CONTROLE DE MANCHA-ANGULAR NA CULTURA DO FEIJÃOVAGEM André Manosso Correa Prestes, Maristella Dalla Pria, Gislaine Gabardo, Rafael M. M. Munhoz, e-mail: [email protected] UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA/ Defito/ Ponta Grossa-PR. Ciências Agrárias, Agronomia. Palavras-chave: mancha-angular, controle biológico, controle químico. Resumo: Devido as perdas na produtividade e qualidade do feijão-vagem o controle da mancha-angular é fundamental para um bom manejo da cultura. O uso do leite de vaca e organismos antagonistas, como o fungo Trichoderma sp, são alternativas no controle de doenças. O experimento foi instalado utilizando-se a cultivar de feijão-vagem manteiga baixo, o delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, com 6 tratamentos e 4 repetições. Os maiores valores de peso de vagens foram observados no tratamento com T. asperellum. Aplicações de T. asperellum proporcionaram maior número de vagens por planta do que o leite de vaca (sem óleo) e também menor índice de mancha-angular nas vagens. Não houve efeito dos tratamentos para AACPD para mancha-angular e para o índice de doença nas vagens. Introdução Um dos fatores que contribui para as perdas na produtividade e qualidade do feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.) é a ocorrência de doenças. Inúmeras doenças ocorrem na cultura, entre elas está a mancha-angular (Phaeoisariopsis griseola). Os efeitos negativos da mancha-angular na produção do feijão-vagem devem-se pela redução na taxa fotossintética (JESUS JÚNIOR et al, 2001). A mancha-angular, além das lesões de formato angular nas folhas, ocorre nas vagens, caules e ramos. A doença é particularmente importante em regiões com temperatura moderada, acompanhada por períodos de alta umidade relativa e presença de inóculo durante o ciclo da cultura (BIANCHINI e MARINGONI, 1997). Para o controle da doença, recomenda-se a rotação de culturas com espécies não hospedeiras, tratamento de sementes e pulverizações de fungicidas na parte aérea, sendo esta a maneira mais usual de controle da doença (ANDREI, 2005). Atualmente existe um mercado crescente para alimentos produzidos sem a utilização de agrotóxicos, sendo necessário o desenvolvimento de alternativas aos fungicidas. Neste contexto, o uso do leite de vaca in natura e fungos antagonistas, como Trichoderma spp, vem sendo testado como Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava – PR. alternativa viável no controle de doenças (ALFENAS, 2004; BETTIOL e ASTIARRAGA, 2000; STADNIK e BETTIOL, 2001). O objetivo deste trabalho foi estudar o uso de leite de vaca in natura e de Trichoderma asperellum no controle da mancha-angular na cultura do feijão-vagem. Materiais e métodos O experimento foi conduzido na área de olericultura da Fazenda Escola “Capão da Onça”, pertencente à Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR. Durante os meses de inverno foi realizada a rotação de culturas com Brachiaria decumbens. A cultura da braquiária foi dessecada em dezembro para semeadura da cultura do feijão-vagem. O sistema de plantio utilizado foi o plantio direto na palhada de braquiária, com a semeadura do feijão-vagem, cultivar manteiga baixo, realizada mecanicamente em fileiras espaçadas de 0,80 m a uma profundidade de 0,04 a 0,05 m. O delineamento utilizado foi blocos ao acaso, com 6 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos utilizados foram: 1- testemunha (sem aplicação), 2- pulverizações semanais de Trichoderma asperellum (2,0x106 esporos mL1); 3- pulverizações semanais de leite de vaca in natura a 20%; 4- pulverizações semanais de leite de vaca in natura a 20%, acrescido de óleo vegetal (1,6 mL L-1); 5- duas pulverizações de fungicida tiofanato metílico + clorotalonil (2,0 L i.a.100L-1), aos 20 dias após a emergência da cultura e a segunda no início do florescimento; e 6- duas pulverizações de fungicida tiofanato metílico (70 g i.a. 100L-1), aos 20 dias após a emergência da cultura e a segunda no início do florescimento. A avaliação de mancha-angular nas folhas foi realizada semanalmente, estimando-se a porcentagem de tecido foliar atacado, em oito plantas nas linhas centrais de cada parcela, utilizando-se escala diagramática (AZEVEDO, 1997). Com os dados de severidade calculou-se a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD). A avaliação de produtividade foi realizada a cada sete dias, determinando-se o número e o peso de vagens das oito plantas das linhas centrais da área útil da parcela e a avaliação de mancha-angular nas vagens foi estimada por escala de notas e os valores obtidos transformados em Índice de Doença pela equação de McKinney (1923). Para análise os dados de porcentagem foram transformados em arc sen x / 100 . Os dados foram submetidos à análise de variância e as diferenças entre as médias, quando significativas, comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão A maioria dos tratamentos não proporcionou alteração no peso de vagens (Tabela 1), não diferindo da testemunha. Na 2ª e 3ª avaliações, as pulverizações a base de leite de vaca in natura a 20% (sem adição de óleo) e o fungicida tiofanato metílico + clorotalonil, afetaram negativamente o Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava – PR. peso das vagens. Tabela 1 - Peso de vagens de feijão-vagem (Phaseolus vulgaris) após aplicações de produtos alternativos e fungicidas, em cinco avaliações. Ponta Grossa, PR. 2010. 1 Aval= avaliação;2DAE= dias após a emergência da cultura; 3médias seguidas da mesma letra na coluna, não Tratamento 1. Testemunha 2.Trichoderma asperellum 3. leite de vaca 20% 4. leite 20% + óleo vegetal 5. tiofanato metílico + clorotalonil 6. tiofanato metílico C.V.% 1ª aval1 49 DAE2 20,6 a3 29,3 a 18,1 a 24,5 a 2ª aval 55 DAE 13,1 ab 19,4 a 9,2 b 12,0 ab 3ª aval 62 DAE 23,6 ab 33,0 a 16,4 b 19,3 b 4ª aval 69 DAE 23,2 a 22,6 a 19,9 a 17,7 a 21,1 a 18,3 a 42,6 10,4 b 15,6 ab 29,0 17,7 b 25,0 ab 37,7 16,8 a 25,6 a 25,3 5ª aval 79 DAE 29,9 a 28,6 a 19,2 a 25,5 a 21,8 a 27,0 a 55,0 diferiram entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; C.V.= coeficiente de variação Tabela 2 - Número de vagens por planta de feijão-vagem (Phaseolus vulgaris) após aplicação de produto alternativos e fungicidas, em cinco avaliações. Ponta Grossa, PR. 2010. 1 Aval= avaliação ;2DAE= dias após a emergência da cultura; 3médias seguidas da mesma letra na coluna, não Tratamento 1. Testemunha 2. Trichoderma asperellum 3. leite de vaca 20% 4. leite 20% + óleo vegetal 5. tiofanato metílico + clorotalonil 6. tiofanato metílico C.V.% 1ª aval1 49 DAE2 2,62 a 3,4 a 2,2 a 3,4 a 3,0 a 2,4 a 50,5 2ª aval 55 DAE 3,7 a 4,8 a 2,5 a 2,9 a 3ª aval 62 DAE 6,1 ab 8,2 a 3,4 b 4,7 b 4ª aval 5ª aval 69 DAE 79 DAE 6,3 a 9,0 a 6,9 a 8,5 a 5,7 a 5,8 a 5,7 a 8,5 a 2,7 a 3,3 a 31,4 4,3 b 5,4 ab 27,3 4,8 a 6,1 a 35,4 5,7 a 7,0 a 53,9 diferiram entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; C.V.= coeficiente de variação Aplicações de T. asperellum proporcionaram maior número de vagens (Tabela 2) por planta do que os tratamentos com leite de vaca in natura 20% (com e sem óleo) e com o fungicida tiofanato metílico + clorotalonil, na 3ª avaliação (62 DAE). Foi possível observar que a espécie Trichoderma estudada nesse trabalho tem capacidade competitiva com fungos fitopatogênicos, devido a sua rápida taxa de crescimento micelial e a um antagonismo direto. Experimento conduzido por Jeffries e Young (1994) também evidenciam o potencial deste antagonista para o controle de Colletotrichum spp. Não houve efeito significativo dos tratamentos para a AACPD e para o índice de mancha-angular nas vagens (Tabela 3). Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava – PR. Tabela 3 - Índice de mancha-angular (%) nas vagens em feijão-vagem (Phaseolus vulgaris) e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), após aplicações de produtos alternativos e fungicidas. Ponta Grossa, PR. 2010. 1 Aval= avaliação ;2DAE= dias após a emergência da cultura; 3médias seguidas da mesma letra na coluna, não 1ª aval1 49 DAE2 1. Testemunha 7,42 a 2. Trichoderma asperellum 10,2 a 3. leite de vaca 20% 9,9 a 4. leite 20% + óleo vegetal 4,9 a 5. tiofanato metílico + clorotalonil 6,5 a 6. tiofanato metílico 7,3 a C.V.% 79,0 Tratamento 2ª aval 55 DAE 12,2 a 9,0 a 5,2 a 14,6 a 3ª aval 62 DAE 11,3 a 15,5 a 41,2 a 23,0 a 5ª aval 79 DAE 15,9 a 6,3 a 11,4 a 8,3 a AACPD 8,5 a 2,6 a 73,0 38,4 a 7,6 a 61,4 7,3 a 11,9 a 37,4 58,7 a 76,2 a 35,8 92,1 a 82,5 a 53,2 a 58,5 a diferiram entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; C.V.= coeficiente de variação Conclusões Os maiores valores de peso de vagens foram observados no tratamento com Trichoderma asperellum. Aplicações de T. asperellum proporcionaram maior número de vagens por planta do que o leite de vaca (sem óleo). Os tratamentos não controlaram a mancha-angular nas vagens e nas folhas. Referências ALFENAS, A.C. et al. Clonagem e doenças do eucalipto. UFV, Viçosa, 2004. ANDREI, E. Compêndio de Defensivos Agrícolas. 7ª edição, São Paulo: Organização Andrei Editora Ltda, 2005. 1141p. 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