêutico. As intervenções
propriamente ditas são baseadas em sete fases do modelo cognitivo que podem ser
aplicadas em grupo ou individualmente. (MARLATT E DONOVAN, 2009)
As expectativas pessoais do sujeito com relação ao tratamento devem ser
consideradas e dizem respeito aos resultados previstos e desejáveis. Autores como
Marlat e Gordon (1993) consideram que a probabilidade de recaída é aumentada se
o paciente mantém expectativas positivas quanto a esses efeitos, pois a pessoa
antecipa o positivo e ignora o negativo já vivido. Cabe ressaltar a importância de
32
trabalhar as expectativas pessoais do sujeito, incluindo questões subjacentes ao uso
da substância no processo de alterações de hábitos. (MARLAT E GORDON,1993)
Na visão de Rigotto e Gomes (2002), o grande desafio da recuperação de
dependentes é criar estratégias ou alternativas que possam substituir a rotina
centrada na droga por novos hábitos, para evitar dessa forma os retornos aos
comportamentos destrutivos anteriormente vividos. Entretanto, observa-se que o
número de evasões e recaídas provindas dos tratamentos ou recuperação de
pacientes às instituições de tratamento é alto, devido à ineficiência dos próprios
programas ou mesmo pela falta de estímulo dos pacientes e apoio de familiares.
A psicoterapia de grupo é outra modalidade de tratamento nos programas
de recuperação dos dependentes, pois os mesmos sentem-se bem falando de seus
problemas com outras pessoas que estão no mesmo contexto. Conforme afirma
Gabbard (1998), a negação é um dos mecanismos de defesa que estão presentes
com relação aos dependentes de substâncias, portanto, um grupo de semelhantes
facilita a confrontação e aceitação do problema, que costuma ser trabalhado pelo
grupo. Em alguns casos, presencia-se a resistência na participação dos trabalhos
em grupos, pois os mesmos relutam em colocar fatos importantes, com receio de
que o sigilo seja quebrado, preferindo outras formas de tratamento.
Assim também, as terapias de grupo de família são tidas como
fundamentais na estratégia de tratamento, pois os familiares costumam apresentar
dados importantes para o esclarecimento do diagnóstico e planejamento terapêutico.
Demandas de discussão acerca do quanto o comportamento passado do usuário
prejudicou a família, são comuns, por isso é fundamental permitir a verbalização de
sentimentos com relação a essa conduta, bem como envolver os membros para
mudanças efetivas que ajudem o usuário de cocaína a se manter abstêmio.
(KAPLAN, 1997).
Foi desenvolvido pelos dependentes químicos uma organização de ajudamútua semelhante aos Alcoólicos Anônimos (AA), denominada de Narcóticos
Anônimos (NA). Nas terapias grupais como os NA, Kaplan (1997) comenta que os
usuários compartilham experiências passadas, bem como métodos efetivos no
processo de abstinência rumo à recuperação. Já para Gabbard (1998), o NA não
obteve tanto sucesso, pois os usuários de múltiplas drogas, no entendimento do
autor, necessitam de abordagens diferenciadas.
33
Em se tratando de Comunidades Terapêuticas, criadas à luz da
Resolução 101, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária no ano de 2002, que
estabelece um regulamento técnico disciplinando “as exigências mínimas para os
serviços de atenção à pessoas com transtornos decorrentes do uso e abuso de
substâncias psicoativas“. De acordo com Schneider (2004), a Comunidade
Terapêutica é uma modalidade de tratamento para os dependentes químicos que
graças à sua flexibilidade tem sido adotada em países com diferentes formas de
governo, de culturas diversas, de vários graus de desenvolvimento e de religiões
diferentes. Essas comunidades oferecem serviços de atenção às pessoas com
transtornos decorrentes do uso ou abuso de substâncias psicoativas, em regime de
residência ou outros vínculos de um ou dois turnos. Geralmente, são baseados
segundo modelo psicosocial, com unidades que tem por função a oferta de um
ambiente protegido, técnica e eticamente orientados, que forneça suporte e
tratamento aos usuários abusivos e/ou dependentes de substâncias psicoativas,
durante período estabelecido de acordo com programa terapêutico adaptado às
necessidades de cada caso. É um lugar cujo principal instrumento terapêutico é a
convivência entre os pares. Oferece uma rede de ajuda no processo de recuperação
das pessoas, resgatando a cidadania, buscando encontrar novas possibilidades de
reabilitação física e psicológica e de reinserção social.
Os serviços podem ser realizados em locais urbanos ou rurais. Essas
comunidades não podem executar o tratamento involuntário, sendo assim, o
paciente e sua família são os responsáveis pelo fato de procurar o estabelecimento
para fazer a internação. Assim, a participação da família e de todas as pessoas
envolvidas deve ajudar o paciente no processo de tratamento.
Existem outras abordagens empregadas, e uma delas é o modelo moral
amplamente utilizado com os abusadores de drogas que consideram que os
indivíduos responsáveis pelo desenvolvimento de sua dependência e solução do
problema, costumam trazer aspectos do prazer proporcionado pela droga, sem
considerar os sentimentos dos sujeitos. As raízes deste modelo são religiosas,
funcionam como um sinal de desaprovação moral, ou seja, a força de vontade
depende do sujeito e está próxima à noção de pecado. Neste caso, a eliminação da
conduta de usar drogas, depende do esforço do próprio usuário. Esta abordagem é
utilizada normalmente devido à associação entre crime e abuso de drogas.
(GABBARD, 1998). De acordo com Marlatt e Gordon, (1993), a principal limitação do
34
modelo citado acima, é que considerando o problema como falha de caráter, as
pessoas são levadas a sentirem-se culpadas quando não alcançam sucesso no
tratamento.
O modelo oposto ao modelo moral é o modelo médico. Geralmente, é
utilizado em hospitais para internação de dependentes químicos, nestes casos nem
a doença nem o tratamento são de responsabilidade da pessoa, as mesmas são
consideradas vítimas do problema e incapazes perante a solução do mesmo. O
autor ressalta como vantagem desse modelo a pessoa solicitar ajuda externa e
aceitá-la, sem sentir-se culpada. (MARLATT E GORDON, 1993).
Ainda no que tange ao tratamento, com relação ao processo de
desintoxicação, o mesmo pode ser realizado por meio de tratamento ambulatorial,
internação domiciliar e hospitalar. No tratamento ambulatorial e na internação
domiciliar, sempre que necessário, podem ser utilizados medicamentos para o alívio
de possíveis sintomas. Em alguns casos a hospitalização torna-se necessária no
processo de abstinência, com a intenção de retirar o paciente de contextos sociais
onde freqüentemente consegue a droga. (BRASIL, 2008). Braun (2007) afirma que
as internações para desintoxicação, mesmo prolongadas, não impedem as recaídas.
A fim de evitá-las, normalmente, utiliza-se a combinação de psicoterapia e
medicações que, indiscutivelmente, diminuem as recaídas, mas não as impedem.
As medicações podem ser usadas, mas de acordo com Gitlow (2008),
embora tenha havido estudos individuais, as intervenções farmacológicas não são
consideradas uma técnica de tratamento confiável por alguns autores. Está sendo
estudada e desenvolvida uma nova abordagem com a utilização de uma vacina, que
tem como objetivo evitar que o usuário experimente mudanças no estado mental em
decorrência da cocaína e não venha a fazer uso novamente. O autor elucida que a
“[...] vacina TA-CD estimula a produção de anticorpos específicos da cocaína, os
quais se ligam a ela e evitam que atravesse a barreira hematoencefálica, reduzindo,
assim, os efeitos euforizantes”. (GITLOW, 2008, p. 189).
Kaplan (1997) assinala que as estratégias farmacológicas podem ser
utilizadas para diminuir a vontade do usuário em consumir a droga, destacando que
as duas classes de drogas mais utilizadas são os agonistas dopaminérgicos e
algumas drogas tríciclicas. A carbamazepina foi descoberta como abordagem
farmacológica no processo de desintoxicação auxiliando também na voracidade em
35
consumir a cocaína, exceto em pacientes com transtornos de personalidade
antisocial preexistentes.
A dependência ainda pode ser tratada indiretamente com uma abordagem
de tratamento enfocando a psicopatologia associada, como ansiedade, depressão,
transtorno de personalidade, problemas de autoestima ou deficiências do ego.
Constando-as como pré-requisito para a abstinência da substância de abuso, por
meio de técnica psicoterapêutica dos transtornos subjacentes. No que se refere ao
tratamento de pacientes com transtorno de personalidade antisocial, percebe-se
melhora quando a depressão também era um sintoma. (GABBARD, 1998).
Os meios de tratamento e sua eficácia costumam ser polêmicos, pois não
há uma unanimidade no que diz respeito ao manejo com dependentes químicos.
Cabe destacar que não existem tratamentos eficientes e definitivos se os clínicos
não levarem em conta fatores subjetivos por meio de uma avaliação precisa, para
que seja prescrito um planejamento individual. (BRASIL, 2008).
Os tratamentos costumam aumentar a freqüência de resultados positivos
frente à situação do uso abusivo de drogas. Os indivíduos que se tratam têm maior
chance de ficarem abstinentes ou diminuírem o uso e as possibilidades de recaída.
De um modo geral, os pacientes são atendidos por uma equipe multidisciplinar,
destaca-se nessa pesquisa o trabalho do psicólogo e a psicoterapia que, de acordo
com Braun (2007), são fundamentais em qualquer abordagem com pacientes com
problemas com drogas. Em uma primeira etapa, tratam-se a intoxicação e a
síndrome de abstinência, e a médio e longo prazo, o tratamento consiste em
prevenir as recaídas, que pode ou não envolver internações, medicações, mas
geralmente tem um importante envolvimento da psicoterapia. É fundamental que o
paciente conscientize-se do problema, passando pela aceitação até o completo
reconhecimento do mesmo, para que venha a ter satisfação por outras vias,
adquirindo hábitos mais saudáveis, livres de drogas. Desse modo, cabe ressaltar a
importância do fortalecimento dos vínculos afetivos e ampliação das relações sociais
do paciente, tanto quanto possível, para que auxiliem o indivíduo a manter-se ativo
na sociedade.
36
3 DELINEAMENTO DA PESQUISA
3.1 MÉTODO
Para o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso, foram
utilizados técnicas e métodos que forneceram subsídios para a elaboração deste
estudo.
Nas diversas áreas, a pesquisa é fundamental para desenvolver novas
metodologias, proporcionar novos serviços e qualidade de vida para as pessoas. Na
área da saúde, isso se faz necessário, pois como aponta Minayo (2000, p. 15) “a
saúde enquanto questão humana e existencial é uma problemática compartilhada
indistintamente por todos os segmentos sociais”.
De acordo com Gil (1999, p. 31), “[...] método significa caminho para se
chegar a um fim, dessa forma método científico pode ser entendido como o caminho
para se chegar à verdade da ciência”. Para tanto, a metodologia foi utilizada para
delimitar o processo da pesquisa, como apresentado na seqüência.
3.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Para desenvolver o presente trabalho foram utilizados métodos e técnicas
que auxiliaram no desenvolvimento do estudo e da transcrição dos dados
levantados.
Este estudo é caracterizado como uma pesquisa de natureza qualitativa,
freqüentemente utilizada nas ciências sociais, pois costuma ter como objeto de
estudo situações complexas, respondendo a questões muito particulares. Este tipo
de pesquisa utiliza-se de elementos que não podem ser quantificados, ou seja,
trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e
atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de
variáveis. (MINAYO, 2000).
37
Segundo Richardson (1999, p. 90), a pesquisa qualitativa “pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados
situacionais apresentada pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas
quantitativas de características ou comportamentos”.
No que diz respeito ao delineamento desta pesquisa, trata-se de estudos
de multicasos, que de acordo com Triviños (1987), possibilita que o pesquisador
possa estudar dois ou mais sujeitos de organizações diferentes, sendo considerado
relevante entre os tipos de pesquisa qualitativa. Gil (2002, p. 139) considera que “é
uma modalidade amplamente usada nas ciências biomédicas e sociais por ser um
estudo profundo e exaustivo de um ou mais objetos, de maneira que permita seu
amplo e detalhado conhecimento”. Desse modo, o estudo de múltiplos casos permite
aprimorar o conhecimento acerca de um universo a que pertencem, proporcionando
evidências inseridas em diferentes contextos concorrendo para elaboração de uma
pesquisa de melhor qualidade. (GIL, 2002).
Destaca-se que o delineamento utilizado neste trabalho foi a pesquisa de
campo, pois é mais vantajoso quando se trata deste tipo de processo, uma vez que
“os levantamentos procuram ser representativos de um universo definido e fornecer
resultados caracterizados pela precisão estatística” (GIL, 1999, p. 43). Dessa forma,
o estudo de campo é mais delimitado, pois estuda um único grupo, ou comunidade
em termos de sua estrutura.
Ressalta-se também, quanto à caracterização deste estudo, que se trata
de uma pesquisa exploratória, sendo denominada por Gil (1999, 72) como aquela
que “tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e
idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses
pesquisáveis para estudos posteriores”. Sendo que este tipo de pesquisa teve como
objetivo proporcionar uma visão geral acerca de um determinado assunto.
No caso deste trabalho, de acordo com seus objetivos específicos,
buscou-se identificar quais os resultados alcançados e descritos por sujeitos com
dependência química em cocaína, que estão ou estiveram em processo
psicoterápico nos vários níveis de atenção à saúde. Para tanto, este estudo
exploratório teve como característica ser mais flexível, possibilitando a consideração
de variados aspectos ligados ao fenômeno estudado, envolvendo também
entrevistas semi estruturadas, o que permitiu contato direto com o fenômeno
38
estudado e com sujeitos que experenciaram, de alguma forma, o problema
pesquisado.
3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA
Este estudo teve como população-alvo, sujeitos com dependência
química em cocaína, que estão ou estiveram em processo psicoterápico nos vários
níveis de atenção, sem tempo determinado. Como não foi possível entrevistar
pacientes em todos os níveis de atenção devido à indisponibilidade de tempo e
identificação dos mesmos, optou-se por uma amostra de cinco adultos, maiores de
dezoito anos, que estão ou estiveram em psicoterapia na atenção básica, PSM,
CAPS AD e Instituto São José. Foram escolhidos dois sujeitos de cada serviço, um
que se encontra em tratamento psicoterápico e outro que não, mas que já esteve em
processo psicoterápico. No PSM só foi possível entrevistar um paciente pois no
momento da pesquisa não havia dependente químico em cocaína que estivesse em
tratamento psicoterápico. Esta escolha foi feita em conjunto com as funcionárias dos
órgãos onde foram destacados os pacientes em recuperação. De acordo com
Richardson (1999, p. 35), “os elementos que formam a amostra relacionam-se de
acordo com certas características estabelecidas no plano e nas hipóteses
formuladas pelo pesquisador”.
Segundo Soriano (2004, p. 205), a amostra pode ser definida “como uma
parte da população que teoricamente possui características semelhantes que se
deseja estudar na população total”. Isto significa que os resultados obtidos do estudo
da amostra podem ser estimados para o universo ou para a população da qual a
amostra foi selecionada, dentro dos parâmetros de precisão estimados.
A amostragem utilizada foi a aleatória simples, dentro do grupo que se
desejou pesquisar. Segundo Gil (1999, p. 101), a amostragem aleatória simples
“consiste em atribuir a cada elemento da população um número para depois
selecionar alguns desses elementos de forma casual”. A pesquisadora entrou em
contato com um profissional de cada instituição e solicitou que ele indicasse os
sujeitos a serem entrevistados. A escolha foi aleatória com relação aos indivíduos
39
cadastrados dentro do programa desenvolvido por cada local anteriormente
mencionado.
3.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
A coleta de dados é a fase de pesquisa onde se coleta os dados e
informações das mais diversas fontes disponíveis no meio científico. Para Santos
(2002,
p.
79),
“coletar
dados
é
juntar
as
informações
necessárias
ao
desenvolvimento dos raciocínios previstos nos objetivos”. Na presente pesquisa a
coleta de dados foi feita por meio de entrevista (APÊNDICE A), realizada junto ao
público pesquisado.
O outro método de coleta de dados utilizado foi a entrevista que, de
acordo com Minayo (2000), é o procedimento mais usual no trabalho de campo. É
uma técnica importante, que permite o desenvolvimento de uma estreita relação
entre as pessoas. É por meio dela que se coleta dados a partir do relato dos
sujeitos, com propósito definido. Para a presente pesquisa, foi utilizada a entrevista
semi-estruturada, que é aquela onde algumas perguntas são pré-formuladas
servindo como guia para uma conversa aberta entre o pesquisador e o entrevistado.
(RICHARDSON, 1999).
Antes da aplicação das entrevistas, a pesquisadora entrou em contato
com as Secretarias Municipais da Saúde da Grande Florianópolis para verificar quais
os serviços, nos diferentes níveis de atenção à saúde, que prestam atendimento a
sujeitos com dependência química em cocaína. Foram escolhidos os municípios de
São José, por ser campo de estágio do curso de psicologia da Unisul, bem como,
Florianópolis, por ter outros campos de atendimento, como por exemplo, o CAPS
AD, na atenção secundária, não existente em municípios próximos.
Inicialmente, este trabalho foi encaminhado ao Comitê de Ética da Unisul,
para aprovação, bem como aos demais órgãos envolvidos. O tema da ética na
pesquisa remete a questão da responsabilidade na profissão e na pesquisa, no que
diz respeito ao psicólogo. O artigo 16 do Código de Ética, aprovado pelo Conselho
Federal de Psicologia em 27.08.2005, foi dedicado à realização de estudos,
pesquisas e atividades voltadas à produção de conhecimento e desenvolvimento de
40
tecnologias, estabelecendo padrões esperados pelo profissional da psicologia. Cabe
ressaltar que, quando se trata de pesquisas com humanos, deve-se preservá-los de
quaisquer atividades que envolvam prejuízos aos mesmos, garantindo-lhes o
anonimato, a confiabilidade dos dados, a honestidade, acesso ao resultado sempre
que desejarem, bem como, à liberdade individual, em participar ou não, do estudo
em questão. (CRPSC, 2008).
3.5 PROCEDIMENTO DE TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS
Após a realização das entrevistas junto à amostra selecionada, os dados
foram interpretados e analisados para que fossem feitas as categorias de análise.
De acordo com Minayo (2000), as categorias são utilizadas para se estabelecer
classificações, agrupando elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito
que contempla tudo isso.
Para que esta etapa do trabalho pudesse ser executada, foi necessário
que as demais fossem desenvolvidas dentro dos procedimentos estabelecidos e de
acordo com as teorias científicas. Dessa forma, como finalidade do processo de
análise de dados, deve-se estabelecer a compreensão dos dados coletados, a
confirmação ou não dos pressupostos da pesquisa, ou ainda as respostas buscadas
para que se possa promover a ampliação de conhecimento sobre o assunto
estudado, articulando-o ao contexto sócio-cultural onde está inserido, analisando a
teoria com a prática. (MINAYO, 2000).
Diante desse contexto, a presente análise dos dados foi desenvolvida
pela análise de conteúdo, realizada através da classificação das informações
colhidas nas entrevistas, classificando as mais relevantes em detrimento da
pesquisa, bem como a validade e coerência das mesmas, já que a pesquisa foi
realizada com um público específico e com categorias à posteriori.
Assim, os dados obtidos por meio da entrevista foram tabulados,
avaliados, analisados e posteriormente comentados pela autora em consonância
com a teoria levantada nas fontes estudadas na presente pesquisa, bem como com
as experiências vivenciadas durante o período de estágio.
41
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
Inicialmente, destaca-se que a escolha dos sujeitos aconteceu de acordo
com a técnica de amostragem descrita no capítulo anterior. Foram entrevistados
cinco sujeitos, que estão ou estiveram em processo psicoterápico, sendo que no
PSM, entrevistou-se somente um usuário, pois no momento não havia nenhum
sujeito dependente químico em cocaína que estivesse em tratamento, dois no
CAPS AD, e dois no Instituto São José. Observa-se que antes da entrevista
propriamente dita, foram feitas as devidas apresentações sobre a pesquisa para
confirmar a possibilidade dos pacientes participarem do estudo. No início de cada
entrevista, após o aceite de cada componente da amostra, foram lidos os termos de
consentimento pela pesquisadora, para tornar cada entrevistado ciente dos aspectos
que envolvem a participação na pesquisa, com a possibilidade de desistência, caso
não sentissem à vontade em responder as questões, bem como o sigilo das
informações, a utilização destas informações para fins científicos, e a necessidade
de serem gravadas para posterior análise. Após estes esclarecimentos, foi solicitado
a cada entrevistado que assinasse este termo, caso não houvesse nenhuma
objeção. Seguindo, foi lido o termo de consentimento para foto, vídeos e gravação,
solicitou-se a assinatura deste termo e iniciou-se a entrevista semi estruturada,
guiada por um roteiro previamente elaborado. As entrevistas foram realizadas nos
meses de abril e maio, conforme a disponibilidade de cada paciente e instituições
envolvidas.
Para efeitos didáticos e para compreensão do leitor, os resultados estão
apresentados em forma de quadros demonstrados a seguir, subdivididos em
categorias de acordo com as questões do instrumento utilizado, bem como em
subcategorias. Desta forma, apresenta-se inicialmente as identificações dos sujeitos
por meio da instituição que estão vinculados e também se estão ou estiveram em
processo psicoterápico. Seguindo, discute-se sobre o motivo que levou o paciente a
buscar o tratamento, o tempo de tratamento, expectativas com relação ao mesmo,
tipo de tratamento recebido na instituição, resultados alcançados nesse tratamento,
realização de tratamentos anteriores, bem como resultados alcançados nos outros
tratamentos. Passa-se a seguir para uma discussão na qual se aborda quais os
resultados alcançados e descritos por sujeitos com dependência química em
42
cocaína que estão ou estiveram em processo psicoterápico nos vários níveis de
atenção.
Com intuito de aprofundar os dados sobre os tratamentos realizados pelos
dependentes em cocaína, julgou-se importante investigar as informações dos
mesmos, referentes ao motivo pelo qual decidiram procurar as instituições em
questão. Percebe-se com os dados descritos no quadro das categorias, que vários
foram os motivos que levaram os dependentes químicos entrevistados a
procura de tratamento.
43
Categoria: Procura por tratamento
SUJEITO 1 – CAPS AD
SUB
(Não está em processo
CATEGORIA
psicoterápico)
Vontade
“Na verdade eu não conhecia
própria
nada, eu vim para ver. Eu fiz
uso contínuo de cocaína, tava
sufocado... eu tenho problema
de álcool também.”
“Aí
tu
se
vê
mais
pressionado, né cara. Tú não
tem condições de ter uma
família daí tu usas mais, no
caso, entendesse.”
“(...) eu não queria ficar. Eu
vim sozinho.”
SUJEITO 2 - PSM
(Não está em processo
psicoterápico)
SUJEITO 3 - ISJ
SUJEITO 4 – CAPS AD
(Está em processo
(Está em processo
psicoterápico)
psicoterápico)
“Antes eu ia me internar para “(...) eu decidi procurar, foi
tapar uma situação criada com quando eu já tinha perdido
a família, trabalho, financeira e tudo.”
agora não, agora eu venho
por mim.
SUJEITO 5 - ISJ
(Não está em processo
psicoterápico)
FREQUÊNCIA
3
Perdas
“Eu acho que a tensão né
cara. O cara perde, vai
perdendo as coisas.”
“(...) eu decidi procurar, foi “O acúmulo desses prejuízos
quando eu já tinha perdido me levou a uma depressão
tudo.”
terrível.”
3
Sintomas
físicos e
alteração de
saúde
“Só que tava fazendo mal
para mim.”
‘” eu tava vindo de uma
semana sem comer, sem
dormir,
só
vomitando,
começando a vomitar sangue
já e fui numa consulta no
médico aonde eu já tinha feito
várias
tentativas
de
tratamentos, tentativas né.”
“(...) saúde (...)”
“Mas eu já estava tendo
prejuízos
como:
esquecimentos, talvez por
lesões no cérebro que tenha
causado,
fígado,
muitos
enjôos e vômitos’
3
“Desconfiança de colegas de
serviço que me levou a uma
depressão terrível. O acúmulo
desses prejuízos me levou a
uma depressão terrível.”
3
Transtornos
psiquiátricos
“ (...) eu tava meio deprimida
(...) Ele me tratou como
depressão.”
“Não tú não tem depressão, tú
tens transtorno bipolar. Tú és
bipolar.”
“A
possibilidade
do
dependente químico passar a
ser paciente psiquiátrico me
apavorava, porque ficou bem
claro para mim que em eu
continuando a usar
essa
lesão no cérebro ia piorando,
ia não, vai piorando mesmo.”
44
Pressão
familiar
“Naquela ocasião a busca
pelo
tratamento
foi
por
questões
financeiras
e
familiares.”
‘(...) família. Tava me trazendo
uma série de problemas que
me fez estar aqui hoje.”
“Eu consegui colocar minha
mãe no hospital, tamanha
tristeza que eu causei a ela e
hoje eu acho que é mais um
incentivo para eu interromper
definitivamente o uso é minha
família, é minha mãe.”
2
Pressão do
trabalho
“E depois começa a minha
preocupação com o T., todo
mundo já está sabendo. Eu
fico pensando que por mais
que o tribunal de contas tenha
sido muito bom comigo
mesmo, as pessoas cansam.”
“Também por uma pressão
externa, do meu serviço, por
exemplo.”
“Foi descoberto que eu fazia
uso da cocaína e eu como
exerço a profissão..., não seria
possível continuar exercendo
a profissão que combate o uso
da cocaína e eu estar
utilizando a cocaína.
“Prejuízo também no serviço,
não consigo render, produzir.”
2
“Naquela época , a procura foi
para amenizar a péssima
situação financeira que tinha
se criado.”
‘Aí eu tive
problema financeiro, o meu
dinheiro já não estava dando,
sabe. Tinha que pagar para
Ana porque ela não tinha
emprego, daí eu resolvi me
internar no final de 96.’
“(...) como ela assume a
minha dívida então eu digo
que vou me internar.”
Eu tenho contato com a droga
a 3 anos e de um ano para cá
foi que eu mergulhei de
cabeça no uso. Fazia uso
diário e daí vieram as
complicações financeiras (...)
2
Questões
financeiras
45
A vontade própria é uma subcategoria que foi mencionada na entrevista
pelos sujeitos 1, 3 e 4, como motivação que levaram os pacientes a procurar por
tratamento, como fica demonstrado no discurso a seguir: “Antes eu ia me internar
para tapar uma situação criada com a família, trabalho, financeira e agora não, agora
eu venho por mim.” Percebe-se que os três pacientes não negam o problema com
relação à dependência química de cocaína e passam por uma aceitação parcial do
transtorno. Os sujeitos 1 e 4 não conheciam os serviços procurados, mas de certa
forma sugerem motivação para enfrentar o problema, bem como tratá-lo.
Três entrevistados mencionaram que através do envolvimento com a
cocaína, os mesmos passaram a sentir os prejuízos causados. Cabe retomar nesta
subcategoria que, além de sofrimento ocasionado pelas perdas, os sujeitos 1, 4 e 5
em concordância com a fundamentação teórica, perceberam a diminuição da
qualidade de vida, os danos causados nas relações com amigos, família, formação
educacional e profissional, assim como conseqüências psicológicas e uma certa falta
de controle sobre suas ações.
Sintomas físicos e alterações da saúde surgem na fala de três
entrevistados como motivos para procura de tratamento. De uma maneira em geral,
esses prejuízos tem relação com os efeitos da droga consumida, que no caso da
cocaína altera o sono e restringe a alimentação, debilitando assim o organismo do
usuário. Além disso, a má qualidade do produto consumido pode também levar a
complicações médicas importantes como já foi mencionado na teoria apresentada. O
sujeito 4 demonstra através de suas colocações que chegou no CAPS AD numa
situação física difícil, e num “ato de desespero”, buscou tratar-se como mostra a
colocação a seguir: “E eu tava vindo de uma semana sem comer, sem dormir, só
vomitando, começando a vomitar sangue já e fui numa consulta no médico aonde eu
já tinha feito várias tentativas de tratamentos, tentativas né?” O uso ou abuso da
substância e possivelmente combinações com álcool, podem levar a prejuízos
físicos que tendem a desaparecer com o tempo, cessada a utilização, como fica
demonstrado no caso desse paciente, bem como dos outros dois entrevistados em
questão.
Constata-se a presença de transtornos psiquiátricos associados aos
motivos que levaram três entrevistados a busca por tratamentos, surgidos
anteriormente e ou que foram desenvolvidos com a dependência química. O sujeito
3 identifica alucinações auditivas após quinze anos de utilização crônica e mesmo
46
depois de ter cessado o uso “as vozes continuaram”. Além da possibilidade de
Psicose Tóxica, é possível que tenha ocasionado um início de lesão orgânica que,
com a ajuda de medicamentos, foi possível de certa forma superá-la. Não fica claro
nas colocações dos outros dois entrevistados se os problemas psiquiátricos foram
causa ou conseqüência do uso da cocaína, pois o sujeito 2 fazia utilização de
cocaína anteriormente à depressão citada e continuou fazendo de maneira
sistemática por mais algum tempo. Esse caso demonstra a possibilidade de fuga do
sofrimento e frustração, inerentes à condição humana, pois a depressão foi em
decorrência da morte prematura do filho da entrevistada em concordância com o que
foi descrito na página 29. Já o sujeito 5 coloca que os mesmos sintomas
psiquiátricos foram causados pelo “acúmulo dos prejuízos” conseqüentes do uso da
cocaína, corroborando com a idéia de que a utilização de substâncias pode servir
como auto medicação de sintomas psiquiátricos, pois o uso pode aliviar por alguns
momentos o sofrimento decorrente da depressão. Outra hipótese sustentada por
Gabbard (1998), é que os sujeitos não tendo recursos próprios de enfrentamento,
abusam de substâncias como mecanismos defensivos e adaptativos, o que
potencializa as defesas do ego e revertem estados regressivos que atuam contra os
afetos como a depressão aqui em destaque.
Dois sujeitos (3 e 5) referem-se que a busca por ajuda foi em decorrência
de pressão familiar e por pressão do trabalho. Esses dados estão coerentes com
o que foi descrito na fundamentação teórica a respeito de que os usuários de
cocaína não costumam procurar tratamento por iniciativa própria, pois os problemas
normalmente aparecem vinculados a questões como dificuldades no trabalho e com
relação à família. Alguns pacientes podem utilizar o tratamento como forma de
amenizar situações problemas e não necessariamente com objetivo de recuperar-se.
É possível que os dados apresentados sejam responsáveis por levar os usuários a
abandonarem o tratamento e/ou acabarem recaindo, pois a motivação dos sujeitos
não passa por questões subjetivas e sim por exigências da realidade externa.
Apenas um entrevistado destaca a questão financeira como um dos
motivos que o levou algumas vezes à internação e consequente tratamento.
Novamente a pressão externa aparece como aspecto a ser considerado. De acordo
com o que foi descrito na página 25, como os “dependentes de cocaína” não tem
controle sobre o impulso em consumir a substância, normalmente são levados a
gastar quantias altas de dinheiro. A droga passa a ser prioridade na vida do sujeito
47
em detrimento de algumas obrigações e outras atividades que antes eram
prazerosas. Em concordância com a teoria, o sujeito 3 mencionou ter-se envolvido
em furto como forma de obter mais dinheiro que custeasse sua dependência, cada
vez que o entrevistado via-se envolvido com problemas financeiros recorria às
internações como uma possível forma de amenizar os conflitos criados.
Percebe-se que não existe um único motivo que levou cada sujeito
entrevistado
a
procurar
por
tratamento.
Cabe
destacar
que
ocorre
um
reconhecimento de que o uso das drogas está se constituindo num problema, e que
os sujeitos demonstram precisar de auxílio para resolvê-lo. Algo que antes lhes dava
prazer passou a gerar sofrimento. Sofrimento este, que ameaça o próprio corpo, por
meio das consequências geradas pelo uso da substância, a mente e o
relacionamento com a família, trabalho e questões financeiras. Apesar das
semelhanças, percebe-se que os motivos alegados estão ligados mais às
motivações internas descritas por cada entrevistado, do que às dificuldades sociais e
econômicas também mencionadas.
Além do motivo que levou os entrevistados à procura por tratamento, é
importante saber por quanto tempo os dependentes químicos de cocaína são
usuários do serviço, pois tal informação pode revelar dados importantes sobre estes
aspectos e serão descritos a seguir.
48
Categoria: Tempo de tratamento
SUJEITO 1 – CAPS AD
SUB
(Não está em processo
CATEGORIA
psicoterápico)
15 anos
5 anos
7 meses
5 meses
20 dias
SUJEITO 2 - PSM
(Não está em processo
psicoterápico)
SUJEITO 3 - ISJ
(Está em processo
psicoterápico)
“Meu primeiro tratamento foi
em 94, faz 1 ano, quer dizer
15 anos.”
“É minha 14ª, 15ª internação.”
“E aí estou a 1 ano aqui, mas
fico 4 meses saio, recaio.”
SUJEITO 4 – CAPS AD
(Está em processo
psicoterápico)
SUJEITO 5 - ISJ
(Não está em processo
psicoterápico)
FREQUÊNCIA
1
“Estou
no
PSM
desde
novembro 2004, por causa da
morte prematura do meu filho
que morreu de um ataque do
coração fulminante, durante a
noite enquanto dormia.”
1
“Desde setembro eu estou
aqui, não faz um ano ainda,
entendesse.”
1
“Estou aqui desde o dia
17.12.08, aonde eu me
internei definitivo, venho 5
dias por semana né. E entro
as 8 hs e depois a gente faz
os trabalhos aqui, que a gente
se dispõe, não é nada
obrigatório.”
1
“Eu estou no final do meu
período de internação, são
30 dias, eu já estou a 20
dias.”
1
49
Não há semelhança entre o tempo de tratamento dos pacientes
entrevistados. O sujeito 3 está há quinze anos em tratamento, mas parece não ter
entrado em recuperação, pois entre idas e vindas ao Instituto São José, essa é sua
décima quinta internação, entre constantes recaídas. O outro paciente do hospital, o
sujeito 5, menciona estar no final do período de trinta dias de internação. Com
relação aos usuários do CAPS AD, um está em tratamento há cinco meses (sujeito
4), e o outro (sujeito 1), é usuário do serviço há sete meses, mas não se encontra
em tratamento no momento. Por fim, observa-se que o sujeito 2 está há cinco anos
vinculado ao PSM do Posto Bela Vista no município de São José, sendo que
atualmente também não se encontra em tratamento. A qualidade das respostas da
amostra entrevistada não parece estar ligada ao tempo de tratamento dos sujeitos.
Este dado é importante para reforçar a idéia de que cada sujeito apresenta
características particulares a partir de uma história individual. No referencial teórico
apresentado pela pesquisadora foi possível constatar que não existe tratamento
único com tempo previamente determinado e indicado para todos os tipos de
pacientes. Apesar de algumas semelhanças, cada pessoa tem sua história de vida e
motivo pelo qual usa ou abusa de drogas. Desse modo é importante que cada
paciente seja avaliado individualmente e que a partir daí seja feito um planejamento
terapêutico pertinente à demanda identificada.
Considerou-se importante identificar quais as expectativas pessoais da
amostra pesquisada no que diz respeito aos tratamentos oferecidos nos serviços
onde os mesmos estão inseridos, pois pode auxiliar na verificação de aspectos
relacionados aos objetivos desta pesquisa.
50
Categoria: Expectativas tratamento
SUJEITO 1 – CAPS AD
SUB
(Não está em processo
CATEGORIA
psicoterápico)
Mudança de “Não adianta eu parar, os
hábitos
caras contam muito o
tempo. Ah eu to a 1 mês
sem usar. Não é o tempo,
mas o que tu ta fazendo
para não voltar mais, nessa
rotina,
essa
coisa,
entendesse.
É
mudar
hábito, defeito de caráter
pô, é isso aí que os
caras(...)
“Então é reformulação de
vida entendesse. Esse é o
segredo.”
Nenhuma
“Para falar a verdade eu
não
conhecia,
não
esperava nada. Eu vim para
ver o que que era, eu
precisava ser acolhido e
aqui eles acolheram o cara
totalmente. Mas é isso. Mas
eu não imaginava que eles
iam acolher bem também,
mas o cara vai conhecendo
as pessoas.”
Parar de usar
SUJEITO 2 - PSM
(Não está em processo
psicoterápico)
SUJEITO 3 - ISJ
(Está em processo
psicoterápico)
SUJEITO 4 – CAPS AD
(Está em processo
psicoterápico)
“Quando eu vim, eu achei que
seria mais uma daquelas
tentativas, que ia tentar para
me manter e me ver livre na
hora.” “E depois é que eu
comecei... quando eu cheguei
eu não tinha perspectiva
nenhuma de futuro, eu já vim
desacreditado, nem a minha
família não acreditava, nem a
minha mulher, nem meus
filhos (...). E nesses 5 meses a
qual eu estou aqui, mudou
muito a minha vida, deu uma
revira volta de 360 graus,
brincando.”
“A minha expectativa, eu...
é muito difícil eu sair daqui
por vários meses muito
firme. “Aliás, eu estou muito
firme na decisão de parar.
Tem uma coisa que se fala
que é,o sincero desejo de
parar de usar e isso eu
nunca tive. Eu fui passar a
SUJEITO 5 - ISJ
FREQUÊNCIA
(Não está em processo
psicoterápico)
“Eu estou ciente de que
2
tenho que mudar meus
hábitos,
evitar
pessoas,
lugares. “
2
1
51
ter esse desejo agora,
nesse último ano.” “Daí pela
primeira vez eu não queria
mais
usar,
eu
não
agüentava mais.” “A minha
expectativa é
parar de
usar, agora diferente é a
maneira como eu encaro o
tratamento. (...) eu vou ter
que ficar lá todo tempo
necessário, eu vou ficar até
que as coisas engrenem.”
Recursos de
enfrentamento
Cura
“Eu estou ciente de que a
dependência não tem cura,
mas eu to absorvendo o
máximo
possível
de
ferramentas
e
de
informações aqui dentro para
quando eu chegar lá fora eu
saiba me controlar quando
eu tiver fissuras, quando eu
tiver desejos. (...) Então a
minha expectativa é que eu
sei que lá fora o desejo vai
permanecer, só que aqui
dentro eu estou conseguindo
armas, artifícios para que eu
possa lidar com isso lá fora.”
“(...) eu é que vou ter que
saber como lidar com isso lá
fora. Isso que é importante.”
“Eu esperava a cura, eu
queria ter paz, queria ter paz
de espírito, eu queria poder
sair da minha a casa a noite,
sentar num barzinho e tomar
uma cerveja sem pensar em
cocaína.”
1
1
52
De uma maneira geral as expectativas apareceram nas entrevistas de
forma divergentes. Observou-se que dois entrevistados (1 e 5) mencionaram a
importância e a preocupação em substituir a rotina anteriormente centrada nas
drogas por novos hábitos, para atingir resultados satisfatórios com o tratamento.
Largar a droga parece significar perder a companhia de alguns amigos, abandonar
momentos de lazer que eram preenchidos com o uso de cocaína e ficar sem fazer
nada. Nesse sentido, os entrevistados consideram a necessidade de resgatar o que
antes lhes dava prazer, além de buscar satisfação por outras vias, reorganizando e
preenchendo gradativamente sua vida social, amizades e atividades.
Percebe-se também a ausência de expectativas demonstrada na fala de
dois sujeitos (1 e 4), ambos usuários do CAPS AD, pois um deles desconhecia o
serviço e o outro não via “perspectiva de futuro”, como fica demonstrado na
colocação a seguir: “Quando eu vim, eu achei que seria mais uma daquelas
tentativas, que ia tentar para me manter e me ver livre na hora. (...) E depois é que
eu comecei... quando eu cheguei eu não tinha perspectiva nenhuma de futuro, eu já
vim desacreditado, nem a minha família não acreditava, nem a minha mulher, nem
meus filhos (...). E nesses cinco meses a qual eu estou aqui, mudou muito a minha
vida, deu uma reviravolta de 360 graus, brincando.”
O sujeito 3 considera fundamental ter o “sincero desejo de parar de
usar” cocaína, que parece ter modificado a maneira como ele tem “encarado” o
tratamento. O sujeito 5 demonstra ter ciência de que a dependência não tem cura,
então procura instrumentalizar-se para adquirir recursos de enfrentamento para a
vida depois da alta hospitalar, como coloca a seguir: “Eu estou ciente de que a
dependência não tem cura, mas eu tô absorvendo o máximo possível de
ferramentas e de informações aqui dentro para quando eu chegar lá fora eu saiba
me controlar quando eu tiver fissuras, quando eu tiver desejos. (...) Então a minha
expectativa é que eu sei que lá fora o desejo vai permanecer, só que aqui dentro eu
estou conseguindo armas, artifícios para que eu possa lidar com isso lá fora.” Essa
fala aparece em concordância com a fundamentação teórica quando salienta a
importância de auxiliar os pacientes a desenvolver habilidades para enfrentar as
situações-problema que acontecem na vida, sem que seja necessária a utilização de
drogas.
A paciente que fez seu tratamento no PSM colocou que quando deu início
à psicoterapia tinha expectativa de “cura”. Fica representado através de sua
53
colocação que seu desejo era manter a rotina “sem pensar na cocaína”, contrapondo
com a teoria no que diz respeito à importância de criar novos hábitos.
Esses dados mostram que as expectativas pessoais apresentadas dizem
respeito aos resultados previstos e desejáveis dos sujeitos com relação ao
tratamento. Como já foi descrito na teoria, autores como Marlat e Gordon (1993),
consideram a probabilidade de que expectativas positivas possam aumentar o índice
de recaídas, pois a pessoa pode antecipar o positivo e ignorar o negativo já vivido.
Os entrevistados em questão não sugerem expectativas altas no que diz respeito ao
tratamento e tão pouco parece que tenham deixado de lado os aspectos negativos
do uso. Percebem-se questões subjacentes ao uso como a constatação de não ter
recursos próprios de enfrentamento e a consciência da importância em adquirí-los,
ou até mesmo a ausência de expectativas como principais fatores que surgiram a
partir da fala dos sujeitos. Cabe ressaltar que não foram encontradas outras
bibliografias a respeito de expectativas que os sujeitos possam ter com referência ao
tratamento. Considera-se que as expectativas dos entrevistados parecem estar mais
ligadas a amenizar os agravos sociais consequentes do “abuso de cocaína”, do que
propriamente para tratar da “dependência da substância”.
Com intuito de auxiliar a identificação dos resultados alcançados e
descritos pelos sujeitos com dependência química em cocaína, se faz necessário
investigar quais os tipos de tratamentos recebidos pelos usuários nos serviços em
questão.
54
Categoria: Tratamento recebido nesse serviço
SUJEITO 1 – CAPS AD
SUJEITO 2 - PSM
SUJEITO 3 - ISJ
SUJEITO 4 – CAPS AD
SUB
(Não está em processo
(Não está em processo
(Está em processo
(Está em processo
CATEGORIA
psicoterápico)
psicoterápico)
psicoterápico)
psicoterápico)
Psiquiatra
“Tenho consulta com o “Quando eu comecei o “Eu tenho a minha psiquiatra “Aqui eu também vou ao
psiquiatra (...) “
tratamento aqui era o doutor que me atende 3 vezes por psiquiatra (...)”
G, psiquiatra, (...)”
semana,
com
tratamento
medicamentoso (...)”
Medicamentoso (...) e tomo remédio também. “(...) e ele me deu fluoxetina
“Hoje eu só tomo clonazepan e rivotril para dormir. Ele me
e fluoxetina. É clorpromazina” tratou como depressão.”
“Aí
ela
acrescentou
o
carbolítio
e
um
outro
chamado bupropiona (...)”
Psicólogo
(grupo apoio,
psicoterapia
individual)
Terapia de
família
Oficina
terapêutica
“É mais de grupo. Cada um
fala da experiência que teve
na sua vida, as vezes eu fico
quieto, as vezes eu falo.”
“E com a conversa com o
psicólogo eu comecei a ver
que só dependeria de mim.”
“Terminava, eu saia daqui na
quinta de manhã eu não via a
hora de chegar na próxima
quinta para ter a conversa
com a pessoa. Como diz a
minha mãe: Esse psicólogo
para ti é uma pia, onde tú vai
lá e despeja o que tens
vontade.”
SUJEITO 5 - ISJ
FREQUÊNCIA
(Não está em processo
psicoterápico)
“Quando a gente chega, a
5
gente
passa
por
uma
avaliação com psiquiatra,
(...)” pela psicóloga.
“Um estabilizador de humor e (...) tomo remédio, tomo
um remédio para dormir. Não sertralina
e
neozine,
é topiramato, não é lítio não amitripitilina né.”
sei qual é a substância
química o nome é trileptal.”
“Tomo Seroquel, e o Rivotril
que é um ansiolítico para
baixar a ansiedade. Nossa
tem sido muito eficiente
mesmo. Eu tinha tomado só
por conta própria, lexotan,
que é também um ansiolítico,
para baixar.”
5
“(...) e psicoterapia com uma
certa limitação porque são
muitos pacientes mas sempre
dá para conversar um pouco
mais.”
“(...) pela psicóloga (D) (...)”
“E quando eles acharem que
está pronto para participar do
grupo é integrado a ele, que
é o grupo de apoio.”
“Voltando ao grupo: é
coordenado pela psicóloga e
ou pela assistente social,
onde é levado um tema para
ser discutido e as pessoas
que querem falar falam, não
é obrigado a falar.”
5
“Aonde no meu tratamento
psicoterápico
com
a
psicóloga e o psiquiatra, nas
nossas reuniões de grupo,
como individual, ela abriu o
meu modo de ver a vida.”
“A psicóloga é na quarta feira
a tarde, é individual e na
quinta é o grupo fechado,
são cinco pessoas,com a Dra
A e Dra L.”
“A gente trata de assuntos
relativos a família, assuntos
pessoais que no grupo de
apoio a gente não pode
debater.”
E tenho uma terapeuta de
família, vem minha mãe todas
as... (...)
1
“Faço também o grupo de
apoio, oficina.”
1
55
Seminários
Assistente
social
1
“(...) e tem o R que é consultor
de dependência química e
temos os nossos próprios
grupos, tem os seminários,
cada dia um médico apresenta
um seminário.”
“(...) e pela assistente social
(K).
1
56
De acordo com os dados coletados, os cinco entrevistados mencionaram
receber uma
combinação
de atendimentos
psiquiátrico, medicamentoso e
psicológico. Foi possível identificar no discurso dos pacientes que em todos os locais
o tratamento inicia-se com a consulta ao psiquiatra diretamente associada aos
medicamentos que os mesmos fazem uso. Os usuários do CAPS AD e do Instituto
São José, participaram paralelamente na chegada à instituição de um grupo de
apoio, e demonstram sentir-se bem falando de seus problemas com outras pessoas
que estão no mesmo contexto e/ou até mesmo ouvindo-os, pois a confrontação com
o problema e aceitação do mesmo costuma ser trabalhada. A indicação de
psicoterapia surge como parte do tratamento que, em concordância com o
referencial teórico, parece ter contribuído substancialmente para a redução do uso
do estimulante e possível recuperação dos entrevistados. Na atenção básica, assim
como nos demais locais após a consulta psiquiátrica, os pacientes que concordam
são encaminhados para psicoterapia de grupo e/ou individual que são tidas por toda
a amostra como fundamental estratégia de tratamento. Cabe destacar que a
combinação entre psicoterapia e o uso de medicamentos é considerado pelos
autores como vantajoso para as pessoas com dependência química em cocaína,
pois além de reduzir a vontade do usuário em consumir a droga, pode amenizar os
sintomas decorrentes das possíveis psicopatologias associadas, enfocando no
processo psicoterápico os aspectos subjacentes ao uso.
A terapia com a presença de familiares foi mencionada somente pelo
sujeito 3, como uma modalidade de tratamento essencial, pois os familiares
costumam apresentar dados importantes para o esclarecimento de algumas
questões que podem orientar o diagnóstico e planejamento terapêutico. O
entrevistado salienta que na terapia as intervenções da psicóloga são no sentido de
trabalhar as dificuldades de sua família em demonstrar afetos, ao mesmo tempo em
que permite a verbalização de sentimentos que ambos tem em relação a conduta do
usuário de drogas, entre outras coisas.
Observa-se que o sujeito 4 menciona os trabalhos efetuados em oficinas
terapêuticas no CAPS AD, e
o sujeito 3 coloca participações em seminários
durante as internações no Instituto São José, onde se discute, principalmente,
aspectos ligados ao consumo de drogas, como parte integrante do tratamento. As
informações sobre o tema em questão é uma das faces contempladas nas
estratégias de prevenção para dependentes químicos. A assistência social do
57
hospital é citada pelo sujeito 1, pois a mesma parece ter uma participação atuante.
Costuma receber os possíveis internos, algumas vezes conduz em parceria com a
psicóloga da instituição os grupos de apoio e/ou psicoterápicos, além de colaborar
no planejamento de recuperação dos pacientes pós-alta.
Esses dados demonstram que os tratamentos utilizados nas instituições
envolvidas nesta pesquisa são de natureza psicosocial, pois combinam atendimento
médico, sessões de psicoterapia individual e grupo, inclusão da família, bem como
apoio social. Mesmo os pacientes que já estiveram ou ainda não entraram em
tratamento psicoterápico propriamente dito, seja ele de grupo ou individual,
concordam com a teoria referenciada no que tange a indicação de psicoterapia
como contribuição substancial para aumentar a frequência de resultados positivos.
Sujeitos que se tratam parecem ter maior chance de ficarem abstinentes ou
diminuírem o uso e as recaídas, como fica demonstrado a partir da fala dos
entrevistados.
Após esta discussão, parece importante sintetizar as informações colhidas
com relação aos resultados alcançados com esses tratamentos mencionados
pelos entrevistados, com a finalidade de elucidar o objetivo geral desta pesquisa.
58
Categoria: Resultados alcançados com esse tratamento
SUJEITO 1 – CAPS AD
SUJEITO 2 - PSM
SUB
(Não está em processo
(Não está em processo
CATEGORIA
psicoterápico)
psicoterápico)
Mudança de
“Estou resgatando valores.”
“Eu acho que já superei.”
postura
Planejamento
de vida
“Eu
vou
assumir
a
responsabilidade dele, eu vou
cuidar dele. Já falei para mim
mesmo, agora eu tenho que
melhorar o meu lado para eu
poder pegar ele.”
“(...) tem que batalhar,
comprar uma casa para mim
(...)”
Consciência do “Cada um tem que fazer a
problema
sua parte, agora eu tenho
que fazer a minha.”
“Tens o teu horário, vai lá
abre tua loja, fecha e não tem
que
dar
satisfação
a
ninguém. Conversa com uma
pessoa com outra, fala que ta
procurando
um
ponto
comercial, até já achei, vou
passar lá daqui a pouco.
Tinha ali na Estácio de Sá
um projeto de seleção,
porque eu sempre gostei de
escrever, eu tenho a cabeça
muito boa para escrever
histórias no caso né? Eu vejo
um acidente eu faço uma
redação. Eu sou boa em
redação. Daí eu fui lá. Levei
o meu diploma de ensino
médio e fiz a redação e tirei
terceiro lugar e ganhei a
bolsa.”
SUJEITO 3 - ISJ
SUJEITO 4 – CAPS AD
(Está em processo
(Está em processo
psicoterápico)
psicoterápico)
Agora a grande diferença “Hoje eu trabalho ao mesmo
mesmo é a minha postura em tempo a recuperação e a
relação ao tratamento.
vida.”
“ (...) me faz pensar
bastante, no meu dia a dia.
Porque hoje eu comecei a
descobrir que eu posso
planejar coisas para daqui a
duas semanas. Antes eu
não podia fazer isso. E hoje
quando você planeja antes,
você se apavora.”
“(...) porque na época em
que eu usava, eu nunca
admiti que eu era doente,
nunca admiti.”
“Eu acho, a meu ver, que no
tratamento da dependência,
sabe, ele não é só ir lá e
reprimir. Teria que ter um
tratamento com o usuário,
SUJEITO 5 - ISJ
(Não está em processo
psicoterápico)
FREQUÊNCIA
4
‘Pretendo frequentar lá
fora grupo de NA, que de
15 em 15 dias eles estão
aqui
e
pretendo
se
possível, uma psicoterapia
individual.”
“Então estou me preparando
para voltar para atividade
física, voltar para minha
igreja que eu adorava ir...
tenho que preencher esse
vazio com alguma coisa. Eu
queria voltar a ter prazer
com que eu tinha, atividade
física,
amizades,
igreja.
Quero voltar a sentir prazer
com essas coisas, quero
voltar
a
ser
alegre,
brincalhão,
porque
nos
últimos 3 anos eu tava meio
para baixo.”
“Afinal
é
a
minha
readaptação no mundo lá
fora, sem a cocaína. (...)
viver lá fora sem ela.
Preencher esse buraco que
ela vai deixar.”
“Eu vejo que a minha mente
abriu bastante. Agora eu
tenho a real noção da vida
que eu estava levando, eu
não tinha antes.”
4
3
59
para ele se conscientizar do
dano que ele tá causando.
(...) eu não tava destruindo
só a mim, tava destruindo
todos ao meu redor.”
“(...) a gente sempre acha
que são os outros que estão
doentes, que a gente nunca
tá.”
Alteração no
padrão de
consumo
Resgate da
família
Melhora dos
sintomas
psiquiátricos
“Até porque de vez em “(...) parei de usar, (...)”
quando eu ainda uso. Não
por causa disso. Eu não
estou mais naquele ritmo,
entendesse. De alucinar.”
“Hoje quando eu uso eu já
não me culpo mais. Um dia
eu cheguei ruim e fui lá para
cima. Mas tá de leve.”
“Basta dizer que nos últimos
13 anos eu cherei cocaína
todos os dias do meio dia as
5 horas da manhã,com
exceção dos curtos períodos
que eu estive internado. No
último ano eu cheirei cocaína
10 vezes entende.”
“Eu mudei meu perfil de
consumidor,
eu
fiquei
deslumbrado começou a
sobrar dinheiro e eu comecei
a comprar, comprar,comprar.”
3
“Eu to resgatando as coisas “A minha família, meu pai
na verdade, mais a família no minha mãe, eles confiam
caso.”
mais em mim.”
“É tá melhor. Agora eu to
começando a aceitar eles do
jeito que eles são.”
“O meu filho eu vou ver final
de semana, vou ficar com
ele.”
“ (...) eu ganhei meus filhos
de volta, hoje eles moram
comigo, a minha ex mulher
(...)”
“Meus pais são separados,
ele mora em Concórdia, de
onde sou natural e minha
mãe mora comigo. A
mudança com relação a eles
foi ótima.”
“Hoje eu gosto de ficar com
ela. Eu digo que eu perdi
uma mulher lá atrás, mas eu
to ganhando uma nova
pessoa, que eu estou
aprendendo a reconhecer.”
Primeiro com relação as “A minha impaciência, a
minhas doenças psiquiátricas minha
ansiedade,
foi
melhorou muito.
estabilizada.”
“Aqui eu fui perceber com
ajuda da minha psiquiatra e a
3
2
60
terapia de família a minha
variação de humor. Daí eu
começo a trabalhar, já não
oscilo tanto quanto eu
oscilava a um ano a trás.”
“No começo eu tinha perdido
a mão, não sabia como fazer
isso, quando eu falava, eu
era muito agressivo para falar
com as outras pessoas. Fui
indo, fui indo hoje eu consigo
falar
com
uma
certa
serenidade,
me
fazendo
entender.”
Saúde física
Melhora da
auto estima
“Daquele jeito que eu ficava
cagado e mijado eu não to
mais. O cara jogado na rua.
Cagado nas calças mesmo,
desculpa.”
“Prejuízos físicos e eu vejo
como tem melhorado.”
“O que eu ainda não... que
eu acho que eu vou entrar
em depressão por causa
disso, é os meus dentes.
Sempre foi a minha estética,
sempre. Tentei conseguir um
dentista ali na policlínica...
estou fazendo tratamento
com um rapaz, um dentista
que me disse que se eu
puder pagar cinqüenta reais
por mês ele vai fazendo aos
poucos.”
“Depois
dessa
semana
trabalhando com essências,
produtos de beleza, essas
coisinhas, abriu uma nova
coisa na minha cabeça. Eu
tenho uma amiga que abriu
uma portinha aqui no Bela
Vista,
uma
lojinha
de
cosméticos.”
“E a psicoterapia está me
fazendo muito bem, está me
fazendo um novo caráter,
uma nova personalidade,
uma nova hombridade. Hoje
eu me cuido mais, passo
perfume, hoje eu me visto
melhor, estou com a barba
sempre feita, o meu sorriso
no lábio está aí para todo
mundo ver né.”
“Então a psicoterapia faz
você descobrir os valores
que você tem. Porque a
gente sabe que tem valores,
mas
eles
estão
adormecidos, escondidos.”
2
2
61
Outras vias de
prazer
“E eu agora to indo pescar,
coisa que eu não fazia, to
tocando violão, to com
vontade de voltar a estudar.”
Mudança de
hábitos
Amizades
Trabalho
Estudos
“(...) e buscar novas formas
de prazer.”
““É na mínima coisa, no
gosto de um chocolate, de
uma bala. É vc sentir o
prazer de sentar com uma
pessoa e conversar, sem
ficar que nem um peru
rodando, querendo uma
dose, querendo um risco.”
2
“Então o que na psicoterapia
eles ensinam para gente,
são
hábitos,
atitudes,
companhias, lugares... evitar
os antigos (...)”
“Então
vc
vai
se
controlando,
porque
automaticamente
vai
sobrando mais dinheiro, vc
vai vendo que pode adquirir,
então muitas que antes não
tinham valor, passam a ter.”
1
1
“Eu comecei a fazer círculo
de amizade (...)”
“Resgatei algumas amizades
(...)”
“(...) estou trabalhando.”
1
“Voltei a estudar, estou
concluindo meu curso de
fotografia pelo Senac (...) Eu
estou fazendo aula de
laboratório segunda e quarta
e tratamento de imagem na
Casa Brasil, tudo por
intermédio daqui. A minha
psicóloga me acompanhou
até a universidade federal,
aonde eu estou fazendo
aquele mini curso de
artesanato de 6 meses (...)”
1
62
Perfil de
consumidor
“Mas de qualquer forma
agora isso equilibrou, então
meu perfil de consumidor
mudou muito. Não só em
relação a cocaína e perfil do
consumidor no geral.”
1
Desintoxicação
“Eu vejo que com a
desintoxicação o meu corpo
parou de pedir durante
esses 20 dias.”
‘Mas o meu corpo não pede
mais a química, apenas o
psicológico,
que
são
mudanças né.”
Enfrentamento
Material
“(...) estou conseguindo
conviver
com
esses
traumas,
com
essas
dificuldades.”
“Eu comecei a acreditar
mais em mim, na minha vida
(...)”
“E além disso, começo a
trabalhar com seus medos,
começo ser tratado como
ser
humano,
para
reaprender na vida a
receber não e sim. É uma
das coisas... aprender a lidar
com isso tudo, de ruim e de
bom.”
“Material sim, é um resultado,
amoroso, como é que eu
posso dizer, particular assim.”
1
1
1
63
Nas palavras ditas por quatro sujeitos, observa-se que eles consideram
como resultado, a mudança de postura com relação à dependência química e ao
tratamento, como fica demonstrado nas colocações a seguir: “Hoje eu trabalho ao
mesmo tempo a recuperação e a vida”. Percebe-se que os pacientes vêm tentando
buscar outras formas de lidar com o problema das drogas, ao mesmo tempo em que
resgatam e/ou criam novas maneiras de viver. O foco principal de suas vidas durante
algum tempo vem sendo a cocaína, por isso os entrevistados tentam substituir ações
que os levaram à dependência por uma nova postura.
A possibilidade de planejar a vida, à curto, médio e longo prazo, também
foi mencionada pelos sujeitos 1, 2, 4 e 5, fato que no contato com o uso da drogas
nem sempre era possível, pois as alterações psicológicas e comportamentais
costumam
fazer
com
que
os
usuários
negligenciem
responsabilidades
e
compromissos sociais, familiares e de trabalho em virtude do uso. Mesmo com as
consequências nefastas, a droga é prioridade em detrimento de outras atividades e
obrigações, tornando-se difícil qualquer tipo de planejamento. Percebe-se uma
expectativa alta com relação a esse resultado e um certo receio de não conseguir
cumprí-lo.
Verificou-se que três dos cinco entrevistados não estavam convencidos
de que grande parte de seus problemas decorria do uso da droga, o que
possivelmente contribuiu durante algum tempo para a continuidade do uso. Apesar
dos prejuízos, deve ter havido uma dificuldade dos sujeitos relacionarem o seu
comportamento de usar drogas com os prejuízos decorrentes dele, até mesmo
porque dá algum tipo de satisfação para quem as usa. Braun (2007), coloca que
mesmo quando percebem, pode ser doloroso, ou haver uma oscilação na percepção
dos usuários, que ora acham que a droga traz prejuízos, ora que os benefícios são
maiores. Por isso os entrevistados consideram que ter consciência e aceitação do
problema, é de alguma forma, admitir sua responsabilidade sobre a dependência e
conseqüente tratamento.
No que tange à subcategoria alteração no padrão de consumo, três
sujeitos se manifestaram a esse respeito e destacaram que reduziram o uso,
pararam de usar e /ou tiveram recaídas durante o processo de tratamento, como
mostra a fala a seguir: “Até porque de vez em quando eu ainda uso. Não por causa
disso. Eu não estou mais naquele ritmo, entendesse. De alucinar. Hoje quando eu
uso eu já não me culpo mais. Um dia eu cheguei ruim e fui lá para cima. Mas tá de
64
leve.” Percebe-se o movimento dos usuários na tentativa de minimizar o uso de
cocaína, bem como a constatação por parte deles quanto a diminuição dos danos
relacionados à saúde, aspectos sociais e econômicos decorrentes dessa alteração.
Além disso, relembrar situações passadas onde foi possível controlar o consumo
pode ser útil para valorizar o tratamento e levar a retomada do mesmo.
A família também se sente prejudicada quando um de seus membros
envolve-se com drogas e de uma maneira em geral acaba por afetar a comunicação,
bem como o relacionamento entre eles. Três dos entrevistados salientaram como
resultados alcançados o resgate da família através do convívio, da confiança e
aceitação das diferenças. É importante que o sujeito possa ter seu papel positivo na
família para que ele se adapte aos poucos ao funcionamento social.
Os sujeitos 3 e 4 sugeriram melhora dos sintomas psiquiátricos
concomitantes à dependência química em cocaína, como fica demonstrado a seguir:
“Aqui eu fui perceber com ajuda da minha psiquiatra e a terapia de família a minha
variação de humor. Daí eu começo a trabalhar, já não oscilo tanto quanto eu
oscilava há um ano atrás. (...) No começo eu tinha perdido a mão, não sabia como
fazer isso, quando eu falava, eu era muito agressivo para falar com as outras
pessoas. Fui indo, fui indo hoje eu consigo falar com uma certa serenidade, me
fazendo entender.” Os sujeitos 1 e 5 referem-se à melhora também da saúde física
em decorrência do tratamento. É válido lembrar que essas sub-categorias foram
identificadas e explicitadas anteriormente nos motivos que levaram alguns
entrevistados à procura por tratamento.
Percebeu-se a melhora da autoestima mencionada por dois sujeitos (2 e
4) como resultados alcançados a partir do tratamento, bem como a busca por outras
vias de prazer (sujeitos 1 e 4), já relatada anteriormente na sub-categoria novos
hábitos. Cabe retomar Gabbard (1998), quando comenta a incapacidade de alguns
dependentes em manter a autoestima, que pode acabar por dificultar suas relações
objetais. Esse aspecto também pode ser um dos motivos que levam os sujeitos a
usarem a cocaína, pois um dos efeitos conhecidos é a sensação de euforia com um
aumento das percepções sensoriais e da autoestima. Os usuários sentem-se
desinibidos, criativos, com certa dose de agressividade e com a falsa sensação de
poder quando consomem o estimulante. O uso crônico acaba por destruir aos
poucos autoestima de alguns pacientes, que tentam mantê-la com o uso. A partir do
tratamento, esse resgate é possível como fica demonstrado nas colocações a seguir:
65
“E a psicoterapia está me fazendo muito bem, está me fazendo um novo caráter,
uma nova personalidade, uma nova hombridade. Hoje eu me cuido mais, passo
perfume, hoje eu me visto melhor, estou com a barba sempre feita, o meu sorriso no
lábio está aí para todo mundo ver né. (...) “Então a psicoterapia faz você descobrir os
valores que você têm. Porque a gente sabe que têm valores, mas eles estão
adormecidos, escondidos”.
Mudança de hábitos no entendimento do sujeito 4, foi um resultado
alcançado já explicitado também na sub-categoria novos hábitos, bem como na sub
categoria outras vias de prazer. Assim mesmo, cabe destacar a afirmação do
entrevistado: “Então o que na psicoterapia eles ensinam para gente, são hábitos,
atitudes, companhias, lugares... evitar os antigos (...) Então você vai se controlando,
porque automaticamente vai sobrando mais dinheiro, você vai vendo que pode
adquirir, então muitas que antes não tinham valor, passam a ter.”
O sujeito 2 apresentou a retomada de amizades antigas e a possibilidade
de ampliação de novas relações sociais por meio de trabalho, estudos, lazer, fato
que o tem ajudado a manter-se ativo na sociedade. O lado material é mencionado
pelo sujeito 1 como conseqüência positiva de sua inserção no CAPS AD.
A mudança no perfil de consumidor do sujeito 3 aparece ligada não só
ao consumo de cocaína, mas também ao dispêndio em geral. Percebeu-se um
pouco de receio deste paciente no que diz respeito ao que fazer com o dinheiro que
antes era gasto com a substância e hoje está disponível. Pois já passou por fases de
consumidor compulsivo de outros bens e agora se sente mais “equilibrado”.
No que tange à sub-categoria desintoxicação, chama atenção o caso
desse paciente (sujeito 5), que está internado no Instituto São José por pressões do
trabalho. Com o tratamento, parece ter começado a assumir a responsabilidade dos
problemas que o cercam, sejam eles relacionados a contextos individuais, familiares,
profissionais, de relacionamento social entre outros e sente que seu “corpo já não
pede mais a química, apenas o psicológico.”
Verificou-se que o sujeito 4 aborda o enfrentamento
dos problemas
subjacentes ao uso, como conseguir conviver com “traumas, medos”, assim como
“reaprender a receber e dizer sim e/ou não” quando necessário, como sinaliza a
citação: “(...) estou conseguindo conviver com esses traumas, com essas
dificuldades. (..) Eu comecei a acreditar mais em mim, na minha vida (...) E além
disso, começo a trabalhar com seus medos, começo ser tratado como ser humano,
66
para reaprender na vida a receber não e sim. É uma das coisas... aprender a lidar
com isso tudo, de ruim e de bom.”
Na categoria apresentada, evidencia-se a importância do tratamento nos
resultados alcançados e descritos pelos entrevistados que estão ou estiveram em
tratamento psicoterápico. Quando ocorre a interrupção ou diminuição prolongada do
uso, percebe-se a redução da freqüência dos prejuízos ou até mesmo seu
desaparecimento, então a colocação dos sujeitos sugere evolução. Melhora
percebida pelos dependentes não só por meio da abstinência, mas sim com relação
à qualidade de vida e à aquisição de diferentes habilidades e comportamentos que
têm permitido evitar o consumo e prevenir recaídas. No entanto, observa-se que em
qualquer tratamento para dependência química, podem surgir novas demandas,
depois que a queixa principal foi atendida, portanto resolvê-la é sinal de
resolutividade, porém, pode não configurar final de tratamento. Como já foi dito
anteriormente, é possível que surjam novas questões que exijam continuidade no
tratamento, caso o paciente revele disponibilidade para trabalhá-las. Os resultados
dessa pesquisa corroboram com a idéia de que o processo psicoterápico é
fundamental dentro de um planejamento de tratamento abrangente para cada
paciente com dependência química em cocaína, pois na maioria das vezes os
benefícios esperados são atingidos pelos sujeitos que desejam uma vida livre das
drogas.
A próxima categoria a ser apresentada diz respeito a outros tipos de
tratamentos que porventura os entrevistados foram submetidos. Os sujeitos 2, 3, 4
afirmaram ter participado, em regime de residência, em comunidades terapêuticas,
bem como tiveram passagens pelo NA para tratar da dependência química em
cocaína. Dois entrevistados (sujeitos 2 e 4) mencionaram participações em reuniões
nos grupos de ajuda mútua AA, pois alguns deles demonstraram ter problemas
também com relação ao álcool. Os sujeitos 2 e 5 estão em tratamento pela primeira
vez, portanto não foram submetidos a outras formas de tratamento. Um dos
pacientes (sujeito 3) diz ter procurado ajuda por meio de religiões, e o sujeito 2,
através hospitalização e PSM. Por último, o entrevistado 1 colocou que já havia
procurado um médico e tinha recebido tratamento medicamentoso. As informações
sobre essas modalidades de tratamento estão descritas nas páginas 32 e 33 do
referencial teórico apresentado pela pesquisadora.
67
Categoria: Outro tipo de tratamento
SUJEITO 1 – CAPS AD
SUB
(Não está em processo
CATEGORIA
psicoterápico)
Comunidade
terapêutica
NA
AA
Não
Religiões
Hospitalização
PSM
SUJEITO 2 - PSM
(Não está em processo
psicoterápico)
“No final de 3 anos fui parar
numa
comunidade
terapêutica lá em Tubarão,
(...)”
SUJEITO 3 - ISJ
(Está em processo
psicoterápico)
“Foi
em
comunidade
terapêutica, daí depois esse
modelos
chamados
Gerineck.”
SUJEITO 4 – CAPS AD
(Está em processo
psicoterápico)
“Eu tive no bom samaritano,
que
é
comunidade
terapêutica, aonde a gente
encontra de tudo, entende.
Fica afastado e para mim eu
acho que não foi válido.
Porque você se afasta do
mundo do qual você vive.”
“Eu freqüentava o NA, que é “E daí me envolvi em NA (...)” “(...) NA, (...)”
um grupo de auto ajuda que “E eu começo agora minhas
nem o AA. É que eu usei licenças, já comecei, ontem
já fui a NA.”
cocaína 3 anos direto.”
“Já tinha feito uma passagem “Eu já fiz tratamentos em AA,
em 92 pelos AA (...)”
(...)”
“Não. Antes não.”
SUJEITO 5 - ISJ
(Não está em processo
psicoterápico)
3
3
2
Nunca.
“ (...) Centro Espírita, Centro
de Umbanda, eu já tive
tomando passe, água benta.”
“Eram 17 hs, daí me levaram
para Colônia Santana onde
fiquei internada 16 dias, daí
ali eu sai de lá eu vim direto
para o Posto que eles me
deram encaminhamento para
consultar no posto.”
“Eu virei referência, foi 2
grupos que eu participei, 3,
no Bem Estar também.”
“Foi o primeiro grupo que
teve e eu participei junto com
eles e ali naquele grupo, me
emocionei muito na época,”
Aí veio o convite para
participar do Bem Estar. Era
muito engraçado, a gente
sabia
que
tava
se
alimentando mal e continuava
praticando
aquela
alimentação. Hoje, no caso...
FREQUÊNCIA
2
1
1
1
68
na época eu não queria fazer,
eu ia por ir, porque era um
grupo onde as pessoas
conversavam,
contavam
problema. Hoje eu cuido da
minha alimentação conforme
o bem estar queria. Sobre a
pirâmide alimentar, hoje eu
faço. De novembro para cá
eu perdi 13 quilos, me sinto
bem, me sinto mais leve.
Medicamentoso “Na verdade eu já tinha
consultado um médico antes
de entrar aqui, ele tinha me
receitado
fluoxetina
e
amitriptilina”
“Cheguei a tomar rispiridona,
eu tinha esse negócio de
perseguição, (...)”
1
69
Julgou-se necessário conhecer quais os resultados alcançados pelos
dependentes em cocaína com esses outros tratamentos.
70
Categoria: Resultados alcançados nesses outros tratamentos
SUJEITO 1 – CAPS AD
SUJEITO 2 - PSM
SUB
(Não está em processo
(Não está em processo
CATEGORIA
psicoterápico)
psicoterápico)
Sem resultado
Formação
profissional
“Vai para sala de reunião, te
identifica, conversa com as
pessoas, ouve os problemas
das pessoas, então eu
comecei a ver com os
problemas das pessoas que
elas tinham mais problemas
do que eu. Eu me perguntava:
Porque é que eu vou usar
droga? Daí eu conquistei uma
confiança dos meus pais que
eu tinha perdido, durante a
dependência química, daí
comecei a estudar, me formei
no 2º grau, me formei na 8ª,
me formei no 2º. Conquistei
emprego no caso né? Fiz o
curso de vigilante (...)”
SUJEITO 3 - ISJ
(Está em processo
psicoterápico)
“Não
desprezando
as
comunidades e fazendas
que tem ajudado muitas
pessoas que não tem
condições financeiras. Mas
falta um acompanhamento
medicamentoso, psiquiatra
de plantão, falta psicólogo.
Geralmente ficam nas mãos,
e eu já fui coordenador de
um então posso falar.”
SUJEITO 4 – CAPS AD
SUJEITO 5 - ISJ
(Está em processo
(Não está em processo
psicoterápico)
psicoterápico)
“O resultado que eu via é
que eu parava, mas quando
voltava, voltava pior. Porque
eu não tinha... as pessoas
procuravam combater a
minha doença. Eles não me
preparavam para mim bater
de frente,para mim começar
a receber não. Quando eu
usava cocaína e álcool,
ninguém aceitava um não.
Quando você quer, você dá
um jeito de conseguir. Então
todo tratamento era assim.
Se afasta do álcool, porque
o álcool, a droga não fazem
bem, entende. Eles não
tratam
teu
emocional,
porque quando a pessoa a
se abster ela começa a ter
problemas.”
FREQUÊNCIA
2
1
71
Constatou-se que dois sujeitos (3 e 4) não reconhecem resultados
conforme consideram a seguir: “O resultado que eu via é que eu parava, mas
quando voltava, voltava pior. Porque eu não tinha... as pessoas procuravam
combater a minha doença. Eles não me preparavam para mim bater de frente,para
mim começar a receber não. Quando eu usava cocaína e álcool, ninguém aceitava
um não. Quando você quer, você dá um jeito de conseguir. Então todo tratamento
era assim. Se afasta do álcool, porque o álcool, a droga não fazem bem, entende.
Eles não tratam teu emocional, porque quando a pessoa a se abster ela começa a
ter problemas.” O entrevistado 2 reconhece que o primeiro tratamento psicoterápico
de grupo foi fundamental para que pudesse perceber e enfrentar o problema,
consequentemente “reconquistou a confiança da família, voltou a estudar e
conquistou um novo trabalho”.
Destaca-se, por fim, a importância de ter identificado a motivação que
levou os entrevistados a procura por tratamento, o tempo de tratamento, as
expectativas e os tipos de tratamento recebidos nestas instituições, bem como os
resultados alcançados nestes e em outros tratamentos que porventura os sujeitos
tenham sido submetidos. Considera-se que o início do uso de substância, assim
como a motivação para o tratamento sejam multifatoriais. Existem possíveis causas
biológicas, fatores individuais, familiares, sociais e culturais atrelados à dependência
de drogas. Diante disso pode-se deduzir que os resultados percebidos e
reconhecidos pelos sujeitos entrevistados estão muito mais ligados aos tratamentos
onde a psicoterapia é contemplada, dando-lhes condições psicológicas e sociais
propícias, que permitam evitar o consumo. Os resultados dessa pesquisa
corroboram com a importância de se trabalhar a interação destes fatores da vida de
cada indivíduo. Desse modo as intervenções devem ser diferenciadas para cada
paciente e devem considerar todos os aspectos envolvidos.
72
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo tem como tema central a dependência em cocaína e
psicoterapia disponibilizada nos vários níveis de atenção à saúde através do PSM
desenvolvido na atenção básica, CAPS AD e Instituto São José. Destaca-se que
esta pesquisa teve como população alvo, sujeitos com dependência química que
estão ou estiveram em processo psicoterápico, sem tempo determinado, e que estão
vinculados às instituições mencionadas. Para que o problema de pesquisa deste
estudo sobre os resultados alcançados e descritos por sujeitos com dependência
química em cocaína que estão ou estiveram em processo psicoterápico pudesse ser
respondido, foram primeiramente atingidos os objetivos específicos contemplados a
seguir.
Sobre o objetivo Verificar quais os serviços, nos diferentes níveis de
atenção à saúde que prestam atendimento a sujeitos com dependência química em
cocaína, assinala-se que a pesquisadora, em contato com as Secretarias da Saúde
dos municípios de Florianópolis e São José, pôde constatar que o PSM, o CAPS AD
e o Instituto São José prestam serviços públicos e gratuitos a dependentes químicos.
As instituições envolvidas nesta pesquisa oferecem tratamentos psicossociais que
vão desde o atendimento ambulatorial na atenção básica e secundária até
internação hospitalar, dependendo da gravidade do uso e dos recursos disponíveis
para encaminhamento. Os tratamentos devem ser indicados conforme os critérios
previamente estabelecidos, e muitas vezes se constituem em abordagens
complementares para um mesmo indivíduo, de modo que não devem ser vistos
como excludentes.
O seguinte objetivo específico versava sobre Verificar quais são as
expectativas que os dependentes em cocaína entrevistados têm em relação ao
tratamento psicoterápico. De acordo com os dados analisados, pode-se afirmar que
este objetivo foi alcançado, pois as expectativas dos sujeitos frente ao tratamento
puderam ser identificadas. As expectativas mais comuns apresentadas no que diz
respeito aos resultados previstos e desejáveis dos sujeitos com relação ao
tratamento psicoterápico contemplam, na sua maioria, a necessidade de mudar
hábitos antigos, o desejo de parar de usar a droga e a consciência da importância de
73
se adquirir recursos próprios de enfrentamento. Este resultado coincide com os
dados existentes na literatura.
O objetivo específico Identificar se os dependentes em cocaína estiveram
ou estão submetidos a outra forma de tratamento, visou identificar quais seriam
essas outras formas de tratamento. Este objetivo foi alcançado, pois se constatou
que a maioria dos sujeitos afirmaram ter estado em regime de residência em
comunidades terapêuticas, bem como tiveram passagens pelo NA para participar de
reuniões de mútua-ajuda na tentativa de tratar sua dependência química em
cocaína. No entanto, foi possível detectar ainda que os entrevistados também
participaram de reuniões no AA, assim como procuraram se tratar com ajuda
religiosa. Outros sujeitos mencionaram hospitalização e tratamento medicamentoso.
Percebe-se a importância de uma ação integral aos usuários de drogas que
contemplem aspectos biológicos, psicológicos e sociais, face à complexidade do
problema.
Ainda como objetivo específico o trabalho contempla Coletar dados junto
a sujeitos com dependência química em cocaína e quais foram os resultados
alcançados a partir do processo psicoterápico. Foi possível alcançar este objetivo,
pois se evidencia interrupção e/ou diminuição do uso, assim como a redução da
freqüência dos prejuízos. Cabe destacar aqui, que o fato dos pacientes identificarem
resultados pode aumentar a motivação para continuidade do tratamento e a adesão
ao mesmo pode ser facilitada, pois o paciente consegue visualizar melhora. Os
resultados são percebidos pelos sujeitos que, conscientes do problema, percebem
sua parcela de responsabilidade no tratamento e passam a reconhecer melhora
também através do enriquecimento das relações interpessoais, de aspectos sociais
e de trabalho, melhora de sintomas físicos e psiquiátricos, da qualidade de vida e a
aquisição de recursos e comportamentos que tem permitido evitar o consumo e
prevenir recaídas, corroborando com o referencial teórico.
Sobre o objetivo geral desta pesquisa de Verificar quais os resultados
alcançados e descritos por sujeitos com dependência química em cocaína que estão
ou estiveram em processo psicoterápico, atendidos nos vários níveis de atenção,
considera-se que foi alcançado, pois aponta para a resolutividade e a satisfação dos
pacientes com relação ao tratamento. Mesmo os entrevistados que no momento não
estão, ou já estiveram em tratamento psicoterápico, parecem motivados para a
mudança, pelo simples fato de estarem vinculados às instituições. Isto não é
74
garantia de sucesso no tratamento, mas de certa forma demonstra a percepção dos
problemas relacionados ao uso de substâncias. O primeiro passo parece ser a busca
por tratamento e em seguida alcançar um nível de participação e motivação para
mantê-lo à médio e longo prazo, conforme a necessidade de cada caso. O objetivo
costuma ser comum baseado na abstinência ou diminuição do uso, qualidade de
vida e prevenção de recaídas aqui mencionadas pelos entrevistados.
Sobre as facilidades e dificuldades encontradas para o desenvolvimento
deste estudo, destaca-se como facilidades o fácil acesso à população a ser
pesquisada e a disposição dos profissionais das instituições envolvidas em
identificar os sujeitos para compor a amostra da pesquisa, bem como disponibilizar
os locais adequados para que as entrevistas fossem realizadas. Cabe ressaltar a
disposição dos profissionais durante o processo de coleta de dados em auxiliar, em
diferentes aspectos, sempre que solicitados. De modo geral, não houve dificuldades
para a realização desta pesquisa, a não ser o fato de não haver pacientes com
dependência química em cocaína que estivessem nesse momento em tratamento
psicoterápico no PSM, diminuindo então a proposta inicial da pesquisadora em
entrevistar 6 pacientes.
Embora os objetivos da pesquisa tenham sido atingidos, ainda cabe
destacar a limitação do método, no sentido de que não foi possível acompanhar o
processo psicoterápico dos entrevistados e sim um momento específico do
tratamento. Portanto, não foi possível constatar possíveis intercorrências ao longo do
processo de tratamento. Cabe sugerir novas pesquisas no sentido de investigar
junto aos pacientes com dependência química em cocaína, através de estudo de
casos, para que mais dados sejam coletados a esse respeito, para contribuir com
ampliação do conhecimento. Destaca-se também que esta pesquisa promoveu
diversas reflexões acerca do tratamento para dependência química, despertando
ainda mais o interesse da pesquisadora em aprofundar-se em questões sobre este
tema.
Por fim, se faz necessário agradecer ao PSM, CAPS AD e Instituto São
José e seus respectivos profissionais, que deram condições para esta pesquisa se
concretizar, bem como aos pacientes entrevistados, que de forma generosa,
aceitaram, com presteza, o convite para participar desta produção sobre a
dependência química sem demonstrarem receio em falar sobre o tema.
75
REFERÊNCIAS
AMARANTE, Paulo. Archivos de saúde mental e atenção psicosocial. Rio de
Janeiro: Editora NAU, 2003.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais. 4. ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2003.
ANTIDROGAS E NAÇÕES UNIDAS CONTRA DROGAS E CRIME (UNODC).
Disponível em: <http://www.antidrogas.com.br/unodc_relatorio2007.php>. Acesso
em: 16 out. 2008.
AZEVEDO, Renata. Aids e usuários de cocaína: um estudo sobre comportamentos
de risco. Tese de Doutorado da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
Disponível em: <http://www.prdu.unicamp.br/vivamais/Substancias_Psicoativas.pdf>.
Acesso em: 20 set. 2008.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL. Reforma psiquiátrica e política de
saúde mental no Brasil. Brasília: Ministério, 2005. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm?id area=925>. Acesso em:
10 ago. 2008.
BRASIL. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicosocial. Ministério da
Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
________. Saúde mental. Brasília: Ministério, 2007. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/sas/mental/default.cfm>. Acesso em: 31 set. 2007
a,b.
BRASIL. Prevenção ao uso indevido de drogas: curso de capacitação para
conselheiros municipais. Brasília: Presidência da República, Secretaria Nacional
Antidrogas, 2008.
BRAUN, Ivan Mario. Drogas: perguntas e respostas. São Paulo: MG Editores,
2007.
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições
clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SANTA CATARINA (CRPSC).
Disponível em <http://www.crpsc.org.br/pagina.php?pagina=etica/etica.php>. Acesso
em: 20 out. 2008.
76
COUTINHO, Maria da Penha de L.; ARAÚJO, Ludgleydson Fernandes de;
GONTIÉS, Bernard. Uso da maconha e suas representações sociais: estudo
comparativo entre universitários. Psicologia estud. vol.9 no.3 Maringá Sept/Dec.
2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141373722004000300015&script=sci_arttext&tlng=pt.> Acesso em: 28 ago. 2088. de
substancias psicoativas. 2004. Disponível em:
http://www.who.int/substance_abuse/publications/en/Neuroscience_P.pdf> Acesso
em: 20 set. 2008.
GABBARD, Glen O. Psiquiatria psicodinâmica. Baseado no DSM-IV. Porto Alegre:
Editora Artmed, 1998.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
______. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
GITLOW, Stuart. Transtornos relacionados ao uso de substâncias. Porto Alegre:
Editora Artmed, 2008.
GRAEFF, Frederico G. Drogas psicotrópicas e seu modo de ação. São Paulo:
EPU, 1989.
KALINA, Eduardo; KOVADLOFF, Santiago. Drogadicção: indivíduo, família e
sociedade. 3. ed. Rio de Janeiro: F. Alves, 1980.
KAPLAN, Harold I; SADOCK, Benjamin J. Compêndio de psiquiatria: ciências
comportamentais psiquiatria clínica. 7. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
LUZ JUNIOR, Ernani . Dependência química. In: KNAPP, Paulo (Coord.) Terapia
cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Editora Artmed,
2004.
MARLATT, G. Alan; DONOVAN, Dennis M. Prevenção de recaídas. Porto Alegre:
Artes Médicas, 2009.
MARLATT, G. Alan; GORDON, Judite R. Prevenção de recaídas: estratégias de
manutenção no tratamento de comportamentos adictivos. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1993.
MINAYO, Maria Cecília. Pesquisa social. 17.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS (OBID).
Disponível em <http://www.obid.senad.gov.br>. Acesso em 30 set. 2008.
77
ORSI, Mylène Magrinelli; OLIVEIRA, Margareth da Silva Oliveira. Avaliando a
motivação para mudança em dependentes de cocaína. Estudos psicológicos. v. 23
n.1 Campinas jan. mar. 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103166X2006000100001&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 ago. 2008.
PORTELA, Carolina. Protocolo de atendimento do programa de saúde mental.
São José, 2004.
REZENDE, Manuel M. Modelos de análise do uso de drogas e de intervenção
terapêutica: algumas considerações. Disponível em:
<http://www.adroga.casadia.org/tratamento/intervencao.htm>. Acesso em: 20 ago.
2008.
RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 1999.
SABINO, Nathalí Di Martino; CAZENAVE, Sílvia de Oliveira Santos. Comunidades
terapêuticas como forma de tratamento para a dependência de substâncias
psicoativas. Estudos de psicologia. Campinas. 22(2), 167-174, abril – junho.
Disponível em: <http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/epc/v22n2/v22n2a06.pdf> . Acesso
em: 20 ago. 2008.
SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia científica: a construção dos
conhecimentos. 4. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
SORIANO, Raúl Rojas. Manual de pesquisa social. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.
STOTZ, Maria do Rosário; DEBLED Philippe. O mochileiro e a analista: as
aventuras do viajante belga, e as interpretações da professora de psicologia.
Palhoça: Editora Unisul, 2009.
STOTZ, Maria do Rosário; CAMPOS, Gabriela Luiza. Time da mente. Projeto de
Extensão – Faculdade de Psicologia, Unisul Pedra Branca. Palhoça, 2006.
RIGOTTO, Simone D.; GOMES, William B. Contextos de Abstinência e de Recaída
na Recuperação da Dependência Química. Psicologia: Teoria e Pesquisa
Jan-Abr 2002, Vol. 18 n. 1, p. 095-106.
SCHNEIDER, Daniela Ribeiro. Relatório final: Caracterização dos Serviços de
Atenção à Dependência Química da Região da Grande Florianópolis
Florianópolis: UFSC, 2004.
78
APÊNDICE A - Entrevista
A presente entrevista destina-se à coleta de dados para elaboração do
trabalho de conclusão de curso do Curso de Psicologia.
1. O que o levou a procurar tratamento?
2. Desde quando está em tratamento?
3. Quais as suas expectativas com relação ao tratamento?
4. Qual o tipo de tratamento que recebe nesse serviço?
5. Quais os resultados alcançados com esse tratamento?
6. Você já realizou algum outro tipo de tratamento?
7. Quais os resultados alcançados nesses outros tratamentos?
Download

universidade do sul de santa catarina valéria da silva faria