Como Purificar Pesquisa PROTEÍNAS? O exemplo das defensinas antifúngicas de ervilha Marcius S. Almeida Departamento de Bioquímica Médica, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, [email protected] Eleonora Kurtenbach Departamento de Bioquímica Médica, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, árias doenças decorrem da modificação da estrutura e/ ou da atividade de diferentes proteínas. Atualmente, o tratamento dessas doenças é baseado na inibição ou na ativação da(s) enzima(s) em questão ou de receptor(es), através da interação destas com o princípio ativo presente nos medicamentos. Figura 1 Coluna de troca catiônica em sistema de leito expandido utilizada para clarificação de meio de cultura contendo uma defensina recombinante de ervilha que possui atividade antifúngica, expressa heterologamente em P.pastoris (Almeida e cols., 2001). O meio de cultura (50 ml) é diluído 2x; o pH ajustado para 3,0 (a maioria das proteínas assumirão carga líquida positiva, pois possuem pI maior do que 3,0) e aplicado, com fluxo ascendente, em uma coluna contendo 95 mL de resina Toyopearl SP-650 M, previamente equilibrada com citrato de sódio 20 mM, pH 3,0. O material não ligado, como sais e leveduras é eluído com o mesmo tampão e, finalmente, as proteínas ligadas são eluídas com fluxo descendente de tampão HEPES 50 mM pH 8,0. A absorbância do eluído é monitorada a 280 nm (linha cheia) e o pH de cada fração verificado com tiras de indicador de pH (linha pontilhada). A seta indica a regeneração da coluna através da passagem de NaCl 1 M. O pico que possui a atividade antifúngica (que contém a defensina recombinante) é marcado com um asterisco. No gráfico, também é apresentada esquematicamente, a coluna utilizada nesse sistema 30 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 24- janeiro/fevereiro 2002 Em muitos casos, as preparações protêicas são usadas diretamente na terapêutica. Essas proteínas podem ser obtidas a partir de sua fonte natural, como é o caso da albumina, obtida a partir do plasma humano, ou a partir de sua produção em organismos geneticamente modificados, sendo rotuladas genericamente de proteínas recombinantes. Tanto para o estudo da atividade de uma enzima frente a substâncias passíveis de ser usadas em formulações terapêuticas, como para o uso direto como medicamento, existe a necessidade de purificação da proteína de interesse, uma vez que qualquer célula contém milhares de proteínas diferentes, que apresentam uma ampla faixa de atividade biológica. Atualmente, o meio científico vive a denominada Era Pós-Genômica. Após o seqüenciamento de diversos genes de diferentes organismos, incluído o genoma humano completo (Lander e cols., 2001), começa uma busca frenética, para a determinação da atividade das proteínas codificadas para cada um dos genes descritos, a fim de inferir sua função biológica e, finalmente, correlacioná-las com diversas doenças. Esse grande desafio para a ciência é denominado de proteoma, quando o objetivo é a análise e posterior caracterização das proteínas expressas em uma determinada situação de um grupo de células ou de genoma estrutural; quando o enfoque é a análise da estrutura tridimensional de diferentes proteínas, com a finalidade de se inferir sua atividade biológica através de análises de homologia estrutural. Para ambos os casos, é necessária a obtenção das proteínas de interesse com alto grau de pureza. Tipicamente, o processo de purificação de uma proteína é composto por múltiplas etapas cuidadosamente definidas, que têm como fundamento a forma, é razoável minimizar distinção das proteínas as condições oxidantes do com base na seqüência meio, por exemplo, através de aminoácidos, no conda adição de agentes reduteúdo de carboidratos e tores, como o β-mercaptoede lipídeos-estrutura tritanol, ou, simplesmente, se dimensional, e na sua atievitando a formação excesvidade biológica, entre siva de bolhas. Muitas vezes outras características desas proteínas são instáveis sas macromoléculas. Esse quando estão em solução processo deve ser associmuito diluídas ou muito conado com o acompanhacentradas, por exemplo, abaimento de alguma caracxo de 10 µM ou acima de 1 terística marcante da promM, respectivamente (Deutsteína como, por exemcher, 1990). plo, sua atividade (ativiO requerimento inicial dade proteolítica da trompara a purificação de uma bina) ou sua coloração proteína é a liberação da (citocromo C que possui mesma de sua fonte natural, coloração vermelha). As como, por exemplo, do encromatografias em coludosperma de sementes ou na de gel, filtração ou de células que a expressam adsorção (Deutscher, heterologamente. Essa fra1990), são os sistemas ção é denominada de extramais utilizados para a disto bruto. Os tecidos são getinção entre proteínas e, ralmente triturados ou moíapesar de existir uma lódos e as bactérias, as levedugica no emprego desses Figura 2 Esquema geral da purificação de duas defensinas ras ou as células animais métodos, geralmente a (Psd1 e Psd2) de sementes de ervilha que possuem atividaprovenientes de cultura são otimização de um protode antifúngica (Almeida e cols., 2000). Em cada fração é lisadas por sonicação, variacolo de purificação enverificada a presença de atividade antifúngica. Uma fração ções repentinas de pressão e volve muita experimencontendo Lectinas (proteínas com afinidade por açúcares) se osmolaridade, forte agitação tação do tipo tentativa e liga à resina Sephadex G-75 (composta de um polímero na presença de esferas de erro, especialmente pelo glicídico) e é deslocada somente após a lavagem com soluvidro ou por enzimas citolífato de que mesmo quanticas. Se a proteína desejada do se conhece as caracção de glicose. Os asteriscos indicam as frações com atividaestá restrita a uma organela terísticas físico-químicas de antifúngica. A purificação das defensinas é acompanhada em particular, como núcleo, das proteínas a serem por eletroforese em gel de poliacrilamida (Fig. 5) mitocôndria ou até ligada a purificadas, é muitas vemembrana plasmática, uma zes imprevisível o compurificação substancial é obtida a partir portamento delas no decorrer do propassa, muitas vezes, no decorrer de anos cesso de purificação. Nesse caso, durane o protocolo final deverá ser resultado do isolamento dessas estruturas celulares, geralmente por centrifugação difete a purificação, não raramente ocorrem dos seguintes compromissos, definidos rencial em gradiente de sacarose, percomudanças na estrutura das proteínas, no desenho do processo: custo, velocill, etc. O uso de detergentes não iônicos que podem provocar desde pequenas dade e pureza. (triton X, tween, etc.) facilita a liberação alterações nas suas características físidas proteínas, especialmente quando co-químicas até modificação ou perda CONSIDERAÇÕES INICIAIS estas se encontram no interior de orgade sua atividade biológica. nelas. Muito freqüentemente, são incluO grande desafio dos processos de É essencial considerar que, na maiopurificação de proteínas é o exaustivo ria dos casos, as proteínas são macro- ídos diversos aditivos durante a obtenção do extrato bruto, com o intuito de trabalho para se encontrarem as melhomoléculas muito frágeis, ou seja, sofrem evitar a degradação química ou enzimáres estratégias, e, se for o caso, a adefacilmente alterações físico-químicas que tica da proteína de interesse, uma vez quação da metodologia para a escala de levam a modificação ou perda de sua que, no ato da destruição celular, são produção pretendida, garantindo que o atividade. Até mesmo a exposição a liberados vários compostos altamente produto final tenha todas as caracterís- temperaturas moderadas (como 37oC) pode causar lenta e gradativa desnatu- oxidantes como o peróxido de hidrogêticas necessárias para seu uso, seja em ração de algumas proteínas. As proteí- nio (H2O2) ou enzimas proteolíticas. humanos, ou para diagnóstico, ou uso Aditivos comumente utilizados são os veterinário ou para processos analíticos nas também são sensíveis à oxidação, especialmente as citoplasmáticas, que agentes redutores como o β-mercaptode interesse para a pesquisa básica, se encontrem, naturalmente, em um etanol, estabilizantes como o glicerol e como o estudo da estrutura tridimensimeio com potencial redutor relativainibidores de proteases como o ácido onal da proteína por ressonância magetileno-diamino-tetraacético (EDTA), um nética nuclear de alta resolução ou mente alto e que possuam resíduos de inibidor de enzimas dependentes de cristalografia por Raios-X. Tudo isso se cisteína passíveis de ser oxidados. Dessa Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 24- janeiro/fevereiro 2002 31 nantes adsorvem na resina, enquanto as células saem pela parte superior da coluna, uma vez que a tela existente na parte superior da coluna é aberta o suficiente para permitir a saída dos restos celulares e de outras partículas que estiverem presentes; 3 lavar a resina de baixo para cima, com o tampão de lavagem, para remoção dos restos celulares e das proteínas que não se adsorveram na resina; 4 eluir a proteína de interesse invertendo-se o fluxo pela coluna, ou seja, com o leito sedimentado, como em uma cromatografia convencional; 5 por fim, a coluna é limpa e regenerada para um novo uso. A ESCOLHA DOS MÉTODOS DE PURIFICAÇÃO Figura 3 Cromatograma de filtração em gel usada num dos passos intermediários da purificação das defensinas de semente de ervilha (Almeida e cols., 2000). O precipitado protéico F2 (600 mg) é dissolvido em água destilada (para 8 ml finais), filtrado e aplicado em uma coluna (1,6 x 100 cm) empacotada com gel Sephadex G-75 Superfine. As amostras são eluídas com tampão Tris-Cl 25 mM pH 7,5 a um fluxo de 0,7 ml/min. A absorbância a 280 nm (linha sólida) e a atividade antifúngica (linha pontilhada) das frações coletadas são monitoradas. Frações contendo proteínas de baixo peso molecular e alta atividade antifúngica são agrupadas (F-PII) para posterior purificação por HPLC. No gráfico, é representada uma partícula de gel usada nesse tipo de cromatografia , onde os poros são indicados em preto íons metálicos divalentes. Em alguns casos, esse passo inicial não é necessário, como, por exemplo, quando proteínas recombinantes expressas na levedura Pichia pastoris são secretadas para o meio de cultura, um sistema cada vez mais usado para se obter grande quantidade de proteínas já em solução aquosa (Almeida e cols., 2001). O passo seguinte consiste na clarificação da amostra. Essa etapa representa um grande problema a ser solucionado especialmente em purificações de grande escala ou em escala industrial. Na maioria das vezes, utilizam-se técnicas de centrifugação ou de filtração. Ainda assim, tais técnicas podem não resolver o problema de clarificação da sua amostra, trazendo uma série de transtornos como a obtenção de uma solução ainda particulada, entupimento das membranas de filtração, manipulação de um grande volume num tempo excessivamente longo e custo elevado. Pensando nesses transtornos, foram desenvolvidas resinas cromatográficas que, ao contrário das convencionais, permitem a adsorção de amostras contendo materiais particulados e/ou células. Esse novo conceito é conhecido como sistema de leito expandido (Janson e Rydén, 1998) e, como ilustrado na Figura 1, consiste basicamente em: 1 - equilibrar a fase estacionária (resina adsorvente) na forma expandida, com o tampão de equilíbrio; 2 aplicar a amostra contendo as células, no sentido de baixo para cima, no leito estabilizado. Dessa forma, a proteína de interesse e alguns contami- Antes de dar prosseguimento à purificação da proteína a partir do extrato bruto definido acima, deve-se planejar a estratégia a ser utilizada, onde, além da estabilidade da proteína, devemos também considerar os seguintes itens (Ho, e cols., 2000): · aplicação final do produto: humano, veterinário, diagnóstico, etc. · escala de manufatura necessária à demanda do produto purificado. . eficiência do processo, geralmente expresso em termos de enriquecimento e recuperação da proteína de interesse 1. · viabilidade econômica, levando-se em conta o gasto envolvido em cada técnica de purificação. · existência de facilidades de produção, devendo ser considerada, a preexistência de material necessário à terceirização da produção, etc. · adequação às especificações determinadas pela farmacopéia de referência, Ministério da Saúde e órgãos reguladores. O esquema ideal de purificação vai depender não só das características da proteína de interesse, como já citado antes, mas também das características dos contaminantes presentes no extrato bruto. A linha geral a se seguir em um O enriquecimento (E) é dado pela equação E = AEF/AEB, onde AEF é a atividade específica da fração e AEO é a atividade específica no extrato bruto de proteínas, ambos expressos em Unidades/mg proteína total. A recuperação (Rec) é dada pela equação Rec(%) = [EnzF]/[EnzB] x 100, onde EnzF se refere à quantidade de enzima obtida em cada passo de purificação e EnzB à quantidade de enzima encontrada no extrato bruto, geralmente expressas em Unidades ou mg de enzima. Um passo de purificação eficiente proporciona um aumento no enriquecimento da enzima sem diminuir muito sua recuperação. Uma Unidade de enzima representa a conversão de 1 µM de substrato por minuto (Deutscher, 1990). 1 32 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 24- janeiro/fevereiro 2002 palmente, a faixa de peso molecular a ser separado) que apresenta poros de uma determinada faixa de tamanho. Moléculas com diâmetro molecular 3 menor do que o do poro serão capazes de penetrar na resina, percorrendo então um caminho mais sinuoso e maior do que as moléculas que apresentam diâmetro molecular superior ao do poro, que não seriam retiOs primeiros passos de das (Figura 3). No caso do purificação geralmente exemplo escolhido neste são aqueles que possuartigo foi possível separar em um menor poder de Figura 4 Cromatografia de fase reversa em sistema de basicamente uma fração resolução, porém que HPLC para purificar duas defensinas antifúngicas de secontendo proteínas de alto permitem o tratamento mentes de ervilha (Psd1 e Psd2) (Almeida e cols., 2000). peso molecular (Pico I) de de grande quantidade A fração F-PII (280 µg) obtida da cromatografia de filtrauma fração contendo prode material como a diáção em gel é aplicada em uma coluna de fase reversa teínas com baixo peso molise, através de memsemipreparativa C8-VYDAK, previamente equilibrada lecular (Pico II) utilizanbrana com porosidade com 0,1% (v/v) de TFA e 22,5% (v/v) de acetonitrila. As do-se uma coluna de gel inferior ao tamanho da proteínas retidas são eluídas com um gradiente linear filtração Sephadex G-75. proteína de interesse; a Como observado na Figudesnaturação por calor, crescente de concentração de acetonitrila (22,5 35 % ra 3, proteínas apresentanquando a enzima de in(v/v)) e, finalmente, liofilizadas do atividade antifúngica teresse é estável a alta são eluídas junto ao Pico temperatura (geralmenII, aqui denominada F-PII. As aumento considerável de temperate acima de 70oC), ou a precipitação com grande concentração de colunas de adsorção possuem, tura. Além disso, a solução final etanol, acetona, sais inorgânicos, em suas matrizes, grupamentos não apresenta alta densidade, facietc., que perturbam a distribuição químicos responsáveis pela intelitando a obtenção do precipitado de cargas e grupamentos hidrofóração com a proteína. Incluemprotéico após centrifugação. Esse bicos das proteínas, aumentam a se nesse caso as matrizes que primeiro passo na purificação de constante dielétrica da água e/ou possuem grupamentos ionizados proteínas tem como vantagem diminuem a quantidade efetiva de (carregados positivamente ou neaumentar a concentração de promoléculas de solvente disponíveis gativamente) nas cromatografiteína na amostra e/ou preparar a devido à mobilização deste em as de troca iônica; que apresenamostra para ser aplicada em uma suas camadas de solvatação. Podetam grupamentos hidrofóbicos cromatografia. se, inclusive, induzir uma precipi(geralmente hidrocarbonetos li(II) Esta é a fase mais eficiente da tação fracionada das proteínas preneares) nas cromatografias de purificação de proteínas, uma vez sentes no extrato bruto adicionanfase reversa ou interação hidroque se exploram diferentes caracdo-se sais para concentrações fifóbica e que possuem ligantes terísticas físico-químicas das pronais definidas e, posteriormente, específicos (como Ni+2, hepariteínas. Muito freqüentemente comna, glutationa) nas chamadas croseparando-se o precipitado protéipreende o uso de diferentes técnimatografias de afinidade. As proco formado em cada concentração cas de cromatografia em coluna teínas retidas na coluna são elude sal do sobrenadante que conque são classificadas de acordo ídas gradualmente e, o que é tém aquelas com maior capacidacom a característica protéica selemais importante, seletivamente, de de solvatação. O sulfato de cionada (Tabela I). A filtração em através da passagem de um graamônio é um dos agentes precipigel consiste na passagem de uma diente de concentração de uma tantes amplamente usados nessa solução proteíca em uma coluna substância que compete pela lietapa. Apresenta como caracteríspreenchida com uma resina (o tipo gação da proteína com os grupaticas a capacidade de precipitar de resina especifica a resolução 2, a velocidade do processo e, princimentos químicos da resina (por irreversivelmente as proteínas sem processo de purificação pode ser dividida em três fases indicadas abaixo (Janson e Rydén, 1998; Deutscher, 1990). Neste artigo, usaremos como exemplo a purificação de duas defensinas antifúngicas purificadas a partir de semente de ervilhas. A Figura 2 apresenta o esquema de purificação utilizado (Almeida e cols., 2000). (I) A resolução (R) de uma coluna cromatográfica está diretamente relacionada com a separação obtida (S - determinada em unidades de volume ou tempo) entre dois picos de amostra eluídas de uma coluna cromatográfica e inversamente proporcional à largura de cada pico (L determinada em unidades de volume ou tempo). Dessa forma: R = S/L. Quando R > 1,2, diz-se que se obteve uma separação com resolução a nível da linha de base (Janson e Rydén, 1998). 3 O diâmetro molecular está diretamente relacionado com o peso molecular das substâncias, incluídas as proteínas. Para uma proteína globular (formato mais próximo de uma esfera do que um bastão, por exemplo) de 5.5 kDa, seu diâmetro molecular é de, aproximadamente, 30 Å. 2 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 24- janeiro/fevereiro 2002 33 exemplo: sais para as resinas de troca iôniDurante a fase II de purica, solventes orgânificação, devem-se levar em cos para fase reversa e conta os seguintes itens: 1 solução contendo lipara uma purificação mais gante específico para eficiente, é aconselhável a as de afinidade). Na escolha de técnicas que exFigura 4, apresentaplorem seqüencialmente dimos, como exemplo, ferentes propriedades físicoo último passo cromaquímicas das proteínas; 2 a tográfico aplicado na atividade da proteína deve purificação das defenser acompanhada em todos sinas de ervilha. Nesse os passos de purificação, ascaso, as defensinas sim como a quantidade total (Psd1 e Psd2) são elude proteína, uma vez que ídas separadamente de esses parâmetros, em conuma coluna de fase Figura 5 Análise do conteúdo protéico dos passos de junto, são cruciais para a avareversa por meio de liação da eficiência da purifipurificação de duas defensinas de ervilha (Psd1 5,5 kDa um gradiente com cação. A atividade da proteíe Psd2 5,9 kDa) por eletroforese em gel de poliacrilamiconcentrações cresna deve ser verificada pelo da 18 %, na presença de SDS e β-mercaptoetanol (Almeida método mais simples e sensícentes de um solvente orgânico (Acetonitri- e cols., 2000). As proteínas são visualizadas por incorporavel possível. A quantificação ção de prata. Amostra 1, padrão de peso molecular; amosla). protéica pode ser estimada (III) A fase final inclui, tra 2, extrato bruto; amostra 3, fração precipitada com sulpela absorção de luz na faixa geralmente, um único fato de amônio F2; amostras 4 e 5, frações de proteínas de do ultravioleta (209-295 nm) 4 ou através do uso de subspasso, que retira quais- alto peso molecular (PI) e, de baixo peso molecular (FPII), respectivamente eluídas da cromatografia de filtração tâncias que ou se ligam a quer contaminantes proteínas (como o corante que porventura ainda em gel Sephadex G75 SF; amostras 6 e 7, Psd1 e Psd2 Azul de Coomassie) ou reaestejam presentes na eluídas da cromatografia de fase reversa C8 em sistema de gem com essas, resultando amostra . Pode ser uma HPLC, último passo de purificação dessas defensinas em um produto colorido liofilização que permi(como o sulfato de cobre II ta a retirada de contapresente no Reagente de Lowry). Essas minantes voláteis sob baixas prespequeno diâmetro (por exemplo, sões (em torno de 15 bar); uma 20 Å), forçada por pressão, entre duas últimas são técnicas mais específicas, porém mais trabalhosas; 3 a puridiálise para excluir sais ou outras outras técnicas. No exemplo adoficação também pode ser acompanhada moléculas não voláteis da solução tado as defensinas Psd1 e Psd2 usando-se anticorpos específicos, tanto protéica, ultrafiltração, que encereluídas da coluna de fase-reversa por Dot Blotting como por Western ra o mesmo propósito que a diálisão liofilizadas com vistas a elimise, porém tem como princípio a nar a acetonitrila e o ácido trifluo- Blotting 5; especialmente no caso de proteínas cuja atividade não seja cofiltração da solução de proteína racético (TFA) usado no processo nhecida, 4 o conteúdo protéico de por uma membrana com poros de cromatográfico. 4 Proteínas absorvem luz na faixa do ultravioleta por duas vias principais: em torno de 280 nm, ocorre a absorção por grupamentos aromáticos presentes na cadeia lateral do triptofano, tirosina e fenilalanina e, em torno de 210 nm, ocorre a absorção de luz pelas ligações amídicas da proteína, conhecidas especificamente como ligações peptídicas (Deutscher, 1990). 5 Técnicas onde se avalia a presença de uma proteína por reconhecimento do anticorpo primário feito especificamente para tal proteína. A revelação é feita usando-se um anticorpo secundário que reconheça a porção FAB do anticorpo primário e que esteja conjugado geralmente a uma enzima que participe de uma reação onde um de seus produtos apresente coloração. O Dot Blotting diferencia-se do Western Bloting, pois, no primeiro caso, a amostra a ser analisada é aplicada simplesmente em um suporte (geralmente membrana de nitrocelulose); já no segundo caso, a amostra provém de um gel de eletroforese, de onde as amostras são transferidas para o suporte por ação de um campo elétrico. 6 Na eletroforese sob condições desnaturantes, as proteínas inicialmente são tratadas com um detergente aniônico (SDS dodecil-sulfato de sódio), que se liga não covalentemente às proteínas tornando-as espécies negativamente carregadas, além de desenovelá-las. Essas proteínas tratadas são então aplicadas no início de um gel (que funcionará como uma espécie de peneira molecular) e, finalmente, submetidas a um campo elétrico que impulsionará tais proteínas através do gel. Proteínas de grande peso molecular farão em percurso menor que proteínas de menor peso molecular. Na eletroforese bidimensional, as proteínas são aplicadas em um gel com formato bem alongado que possua um gradiente de pH (estabelecido por eletrólitos anfotéricos previamente submetidos à eletroforese) e submetidas a um campo elétrico que as impulsionará até a faixa do gel que possua o pH igual ao pI (ponto isoelétrico) de cada proteína. Nesse ponto, as proteínas pararão de migrar no gel, pois assumirão carga média nula. Finalmente, esse gel é colocado de lado no início de outro gel para separar por eletroforese as proteínas de diferentes pesos moleculares. Em ambas as técnicas, a proteína é evidenciada, na maioria dos casos, por coloração com Azul de Coomassie ou pela impregnação de Prata. 34 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 24- janeiro/fevereiro 2002 Tipo de Cromatografia Gel Filtração Característica da Proteína Volume molecular Troca Iônica Carga Interação Hidrofóbica Fase Reversa Hidrofobicidade Afinidade Especificidade à ligantes Hidrofobicidade Condição Inicial da Amostra Volume da amostra <5% do volume da coluna Baixa concentração iônica Eluentes Qualquer solução aquosa Soluções salinas ou com pHs distintos da condição inicial Soluções com baixa Alta concentração concentração salina de sal Não pode conter altas Solvente orgânico concentrações de sais Condições específicas Alta concentração de ligante ou sais para ligação Condição Final da Amostra Amostra diluída em eluente Custo Amostra concentrada em solução salina ++ Amostra concentrada em solução salina Amostra sem sais em solventes voláteis Amostra concentrada contendo ou não ligante ++ + +++ +++ Tabela I Classificação das técnicas de cromatografia líquida de acordo com a característica físico-química que é explorada das proteínas. A condição inicial necessária para a realização da técnica, os eluentes mais comuns e as condições em que a solução de proteína ficará após sua eluição da coluna são citados. O custo geral do processo é classificado levandose em conta os valores aproximados das colunas e dos acessórios geralmente empregados em cada técnica todas as etapas deve ser avaliado por eletroforese unidimensional (Figura 5) ou bidimensional em gel de poliacrilamida 6. Através dessas análises é possível verificar se a amostra se encontra no grau de pureza desejado, ou se novos passos de purificação serão necessários; 5 - é comum sacrificar razoavelmente a recuperação da proteína em prol de um grande enriquecimento; desse modo, uma boa prática é iniciar a purificação com passos simples e com menor resolução, que geralmente são baratos e de maior capacidade, e, no decorrer do processo, ir aumentando a seletividade e a resolução dos passos de purificação, que são mais caros e possuem menor capacidade; 6 procure manter o processo de purificação o mais simples possível, de maneira que barateiem e encurtem o processo, além de aumentarem a recuperação da proteína em questão. QUALIFICAÇÃO DA PUREZA Para se atestar a pureza final da proteína, podem ser usadas várias técnicasque apresentem sensibilidades variadas. Uma das maiores provas de que a proteína está livre de contaminantes protéicos é obtida por seqüenciamento peptídico automático, onde se deve identificar apenas uma seqüência. Podese identificar outras impurezas além das de natureza protéica por espectrometria de massa, onde deve constar apenas um íon molecular (ou os derivados de sua clivagem), e/ou por ressonância magnética nuclear de alta resolução, onde devem ser identificados apenas os sinais de ressonância da proteína. Existem diversas outras técnicas analíticas bem mais simples e baratas para se atestar com boa certeza a pureza da amostra. O procedimento mais comum é a eletroforese em gel de poliacrilamida (Figura 5), que é um método rápido e sensível, especialmente se o gel for corado por impregnação de prata (sensibilidade de até 10 ng de proteína por banda), porém não tão confiável, pois separa as proteínas apenas por um tipo de característica físico-química (peso molecular). Outro procedimento muito empregado é a eletroforese bidimensional, que já é muito mais confiável, pois distingue as proteínas de duas maneiras diferentes (peso molecular e ponto isoelétrico). Adicionalmente, a pureza da amostra pode ser indicada com ótima confiabilidade por algum tipo de cromatografia em coluna quando realizado em sistemas de HPLC, que dispõem de diversos detectores altamente sensíveis (como detectores tipo diode array, que determinam a absortividade do eluído da coluna em todo espectro de luz visível e de ultravioleta). Esse último método carrega a vantagem de poder ser um passo final da purificação da amostra. Em resumo, deve-se ter em mente que não existe um protocolo definido para purificação de proteínas. É necessário desenvolver um protocolo específico, utilizando-se os diversos métodos de purificação existentes de uma forma coerente com as características do material de onde se deseja purificar a proteína de interesse, as propriedades da própria proteína e sua finalidade. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Katia S. Cabral, Luis E. Diaz, Melissa A.F. Silva e Roberto P. Campelo por valiosas sugestões e pela verificação ortográfica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, M.S., Cabral, K.M.S., Zingali, R.B., & Kurtenbach, E. (2000). Characterization of two novel defense peptides from pea (Pisum sativum) seeds. Arch Biochem Biophys 378, 278-286, doi: 10.1006/abbi.2000.1824. Almeida, M.S., Cabral, K.M.S, Medeiros, L.N., Valente, A.P., almeida, F.C.L., Kurtenbach, E. (2001). CDNA cloning and heterologous expression of functional cysteine-rich antifungal protein Psd1 in the yeast Pichia pastoris. Arch Biochem Biophys 395, doi:10.1006/abbi.2001.2564. Deutscher, M.P. (1990). 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